Servicios
Descargas
Buscar
Idiomas
P. Completa
O Sacrifício da Democracia: Teoria Mimética e o Papel da Grande Imprensa Brasileira na Emergência do Bolsonarismo
Guilherme Sfredo Miorando
Guilherme Sfredo Miorando
O Sacrifício da Democracia: Teoria Mimética e o Papel da Grande Imprensa Brasileira na Emergência do Bolsonarismo
The Sacrifice of Democracy: Mimetic Theory and the Role of Mainstream Brazilian Press in the Emergence of Bolsonarism
El Sacrificio de la Democracia: Teoría Mimética y el Papel de la Gran Prensa Brasileña en el Surgimiento del Bolsonarismo
Revista Comunicando, vol. 12, núm. 1, e023003, 2023
Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação
resúmenes
secciones
referencias
imágenes

Resumo: Este artigo se propõe a discutir como os levantes antidemocráticos bolsonaristas tiveram seu embrião no discurso antipetista disseminado pela grande mídia brasileira. Nessa direção, entendo que os conceitos de pânico moral e de demônios populares, de Stanley Cohen e a teoria mimética de René Girard ajudam a lançar luz sobre a mobilização que tomou conta do Brasil. A pacificação do país se daria através da violência aplicada sobre um bode expiatório. Ademais, a partir de leituras de Jacques Rancière e David Runciman, defino que o bode expiatório que tais movimentos buscam sacrificar não se trata de figuras do petismo, mas sim do próprio exercício da democracia. Isso é percebido uma vez que os movimentos antidemocráticos bolsonaristas se desenvolveram por meio do cultivo de ideias de desconfiança por figuras da grande mídia brasileira. As reivindicações desses movimentos contra a democracia são baseadas em sentimentos autoritários, vitimistas e no discurso de combate a uma noção de corrupção inevitável que estaria entranhada em toda forma de política e de partidarismo.

Palavras-chave: Democracia, Imprensa, Teoria Mimética, Bode Expiatório, Bolsonarismo.

Abstract: This article proposes to discuss how the anti-democratic Bolsonarist uprisings had their embryo in the anti-PT discourse disseminated by the Brazilian mainstream media. In this sense, I understand that Stanley Cohen's concepts of moral panic and popular demons and René Girard's mimetic theory help shed light on the mobilization that took over Brazil. The pacification of the country would take place through violence applied to a scapegoat. Moreover, based on readings by Jacques Rancière and David Runciman, I define that the scapegoat that such movements seek to sacrifice is not about PT figures, but about the exercise of democracy itself. This is perceived since Bolsonarism’s anti-democratic movements developed through the cultivation of ideas of mistrust by figures in the Brazilian mainstream media. The claims of these anti-democracy movements are based on authoritarian, victimism feelings and on the discourse of combating a notion of inevitable corruption that would be ingrained in every form of politics and partisanship.

Keywords: Democracy, Press, Mimetic Theory, Scapegoat, Bolsonarism.

Resumen: Este artículo se propone discutir cómo los levantamientos bolsonaristas antidemocráticos tuvieron su embrión en el discurso anti-PT difundido por los grandes medios brasileños. En ese sentido, entiendo que los conceptos de pánico moral y demonios populares de Stanley Cohen y la teoría mimética de René Girard ayudan a arrojar luz sobre la movilización que se apoderó de Brasil. La pacificación del país se daría a través de la violencia aplicada a un chivo expiatorio. Además, con base en las lecturas de Jacques Rancière y David Runciman, defino que el chivo expiatorio que tales movimientos buscan sacrificar no son las figuras del PT, sino el ejercicio mismo de la democracia. Esto se percibe desde que los movimientos antidemocráticos bolsonaristas se desarrollaron a través del cultivo de ideas de desconfianza por parte de figuras de los principales medios de comunicación brasileños. Los reclamos de estos movimientos antidemocráticos se basan en sentimientos autoritarios y victimistas y en el discurso de combatir una noción de corrupción inevitable que estaría arraigada en todas las formas de política y partidismo.

Palabras clave: Democracia: Prensa, Teoría Mimética, Chivo Expiatorio, Bolsonarismo.

Carátula del artículo

Comunicação Política

O Sacrifício da Democracia: Teoria Mimética e o Papel da Grande Imprensa Brasileira na Emergência do Bolsonarismo

The Sacrifice of Democracy: Mimetic Theory and the Role of Mainstream Brazilian Press in the Emergence of Bolsonarism

El Sacrificio de la Democracia: Teoría Mimética y el Papel de la Gran Prensa Brasileña en el Surgimiento del Bolsonarismo

Guilherme Sfredo Miorando
Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Brasil
Revista Comunicando
Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, Portugal
ISSN: 2184-0636
ISSN-e: 2182-4037
Periodicidade: Semestral
vol. 12, núm. 1, e023003, 2023

Recepção: 15 Novembro 2022

Aprovação: 09 Março 2023

Publicado: 23 Março 2023


1. Introdução

Em 30 de outubro de 2022, Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito o novo presidente da República Federativa do Brasil, após uma campanha acirrada contra o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro. Horas depois, os grupos de mensagens bolsonaristas se enchiam de postagens conclamando para manifestações pedindo “intervenção militar” sobre o resultado das eleições divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No dia seguinte, grupos de simpatizantes do bolsonarismo se colocaram em protestos, obstruindo estradas em quase todos os estados da federação, impedindo os cidadãos de exercerem seu direito de ir e vir. Dispersados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), esses mesmos grupos passaram a se concentrar em frente a quartéis-generais das Forças Armadas Brasileiras (FA) exigindo a tomada do poder executivo pelos militares (Teles & Lima, 2022).

Tais movimentações, ainda que estejam dentro das leis, provocaram episódios de violência contra jornalistas, menores de idade, entre outras pessoas que não necessariamente discordavam dos protestos. Esse movimento também gerou uma proliferação de memes, cômicos ou não, que denotavam a mentalidade do bolsonarismo como participante de um país paralelo, em que diversas teorias da conspiração de ordem de sua oposição vigoravam (Martins, 2022). Ao mesmo tempo, diversas manifestações que aproximavam o movimento ao nazismo ocorreram em diversas partes do país, como por exemplo em São Miguel do Oeste (SC). A saudação nazista feita nesta cidade catarinense provocou reações do Museu do Holocausto e das embaixadas da Alemanha e Israel (O Globo, 2022a).

Atos de violência física e de violência simbólica são atentados contra a democracia, sistema de governo que se vê, dia após dia, mais acuado e os direitos que esse tipo de Estado prevê, mais cerceados pelo próprio povo da nação brasileira. Os bolsonaristas parecem, em seus protestos, pedir o sacrifício da democracia brasileira, para encerrar seus próprios atos violentos.

