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Recepção: 26 Maio 2014
Aprovação: 03 Julho 2014
Resumo: A proposta deste texto é explicar como o conceito ordem pode ser utilizado em uma discussão geográfica, empregando-o como chave para a compreensão de fenômenos macropolíticos ou internacionais. Contudo, faz-se necessário recorrer primeiramente à lógica causal do filósofo Henri Bergson e, posteriormente, à epistemologia da Geografia para compreender a importância da relação causa-efeito, assim como sua natureza, em análises geopolíticas, ou seja, em estudos dedicados à compreensão das relações entre as organizações políticas e o espaço. Destaca-se, primeiramente, o papel adotado pelo Estado – agente geopolítico clássico no estudo de fenômenos de organização do espaço de grande proporção –, assim como suas relações de interdependência com poderes políticos de força equivalente ou superior. Superado esse momento, por fim, verifica-se que o pressuposto no qual o Estado e suas ações explicariam plenamente o que tem se chamado “nova ordem mundial” torna-se insuficiente haja vista a existência de outras forças, muitas vezes dissimuladas, capazes de alterar consideravelmente o ordenamento espacial em escala mundial.
Palavras-chave: Relação causa-efeito, Epistemologia da Geografia, Fenômenos internacionais, Ordenamento espacial.
Abstract: The purpose of this paper is to explain how the concept order can be used in a geographical discussion, employing it as a key to understanding macro-political or international phenomena. However, it is necessary to resort firstly to the causal logic of the philosopher Henri Bergson and, then, to the epistemology of Geography to understand the importance of the cause-effect relationship, as well as its nature, in geopolitical analyses, in other words, in studies dedicated to understanding of the relationships between the political organization and the space. Should be noted, first, the role adopted by the State – classic geopolitical agent in the study of phenomena of spatial organization of large proportion –, as well as their relations of interdependence with political powers with equal or superior force. Overcome this moment, finally, is verified that the presupposition in which the State and its actions explain fully what has been called “new world order” becomes insufficient given the existence of other forces, often disguised, able to alter considerably the spatial organization in worldwide scale.
Keywords: Cause-effect relationship, Epistemology of Geography, International phenomena, Spatial organization.
Introdução
Parte-se do princípio no qual o interesse pelo conceito ordem, e pelo que dele deriva, é intrínseco aos métodos de várias áreas do conhecimento humano, seja da Geografia, da Ciência Política, das Ciências Econômicas, das Relações Internacionais e do Direito, por exemplo. Obviamente, tal constante está vinculada a cada uma dessas áreas pelas suas razões epistemológicas e passaria a ser mais bem vislumbrada e aproveitada após passagem pelos filtros dos seus respectivos métodos de investigação.
Ainda no patamar teórico-metodológico, compreende-se que o paradigma ordem é anterior à própria lógica da pesquisa científica1, pois reside no anseio transcendental do homem que pretende dar conta, ou seja, ordenar os fenômenos que se apresentam a ele. Assim, ele idealiza e trilha caminhos nesse universo contemplativo/especulativo, avalia-os e, depois, parte para o plano das hipóteses e sua viabilidade2.
Em busca da compreensão da base dos fundamentos teóricos da ciência geográfica, Gottmann (1950, p. 60) explica que “(...) A organização do espaço interessa, em suma, aos geógrafos porque [é] espaço (...)”3. [tradução e grifo nosso]
Embora pareça redundante a um olhar menos cauteloso, o breve esclarecimento de Gottmann visa identificar, da forma mais plena possível, o objeto de interesse dos geógrafos – o espaço, que é muito mais do que a paisagem e os elementos que a compõem4. Portanto, qualquer análise que não contemple o espaço e a tentativa de apreensão da sua organização e relações causa-efeito, como razões de uma discussão, não pode ser considerada geográfica.
No entanto, por mais que haja um esforço teórico da Geografia em dar conta do problema ordem, que se pretende ter nesta argumentação como a própria lógica da organização do espaço, há a necessidade de importar elementos teóricos de outras áreas do conhecimento humano5 – que podem ir desde a Filosofia até a Astrofísica, conforme será demonstrado.
Da combinação dos resultados de estudos das áreas de Relações Internacionais e de Ciência Política, há uma importante contribuição de Bull (2002, p. 7), que procura esclarecer a natureza da ordem quando afirma que
Dizer que um conjunto de coisas demonstra uma ordem é, no sentido mais simples e mais geral, afirmar que elas estão relacionadas entre si de acordo com uma certa estrutura; que a sua relação recíproca não é fruto puramente do acaso, mas contém algum princípio discernível. Assim, uma fileira de livros em uma estante exibe ordem, o que não acontece com um monte de livros amontoados no chão.
