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Experiência de puérperas sobre a assistência prestada pelo grupo de apoio ao aleitamento materno
Experience of puerperes on assistance provided by the breastfeeding support group
Experiencia de mujeres embarazadas en la asistencia proporcionada por el grupo de apoyo a la lactância
Revista Enfermagem Digital Cuidado e Promoção da Saúde, vol. 6, pp. 01-07, 2021
Universidade de Pernambuco

Artigo Original

Revista Enfermagem Digital Cuidado e Promoção da Saúde
Universidade de Pernambuco, Brasil
ISSN-e: 2446-5682
Periodicidade: Frecuencia continua
vol. 6, 2021

Recepção: 25 Março 2021

Aprovação: 29 Julho 2021

Publicado: 24 Setembro 2021

Autor correspondente: amanda.asa.araujo@hotmail.com


Este trabalho está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.

Resumo: Objetivo: O presente estudo teve como objetivo analisar a experiência de puérperas sobre a assistência prestada pelo Grupo de Apoio ao Aleitamento Materno. Metodologia: Pesquisa de campo, realizada com quatro puérperas admitidas em serviços de saúde da rede pública localizada na região Norte do Itapicurú. Resultados e discussão: A análise das falas das participantes permitiu agrupar os conteúdos com significados similares em três categorias: o descompromisso das instituições e profissionais sobre o aleitamento materno; a experiência das nutrizes sobre as consultorias prestadas pelo GAAM; o desenvolvimento do vínculo: um fator de reconhecimento, credibilidade e incentivo. Considerações finais: Ao final deste estudo foi possível analisar que a assistência prestada pelo Grupo foi de grande relevância para a superação das fragilidades dessas mulheres e consequentemente para manutenção da amamentação.

Palavras-chave: Aleitamento materno, Enfermagem, Consultores, Saúde da mulher, Mulher.

Abstract: Objective: This study aimed to analyze the experience of postpartum women about the assistance provided by the Breastfeeding Support Group. Methodology: Field research, carried out with four postpartum women admitted to public health services located in the northern region of Itapicurú. Results and discussion: The analysis of the participants’ statements allowed the grouping of contents with similar meanings into three categories: the lack of commitment of institutions and professionals to breastfeeding; the experience of nursing mothers about the consultancy provided by GAAM; the development of the bond: a factor of recognition, credibility and encouragement. Final considerations: At the end of this study, it was possible to analyze that the assistance provided by the Group was of great relevance for overcoming the weaknesses of these women and, consequently, for maintaining breastfeeding.

Keywords: Breastfeeding, Nursing, Consultants, Women’s health, Women.

Resumen: Objetivo: Este estudio tenía como objetivo analizar la experiencia de las puérperas sobre la asistencia prestada por el Grupo de Apoyo a la Lactancia Materna. Metodología: Investigación de campo, realizada con cuatro puérperas ingresadas en los servicios de salud de la red pública ubicada en la región norte de Itapicurú. Resultados y discusión: El análisis de los relatos de las participantes permitió agrupar los contenidos con significados similares en tres categorías: la falta de compromiso de las instituciones y los profesionales con respecto a la lactancia materna; la experiencia de las madres lactantes con respecto a las asesorías brindadas por GAAM; el desarrollo del vínculo: un factor de reconocimiento, credibilidad y estímulo. Consideraciones finales: Al final de este estudio se pudo analizar que la asistencia prestada por el Grupo fue de gran relevancia para la superación de las fragilidades de estas mujeres y, en consecuencia, para el mantenimiento de la lactancia materna.

Palabras clave: Lactancia, Enfermería, Consultores, Salud de la mujer.

INTRODUÇÃO

A amamentação é um processo que promove interação profunda entre mãe e filho, capaz de promover todas as necessidades que o lactente precisa para se desenvolver de forma saudável nos primeiros seis meses de vida, pois o leite materno é um alimento completo, equilibrado e adequado para crianças nessa faixa etária. Desta forma, além de nutrir a criança, o mesmo auxilia seu organismo a se defender de infecções, melhorando o desenvolvimento cognitivo e emocional. Apesar de nem sempre ser um processo fácil, quando bem consolidado influencia positivamente na saúde física e psíquica da mãe (1,2).

