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A PESQUISA EM MODA E LITERATURA NO BRASIL: PERFIL QUANTITATIVO, TIPOLOGIA DAS ABORDAGENS E QUESTÕES METODOLÓGICAS
Revista de Ensino em Artes, Moda e Design, vol.. 4, núm. 2, 2020
Universidade do Estado de Santa Catarina

Revista de Ensino em Artes, Moda e Design
Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil
ISSN: 2594-4630
Periodicidade: Bimestral
vol. 4, núm. 2, 2020

Resumo: Este artigo apresenta um perfil quantitativo da pesquisa em moda e literatura no Brasil, com base em informações sobre teses e dissertações defendidas no país des-de 1987 (ano do primeiro levantamento disponível na base de dados da Capes). Tam-bém aponta e discute os problemas das bases de dados que reúnem informações sobre esses trabalhos e suas consequências para pesquisas que deles se valem na elaboração do “estado da arte”. A partir dos resultados encontrados, propõe e opera uma tipologia semiótica das abordagens do tema moda e literatura. Mostra que, den-tre as quatro abordagens encontradas, predominam estudos que investigam como a literatura utiliza a moda para falar da própria literatura e de aspectos socio-históricos. Quanto ao perfil dos trabalhos, eles são principalmente da área de letras/literatura, defendidos em universidades públicas da região sudeste.

Palavras-chave: Moda e literatura, Estado da arte, Quadrado semiótico.

Abstract: This article presents a quantitative analysis of fashion & literature research based on information about Brazilian theses and dissertations defended since 1987. It also points out and discusses the problems of the databases that gather information about these works and their consequences for investigations that use them for elab-ora-ting the “state of the art”.” Based on the analysis, the paper proposes and oper-ates a semiotic typology of approaches to fashion & literature researches. Studies that in-vestigate how literature uses fashion to talk about literature itself and socio-historical issues are predominant. Regarding the profile of the works, they are mainly developed in language/literature graduate programs at public universities in South-east Brazil.

Keywords: Fashion & literature, State of the art, Semiotic square.

1 INTRODUÇÃO

No momento da escrita deste artigo, a revista científica dObra[s] propunha uma edição especial sobre o tema moda e literatura, com publicação prevista para abril de 2020. Aproveitando a emergência do tema, duas pesquisadoras iniciaram um le-vantamento de investigações relacionadas, cujos resultados parciais apontaram a li-mitação de uma das bases de dados consultadas — a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) —, já que não mostrava trabalhos cuja existência era conhecida pelas pesquisadoras.

Essa situação gerou dois possíveis desdobramentos investigativos: 1) modificar a questão norteadora da pesquisa e adotar um método não dependente da busca sis-tematizada em bases de dados; 2) considerar a limitação da base de dados como um resultado a ser apresentado e discutido. É este segundo desdobramento que orienta o presente artigo.

O levantamento (GIL, 2017) em bases de dados está aqui a serviço de dois obje-tivos: delinear um perfil quantitativo da pesquisa em moda e literatura no Brasil e pro-por uma tipologia das suas abordagens. Para dar conta deles, o levantamento buscou dissertações e teses sobre o tema primeiramente na BDTD; depois, constatadas as limitações, considerou também o Catálogo de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). As especificidades meto-dológicas relativas a essa etapa são apresentadas adiante.

A tipologia de abordagens, por sua vez, foi construída com base nas possibilida-des da articulação entre moda e literatura informadas na chamada de trabalhos para a mencionada edição de dObra[s]: a) moda como estratégia de criação literária; b) moda como registro histórico em obras literárias; c) obras ficcionais que retratam o universo da moda; d) literatura como inspiração para a criação de moda (CHAMADA LETRAS, 2019). A essas categorias foram acrescidas outras, a partir da observação do corpus. O novo conjunto foi então submetido a uma semiotização e resultou na tipo-logia das abordagens, organizada segundo o modelo do quadrado semiótico (GREI-MAS; RASTIER, 1975). Antes de chegar a esse modelo tipológico, o artigo descreve o percurso da busca sistematizada, discute os resultados encontrados e apresenta o perfil quantitativo da pesquisa brasileira em moda e literatura.