Neste artigo apresento uma análise de conjuntura abordando como a democracia brasileira foi ameaçada reiteradas vezes, por diversas forças, incluindo as de ordem jurídica, política e midiática (Jarrín et al., 2022). Enfoco o papel da grande imprensa e de determinados jornalistas brasileiros nesse processo. O objetivo deste ensaio é expor como os fundamentos dos processos democráticos têm sido retratados como um bode expiatório, dentro da teoria mimética de René Girard (2004). O sentido projetado no discurso de alguns comunicadores é de que sacrificar o envolvimento e o confronto político poderia conter ondas cada vez mais impactantes de violências físicas e simbólicas. Por fim, traço algumas das consequências do enfraquecimento da democracia e sua tomada como bode expiatório civilizacional para o jornalismo e a mídia tradicional em si.

Democracia é uma expressão grega que vem da junção das palavras demos (coletivo) e kratos (poder) que, desta feita, significa o poder que emana do povo. “A democracia é uma forma de regime e sociedade que faz da igualdade política entre pessoas com interesses e objetivos diferentes seu grande motor de transformação” (Schwarcz, 2022, p. 52). Contudo, muitos pensadores como Gilles Lipovetsky (2006), acreditam que esse mesmo ideal de igualdade política providenciado pela democracia é o que a está fazendo ser corroída. O filósofo francês acredita que a era democrática acirrou uma tendência à decepção e frustração nas pessoas, o que acabou gerando o ressentimento político e a polarização. Também acredita que a atual fase do capitalismo, baseado na construção de identidades através do consumo, e no neoliberalismo de austeridade, em que a individualidade toma conta dos sentimentos coletivos, a capacidade da democracia e do poder político e econômico lidarem com as mudanças da sociedade ficaram comprometidas.

Consoante a esses pressupostos, Jaques Rancière (2014) define que a própria forma como a democracia moderna está estabelecida rompe o limite do político através da capacidade de extinguir limites conduzida pelo neoliberalismo e o consumismo. A destruição dos limites, segundo o autor, é romantizada e incentivada na sociedade do século XXI. Rancière acredita que a democracia é, em essência, uma oligarquia, já que uma classe, os políticos, são quem se alternam no poder, mantendo a capacidade de decidir por um Estado nas mãos de poucos. Uma dessas metamorfoses da democracia oligárquica, para o autor, é o populismo, que define como uma aspiração de governar sem povo, sem divisão de povo, governar sem política. Tal condição revela um paradoxo da política, onde toda legitimidade se concentra na ausência de legitimidade, ao mesmo tempo que um discurso de igualdade mina possibilidades de paridade de possibilidades para todos.

2. Configurações do Bolsonarismo e Levantes Antidemocráticos

Conforme apontam autores como Idelber Avelar (2021), o bolsonarismo não é um movimento que surgiu com a figura ou a ascensão política de Jair Bolsonaro, de deputado federal à candidato a presidente da República. Essa tendência social (Santos, 2017), que também pode ser encarada como uma mentalidade, tem suas raízes no sentimento antipetista, desenvolvido em esferas políticas, jurídicas e midiáticas, em direção ao público geral, como irei explicar mais à frente. O antipetismo surge com mais força a partir da deflagração do escândalo do mensalão, um sistema de compra de votos desenvolvido por lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT), que veio à tona em 2005. Bolsonaro, entretanto, deu corpo a este movimento, se colocando como um paradoxo: discursa como alguém antissistema sendo parte do próprio sistema, gerando um efeito antipolítico (Solano et al., 2021; Santos Junior, 2019). Nesse sentido, Bolsonaro manipula a interpretação dos acontecimentos a seu favor, utilizando-se do negacionismo e das fake news. Esta forma de encarar o sistema de governo, além de se estender para uma forma extrema de populismo, também é antidemocrática, desafiando as instituições que asseguram que a escolha popular funcione.

Bolsonaro está alinhado àquilo que ficou denominado como far-right (Mudde, 2019), em uma vertente que empresta suas estratégias e táticas da alt-right estadunidense e sua filosofia dos escritos de Olavo de Carvalho (Teitelbaum, 2020). Alguns autores classificam o bolsonarismo como um “populismo reacionário” (Lynch & Casimiro, 2022; Zicman de Barros & Lago, 2022), outros como um “nacionalismo populista” com contornos fascistas (Eatwell & Goodwin, 2020). Dentro de suas características populistas, o bolsonarismo não seria mais que uma das mutações do autoritarismo brasileiro (Schwarcz, 2019), baseado em estruturas de mando que imperam desde o período colonial deste país.

Através da comoção popular, causada entre outras características, pelo carisma do líder autoritário e da manipulação da comunicação, principalmente a digital, o bolsonarismo tem a capacidade de movimentar uma massa de manobra de acólitos em manifestações de apoio ao redor do Brasil (Piovezan & Gentile, 2020). Esta comoção já havia sido sentida desde antes do resultado das eleições de 2018, mas foi percebida com mais intensidade nas manifestações do dia 7 de setembro de 2021, quando se comemorou a Independência do Brasil. Nesta ocasião, em pronunciamento público, Bolsonaro desferiu palavras de ordem contra as instituições e à Constituição de 1988, mas principalmente contra os integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF) (BBC, 2021). Levantes semelhantes ocorreram posteriormente, com mais destaque aos protestos pós-eleição de Lula, em 2022, conforme informado no início deste artigo.

Rocha et al. (2021), apontam a dimensão antissistêmica do bolsonarismo como um de seus paradoxos, na direção em que investem sentidos de quem é historicamente o opressor e o oprimido nas dualidades exploradas pelo movimento. Outro paradoxo é a forma como o bolsonarismo se comporta no governo, se colocando como “contra tudo isso que está aí”, mesmo sendo tal mentalidade que detém o poder central do país. Tais paradoxos acarretam num sentimento de injustiça e desigualdade na população, que gera, em decorrência, o ressentimento e o vitimismo, conforme Rancière (2014) já apontou. O negacionismo, obviamente, também é uma característica que se desenvolve a partir das convoluções centrípetas de sentidos aplicadas na filosofia bolsonarista.

Tudo na forma de pensar bolsonarista parece visar o desenvolvimento de um pânico moral, conforme as teorias desenvolvidas por Stanley Cohen (2011) ao analisar as constantes altercações entre as tribos mods e rockers, no Reino Unido dos anos 1950. Para Cohen, o pânico moral é um estado de alarme generalizado e coletivizado, motivado por acontecimentos e entendimentos que causam uma disrupção no cotidiano do público, sendo insuflado pelos meios de comunicação social. Em sua análise, os jornais, as revistas e a televisão, enfim, o jornalismo em geral da época que, ao discutir exaustivamente esses temas, desenvolve um sentimento de insegurança na população. Ao mesmo tempo em que o pânico moral cresce, a mídia e o público escolhem seus demônios populares (folk devils) que seriam a encarnação daquele sentimento de pavor e que somente debelados poderiam acabar com o estado de alarme em que a comunidade se encontra (Cohen, 2011).

Alguns exemplos de pânico moral no discurso do bolsonarismo são as disseminações das fake news do “kit gay” e da “mamadeira de piroca”. Seu objetivo era fomentar o temor de uma alegada doutrinação por parte de lideranças de esquerda na construção de uma agenda rotulada como “ideologia de gênero”. A proposta dessa pregação seria convencer as crianças a se tornarem feministas ou LGBTQIAPN+, abalando assim a família tradicional brasileira como base da sociedade (Viscardi, 2020).

