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MODA E MEMÓRIAS NO VALE DO ITAJAÍ: REGISTROS MNÉSICOS DE MORADORAS DO VALE¹
Fashion and memories in the Itajaí’s Vale: Mnesic records of residents of the Vale
Moda y recuerdosenel Vale do Itajaí: Registros mnésicos de residentes del Valle
Revista de Ensino em Artes, Moda e Design, vol. 5, núm. 2, pp. 224-239, 2021
Universidade do Estado de Santa Catarina

Artigos

Revista de Ensino em Artes, Moda e Design
Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil
ISSN: 2594-4630
Periodicidade: Bimestral
vol. 5, núm. 2, 2021

Recepção: 28 Fevereiro 2021

Aprovação: 12 Maio 2021

Autores mantém os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution 4.0 Internacional, que permite o compartilhamento do trabalho com reconhecimento da autoria e publicação inicial nesta revista.

Este trabalho está sob uma Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.

Resumo: Esse artigo traz informações sobre os modos de ser, estar e agir das mulheres do Vale do Itajaí, Santa Catarina, durante o Século XX, a partir das memórias de quatro mulheres que foram entrevistadas, em 2021, para a elaboração do documentário “Moda e Memórias no Vale”. O documentário buscou registros mnésicos dessas mulheres relativos aos trabalhos e aos modos que permearam a Moda durante o século XX no Vale, resultando em saberes construídos sobre as obrigações no trabalho, na casa e no cotidiano das entrevistadas. Esse artigo objetivou evidenciar uma construção identitária no Vale do Itajaí a partir das memórias das entrevistadas sobre seus hábitos de vestir, do trabalho manual e profissões, bem como os modos e modas de seu tempo, a partir de uma análise de conteúdo (BARDIN, 2016), quando serão apresentadas as falas das mulheres. Espera-se contribuir para a ampliação dos campos de estudo da moda em Santa Catarina, possibilitando a utilização dos registros e memórias da moda local no ensino, pesquisa e extensão.

Palavras-chave: Cultura, Memória, Moda.

Abstract: This article provides information about the ways of being and acting of women in the Vale do Itajaí, Santa Catarina, during the 20th Century, based on the memories of four women who were interviewed in 2021, for the elaboration of the documentary “Fashion and Memories in the Vale”. The documentary sought out mnesic records of these women related to the works and modes that permeated fashion during the 20th century in the Vale, resulting in knowledge built on the obligations at work, at home and in the daily lives of the interviewees. This article aimed to highlight an identity construction in the Itajaí Valley, based on the interviewees' memories of their dress habits, manual labor and professions, as well as the manners and fashions of their time, based on a content analysis (BARDIN, 2016), in which the interviewees' statements will be presented. It is expected to contribute to the expansion of the fields of study of fashion in Santa Catarina, enabling the use of records and memories of local fashion in teaching, research and extension.

Keywords: Culture, Fashion, Memory.

Resumen: Este artículo brinda información sobre las formas de ser, ser y actuar de lasmujeresenel Vale do Itajaí, Santa Catarina, durante elsiglo XX, a partir de losrecuerdos de cuatromujeres que fueron entrevistadas en 2021, para laelaboracióndel documental “Moda y Memoria enel Vale”. El documental buscó registros mnésicos de estas mujeres relacionados conlostrabajos y modos que impregnaronla moda durante elsiglo XX enel Valle, dando como resultado unconocimientoconstruido sobre lasobligacioneseneltrabajo, enelhogar y enla vida cotidiana de las entrevistadas. Este artículo tuvo como objetivo resaltar una construcción de identidadenel Valle de Itajaí, a partir de losrecuerdos de los entrevistados sobre sus hábitos de vestir, trabajo manual y profesiones, así como losmodales y modas de sutiempo, a partir de unanálisis de contenido (BARDIN, 2016). , enel que se presentaránlasdeclaraciones de los entrevistados. Se espera que contribuya a laexpansión de los campos de estudio de la moda en Santa Catarina, posibilitandoel uso de registros y memorias de la moda local enladocencia, investigación y extensión.

Palabras clave: Cultura, Memória, Moda.

