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Resenha: Sala de Aula Invertida: Uma Metodologia Ativa de Aprendizagem. BERGMAHN J.; SAMS A. Rio de Janeiro, LTC, 2018.
Revista Espinhaço, vol.. 10, núm. 1, 2021
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

Resenhas

Revista Espinhaço
Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Brasil
ISSN-e: 2317-0611
Periodicidade: Semestral
vol. 10, núm. 1, 2021

Recepção: 04 Maio 2021

Aprovação: 05 Junho 2021


Este trabalho está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.

Resumo: Resenha: Sala de Aula Invertida: Uma Metodologia Ativa de Aprendizagem. BERGMAHN J.; SAMS A. Rio de Janeiro, LTC, 2018.

Palavras-chave: Sala de Aula Invertida, Metodologia Ativa, Ensino e aprendizagem.

A obra intitulada “Sala de Aula Invertida: Uma Metodologia Ativa de Aprendizagem”, de autoria de Jonathan Bergmann e Aaron Sams, estabelece alguns contrapontos em relação ao ensino tradicional. O método, chamado de sala de aula invertida, em inglês original “Flipped Classroom”, foi desenvolvido com base nas experiências pedagógicas dos autores para tornar o processo de ensino e aprendizagem mais eficientes. A ideia surgiu em 2006, quando Jonathan e Aaron começaram a lecionar química e física na escola Woodlan Park, no Colorado, Estados Unidos. Ambos perceberam que suas filosofias educativas eram parecidas e buscaram formas de superar as dificuldades dos estudantes ao tornar o aprendizado mais efetivo. Utilizando um software que gravava slides, eles enviaram o conteúdo aos alunos antes que houvesse o encontro presencial. A partir dessa experiência, os autores fundamentaram a ideia, aplicando e aprimorando a metodologia, realizando também palestras em todo o país sobre como utilizar a sala de aula invertida. Muitas escolas e professores adotaram o método e criaram novas formas adaptadas e de utiliza-lo.

O livro está estruturado em nove capítulos, abordando a história dos autores e a criação do método, os processos de desenvolvimento e aplicação, além de dicas e formas de utilizar este modelo de aprendizagem. Neste livro, os autores defendem que o contato entre professor e estudante não seja intermediado apenas pelo formato expositivo clássico. Dentre as alternativas pedagógicas existentes, o foco está na sala de aula invertida. Segundo os autores, existia a percepção de que as formas tradicionais de ensino não eram compatíveis com alguns estilos de aprendizagem dos estudantes, ou seja, não funcionava para todos, de modo que não conseguiam atingir aprendizagem efetiva para toda a classe. Nesta estratégia pedagógica, ocorre a disponibilização prévia de vídeos, áudios, textos e outras mídias, para que todos os estudantes tenham acesso ao conteúdo antes das aulas. Com o acesso prévio aos materiais didáticos, cada estudante, em tese, poderia se antecipar e estudar nos locais e horários que lhe fossem convenientes, seguindo seu próprio ritmo de ensino-aprendizagem.

Além do estudo antecipado em casa, o método também está focado nos encontros presenciais, que geralmente ocorrem no horário convencional de aula na escola. Estes momentos são destinados a atividades que exigem níveis mais aprofundados de reflexão. Nas atividades presenciais, o papel dos atores sociais, protagonistas do espaço-tempo da sala de aula, muda quando comparado ao ensino tradicional. Os estudantes passam a ter um papel ativo no processo de aprendizagem. Isso ocorre porque o estudante obteve, previamente, contato com o conteúdo, abrindo espaço para que a aula se torne um foco de aprendizagem ativa, com o auxílio e supervisão do professor. Por sua vez, os educadores deixam de atuar como meros “transmissores” de conteúdo. Onde havia uma predominância da modalidade de aula expositiva, com a sala de aula invertida, o professor pode usar o tempo disponível para realizar a mediação de tarefas e, através do desenvolvimento de um processo de ensino-aprendizagem que seja mediado por tecnologias, o aluno obtém uma nova perspectiva sobre o aprendizado, que pode ser construído por outros meios, a exemplo do meio virtual.

Em sala de aula, o professor pode propor e supervisionar discussões, atividades práticas/demonstrativas e oferecer respostas às perguntas que possam surgir durante as atividades prévias. Os autores sugerem diversas ferramentas que podem ser utilizadas pelos educadores para implementar essa metodologia, por exemplo: plataformas, softwares, sistemas de gravação de voz e vídeo, aplicativos de celulares/tablets, mídias físicas (CD e DVD), dentre outras. Os criadores do método indicam que essas ferramentas podem ser amplamente usadas por alunos e professores diante do baixo custo de implantação, permitindo a disseminação de uma forma de ensino mais eficiente.