Para exemplificar a importância do aleitamento materno (AM), estudos evidenciam que o aumento das taxas de amamentação, em conjunto com outros fatores, têm resultado na redução da mortalidade infantil no Brasil (3). Estima-se que mundialmente o AM reduz em até 13% as mortes de crianças menores de cinco anos de idade (4). Com isso, ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno têm sido desenvolvidas nas últimas décadas (3).

No entanto, apesar de o AM ser um mecanismo fisiológico e ter grande investimento das esferas públicas, muitas nutrizes desenvolvem problemas que resultam na interrupção da amamentação, principalmente quando não são identificados e manejados precocemente (5). Dentre os principais distúrbios estão: sucção ineficaz, ingurgitamento mamário, fissuras mamilares e mastite (6,1,7).

Desde a década de 80, o Brasil vem desenvolvendo ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno, com objetivo de aumentar as taxas de amamentação no país (8). Dentre as principais estratégias estão a implementação da Iniciativa Hospital Amigo da Criança em âmbito hospitalar, contemplando os Dez Passos Para o Sucesso do Aleitamento Materno, e na atenção básica a criação da Rede Amamenta Brasil (3).

Por volta de 1994, vinculadas a essas estratégias surgiram as consultorias em AM com a criação do Grupo de Incentivo ao AM do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), como parte da Iniciativa Hospital Amigo da Criança. Esse grupo era formado por professores, enfermeiras assistenciais, nutricionistas e mestrandos do Departamento de Pediatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (9).

Tendo este modelo como precursor, a prática da consultoria em aleitamento materno perdura nos dias atuais, podendo ser realizadas por integrantes de grupos que apoiam o aleitamento materno, simpatizantes que possuem experiência na área, profissionais de saúde ou qualquer outro, com Certificado Internacional de Consultor em Lactação, desde que sejam atendidos os pré-requisitos exigidos pelo curso (10).

Por entender a importância do apoio à nutriz desde a identificação, a orientação e o manejo dos problemas durante a amamentação e por experienciar ações de depreciação/ menosprezo por leigos e por profissionais da saúde/enfermeiros sobre o tema amamentação e a assistência prestada ao binômio mãe-filho nesse período, percebeu-se a necessidade de pesquisar sobre o tema de aleitamento materno. Desse modo, por atuar em um grupo de apoio de aleitamento materno, delineou-se como questão norteadora: qual a experiência de puérperas sobre a assistência prestada pelo Grupo de Apoio ao Aleitamento Materno? Estabeleceu-se como objetivo analisar a experiência de puérperas sobre a assistência prestada pelo Grupo de Apoio ao Aleitamento Materno.

METODOLOGIA

Tipo de Estudo

Pesquisa de campo de natureza básica com abordagem qualitativa e caráter descritivo. Esse tipo de pesquisa não se preocupa com representatividade numérica, mas sim com o aprofundamento da compreensão de um grupo social, de uma organização, buscando descrever os fatos e fenômenos de determinada realidade como por exemplo a descrição da experiência das puérperas sobre o Grupo de Apoio ao Aleitamento Materno (GAAM)(11).

População e Lócus De Estudo

A população foi composta por puérperas com história de parto em um serviços de saúde da rede pública localizada na região Norte do Itapicurú, as quais no pós parto receberam assistência ou consultoria pelo Grupo de Apoio ao Aleitamento Materno. O GAAM é um projeto de extensão do curso de Enfermagem da Universidade do Estado da Bahia, Campus VII, cuja finalidade é promover consultorias e realizar atividades educativas diariamente em um serviço hospitalar de média complexidade, reforçando com as puérperas a importância do aleitamento materno e ensinando as medidas necessárias frente às situações que dificultem a amamentação.

O estudo foi realizado nas residências das mulheres selecionadas por método aleatório, cujo critério de inclusão foi: ser maior de 18 anos e apresentar intercorrências durante a amamentação. Foram excluídas da pesquisa: puérperas cujo recém-nascido veio a óbito, que não desejavam amamentar e/ou a condição clínica não possibilitava a amamentação. Para selecionar as mulheres, lançou-se mão dos registros do grupo, escolhendo mulheres que tiveram intercorrências e seguiram em acompanhamento por integrantes do grupo, e após contato telefônico, as que aceitaram participar foram entrevistadas em suas residências.