1 INTRODUÇÃO

O documentário “Moda e Memórias no Vale”, produzido entre janeiro e março de 2021, utilizou fundos do Edital 003/2020 relativos à Lei Aldir Blanc (14.017/2020) e foi lançadoem 2 de março de 2021, virtualmente, pelo site da proponente e, fisicamente, como exposição convidada do Salão Angelim (FURB). A exposição propôs a apresentação do documentário e a apreciação de peças, fotografias e equipamentos que fizeram parte dele e que são acervo das mulheres entrevistadas.

O objetivo do documentário foi resgatar as informações da moda no Vale do Itajaí por meio das memórias de quatro mulheres que foram escolhidas por utilizarem, no lar e no trabalho, conhecimentos adquiridos de corte e costura, alfaiataria, pintura, bordado, crochê, confecção de roupas de casa e vestuário, cabelo e manicure, todos conhecimentos que foram parte da construção identitária do Vale.

O contato foi feito em janeiro de 2021 e as entrevistas ocorreram no início de fevereiro, com questionamentos sobre os meios de produzir, cuidar e utilizar os objetos cotidianos, tipos e meios de trabalho. Durante as entrevistas, as participantes buscavam fotografias, aviamentos, peças e equipamentos que tinham guardado para demonstrar técnicas utilizadas, materiais e modelos e foi a partir daí que se visualizou a possibilidade de uma exposição, abrindo para a comunidade a oportunidade de conhecer o trabalho delas. A curadoria da exposição ocorreu em fevereiro e a escolha das peças foi feita com base nas entrevistas.

Durante o século XX, “havia estabelecido, em Santa Catarina, um comércio urbano e suburbano de mão de obra qualificada nas artes do corte e costura” (SCOZ, 2020a, p.151). A partir das vozes das quatro entrevistadas, foi possível reconhecer a importância do fazer essencialmente feminino por meio dos ofícios de corte e costura, bordado, cabeleireiro e manicure, crochê e pintura.

A elaboração desse artigo surgiu após a entrevista e a exposição e o objetivo aqui proposto é evidenciar uma construção identitária no Vale do Itajaí a partir das memórias das entrevistadas sobre seus hábitos de vestir, do trabalho manual e profissões, bem como os modos e modas de seu tempo.Para tal, serão abordadas a tradição e a cultura de moda no Vale do Itajaí e a trajetória das quatro mulheres,alguns excertos da entrevista serão apresentados, bem como fotografias das peças de acervo das participantes. Sobre os dados da entrevista, foi aplicada a análise de conteúdo de Bardin (2016) e os dados gerados foram interpretados para essa pesquisa a partir do conceito de cultura e identidade de Stuart Hall (2016).

Assim, os resultados obtidos demonstraram a importância cultural e econômica dos afazeres relacionados à moda na região, os quais eram um meio de manutenção da família e da renda, intercalado com o trabalho nas fábricas. Essa pesquisa tem o intuito de contribuir para a ampliação dos campos de estudo da moda em Santa Catarina, possibilitando a utilização dos registros e das memórias da moda local no ensino, pesquisa e extensão.

2 A MODA E A CULTURA NO VALE

A partir de Hall (2016), é possível compreender a dinâmica social da cultura como uma troca de significados que se expressa pela linguagem, por isso, pode-se dizer que há um discurso. O processo comunicativo é nas sociedades modernas um processo de geração, compreensão, percepção e interação de símbolos. Esse processo comunicativo não se expressa apenas pela forma escrita, uma vez que ela é um trabalho cognitivo humano. Diz-se dessa forma porque, ao observar o outro, o indivíduo dotado de compreensões, interpreta e atribui a eles signos.Esse processo é trazido por Hall (2016), em seu sistema de linguagem e representação social, para o qual o autor é a partir da interpretação do indivíduo sobre os objetos, atribuindo-lhes signos que se formam as identidades.

Cultura, para Hall (2016), pode significar o modo de vida de um povo e os valores compartilhados entre eles, assim como pode indicar uma realidade existencial dentro da qual objetos, expressões, funções etc. servem tanto para construir, como para transmitir significados. É a partir dessas práticas cotidianas que o ser humano cria para si significados que incutem o sentimento de pertença, quando representa uma prática, ela representa algo que ele pensa de si e do todo em que está inserido, gerando para si uma identidade.

Assim, uma identidade cultural é algo que está contido no discurso de determinada sociedade. Para Cardoso (2018, [s.p.]), existem “[...] tipos diferentes de manifestações identitárias. Todas estão marcadas pela história de cada grupo”.Já Castells (2018, [s.p]), define identidade como a “[...] fonte de significado e experiencia de um povo” e segue como atributo cultural.

