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Biblioteca Universitária, Escolar e Comunitária: o caso da biblioteca comunitária ?Professora Ebe Alves da Silva? do IFMG
School, Aniversity and Public Library: the case of the community library ?Professora Ebe Alves da Silva?
RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência. da Informação, vol.. 14, núm. 1, 2016
Universidade Estadual de Campinas

Artigos

RDBCI: Revista Digital de Biblioteconomia e Ciência. da Informação
Universidade Estadual de Campinas, Brasil
ISSN: 1678-765x
Periodicidade: Cuatrimestral
vol. 14, núm. 1, 2016

Recepção: 08 Setembro 2015

Aprovação: 11 Novembro 2015


Este trabalho está sob uma Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.

Resumo: A Expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica ocorrida em 2008, pela lei 11.892, transformou diferentes instituições de ensino técnico federais em Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia, que são responsáveis pela educação profissional em diferentes modalidades de ensino, promovendo tanto a educação básica quanto a educação superior. Inseridas nesse contexto estão as bibliotecas dessas instituições, que são, concomitantemente, bibliotecas escolares e universitárias. Com o objetivo de demonstrar o papel dessas bibliotecas, motivado pelo questionamento sobre a possibilidade de convivência desses tipos de bibliotecas em um mesmo espaço, apresenta-se um estudo de caso sobre a Biblioteca Comunitária Professora Ebe Alves da Silva, do Instituto Federal de Minas Gerais que, além de escolar e universitária é também apresenta aspectos de ?comunitária?, pela sua própria denominação. Para a concretização do estudo de caso foram realizadas entrevistas e aplicados questionários, dirigidos a diferentes atores da comunidade interna e externa da instituição. Os resultados foram submetidos à técnica do Discurso do Sujeito Coletivo ? DSC - que ilustrou a discussão, relacionando os aspectos teóricos sobre biblioteca escolar, biblioteca universitária e biblioteca escolar comunitária à realidade da Biblioteca Comunitária Professora Ebe Alves da Silva. A pesquisa concluiu que a biblioteca estudada cumpre os três papéis, constituindo-se em uma agente propulsora da democratização da informação e contribuindo para o desenvolvimento do município.

Palavras-chave: Biblioteca escolar, Biblioteca universitária, Biblioteca pública, Educação profissional, Educação e desenvolvimento.

Abstract: The Scientific and Technological Federal Education Expansion held in 2008 through the 11892 law, changed several Federal Technical Education Institutions in ?Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia? (Federal Institutes of Education, Science and Technology), which are responsible for Professional Instruction in various forms of education, promoting both basic and college education. The libraries of these institutions are also inserted in this context, which are concomitantly, school and university libraries. Aiming to demonstrate the role of these libraries, motivated by questions about the possibility of coexistence of these types of libraries in a same space, we present a case study on the Community Library ?Professora Ebe Alves da Silva? of the ?Instituto Federal de Minas Gerais? which is not only a school and university library but also presents aspects of a ?community? for its own denomination. For completing the study there were interviews and questionnaires, directed to different actors of the internal and external community institution. The results were submitted to the technique of ?Discurso do Sujeito Coletivo? (Collective Subject Discourse) - DSC - who illustrated the discussion by relating the theoretical aspects of school library, university library and public library to the reality of Community Library ?Professora Ebe Alves da Silva?. We came to the conclusion that the studied library fulfills the three roles, thus becoming a driving agent of democratization of information and contributing to the development of the city.

Keywords: School library, University library, Public library, Vocational education, Education and development.

1 Introdução

A linha do tempo que traça a história da educação profissional brasileira apresenta uma série de marcos históricos, dentre eles, podem ser destacados: 1937 ? a transformação das Escolas de Aprendizes e Artífices em Liceus Industriais a partir da Lei nº 378; 1942 ? a transformação dos Liceus Industriais em Escolas Industriais e Técnicas por meio da Lei nº 4.127; 1959 ? a transformação das Escolas Industriais e Técnicas em Escolas Técnicas Federais em 1959; 1971 ? a transformação do currículo do segundo grau em técnico-profissional de forma compulsória por meio da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira; 1978 ? as primeiras transformações de Escolas Técnicas Federais em Centros Federais de Educação Tecnológica; 1996 ? a disposição de capítulo próprio sobre a educação profissional na LDB; 2005 ? o início do Plano de Expansão da Rede Federal; e 2008 ? a criação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (BRASIL, 2009).

O estabelecimento dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IF) é resultado da aglutinação de trinta e um Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET), setenta e cinco Unidades Descentralizadas de Ensino (Uned), trinta e nove Escolas Agrotécnicas, sete Escolas Técnicas Federais e oito escolas vinculadas às Universidades, formando, ao todo, trinta e oito IF no território nacional (BRASIL, 2008).

Em concordância com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), a Lei 11.892 de 2008 prescreve, no artigo oitavo, que o objetivo dos IF é ofertar educação técnica integrada ao ensino médio, ou seja, é de sua responsabilidade a educação básica. Também é objetivo ofertar cursos para formação inicial e continuada para trabalhadores; ofertar cursos superiores tecnológicos, cursos de licenciaturas, especialmente nas áreas de ciências e matemática, cursos de bacharelado e engenharia direcionados aos setores da economia; pós-graduação lato e stricto sensu (BRASIL, 1996, 2008).

A transitoriedade ocasionada nas instituições que fazem parte da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, mediante a constante alteração da legislação que rege o funcionamento dessas instituições, indicam mudanças em sua missão e objetivos, implicando em transformações que atingem diretamente suas bibliotecas. Tanto a realidade da educação superior na Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica e a atenção da educação vinculada ao desenvolvimento local e regional se tornaram um padrão a partir da criação dos IFs. No entanto, essas particularidades se iniciaram no processo de transformação das Escolas Técnicas em CEFETs (BRASIL, 2004, 2008).

