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A cidade-lar e o lar-cidade: conexões entre público e privado no uso de videoconferência para eventos artísticos, reuniões de trabalho e aniversários
Revista TOMO, núm. 38, 2021
Universidade Federal de Sergipe

Dossiê: Cidade, Mídias, Memória e Cotidiano em Tempos de Pandemia

Revista TOMO
Universidade Federal de Sergipe, Brasil
ISSN-e: 1517-4549
Periodicidade: Semestral
núm. 38, 2021

Recepção: 01 Outubro 2020

Aprovação: 30 Novembro 2020

Resumo: Em 2020, durante o isolamento social de combate à Covid-19, o ambiente doméstico despontou como uma extensão da cidade por meio das materialidades das tecnologias de comunicação e informação, numa intensificação da confusão entre público e privado que vem sendo consolidada na contemporaneidade. As reuniões remotas amplificaram um processo de exposição da intimidade que já vem se consolidando com as redes sociais desde o início dos anos 2000. Com base nisso, este artigo analisa de que modo grupos de pessoas têm utilizado ferramentas de videoconferência em substituição aos encontros realizados antes da quarentena na cidade de Fortaleza, capital que, em março de 2020, chegou a ser a mais afetada do Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Como recorte, analisamos o uso de três ambientes virtuais (1. lives de apresentações de artistas; 2. reuniões remotas de trabalho; 3. e comemorações virtuais de aniversário) com base em dois procedimentos principais: a) observação participante feita pelo pesquisador; b) e entrevista semiaberta com cinco moradores de Fortaleza. Os eventos analisados foram realizados por meio de plataformas como YouTube e Instagram (no caso das lives de artistas) e por meio de plataformas de reuniões virtuais, a exemplo de Jitsi, Zoom e Skype.

Palavras-chave: TICs, Interações virtuais, Pandemia, Espaços urbanos, Encontros virtuais.

Abstract: In 2020, during the social isolation to combat Covid-19, the domestic en- vironment emerged as an extension of the city through the materialities of communication and information technologies, in an intensification of the confusion between public and private that has been consolidated in contemporary times. The remote meetings amplified a process of exposing in- timacy that has been consolidated with social medias since the early 2000s. Therefore thus, this paper analyses how people have used videoconference tools substituting urban encounters occurred before the quarantine in Fortaleza, capital of Ceará, city that had been, in March 2020, the most affected one in Brazil, according to the Brazilian Department of Health. We analyzed the usage of three virtual spaces (1. lives of artistical performances; 2. remote professional meetings; 3. and virtual birthdays’ celebrations) based on two main procedures: a) participant observation made by the researcher; b) and semi-structured interview done with five inhabitants from Fortaleza. The analysed events took place on YouTube and Instagram (specifically about lives of artistical performances) and on platforms of virtual meetings, such as Jitsi, Zoom and Skype.

Keywords: Urban environments, Virtual spaces, ICT, Virtual interactions, Pandemic.

Resumen: En 2020, durante el aislamiento social para combatir la Covid-19, el espacio doméstico emergió como una extensión de la ciudad a través Robson da Silva Braga de las materialidades de las tecnologías de la comunicación e información, en una intensificación de la confusión entre lo público y lo privado que se ha consolidado en la época contemporánea. Los encuentros remotos amplificaron un proceso de exponer la intimidad que se ha ido consolidando con las redes sociales desde principios de la década de 2000. Con base en esto, este artículo analiza cómo grupos de personas han utilizado herramientas de videoconferencia para sustituir reuniones celebradas en la ciudad de Fortaleza, capital de Ceará. En marzo de 2020, esta ciudad se convirtió en la más afectada de Brasil, según datos del Ministerio de la Salud. Analizamos el uso de tres espacios virtuales (1. presentaciones de artistas en lives; 2. reuniones de trabajo a distan- cia; 3. y celebraciones virtuales de cumpleaños) en base a los siguien- tes procedimientos: a) observación participante realizada por el investigador; b) y entrevista semiabierta con cinco residentes de Fortaleza. Los hechos analizados se llevaron a cabo a través de plataformas como YouTube e Instagram (en el caso de lives hechas por artistas) y a través de plataformas virtuales, como Jitsi, Zoom y Skype.

Palabras clave: Espacios urbanos, Reuniones virtuales, TIC, Interacciones virtuales, Pandemia.

1. Introdução

“Calma. Quando tudo isso passar, vamos poder estar juntos”. Dita quase como um mantra durante toda a quarentena de combate à propagação do coronavírus1 no Brasil, em 2020, a frase aponta para uma definição cristalizada em nossa sociedade sobre o que seria “estar juntos”. Em tal definição, o espaço da cidade se de- senha em nossas mentes. Um lugar onde o encontro seria “efetivo”, “não mediado”, “verdadeiro”, parte de nossa “essência” como seres humanos que trocam energia corpórea. Afinal, seríamos todos nós pequenas partes de um todo social.

“Imagens mentais” feito essas se confundem com a própria ideia de cidade, como aponta Olivier Mongin (2009). Ao longo do período de isolamento social de combate à Covid-19, imagens acerca do espaço urbano despontaram nos discursos midiáticos, nas redes sociais e em nossas mentes. Em meio a uma espécie de “saudosismo” acerca do espaço urbano, tido como temporariamente proibido ou inalcançável (tão perto, tão distante), o ambiente virtual foi se firmando como o local da “sociabilidade possível”, capaz de minimizar os grandes impactos econômicos e sociais causados pela crise sanitária que atingiu o Brasil em março de 2020 (Aguiar, 2020; Lourenço & Chiquetto, 2020; Bezerra & Cunha Jr., 2020).