2 BDTD E CATÁLOGO CAPES: O QUE DIZEM SOBRE A PESQUISA EM MODA E LITE-RATURA NO BRASIL

A BDTD é um base que “[…] integra os sistemas de informação de teses e disser-tações existentes nas instituições de ensino e pesquisa do Brasil, e também estimula

o registro e a publicação de teses e dissertações em meio eletrônico” (BDTD, [201?]). O levantamento começou por essa base porque o Catálogo não oferece ferramentas de busca adequadas; a consulta pelo par “moda” e “literatura” resultou em mais de 124 mil entradas: o sistema retorna correspondências inexatas (“modalidade” como resultado para “moda”, por exemplo) e os filtros disponíveis (“área de conhecimento”, “área de avaliação”, “área de concentração”) não refinam suficientemente os resulta-dos. Além disso, um estudo comparativo aponta uma ligeira superioridade da BDTD em relação ao Catálogo nos quesitos confiabilidade das informações e acesso aos trabalhos (SARMENTO, 2014).

A BDTD permite a busca combinada por campos e por correspondência dos termos. Como o objetivo era encontrar trabalhos que articulam intencionalmente a moda e a literatura, esses dois termos foram filtrados nos campos “resumo”e “assun-to”. Dessa busca resultaram apenas 13 trabalhos, dos quais 9 não eram pertinentes. Aos 4 pertinentes somaram-se outros 2, sugeridos pelo sistema como “relacionados”. Eles não apareceram na busca original por não apresentarem os termos nas condi-ções estabelecidas, mas são trabalhos que atendem aos objetivos da busca: em um deles, a “moda” está compreendida pelo termo “vestuário”; em outro, a “literatura” está compreendida pelos termos “contos” e “Machado de Assis”. A sugestão do siste-ma sinalizou a necessidade de se ampliar os termos de busca.

É pouco razoável que haja apenas 6 trabalhos de pós-graduação em moda e literatura, visto que até um site geral e não especializado apresenta um verbete sobre o tema (SANTANA, 2011). Além disso, não aparecem entre os resultados pesquisas bastante conhecidas, a exemplo de duas dissertações depois publicadas em livro (SA-LOMON, 2010; RODRIGUES, 2010). Tem-se aí então a limitação da BDTD: apesar da qualidade dos resultados, em termos quantitativos ela não identifica o que de fato se produz, na articulação das referidas áreas, no Brasil.

Apesar de distorcido, o resultado aponta uma discussão relevante: a BDTD é usada para a “pesquisa da pesquisa”, a exemplo de uma dissertação que constata a escassez — apenas 13 trabalhos — da produção bibliográfica sobre “moda e forma-ção humana” (ALEIXO, 2017). Seria esse um resultado representativo da produção brasileira ou seria uma “falsa” escassez, oriunda da limitação da base?

Uma possível explicação para essa limitação é que a BDTD agrega os dados das bases das Instituições de Ensino Superior (IES), mas desde que estas formalizem o in-teresse em integrar a Biblioteca. Já o Catálogo da Capes é alimentado compulsoria-mente pelos programas de pós-graduação (PPG). Por isso, enquanto a BDTD é “mais confiável”, o Catálogo é mais completo; enquanto a BDTD é mais produtiva devido aos filtros, o Catálogo é pouco objetivo devido à ausência deles. Ambos, porém, in-dexarão de forma distorcida se os metadados não forem preenchidos corretamente pelas IES — e então os trabalhos não serão encontrados.

Diante das limitações da BDTD, foi necessário recorrer ao Catálogo da Capes, a partir da consulta ao portal de Dados Abertos da Capes (que alimentam o Catálogo). Ali estão planilhas com todas as teses e dissertações defendidas desde 1987 (DADOS ABERTOS, 2017). Não tendo o domínio da técnica de mineração de dados, esta autora “baixou” e “filtrou” todas as planilhas, por meio do campo “resumo”, em busca de en-tradas que apresentassem o par “moda” e “literatura”. As entradas resultantes foram

conferidas individualmente e selecionadas aquelas que atendiam ao critério, verifica-do pela leitura do título, do resumo e das palavras-chave. Os trabalhos selecionados estão apresentados no quadro 1, na seção seguinte. Esse quadro foi alimentado tam-bém com os resultados de uma pesquisa adicional, no Catálogo, por trabalhos com os termos “vestuário”, “indumentária” e “roupa”.