Não podemos esquecer, contudo, que o bolsonarismo veio antes de Bolsonaro e o pânico moral que o assentou no poder executivo do Brasil vem sendo trabalhado muito antes de sua ascensão. Tal sentimento surge a partir da primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência do Brasil, em 2002, quando as elites tradicionais brasileiras, insatisfeitas com a vitória da esquerda, começam a se articular, desenvolvendo o começo de um movimento que transformaria as “direitas envergonhadas” nas novas direitas (Rocha, 2022). O sentimento antipetista tomou conta do país com o supracitado estouro do escândalo do mensalão, que obteve alta cobertura da imprensa brasileira.

3. O Papel da Grande Imprensa Brasileira na Disseminação do Sentimento Antipetista

Algumas figuras da grande imprensa brasileira foram responsáveis pelo sentimento de pânico moral a respeito da figura de Lula e do PT. Inclusive sendo posteriormente apelidados por ativistas de esquerda como Partido da Imprensa Golpista (PIG) (Venturini, 2014). Merval Pereira, do jornal O Globo e da Rede Globo, foi um dos jornalistas que aproveitou sua cobertura durante o escândalo do mensalão para, além de ter se tornado comentarista no canal pago GloboNews, publicar os livros O Lulismo no Poder (2010) e Mensalão: O dia a dia do maior julgamento da história da política do Brasil (2013). Conquistou em 2011, uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL) e atualmente é presidente desta associação (O Globo, 2022).

Outra figura de destaque da imprensa que auxiliou na criação do pânico moral antipetista foi Diogo Mainardi, que escrevia uma coluna semanal na revista Veja e foi um dos integrantes da bancada do programa dominical Manhattan Connection, do sistema Globosat. Mainardi costumava escrever sobre literatura e cultura em sua coluna na Veja, mas em 2002, ano da primeira eleição de Lula, começou a escrever sobre política e economia na revista. Um dos textos que marcam essa mudança foi a coluna intitulada “A cultura me deprime” (Mainardi, 2002). Em 2007, Mainardi publicou uma coletânea de suas colunas em Veja sobre o escândalo do mensalão em um livro chamado “Lula é minha anta”.

Colecionador de polêmicas, seja em seu espaço no semanário como no programa dominical, Mainardi foi um dos jornalistas que apresentou traços de xenofobia reiteradas vezes, como ao se instatisfazer com o povo da região nordeste do país por elegerem em massa Dilma Rousseff (Documentaryondemand, 2014). Seu desligamento do programa Manhattan Connection foi acarretado por xingamentos feitos ao vivo contra o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, devido a discordâncias entre os dois a respeito das decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo o ex-juiz Sergio Moro (Padiglione, 2021). Mainardi também foi fundador, ao lado de Mario Sabino, do site O Antagonista em 2015, veículo que acumulou também diversas controvérsias legais e de ética jornalística, principalmente ligadas aos desdobramentos da Operação Lava-Jato, comandada pelo então juiz Sergio Moro (Martins et al., 2020).

Neste passo, é inegável que Sergio Moro foi uma das figuras mais proeminentes dos levantes antipetistas e que também insuflou na população brasileira sentimentos dessa ordem. Além de ter requerido a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva e promovido uma intensa perseguição ao político e seus aliados durante a Operação Lava Jato, Moro foi o indivíduo mais incensado pela grande imprensa durante todo este processo legal. Tarcis Prado Junior (2020) examina com detalhes como foi a construção heróica de Moro desenvolvida pelo jornal paranaense Gazeta do Povo, comparando-o diversas vezes a figuras como Superman e Batman.

Com as intenções de Sergio Moro e de seu braço-direito Deltan Dallagnol de desarticular as pretensões de Lula à presidência do Brasil em 2018 reveladas pelo site The Intercept, no case que ficou conhecido como Vaza Jato (Greenwald et al., 2019), sua popularidade começou a minguar. Inclusive catalisada pela grande imprensa. Os próprios Merval Pereira e Diogo Mainardi foram grandes entusiastas das decisões de Sérgio Moro contra Lula e o PT. Reinaldo Azevedo, escritor do livro “O país dos petralhas” (2008) e sua continuação “O país dos petralhas II” (2012) — que criou o neologismo “petralha”[1]—, foi um dos jornalistas que mais perseguiu Lula. Trabalhou essas críticas em veículos como Folha de S. Paulo e Veja. Contudo, Reinaldo mudou seu posicionamento sobre o PT e Lula após seu programa de rádio, O É da coisa, da BandNews FM São Paulo, ser um dos veículos que divulgaram o escândalo da Vaza Jato.

A articulação política da grande imprensa representada pelos jornalistas Merval Pereira, Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo contra o PT foi uma das principais geradoras do pânico moral antipetista no Brasil, contribuindo para o desenvolvimento e consolidação do movimento e da mentalidade do bolsonarismo e suas ações antidemocráticas. Contudo, além do papel da imprensa, é preciso destacar o frisson gerado pela indústria editorial sobre livros antipetistas e alinhados à direita.

A Editora Record foi a casa publicadora responsável por trazer ao público os principais livros destes três jornalistas, bem como editou diversos livros de Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo e dono do blog de imprensa alternativa Mídia Sem Máscara, que se opunha aos grandes conglomerados jornalísticos. Rodrigo Constantino, discípulo de Olavo, que arrebanhou diversas controvérsias envolvendo seus textos contra a esquerda, também foi publicado pelo Grupo Record. Todos esses livros foram sucesso de público e vendas, e constam nas listas de publicações de não-ficção mais vendidas da revista Veja por diversas semanas após seu lançamento (Sereza, 2021). Nessa onda de livros voltados para entusiastas da nova direita e do antipetismo, já durante a consolidação do bolsonarismo, surgiram e se destacam demais casas publicadoras como a É Publicações e Vide Publicações (Rocha, 2022), e mais recentemente a Faro Editorial com o selo Avis Raras.

Ainda alinhada com o bolsonarismo, se deu a criação da TV Jovem Pan News em 2021, no auge da pandemia de covid-19 (Ravache, 2022). A emissora começou a buscar em novembro do mesmo ano comentaristas alinhados à esquerda para tentar desfazer a imagem de bolsonarista que a rede de comunicação Jovem Pan possuía (Vaquer, 2021). Contudo, durante as eleições de 2022, foi uma das emissoras de televisão a oferecer mais espaço de tela a Jair Bolsonaro fora do horário eleitoral gratuito. A emissora também chegou a contratar personalidades alinhadas publicamente com Bolsonaro, como os jornalistas Alexandre Garcia e Caio Coppola e o ex-ministro bolsonarista do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Além disso, durante as polêmicas da Vaza Jato, o jornalista Augusto Nunes, da Rádio Jovem Pan, desferiu um soco no também jornalista Glenn Greenwald, então do The Intercept. A agressão foi divulgada ao vivo e publicamente, e aconteceu após Greenwald chamar Nunes de “covarde” (UOL, 2019).