Mas quando falamos de ordem na vida social, por oposição a desordem, não temos em mente qualquer padrão ou arranjo metódico dos fenômenos sociais, mas sim uma estrutura de tipo específico. (...) [grifo nosso]
A compreensão da lógica que o conceito ordem contém e que foi ilustrada por Bull equivale ao start para a compreensão da primeira parte do problema levantado por este artigo e é de fundamental importância para o restante da proposta.
Note-se que Bull (2002, p. 91) ainda avança quando qualifica e contextualiza o conceito no campo da análise política:
A ORDEM não é apenas uma condição efetiva ou possível – uma situação concreta na política mundial – mas, de modo muito geral, é considerada também como um valor. No entanto, não é o único valor em relação ao qual a conduta internacional pode ser ajustada, nem é necessariamente um valor supremo. (...) [grifo do autor]
Primeiramente, faz-se imprescindível observar que o grifo visa ressaltar o aspecto epistemológico do conceito, que, na verdade, é onde se realiza a maior parte do esforço de compreensão quando o pesquisador está disposto diante de um problema de natureza espacial.
Ainda assim, há que se admitir que se constitua um considerável trabalho quando se tenta explicar a disposição dos elementos no espaço em um caso concreto, mesmo para aquele que já julga ter o método definido. Isso ocorre pela necessidade de uma criteriosa dissecação desses elementos que o compõem e do estabelecimento de uma ligação causal lógica entre esses – o que, automaticamente, descartaria a hipótese “do acaso”, mesmo que se tratasse de um fenômeno que dependesse majoritariamente de variáveis naturais6.
Princípios da causalidade bergsoniana aplicados na Geografia
É impossível, portanto, estabelecer uma base teórica, ao menos na Geografia, se não por meio de relações causa-efeito. Sobre essa interdependência de eventos, doravante causalidade, é necessário consultar Bergson (2005, p. 79 e 80) que declara em caráter analítico:
(...) Mas em que sentido se deve entender aqui a palavra causa? Sem empreender uma análise exaustiva da idéia [sic.] de causalidade, iremos simplesmente observar que normalmente se confundem três sentidos inteiramente diferentes desse termo. Uma causa pode agir por impulsão, por desencadeamento ou por desenrolamento. A bola de bilhar que lançamos contra uma outra bola determina o movimento desta última por impulsão. A faísca que provoca a explosão da pólvora age por desencadeamento. A distensão gradual da mola que faz girar o fonógrafo desenrola a melodia inscrita no cilindro: se tomo a melodia executada por um efeito, e a distensão da mola pela causa, direi que a causa procede aqui por desenrolamento. O que distingue esses três casos um do doutro é a maior ou menor solidariedade entre a causa e o efeito. No primeiro, a quantidade e a qualidade do efeito variam com a quantidade e a qualidade da causa. No segundo, nem a qualidade nem a quantidade do efeito variam com a qualidade e a quantidade da causa: o efeito é invariável. No terceiro, por fim, a quantidade do efeito depende da quantidade da causa, mas a causa não influencia a qualidade do efeito: quanto mais tempo o cilindro girar pela ação da mola, mais longa será a porção que ouvirei da melodia, mas a natureza da melodia ou a porção dela que ouço não depende da ação da mola. Na verdade, é apenas no primeiro caso que a causa explica seu efeito; nos outros dois, o efeito é mais ou menos dado por antecipação e o antecedente invocado é – em graus diversos, é verdade – sua ocasião antes que sua causa. (...) [grifos do autor]
Com o intuito de aplicar os fundamentos propostos por Bergson7, é importante compreender seu exame desde as três caracterizações que atribui à causalidade e, posteriormente, correlacioná-las com problemas geográficos:
a) por impulsão – é provável que esse seja o modo mais comum de conceber uma relação causa-efeito. O modelo da bola de bilhar apresentado por Bergson pode ser muito bem empregado em análise de relações geopolíticas, tais como conflitos entre Estados, que nada mais são do que disputas políticas por espaço (GOTTMANN, 1942, p. 197); além de ser passível de uso na avaliação de impactos ambientais por conta de supressão de espécies animais ou vegetais, por exemplo8.
Para o geógrafo, seria um importante ponto de partida para encadear o processo anamnese-diagnóstico-prognóstico9 – contudo, somente um bom recorte espaço-tempo pode permitir tal linha analítica;
b) por desencadeamento – Bergson exemplifica esse modelo através do exemplo de uma explosão ocasionada por uma faísca em contato com certa quantidade de combustível. Seu uso, em uma análise política mais profunda, é descartável haja vista que as relações políticas dependem de inúmeros fatores – cultura política, contexto econômico na escala considerada, capacidade de luta dos lados contrapostos (simetria ou assimetria), etc.