Observa-se, então, que as bibliotecas dos IFs, devem estar inseridas num contexto de educação básica e superior, ou seja, é biblioteca escolar e biblioteca universitária ao mesmo tempo, tendo em vista as finalidades, características e objetivos estabelecidos pela Lei n. 11.892 de 2008 (BRASIL, 2008).

Além disso, algumas bibliotecas dos IFs também podem assumir características de biblioteca comunitária. Como exemplo, tem-se uma das bibliotecas do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), a Biblioteca Comunitária ?Professora Ebe Alves da Silva?, do campus Bambuí (INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS, 2009).

A constituição inicial do IFMG é resultado da junção de dois CEFET, uma Escola Agrotécnica, duas Uned, que se tornaram campi, além de mais um campus novo e da Reitoria. O campus Bambuí do IFMG, que abriga a Biblioteca Comunitária ?Professora Ebe Alves da Silva? ? doravante denominada: Biblioteca CPEAS, está localizada na região central do Estado de Minas Gerais, em município cujo Produto Interno Bruto (PIB) tem alto valor adicionado relativo à agropecuária (BRASIL, 2008; IBGE, 2014).

A relação do campus com a área agropecuária também pode ser percebida através da presença de uma das unidades da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER-MG), instalada no campus desde 1985 (EMATER-MG, 2015).

No campus são ofertados cursos profissionalizantes, de ensino médio, de graduação (Tecnologia, Bacharelado e Licenciatura) e de pós-graduação. Os cursos ofertados atendem às seguintes áreas do CNPQ: Ciências Exatas e da Terra, Ciências Biológicas, Engenharias, Ciências Agrárias e Ciências Sociais Aplicadas (INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS, 2015).

Diante dessas características do campus Bambuí, a Biblioteca Comunitária ?Professora Ebe Alves da Silva? se revela escolar e universitária, em um mesmo espaço, além de ter sido denominada ?comunitária?. A biblioteca foi inaugurada em 1978, quando a instituição ainda era o Colégio Agrícola de Bambuí (MG). O nome permaneceu, embora o que se entendesse naquele momento, sobre uma biblioteca comunitária, não fosse exatamente a compreensão abrangente que se tem hoje, conforme demonstra o estudo de Machado (2009). Nesse sentido, uma biblioteca não se torna ?comunitária? pelo simples fato de atender a uma comunidade porque, efetivamente, todas as bibliotecas atendem uma dada comunidade.

A biblioteca atualmente dispõe de uma área de 1078.83 m². Os ambientes da biblioteca são o hall de entrada, anfiteatro, banheiros, área de estudo com acesso à internet sem fio, setor de circulação de materiais, setor Braille, laboratório de informática, elevador, sete salas de estudo, sala de multimeios, sala de periódicos, área com cabines individuais de estudo, salão do acervo, salas para processamento técnico e coordenação (INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS, 2009, 2015).

Em 2013 a coleção apresentava 9.483 títulos e 20.977 exemplares no ano de 2013 e os empréstimos deste mesmo ano ultrapassaram 14 mil movimentações. Outra característica relevante a ser salientada é a presença de um único bibliotecário, responsável pela gerência e demais serviços da biblioteca (INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS, 2015).

Deve-se ressaltar que o presente trabalho é resultado parcial da pesquisa ?A contribuição da biblioteca do IFMG Campus Bambuí para o desenvolvimento local e regional?, realizada com o objetivo de obtenção do título de mestrado de um dos autores. Durante o processo de desenvolvimento da pesquisa, os autores ouviram dos colegas vários comentários e questionamentos, tais como, ?não existe biblioteca escolar e universitária ao mesmo tempo!? Ou, também, ?talvez essa biblioteca não seja uma coisa nem outra!?. Esses questionamentos inspiraram a construção deste estudo, que não teve por objetivo propor uma redefinição da tipologia de bibliotecas em que as dos IF pudessem se enquadrar, mas sim mostrar o papel dessas bibliotecas que apresentam, como característica principal, ter um público alvo múltiplo e heterogêneo, como é o caso da Biblioteca CPEAS do IFMG. Para isso, são apresentadas as características das tipologias de biblioteca escolar, universitária e comunitária, que basearam juntamente com a criação de Discursos do Sujeito Coletivo (DSC) a análise dos resultados de entrevistas com diferentes atores da comunidade interna e externa do campus que abriga a Biblioteca CPEAS.

O estudo de caso ora apresentado reveste-se, pois, de grande relevância. Ele dimensiona o papel educativo e até mesmo político dos IFs, criados em 2008, na medida em que a Expansão da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica tem um caráter crucial para o desenvolvimento das comunidades locais, com impacto positivo para a região e a economia nacional. Neste contexto é que se inserem as suas bibliotecas e, em particular, as que incorporam a missão de atendimento comunitário, indo além da unidade educativa.

2 A Biblioteca e Seus Tipos

Assumir as funções de biblioteca universitária para as bibliotecas da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica (Rede Federal EPCT) se tornou uma realidade antes da lei de criação dos IF em 2008. Foi a partir do ano de 2002, com a implantação do curso superior de Tecnologia em Alimentos, que a Biblioteca CPEAS iniciou seu atendimento como biblioteca universitária (BRASIL, 2008; INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS, 2015).

Ao retratar a missão da biblioteca universitária, Cunha (2010) alega que, mesmo com o passar dos anos, além da complexidade organizacional e multiplicidade de funções, o propósito fundamental da biblioteca universitária permaneceu inalterado, que é fornecer acesso ao conhecimento.

Cunha e Cavalcanti (2008) definem a biblioteca universitária como

a que é mantida por uma instituição de ensino superior e que atende às necessidades de informação dos corpos docente, discente e administrativo, tanto para apoiar as atividades de ensino, quanto de pesquisa e extensão. Pode ser única biblioteca ou várias organizadas como sistema ou rede. (CUNHA; CAVALCANTI, 2008, p. 53)

Para que a biblioteca atuante no ensino superior atenda e cumpra suas funções, de acordo com Tarapanoff (1981, p. 16), é necessário que se atente para duas perspectivas, a interna e a externa. Na perspectiva externa, a biblioteca universitária ?deve ser vista como parte da sociedade [...]; preocupar-se com as funções e atividades da universidade [...]; preocupar-se com o indivíduo membro da população universitária [...]?.