Ressalto também o papel da TV Bandeirantes e da RedeTV! na popularização da imagem de Jair Bolsonaro em todo o Brasil. A RedeTV! convidava constantemente Bolsonaro a participar do programa de variedades de Luciana Gimenez, Superpop, levantando as diversas polêmicas envolvendo sua forma de encarar a realidade. Já na TV Bandeirantes, programas como Pânico na TV e CQC (Custe o que custar), apresentavam Bolsonaro como uma figura folclórica e carismática, digna das risadas do público. No Pânico na TV, seus apresentadores popularizaram o ato de “mitar” — uma expressão que poderia ser associada ao ato de sair por cima em uma discussão — no quadro “Mitadas do Bolsonaro”. O CQC, através do comediante Danilo Gentilli, trazia o quadro do “Repórter Inexperiente”, em que se fazendo de inocente e atrapalhado, o repórter dizia “verdades” para políticos em Brasília. Um dos mais visados era Jair Bolsonaro (Stycer, 2018).

A TV Bandeirantes também é a atual casa do jornalista José Luiz Datena, que apresenta o Brasil Urgente, programa com um conteúdo voltado ao sensacionalismo e à cobertura de crimes ao redor do Brasil. No dia 15 de janeiro de 2021, durante o agravamento da pandemia da covid-19 e a crise sanitária da cidade de Manaus, Datena concedeu espaço para que Jair Bolsonaro justificasse sua falta de atitude em relação a tais acontecimentos. O então presidente alegou diversas vezes que o STF o impediu de combater a pandemia, uma inverdade que foi desmentida pela suprema corte em nota (Conjur, 2021). Isso não impediu, contanto, que as fake news proferidas no programa de Datena fossem reproduzidas em grupos de mensagens disseminadas por deputados como Marco Feliciano e Bibo Nunes. Este último, jornalista com base no Rio Grande do Sul, se envolveu em inúmeras polêmicas, principalmente durante a pandemia. A mais recente dá conta de incentivos do comunicador para que estudantes de universidades federais fossem queimados vivos. Bibo Nunes concorreu a deputado federal em 2022 pelo Partido Liberal (PL), o mesmo de Jair Bolsonaro (Cioccari, 2022).

Autores como Jessé Souza (2016) apontam que grandes conglomerados midiáticos como a Rede Globo passaram, a partir do escândalo do mensalão, a comprometer o sistema político como um todo ao retratar não só PT mas todos os partidos políticos como inerentemente corruptos. Também, após as eleições de 2014, o candidato derrotado Aécio Neves, colocou em questão os resultados das urnas eletrônicas. A Rede Globo e outros atores conservadores aproveitaram os protestos contra a legitimidade da eleição, causando uma polarização ainda maior entre apoiadores e detratores do PT (Feres Jr. & Sassara, 2018). Foi também nessa época que a Operação Lava-Jato se popularizou e Sergio Moro foi alçado pela imprensa a herói nacional. Assim, Lipovetsky (2006, p. 42) atenta para o papel da televisão na construção da sociedade de consumo e na destruição da democracia:

Em particular, a televisão contribuiu para a difusão de um discurso simplificado ao máximo, de um linguajar asséptico, tecnocrático, sem farpas, “politicamente correto”, que já não faz sonhar, que já não consegue “tocar” em mais nada nem entusiasmar ninguém. Ao perder sua autoridade sagrada, o Estado-espetáculo banalizou e pasteurizou o cenário político.

O descrédito da democracia veio acompanhado com o descrédito dos grandes veículos de comunicação social, principalmente nos assuntos da arena política. Isso foi acarretado pela paradoxalidade de seu posicionamento nada velado, ao mesmo tempo em que, em suas publicidades institucionais se vendiam como neutras, seguindo uma pretensa ética jornalística.

Porém, sua cobertura dos eventos políticos apresenta consistentemente um viés contrário às pautas de esquerda e aos governos de centro-esquerda, notadamente quando se trata de políticas que beneficiam as classes menos favorecidas, indo contra os interesses das elites. Um exemplo disso é a apuração da retratação negativa do então ex-presidente Lula nos principais veículos de mídia do Brasil (Morais, 2021), pelo Manchetômetro, um site que acompanha a cobertura da grande mídia brasileira organizado com base nos trabalhos do grupo de pesquisa Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública (LEMEP) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Fernando Morais (2021), relata que, de acordo com levantamento feito pelo Media Ownership Monitor (MOM) e pelo Repórteres Sem Fronteiras (RSF), nove dos mais influentes meios de comunicação do Brasil pertencem às Organizações Globo, cinco ao Grupo Bandeirantes, cinco à seita neopentecostal da Igreja Universal do Reino de Deus, três ao Grupo Folha, um ao Grupo Estado e um, a revista Veja, à Editora Abril.

O Manchetômetro revelou que na cobertura da Operação Lava-Jato, o Jornal Nacional, da Rede Globo, exibiu o equivalente a uma semana de matérias negativas referentes a Lula. O site também verificou que entre as 48 capas da revista Veja, da Editora Abril, que citavam Lula durante o mesmo período, 35 associavam sua figura a ideias negativas.

A análise do Manchetômetro comprova a parcialidade da imprensa brasileira. Revela como a escolha editorial das organizações de imprensa busca pautar a recepção dos acontecimentos políticos pela população. Além das manchetes e capas, o mesmo ocorre na escolha dos principais colunistas e comentaristas destacados por essas empresas para expressar as posições editoriais.

A imprensa mainstream brasileira criou um estado ininterrupto de pânico moral que levou à caracterização de figuras petistas como demônios populares. Essa estratégia esteve ligada aos interesses políticos e econômicos desses meios e teve como resultado o fortalecimento de mentalidades extremistas que coalesceram no movimento bolsonarista. O descompromisso das grandes mídias com o rigor jornalístico e a ascensão da informação alternativa representada pelas redes sociais logo seriam explorados por organizações de direita, que também potencializariam suas táticas de desinformação com a veiculação de fake news através de aplicativos de mensagens. Ficou em aberto, porém, qualquer reflexão no sentido de estabelecer publicamente a responsabilidade da grande mídia por seu papel na deterioração do cenário político brasileiro.

4. A Teoria Mimética de René Girard e o Bode Expiatório

As movimentações antipetistas que tiveram colaboração de jornalistas da grande imprensa brasileira e que se somaram ao bolsonarismo sempre buscaram um culpado que unisse suas pautas. Essas articulações foram bem sucedidas ao realizarem o impeachment de Dilma Rousseff, que teve grande adesão popular e a desarticulação da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva para as eleições de 2018, através da prisão do mesmo, condenado pela Operação Lava Jato, em uma decisão tendenciosa do então juiz Sérgio Moro.

Como pode-se verificar direta ou indiretamente todos esses encadeamentos, incluindo a participação de indivíduos da grande imprensa, fazem parte de projetos de poder, individuais ou político-partidários, que têm como intenção a manutenção dessa força sob o controle das elites brasileiras, através de diversas configurações de autoritarismo. No caso dos jornalistas, trata-se de uma “elite de especialistas” ou ainda de “autoritários do conhecimento”.