Contudo, a “imagem mental da cidade”, ou seja, “a referência simbólica a um espaço urbano determinado, o sentimento de pertencimento a um tópos, se mantém e persiste mesmo no caso em que a cidade se desfaz, explode”, como considera Mongin (2009, p. 52).

Para se firmar como alternativa às imagens sobre o que seria efetivamente o espaço urbano, empresas e usuários da rede mundial de computadores tiveram de reformular antigas e criar novas ferramentas tecnológicas utilizadas para a interação cotidiana (G1, 2020; G1, 2020a; Bond, 2020).

Do mundo dos negócios às atividades de entretenimento, tudo ou quase tudo precisou ser adaptado para aquilo que passaria a ser definido como “o novo normal”. Diversos memes replicados em mídias digitais a exemplo do Instagram fizeram referências

às nossas interações com o espaço urbano. Nos veículos tradicionais de comunicação e nas redes sociais também são constantes os discursos sobre uma questionável substituição do “mundo material” pelo “mundo virtual”, noção esta que desconsidera as materialidades (Lemos, 2010) das ferramentas tecnológicas, dos hardwares aos softwares, passando pelas próprias relações em si.

Ainda que parte das relações que estabelecemos no espaço urbano se deem face a face, sem mediações tecnológicas, destacam-se em nossas interações no/com o espaço urbano a mediação do corpo (Bernard, 1995) e as mediações socioculturais (Martín-Barbero, 1997), que nos atravessam e acabam por conformar nossas experiências de cidade (Mongin, 2009). Neste sentido, assim como computadores e seus programas, nossos corpos e o espaço da cidade também são mediações que não são substituídas quando adicionamos novos ingredientes tecnológicos à comunicação entre as pessoas.

Com os usos das novas tecnologias de comunicação e informação no espaço urbano, “uma nova modalidade de representação se instaura, supondo outro espaço-tempo social (imaterialmente ancorado na velocidade do fluxo eletrônico e digital), e, por certo, um novo regime de visibilidade pública, na qual a lógica espetacular se amplia” (Rezende & Bredan, 2015, p. 23).

Com base nisso, este artigo analisa de que modo grupos de pessoas têm utilizado ferramentas de videoconferência em substituição aos encontros realizados antes da quarentena na cidade de Fortaleza2, capital que, em março de 2020, chegou a ser a mais afetada do Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde. Como recorte, analisamos o uso de três ambientes virtuais: 1) lives de apresentações de artistas; 2) reuniões remotas de trabalho; 3) e comemorações virtuais de aniversário. Adoto, para isso, dois procedimentos metodológicos principais: a) observação participante nos três ambientes investigados; b) e entrevista semiaberta com cinco moradores de Fortaleza.

2. O lar como extensão da cidade mediada tecnologicamente

As tecnologias de comunicação e informação utilizadas por um grupo familiar para acessar outro núcleo familiar sem sair de seus respectivos lares podem ser compreendidas como uma extensão das ruas, por meio das quais transitam não só nossos corpos, mas as informações que carregamos conosco no transitar de um ponto a outro. A tecnologia de comunicação e informação seria, neste sentido, a rede que nos conecta na cidade e com a cidade, como destaca Dornelles (2004).

Dito de outro modo, a tecnologia teria substituído a rua temporariamente, durante o período de isolamento social, sendo utilizada para conectar indivíduos ou grupos sociais. Tal substituição (da rua pela tecnologia de informação), contudo, só seria completa se o isolamento social tivesse sido completo, o que não foi o caso. E, para momentos normais (sem quarentena), o que temos não é uma substituição, mas um modo complementar de fazer nossos corpos e nossos conteúdos circularem de um ponto a outro da cidade. Sim, nossos corpos também. Afinal, eles também são acessados (mesmo que virtualmente) por meio de câ- meras, microfones, imagens fixas, etc.

Ao definir a internet como “incorporada”, “corporificada” e “cotidiana”, Christine Hine (2016) destaca as relações intrínsecas das nossas práticas virtuais com as atividades que vão muito além do ambiente digital, espraiando-se, por exemplo, pelo território da cidade e em todas as nossas práticas urbanas.

Para a autora (2016, p. 16), diferentemente do ciberespaço dos anos 1990, os dados derivados do ambiente virtual hoje são “incorporados” ao cotidiano das pessoas, sem que haja uma apartação precisa entre o que seria “online” e “offline”. Tais práticas virtuais se materializam em nossos corpos, “corporificando” emoções e sensações tal qual qualquer outra prática urbana, por exemplo. Por fim, a autora define a internet como “cotidiana”, sendo naturalizada como qualquer outra prática do dia a dia.

Com isso, pretendo destacar não ser possível apartar as práticas digitais da “condição urbana”, definida por Olivier Mongin (2009, p. 29) como “um tipo de experiência da qual a cidade é [...] a condição de possibilidade”. A cidade seria, na definição do autor, um misto de mental e físico, uma vez que ela se materializa em estruturas urbanas, mas também é composta a partir das imaginações que depositamos sobre elas. Estruturas físicas ajudam a conformar imaginários urbanos e vice-versa.