Sendo assim, ao efetuar o documentário “Moda e Memórias no Vale”, em 2020, era esperado encontrar elementos culturais que permitissem compreender os atributos a que envolvem a identidade cultural do Vale do Itajaí. Esse é o princípio move a presente pesquisa e a partir dos excertos que serão apresentados e das análises de dados das entrevistas será possível compreender a cultura e partes das várias identidades culturais do Vale.

Scoz (2020a, p.151), esclareceu que, durante o século XX, “[...] havia estabelecido, em Santa Catarina, um comércio urbano e suburbano de mão de obra qualificada nas artes do corte e costura”, sob a tradição fabril do Vale. Industrializado, já no século XIX escondeu-se um mercado de hábeis mãos femininas nos afazeres da moda, sem destoar da realidade nacional em que estes afazeres eram reconhecidamente femininos.

A existência de determinados cursos profissionalizantes, focados no trabalho fabril, cabelo e manicure e corte e costura foram determinantes para a constituição da cultura de moda do Vale, uma vez que representavam opções profissionais a seguir. Em Scoz (2020b) e Scoz, Scoz e Favero (2020), percebe-se a correlação entre os hábitos do passado e o contemporâneo, bem como as marcas que se manifestam nos discursos sociais ao longo do tempo.

As instituições ofereceram determinada influência, mas os modos de vida apresentaram-se ainda mais determinantes. A partir das entrevistas foi percebida a saída dos moradores do campo em busca das cidades, levando consigo os trabalhos manuais aprendidos, que eram tanto utilizados para a geração de renda, quanto para a manutenção do lar.

Para Baquero (2003, p.28), a “[...] vida econômica está profundamente ligada à vida social” e não pode ser desvinculada da cultura. O Vale do Itajaí investe no turismo das festas tradicionais, mas é constituído por muitos pequenos empreendimentos do ramo de serviços e pequenas produções que são comumente reportadas ao espírito empreendedor de seu povo. No entanto, o documentário nos mostra que o desenvolvimento local, como um fenômeno humano e social (JESUS, 2003), foi muito influenciado por indivíduos a exemplo dessas quatro mulheres que exploraram economicamente sua cultura.

A economia popular é a forma pela qual, historicamente, os homens e as mulheres que não vivem da exploração da força de trabalho alheio, vêm tentando garantir o seu estar no mundo, tanto na unidade doméstica como no espaço mais amplo que envolve o bairro, a cidade, o país e o universo (ICAZA; TIRIBA, 2003).

Aprenderam, no lar, a costurar roupas de festa e de trabalho, pois eram os dois momentos de vida reportados pelas entrevistadas, para o enxoval aprenderam a bordar à máquina, costurar à mão, costurar à máquina, lavar, engomar e passar peças de seda, cetim e lã, crochetar e tricotar toalhas e outras decorações e, também, a remendar as roupas de trabalho. Quando o conhecimento necessário não vinha do lar, buscavam em cursos livres ou de qualificação na região, o que lhes permitiria uma segunda renda ou a possibilidade de trabalhar em casa e, assim, cuidar do lar e dos filhos.

Dessa forma, o conceito de moda que está sendo trabalhado aqui não se limita à confecção de roupas, uma vez que “[...] ela não é só uma questão de roupas e seria melhor considerá-la um mecanismo ou uma ideologia que se aplica a quase todas as áreas concebíveis do mundo moderno, do fim do período medieval em diante” (SVENDSEN, 2010, p. 12).

3 MODA E MEMÓRIA NO VALE: PERSPECTIVAS CULTURAIS DE QUATRO ENTREVISTADAS

Ao longo de uma hora de documentário, as quatro entrevistadas revisitaram fotografias, rememorando tradições religiosas, meios de trabalho, ofícios, normas de convivência e valores estilísticos, visíveis pelas fotografias e peças que fizeram de acervo, o que auxiliou a resgatar de si memórias passadas. Contudo, antes de seguir para a parte das entrevistas que trata da moda de forma mais direta, é importante fazer uma apresentação sobre cada uma das mulheres do documentário.

A primeira entrevistada, MHS, saiu de sua cidade natal em Braço do Norte com dezoito anos e foi para Blumenau em busca de trabalho. Nessa cidade, constituiu família e aprendeu o artesanato para o lar na pintura de panos de prato, peças de roupas e roupas de casa, além de ter ensinado outras pessoas, o que era uma segunda fonte de renda. Depois de aposentada, entrou para um clube de mães, quando aprimorou os trabalhos manuais e abriu seu ateliê em casa.