Na perspectiva interna da biblioteca universitária, suas funções se relacionam a

planejar os serviços em relação aos objetivos de ensino-pesquisa-extensão da universidade; ver a biblioteca pertencente a um sistema que se apõe a uma biblioteca isolada; ver a biblioteca como pertencente ao sistema da universidade [...]; reestruturar as atividades da biblioteca em relação às atividades da universidade; aplicar in totum os princípios de centralização, coordenação e cooperação [...]; a biblioteca deve se integrar com os níveis hierárquicos da universidade [...]; os objetivos da biblioteca devem ser essencialmente dinâmicos [...]; os objetivos devem ser subdivididos em objetivos intermediários [...]; nenhuma biblioteca pode ser auto-suficente [...], devendo pois estabelecer objetivos de cooperação com outras bibliotecas[...]. (TARAPANOFF, 1981, p. 16)

Quanto aos objetivos das bibliotecas universitárias, Mangue (2007) aconselha que devem se concentrar em quatro elementos fundamentais para o desenvolvimento e evolução da biblioteca universitária: (a) formação e desenvolvimento do acervo (FDA), focado tanto nos cursos de graduação, quanto nos programas de pós-graduação, pesquisa e extensão; (b) promoção do acesso às coleções, para tornar acessíveis as fontes de informação existentes; (c) assistência e orientação ao usuário, com base nas necessidades reais da comunidade universitária, mediante estudos de perfil de usuários; (d) cooperação entre bibliotecas, para amplificar o potencial informativo através do intercâmbio entre instituições correlatas.

A relação entre a universidade e a biblioteca universitária é determinante para se entender o papel da biblioteca, observando que a biblioteca universitária é induzida pelo contexto social ? macroambiente ? e pela gestão da universidade. Sobre o contexto social, observa-se na atualidade a sociedade da informação, com seu ferramental tecnológico-digital para prover acesso à informação (PENA et al., 2013).

A preocupação com as questões tecnológicas e seu impacto nas bibliotecas universitárias é verificada ainda na década de 1970. Etelvina Lima (1977), em seu artigo ?A biblioteca no ensino superior? expõe que

Futurólogos e críticos avançados prevêem a morte do livro e das escolas como instrumentos de transmissão de conhecimentos; há, entretanto, os que defendem estas peças mestras de nossa civilização, prevendo, sim, mudanças para assimilação da tecnologia moderna de comunicação, mas, nunca, a sua eliminação. (LIMA, 1977, p. 849)

A incorporação do contexto atual da sociedade da informação refletidas no uso das tecnologias na biblioteca universitária é preocupação também de Cunha (2010), que levanta considerações a respeito da gestão do acervo focado na aquisição mediante demanda; da presença dos livros eletrônicos e o empréstimo de leitores de livros eletrônicos; da implantação da ciência eletrônica; do espaço físico da biblioteca; da prestação dos serviços bibliotecários presenciais e virtuais; da utilização do serviço de referência virtual; da implantação de repositórios eletrônicos com a produção científica da universidade; das inovações e tecnologias que impactam na biblioteca universitária; e, da cooperação bibliotecária.

Entretanto, há que se atentar quanto à adaptação das bibliotecas universitárias de países em desenvolvimento às TIC. A informatização de bibliotecas universitárias, tema da pesquisa de Mangue (2007), proporcionou a constatação de que a implantação da tecnologia não deve apenas priorizar a variável tecnológica, devem ser considerados os aspectos relativos à gestão do processo de informatização, à organização do trabalho e à qualificação da equipe da biblioteca, para que sua utilização não seja subutilizada, comparado ao seu potencial de utilidade.

Outro aspecto do contexto social em que as universidades de países em desenvolvimento e, consequentemente, as bibliotecas universitárias devem observar, é o papel que a universidade deve exercer para o desenvolvimento nacional, promovendo ?a universalização de direitos sociais básicos, a distribuição de renda, da riqueza, do poder e do conhecimento? (PAULA, 2006. p. 123).

Conforme apontam Pena et al. (2014), uma das contribuições da biblioteca universitária para o desenvolvimento se relaciona à capacidade de se tornar agente de transformação social ao promover o estímulo à leitura literária, além do aporte aos recursos informacionais de cunho técnico-científico.

Ações nesse sentido são verificadas na Biblioteca Central da Universidade Federal de Minas Gerais, através do Espaço Leitura, que tem o objetivo de propiciar um ambiente de leitura sem compromisso, para o lazer e para o prazer; no Sistema de Bibliotecas da Universidad Carlos III de Madrid, na Espanha, a ação de incentivo à leitura literária ocorre através de um clube de leitura, que promove a leitura e discussão de obras literárias com os alunos e, na Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique, o incentivo à leitura literária se realiza por meio do projeto denominado O Livro Esquecido, em que os livros são deixados em diversos pontos da cidade para os leitores (PENA et al., 2014).

A presença da temática ?desenvolvimento? está presente na conjuntura dos IF em sua essência, conquanto, em seus objetivos é enumerado o de ?estimular e apoiar processos educativos que levem à geração de trabalho e renda e à emancipação do cidadão na perspectiva do desenvolvimento socioeconômico local e regional?. O que, analogamente, propicia que as bibliotecas dos IFs se atentem para essa questão, tanto para prover recursos capazes de auxiliar na formação de indivíduos da comunidade e difundir o conhecimento tecnológico produzido pela própria instituição quanto para prover e incentivar a leitura literária (BRASIL, 2008).

A atuação como biblioteca escolar da Biblioteca CPEAS foi reafirmada com a transformação da instituição em IFMG. Conforme a lei 11.892 de 2008, os IF são vocacionados a ofertar 50% de suas vagas ao ensino médio, consequentemente, metade dos discentes é constituída por um público adolescente e que carece de uma biblioteca escolar (BRASIL, 2008).

