CONTÍNUA
Recepção: 23 Março 2021
Aprovação: 19 Setembro 2021
Resumo: O objetivo deste artigo é refletir sobre o papel dos mediadores do Jornal Nacional, com foco na edição do dia do pedido de demissão de Sergio Moro, 24 de abril de 2020. Entendemos por mediadores, a partir de Gomes (2007), todos os envolvidos no processo de produção e veiculação do conteúdo jornalístico, como apresentadores, repórteres, cinegrafistas e editores. O estudo foi realizado com o suporte do olhar teórico-metodológico de Modo de Endereçamento.
Palavras-chave: modo de endereçamento, telejornalismo, mediadores, Jornal Nacional, demissão de Sérgio Moro.
Abstract: The purpose of this article is to reflect on the role of the mediators of Jornal Nacional, focusing on the edition of Sergio Moro’s resignation day. We understand by mediators, starting with Gomes (2007), everyone involved in the process of producing and broadcasting journalistic content, such as presenters, reporters, cinematographers and editors. The study was carried out with the support of the theoretical and methodological approach of Addressing Mode.
Keywords: addressing mode, television news, mediators, National Newspaper, resignation of Sérgio Moro.
1 PERSPECTIVAS INTRODUTÓRIAS
Em 28 de outubro de 2018, o Brasil recebeu a confirmação de que Jair Bolsonaro seria o presidente da República no período de 2019 a 2022. Com 57 milhões de votos, o então candidato derrotou o opositor do Partido dos Trabalhadores (PT), Fernando Haddad, no segundo turno. Quatro dias depois, o anúncio de que o ex-juiz da Operação Lava Jato comandaria a pasta de Justiça e Segurança Pública do futuro governo veio acompanhado de grande expectativa perante seu eleitorado. Já em novembro de 2018, Bolsonaro afirmou que Moro teria liberdade total e carta branca na pasta para combate à corrupção e ao crime organizado. Tais declarações foram dadas em duas ocasiões. A primeira em entrevista coletiva realizada em 1º de novembro de 2018 e a segunda em 29 de novembro de 2018 (G1, 2019)1.
Tinha início, ali, uma trajetória que perduraria até o dia 24 de abril de 2020, quando Moro anunciou, em pronunciamento, que estava pedindo demissão da pasta que comandava. A escolha pelo nome de Moro foi estratégica, devido à trajetória dele como ex-juiz em primeira instância da Operação Lava Jato2 em Curitiba. Na função, de acordo com Damé (2018), decretou cerca de 180 prisões, entre as quais estavam empresários e diretores de corporações brasileiras, como a Petrobras e a Odebrecht, políticos e parlamentares, conforme a Agência Brasil. Entre essas prisões está a do ex-presidente Lula, um dos líderes do Partido dos Trabalhadores (PT), em 7 de abril de 2018, seis meses antes do pleito presidencial3.
A prisão pautou o noticiário do jornalismo da TV Globo e também teve grande espaço na edição do Jornal Nacional, assim como a maior parte da operação, iniciada em março de 2014. Em 2021, o trabalho, que era feito em forças-tarefas em Curitiba, no Rio de Janeiro e em São Paulo, foi incorporado pelos Grupos de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaecos). A atuação do telejornal da TV Globo promoveu controvérsias sobre o modo como o assunto foi tratado. Uma foi abordada por D’Oliveira (2019, p. 196), que aponta que a operação ganhou ainda mais força depois das eleições de 2014 “quando a imprensa passou a atuar de maneira decisiva, tanto na divulgação dos fatos quanto na formação de opiniões”. Um dos episódios citados pelo autor é o da divulgação do áudio de uma ligação telefônica entre, a então presidente, Dilma Rousseff, do PT, e Lula, em 16 de março de 2016, dia em que o ex-presidente foi nomeado para exercer a função de ministro da Casa Civil. Na época, Moro, ainda juiz em Curitiba, derrubou o sigilo e divulgou os grampos, que repercutiram amplamente. A indicação de Lula para o Ministério seria suspensa dois dias depois, por decisão do ministro Gilmar Mendes, do STF.