A segunda entrevistada,AC, de Herval D’Oeste, foi para Blumenau aos dezessete anos, relatou sobre sua infância no sítio onde o trabalho feminino era mais pesado, a roupa era lavada no rio, com os joelhos apoiados sobre peças de madeira, as roupas brancas e do lar eram batidas em peças de madeira colocadas no rio com sabão caseiro. O ferro de passar a carvão foi utilizado até depois da chegada da energia elétrica e os ofícios femininos foram iniciados ainda na infância, a saber, costurar à mão peças de roupa para a família e para a casa, remendar roupas de trabalho, lavar, engomar e passar as roupas, trabalhos intercalados com as horas de trabalho na roça e com os estudos.

A terceira entrevistada, ES, afirmou “ter mais o costume da cidade”, em detrimento de suas irmãs que nasceram e viveram até a adolescência no interior. Sua fala se direcionou ao cuidado que dava aos cabelos, às unhas e às roupas. Incentivada por sua mãe apenas ao trabalho na fábrica, buscou cursos na área de cabelo e manicure, fazendo disso, por muito tempo, sua fonte de renda. A afinidade e a necessidade de trabalhar em casa a levou ao ofício de cabeleireira, um dos poucos cursos oferecidos à época.

A quarta entrevistada, BP, aprendeu os ofícios de bordar peças à máquina com uso do bastidor, a costurar peças femininas finas e peças de alfaiataria, bem como peças do lar e o crochê, com sua mãe. Trabalhou com sua mãe até os dezessete anos, quando se casou, um costume comum à época o de casar-se jovem. Depois de casada, trabalhou para uma loja costurando peças em casa, quando não havia creches para colocar seus filhos e, então, quando foi possível, ingressou também na fábrica mantendo os afazeres aprendidos para sustento do lar.

A partir da apresentação das entrevistadas, podemos perceber que os motivos da mudança de moradia foram o trabalho e o casamento. Esta necessidade de mudança revela o movimento dos fluxos culturais de uma localidade para outra, dentro do Vale do Itajaí. A seguir serão apresentados alguns excertos das entrevistas, na sequência dos questionamentos aplicados. A primeira pergunta aplicada foi: Fale um pouco sobre sua trajetória de vida e o momento em que começou a se relacionar com a (costura, alfaiataria, modelagem, pintura, bordado, corte e costura, maquiagem e cabelo etc.).

A primeira entrevistada, MHS, declarou terse mudado para Blumenau para cuidar de uma criança. Cuidava dela no horário de trabalho da mãe e no outro período encontrou emprego na indústria Hering, local que empregava a mãe da criança.

Sabino relatou ter desde criança o sonho de aprender a pintar: “[...] a minha trajetória com a pintura começou já lá na infância, até porque a gente não tinha muitas condições pra comprar o material” (MHS, 2021). Sua paixão pela pintura se deveu a isso.

A segunda entrevistada, AC, afirmou que sua trajetória com a costura iniciou em casa, aprendendo com a mãe antes de completar cinco anos a costurar e remendar roupas à mão. Segundo AC (2021), “[...] o trabalho a gente aprendia fazendo, eles (os pais) colocavam na mão da gente e a gente fazia”. Até dez anos, havia aprendido o trabalho na roça, a fazer cestos e cadeiras com amarraçõese a lavar e a passar as roupas de casa.

Para ES, a trajetória com sua profissão iniciou mais tarde, aos dezesseis anos, em cursos profissionalizantes de cabeleireiro e manicure no SENAC. Segundo ela, sua busca era pela área de estética porque “[...] não sabia costurar nem fazer outro ofício, então, como eu me arrumava para mim acabei ali buscando por isso” (ES, 2021). Além disso, ela afirmou: “[...] eu precisava resolver duas questões, uma da moradia e outra da renda, então eu ia me mudar pra Rodeio, e ia trabalhar em casa, porque lá não tinha nem muito curso, nem muito emprego, lá tinha fábricas, eu ia trabalhar em casa e atender o pessoal da fábrica” (ES, 2021).