Técnica de coleta, organização e análise de dados

A coleta dos dados aconteceu por meio de entrevista semiestruturada gravada e posteriormente transcrita, sendo norteada a partir dos seguintes questionamentos: 1. Em outro momento recebeu apoio de consultores em aleitamento materno? Conte-nos sobre essa experiência; 2. Sabia anteriormente da existência do grupo?; 3. Qual a relevância que o GAAM teve sobre o processo de amamentação para você?; 4. De que forma poderíamos melhorar nosso atendimento?; 5. Você indicaria as atividades do grupo à alguma gestante ou puérpera?; 6. Como você avaliaria o processo de amamentação sem as orientações do grupo?

A organização e análise dos dados ocorreu a partir da técnica de análise de conteúdo, uma metodologia de tratamento e análise de informações expressas em diferentes linguagens seja estas exprimidas por meio da escrita, fala, imagens e/ou gestos. Este conjunto de técnicas descreve, analisa e interpreta criticamente as mensagens manifestadas em todas as formas de discurso (12). A análise de conteúdo divide-se em várias modalidades, das quais optou-se por realizar o tratamento do material baseado na análise temática seguindo as três etapas básicas: pré-análise, descrição analítica e interpretação inferencial (13). As categorias não foram pré-concebidas e surgiram no decorrer da análise do material coletado.

Aspectos éticos

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética de Enfermagem da Universidade do Estado da Bahia e de acordo com a resolução 466/2012, número do parecer: 2.821.870. Foram respeitados os aspectos éticos da não maleficência, beneficência, justiça, equidade, sigilo, dignidade e autonomia. Para preservar o anonimato das participantes da pesquisa optou-se por identifica-las com nomes de flores.

O termo de consentimento livre e esclarecido foi impresso e oferecido para as participantes da pesquisa, informando-as verbalmente sobre o conteúdo escrito e sua finalidade, esclarecendo e garantindo-as que teriam a identidade preservada, sem prejuízo e a qualquer momento que desejassem poderiam desistir da pesquisa.

RESULTADOS

1 Caracterização das puérperas participantes

Tabela 1.
Características pessoais da nutriz.

Fonte: Próprio autor.

Aceitaram participar da pesquisa quatro mulheres cuja idade variou de dezoito a trinta e três anos. Dessas, três são primíparas e uma multípara caracterizando assim um grupo de nutrizes, em suma, inexperientes. Com relação ao nível de escolaridade três possuíam o nível médio completo, uma além do ensino médio completo possuía também formação tecnológica em enfermagem, e uma possuía ensino médio incompleto. Quando questionadas sobre a renda familiar, duas referiram renda entre um e dois salários mínimos, uma um salário mínimo e uma abaixo de um salário mínimo.

A maioria das entrevistadas (três) vive com os parceiros. Quanto à profissão, duas são domésticas, uma dona de casa e outra técnica de enfermagem. As principais intercorrências que dificultaram a amamentação foram: dificuldade para sugar, ingurgitamento mamário e pega incorreta. A análise das falas das participantes permitiu agrupar os conteúdos com significados similares em três categorias emergentes: Descompromisso das instituições e profissionais sobre o aleitamento materno; A experiência das nutrizes sobre as consultorias prestadas pelo GAAM; O desenvolvimento do vínculo: Um fator de reconhecimento, credibilidade e incentivo.

2 O descompromisso das instituições e profissionais sobre o aleitamento materno

Esta categoria trata a respeito da assistência recebida por mulheres tanto no pré- natal, quanto no período pós parto, por diversos profissionais de saúde, dentre eles: enfermeiros, técnicos de enfermagem, médicos e agentes comunitários de saúde.

(Bromélia) Depois do parto, uma técnica veio. Esteve aqui e mandou eu insistir, que com o tempo ele(recém-nascido) ia conseguir sugar.

(Lírio) A enfermeira (no pré-natal)! Ela disse que (pausa para lembrar) havia uma pessoa que ia falar sobre isso aqui no hospital, e que ia ter vocês do apoio. Só isso.

(Orquídea) Não tive. (No pré-natal) tive acompanhamento com obstetra e ginecologista, mas não tive orientação! (No hospital, pós-parto) a orientação que elas davam era que eu precisava amamentar para ele não ficar doente. Mas ensinar como fazer, eu não tive orientação.