Nesta seção pretendo articular a teoria do pânico moral de Cohen com a teoria mimética e do bode expiatório de René Girard (2004). Minha intenção ao analisar os objetivos do bolsonarismo e do antipetismo incrustado nele, é definir que o bode expiatório desse projeto de poder não são políticos como Lula ou Dilma. Os dois já foram culpabilizados e condenados pelo movimento. O bode expiatório do bolsonarismo é a própria democracia, que deve ser sacrificada para aplacar sua sede de violência intrínseca,

Segundo Michael Kirwan (2015), tornou-se comum estabelecer a teoria mimética de Girard em três partes: (1) a natureza mimética do desejo humano; (2) o mecanismo do bode expiatório como modo compensatório das sociedades lidarem com a competição gerada pelo desejo mimético; e (3) o papel dos evangelhos como paliativos para o mecanismo do bode expiatório. Dentro destas partes, neste artigo, desenvolvo paralelos com o primeiro e o segundo ítem, uma vez que acredito que para o terceiro ítem outras formas de escritas parabólicas e mitológicas, como as narrativas autobiográficas e da cultura pop, trazem revelações e ensinamentos relacionados ao efeito dos evangelhos para um público mais amplo e desacoplado dos dogmas cristãos.

Conforme vimos antes, através dos pressupostos de Lipovetsky (2017), a decepção e o ressentimento passaram a fazer parte da sociedade e, por essa razão, começaram também a minar o efeito da democracia contemporânea nas sociedades. A frustração e seus sentimentos correlatos advém do desejo mimético, que é, segundo Girard (2004), a forma com que lidamos com nossos objetos de desejo. Girard opõe necessidades (apetites) e desejos. Enquanto a primeira diz respeito a nossa busca por sustento, abrigo e condições de sobrevivência, o desejo seria algo mais metafísico e resultado de uma cultura. Seriam aspirações, ao contrário da sede e da fome, difíceis de identificar, “potencialmente ilimitados e infinitamente variados” (Kirwan, 2015, p. 47).

Os indivíduos aprendem a desejar através da cópia dos outros num mimetismo que não repete apenas linguagens, gestos e outras manifestações externas da cultura, mas também os seus desejos. Através do mimetismo, os humanos aprendem e selecionam o que devem ou não desejar. Como consequência, haverá um aumento na rivalidade, o desenvolvimento de um conflito aberto resultante em violências. Essa expressão resultante do desejo lida com estruturas profundas do ser humano, tanto que Girard (1990, p. 46) chegou a concluir que ““a violência que constitui o verdadeiro coração e alma secreta do sagrado””. Kirwan compara a escalada da violência com uma epidemia ou um incêndio, sem freios para essas agressões instintivas, e adiciona a isso que a erosão das diferenças é um gatilho para a expressão da violência.

Por isso, a busca de um bode expiatório que une todos a um objetivo comum traz a reconciliação. A retórica do “nós” contra “eles” passa a ser a do “todos” contra "um'', onde toda a violência dividida entre grupos dissonantes acaba sendo direcionada a um culpado, que parece ser a incorporação de todo mal e a causa da crise na sociedade.

Assim, Girard (2004, p. 62) designa bode expiatório “simultaneamente a inocência das vítimas, a polarização coletiva que se efetua contra elas e a finalidade coletiva dessa polarização. Os perseguidores se fecham na ‘lógica’ da representação persecutória e não podem mais dela sair”. Ele adiciona que “a polarização exerce tal opressão sobre os polarizados que é impossível para as vítimas se justificar”. Para este autor, é sempre em épocas em que um saber subversivo ameaça se espalhar, que ele mesmo acaba sendo vítima de perseguição e na causa da desordem. Girard (2004) usa como exemplo as perseguições aos judeus e a caça às bruxas, mas poderíamos incluir aí o pânico sobre o fantasma do comunismo durante a Guerra Fria e o combate à “ideologia de gênero” no início do século XXI em diante.

René Girard (2004), em seu discurso extremamente enraizado em tradições cristãs, diz que é preciso perdoar as turbas persecutórias. Pois, como proferiu Jesus Cristo, “eles não sabem o que fazem”, enlouquecidos pelo desejo mimético e a vontade de, através da violência, escamotear o horror das violências que sentem na realidade. Inclusive, o autor acredita que uma expressão sinônimo para bode expiatório seria “o cordeiro de Deus”.

O fundador da teoria mimética acredita que esta consiga explicar o fenômeno de fusão, de esfumaçamento das fronteiras e confusão entre o que é considerado povo e elites de uma forma mais eficiente que a ciência política e as humanidades o fazem. Isso porque a teoria que ele elaborou lida com a noção de sagrado. Em um período de crise, as massas são superiores às autoridades que, outrora seriam as donas do poder. As massas é que são responsáveis pelos ritos de perseguição e de sacrifício e que, através deles são criados os mitos que ordenam e dão segurança para a sociedade, assim deles originam os tabus que devem ser evitados por todos com o risco de se condenarem.

Girard (2004, p. 163) acredita que o mimetismo coloca o sujeito em um estado de transe, quando “perde a consciência de si mesmo e de seus fins. Em vez de rivalizar com este modelo, ele se transforma em sua marionete inofensiva; toda oposição é abolida; a contradição do desejo se dissolve”. Assim, Girard faz alusão a outra passagem bíblica, quando fala dos demônios de Gerasa, do evangelho de Marcos, aludindo à turba raivosa e persecutória: “Legião é meu nome, porque somos muitos”.

Acredito que as manifestações parciais de jornalistas em grandes mídias podem ter sido responsáveis por despertar esse desejo mimético de caça a um bode expiatório na população que, ao longo da campanha antipetista, vem tomando diversas configurações. A cobertura jornalística extensiva feita aos escândalos de corrupção nos governos brasileiros do século XXI e principalmente da Operação Lava Jato, buscaram direcionar o povo num ritual de sacrifício do bode expiatório. Lula chegou a declarar em um pronunciamento que foram mais de 20 horas do Jornal Nacional da Rede Globo e mais de 60 capas da revista Veja que se posicionaram contra ele (O Cafezinho, 2017). Aliado a isso está o papel das redes sociais no alastramento incendiário do pânico moral e do desejo mimético de pertencimento a um grupo com um objetivo persecutório e punitivista em comum. O papel do WhatsApp como ferramenta de difusão das ideias bolsonaristas já foi estudado e comprovado por diversos pesquisadores do fenômeno. (Moura & Corbellini, 2019; Chagas, 2021; Santos, 2021)

5. Democracia e Violência

Para David Runciman (2018), o conceito de dimokratias, em grego, estaria aliado a um estado persistente de guerra, em que a política democrática da época despendia tempo e acarretava frequentemente em violência. Em sua tese, a democracia contemporânea tem sido corroída porque deixamos de viver neste permanente estado de guerra e exercício da violência. Runciman (2018, p. 44) acredita que “quanto mais a democracia é tida como segura, maiores são as possibilidades de que venha a sofrer uma subversão sem precisar ser derrubada”.