O Jornal Nacional, noticiário mais assistido do país, acalorou ainda mais a discussão sobre a nomeação de Lula e impulsionou os protestos de parte da população que, de forma quase imediata, foi às ruas naquele mesmo dia, em mais de dez estados brasileiros, pedindo pela renúncia da então presidente Dilma Rousseff. Logo, essa situação apresenta uma mudança no papel da mídia, que, naquele momento, deixou de atuar como somente um meio de informação e passou a ser parte envolvida no processo, influenciando as reações populares. Ou seja, uma atitude protagonista. (D’OLIVEIRA, 2019, p. 296-297)
O autor cita, ainda, o jornalista e escritor Luciano Martins Costa, segundo o qual, ainda em 2014, a mídia passava a se mostrar de maneira parcial. Um dos exemplos citados é o de uma notícia presente na edição digital da Folha de S.Paulo/UOL, com o título “Doações de investigadas na Lava Jato priorizam PP, PMDB, PT e oposição”.
O levantamento se concentra nos partidos da base aliada, e deixa em segundo plano, no rodapé, figuras mais representativas, como as do senador José Serra e Antônio Anastasia, ex-governador de Minas Gerais, ambos do PSDB, além do deputado federal Ronaldo Caiado e seus colegas recém-eleitos José Carlos Aleluia, Alberto Fraga e Alexandre Leite, todos do Democratas. Alguém pode imaginar um título como “Aécio Neves foi financiado por empresas investigadas na Lava Jato”? Ou “José Serra também recebeu doações de empreiteira na Lava Jato”? (COSTA, 2014 apud D’OLIVEIRA, 2019, p. 308)
Esse episódio pode resumir, de certo modo, como o Jornal Nacional tratou o tema no noticiário. Conforme D’Oliveira, após a exibição dos áudios, foram exibidos protestos pelo país que pediam a saída de Dilma. A ação foi um dos estopins que pressionaram e impulsionaram o processo de impeachment da presidente, que sofreu diversos ataques, assim como o Partido dos Trabalhadores e o próprio Lula.
Os ataques aos 13 anos do governo petista em âmbito federal foram, justamente, uma das principais bandeiras da campanha de Bolsonaro, sendo proferidos em entrevistas, encontros com apoiadores e em sites de redes sociais como o Facebook, Twitter e Instagram. Colocando-se como oposição ao partido e à esquerda, Bolsonaro foi presença constante nas redes sociais, um dos principais meios de comunicação com os eleitores, devido ao pouco tempo de televisão de que dispunha no horário eleitoral4. Em outra frente, essas redes também eram utilizadas por apoiadores que, conforme Struck (2018), em reportagem da Deutsche Welle5: “transformaram as redes em um terreno fértil para a propagação de boatos e mentiras sobre os candidatos, especialmente os adversários de Bolsonaro – elevando a estratégia de campanha negativa a uma nova escala desde a redemocratização” (STRUCK, 2018). Em setembro de 2018, Bolsonaro sofreu um atentado quando realizava campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais. Em recuperação, deixou de comparecer aos debates eleitorais. Após a confirmação de que seria o próximo chefe do poder Executivo brasileiro, o presidente eleito passou a buscar nomes para compor a equipe.
Com a nomeação de Moro à pasta de Justiça e Segurança Pública, Bolsonaro contaria com a popularidade do ex-juiz em seu governo e sinalizaria o compromisso com o combate à corrupção e à oposição ao PT. A relação entre os dois personagens, no entanto, passou a sofrer ruídos logo no primeiro ano do novo governo. Um dos episódios, que ocorreu em agosto de 2019 e teve ampla cobertura dos veículos de comunicação, foi o anúncio de Bolsonaro de que iria trocar o chefe da Superintendência da Polícia Federal (PF), no Rio de Janeiro. Após a repercussão negativa, inclusive da PF, Bolsonaro afirmou que poderia trocar o diretor-geral da instituição Maurício Valeixo, que havia sido indicado por Moro ao cargo. Conforme demonstrado em reportagem da revista Exame: “A declaração surpreendeu a cúpula da PF que, horas depois, em nota, contradisse o presidente ao afirmar que a substituição já estava planejada” (EXAME, 2019, s/p).
Oito meses depois, Valeixo também estaria no centro de um novo conflito entre o presidente e o ministro da Justiça. Em 24 de abril de 2020, o decreto com a exoneração "a pedido" de Valeixo foi publicada no Diário Oficial da União6. No documento, constavam as assinaturas de Bolsonaro e de Moro. Durante o pronunciamento, realizado às 11h da manhã do mesmo dia, o ex-juiz negou que tenha realizado a ação, o que foi confirmado pelo governo (BRITO, 2020). Ainda de acordo com Brito (2020), a Secretaria-Geral da Presidência da República confirmou que Moro não assinou o decreto publicado no Diário Oficial da União, em ofício enviado à Polícia Federal. A justificativa apresentada foi a de que a inclusão do nome do ministro da área é praxe. Posteriormente, o decreto foi publicado novamente, sem o nome de Moro.