(Jasmim) Eu ouvi falar em uma entrevista que teve no posto no dia que eu fui me consultar (pré-natal), as agentes comunitárias falaram que é muito importante a criança só mamar até os seis meses, porque previne de muitas doenças.

3 A experiência das nutrizes sobre as consultorias prestadas pelo GAAM

Essa categoria aborda a experiência e percepção das puérperas acerca da importância da assistência prestada pelo Grupo de Apoio ao Aleitamento Materno – GAAM frente às intercorrências desenvolvidas durante a amamentação. As consultorias prestadas às mulheres proporcionaram o aprendizado e o aperfeiçoamento da prática de amamentar, sendo portando, descrita como atividade assistencial e educativa de alta relevância, conforme evidenciada nas falas a seguir.

(Bromélia) As consultorias foram de alta relevância! Porque eu não sabia essa técnica do dedo, eu achei que era só insistir mesmo e fazer pegar o peito. [...]Eu já estava entrando em desespero, [...] e (o grupo) me ajudou muito com essa técnica, funcionou mesmo, ele conseguiu sugar (risos) direitinho.

(Lírio) Foi alta. Melhorou foi muito depois que vocês vieram aqui, porque eu estava amamentando, e ele(seio) ficava dolorido, agora não fica, não está mais doendo. [...] Acho que eu não iria procurar ninguém, ia pensar que era alguma coisa, “doença” que estava tendo!

Percebe-se também o desejo de amamentar associado à preocupação em não conseguir alimentar o bebê com leite materno, demonstrando assim a necessidade de profissionais capacitados para promover um suporte emocional, e possibilitar o manejo das intercorrências de modo a contribuir com o sucesso do aleitamento materno.

(Orquídea) No meu ponto de vista foi alta, porque teve um momento que eu pensei em desistir de amamentar porque foi muito sofrimento, não só para mim como pra ele, pro bebê! [...] acredito que eu já teria recorrido a outro leite, ou outra forma de alimentá-lo.

(Jasmim) Bom, para mim eu achei de muita relevância. Foi muito importante porque meu primeiro filho não quis pegar o bico do meu peito. Então, eu não tive nenhuma orientação. Mas desse segundo filho já tive vocês do grupo que me ajudaram bastante. Eu aprendi muitas coisas com o Grupo, pois vocês foram no hospital e me ensinaram como amamentar meu filho que estava sem conseguir mamar. [...] Se eu não tivesse as orientações de vocês eu acho que eu não tinha conseguido amamentar o meu filho.

4 O desenvolvimento do vínculo: Um fator de reconhecimento, credibilidade e incentivo.

Essa categoria retrata a experiência da criação de vínculo e empatia entre as integrantes do GAAM e as puérperas como fator fundamental para desenvolvimento de uma assistência de qualidade, e posteriormente, como fator de reconhecimento credibilidade e incentivo a perseverar sobre as atividades desenvolvidas.

(Jasmim) Eu só tenho a agradecer. Agradeço muito a todas do grupo, estão de parabéns, me ajudaram bastante. Muito obrigada a vocês!

(Orquídea) Com a ajuda de vocês, agora está sendo muito fácil e eu estou muito feliz em poder amamentar meu filho (emocionada)! Graças as orientações de vocês!

(Bromélia) Não sei! Pra mim está ótimo, foi ótimo o atendimento “risos”.

Ainda quando questionadas sobre como as atividades do grupo poderiam ser incrementadas, elas referiram que ampliar o acesso das mulheres às informações sobre a amamentação através das redes sociais, além de que realizarão indicações via “boca-a-boca” para divulgar as atividades do grupo, e consequentemente melhorar a qualidade e alcançabilidade da assistência.

(Lírio) Incentivando mais as pessoas. Acho que um grupo nas redes sociais ajudaria.

(Jasmim) Pra mim vocês não precisam mais melhorar por que vocês já são perfeitas nisso.

(Orquídea) Na minha opinião já está ótimo, por que eu vejo a disponibilidade de vocês em estar na casa da gente, na hora que a gente precisa. Sem falar que isso é gratuito e a gente vê também que vocês fazem de coração. Eu sei que tem muitas mães passando pelo que eu passei. Algo que eu não imaginava, pensava que amamentar era só colocar o peito na boca do menino e pronto! Mas eu sei que não é isso. Então eu sei que tem muitas mulheres que precisam. E com certeza eu indicaria e indico vocês.