A ideia de que uma revolução é um fenômeno explosivo, por exemplo, não corresponderia à realidade10, posto que cada causa necessite de amadurecimento, convencimento e organização, o que certamente não caracteriza uma explosão, mas um processo, muito mais relacionado com o conceito de impulsão proposto por Bergson.
Mesmo no universo da análise geográfica prioritariamente física, pode ser possível que haja equívocos quando, por exemplo, se caracteriza um deslizamento de encosta como um fenômeno estritamente ocasionado por desencadeamento. Nesse caso, a análise deverá considerar o recorte temporal atribuído ao fenômeno – o que em escala temporal geológica é impulsão, em escala temporal humana, trata-se de desencadeamento11.
Essa relação de causalidade, portanto, faria parte de fenômenos físicos necessariamente violentos e se considerado especialmente o efeito em detrimento da relativa demora da ação da causa – a explosão de uma estrela, formando uma supernova ou a explosão de um vulcão, para ser sucinto. Nesse caso, não caberia nenhuma análise que envolva a ação humana.
c) por desenrolamento – as explicações de Bergson tipificam essa modalidade de relação de causalidade como um fenômeno muito mais perceptível pelo efeito, tendo em vista que a causa possuiria uma conotação meramente mecânica e quantitativa12.
Esse formato de causa-efeito está diretamente relacionado a um projeto, no qual se espera que determinado efeito seja alcançado – sua natureza é, portanto, invariavelmente teleológica. Pode-se verificar tal relação também entre fenômenos produzidos pelos métodos da engenharia social (ASSMANN, 1979a, p. 9; BERNARDIN, 2012, p. 15-31; e CARVALHO, 2013, p. 170-172, 174-177), por exemplo.
Esses procedimentos são, muitas vezes, denominados “políticas públicas”, onde há a ação (nem sempre clara) de determinado sujeito (Estado, Organização Não Governamental, associação, etc.) para que determinados resultados sejam obtidos em determinado prazo.
Normalmente, nesses casos, o resultado está relacionado à quantidade de propaganda, de considerável esforço midiático envolvido, além de, obviamente, estudo comportamental prévio do público alvo, assim como monitoramento e controle constante dos padrões de respostas aos estímulos empregados. Essa compreensão de causalidade é de grande valia nos estudos de Geografia da Religião e Geografia de Gênero13.
Ainda sobre o aspecto teleológico, diretamente relacionado à causalidade por desenrolamento, Martinez (2013, p. 170) atenta para o “(...) redirecionamento das funções do Estado e de reapropriação do Direito pelas camadas sociais populares, bem como (...) a transformação progressiva do Direito-coerção em Direito/Liberdade ou autonomia”, quando se refere ao “Estado Social”.
Trata-se de mudanças factuais em favor de algum objetivo político ou econômico, de caráter supostamente impessoal e isento, a ser alcançado em algum tempo (ESPING-ANDERSEN, 1995, p. 73-75) – pois se trata de uma agenda.
Dadas essas possibilidades de análise da relação causa-efeito propostas por Bergson, portanto, é possível estruturar uma relação lógica entre essa tipificação e o seu uso na Geografia (Tabela 1):
Uma vez admitida a pertinência dos conceitos ordem e causalidade, é possível proceder à análise de aspectos da nova ordem mundial14. Compreenda-se, aqui, ordem como um fenômeno de natureza prática, embora complexa, que é concebido pelos agentes que são capazes de poder fazer (minoria); e experimentado e reproduzido nas relações políticas, econômicas e sociais pelos demais (massas).
Corroborando essa lógica, Slaughter (2004, p. 27 e 28) deixa claro que
‘Ordem mundial’ não é um valor neutro; qualquer ordem mundial atual irá refletir os valores de seus arquitetos e membros. (...) O desenvolvimento sustentável, por exemplo, é uma meta ou um valor que pode conduzir a política ambiental global. Quer ele seja perseguido através de organizações internacionais tradicionais ou [mesmo] através de uma combinação de redes governamentais horizontais e verticais, [o método] não deve afetar a própria meta.15 [tradução e grifos nossos]
Assim, o que Slaughter enfatiza são dois pontos principais:
a) a complexidade das ações de quem concebe e implanta o modelo de ordem mundial a ser seguido. Além do mais, tais manifestações já não são somente verticais (SILVA, 2013, p. 11 e 15), mas terminam por formam uma teia de relações que extrapolam a própria lógica do Estado (BONAVIDES, 2012, p. 115) – ente jurídico de análise clássica, pelo qual não é mais possível apreender todo o problema no estrato internacional;
b) a amplitude dessas ações por meio de políticas de caráter global – nada escapa à ordem estabelecida – ao establishment.