No centro dessas subversões no âmago das democracias está a ascensão do populismo, seja ele de direita ou de esquerda. Para o autor, um regime populista cria uma sensação de paranóia ininterrupta, ou seja, de que uma parcela do povo está sempre sendo perseguida. Essa paranóia, contudo, se distribui para todos os lados da contenda. A situação de pânico moral se desdobra também na perseguição a jornalistas, a exemplo do tratamento que o governo Bolsonaro dispensou à jornalista Patrícia Campos Melo (Campos Melo, 2020).

Runciman (2018) acredita que a violência sofrida pelas sociedades humanas do passado mal podem ser comparadas com seu sofrimento atual. Também, para ele, como apontam ensaístas como Susan Sontag (2003), as imagens que recebemos e nos cercam a respeito da violência acabaram se tornando atenuadas devido a sua ubiquidade. Runciman acredita que regimes populistas e antidemocráticos emergem quando uma sociedade se encontra em um tempo de ausência de guerras, em que a construção do inimigo ocorre internamente, no discurso populista do “nós” contra “eles”. Lynch e Casimiro (2022, p. 171) dizem que os movimentos populistas possuem uma relação com a democracia que batizaram de “o dilema do parasita”:

Porque vivem de explorar o ódio à democracia, lideranças populistas enfrentam o dilema do parasita: não sabem até que ponto podem ir confortavelmente explorando aquele ódio sem matar a hospedeira. Populistas gostam de explorar a fantasia pública de que poderiam matá-la. Mas temem tentar fazê-lo na verdade, porque dariam um salto no escuro, criando uma situação imprevisível de perigo para si mesmos, que os levaria, como parasitas, a morrer junto com a democracia. A tal corrosão democrática corresponde à piora da saúde da hospedeira. O dilema do parasita envolve justamente saber até onde se pode roer a democracia sem matá-la ou provocar sua reação contra si.

“A violência política numa era de populismo, por maior ou menor que seja, é sempre localizada, fragmentada, esporádica e ocasional” (Runciman, 2018, p. 70). A teoria mimética de Girard (2004) faz sentido no tocante da procura de um inimigo a quem combater, através do sentimento de competição gerado pelo desejo mimético. Uma sociedade precisa construí-los, para aliviar sua busca por violência através de um bode expiatório. Portanto, para Runciman (2018, p. 71), o populismo “questiona a ideia de que a democracia ainda é uma experiência genuinamente coletiva”. Além disso, o autor traz uma frase de impacto que resume sua tese: “as democracias fazem guerras, e as guerras fazem democracias”. (Runciman, 2018, p. 72)

O autor acredita que a democracia é um sistema político capaz de suprimir as causas da violência mas que não consegue lidar com problemas do passado que causaram irrupções de violência. Assim, entendo que existe algo de precário ou de desgaste nos mecanismos que regem os rituais geradores dos mitos e tabus da democracia. Runciman (2018) elenca três formas de ameaças à democracia: 1) o golpe de Estado; 2) uma catástrofe de nível nacional ou mundial; ou 3) a ação das redes sociais insuflando na população a vontade de tomar medidas antidemocráticas. No Brasil atual vimos as três teses se concretizarem em um curto espaço de tempo, mas a democracia se manteve, até onde se sabe, resistente. Não sem demonstrar suas fragilidades e sinais de esgotamento. Os principais sinais são os movimentos populares e os protestos de milhões de pessoas nas ruas exigindo a deposição de governantes eleitos de forma clara, segura e democrática.

No sentido do papel das redes digitais e sua formação de mentalidade de rebanho, que muito tem a ver com a teoria mimética de Girard, Runciman (2018, p. 113) declara que “a democracia moderna é extremamente mecânica e profundamente artificial. Não proporciona uma alternativa aos sistemas complexos que supostamente se encarregam de regular. Ela copia seu comportamento, tornando-se ela própria cada vez mais complexa e artificial”. Completa assumindo que a democracia apoiada nas redes digitais acaba gerando um monstro Leviatã, dentro dos termos hobbesianos: “Os políticos mais bem-sucedidos na democracia atuam muito melhor: atraem as pessoas. A hierarquia é suplementada por uma rede”. A rede que suplanta a hierarquia tem sua cola no desejo mimético e na caça de um bode expiatório.

A caça às bruxas nas redes sociais não é igual à da realidade. O linchamento é virtual. Mas a violência é real: ser alvo de um bando de linchadores virtuais é sofrer uma agressão da qual pode ser muito difícil se recobrar. As vítimas desses ataques sofrem danos físicos. Depressão e adoecimento são reações comuns. O suicídio pode vir em seguida. O Twitter é às vezes descrito como o Velho Oeste. Mas na verdade é o que temos de mais parecido com a democracia do mundo antigo: volúvel, violenta, empoderadora. As pessoas descobriram o efeito liberador de poder se mancomunar a um bando para atacar indivíduos que as desagradam. É revigorante. E pode ser mortífero. (Runciman, 2018, p. 131—132)

Antes através da atuação de formadores de opinião analógicos como os jornalistas da grande imprensa, e depois por meio das redes sociais, uma aparência de falsidade foi conferida à democracia representativa. Essa sensação produziu reações como as jornadas de junho de 2013 no Brasil que foram apropriadas pelas novas direitas como sinal da incompetência petista, principalmente na economia do país (Rocha, 2022; Pinheiro-Machado, 2019; Cardoso & di Fatima, 2014; Cardoso et al., 2016).

Foi nas jornadas de junho de 2013 que movimentos de diferentes ramos da nova direita brasileira começaram a se aglutinar. Em todas as esferas políticas brasileiras, municipais, estaduais e federal, havia uma dificuldade em responder a questionamentos populares. A partir dessa percepção, as novas direitas passaram a reunir um número expressivo de pessoas para protestar a favor de pautas desligadas aos ideais da esquerda. Principalmente motivadas por agitações e acontecimentos insuflados nas redes sociais, com destaque para o Facebook, Twitter, WhatsApp e Telegram. No ano seguinte, Bolsonaro começou a ser chamado nesse ambiente digital de “Bolsomito”, caracterizando-o um ídolo com o papel de livrar o país de um inimigo interno, a esquerda (Piovesan, & Gentile, 2020). Essa construção se alimentou do clima de animosidade cultivado pela grande imprensa brasileira em um discurso moralista que associava a política petista à corrupção.

Assim, um movimento em prol da coletividade, da ampliação de direitos e de mais responsabilidade na gestão pública acabou se tornado uma condenação do sistema político, como uma forma de culpabilizar não apenas o PT, mas também as estruturas e canais pelos quais a política estava institucionalizada no país. O desejo mimético de encontrar um culpado, encravado na sociedade brasileira, conforme coloca Girard (2004), encontrou seu primeiro bode expiatório no governo do PT, para depois avançar sobre as instituições políticas, eleitorais e, em parte, burocráticas. Neste caso, o bode expiatório ulterior contra qual todos esses movimentos antipolíticos, antipartidários e antissistema investem acaba sendo, não os políticos, mas a própria democracia contemporânea.