DISCUSSÃO

A experiência das puérperas acerca da assistência prestada pelo Grupo de Apoio ao Aleitamento Materno perpassa por diversos contextos, desde a importância das informações recebidas, bem como a implementação prática de como deve ser amamentação, vislumbrando como desfecho uma amamentação mais segura e eficaz.

Na primeira categoria, foi possível identificar que ainda durante o pré-natal ou mesmo no pós-parto, as instituições e as profissionais não possuem comprometimento com a amamentação. Durante a entrevista foi relatado predominantemente pelas puérperas que as orientações, quando realizadas, foram apenas instruções de caráter superficial e teórico sobre a importância da amamentação até o sexto mês de vida da criança.

É fundamental que o apoio às mulheres aconteça ainda na atenção básica, durante o pré-natal, pois este se configura um local de grandes possibilidades para educação em saúde, e deve persistir no pós-parto e puericultura, para que o processo de amamentação ocorra de maneira mais branda, com menos dificuldades. Desta forma, contribuir para a saúde do binômio mãe-filho e para o sucesso do aleitamento materno (14, 6).

Pode-se inferir que esta situação ocorra, dentre outros fatores, pela falta de qualificação profissional para desenvolver as habilidades e técnicas que o manejo da amamentação requer. Com isso, entende-se que umas das premissas para assegurar a manutenção do aleitamento materno é a capacitação dos profissionais de saúde para trabalhar com a temática. De acordo com estudo, “há poucos estudos que demonstram o papel dos profissionais de saúde que podem constituir uma equipe de apoio à amamentação, incluindo elementos de educação, resolução de problemas e suporte adequado” (15).

Além disso, fatores culturais podem ser condicionantes para esse (des)compromisso, tendo em vista que, por a sociedade acreditar em uma amamentação instintiva e basicamente fisiológica, existe a crença de que não há nada que se possa fazer para assistir a puérpera nesse momento. No entanto, é necessário que os profissionais de saúde reconheçam e compreendam o quão complexa é a amamentação e que esta é uma habilidade e, portanto, precisa ser adquirida (6,9).

Mulher alguma nasce com esta habilidade, pelo contrário, aprende e desenvolve-a quando estimulada. Uma das entrevistadas inclusive é trabalhadora da área da saúde, e ainda assim precisou de apoio para amamentar. Por esse motivo, o AM não deve ser reduzido apenas a aspectos biológicos, fisiológicos e anatômicos. É preciso valorizar e avaliar também as condições psicológicas e socioculturais que envolve a díade (6,16,9).

Uma das maiores dificuldades durante a amamentação causada por fatores culturais é a descrença de que o organismo materno seria capaz de produzir a quantidade adequada de leite para o recém-nascido. Além disso, algumas mães desconhecem o comportamento normal da criança, seja por falta de experiência ou por não terem recebido informações de um profissional de saúde. Nesse sentido, percebe-se que estas condições geram um quadro de ansiedades nas nutrizes que interferem negativamente no sucesso do aleitamento materno. É fundamental que os profissionais de saúde sinalizem os fatores que estão interferindo na amamentação e orientem essas mulheres sobre os padrões de normalidade e assim estabeleçam uma parceria em prol da resolução desses problemas (17).

Na segunda categoria, quando questionadas sobre a experiência vivenciada com o grupo de aleitamento materno, as mulheres relataram que a atuação do grupo no período de lactação e pós parto foi de extrema relevância para o desfecho positivo e manutenção do aleitamento materno. Estes resultados tornaram-se possíveis mediante o engajamento do grupo com a orientação de todas as puérperas presentes durante as visitas, bem como no manejo das intercorrências que surgiam, visando finalizar a assistência com eficácia e eficiência.

Com isso, dentre as técnicas realizadas que culminaram para uma melhor implementação da amamentação, destaca-se: ajuste da pega e posição, estímulo na cavidade oral com a técnica do dedo mínimo e orientações de cuidados com as mamas. Dessa forma, obteve-se como resultados: pega correta, melhora no perfil de sucção, reversão dos casos de ingurgitamento mamário e redução das lesões e dores durante a amamentação. Estes por sua vez, repercutiram na manutenção do aleitamento materno exclusivo, haja vista que algumas puérperas revelaram que já pensavam em inserir outros complementos alimentares e/ou desistir de amamentar.