Entende-se por pesquisa em moda e literatura aquela que busca efetivamente articular as duas áreas em suas observações. Não é necessário que os próprios ter-mos estejam presentes. A literatura pode estar “representada” pelos gêneros literá-rios, obras e autores; a moda, pelos termos “vestuário”, “roupa” e “indumentária”. No entanto, não foram considerados trabalhos que tratam de figurino e teatro, ainda que essas duas áreas possam se encaixar em moda e literatura.

3 PERFIL QUANTITATIVO DA PESQUISA EM MODA E LITERATURA

O levantamento de trabalhos (realizado em outubro de 2019) resultou em 31 registros, cujas ocorrências mais significativas estão apresentadas no quadro 1.


QUADRO 1 – Teses e dissertações sobre moda e literatura no Brasil entre 1987 e 2019 – resumo
QUADRO 1 – Teses e dissertações sobre moda e literatura no Brasil entre 1987 e 2019 – resumo
Fonte: Baggio (2019). Elaborado pela autora.

O gênero predominante de autoria dos trabalhos é o feminino; a maior parte

é de mestrado (e 3 deles continuaram no doutorado), realizados especialmente em programas de pós-graduação em letras e literatura (ciência da literatura, teoria li-terária, estudos literários, estudos da linguagem). Os demais vêm de programas de história (4), artes e cultura (3) e moda (2). As instituições dos pesquisadores são ma-

joritariamente públicas e da região Sudeste. Dentre elas, destaca-se o Centro de En-sino Superior de Juiz de Fora (4 trabalhos, pós-graduação em letras, entre os anos de 2012 e 2014). A Universidade Federal do Espírito Santo, a Universidade de São Paulo e a Universidade Estadual de Campinas apresentam 3 trabalhos cada.

Os registros mais antigos são de 2007, e os mais novos, de 2019. Há mais traba-lhos em 2013 (5), 2016 (4) e 2018 (5), períodos que coincidem com um aumento dos cursos de graduação em moda (BAGGIO, 2018). Muitos professores desses cursos, a exemplo de alguns autores registrados no levantamento, desenvolvem suas pesqui-sas de pós-graduação em letras ou em outras áreas, devido às ainda poucas opções, nesse nível, na área de moda.

Quanto às palavras-chave dos trabalhos, “moda” e “literatura”, além de se tra-tar de palavras, são entendidas também como hiperônimos de termos específicos. Um autor é hipônimo de literatura, assim como um estilista é hipônimo de moda, por exemplo. As palavras-chave foram classificadas inicialmente como parte de uma dessas categorias principais ou de nenhuma delas, o que forma a categoria “outra”. Das 136 palavras-chave (média de 4,3 palavras por trabalho), 36% são da categoria “outra”, 40% dos termos são de literatura e 24%, de moda (quadro 2).


Quadro 2 – Palavras-chave das teses e dissertações sobre moda e literatura no Brasil entre 1987 e 2019 – resumo
Quadro 2 – Palavras-chave das teses e dissertações sobre moda e literatura no Brasil entre 1987 e 2019 – resumo
Fonte: Baggio (2019). Elaborado pela autora.

Os termos de cada categoria foram classificados, por sua vez, em sete subcate-gorias:1 1) obra; 2) autoria; 3) gênero – literário (por exemplo, conto) ou da moda (por exemplo, indumentária); 4) tema; 5) objeto; 6) local; e 7) época.

A palavra “moda” aparece mais vezes (16) do que “literatura” (10), ainda que a categoria literatura tenha mais palavras, pois a referência a ela se dá também pela menção aos autores e às obras. Das 24 menções a autoria, ocorrem mais de uma vez Machado de Assis (7), José de Alencar (2), Joaquim Manuel de Macedo (2) e Ronaldo Fraga (2) — o único “autor” citado na categoria moda. Em termos de obra, a única recorrência é Lucíola, de José de Alencar (2 menções). Nota-se que as palavras refe-rentes a autoria e obras estão mais na literatura, enquanto tema e gênero são ligeira-mente predominantes na moda.