6. Conclusões

Como vimos com Gilles Lipovetsky, a sociedade do consumo nos coloca em um estado permanente de desejo, de carência, como se estivéssemos em um Tártaro grego, em que somos condenados a realizar trabalhos infrutíferos durante toda a eternidade. Também entendemos, no percurso desta leitura, como o conceito grego de democracia depende do exercício da violência inerente à competição humana, elementos básicos da teoria mimética de René Girard. O desejo mimético só pode ser aplacado temporariamente com a adesão das multidões à perseguição e sacrifício de um bode expiatório.

No Brasil, vimos que a grande imprensa entremeada a objetivos políticos e apoiada pelo poder judiciário tendencioso ajudou na construção de diversos bodes expiatórios ao longo do século XXI. Houve uma mutação dos bodes expiatórios promovidos pela grande imprensa, tendo ela mesma sido tomada como essa figura, acabando deslegitimada e promovendo a proliferação de formas alternativas de informação que disseminaram notícias falsas. Com uma crise cultural e institucional representada pela falta de confiança popular no grande jornalismo, outras instituições seguiram nessa esteira, como o poder judiciário da suprema corte brasileira e, mais que isso, a própria democracia.

Os atos bolsonaristas que pedem intervenção militar no Estado e que desconfiam dos resultados do pleito e da genuinidade do sistema de urnas eletrônicas são, a meu ver, uma perseguição ao bode expiatório da democracia. Um movimento que tem sua origem na perseguição da grande mídia a políticos, e que insuflou na população um descontentamento e um ressentimento que dá a impressão de que o sistema democrático é falho e que só leva políticos corruptos ao poder.

O bolsonarismo é um sintoma da precariedade das instituições brasileiras, incluindo a grande imprensa e os órgãos que deveriam tornar a democracia algo legítimo, principalmente o sistema judiciário. Sistema esse que produziu e divinizou o ex-juiz Sérgio Moro, caracterização que foi adotada pela população brasileira. Depois, a própria grande mídia o depôs de seu pedestal de herói nacional, na descoberta de corrupção nas decisões do próprio caçador de corruptos.

Conforme atestam muitos pesquisadores como Schwarcz (2019), o autoritarismo, a corrupção e o vitimismo são elementos característicos da sociedade brasileira, presentes em nosso meio desde a colonização portuguesa, com alguns traços vindos da própria metrópole portuguesa. O moralismo da grande imprensa brasileira, que busca heróis e vilões, destoa da falta de discussões sobre as complexidades que formam nossa sociedade e nossa política. O desejo mimético, competitivo na sociedade brasileira está apoiado na vontade de “se dar bem”, de “sair por cima” a qualquer custo, representado contemporaneamente tanto pelo “mitar” como pela “lacração”, característicos do “jeitinho brasileiro”. Tais comportamentos, aliados ao vitimismo e ao discurso de corrupção, acarretam a ascensão de políticos messiânicos que se portam como “salvadores da pátria” da vez.

Mais que isso, a base cristã da sociedade brasileira, que luta contra a noção de Estado laico, faz com que a teoria mimética de Girard se assente com mais propriedade para nosso povo, uma vez que o autor se baseia em diversos rituais e mitos cristãos para cerzir seus pressupostos. Assim, a democracia se torna o “cordeiro de Deus” que tira os pecados do mundo, ao ser sacrificada. Afinal, a violência coletiva faz parte de um aglomerado de demônios, como Legião, que segmentos da sociedade criaram para si mesmos e agora buscam expurgar, como bons fiéis, através do sacrifício daquilo que surgiu para, assim, redimi-los.

Material suplementar
Agradecimentos

Agradeço ao meu irmão, Bernardo, e à bolsa de financiamento concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Ensino Superior (CAPES), fundação do Ministério da Educação do Governo Federal do Brasil.