Após receberem assistência do grupo e ter sanado ou minimizado os problemas que causavam dor e desconforto durante a amamentação, as participantes demonstraram sentimento de gratidão e vislumbram ainda a importância de ampliar a acessibilidade das atividades ofertadas pelo grupo. Desta forma, destacam-se as redes sociais como ferramentas que proporcionam acesso às informações sobre o aleitamento materno. Além disso, outras puérperas enfatizam a importância da comunicação oral, pessoa a pessoa, como forma somativa para alcançar outras puérperas, minimizando a possibilidade dessas mulheres enfrentarem o mesmo sofrimento que as participantes da pesquisa enfrentaram.

Com isso, percebe-se que esse produto se tornou possível mediante um estabelecimento de vínculo, empatia, respeito à singularidade de cada mulher. Por essa razão é de suma importância que os profissionais de saúde proporcionem um ambiente confiável. A mulher antes de tudo precisa ser compreendida, apoiada e cuidada para que seja possível conquistar a sua credibilidade (17). No que se refere aos profissionais que protagonizaram alguma assistência, ainda que incipiente, foram: enfermeiros, técnicos em enfermagem e agentes comunitários de saúde. Embora existam relatos de puérperas que foram acompanhadas durante o pré-natal por profissionais médicos, foi declarado que o profissional não realizou orientações acerca da amamentação.

Presume-se que o déficit nas orientações oriundas do profissional médico seja decorrente de sua formação, tendo em vista que as instituições de ensino de medicina têm atuado de maneira tradicionalista, ou seja, centrados na fisiopatologia ou na anatomoclínica, dependentes de procedimentos e de equipamentos de apoio diagnóstico e terapêutico e limitados aos cenários de aprendizagem dos hospitais, tornando a saúde preventiva cada vez mais obsoleta, retrocedendo e dando espaço à saúde baseada na prática médica curativista (18).

Com isso, torna-se necessário que as instituições de ensino de saúde passem a valorizar em suas matrizes curriculares disciplinas que estimulem a formação de profissionais para o atendimento humanizado, integral e coerente com as necessidades de saúde da população, assim como estimulem o contato com a prática de Educação Popular, que, apesar de ser um recurso pouco utilizado, é uma alternativa salutar para solucionar inúmeros problemas existentes na Saúde Pública e prevenir várias doenças (19).

Este estudo limita-se pelo seu recorte local e pelo número pequeno de participantes, não podendo ser aplicado genericamente para outras realidades. No entanto, pode fornecer elementos essenciais para a reflexão, e principalmente, para a atuação profissional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final deste estudo foi possível analisar a experiência de puérperas sobre a assistência prestada pelo Grupo de Apoio ao Aleitamento Materno, revelando que a assistência prestada pelo GAAM foi de grande relevância para a manutenção da amamentação. Percebe-se que o apoio dos profissionais de saúde às puérperas, nesse momento é fundamental para proporcionar a superação das fragilidades dessas mulheres e consequentemente promover um desfecho positivo para o aleitamento materno.

Além disso, vale ressaltar que independentemente de ser primípara ou multípara, atue ou não na área da saúde, é preciso valorizar sua singularidade, tendo em vista que, nenhuma gestação é igual, os medos e apreensões são diferentes, as alterações físicas e repercussões na saúde materna também mudam a cada gestação e a cada parto. Nesse sentido, amamentação ultrapassa os limites do biológico “instintivo”, perpassando as particularidades de cada mulher e as diversas questões psicológicas e socioculturais que precisam ser consideradas durante a assistência.

Entende-se a necessidade de encorajar e abraçar o desenvolvimento de grupos e ações que visem atuar na promoção do aleitamento materno, proporcionar o desenvolvimento de novas alternativas de cuidado associadas a um treinamento da equipe de saúde proporcionando assim aos profissionais de saúde um papel assertivo na prática da amamentação.

REFERÊNCIAS

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Autor notes

amanda.asa.araujo@hotmail.com



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