Mongin (2009, p. 39) destaca, ainda, o caráter multidimensional da cidade, responsável por associar as esferas pública e privada, promovendo uma “experiência em espiral, circular e sempre retroativa”. “A família e o habitar não têm sentido senão na abertura que oferecem, graças aos limiares e às linhas fronteiriças que os delineiam e tornam possível que haja relações fora”.

Por fim, não seria possível pensar na relação concreta que existe entre o lar (privado) e o espaço urbano (público) sem pensar sobre a materialidade das tecnologias utilizadas para fazer a ponte entre o primeiro e o segundo. A partir das reflexões teóricas apresentadas por Hans Gumbrecht na década de 1990, André Lemos (2010) reforça a importância de toda forma de comunicação ser analisada sem desconsiderar seus aspectos materiais, responsáveis por alterar o modo como o sujeito social se coloca em conexão com a rede.

Nesse sentido, poderíamos pensar tais redes como uma combinação das materialidades tecnológicas e das materialidades do território urbano, compondo o complexo ambiente urbano-virtual por meio do qual os sujeitos compõem, juntos, uma rede social.

3. Procedimentos metodológicos

Para esta pesquisa, adotei três procedimentos metodológicos principais: a) observação participante feita nos três ambientes virtuais selecionados3 (Hine, 2016), a fim de identificar algumas das características dos três espaços; b) entrevista semiaberta4 (Duarte, 2015) com cinco moradores de Fortaleza; c) e pesquisa documental sobre o cenário geral de pandemia em Fortaleza, no Brasil e no mundo.

Inicialmente, eu não havia previsto entrevistas, limitando-me à observação participante de eventos nas três plataformas selecionadas. Eu estava partindo da percepção de que os sujeitos já me apareceriam nos rastros de interação deixados por eles nos três ambientes. Percebi, contudo, que seria delicado, em termos éticos, utilizar-me dos dados coletados em relação, principal- mente, aos aniversários virtuais e às reuniões remotas, uma vez que dificilmente eu conseguiria autorização para utilizar minhas observações como dados de pesquisa, mesmo garantindo o anonimato das pessoas observadas e a omissão de informações de caráter íntimo ou confidencial.

Por conta disso, decidi incluir a entrevista semiaberta como modo de compreender, qualitativamente, como um pequeno grupo de pessoas percebiam as práticas urbano-virtuais que estavam experimentando durante a quarentena por meio dos três ambientes virtuais acessados. Surgia, agora, um novo desafio: a) encontrar pessoas durante o isolamento social dispostas a responder a pesquisa; b) e realizar entrevista mediada tecnologicamente, sem o contato face a face.

Para encontrar respondentes, foi utilizado o método da bola de neve5: foi pedido para que pessoas próximas ao pesquisador indicasse um amigo para falar com o investigador por meio de áudios de WhatsApp sobre suas experiências com os três ambientes virtuais durante a quarentena. Cheguei aos seguintes entrevistados: 1) João6, 63 anos, engenheiro civil; 2) Carla, 37 anos, funcionária pública; 3) Fábio, 35 anos, advogado; 4) Maria, 33 anos, professora universitária; 5) Pedro, 34 anos, profissional autônomo. Todos eles moram em Fortaleza e experimentaram, em níveis diferentes, os três ambientes virtuais investigados aqui.

A partir do perfil simplificado de cada um dos entrevistados é possível identificar que os respondentes se limitaram a um estrato socioeconômico médio de nossa sociedade. Além disto, quase todos eles são de uma mesma faixa etária. Os resultados da pesquisa, portanto, precisam levar em consideração essa limitação do perfil dos entrevistados, especialmente pelo fato de todos possuírem acesso muito facilitados às tecnologias, além de alto domínio de tais ferramentas.

Entre os softwares de reuniões virtuais mais utilizados, ao menos no mundo ocidental, destacam-se Skype, Zoom, Google Meet, GoToMeeting, Slack, Zoho Meeting, Microsoft Team e Jitsi Meet. Na soma das principais funcionalidades de todos eles, destaco as seguintes: o compartilhamento da tela de um dos usuários; compartilhamento de fotos, vídeos e documentos; escolha e troca do administrador da reunião; edição colaborativa de arquivos durante a reunião; bate-papo (chat); gravação da reunião na nu- vem; e vinculação com outras plataformas que podem transmitir o conteúdo audiovisual ao mesmo tempo ou gravado, a exemplo de lives do Instagram e do YouTube7.

Ao menos nos Estados Unidos e no Brasil, o Zoom tem sido uma das ferramentas mais utilizadas em reuniões de trabalho, aulas do ensino básico ao ensino superior, eventos culturais, entre outras atividades. O software está disponível nas versões gratuitas e pagas e, sendo utilizado, segundo seu site oficial8, por mais de 17 mil instituições educacionais de todo o mundo para aulas remotas ou híbridas.

4. Conexão da massa urbana por meio da live

Da varanda de um luxuoso duplex, no alto de um edifício residencial no bairro Cidade Monções, zona sul de São Paulo, potentes canhões de luz iluminam parte da capital paulista, num espetáculo que combina luz, fogos de artifício e som ultrapotente. Todas as ferramentas são controladas de uma mesa repleta de botões, definida carinhosamente como “nave espacial” por seu controlador: o DJ Alok.