Acerca da biblioteca escolar, considera-se importante mencionar o ?Manifesto da IFLA/UNESCO para biblioteca escolar?, que a define como aquela que

(...) propicia informação e ideias fundamentais para seu funcionamento bem sucedido na atual sociedade, baseada na informação e no conhecimento. A BE habilita os estudantes para a aprendizagem ao longo da vida e desenvolve a imaginação, preparando-os para viver como cidadãos responsáveis. (IFLA, 2000)

Com base no ?Manifesto da IFLA/UNESCO para biblioteca escolar?, Almeida (2005) defende no ?Fórum de debates sobre a biblioteca escolar brasileira...? que a biblioteca escolar é ?um espaço de informação, discussão de ideias (convivência) e criação (produção de novas ideias/novos conhecimentos), e não mais um depósito de livros e de silêncio? (ALMEIDA, 2005, p. 258).

Côrte e Bandeira (2011) afirmam que a missão da biblioteca escolar

[...] está intimamente ligada à da escola ? porta de entrada às novas experiências da leitura, mas sem esquecer o que ela é: um instrumento de apoio ao processo educacional. E à biblioteca que cabe o fazer nascer no aluno o interesse, germinar a curiosidade e fazê-lo voltar a outros livros. (CÔRTE; BANDEIRA, 2011, p. 9)

Sobre os objetivos da biblioteca escolar, Carvalho (1972) afirma que este deve facilitar o ensino, com material bibliográfico adequado para os usuários; desenvolver nos usuários o gosto e o hábito pela leitura, além de desenvolver nos usuários a capacidade de pesquisa, para o progresso na vida profissional e pessoal (CARVALHO, 1972).

Campello (2012) argumenta que, mesmo em países desenvolvidos, não há compreensão convincente do valor da biblioteca escolar na instituição, o que exige dos profissionais demonstrar cada vez mais a importância do papel da biblioteca escolar para garantir orçamento e manter o espaço do bibliotecário.

De forma semelhante, Durban Roca (2012) afirma ser necessário renovar a justificativa da existência da biblioteca escolar, explicitando o motivo e a funcionalidade da biblioteca escolar estar a serviço da educação no contexto atual da sociedade.

Campello (2012) aponta que o caminho é a justificativa com base na prática baseada em evidência, a qual é responsável por demonstrar exemplos de práticas de aprendizagem em bibliotecas escolares que obtiveram êxito, comprovado através de resultados obtidos em pesquisas científicas.

Durban Roca (2012) traça um caminho minucioso para justificar a importância da biblioteca escolar. Inicialmente a autora pondera que existem dois problemas que dificultam o seu desenvolvimento: o primeiro, refere-se ao uso irrefletido das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) nas escolas e, o segundo, relaciona-se ao distanciamento existente entre bibliotecários e a área pedagógica.

A linha tênue que proporciona esse distanciamento se relaciona à visão da área bibliotecária sobre a biblioteca escolar, ora focada na gestão dos recursos e elaboração de serviços, ora focada no pensamento da biblioteca escolar utilizada como recurso educacional a serviço da aprendizagem. A visão que Durban Roca (2012) defende é a última, como sendo a adequada para justificar a biblioteca escolar. A autora apresenta, ainda, conforme Quadro 1, duas dimensões que contribuem para a biblioteca escolar atuar como centro de recursos para a aprendizagem: a dimensão física e a dimensão educacional.

QUADRO 1
Biblioteca escolar como recurso educacional

Fonte: Durban Roca (2012).

Quanto à dimensão física, são apontadas ações de gestão e organização que busquem garantir uma estrutura organizada estável e um ambiente adequado para a aprendizagem e leitura: (a) desenvolver um plano de gestão e desenvolvimento do acervo; (b) desenvolver ferramentas para busca e recuperação que facilitem o acesso aos documentos da biblioteca; (c) informatizar os processos de empréstimo; (d) organizar e conservar os equipamentos em bom espaço; (e) promover o uso dos recursos e dos materiais através da divulgação; (f) estabelecer canais de comunicação para divulgação; (g) criar e desenvolver para a biblioteca uma página na web vinculada à página da instituição; (h) manter as portas da biblioteca abertas tanto no período letivo quanto nas férias; (i) estreitar o relacionamento com bibliotecas públicas e com instituições culturais adjacentes à escola (DURBAN ROCA, 2012).

Em relação à dimensão educacional são propostas ações de apoio ligadas à prática educacional que promovam a interdisciplinaridade, além de catalisar as demandas educacionais que carecem do uso dos recursos da biblioteca para a execução de trabalhos de pesquisa e atividades de leitura e escrita. Essas ações são classificadas como ações de apoio para toda a escola, segmentadas em dois tipos de ações: as de apoio a projetos específicos realizados na escola; de dinamização cultural para aproximar escola e sociedade; as de função social como espaço aberto para a comunidade educacional (DURBAN ROCA, 2012).

A outra classificação das ações se refere às de apoio ao trabalho de sala de aula. Essas ações envolvem práticas que visam desenvolver atividades de apoio às solicitações dos professores atinentes aos trabalhos de pesquisa, facilitar atividades de reforço escolar e desenvolver na biblioteca local de autoaprendizagem. Também devem ser previstas ações para apoiar a aprendizagem de habilidades para a pesquisa e obtenção de informação e ações para apoiar o desenvolvimento de atividades de leitura. Essa classificação traz elucidações quanto às contribuições da biblioteca escolar para atuar como recurso facilitador da aprendizagem (DURBAN ROCA, 2012).

O próprio nome da Biblioteca CPEAS, já indica que a biblioteca proporciona à comunidade do município atendimento. Porém, conforme consta no regulamento da biblioteca, esse atendimento se limita à consulta local da coleção e ao uso do espaço da biblioteca para estudos (INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS, 2009).

Para Cunha e Cavalcanti (2008, p. 48) a biblioteca comunitária é uma ?biblioteca pública que provê serviços de referência e de empréstimo, aconselhamento e outros serviços a uma comunidade específica?.