Posteriormente, de acordo com Megale e Talento (2020), Valeixo também afirmou, em depoimento à PF, que não formalizou um pedido para sair do cargo. Moro, então, anunciou que sairia do cargo e apontou interferência política de Bolsonaro na PF. No mesmo dia, o presidente realizou um pronunciamento, no Palácio do Planalto, em que, acompanhado de ministros de seu governo, parlamentares e apoiadores, defendeu-se das acusações realizadas por Moro. Farias (2020) assinala que o presidente havia anunciado que realizaria o pronunciamento no início da tarde, por meio de uma publicação no Twitter, em que afirmou que iria “restabelecer a verdade” sobre o caso.
Nesse sentido, este artigo tem como objetivo refletir sobre o papel dos mediadores (GOMES, 2007) no Jornal Nacional, especificamente na edição do dia 24 de abril de 2020, data em que ocorreu o pedido de demissão do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. O foco será na observação de como esses mediadores atuam na construção do estilo do JN, assim como na sua forma de levar ao ar o fato e de se relacionar com a audiência. Por mediadores, entendemos, a partir de Gomes (2007), todos os envolvidos no processo de produção e veiculação do conteúdo jornalístico, tais como apresentadores, repórteres, cinegrafistas e editores, cujo trabalho se estende aos bastidores do telejornal. Para tal, foi utilizado como ferramenta teórico-metodológica o Modo de endereçamento, com respaldo nas reflexões de Gomes (2007).
2 JORNAL NACIONAL, JORNALISTAS E MEIO POLÍTICO
Para pensarmos no papel dos agentes que participaram dos processos de produção e de disseminação das informações do Jornal Nacional do dia da demissão de Sérgio Moro, cabe destacar que a cobertura esteve amparada nas lógicas de produção do Jornal Nacional, visando os espectadores do programa e, também, que esses jornalistas estão ligados às perspectivas institucionais da Rede Globo. Não podemos pensar no papel de jornalistas, sem refletirmos seus trabalhos pensando na instituição em que estão inseridos.
Negrini (2019, p. 109), ao falar da cobertura do JN à tragédia da Chapecoense, fez relações do programa com os princípios editoriais da Rede Globo: .[...] para abordarmos a cobertura feita pelo JN dessa tragédia, temos que levar em conta que ela está inserida na Rede Globo e desse modo submete-se aos seus princípios editoriais [...]”. O pensamento de Negrini (2019) remete que para a análise de um telejornal, as visões da instituição em que ele está inserido são delineadoras das materialidades jornalísticas que serão levadas ao ar. Ao falarmos do posicionamento do Jornal Nacional em relação à política, cabe citar que Ferreira (2020, p. 103), a partir de texto de Angela Carrato (2015), cita pontos significativos e controversos presentes na história da Rede Globo:
- Apoio à ditadura militar (1964-1985) - Durante quase 20 anos, TV Globo e governos militares viveram uma espécie de simbiose. Os militares, satisfeitos por verem na telinha apenas imagens e textos elogiosos ao “país que vai para a frente”, retribuíam com mais e mais benesses e privilégios para a emissora.
- Combate às TVs educativas – No poder, algumas alas militares viram na radiodifusão um caminho para combater a “subversão” e, ao mesmo tempo, promover a integração nacional. Por isso, em 1965, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) solicita ao Conselho Nacional de Telecomunicações a reserva de 98 canais especificamente para a TV Educativa.
- DIRETAS-JÁ - O primeiro grande comício das “Diretas-Já” aconteceu em São Paulo, em 25 de março de 1984 e coincidiu com o 430º aniversário da cidade. A TV Globo cobriu a festa, mas ignorou o comício que reuniu milhares de pessoas na Praça da Sé. Omissões semelhantes repetiram-se em outras capitais.
- Debate COLLOR X LULA - Na eleição de 1989, a TV Globo manipulou o último e decisivo debate entre o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e o do PRN, Fernando Collor. Para o Jornal Nacional, houve instruções para mudar tudo, editando-se os piores momentos de Lula e os melhores de Collor. (FERREIRA, 2020, p. 103; grifo da autora)
Os pontos mencionados por Ferreira convocam olhares para posturas que podem ser vistas como polêmicas da Rede Globo quando o assunto é política, o que nos remete à importância de pensarmos o posicionamento do Jornal Nacional frente a esse tema e de refletirmos sobre o papel dos agentes que atuam no telejornal na tessitura de textos na seara política.