É com enorme alegria que eu abro a minha casa pra receber todos vocês nessa live tão especial. Eu peço licença, também, para entrar na casa de vocês nesse momento [...] Queria deixar claro pra vocês que eu não sou cantor, também não tenho uma banda, mas uma aliada que eu sempre tive muito forte na minha profissão é a tecnologia. E ela hoje, mais do que nunca, tá aqui presente nessa nossa live. Sabe esses fogos que vocês viram, o laser, a iluminação? Tá tudo sendo controlado aqui, pela minha nave espacial. Então, assim que eu aciono, tá tudo sendo gerido e sincroniza- do ao mesmo tempo. Esses efeitos que vocês viram aqui na minha sala, o sinal vem de São Paulo, vai pro Rio de Janeiro e chega na casa de vocês (Alok na abertura da live realizada em 02/05/20).


Figura 1
Luzes partem do apartamento de Alok
https://www.instagram.com/alok/?hl=pt-br

Transmitida ao vivo em 2 de maio de 2020 pela Rede Globo e pelo Multishow (ambos canais da rede GloboSat) e por canais no YouTube, a live já possuía, em agosto desse ano, mais de 14 milhões de visualizações somente pelo canal do Multishow no YouTube9. No momento da transmissão ao vivo, uma câmera-drone mostrava os vizinhos se divertindo em suas varandas. Nas ruas ao redor, centenas de fãs do DJ circulavam de carro. E, de Fortaleza, João, um engenheiro civil de 63 anos de idade, assistia empolgado à live por meio do YouTube.

Extremamente empolgado com o evento, João ligou para a filha, convidando-a para assistir ao show, o pai numa cidade, a filha em outra. Ela ficou sem crer na empolgação do pai com um espetáculo de música eletrônica. Mas ele argumentou que o que lhe despertava aquelas boas sensações era a conexão do Alok com a cidade por meio do show de luzes e pelas imagens do drone que filmava os prédios ao redor. Portador de intensa energia vital, João diz sentir falta, nesse momento de quarentena, de estar em contato com a rua, o que parece ter sido suprido, em algum nível e de modo efêmero, pelo jogo de luzes, fogos e sons sobre a cidade de São Paulo. Para João, a live do Alok conseguiu algo até “mais grandioso” do que um show tradicional: a conexão com o espaço urbano.

Taí, eu achei [a live do Alok] muito bem produzida. Achei [interessante] a proposta dele de interagir com a cidade, de botar aqueles canhões de luz pra cidade toda ver que ele tava fazendo aquilo. Ficou uma coisa diferente de um show: ele se comunicou com a cidade. Num show, ele não se comunicaria com a cidade, se comunicaria com o público. Pra mim, em termos tecnológicos, foi a live mais fantástica que eu achei, porque foi um diferencial em relação ao show. Mesmo não estando em São Paulo, eu me senti interagindo, conseguiu trazer essa energia (entrevista com João, engenheiro civil, 63 anos, em julho de 2020).

A fala de João sobre a “interação com a cidade” aponta para a “cidade do transeunte”, como define Mongin (2009, p. 63), “aquela onde se transita, traduz um desejo de exteriorização que se exprime por uma libertação, uma saída de si, uma saída de casa”. Ao refletir sobre a “cidade virtual”, o autor (2009) destaca a explosão do quadro espaço-temporal provocado pela inserção das novas tecnologias de comunicação e informação no espaço urbano. “Os lugares não desaparecem, mas sua lógica e sua significação são absorvidas pela rede. A infraestrutura tecnológica que constitui a rede determina o novo espaço precisamente como as ferrovias definem as regiões econômicas na economia industrial” (2009, p. 234).

Destacada na mídia nacional e nas redes sociais virtuais por sua inusitada conexão com o espaço urbano, a live de Alok parece ter mobilizado sentimentos do público em relação ao estar na cidade, contato este que foi forçadamente limitado pelo isolamento social de combate ao coronavírus. Memórias e prazeres sobre o circular pela urbe parecem ter sido mobilizados, sugerindo uma espécie de saudosismo em relação ao tão perto e tão distante espaço urbano.

Lives como a do DJ Alok, no entanto, aparecem como um ponto fora da curva entre os demais shows virtuais realizados no Brasil durante a quarentena. Definidas pelos entrevistados como “mal necessário”, “é o que temos pra hoje” ou “um passatempo importante na quarentena”, as transmissões ao vivo não aparecem nos discursos como equiparáveis aos shows tradicionais realizados em casas de shows, com público massivo.

“[A live] é uma alternativa para os artistas, de monetização durante a quarentena”, avalia Pedro. “Não dá vibração, não tem a energia de um ambiente de show, a própria preparação pra ir pro show. [A live é] boa, mas parecida com a música que eu boto no YouTube. Podendo ir prum show, jamais vou optar por uma live”, reforça João. “Não se compara ao show, que é calor humano, todo mundo cantando junto a mesma música, são gotículas espalhadas, enfim… A troca com o artista não se compara, é algo imbatível”, define Carla de modo enfático.