Para ES (2021), não havia muitos cursos na época em Blumenau ecomo o SENAC ofertava alguns, ela escolheu baseado em sua necessidade. Dedicou sua vontade de aprender ao ofício de cabeleireira, além de ser a profissão que melhor se adequaria a sua situação, com a necessidade de trabalhar em casa para cuidar do lar e dos filhos, ao fato de gostar de se arrumar para si e perceber que suas colegas de trabalho também se arrumavam muito, sempre com “[...] unha, cabelo, maquiagem muito bem arrumadas” (ES, 2021). O curso disponibilizado pelo SENAC mostrou-se no caminho de sua necessidade, cujo trabalho seria em casa.

Na Figura 1, a entrevistada ES aparece no intervalo do almoço, ainda em Blumenau, quando trabalhava como secretária na empresa Mafisa, ao lado uma foto dela com dezesseis anos. A foto demonstra o que ES indicou como fazendo parte de características mais da cidade, que seria o apuro estético:


Figura 1

Acervo da entrevistada ES, 2021.

A quarta entrevistada, BP, iniciou sua fala afirmando “[...] eu nasci em Rodeio, e morei lá com a minha mãe até os dezessete anos” (BP, 2021), ocasião na qual casou-se e mudou-se para Pomerode e continuou dizendo: “[...] eu fique até os dezessete anos sempre junto da minha mãe, que foi quem me ensinou a costurar e a bordar. O crochê eu aprendi com a minha tia” (BP, 2021). A fala da entrevistada estendeu-se com ela relatando mais sobre sua trajetória: “Eu comecei aprendendo a fazer camisas, depois eu fiz vestidos, saias, mas no começo eram camisas, que eram as roupas para os meus irmãos. As calças a minha mãe que fazia. E depois então, nós fazíamos tudo, blazers, camisas, calças, vestidos”. (BP, 2020).

Essa atividade de corte e costura era feita não apenas para o lar, mas sob encomenda, o que auxiliava na renda. Era uma atividade intercalada entre os serviços domésticos de lavar, passar, engomar e cuidar da casa, além do trabalho na roça. Havia, ainda, a preparação do enxoval, que continha “[...] tudo que você pode imaginar que vai precisar quando se casar, roupas de cama, do bebê, de casa, toalhas, tudo” (BP, 2021). Segundo ela: “De dia nós trabalhávamos, e a noite nós bordávamos o enxoval. Bordávamos tudo com o bastidor na máquina de costura movida a pé. A gente colocava a peça no bastidor e ficava segurando o bastidor e movendo ele na máquina, enquanto rodava ela com o pé”. (BP, 2021)

A Figura 2 mostra peças feitas pela entrevistada BP para as irmãs e suas peças do enxoval, que fazem parte do seu acervo:


Figura 2

Acervo da entrevistada BP, 2021.

À esquerda, roupa de primeira comunhão, costurada em casa para sobrinha e à direita, roupas do enxoval do primeiro filho. A peça à esquerda da imagem é uma touca feita com renda de laise e a da direita uma camiseta que foi bordada com bastidor, na máquina de costura.

O segundo questionamento durante a entrevista referiu-se a como esse conhecimento foi adquirido: “Como foi que você ficou sabendo dessa área de atuação? Foi indicação de alguém? Foi ensinado por alguém ou fez cursos? Quem lhe ensinou ou indicou o curso? Onde foi? Quem foram seus professores? Começou a trabalhar na área ou foi hobby?”

MHS (2021) Relatou: “Eu, antes de vir para Blumenau, fiz um curso lá na minha cidade mesmo, de crochê, tinha uma mulher lá que ensinava e ela me ensinou. Mas daí eu vim pra cá e ficou o crochê. Então eu fiz um curso no centro, já aqui em Blumenau, que hoje se chama biscuit, mas naquela época era outro nome [...] mas eu queria fazer de pintura, assim, de roupa né, então depois uma mulher abriu um curso lá no centro, que na época era bem caro, mas eu fiz, fiz um mês só, porque se tu tinha dinheiro fazia quanto tempo queria, mas eu fiz só um mês, daí lá eu aprendi a pintar pano, e umas blusas que a gente fazia. [...] mas eu sempre quis de pintura, assim, de quadro, era meu sonho, daí quando eu comecei no CAIC tinha lá um curso de pintura de quadro, daí lá fui eu na pintura”. (MHS, 2021).