Referências
Avelar, I. (2021). Genealogia discursiva do bolsonarismo. Aisthesis, 70, 169—198. http://dx.doi.org/10.7764/aisth.70.8
Bbc News Brasil (2021, 7 de setembro). As ameaças de Bolsonaro em discursos no 7 de setembro. BBC News Brasil. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-58479785
Campos Melo, P. (2020). A máquina do ódio: Notas de uma repórter sobre fake news e violência digital. Companhia das Letras.
Cardoso, G., & di Fatima, B. (2014). Movimento em rede e protestos no brasil: qual gigante acordou?. Revista Eco-Pós, 16(2), 143–176. https://doi.org/10.29146/eco-pos.v16i2.1182
Chagas, V. (2021). Meu malvado favorito: os memes bolsonaristas de WhatsApp e os acontecimentos políticos no Brasil. Estudos Históricos, 34(72). https://doi.org/10.1590/S2178-149420210109
Cioccari, D. (2022, 21 de outubro). O absurdo naturalizado nas falas do deputado bolsonarista Bibo Nunes. Yahoo Notícias. https://br.noticias.yahoo.com/deputado-bolsonarista-bibo-nunes-queimar-vivos-santa-maria-universidade-143554778.html
Cohen, S. (2011). Moral panic and folk devils. Routledge.
Conjur (2021, 13 de janeiro). Bolsonaro tenta imputar ao STF omissão do governo federal para agir na epidemia. https://www.conjur.com.br/2021-jan-15/bolsonaro-tenta-imputar-stf-omissao-governo-epidemia
Eatwell, R. & Goodwin, M. (2020) Nacional-populismo: A revolta contra a democracia liberal. Record.
Feres Jr., J. & Sassara, L. O. (2018) Failed honeymoon: Dilma Rousseff's third election round. Latin American Perspectives, 45(3), 224—235. https://doi.org/10.1177/0094582X18767429
Girard, R. (2004) O bode expiatório. Paulus.
Girard, R. (1990) A violência e o sagrado. Paz e Terra.
Greenwald, G., Reed, B. & Demori, L. (2019, Junho 19) Como e por que o Intercept está publicando chats privados sobre a Lava Jato e Sérgio Moro. The Intercept Brasil. https://theintercept.com/2019/06/09/editorial-chats-telegram-lava-jato-moro/
Jarrin, A., Junge, B., Mitchell, L. S., Cantero, L. & Biondi, K. (2022). Introdução: etnografias do definhamento da democracia brasileira. In: A. Jarrin, B. Junge, L. S. Mitchell, L. Cantero e K. Biondi (Orgs.). Democracia precária: Etnografias de esperança, desespero e resistência no Brasil (pp. 11—36). Zouk.
Kirwan, M. (2015). Teoria mimética: Conceitos fundamentais. É Realizações.
Lipovetsky G. (2017). A sociedade da decepção. Manole.
Lynch, C., & Casimiro, P. H. (2022). Populismo reacionário: Ascensão e legado do bolsonarismo. Editora Contracorrente.
Mainardi, D. (2002, agosto 14) A cultura me deprime. Veja. 31 (1793), 115.
Documentaryondemand (2014, Oct 27). Diogo Mainardi: eleição de Dilma e Nordeste.[Video] YouTube. https://www.youtube.com/watch?v=MRC-SPPSJOE
Martins, C. (2022, 06 de novembro) Os memes e o retrato bizarro dos protestos que ficaram para a história. Gazeta do Povo. https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/certas-palavras/memes-e-o-retrato-bizarro-dos-protestos/
Martins, R. l. M., Neves, R. l., Linhares, J. F. & Greenwald, G. (2020, 20 de janeiro) “Tentemos ser generosos rs”: Lava Jato usou o site O Antagonista para interferir na escolha do presidente do Banco do Brasil – e a parceria entre os dois não começou aí. The Intercept Brasil. https://theintercept.com/2020/01/20/lava-jato-antagonista-deltan-parceria/
Morais, F. (2021). Lula: Biografia, Volume 1. Companhia das Letras.
Moura, M. & Corbellini, J. (2019) A eleição disruptiva: Por que Bolsonaro venceu. Record.
Mudde, C. (2019). The far-right today. Polity Press.
O Cafezinho (2017, 15 de julho). Lula: "Eu sou vocês”. O Cafezinho [Página do Facebook]. https://www.facebook.com/watch/?v=1505519292804532
O Globo. (2022a, 3 de novembro). MP não vê apologia ao nazismo em gesto bolsonarista em São Miguel do Oeste. https://oglobo.globo.com/politica/noticia/2022/11/mp-nao-ve-apologia-ao-nazismo-em-gesto-de-bolsonaristas-em-sao-miguel-do-oeste-sc.ghtml
O Globo (2022b, 12 de março). Jornalista Merval Pereira toma posse como presidente da ABL. G1. https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2022/03/12/jornalista-merval-pereira-toma-posse-como-presidente-da-abl.ghtml
Padiglione, C. (2021, 29 de abril). “Vai tomar no…”, diz Mainardi a convidado do “Manhattan Connection”. TelePadi. https://telepadi.folha.uol.com.br/vai-tomar-no-c-diz-mainardi-a-convidado-no-manhattan-connection/
Piovesan, C, & Gentile, E (2020). A linguagem fascista. Editora Hedra.
Pinheiro-Machado, R. (2019). Amanhã vai ser maior: o que aconteceu com o Brasil e possíveis rotas de fuga para a crise atual. Editora Planeta.
Prado Junior, T. (2020). Moro: O herói construído pela mídia. Kotter.
Ranciére, J. (2014). O ódio à democracia. Boitempo.
Ravache, G. (2022, 24 de junho). O bolsonarismo sustenta a Jovem Pan? A resposta é complicada. Notícias da TV. https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/mercado/o-bolsonarismo-sustenta-jovem-pan-resposta-e-complicada-82981
Rocha, C., Solano, E., & Medeiros, J. (2021). The Bolsonaro paradox: The public sphere and right-wing counterpublicity in contemporary Brazil. Springer.
Rocha, C. (2022). Menos Marx, mais Mises: O liberalismo e a nova direita no Brasil. Todavia.
Runciman, D. (2018). Como a democracia chega ao fim. Todavia.
Santos, J. (2017). Sobre tendências e o espírito do tempo. Estação das Cores e das Letras.
Santos, M. H. F. (2021). Fake news no Whatsapp na campanha de Jair Messias Bolsonaro durante as eleições presidenciais de 2018 (Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade Federal de Alagoas, Brasil). https://www.repositorio.ufal.br/handle/123456789/10193
Santos Junior, M. A. (2019). #vaipracuba!: A gênese das redes de direita no Facebook. Editora Appris.
Schwarcz, L. M. (2022). Apanhado crítico: Uma agenda para um país que ainda procura por sua democracia. In: A. Jarrin, B. Junge, L. S. Mitchell, L. Cantero e K. Biondi (orgs.), Democracia precária: Etnografias de esperança, desespero e resistência no Brasil (pp. 37 — 54). Zouk.
Schwarcz, L. M. (2019). Sobre o autoritarismo brasileiro. Companhia das Letras.
Sereza, H. C. (2021, 9 de abril). A direita, a internet e os livros. Fundação Lauro Campos e Marielle Franco. https://www.laurocampos.org.br/2021/04/09/a-direita-a-internet-e-os-livros-por-haroldo-ceravolo-sereza-2/
Solano, E., Rocha, C. & Medeiros, J. (2021). The Bolsonaro paradox: The public sphere and right-wing counterpublicity in contemporary Brazil. Springer.
Sontag, S. (2003). Diante da dor dos outros. Companhia das Letras.
Souza, J. (2016). A radiografia do golpe: Entenda como e por que você foi enganado. LeYa.
Stycer, M. (2018, 29 de outubro). Qual foi o papel de CQC, Superpop e Pânico na popularização de Bolsonaro? TV e Famosos. https://tvefamosos.uol.com.br/blog/mauriciostycer/2018/10/29/qual-foi-o-papel-de-cqc-superpop-e-panico-na-popularizacao-de-bolsonaro/
Teitelbaum, B. (2020). Guerra pela eternidade: O retorno do tradicionalismo e a ascensão da extrema direita. Editora da Unicamp.
Teles, L. & Lima, S. (2022, 10 de novembro). Bolsonaristas reforçam nas redes atos em quartéis mesmo após relatório dos militares não apontar fraude nas urnas. O Estado de S. Paulo. https://politica.estadao.com.br/blogs/timeline-eleicoes-2022/bolsonaristas-quarteis-relatorio-militares/
UOL (2011, 7 de novembro). Augusto Nunes agride Glenn Greenwald no Pânico. Splash. https://entretenimento.uol.com.br/noticias/redacao/2019/11/07/augusto-nunes-agride-glenn-greenwald-no-panico.htm
Vaquer, G. l. (2011, 3 denovembro). Jovem Pan caça comentaristas de esquerda para mudar fama de bolsonarista. Noticias da TV]https://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/televisao/jovem-pan-caca-comentaristas-de-esquerda-para-mudar-fama-de-bolsonarista-68744
Venturini, F. C. (2014). Organicidade de classe e empresas jornalísticas: Uma crítica à ideia de Partido da Imprensa. Revista de Estudos da Comunicação, 15(37), 185—201.
Viscardi, J. M. (2020). Fake news, verdade e mentira sob a ótica de Jair Bolsonaro no Twitter. Trabalhos em Linguística Aplicada, 59(2), 1134—1157.
Zicman de Barros, T. & Lago, M. (2022). Do que falamos quando falamos de populismo. Companhia das Letras.
Cardoso, G., Lapa, T., & Di Fátima, B. (2016). People are the Message? Social Mobilization and Social Media in Brazil. International Journal of Communication, 10, 3909—3930. https://ijoc.org/index.php/ijoc/article/view/3301
Notas
Notas
[1] Expressão que ficou muito popular no Brasil, uma justaposição entre as expressões Irmãos Metralha, a família de bandidos dos quadrinhos da Disney, e os filiados do PT, os petistas.
Autor notes
Guilherme Sfredo Miorando é Doutorando em ciências da comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos. Mestre em memória social e bens culturais pela UniLaSalle. Especialista em histórias em quadrinhos pela Faculdades EST. Especialista em imagem publicitária. Bacharel em comunicação social com habilitação em publicidade e propaganda pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.
Buscar:
Contexto
Descargar
Todas
Imágenes
Modelo de publicação sem fins lucrativos para preservar a natureza acadêmica e aberta da comunicação científica
Visor móvel gerado a partir de XML JATS4R