5. Performances de “intimidade” nas reuniões remotas de trabalho

Numa reunião via Zoom com 30 pessoas a gente pode es- colher qualquer dos quadradinhos e ficar ali examinando o infeliz, reparando em suas orelhas, seus óculos, suas ex- pressões. (Faça isso presencialmente e você vai soar como tarado ou serial killer. Ou serial killer tarado.) Antonio Prata. Zoom. Folha de S. Paulo10.

Quando imaginaríamos poder acessar, com tanta frequência, o lar de nossos colegas de trabalho, mesmo daqueles com quem temos quase nenhum contato ou afinidade? Desde o início da quarentena de combate à Covid-19, essa tem sido a realidade de parte considerável dos trabalhadores de todo o mundo.

Destacada por Antonio Prata em sua coluna na Folha de S. Paulo, tal reflexão aponta para um paradoxo que caracteriza a reunião virtual de trabalho: por um lado, a ausência do contato corpóreo, não mediado tecnologicamente; e, por outro, o imaginário sobre estarmos na casa de cada um, atentando para cada detalhe capturado pela webcam.

Nesse sentido, se considerarmos que a residência de cada um de nós compõe o território urbano, podemos, em alguma medida, pensarmos nos encontros virtuais como uma extensão do nosso acesso ao espaço da cidade. Quando se disseminaram ferramentas como Google Earth11, Google Maps12 e Google Street View13, a realidade virtual proporcionada por tais softwares ajudou a alterar sensivelmente a percepção sobre “estar na cidade”. Muitas vezes ignorada pelo senso comum, as materialidades das tecnologias (Lemos, 2010) acabam por dialogar com as materialidades do espaço urbano, ressignificando territórios urbanos, que se estendem das ruas e demais espaços públicos a espaços acessíveis virtualmente, a exemplo de ambientes privados expostos cotidianamente especialmente por meio de redes sociais e, mais recentemente, por meio das reuniões de trabalho e de outras práticas estimuladas pela quarentena.

Há algum tempo, o ambiente residencial tem sido exposto à esfera pública, especialmente por meio das redes sociais, numa desejada confusão entre público e privado (Sibilia, 2016). Com as lives, o espaço doméstico passa a ser exposto exacerbadamente, resultando em grande preocupação sobre como exibir a intimidade.

Tidos em geral como “intelectuais”, os jornalistas talvez tenham sido os precursores de um cenário doméstico culto, em que se destacam estantes de volumosos livros. Com a propagação de tais imagens, piadas sobre a “encenação de intelectualidade” tomaram conta das redes sociais.


Figura 2
Meme simula venda de estante falsa, de papelão, usada como cenário para reuniões virtuais
Em: https://brasil.elpais.com/icon_design/2020-05-03/a-historia-do-meme-que-se-tor- nou-realidade-ao-virar-o-produto-mais-absurdo-da-amazon.html (acesso em 12 jul. 2020).

Carla demonstra, em sua fala, um encantamento que soa quase irônico em relação às bibliotecas particulares exibidas por seus colegas nas reuniões virtuais e por jornalistas ao entrarem ao vivo nos telejornais a partir de suas casas.

O ambiente dos meus colegas são “topzera”. Eu acho importante fazer a reunião num ambiente minimamente organizado, porque estamos falando de trabalho. Ali é a sua imagem como profissional. Eu tenho cuidado também, apesar de achar que moro num lugar muito colorido e estou organizando um ambiente minimalista. A minha preferência são pelos ambientes que mostram livros. A Cristiana Lobo e a Miriam Leitão [ambas jornalistas da Rede Globo] gravam de suas bibliotecas particulares e é incrível (entrevista com Carla, 37 anos, funcionária pública, em julho de 2020).

Não é possível afirmar que sua demonstração de admiração pela “encenação de intelectualidade” é sincera ou se seria uma forma de fazer chacota com tal postura, visto que ela mesma não adota um cenário doméstico com livros em suas reuniões de trabalho. Fábio, por sua vez, critica de modo explícito os colegas que se utilizam de tal encenação de intelectualidade:

Todas as pessoas que eu conheço que participaram de reuniões, absolutamente todas, tiveram a preocupação com o ambiente, com a cenografia e, sobretudo, todas com bibliotecas. Ninguém colocou outra coisa que não livros, livros, livros. Já querendo ir numa contramão disso, eu tenho uma biblioteca considerável, mas, como era uma coisa que eu não precisava mostrar, eu tive a preocupação de estar num ambiente limpo. Às vezes, meu fundo era uma parede com uma iluminação boa, a parede limpa, sem nada, no máximo com um quadro atrás (entrevista com Fábio, 35, advogado, em julho de 2020).

Ao analisar as interações cotidianas face a face, Erving Goffman (2009) destaca que o indivíduo busca gerenciar a impressão que seus interagentes terão dele. Em tal jogo de cena, o ator social evidencia o que considera apropriado à sua imagem pública e omite aquilo que não valoriza a impressão que terão sobre ele. “Estes fatos podem envolver segredos escusos bem guardados ou características negativas, que todo mundo vê, mas às quais ninguém se refere” (Goffman, 2009, p. 192).

Em relação à efetividade do teletrabalho, as diferenças de percepção parecem ter relação com o tipo de trabalho desempenhado. Trabalhos mais burocráticos pouco atravessados pela subjetividade das interações face a face foram descritos como atividades que obtiveram ganhos ao incorporar o trabalho remoto. O governo brasileiro, por exemplo, anunciou, em 30 de julho de 2020, a incorporação do teletrabalho ao serviço público federal15.