Porto (1999), ao falar do Jornal Nacional e de suas relações com a política, enfoca que o telejornal tem papel ativo no contexto político brasileiro. “Vários autores ressaltaram o papel político do telejornal da Globo, destacando em particular sua cobertura noticiosa parcial e ‘governista’” (PORTO, 1999, p. 2). O autor acrescenta:
[...] mesmo após a abolição oficial da censura aos meios de comunicação em 1980, o jornalismo da Globo continuou a revelar sua aliança com o regime autoritário. A emissora deliberadamente distorceu informações com objetivos políticos durante os últimos anos da ditadura. Particularmente importante foi a cobertura da campanha Diretas-Já, em 1984, por eleições diretas para presidente. O Jornal Nacional se recusou inicialmente a cobrir a campanha e só nas vésperas da votação pelo Congresso da emenda Dante de Oliveira é que o noticiário mudou a sua atitude, apresentado uma cobertura mais completa e menos parcial da mobilização de massa que tomava conta das ruas (Lima, 1988; Tosi, 1995). Quando ficou evidente que o regime militar estava em seus últimos dias, a Rede Globo se juntou ano novo bloco de poder que estava se formando em torno da candidatura de Tancredo Neves, apoiando sua eleição indireta pelo colégio eleitoral. (Amaral e Guimarães, 1988). (PORTO, 1999, p. 2)
Em relação ao papel político do JN no cenário brasileiro, Silva (2021) aponta a atuação de telejornal no contexto da campanha de Fernando Collor à presidência da república.
[...] outro episódio controverso na história do jornal. O debate entre Collor e Lula, que concorriam à presidência da República em 1989, foi editado e exibido no dia seguinte à transmissão ao vivo no Jornal Nacional. (SILVA, 2021, p. 31)
[...] o JN “foi acusado de manipular a edição do debate para Presidência da República, em 15 de dezembro de 1989, feito que favorecesse o candidato Fernando Collor de Mello, quando concorria com Luiz Inácio Lula da Silva”. (FERNANDES, 2013, p. 35 apudSILVA, 2021, p. 31)
Já em relação às eleições presidenciais de 1994 e 1998, Silva assinala a partir do pensamento de Fernandes, “Nas eleições seguintes, de 1994 e 1998 não houve apoio ou intervenção direta [...].” (FERNANDES, 2013apudSILVA, 2021, p. 32)
Ao invés disso, o apoio ao candidato Fernando Henrique Cardoso, em 1994, era efetuado por reportagens destacando o real e promovendo o mérito ao candidato, além da exibição de maior tempo em reportagens sobre o candidato em relação ao opositor, Lula. (FERNANDES, 2013apudSILVA, 2021, p. 32)
De outro modo, quatro anos depois, Fernandes [...] aponta que o apoio se deu a partir de uma “estrutura noticiosa governista, que realçava os problemas do Brasil, como o desemprego, a fome e as demais mazelas do país, de forma totalmente dissociada do governo federal”. (Fernandes, 2013, p. 35 apudSILVA, 2021, p. 32)
Silva (2021, p. 32) ainda aborda a cobertura, em 2005, do JN ao caso Mensalão como sendo um momento a ser refletido sobre a participação do JN como agente político no cenário brasileiro. O autor recorre a Vasconcellos (2014), que fez um estudo voltado a verificar os enquadramentos presentes em reportagens levadas ao ar no telejornal sobre o caso e sobre como matérias a respeito de Luiz Inácio Lula da Silva foram abordadas, para apontar que ocorreu o enquadramento de responsabilização como predominante nas reportagens sobre o mensalão e que pessoas ligadas ao PT foram apontadas como tendo ligações com o caso. Vasconcellos (2014) ainda aponta que reportagens sobre o presidente Lula apresentaram um enquadramento personalista: “no qual era enfatizada a autoridade de Lula como mandatário ou mesmo aspectos ressaltados pelo próprio presidente sobre a sua história de vida e comprometimento ético” (VASCONCELLOS, 2014, p. 113).