A entrevistada MHS guardou o primeiro quadro que pode ser vista à direita da Figura 3 e a primeira peça de biscuità esquerda da imagem:


Figura 3

Acervo da entrevistada MHS, 2021.

AC afirmou que apenas depois de seus dez anos de idade é que fez um curso de corte e costura, o qual foi pago por seu pai, na verdade, para sua irmã, no Instituto Universal Brasileiro. Segundo AC: “Ela não tinha cabeça para costura, na cabeça dela nunca entrou a costura, então eu peguei os materiais que eles enviavam de São Paulo e comecei a fazer, eles mandavam régua, fita métrica, agulha, as vezes até tecido, e umas revistas que vinham com os moldes. Daí os moldes eu colocava em cima da mesa e talhava pra mim as minhas coisas, eu fiz bastante roupa pra mim, fiz uma calça, fiz blusas, fiz calcinhas. [...] Mas a primeira roupa que eu fiz pra mim foi uma saia, que veio uma mulher de Rio do Sul lá no Sumidor vender máquina de costura pro pai e pra mãe, e eu vi a saia dela e achei lindo, daí eu pensei na minha cabeça como fazia e depois fui lá e fiz pra mim”. (AC, 2021)

A entrevistada afirmou que a saia foi utilizada ainda por sua primeira filha durante a adolescência. Das demais peças, mantinha apenas uma foto, a qual pode ser vista na Figura 4, em que a mulher no meio é AC vestindo uma calça que confeccionou com os moldes que aprendeu a fazer.


Figura 4

Acervo da entrevistada AC, 2021

BP, por sua vez, comentou que sua mãe lhe ensinou os afazeres, segundo ela “Nós não tínhamos curso, e para fazer as roupas a gente tirava as medidas de corpo da pessoa e nós fazíamos primeiro num papel, com ajuda de uma roupa nossa, daí fazíamos as modificações no papel e depois cortávamos as peças. [...] nós tínhamos revistas, não sei de onde vinham, se era assinatura, então nós tínhamos os figurinos.”(BP, 2021)

A entrevista, então, seguiu para o terceiro questionamento: Fale um pouco sobre as experiências que você teve enquanto aprendia e que experiências posteriores surgiram a partir das vivências na área. Nesse momento, se quiser apresentar fotografias ou peças, serão inseridas na ordem das falas.

Nesse momento, algumas memórias de infância puderam ser registradas. Sobre os tecidos utilizados, BP (2021) indicou que para as roupas de casa utilizava-se o cretone, comprado uma vez por ano na Renaux, em Brusque. Para as roupas cotidianas e de ocasião, utilizava-se muita lã e seda, para as roupas de ocasião, como casamentos, comunhão e batismo, era utilizado o cetim e as roupas de trabalho eram feitas com Cáqui, uma espécie de lona.

Já AC (2021) afirmou que as roupas de casa eram feitas com rolos grandes que o pai buscava de Jaraguá do Sul a cada três anos. Os ternos eram feitos de lã, os quais eram apenas escovados, e as roupas femininas eram feitas de tecido xadrez. O que mais se utilizava eram roupas de trabalho, feitas de tecido grosso, como lona, essas roupas eram frequentemente remendadas ao ponto de parecer “[...] que a roupa era feita de remendo” (AC, 2021).

Em muitos momentos, as memórias de BP e AC eram bem parecidas, uma vez que, ao falarem das roupas femininas, ambas identificaram que deveriam ser até os joelhos, cobrir os braços e as mulheres não deveriam usar calças. BP ainda indicou a proibição do uso de bicicletas masculinas para mulheres.

As condições de vida pareciam ser severas, sobretudo porque a roupa era lavada no rio, com auxílio de uma tábua para apoiar os joelhose outra tábua para bater a roupa. Apenas as roupas de casa eram batidas no rio, haja vista que roupas de seda ou tule eram lavadas à mão, nunca batidas. O ferro de passar, para ambas, era aquecido com carvão e não havia sapatos durante a infância.

Na Figura 5 podem ser vistos alguns objetos do acervo das entrevistadas, como o ferro a carvão e as roupas femininas, com mangas longas e saias cobrindo os joelhos:


Figura 5

Acervo da entrevistada AC, 2021

O ferro a carvão aparece maior, fechado, com uma manivela na tampa na parte frontal para travá-la.Já na imagem menor que compõe a figura, ele aparece aberto e essa era a abertura se colocava o carvão. Segundo AC, de vez em quando, era necessário sair da casa para soprar as cinzas do ferro e, então, retornar para passar as roupas. O ferro pesa, sem o carvão, cerca de 1,5kg.