Eu me adaptei completamente [ao teletrabalho], é um divisor de águas na minha vida profissional. Eu já tinha um contato mínimo com a minha chefe. Com as reuniões virtuais, ficou quase zero. A relação de trabalho mudou, tá mais distante, e eu prefiro assim, com essa distância. Eu percebi que, no começo, essas reuniões [virtuais] eram longas, acho que pela falta de prática, e acho que elas foram ficando mais objetivas e mais efetivas, produtivas (entrevista com Carla, 37 anos, servidora pública, em julho de 2020).

Há muitos impasses, contudo, em relação a trabalhos que de- pendem de documentos impressos, de assinaturas constante de papéis e da própria estrutura dos ambientes profissionais.

Primeiro, eu me atrapalhei todo. [A ferramenta de reunião] não dava certo, eu não conseguia interagir, eu tive um problema do Gmail, enfim, não dava certo. Mas, assim, eu participei todo porque a minha função no meu trabalho é muito física, porque eu trabalho com alteração de projetos, então eu tinha que ter acesso a documentos físicos, com assinatura [...]. Mas eu interagi demais [por telefone e pelo WhatsApp] com os colegas e com os clientes. Mas tinha muita interação [com os clientes] por visita, coisa que pelo WhatsApp não dá. A eficiência do trabalho diminui muito. Pode até ser uma coisa 1ue vai dar certo se virar uma rotina e se quebrar várias das burocracias (entrevista com João, engenheiro civil, 62 anos, entrevistado em julho de 2020).

Em relação à educação a distância, a percepção de professores sobre o teletrabalho costuma levantar maiores controvérsias. Entre outras formas de interação humana, a educação formal costuma demandar contato mais direto entre educador e educando, do ensino básico ao superior. Talvez, por isso, parte considerável das universidades públicas brasileiras tenham rejeitado a retomada virtual das atividades letivas. Já parte considerável das faculdades particulares se adequaram ao ensino remoto, comprando pacotes de ferramentas de ensino virtual, a exemplo do Zoom.

Eu não gostei da experiência de dar aula assíncrona. O aplicativo é muito bom, na verdade. O aplicativo tinha todas as ferramentas: ele tinha uma lousa, eu podia gravar, eu podia não gravar, eu podia colocar todos os alunos no mute, solicitar câmera, gravar o chat, gravava a frequência… Então, as- sim, o aplicativo era, na verdade, muito bom, a gente usou o Zoom, mas eu tive uma dificuldade muito grande em relação à participação [dos estudantes]. Eu senti muita falta disso. Eu dou aula porque eu gosto, e eu senti que foi muito prejudicada a interação com os alunos [...]. Também foi uma nova experiência pra mim lidar com o erro, porque naturalmente você erra na hora da aula, normal, e aí o erro fica gravado. Eu cheguei a editar algumas vezes, mas não foi uma experiência muito boa nesse sentido, não. E mexeu um pouco com a minha autoestima, porque a única pessoa que eu via era eu. Os alunos mantinham a câmera desligada por causa da banda [larga], porque tornava a conexão mais instável. Não foi agradável pra mim ficar olhando pra mim (entrevista com Maria, 33 anos, professora universitária, em julho de 2020).

Tanto a fala de Maria sobre deixar erros registrados nas aulas gravadas como na fala de Fábio sobre aparecer à frente de estantes de livros apontam para uma preocupação com a imagem profissional. Se antes os símbolos domésticos eram mais recorrentes nas relações pessoais não profissionais, por ser o ambiente da intimidade, agora passamos a expô-lo a pessoas com quem não temos intimidade necessariamente. Por outro lado, os ambientes domésticos não necessariamente estão sendo exibidos como eles seriam “de fato”, ou seja, não seria aquilo que Goffman (2009) definiu como “bastidor”, onde se armazenam adereços e se prepara para apresentações públicas, além de ser o espaço para descanso e liberação de emoções e comportamentos ocultados no palco. O ambiente doméstico capturado pela câmera seria, na verdade, um palco que apenas performaticamente imita um bastidor.

6. Aniversários virtuais: celebrando a vida em meio ao caos

“Vamos tocar a vida”, rebateu o presidente Jair Bolsonaro, em 6 de agosto de 2020, ao ser questionado sobre os números alar- mantes da propagação do coronavírus no Brasil, onde, naquela data, chegava-se a 98.644 óbitos e 2.917.562 diagnósticos de Covid-1916.

Apesar de alguma demonstração de indignação em relação às desencontradas políticas públicas de combate à pandemia, a população brasileira demonstrou desenvoltura para lidar com a crise sanitária, indo das lives de artistas às comemorações virtuais de aniversário. Um modo, talvez, de celebrar a vida mesmo em meio ao caos.

“Enervantes” é o adjetivo usado por Fábio para definir os aniversários virtuais, que tendem a demorar muito mais do que os aniversários presenciais. Ele promete não participar mais de qualquer evento dessa natureza, porque “todo mundo fica condicionado a ter que fazer um manifesto elogioso ao aniversariante”.