Então, quem dita as regras e cria tal estado de coisas – ou ordenamento espacial?
Ordem no mundo, Estados e outras forças
Como já verificado, dada ordem só pode ser entendida se padrões de relação entre causas e efeitos forem percebidos e, posteriormente, forem passíveis de reprodução por certo tempo – o que cria um status quo. Diante dessa premissa, portanto, seria possível compreender melhor o mundo atual – ou seja, as relações internacionais – em um paradigma organizacional do espaço que seja comum à maioria dos seus componentes?
Embora não se trate de uma tarefa sintética, ou até mesmo simplista, propõe-se que a resposta não seria impossível de ser obtida se adotado tal passo metodológico – o que requereria a superação do modelo conceitual político-econômico vigente, no qual as forças consideradas como principais são as exercidas pelos Estados, através de suas normas e capacidade de influência territorial.
Assim, faz-se necessário entender que espécie de ordenamento espacial o mundo vive. Bull (2002, p. 13 e 15) parte do seguinte pressuposto, o da “ordem internacional”, que é uma perspectiva clássica de organização do todo, pois emprega conceitos interligados como soberania e independência16:
Por “ordem internacional” quero referir-me a um padrão de atividade que sustenta os objetivos elementares ou primários da sociedade dos estados, ou sociedade internacional. (...)
O ponto de partida das relações internacionais é a existência de estados, comunidades políticas independentes, cada uma das quais possui um governo e afirma a sua soberania com relação a uma parte da superfície terrestre e a um segmento de população humana. (...) A soberania dos estados, interna e externa, existe tanto no nível normativo como no factual. (...) A comunidade política independente que simplesmente afirma o direito à soberania (ou é julgada soberana por outros) mas não pode exercer na prática esse direito não é propriamente um Estado. (...)
Um sistema de estados (ou sistema internacional) se forma quando dois ou mais estados têm suficiente contato entre si, com suficiente impacto recíproco nas suas decisões, de tal forma que se conduzam, pelo menos até certo ponto, como partes de um todo. Naturalmente, dois ou mais estados podem existir sem formar um sistema internacional, nesse sentido. (...) [grifos do autor]
A perspectiva de Bull, ainda válida, representaria um estágio anterior ao de um novo ordenamento espacial mundial. Nem a ordem vigente ou a que a substituirá são necessariamente o resultado de acordos pacíficos entre as partes que se relacionarão – já demonstrando um desgaste do modelo democrático17, tão almejado pelo Ocidente.
Dessa forma, também é pertinente compreender também outro aspecto da ordem mundial através de Agnew e Corbridge (1995, p. 15):
No nosso uso, “ordem” refere-se às regras rotinizadas, instituições, atividades e estratégias por meio das quais a economia política internacional opera em diferentes períodos históricos (...) [como termo geopolítico] chama a atenção para elementos geográficos de uma ordem mundial (...) “ordem” não implica um mundo baseado no consenso ou cooperação (...)18. [Tradução e grifos nossos]
Os destaques feitos na citação de Agnew e Corbridge têm o objetivo de corroborar o que foi explicado anteriormente sobre o caráter reprodutível da ordem e o poder que seu suposto19 principal agente tem sobre aqueles que estão subordinados a essa organização do espaço e dos seus recursos. Trata-se da passagem da ordem mundial promovida pelos Estados e suas relações para outra ordem, mais autoritária20, com diretrizes supra estatais.
Em outros termos, a maior característica dessa ordem mundial, a “nova”, são a amplitude e a intensidade da coercividade adotada pelos seus principais agentes21. Assim, a verticalidade das forças e a virtual incapacidade de reagir a elas tornaria questionável a validade do “contrato social” de Rousseau (2008, p. 29) – seria o fim da era do consenso e da cooperação voluntária; e o início da vigência de uma ainda mais falsa democracia.