Sobre os calçados, BP afirmou que seu primeiro calçado foi uma alpargata Roda, que seu pai lhe deu quando tinha 7 anos. Como seu pai viajava pelo Brasil a trabalho, tinha mais acesso a alguns objetos que não havia na região e foi assim que, com 10 anos, viu o primeiro ferro elétrico. Antes disso, BP afirmou que tinha calçados apenas para o uso no gramado e no inverno eram usados tamancos de solado de madeira, com a parte superior em couro, utilizados em função das geadas na região.

Já AC, por sua vez, afirmou que não tinha calçados, que ia a pé para a escola, quebrando a grama fria com os pés ao ponto de, ao chegar na escola, a professora ter de fazer uma fogueira do lado de fora da sala e montar uma roda com as carteiras em volta do fogo para aquecer os alunos. Seu primeiro calçado foi uma sandália de tiras que ganhou quando veio a Blumenau, antes disso, nas festas da igreja, utilizava o calçado de casamento de sua mãe.

ES afirmou que, no dia de seu casamento, sua mãe estava sem calçados, pois não era hábito dela utilizá-los. Foi necessário que uma cunhada lhe emprestasse calçados, os quais ela utilizou apenas para as fotos. Já AC afirmou que quando ela e sua mãe trabalharam na Souza Cruz, nas colheitas de fumo, era costume da empresa dar calçados aos funcionários. Sua mãe recebia as sandálias, mas as utilizava apenas dentro da empresa, ficando descalça durante a colheita.

O quarto questionamento esperava saber se essas vivências eram práticas comuns: Isso era uma prática comum? Havia muitas pessoas fazendo isso na época? Quais eras suas outras opções, se haviam.

Sobre esse questionamento, MHS e ES afirmaram que era comum o trabalho na fábrica. ES (2021) relatou que o seguinte: “[...] a minha mãe não me incentivou a costurar nem nada, pra ela a gente tinha que ter um salário de fábrica, quem tinha um salário de fábrica era rico”.

Na Figura 6é possível ver a formatura do curso de cabelo e unha feito por ES e junto com a colação ocorria um desfile em que eram apresentadas as criações de cada estudante. Na imagem, ES aparece com lenço no cabelo, segundo ela, para não chamar mais atenção que sua modelo.


Figura 6

Acervo da entrevistada ES, 2021

Já BVP e AC indicaram que era comum a costura em casa porque não tinham roupas prontas para comprar em lojas: “[...] a gente comprava a fazenda, e fazia a roupa, tinha que fazer” (BP, 2021). AC relatou que “[...] foi mais fácil aqui em Blumenau, porque já tinha a loja do Herkenhoff, e a mulher dele era costureira [...] e vendia algumas roupas prontas que ela fazia ali mesmo na loja [...] daí o tecido eu comprava ali com ele” (AC, 2021).

Algumas tradições surgiram desse questionamento, como o vestido de batismo, que pode ser visto na Figura 7. BP utilizou, para a confecção o tecido do seu vestido de casamento, pois era difícil encontrar o cetim, e os vestidos de batismo deveriam ser longos e de cetim, para meninos e meninas.


Figura 7

Acervo da entrevistada BP, 2021

Na imagem, aparecem aumentados os detalhes da peça, como o acabamento manual da manga, acima, e a aplicação de renda nos babados, abaixo.

O quinto questionamento buscava saber se o conhecimento continuou a ser repassado para gerações: Essa prática passou para outras pessoas de sua convivência? Você ensinou seus filhos, vizinhos, outras pessoas estão fazendo isso também, porque, de alguma forma, conviveram com você e com suas memórias?

MHS afirmou que as pessoas da família a viam pintar e queriam aprender também, por isso, ensinou no clube de mães e para algumas amigas. ES não ensinou o ofício porque mudou de profissão mais tarde, no entanto, continuou a fazer os cortes de cabelo das filhas e do marido e ainda hoje corta os cabelos para os irmãos.