Todos os entrevistados desta pesquisa apresentaram percepções muito semelhantes em relação aos aniversários virtuais. Para eles, tal evento seria um ritual enfadonho que acaba por provocar sensações opostas ao sentido original de “celebração à vida”.

Eu passei por aniversários que foram, assim, ok, legal, que foram aniversários com quatro pessoas na chamada. E passei por aniversários que foram horríveis, [como] o da minha irmã, que ninguém conseguia entender nada, a gente só juntou todo mundo, cantou parabéns, porque não dava pra conversar, era todo mundo falando ao mesmo tempo, cachorro, criança, foi bem caótico. Eu não senti muitos ganhos nos aniversários (entrevista com Maria, 33 anos, professora universitária, em julho de 2020).

A diferença pra mim é gritante, porque aniversário é justamente uma situação em que você quer reunir as pessoas de quem você gosta e comemorar o nascimento de alguém, e é muito fria a chamada virtual. Estar longe num momento desse… A videochamada se tornou ainda pior, porque faz é você sentir mais falta de estar perto da pessoa, então talvez seja melhor é nem ter, manda uma mensagem de parabéns e pronto (entrevista com Pedro, 34 anos, profissional autônomo, em julho de 2020).

Eu participei de dois aniversários virtuais, um chá-revelação e um chá de fraldas. Eu achei interessante, mas eu prefiro o contato físico. Eu acho que é bonito na medida em que você demonstra pro aniversariante ter interesse, compromisso, bem-querer, porque você tá ali, ainda que virtualmente, mas prestando essa homenagem. Gostei, mas como medida excepcional. É uma das coisas em que eu ainda preciso ter o ‘velho normal’ no quesito. Gosto de agregar, de estar com as pessoas, de partilhar do bolo, da comida, acho tudo muito simbólico (entrevista com Fábio, 35 anos, advogado, em julho de 2020).

Até mesmo a entonação da voz dos entrevistados demonstra certa irritação em relação aos aniversários virtuais. Parece haver uma mistura de incômodos, que vão desde a irritação com o tumulto provocado pela soma de todos os microfones ligados ao mesmo tempo (o que não costuma ocorrer nas reuniões de trabalho) até a obrigação de ter de deixar um depoimento que seja atraente não somente ao aniversariante, mas a todos os demais convidados.

O incômodo dos entrevistados com as comemorações virtuais aproxima-se daquilo que Walter Benjamin (1980) definiu como adaptação do homem às constantes transformações tecnológicas que afetam as experiências na cidade moderna. Se tais ex-periências são definidas pelo autor como “experiências senso- riais”, vale destacar as mudanças que tais tecnologias provocam em nossas relações afetivas e os consequentes choques que este fenômeno nos provoca especialmente quando se trata de relações mais passionais, com amigos, familiares, etc. Neste sentido, parece haver, entre os entrevistados, uma aceitação maior das relações mediadas tecnologicamente no âmbito profissional do que na esfera das relações afetivas, que demandaria uma conexão mais imediata entre os corpos.

Considerações finais

Durante o isolamento social de combate ao coronavírus, a cidade parece ter despontado em nossos discursos e práticas mesmo quando não utilizamos o território stricto sensu da cidade. O ambiente doméstico surge como uma extensão da cidade por meio das materialidades das tecnologias de comunicação e informação.

São, portanto, modos de materializar a cidade em nossos lares e de materializar nossos lares na cidade, numa intensificação da confusão entre público e privado que vem sendo consolidada na contemporaneidade. As reuniões remotas amplificam, assim, um processo de exposição da intimidade que já vinha se consolidando com as redes sociais desde o início dos anos 2000.

Por meio da observação dos ambientes virtuais e das entrevistas, foi possível identificar os modos como o lar é preparado para tornar-se público. A escolha dos elementos que serão capturados pela webcam, por exemplo, seria um modo de ajustar o privado ao público.

Sobre a adesão aos três ambientes virtuais investigados, é possível considerar haver uma maior aceitação do teletrabalho/das reuniões virtuais como ambientes a serem cada vez mais incorporados à vida cotidiana, mesmo após a quarentena, a depender das especificidades de cada função ocupada pelo trabalhador. Já as comemorações virtuais de aniversários parecem ter sido rejeitadas pelos usuários, por proporcionarem encontros protocolares que descaracterizariam radicalmente a “celebração da vida”, a “demonstração de afeto”.

Por fim, as lives de artistas parecem ter sido aceitas pelo público como alternativa financeira para os profissionais do entretenimento e como alternativa de entretenimento para o público durante a quarentena. Contudo, os respondentes demonstram recusá-las como substitutas dos eventos artísticos com a presença do público massivo, que permitiriam trocas corpóreas não mediadas pelas materialidades das tecnologias.