Para melhor compreensão do poder político e das suas possibilidades, recorre- se a Bobbio (1987, p. 76) quando explica que
Aquilo que “Estado” e “política” têm em comum (é inclusive a razão da sua intercambiabilidade) é a referência ao fenômeno do poder. Do grego Kratos, “força”, “potência”, e arché, “autoridade” nascem os nomes das antigas formas de governo, “aristocracia”, “democracia”, “oclocracia”, “monarquia”, “oligarquia” e todas as palavras que gradativamente foram sendo forjadas para indicar formas de poder, “fisiocracia”, “burocracia”, “partidocracia”, “poliarquia”, “exarquia” etc. Não há teoria política que não parta de alguma maneira, direta ou indiretamente, de uma definição de “poder” e de uma análise do fenômeno do poder. Por longa tradição o Estado é definido como o portador da summa potestas; e a análise do Estado se resolve quase totalmente no estudo dos diversos poderes que competem ao soberano. (...)
A assertiva de Bobbio ratifica o princípio do summa potestas (hoje, já consideravelmente imerso no universo conotativo, conforme já apontado) como principal característica do Estado, baseado na soberania de suas ações. Slaughter (1997, p. 184) aponta para outro tipo de arranjo que envolve outras estruturas de poder:
Uma nova ordem mundial está emergindo (...) O Estado não está desaparecendo, está se desagregando partes separadas, funcionalmente distintas. Estas partes – os tribunais, agências reguladoras, as executivas, e até mesmo as legislativas – são redes com os seus homólogos no exterior, criando uma densa rede de relações que constitui uma nova ordem transgovernamental. Os problemas internacionais de hoje – o terrorismo, o crime organizado, a degradação ambiental, a lavagem de dinheiro, a falência bancária e a fraude de títulos – criaram e sustentaram essas relações.22 [Tradução e grifos nossos]
O princípio no qual se compreende que a função do Estado está sendo modificada só pode levar ao entendimento de que há pelo menos uma força maior que o está fazendo. De fato, é um verdadeiro paradoxo quando se imagina que se está testemunhando o auge da maturidade dessa forma de governo e, simultaneamente, se verifica que sua estrutura não é tão robusta quanto parece.
Se, portanto, constata-se que o Estado é fraco ou forte, conforme a necessidade e a conveniência de forças maiores23, seria racional qualificar tais forças dissimuladas, mas não menos eficazes; e entender como atuam no ordenamento espacial em escala mundial. Para ser objetivo, cita-se o exemplo de duas dessas potências: a Comissão Trilateral e o Foro de São Paulo24.
Trilateral, Foro de São Paulo e globalização
a) a Comissão Trilateral, responsável por uma esfera político-econômica mais abrangente, supra regional, pode ser considerada sem muito esforço teórico como uma macro força, notável pela sua robustez financeira e capacidade bélica. Para isso, basta observar no excerto abaixo por quais forças político-econômicas é composta. Segundo Micheo (1979, p. 19), a Comissão Trilateral
Foi fundada em 1973 sob os auspícios de David Rockefeller, Diretor do Chase Manhattan, com o objetivo de estabelecer um lugar de encontro para os cidadãos mais respeitáveis dos países industrializados não comunistas e distribuídos em três centros: Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão. (...) É, pois, uma organização internacional. É formada por mais de 200 personalidades, representando os maiores consórcios econômicos dos três centros, principalmente banqueiros. Alguns intelectuais e periodistas europeus a identificaram como ‘uma conspiração mundial de banqueiros’ dirigida por David Rockefeller. [grifos nossos]
Assim, não se pode afirmar que se trata de uma composição estratégica de capacidade desprezível. Entenda-se que tal força pode: comprar commodities em larga escala, promover especulação imobiliária onde bem entender, influenciar as principais bolsas de valores, e, sobretudo, fomentar e financiar conflitos, pois se trata de um grupo que visa à manutenção e o máximo de controle sobre o sistema financeiro internacional.
Sobre essa organização, Paola (2008, p. 264) aponta que
A TC [Trilateral Commission] pode ser definida como o comitê executivo de assessorial ao capital financeiro internacional. Segundo Richard Falk, sua perspectiva ideológica representa a visão de mundo transnacionais das corporações multinacionais que pretendem substituir as políticas territoriais por objetivos econômicos não- territoriais. Uma de suas funções, portanto, é combater o nacionalismo e a própria noção de ‘Estados Nacionais’. (...) Segundo o Professor de Economia da Universidade Estadual da Califórnia – Los Angeles e Pesquisador Senior [sic.] da Universidade de Stanford, Dr. Sutton, que rastreou o desenvolvimento da CT desde seus primeiros passos, ela vem se encaminhando no sentido de dar um impulso para a criação de um Governo Mundial (...).