Conforme Machado (2009), o conceito de biblioteca comunitária, na literatura, apresenta dificuldades. A revisão de literatura apresentada pela autora indica que a biblioteca comunitária, no contexto brasileiro, é tratada como integração da biblioteca pública à biblioteca escolar; como biblioteca vinculada à iniciativa de populares para transformar a comunidade e como bibliotecas que emergiram de iniciativas do Terceiro Setor.

Na publicação Bibliotecas públicas municipais: orientações básicas, Cesarino (2007) levanta questões sobre a relação entre a biblioteca pública e a escolar e defende que a biblioteca pública não deve ser confundida com biblioteca escolar. Esta, em princípio, deve atender aos parâmetros curriculares e ter como público prioritário alunos e professores. Explicita-se que a biblioteca escolar, se aberta ao público, é denominada ?biblioteca escolar comunitária?, a qual

costuma atender a um público mais amplo ? vizinhos e familiares de alunos e professores ?, em horários alternativos e nos finais de semana. Seu acervo é, portanto maior e diversificado. Entretanto, continua pertencendo à categoria de biblioteca escolar. Unir a biblioteca pública com a escolar, transferindo a primeira para o prédio da escola, resulta, muitas vezes, em não fazer bem feito nem uma coisa nem outra (CESARINO, 2007, p. 55).

O conceito de ?biblioteca escolar comunitária?, conforme Cesarino (2007), parece ser o que melhor se aplica à realidade da Biblioteca CPEAS do IFMG, já que no regulamento que rege seu funcionamento, pode ser verificado que o atendimento à comunidade externa à instituição prevê especificamente os serviços de consulta local ao acervo e mantém como objetivo principal a atenção à comunidade interna (INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS, 2009).

3 Método

O presente artigo aborda resultados parciais de um estudo de caso sobre a Biblioteca CPEAS do IFMG, que se desenvolveu como pesquisa qualitativa e exploratória.

A coleta de dados ocorreu através de entrevistas semiestruturadas com o diretor geral do campus do IFMG, com o bibliotecário, com um representante da Prefeitura Municipal e com um representante da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER-MG), a qual possui uma unidade dentro do campus. Também foram coletados dados de coordenadores de cursos através de questionário, respondido por três dos dezoito coordenadores.

A técnica utilizada para análise dos dados coletados foi o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) que explicita o discurso individualizado, através de uma construção do discurso da coletividade. É ?uma estratégia metodológica que, utilizando uma estratégia discursiva, visa tornar mais clara uma dada representação social, bem como o conjunto das representações que conforma um dado imaginário? (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005, p. 19).

A construção do DSC considera quatro figuras metodológicas: expressões-chave; ideias centrais (IC); ancoragem e o próprio discurso do sujeito coletivo. As expressões-chave resultam da extração literal de trechos do discurso coletado que expressam a essência do conteúdo discursivo (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005).

A pesquisa seguiu os seguintes passos para a criação dos DSC: 1) extração das expressões-chave dos relatos; 2) identificação das Ideias Centrais. A partir organização daí foram, então, criados os Discursos do Sujeito Coletivo.

4 CEPEAS: uma biblioteca universitária e escolar comunitária

Quando se faz referência ao papel das bibliotecas dos IF, deve-se refletir sobre o papel dessas instituições na sociedade. Os IF são instituições que devem ofertar educação superior, básica e profissional; sendo assim, o público de suas bibliotecas apresenta correspondente diversificação. Independente do que consta, na literatura do campo, sobre a tipologia das bibliotecas, as dos IF são uma realidade peculiar. É o que mostra o presente estudo de caso.

De acordo com o que foi levantado na pesquisa, percebe-se que, na biblioteca, independentemente de qual seja o nível de curso ao qual o aluno se vincula, ele é sempre tratado com equidade. Isso porque os serviços oferecidos pela biblioteca não são focados exclusivamente em determinado nível educacional.

Não percebo que a biblioteca tenha foco em algum grupo de alunos, todos tem tratamento igual. (Entrevista)

Dessa forma, não se pode dizer que a biblioteca é mais universitária do que escolar ou vice-versa, e que sim, é dada atenção aos objetivos concernentes a ambos os tipos de biblioteca.

4.1 A Biblioteca CEPEAS como biblioteca escolar

Quando a biblioteca é percebida como sendo do tipo escolar, buscando ser entendida como um centro de recursos para aprendizagem, conforme propõe Durban Roca (2012), atender às dimensões física e educacional, demonstradas no Quadro 1, é o seu principal objetivo.

Quanto à dimensão física, no que tange aos aspectos relacionados à seleção coordenada de materiais informativos e literários e, ainda, à centralização dos recursos para assegurar o uso compartilhado do material percebe-se, no seguinte trecho do DSC, que a atuação da biblioteca busca atingir esse objetivo, mesmo não possuindo uma política institucionalizada de desenvolvimento das coleções.

DSC: [...] A política em si, não existe. Toda época de planejamento, bibliotecário e coordenadores de cursos entram em contato para alinhar os projetos pedagógicos com o que tem na biblioteca, então tentamos orientar para que na compra de acervos, preserve-se a intenção de compra do que têm na bibliografia básica e complementar, e só depois do que podem também precisar nas aulas. A compra é processada na biblioteca, mas conta muito com os professores e coordenadores, para estar alinhando junto ao plano de ensino [...]

A biblioteca, ao ser responsável por centralizar e controlar os processos referentes à seleção e aquisição dos materiais bibliográficos, favorece um processo mais equalizado para atendimento das diferentes áreas de atuação do campus, indistintamente. Além disso, a aquisição baseada nos projetos pedagógicos dos cursos indica o objetivo de a biblioteca realizar um esforço para facilitar o acesso a materiais diversos e de qualidade. Esse movimento pode ser percebido nos seguintes trechos de DSC:

DSC: A coleção atende parcialmente às necessidades dos cursos. Ainda faltam exemplares para algumas disciplinas, porque alguns são novos e (ainda) estão comprando. Não é o ideal, mas dentro do possível, os professores pedem, o bibliotecário relaciona e tentamos comprar. [...]