AC indicou que ensinou suas filhas, já lecionou também para uma turma montada em uma região carente de Blumenau e para uma vizinha que tinha interesse em trabalhar na fábrica. Nesse momento, ela indicou que “[...] as máquinas de fábrica eram diferentes, quem sabia costurar em máquina caseira não sabia usar a máquina da fábrica. E na fábrica tudo era produção [...] em casa a gente não tinha produção pra fazer as roupas” (AC, 2021). Então, o ensino do uso das máquinas industriais era diferente. Durante seu casamento, AC relatou que seu marido não lhe permitia comprar as máquinas industriais para trabalhar em casa, mas que fazia roupas com máquina Zigue-Zague e ele vendia em Rio do Sul.

Essa era uma segunda fonte de renda, uma vez que AC trabalhava na fábrica. Após a morte de seu marido, AC comprou as máquinas industriais e fez sua própria facção, momento em que pode ensinar seu ofício para mulheres que precisavam ingressar nas fábricas.

BP não chegou a ensinar a costura, apenas o crochê, porque sua filha foi estudar “fora”. A partir de sua fala, podemos compreender que, ao sair para estudar e por possuir uma nova profissão, ela não necessitaria do conhecimento da costura. No entanto, BP continuou a fazer as roupas de seus filhos e netos, incluindo o vestido de casamento de sua filha.

3 CONCLUSÃO

A partir dos recortes de algumas falas das entrevistadas, apresentados nesse artigo, foi possível compreendermosque houve uma relação entre o modo de vida e o desenvolvimento econômico local, uma vez que suas experiências com a costura, principalmente, e a necessidade do cuidado do lar e dos filhos, as levaram a utilizar seus conhecimentos aprendidos em casa como geração de renda. Além disso, ES e MHS, por exemplo, fizeram cursos livres, segundo o que era ofertado e que melhor se adequava à jornada de serviços no lar e no trabalho “fora” de casa.

A necessidade econômica e no lar a para manutenção das peças de cama, mesa e banho e peças de festa e trabalho, podem ter influenciado também uma construção de cultura local, formando uma identidade pautada em trabalhos manuais nas quais as pequenas produções de bens de consumo se mesclam com produção artesanal.

Assim, alguns dos principais pontos abordados nessa entrevista foram as memórias de afazeres e rotinas relacionadas àModa. Percebemos que muitos deles eram tidos como femininos e foram assim relacionados na oferta de cursos profissionalizantes e trabalho.

O Vale do Itajaí, conhecido por seus polos fabris, dois deles já no século XX, Joinville e Blumenau, demonstrou que os afazeres aprendidos no lar foram utilizados como fonte de renda. Esse conhecimento que vinha de casa era diferente do conhecimento dos cursos profissionalizantes da região, os quais eram voltados para o trabalho fabril, formulando uma diferença entre o trabalho que se fazia em casa e nos ateliês, das peças de produção em massa. O trabalho de casa conectava-se mais com a cultura, servia para as festividades, para o cuidado de peças finas e de tecidos que exigiam cuidados especiais, construindo uma identidade de moda no Vale do Itajaí enraizada nos afazeres manuais do crochê, bordado, corte e costura, beleza e pintura.

Outras questões foram percebidas e podem ser aprofundadas nos estudos sobre a moda no Vale, como condições de trabalho, estilo de vida e uma reterritorialização advinda das necessidades de trabalho, que podem ter auxiliado na diversidade das práticas culturais da moda na região. Esses registros de memória não são os registros que aparecem nos museus, ou que são aprendidos em cursos técnicos e superiores, no entanto, representam uma parte cultural e identitária significativa, uma vez que foi o modo de vida não apenas dessas quatro entrevistadas, mas de toda uma geração de mulheres que viveu sob os mesmos valores, oportunidades e obrigações.

Desta forma, esse artigo buscou demonstrar um pouco da pesquisa elaborada para o documentário e espera-se que a partir dele seja possível ampliar (ainda mais) as perspectivas de olhar sobre a moda em Santa Catarina, reconhecendo por meio dela uma cultura e identidade local³.

REFERÊNCIAS

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Notas

¹ Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- CAPES.
² Doutoranda em Design (UDESC), é mestre em Educação (FURB-2019), Especialista em Políticas Culturais de Base Comunitária (FLACSO-2020), Especialista em Negócios da Moda (IbModa-2009) e Bacharel em Design de Moda (UNIASSELVI-2006). E-mail: emanuella_design@hotmail.com.http://lattes.cnpq.br/3858787418552795.
³ Everton Vinícius de Santa.E-mail: evertonvs9@gmail.com. http://lattes.cnpq.br/0896359543101989.


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