Outro momento importante da história do Brasil, apontado por Silva (2021) para pensar o JN em relação ao tema política, foi a realização dos protestos ocorridos em 2013. Naquele ano, milhares de pessoas foram às ruas reivindicando questões desde direitos sociais, chegando ao valor do transporte coletivo. “Dois deles foram realizados em 18 e 19 de junho em São Paulo, contra o aumento no valor da passagem do transporte público, que passaria de R$3,00 para R$ 3,20” (SILVA, 2021, p. 33). No caso dos movimentos de 2013, Fernandes e Leme (2019) apontam que no primeiro dia da cobertura feita pelo JN ocorreu um direcionamento para destaque aos atos de vandalismo e violência. “As palavras mais ouvidas durante a matéria foram: confronto, bombas, polícia, trânsito parado e destaque para as ruas e avenidas fechadas” (FERNANDES; LEME, 2019, p. 185).
Porto, Neves e Lima (2018), com base em estudo comparativo sobre a cobertura do Jornal Nacional e do Jornal da Record acerca dos dois principais candidatos ao pleito, em 2018, Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), destacam que as eleições de 2018 apontam para uma crise relativa da Rede Globo enquanto “principal aparelho privado de hegemonia” (PORTO; NEVES; LIMA 2018, p. 7).
Assistimos, em 2018, à consolidação de uma nova e heterogênea aliança política através da mobilização de diversos setores e que se estabelece com uma forte oposição às instituições que constituíram, após o período de redemocratização em 1985, o bloco histórico hegemônico. No campo da mídia, o bloco histórico tradicional esteve sustentado no poder comunicacional da Rede Globo de televisão. Todavia, a nova aliança política conservadora se sustenta principalmente no poder comunicacional da Record TV [...]. (PORTO; NEVES; LIMA 2018, p. 7)
As palavras de Porto demonstram que as relações da Rede Globo com a política são complexas e polêmicas, e que a emissora, em muitos casos, é conhecida como sendo aliada dos que estão com centralidade no poder. Mas, no caso do governo de Jair Bolsonaro, atual presidente do Brasil, cabe inferir que é visível aos olhos dos espectadores que o telejornal produz sentidos voltados à apresentação de uma imagem negativa do presidente. O telejornal veicula, de forma enfática, a apresentação de atos não adequados de Bolsonaro, como o não uso de máscara e o não seguimento de recomendações das autoridades de saúde em relação ao coronavírus. Em outros momentos, o JN também promove destaque a discursos contraditórios do presidente. A partir das ponderações apresentadas, visualiza-se uma complexidade na realização de análise de temas que envolvem a política e o Jornal Nacional.
No período da pandemia do coronavírus, diversas polêmicas cercaram a presidência da República, entre elas, a demissão do Ministro da Justiça, Sergio Moro, em 24 de abril de 2020. Na data, o Jornal Nacional disponibilizou grande parte do espaço da edição para a apresentação do assunto. Cabe apontar que consideramos que o papel dos jornalistas e de toda a equipe de redação foi fundamental para o delineamento do JN do dia e para a apresentação de pautas relacionadas à demissão de Moro e que esses profissionais têm papel precípuo na constituição do estilo que o telejornal assume diante de sua audiência e nas formas que se relaciona com ela. Vizeu (2002) aponta que estudou as rotinas de editores de texto do RJTV1 e observou a influência deles na definição das notícias:
No RJTV1 estudamos a rotina de trabalho dos editores de texto e como ela influencia na definição do que é notícia. É na edição do trabalho realizado por repórteres e cinegrafistas na cobertura dos eventos do dia-a-dia que as matérias são recontextualizadas. Ou seja, a notícia é elaborada de acordo com uma lógica estabelecida pelo formato, tempo, entre outras características do telejornal. (VIZEU, 2002, p. 91)
As constatações de Vizeu são válidas para falarmos do JN. Nas palavras do autor fica evidente que ele aciona o olhar para a importância do trabalho dos editores de texto para o delineamento do conteúdo que vai ser apresentado em um telejornal. Da mesma forma, nas palavras de Vizeu fica visível a importância do trabalho de repórteres e de cinegrafistas na seara da apresentação de notícias e reportagens na TV. Os agentes ligados ao trabalho de produção do conteúdo que vai ao ar em um telejornal são responsáveis pelo delineamento da notícia e pela conformação do conteúdo que vai ao ar.
Cabe apontar, ainda, que diversos fatores se mostram no momento de tessitura dos textos jornalísticos por parte de um jornalista, como a sua forma de ver o mundo, as suas ligações com os assuntos abordados e as relações com a instituição a que está ligado. No caso da cobertura do JN em relação à demissão de Sergio Moro, diversos fatores perpassam a constituição do conteúdo da edição. E o trabalho dos agentes envolvidos, os chamados mediadores (GOMES, 2007), é precípuo para a construção dos sentidos sobre o fato.