DSC: A coleção atende às necessidades dos cursos, ouvimos bastante do pessoal que o acervo é bom, que realmente funciona. É um acervo variado, (...) sempre estamos com aquisição de novas obras, que está muito bem atualizado. [...]

Mesmo apositivos, são discursos complementares, sob o ponto de vista de que a coleção é desenvolvida buscando atender aos diversos cursos oferecidos no campus. É, também, complementar e relacionada aos pontos fortes da biblioteca, a inferência de que a biblioteca possui uma coleção atualizada, conforme um dos entrevistados:

Os pontos fortes da biblioteca são sua infraestrutura, com espaço físico compatível com a demanda dos alunos; a coleção da biblioteca, que sempre é atualizada [...] (informação verbal)

Ainda relacionado ao conceito de Durban Roca (2012), exposto no Quadro I, sobre a dimensão física da biblioteca escolar, como parte da estrutura organizada estável, evidencia-se que a biblioteca escolar deva facilitar a existência de um lugar de encontro e de desenvolvimento de relações pessoais, além da criação de um contexto presencial de aprendizagem e leitura. Verificou-se que na pesquisa que

DSC: [...] O espaço físico é amplo, adequado e compatível com os usuários, com amplo acervo. A biblioteca tem conforto, é bem localizada, perto de refeitório, perto de ponto de ônibus e perto de salas de aula, eu vejo como algo positivo e adequado ao que a escola oferece, tornando a biblioteca agradável e fazendo com que as pessoas queiram ir pra lá [...]

Percebe-se, então, que a infraestrutura da Biblioteca CPEAS, com seu amplo espaço, acrescido de auditório e de um setor para exposições[3], fornece um ambiente favorável à aprendizagem, leitura e às ações culturais. Destaca-se também a localização estratégica da biblioteca no campus, que está próxima aos principais ambientes de passagem e de circulação.

Para Durban Roca (2012), a biblioteca escolar deveria favorecer o contexto para desenvolvimento de práticas de leitura e escrita, de habilidades intelectuais, a realização de trabalhos de pesquisa e uso da biblioteca como recurso educacional. Observa-se que estas propostas carecem, ainda, de uma maior atenção pela biblioteca estudada, mas não estão ausentes, conforme se depreende do DSC.

Efetivamente, a Biblioteca CPEAS possui a característica de favorecer o contexto presencial de aprendizagem ao dispor de um ambiente de leitura e ao disponibilizar instalações e acervo que são utilizados como recursos educacionais. Aliam-se a esse requisito as ações cooperativas entre biblioteca e outros setores do campus. Descreve o seguinte DSC que

DSC: a biblioteca trabalha com outros setores que promovem atividades. Um deles é a assistência estudantil, que promove bastante atividades para os alunos e sempre que pedem auxílio à biblioteca, como exposição de fotos, contação de histórias, alguma coisa assim, a biblioteca ajuda.

Ressalta-se a importância de a biblioteca não estar isolada e trabalhar juntamente com outros setores, porém, enquanto as ações ocorrerem por demanda, passivamente, a biblioteca se distancia de uma atuação referencial sobre o incentivo à leitura. Essas questões interferem quando se passa a perceber a biblioteca sob o ponto de vista da dimensão educacional da biblioteca escolar como recurso educacional, que deve agir como promotora de ações para criar processos de ensino-aprendizagem, para envolver as famílias no incentivo à leitura, conforme propõe Durban Roca (2012).

No entanto, percebe-se que a biblioteca atua de outras formas para promover a dimensão educacional da biblioteca. Cita-se as atividades cooperativas da biblioteca com os docentes, que no DSC, são identificadas como poucas, mas ocorrem.

DSC: As poucas vezes que ocorre cooperação entre biblioteca e professores é quando da entrega dos trabalhos de conclusão de curso na biblioteca. Antigamente ficava junto às coordenações. Depois eram entregues algumas impressas; então passaram a ser entregues em arquivo PDF, com autorização do aluno para se colocar no sistema da biblioteca. Há também alguns professores que, todo início de semestre, trazem alunos para fazer as visitas orientadas, mas não são todos, é a minoria, na verdade.

A dimensão educacional da biblioteca como recurso educacional, também pode ser percebida através do espaço Braille disponível na biblioteca, como ação promotora de atendimento às necessidades especiais e de compensação de desigualdades entre os alunos. O seguinte trecho do DSC complementa esse cuidado da biblioteca.

DSC: [...] O que pode acontecer é a diferenciação entre um usuário com uma capacitação menor de locomoção, ou de visão, coisas assim. Mas, como um todo, todos são tratados por igual.

Também em relação à dimensão educacional, percebendo a biblioteca escolar como agente pedagógico interdisciplinar, Durban Roca (2012) aborda que a biblioteca deve ter por objetivo apoiar o desenvolvimento do projeto curricular e educacional e a prática educacional em relação ao âmbito pedagógico e do conteúdo curricular. Também deve apoiar os cenários de aprendizagem por pesquisa e pelo desenvolvimento da prática de leitura e escrita, bem como apoiar os processos de melhoria do ensino.

A atuação da Biblioteca CPEAS como agente pedagógico interdisciplinar pode ser observada através de sua atuação no processo cooperativo com os docentes para a formação da coleção, sustentando o desenvolvimento do projeto curricular e também seu suporte na melhoria do ensino, como confirma o DSC sobre a relevância da biblioteca para a formação dos alunos.

DSC: [...] O uso da biblioteca estimula, principalmente, a pesquisa, ampliando os conhecimentos extraclasses, através do acesso ao material, em que o aluno queira adquirir novos conhecimentos ou aprofundar conhecimentos adquiridos. [...]

Acrescenta-se que nada mais interdisciplinar do que o próprio ambiente da Biblioteca CPEAS, que proporciona a convivência comum de experiências voltadas para diferentes modalidades de ensino, ou seja, da educação básica e educação superior, além de um acervo robusto e multidisciplinar à disposição de todos os usuários.