Contudo, o que deixa ainda mais complexa a compreensão da relação entre os agentes envolvidos na construção da Trilateral é a explicação de Kagan (2004, p. 3), visivelmente na contramão do entendimento leviano de que há consenso na apropriação do poder nessa escala:
É HORA de parar de fingir que europeus e americanos compartilham uma visão de mundo comum, ou mesmo que eles ocupam o mesmo mundo. Sobre a questão da mais alta importância de poder – a eficácia do poder, a moralidade do poder, o desejo de poder –, as perspectivas americanas e européias são divergentes. A Europa está se afastando do poder, em outras palavras, está se movendo para além do poder para um mundo autônomo, de leis e regras e de negociação transnacional e cooperação. Está entrando em um paraíso pós-histórico de paz e relativa prosperidade, a realização de ‘paz perpétua’ de Immanuel Kant. Enquanto isso, os Estados Unidos permanecem atolados na história, exercendo poder em um mundo anárquico hobbesiano, onde as leis e regras internationais não são confiáveis, e onde verdadeiras segurança e defesa e promoção de uma ordem liberal ainda dependem da posse e do uso de poder militar. É por isso que nas principais questões estratégicas e internacionais atuais, [diz-se que] os americanos são de Marte e os europeus são de Vênus: eles concordam em pouco e compreendem-se cada vez menos.
(...) Os americanos geralmente veem o mundo dividido entre bem e mal, entre amigos e inimigos, enquanto os europeus veem um quadro mais complexo. (...)25 [grifo do autor; tradução nossa]
A despeito das grandes diferenças políticas apontadas por Kagan, Paola, por fim, expõe que o grande objetivo de forças como a Comissão Trilateral seria a criação de um Governo Mundial (BERNARDIN, 1998, p. 357; e MAGALHÃES, 2006, p. 21), embora essa não seja uma visão unânime (MAGALHÃES, 2006, p. 104 e 105), pois apresenta muitas variáveis e interesses a serem alcançados por essas.
No início, pode até parecer exagero, mas a natureza da própria Organização das Nações Unidas (HANNAY, 2008, p. 11-25) aponta nesse sentido – “organizar” não seria sinônimo de “ordenar”? Obviamente que, sendo esse o efeito desejado, demandaria um esforço coletivo, e não unilateral (KAGAN, 2004, p. 4), ainda não relatado pela História em torno de um interesse comum.
Uma possibilidade que concorreria para tal fim seria a adesão (não necessariamente de forma pacífica) dos Estados e demais forças em favor do “fim dos conflitos”, independentemente de quais fossem – ambientais, étnicos, religiosos, territoriais, etc. Seria o auge do processo de homogeneização do mundo, iniciado com as “grandes navegações”, que propiciaram à adoção do modelo mercantilista para a macroeconomia, desde o século XVI; e do modelo europeu, o “Estado-nação”, para a macropolítica (AGNEW, 2009, p. 60), que pressupõe o conceito soberania, já em estado de superação nos dias atuais.
Não seria o fim26 das civilizações, mas o início de um “nivelamento moral- comportamental” no qual seria formatado o “cidadão ideal” – apaziguado pelo consumo e pela sensação de segurança e estabilidade, pois já estaria controlado pelo status quo policial e pela prática habitual da lei marcial, que seria empregada onde fosse necessária para que a ordem fosse mantida27.
b) o Foro de São Paulo, em uma área de influência mais restrita e não menos expressiva seria parte desse estudo, pois é considerado também parte do problema “nova ordem mundial”. Slaughter (2004, p. 119) classifica estruturas políticas semelhantes como “catalisadores”28. A imbricação de forças desse patamar com o superior, já apresentado, seria um dos aspectos práticos, logo visíveis, daquilo que é denominado globalização.