Referências

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Notas

1 O Ministério da Saúde brasileiro define os coronavírus como “uma grande família de vírus comuns em muitas espécies diferentes de animais, incluindo camelos, gado, gatos e morcegos”. Em dezembro de 2019, houve a transmissão de um novo coronavírus (SARS--CoV-2) identificado em Wuhan, na China, causando a COVID-19, “uma doença causada pelo coronavírus, denominado SARS-CoV-2, que apresenta um espectro clínico variando de infecções assintomáticas a quadros graves”. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 80% dos pacientes com COVID-19 “podem ser assintomáticos ou oligos-sintomáticos (poucos sintomas), e aproximadamente 20% dos casos detectados requer atendimento hospitalar por apresentarem dificuldade respiratória, dos quais aproximadamente 5% podem necessitar de suporte ventilatório”. Em: https://coronavirus.saude. gov.br/sobre-a-doenca (acesso em 10 nov. 2020).
2 A cidade de Fortaleza é uma das nove capitais brasileiras situadas na região Nordeste. É a capital do estado do Ceará e possui cerca de 2,6 milhões de habitantes, sendo a quinta maior cidade do Brasil. Pelo grande fluxo turístico, e comercial e por conta de eventos sociais que serviram de foco propagador do vírus, Fortaleza foi a primeira capital brasileira a ser afetada massivamente pela pandemia de Covid-19. Os governos estadual e municipal rapidamente adotaram medidas para conter o fluxo urbano e, assim, a propagação do coronavírus. Em 20 de março, foi decretada quarentena na cidade. Devido ao aumento do número de casos e de mortes, foi instaurado lockdown (bloqueio total) em 8 de maio, medida que ficou em vigor por 20 dias. Com a redução progressiva dos números, o plano de reabertura foi instaurado em cinco fases, sendo a primeira em 1º de junho e a última em 20 de julho. Em 05/08/20, Fortaleza somava 43.423 casos confirmados e 3.733 mortes pela doença. Os números diários da doença reduziram drasticamente, mas ainda estão proibidas atividades com aglomeração de pessoas, como bares, shows e aulas presenciais.
3 Christine Hine (2016, p. 15) destaca “três tipos de estratégias que ajudam um etnógrafo a lidar com essas qualidades: abordagens móveis, multilocalizadas e conectivas ao campo; mapeamento, visualização e associação; e uso dos insights autoetnográficos a fim de maximizar a compreensão da internet como um fenômeno sensorial”.
4 A entrevista semiaberta “parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante” (Triviños, 1990, p. 146 apud Duarte, 2015, p. 66).
5 “Essa estratégia resolve o problema de acesso de forma conveniente: pelo menos se conhece alguém que pode ser observado ou entrevistado, e pode-se tentar fazer com que este indivíduo o apresente a outros e seja seu fiador, desse modo deflagrando uma espécie de amostragem em bola de neve” (Becker, 1993, p. 155).
6 Os nomes dos cinco entrevistados são fictícios, como modo de preservar as identidades dos respondentes.
7 Mais detalhes sobre cada software em: https://rockcontent.com/br/blog/software-para-reunioes/ (acesso em 09 jul. 2020).
8 Em: https://zoom.us/pt-pt/education.html (acesso em 18 jul. 2020).
9 O número de acessos da live de Alok refere-se à soma de todos os cliques desde a transmissão ao vivo até o momento atual. O evento não aparece no ranking mundial das lives com pico de acessos simultâneos durante a transmissão, que em 06/06/20 listava os seguintes artistas: 1) Marília Mendonça (Brasil), com 3,31 mi; 2) Jorge & Mateus (Brasil), com 3,24 mi; 3) Andrea Bocelli (Itália), com 2,86 mi; 4) Gusttavo Lima (Brasil), com 2,77 mi; 5) Sandy & Júnior (Brasil), com 2,55 mi; 6) Leonardo (Brasil), com 2,52 mi; 7) BTS (Coreia do Sul), com 2,31 milhões; 8) Marília Mendonça (Brasil), com 2,21 mi; 9) Henrique & Juliano (Brasil), com 2,06 mi; 10) Bruno e Marrone (Brasil), com 2,05 mi. Em: https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/diversao-e-arte/2020/06/06/ interna_diversao_arte,861694/brasil-lidera-o-ranking-mundial-de-lives-no-youtube. shtml (acesso em 06 ago. 20).
10 Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2020/06/ zoom.shtml (acesso em 10 jun. 2020.
11 Lançado em 2001, o Google Earth gera mapas bidimensionais e imagens de satélite que permitem ao usuário identificar lugares, construções, cidades e paisagens. Em: https://www.google.com.br/earth/ (acesso em 10 jul. 2020).
12 Lançado em 2005, o Google Maps permite visualização de mapas e imagens de satélite, podendo o usuário montar suas próprias rotas e vincular tal ferramenta a aplicativos como Uber e Waze. O Google Maps incorporou o Google Street View. Em: https://www. google.com.br/maps/preview (acesso em 10 jul. 2020).
13 Lançado em 2007, o Google Street View permite ver fotografias em 3D das principais cidades do mundo, possibilitando uma visão panorâmica de 360° na horizontal e 290° na vertical. O usuário pode escolher um endereço preciso e simular uma caminhada pelas ruas do entorno.
14 Em: https://brasil.elpais.com/icon_design/2020-05-03/a-historia-do-meme-que-se-tor- nou-realidade-ao-virar-o-produto-mais-absurdo-da-amazon.html (acesso em 12 jul. 2020).
15 Em: https://radios.ebc.com.br/reporter-nacional/2020/07/governo-decidiu-incor-porar-o-teletrabalho-rotina-dos-servidores-publicos (acesso em 06 ago. 20).
16 Disponível em: https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/08/06/vamos-tocar-a--vida-diz-bolsonaro-sobre-pais-atingir-a-marca-de-100-mil-mortos-por-coronavirus. ghtml (acesso em 06 ago. 2020).


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