4.2 A Biblioteca CEPEAS como biblioteca universitária

Num sentido amplo, pode-se dizer que a biblioteca universitária tem alguns de seus objetivos muito próximos daqueles de uma biblioteca escolar. Ambas têm que estar atentas à dimensão física e à dimensão educacional. Por isso, muito do que foi dito acima, sobre a biblioteca escolar, aplica-se também à universitária.

Para caracterizar a atuação da Biblioteca CPEAS como biblioteca universitária, a pesquisa baseou-se no estudo de Mangue (2007). O autor indica que os objetivos da biblioteca universitária apoiam-se em quatro elementos básicos: (a) formação e desenvolvimento do acervo, focado tanto nos cursos de graduação, quanto nos programas pós-graduação, pesquisa e extensão; (b) promoção do acesso às coleções, para tornar acessíveis as fontes de informação existentes; (c) assistência e orientação ao usuário, com base nas necessidades reais da comunidade universitária, mediante estudos de perfil de usuários; (d) cooperação entre bibliotecas, para amplificar o potencial informativo através do intercâmbio entre instituições correlatas.

Sobre o elemento (a) formação e desenvolvimento das coleções, nos cursos oferecidos pelo campus do IFMG, foi demonstrado o empenho da biblioteca para atingir esse objetivo. Cita-se, a seguir, como ocorre tal processo:

DSC: [...] O coordenador de curso, com o núcleo estruturante docente, levanta todo material que precisam, bem como a quantidade de cada um deles, isso vai para a biblioteca para verificar o quê é que existe e o que não existe, o bibliotecário faz esse levantamento, informa, daí é feito uma licitação, compra e catalogação. Mas, todo o material da biblioteca, quem faz o pedido é a própria biblioteca.

Em relação aos elementos (b) promoção do acesso às coleções e (c) assistência e orientação aos usuários, ressalta-se sobre o estímulo da biblioteca para a utilização de seus recursos, conforme descreve o DSC:

DSC: [...] São realizados cursos e eventos em diferentes momentos durante o ano. São realizas campanhas focadas nas doações de exemplares e são realizadas visitas orientadas para explicar o funcionamento da biblioteca aos alunos, ensinando-os como consultar o acervo e como é a forma e o período de empréstimo. O incentivo também acontece quando os professores são avisados que os livros que pediram chegaram, então eles avisam aos alunos, para que possam usar/buscar os livros emprestados.

No entanto, percebeu-se que essa é uma das preocupações levantadas, junto aos dirigentes entrevistados, sobre os aspectos que a biblioteca pode melhorar.

DSC: Os serviços da biblioteca podem melhorar em relação ao treinamento de usuários. Os professores levam os alunos para que seja realizada a visita orientada em que a biblioteca e o sistema são mostrados, também são realizados treinamentos individuais nos computadores de consulta ao acervo e esses alunos saem com mais qualidade para buscar informações, mas, ainda falta mais público. [...]

Essa preocupação também pode ser verificada no planejamento estratégico da Rede de Bibliotecas do IFMG. Conforme aponta o Plano de Desenvolvimento Institucional IFMG 2014-2018, é uma das metas: ?fomentar o uso das bibliotecas e o uso dos acervos virtuais e físico através de ações de conscientização para a adoção de obras com acesso digital e do Portal de Periódicos da CAPES, de treinamentos para capacitar servidores e alunos para a utilização das bibliotecas e das coleções e de campanhas para incentivo à leitura? (INSTITUTO FEDERAL DE MINAS GERAIS, 2015).

Nas entrevistas, não foram identificadas informações sobre assistência e orientação aos usuários, nem estudos do perfil de usuários. No entanto, percebe-se que existe uma preocupação neste sentido. Ela fica evidenciada na procura dos próprios usuários por assistência e na procura dos docentes para que os alunos sejam guiados em uma visita orientada, referidos anteriormente em alguns DSCs.

Ainda baseado em Mangue (2007), sobre o elemento ?(d) cooperação entre bibliotecas, para amplificar o potencial informativo através do intercâmbio entre instituições correlatas?, verificou-se que esse é um ponto fraco na Biblioteca CPEAS. O potencial para a cooperação com instituições correlatas é verificado, especialmente, através do seguinte trecho do DSC, que menciona as relações do campus do IFMG com a EMATER, duas instituições que desenvolvem pesquisas no mesmo campo:

DSC: O campus não mantém relações estreitas com a Prefeitura, com a EMATER ou com outra instituição externa. As iniciativas ocorrem polarizadas, por professores ou pela biblioteca. [...] A EMATER diz não saber por que (o IF) não se interessou em renovar o convênio e uma empresa do estilo da EMATER, o potencial da parceria pode ser visto, o campus produz conhecimento que deve ser compartilhado e uma empresa de extensão rural, tem a contribuir com projetos, então o fato dela estar localizada dentro do campus, é muito estratégico, (...) a comunidade acadêmica só tem a ganhar [...]

Ainda que haja certa dificuldade em relação às práticas de cooperação, a atuação da Biblioteca CPEAS como biblioteca universitária pode ser percebida com facilidade. Outros aspectos que influenciam essa modalidade de atuação podem ser verificados no que tange às potencialidades da biblioteca na sua relação com o desenvolvimento da comunidade.

4.3 A Biblioteca CEPEAS como ?biblioteca escolar comunitária?

Sob a perspectiva de Cesarino (2008) e em atenção ao próprio nome da biblioteca, que a identifica como comunitária, dois fatores merecem ser mencionados sobre o envolvimento e a importância da Biblioteca CPEAS no atendimento à comunidade e sua contribuição para o desenvolvimento local. O primeiro refere-se ao fato de a biblioteca dispor de uma coleção especializada na área agropecuária, acessível à comunidade externa do IFMG e, o segundo, ao fato de a biblioteca possuir uma coleção de obras literárias e espaço para leitura disponível para a comunidade externa.

Embora não haja um convênio estabelecido com outras organizações ou grupos comunitários, a abertura da biblioteca para a sociedade, provendo acesso a informações especializadas, pode ser entendida como uma espécie de pacto social a favor do desenvolvimento e da democratização da informação.