Sobre a constituição do Foro, Azambuja (2008, p. 49) explica que
O motivo da criação do Foro de São Paulo (que hoje reúne mais de 100 partidos, organizações e grupos de esquerda da América Latina e Caribe), uma reedição da OLAS - Organização Latino-Americana de Solidariedade (organização similar constituída em 1966, em Havana) e da fracassada JCR - Junta de Coordenação Revolucionária (constituída em 1973, por organizações terroristas do Chile, Uruguai, Argentina e Bolívia, após a deposição do governo marxistas de Salvador Allende, no Chile), foi uma das formas encontradas pelo regime cubano para sobreviver à queda do Muro de Berlim e ao desmonte do socialismo real que provocou o desmoronamento, como um castelo de cartas, de todos os partidos comunistas e movimentos aliados da ex-União Soviética. Para Cuba, então, tornou-se fundamental que as forças consideradas aliadas assumissem o controle de, pelo menos, um dos países da América Latina. É evidente que o Brasil, face às condições políticas da época (1990), foi o alvo preferido. [grifos do autor]
Paola (2008, p. 195) esclarece o papel do Foro, encabeçado pelo Partido dos Trabalhadores, na política regional e na escala consequente:
É dentro desta estratégia que se deve enquadrar o governo petista: não como um governo nacional, simplesmente, mas sim, como engrenagem de um mecanismo maior com uma estratégia definida de conquista continental para instalação de uma união de repúblicas socialistas. Como nenhum governo comunista desde 1917 foi um governo nacional normal, mas apenas parte de um todo orgânico avassalador. A própria política econômica de submissão ao capital internacional, levada a efeito pelo ex-Ministro, Antonio Palocci – que quando Prefeito de Ribeirão Preto autorizou a instalação do primeiro escritório de representação das Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (FARC), integrante do Foro – não surpreendeu nem é indício de guinada à direita do regime, já que é apenas uma fachada de gradualismo que está inserida numa estratégia mais ampla. Palocci saiu, mas o Presidente do Banco Central, Meirelles, continua mais firme do que nunca, até com status de Ministro para ter foro privilegiado em caso de processo.
Ao analisar, portanto, o escrito de Paola, as relações entre o Estado Brasileiro e organizações terroristas como as FARC, começam a desvelar-se e fazer sentido quando inseridas no quadro geral. Obviamente, é somente o início de uma análise mais detida e profunda. Em todo caso, tendo em vista esses dois agentes e tanto suas estratégias quanto seus objetivos, é possível estabelecer nexos de causalidade tanto por impulsão quanto por desenrolamento.
O primeiro nexo pode ser compreendido se for observada a intensa relação de interdependência econômica e política admitidas entre os Estados, tanto no fim da Segunda Guerra Mundial quanto após.
Para que tais interligações se consolidassem, eram necessários novos paradigmas. Nesses termos, um pouco antes do fim daquela guerra, houve os acordos de Bretton Woods, que passaram a reger praticamente toda a lógica financeira do mundo. Era o estabelecimento do modelo econômico.
Bandeira (2009, p. 197 e 198) detalha que
Através das instituições criadas em Bretton Woods, como o FMI e o BIRD, os Estados Unidos continuaram a modelar a estrutura da economia mundial, conforme seus interesses e conveniências, forçando total liberdade econômica, responsável pelas crescentes desigualdades entre as nações, dado que, como consequência do processo de concentração e centralização do capital, a pobreza crescia no plano das nações, as mais pobres denominadas Terceiro Mundo. (...)
Como na Carta da ONU, os acordos que criaram o FMI e o BIRD, em Bretton Woods, visaram a facilitar a preponderância dos Estados Unidos. (...) [grifos nossos]
É válido ressaltar que os Estados Unidos, mesmo que quisessem, não poderiam agir sozinhos. Sobre aquele país, Albuquerque (1995, p. 163 e 164) aponta que
(...) Do ponto de vista econômico, (...), não somente a única superpotência restante já não detém a primazia da competitividade, mas a compartilha com um grupo de países, sem cuja cooperação, nem mesmo sua supremacia militar poderia ser exercida em caráter permanente.
Portanto, o que para alguns países significou boicote, para outros significou bonança. Não obstante, é um erro comum demonizar exclusivamente os Estados Unidos pelos males do mundo, embora essa seja uma visão amplamente difundida no Brasil29 e levada às últimas consequências propositalmente por indivíduos como Alexande Dugin – principal mentor e entusiasta do eurasianismo a partir da Rússia30(CARVALHO, 2012, p. 44).
Ainda sobre o papel de Bretton Woods e sua interferência na economia mundial antes do final da Segunda Guerra Mundial, Soros (2001, p. 188) ainda acrescenta que
(...) Mas quem é responsável pelo sistema financeiro internacional? As instituições financeiras e as autoridades monetárias nacionais cooperam nas épocas de crise, mas não há um banco central internacional nem uma autoridade regulamentadora internacional que se comparem às instituições existentes no âmbito nacional. As instituições de Bretton Woods [o FMI e o Banco Mundial] procuraram preencher essa lacuna e, durante um certo tempo, foram bem sucedidas. (...)
A impudência de Soros, “globalista” renomado, reside em afirmar que houve a necessidade da criação das estruturas financeiras derivadas de Bretton Woods, como se o mundo não sobrevivesse sem isso. Na verdade, tratou-se da ação conjugada entre os princípios da impulsão, caracterizado pela criação daqueles organismos; e do desenrolamento, quando considerado o modus operandi dos já citados.