Entende-se ainda, que a tecnologia já está presente no cotidiano dos estudantes, de forma que a utilização destes meios digitais possa, inclusive, facilitar a aprendizagem, por utilizarem meios já inseridos em sua rotina. Ainda que esta não seja uma realidade inclusiva, ou para todos, vê-se que o uso da internet, de computadores, celulares e outros meios digitais/virtuais, tem se tornado cada vez mais frequente. Os vídeos e áudios podem ser gravados/visualizados em smartphones, computador ou tablet, visando uma proximidade com essas tecnologias que já são conhecidas pelos alunos. Para aqueles que não dispõem dessas tecnologias, os autores aconselham a gravação dos conteúdos em CD/DVD. No sétimo capítulo, os autores mostram a relação da sala de aula invertida com a avaliação da aprendizagem. Ao longo das aulas, o contato mais próximo com os estudantes permite que os professores façam “avaliações somativas”, ou seja, que agregam uma maior quantidade de valores ao processo de avaliação. Desta forma, o modo como os alunos serão avaliados durante o processo de ensino não se dará somente através de aplicação de avaliação teórica, mas também a análise do seu comportamento ao utilizar esta modalidade educativa.

Os autores falam das experiências de uma metodologia que fora testada e aplicada em um ambiente diferente da brasileira. Entende-se que no Brasil, a aplicação do modelo invertido implicaria em muitos desafios, pois careceria de maior investimento em tecnologia e inovação, uma vez que tais recursos, essenciais para uma metodologia ativa de aprendizagem, nem sempre estão disponíveis aos educadores de escola de base públicas brasileiras.

Ademais, a superação da burocracia pedagógica tradicional que limita a liberdade do professor em sala é apontada como um dos principais aspectos da obra. O método busca proporcionar oportunidades de ensino-aprendizagem auxiliados por outros recursos, permitindo “que os alunos alcancem uma série de objetivos no próprio ritmo” [p. 47]. Ainda, o professor pode buscar formas de contornar a falta de recursos, a exemplo da internet e de equipamentos eletrônicos.

Com a aplicação desse método, os alunos obtêm maior autonomia e, consequentemente, apresentam maior interesse. Por outro lado, o professor, enquanto um mediador, pode moldar o ritmo da aula. Desta forma, a proposta da inversão, como metodologia ativa de aprendizagem, pode resultar em uma maior participação ativa dos estudantes, onde estes tenham um papel importante, não mais como apenas receptor do conteúdo, mas também gerador do conhecimento.

Bergmahn e Sams concebem sua narrativa fundamentada nas experiências e no resultado da aplicação prática do método, de modo que a disseminação da proposta pudesse chegar aos profissionais da educação e os fizesse repensar em suas metodologias, na busca constante do aprimoramento de suas práticas docentes. Como desfecho da obra, é notável que, juntamente com a oportunidade de implementar novas práticas educativas, o professor possa colaborar para o aprendizado dos alunos. Os estudantes que não se adequam ao modo tradicional de ensino podem obter, como alternativa viável, o acesso remoto dos conteúdos. A proposta da obra é refletir sobre novas formas de se fazer educação que beneficiem os alunos, indicando como finalidade o aprendizado ativo.

Para o ensino de geografia, a sala de aula invertida pode ser uma proposta alternativa ao ampliar as possiblidades de ensino e aprendizagem. O professor, ao enviar o conteúdo previamente para os estudantes, reservando a aula para reflexões e dúvidas, poderá obter uma maior carga horária para as atividades de campo, para que os alunos possam explorar os seus lugares de vivência e articular os conteúdos teóricos assistidos de forma remota com a realidade de sua comunidade. Ainda, existem muitas ferramentas virtuais que podem ser exploradas no ensino de geografia num contexto de sala de aula invertida, com destaque para a utilização do SIG e de outras ferramentas virtuais que permitem uma articulação entre espaço e sociedade. A sala de aula invertida, assim como outros métodos ativos de ensino e aprendizagem, permite que os estudantes possam participar com maior frequência da construção do conhecimento através da elaboração de trabalhos e materiais didáticos que contribuem para o ensino de geografia. A sala de aula invertida, para a geografia, pode ser uma alternativa no sentido de permitir a vivência dos conceitos geográficos na prática, ou seja, estimulando maior produção de conteúdo e atividades ao ar livre, que permitam fazer a correlação entre homem e meio, e a compreensão das ações que ocorrem no espaço.

A sala de aula invertida, para além de uma metodologia alternativa, em contraste ao ensino tradicional, é também uma forma de estimular os estudantes para a participação ativa no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que exige dedicação extraclasse para o sucesso desta modalidade de ensino, em que o aluno irá utilizar o horário de aula para dúvidas e questionamentos que possam ser aprofundados e desenvolvidos em outros momentos de sua rotina que não somente na hora/aula, gerando conhecimento e conteúdo que permitam o crescimento intelectual e pessoal.



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