Considerando as ocorrências mais frequentes, o perfil da pesquisa em moda e literatura no Brasil pode ser assim resumido: dissertações de autoria feminina, reali-zadas em universidades públicas da região Sudeste, em programas de pós-graduação

em letras/literatura, defendidas em 2015 e 2018; mais palavras-chave do campo da literatura do que do campo da moda e uma grande prevalência de escritores brasilei-ros do século XIX, especialmente Machado de Assis.

Ocorrências não majoritárias, mas significativas, são a grande presença de dis-sertações defendidas em instituições privadas (42% dos trabalhos desse nível), mas nenhuma tese. Dentre os programas, destaca-se também o de história, reforçando uma das abordagens da moda e literatura, que é o estatuto de documento histórico tanto da literatura quanto da moda manifestada nos livros.

4 TIPOLOGIA DAS ABORDAGENS DA PESQUISA EM MODA E LITERATURA

A abordagens do tema moda e literatura sugeridas na chamada de trabalhos já mencionada servem aqui como ponto de partida para se pensar a tipologia de classi-ficação dessas pesquisas, que se constrói a partir de uma axiologia das duas catego-rias principais, articuladas de diferentes formas (diagrama 1).

A primeira articulação é associada à “moda como estratégia de criação literá-ria”, sugerindo pesquisas em que a moda é usada pela literatura para falar de coisas internas à literatura. Chamemos de (1) a moda pela literatura para a literatura; dessa posição, deriva outra: a moda usada pela literatura, mas para falar de coisas externas

à literatura. É (2) a moda pela literatura não para a literatura. Dentre as sugestões da chamada, encaixa-se aqui “a moda como registro histórico em obras literárias”. Po-de-se ampliar esse grupo para pesquisas sobre a moda como expressão de aspectos sociais, filosóficos, linguísticos e, inclusive, da própria moda. Esta última especifici-dade integra outra sugestão da chamada de trabalhos: pesquisas que estudam “obras ficcionais que retratam o universo da moda”.

A esse par opõe-se semanticamente aquele cujo cerne é a moda. Tem-se en-tão a literatura usada pela moda para falar de coisas internas à moda, ou seja, (3) a literatura pela moda para a moda. A abordagem da chamada que se enquadra aqui é “a literatura como inspiração para a criação de moda”, e pode abarcar o estilismo, a publicidade das marcas de moda, os desfiles, o vitrinismo e outras atividades inspira-das na literatura ou influenciadas por esta. A quarta posição é a literatura usada pela moda para falar de coisas externas à moda ou (4) a literatura pela moda não para a moda; nela, os elementos da literatura manifestados pela moda servem para pensar questões de cultura, comunicação, estética, formação de gosto. Para essa posição não há correspondente entre as sugestões da chamada de trabalhos.

Com a ajuda do quadrado semiótico proposto por Algirdas Julien Greimas e François Rastier (1975), a axiologia em questão pode ser articulada conforme o dia-grama 1:


Diagrama 1 – Taxonomia da articulação moda e literatura
Diagrama 1 – Taxonomia da articulação moda e literatura
Fonte: Elaborado pela autora, 2019.

A distribuição da tipologia não significa a priori uma apreciação sobre cada abordagem: trata-se de uma sistematização dos tipos de articulação possíveis entre moda e literatura, a depender dos objetivos de cada pesquisa. No entanto, se hou-ver uma sobreposição, a este diagrama, de discursos com juízos de valor sobre cada trabalho, o modelo permite observar quais abordagens são mais eufóricas (valoradas positivamente), e quais são disfóricas (valoradas negativamente). Isso pode ser útil para detectar eventuais resistências e preconceitos nos dois campos do conheci-mento — o da literatura e o da moda — e em seus espaços de produção e divulgação de pesquisas, como programas de pós-graduação e periódicos científicos.

A simulação do percurso entre as posições por meio de uma elipse mostra o movimento que pode haver, entre os tipos de abordagem, no decorrer do tempo ou dentro da trajetória de pesquisa de uma mesma pessoa ou instituição. É uma forma de observar evoluções e tendências.