Por fim, o nexo de causalidade por desenrolamento pode ser mais claramente avaliado, se verificado o processo tentativa de homogeneização cultural implantado no mundo através das mais diversas maneiras – especialmente das mídias de massas, formatadas a pensarem como se tivessem alcançado o auge das benesses materiais, antes privilégio somente das minorias (ORTEGA Y GASSET, 2007, p. 44 e 47)31.
Considerações finais
Este ensaio é concluído com o entendimento de que é possível compreender fenômenos políticos de grande escala – seja essa regional ou mundial – a partir do estabelecimento de relações de causalidade, conforme as tipificações propostas por Henri Bergson. No entanto, como foi verificado, não se trata de uma tarefa simples, mas que requer, primeiramente, um esforço filosófico por parte de quem deseja apreender o fenômeno.
Admite-se que o principal problema nessa construção lógica é a quantidade de variáveis a serem consideradas – o que dificulta construir uma visão panorâmica. Na sequência, depara-se com a dificuldade de superar, mesmo que parcialmente, certos paradigmas32 – exemplificando, o do Estado como começo e fim das discussões políticas modernas e toda organização política visa o bem-comum acima de tudo. É claro que não são somente os Estados que são capazes de fazer macro política, mas também toda força capaz de influenciar no universo econômico.
Assim, foi preciso apresentar outros elementos nessa já complexa forma que é o mundo. No texto, fizeram-se figurar a Comissão Trilateral e o Foro de São Paulo – cada qual com seu papel, área de influência e plataforma ideológica33 agindo, muitas vezes, na “penumbra”, longe dos olhares daqueles a quem não interessam nem seus objetivos ou métodos. Evidentemente existem outras forças com tais características.
Por hora, pode-se citar: o relativamente conhecido Clube de Roma, o Woodrow Wilson International Center for Scholars, o Council on Foreign Relations, o Diálogo Interamericano, a Association of World Federalists, o Bilderberg Group (ASSMANN, 1979b, p. 27-36) e o Comittee for Economic Development (PAOLA, 2008, p. 259- 275)34.
É bastante provável que surjam perguntas neste ponto como:
1) Há ainda outras forças com capacidade equivalente ou superior?
2) Todas essas forças agem dissimuladamente?
3) Quem confere competência a essas forças?
4) O quão fortes são essas forças?
5) Como tais forças, de matizes tão distintos, seriam capazes de se fundirem em favor do estabelecimento de um Governo Mundial?
São perguntas válidas, mas que podem não ser respondidas com tanta facilidade e de forma sintética haja vista o interesse de que tais forças sequer sejam notadas pelas massas. Seria possível fazer conexões mais complexas tanto quanto possível, mas, antes de tudo, é preciso, simultaneamente, tanto ampliar os horizontes de leitura quanto desenvolver o senso crítico para a filtragem e retenção de informações subjetivas ou tendenciosas.
Crer que se vive em um tempo em que há outras possibilidades de compreender o mundo, não é uma questão exclusivamente filosófica, mas uma questão concreta e que requer grande dose de responsabilidade, estudo direcionado e honestidade intelectual.
Por fim, propõe-se que o tema desenvolvido se caracteriza plenamente como problema da Geografia, especialmente do seu ramo político, pois não é possível compreender o reordenamento espacial em escala mundial sem considerar a ordem, a causalidade e as forças provenientes das relações humanas – que são necessariamente relações políticas, pois o que são territórios e organizações políticas, senão construções humanas que ocorrem e se reproduzem no espaço geográfico?
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Notas
Uma das principais dificuldades é que a maioria das pessoas tem uma visão de mundo ultrapassada – a qual, de resto nunca foi nítida – que divide o mundo político, cultural e econômico entre uma direita – os capitalistas burgueses e as religiões tradicionais – e uma esquerda – onde ficam os comunistas e socialistas, uns mais, outros menos revolucionários. Acredita-se que os capitalistas são os maiores inimigos dos marxistas e socialistas. Esta crença tem sua origem no próprio Karl Marx que a usou para seus propósitos. Como a maioria dos historiadores [e geógrafos] não enxerga um palmo além do que Marx determinou que enxergassem por continuarem amarrados na camisa de força do materialismo histórico, a aliança que sempre existiu entre os capitalistas e os revolucionários socialistas para benefício mútuo, tem ficado fora do escopo dos estudiosos e da população em geral. (...) até hoje a divisão do mundo em esquerda e direita é baseada numa visão de que o comunismo significa a expropriação e estatização imediata dos meios de produção”. [adendo nosso] Como complemento para compreensão desse problema, recomenda-se o capítulo “Revolução” de “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota” (CARVALHO, 2013, p. 159-246).