A relação entre educação e acesso à cultura para o desenvolvimento é percebida por Sachs (2008), que indica que a educação faz parte das condições necessárias para a promoção do desenvolvimento em um país.

A educação é essencial para o desenvolvimento, pelo seu valor intrínseco, na medida em que contribui para o despertar cultural, a conscientização, a compreensão dos direitos humanos, aumentando a adaptabilidade e o sentido de autonomia, bem como a autoconfiança e auto-estima. É claro que tem também um valor instrumental com respeito à empregabilidade. (SACHS, 2008, p. 82, grifo nosso)

O destaque dado na citação para a expressão ?contribui para o despertar cultural?, vincula-se diretamente ao papel que a biblioteca possui ao se comportar como agente propulsor da cultura em uma instituição de ensino e que, em acréscimo, no caso da Biblioteca CPEAS, amplia esse acesso à cultura para a comunidade externa.

DSC: [...] Em nosso plano de gestão, existe foco no uso da biblioteca, prevendo essa integração, essa questão da cultura, sendo a biblioteca o ambiente e ferramenta que os alunos utilizam para complementar e aprimorar seus estudos. [...]

DSC: [...] A biblioteca possui uma boa coleção de literatura [...]

DSC: [...] Apesar de ser um atendimento restrito, a comunidade usa nossa biblioteca, eles podem consultar o acervo. Essa prestação de atendimento à comunidade é muito importante, pois nossa biblioteca tem um amplo espaço e um acervo muito diversificado, é uma fonte de pesquisa e é melhor do que a biblioteca pública da cidade. Além dos egressos, que buscam a informação na biblioteca, tem gente que vem aqui buscar informação para se preparar para concursos, estudar e ler [...]

Sendo assim, a pesquisa confirma a importância dada por Pena et al. (2014) à leitura literária, no âmbito da biblioteca universitária, para enriquecer o aprendizado e proporcionar aos alunos a oportunidade de uma formação cultural, evidenciando a contribuição da biblioteca para o desenvolvimento. No caso da Biblioteca CPEAS, as contribuições extrapolam o contexto acadêmico, garantindo oportunidades sociais de acesso à cultura para um público mais amplo, sob a perspectiva da abertura da biblioteca para a comunidade.

5 Considerações Finais

Face às questões da pesquisa, que indagavam sobre a existência concomitante de uma biblioteca universitária e escolar comunitária, em um mesmo espaço; além de questionar a efetividade do exercício desses papéis, os resultados apontados na pesquisa demonstram que sim, a Biblioteca CPEAS é escolar e universitária e, mesmo que de forma restrita, é portadora de elementos de ?biblioteca escolar comunitária?.

A condição de atender distintos públicos não é uma escolha das bibliotecas dos IF. É uma condição que se relaciona ao ambiente em que essas bibliotecas estão inseridas e a Biblioteca CPEAS é um exemplo de que essa convivência pode ser bem sucedida, de forma que os benefícios se relacionem diretamente aos usuários. O usuário da biblioteca escolar se beneficia das condições que são favoráveis à pesquisa no âmbito da biblioteca universitária; em contrapartida, a formação cultural promovida pelo acesso a obras literárias da biblioteca escolar, aos alunos dos cursos superiores, revela-se proeminentemente importante para o desenvolvimento, conforme aponta Pena et al. (2014).

A atuação da Biblioteca CPEAS tem por objetivo principal atender aos parâmetros curriculares do IFMG. A pesquisa corrobora o conceito de Cesarino (2007), ao demonstrar que, apesar do nome, ela não é efetivamente uma biblioteca comunitária, que desenvolva serviços para esses usuários. Entretanto, a abertura da biblioteca para a comunidade externa, tornando acessível toda a coleção técnica e literária e também o espaço para estudo e leitura, exprime sua condição de agente social que democratiza o acesso à informação, promovendo para o município fatores favoráveis para o desenvolvimento, ao contribuir para o ?despertar cultural? dos indivíduos (SACHS, 2008).

Problemas foram diagnosticados sobre a atuação da biblioteca estudada, mas estes não podem ser atribuídos à multiplicidade de papéis desenvolvidos pela Biblioteca CPEAS. Percebe-se que um dos principais fatores que prejudicam o desenvolvimento da biblioteca é o fato de ali se trabalhar com um quantitativo mínimo de bibliotecários, ou seja, com apenas um.

Espera-se que esse estudo de caso, possa ampliar os horizontes de profissionais bibliotecários que passam por situação semelhante, ao serem responsáveis por bibliotecas com características tão peculiares; que sofreram os impactos pelas diferentes transformações ao longo da história da educação profissional federal, ocasionados pelas diferentes legislações que constituíram essas instituições.

Espera-se, também, que a discussão sobre a experiência da Biblioteca CPEAS venha contribuir para despertar a atenção e o olhar acadêmico para as bibliotecas dos IF. Elas são uma realidade, são numerosas e distribuídas por todo o território nacional. Têm, portanto, um forte potencial de impacto sobre o cenário da formação técnico-profissional brasileira. Sugere-se que novas pesquisas sejam realizadas e que se discuta sobre as melhores formas de se desenvolver essas bibliotecas em benefício do conjunto de seus usuários. E da sociedade como um todo.

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Notas

[1] Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, Brasil. Professora do Departamento de Teoria e Gestão da Informação da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais, Brasil. E-mail: helenacrivellari@gmail.com
[2] Mestranda em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Bibliotecária do IFMG Campus Ribeirão das Neves. E-mail: linesima@gmail.com Enviado em: 08/09/2015 - Aceito em: 11/11/2015
[3] Informação levantada por observação in loco.

Autor notes

* Doutora em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, Brasil. Professora do Departamento de Teoria e Gestão da Informação da Escola de Ciência da Informação da Universidade Federal de Minas Gerais
Mestranda em Ciência da Informação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Bibliotecária do IFMG Campus Ribeirão das Neves.


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