Por fim, o modelo também faz notar quais as abordagens mais frequentes. Ope-rado no corpus deste artigo, o modelo mostra que as pesquisas se dividem majori-tariamente entre aquelas do tipo 1 (15 trabalhos) — recursos retóricos e estilísticos, constituição identitária e literária de personagens, caracterização de linguagem, po-éticas em geral — e do tipo 2 (14 trabalhos) — aspectos socio-históricos, de consumo, de gênero, de comportamento e de questões da própria moda. Aparece ainda o tipo 3, em que a literatura é usada pela moda para tratar da própria moda, como os 2 tra-balhos sobre a influência da literatura nas criações de Ronaldo Fraga.

No corpus parece não haver trabalhos do tipo 4. A título de ilustração, uma pes-quisa desse tipo seria a discussão das aproximações entre camisetas outdoor e a po-esia marginal da Geração Mimeógrafo, entendendo as camisetas como comunica-doras culturais. Assim, o trabalho investiga como a literatura, na moda, não fala de moda, mas de comunicação e de cultura (DEFILIPPO; REZENDE, 2017).

Realizar pesquisas com esta última abordagem pode resultar em trabalhos mais originais em moda e literatura. Há também uma grande potencialidade em se pensar a articulação do tipo 3. Uma maior proximidade com a literatura por pesquisadores de moda pode contribuir para que se “encontrem”, na moda, referências literárias além daquelas já bastante explícitas e exploradas por Ronaldo Fraga.

Sobre os trabalhos de tipo 1 e tipo 2, a moda tem sido investigada majoritaria-

mente em relação a autores e romances brasileiros do século XIX. O conjunto pode-ria ganhar frescor com a investigação de produções de poéticas e épocas diferentes daquelas do romantismo ou do realismo, que tanto marcaram nossa literatura.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo teve como objetivos principais apresentar um perfil quantitativo da pesquisa brasileira sobre moda e literatura e propor uma tipologia das suas aborda-gens investigativas; o perfil foi elaborado a partir de uma busca sistematizada em bases de dados de dissertações e teses: a BDTD, o Catálogo Capes e a plataforma de Dados Abertos da Capes. As duas últimas foram consultadas depois da consta-tação da limitação da BDTD quanto à abrangência dos resultados. Tal limitação foi entendida como um resultado parcial e relevante para discussão dos procedimentos e percalços metodológicos que, apesar de nem sempre evidentes na publicação da pesquisa, obviamente, fazem parte dela.

O perfil quantitativo apresenta uma visão sobre alguns aspectos da pesquisa em moda e literatura no Brasil, restritos àqueles que podem ser apreendidos pelo título, pelo resumo e pelas palavras-chave de trabalhos de pós-graduação. Esse perfil pode ser complementado por investigações de tipo qualitativo, que observem outras facetas e considerem outras produções. Não se deixa de assinalar, ainda, que estão ausentes outras dissertações e teses sobre o tema — ou por terem sido defendidas antes de 1987 (ano inicial dos registros nos dados da Capes) ou por não terem sido encontradas a partir dos critérios e procedimentos de busca. A autora agradece a quem se dispuser a informá-la sobre essas eventuais lacunas.

O segundo objetivo — a proposição de uma tipologia da pesquisa em moda e literatura — realizou-se a partir da sistematização, no modelo do quadrado semióti-co, das abordagens que dizem respeito a como a moda, na literatura, fala ou não da literatura, e a como a literatura, na moda, fala ou não da moda. Operada no corpus, a tipologia mostrou as abordagens predominantes e aquelas que podem ser mais ex-ploradas; indicou também o que tem sido feito com mais frequência, o que pode já estar em ponto de saturação, e o imenso campo ainda a ser desbravado.

Acredita-se que esta tipologia possa ser produtivamente operada em outras pesquisas sobre moda e literatura, seja na fase de elaboração do projeto de pesquisa (como apoio para a delimitação de problemas e objetivos), seja na própria investi-gação. Dessa forma, manifesta sua intenção de integrar a epistemologia do campo formado pela articulação entre esses dois temas.

Referências

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GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2017.

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