Gomes et al. (2005, p. 1) tiveram como uma das perspectivas norteadoras do artigo “Modo de Endereçamento no Telejornalismo do Horário Nobre Brasileiro: o Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão” o seguinte questionamento: “de que modo ele convoca o telespectador?”. A indagação dos autores nos remete a pensarmos sobre o modo de atuação dos envolvidos na tessitura de textos do JN para que ocorra a atração do público. Os mediadores atuam no estabelecimento do estilo do telejornal, para que seja buscado o relacionamento com os espectadores, principalmente aqueles que estão habituados à linguagem apresentada pelo telejornal. Como produto integrante de uma empresa privada, na qual a presença de publicidade é importante gerador de renda, a constituição de uma linguagem que atinja ampla audiência também é um fator relevante.
3 UMA QUESTÃO DE ESTILO: JN E MODO DE ENDEREÇAMENTO
Como falamos, a demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça se deu em 24 de abril de 2020. Na edição do Jornal Nacional do dia, o acontecimento foi amplamente explorado pelo telejornal, organizou o delineamento da edição e norteou boa parte das pautas apresentadas. Tendo em vista a ampla exploração de um assunto e dos pontos que o cercam em uma mesma edição, cabe dizer que os trabalhos dos envolvidos na produção, desenvolvimento e apresentação carecem de observações em nível acadêmico. Por isso, este estudo é focado na observação do papel dos mediadores (GOMES, 2007) no referido telejornal, com foco principal no trabalho dos apresentadores. Ao falarmos do papel dos mediadores de um telejornal, adentramos na reflexão acerca da constituição do estilo dele e do delineamento das materialidades que serão mostradas ao público, o que nos remete a modo de endereçamento. Ressaltamos que o papel dos mediadores é fundamental na constituição do estilo do JN e que tem amplas relações com as perspectivas editoriais adotadas pela emissora que leva o telejornal ao ar. Ainda vale destacar, como mencionamos, que o JN tem atuações que podem ser consideradas polêmicas quando trata de política no cenário brasileiro, o que implica na importância de pensarmos suas transmissões em relação ao contexto político do país.
Modo de endereçamento é um conceito que tem origem na análise fílmica. Segundo Gomes (2007), tem havido, desde os anos 80 do século XX, ressignificações, que são voltadas a abarcar reflexões sobre programas televisivos e suas relações com o público. Elizabeth Ellsworth (2001, p. 11) aponta que modo de endereçamento pode ser visualizado no questionamento: “quem este filme pensa que você é?”. A autora também acrescenta que na seara de modo de endereçamento, um conceito importante é o de posição de sujeito: “Da mesma forma, existe uma ‘posição’ no interior das relações e dos interesses de poder, no interior das construções de gênero e de raça, no interior do saber, para a qual a história e o prazer visual do filme estão dirigidos” (ELLSWORTH, 2001, p. 15). A partir da perspectiva de estarmos abordando um conceito que se refere à constituição do estilo de um telejornal, focado nos sujeitos espectadores vislumbrados, sabemos que o trabalho dos profissionais envolvidos na tessitura telejornalística é primordial para o delineamento desse estilo e demarca uma formação identitária de um produto telejornalístico.
Gomes (2007, p. 23) aponta que adota o conceito de modo de endereçamento em relação à “[...] orientação de um programa para o seu receptor e de um modo de dizer específico; da relação de interdependência entre emissores e receptores na construção do sentido de um produto televisivo e do seu estilo”. A partir das palavras da pesquisadora é possível inferir que os envolvidos na elaboração de um telejornal são atores partícipes da constituição do estilo de um telejornal e de sua relação com o público.
No contexto da análise de modo de endereçamento de um telejornal, Gomes (2007) destaca quatro operadores de análise: 1- o mediador; 2- o contexto comunicativo; 3- o pacto sobre o papel do jornalismo; 4 - organização temática. Neste trabalho, vamos focar na análise do papel dos mediadores da edição do JN do dia da demissão de Sergio Moro. Podem ser considerados mediadores todos aqueles profissionais envolvidos com o delineamento de um telejornal. No caso deste estudo, vamos nos focar principalmente nos apresentadores.
Gomes (2007) assinala a importância da observação da performance7 dos mediadores como um recurso analítico:
A noção de performance, tal como utilizada no teatro, tem sido um importante recurso descritivo para este operador analítico. A noção põe em relevo o caráter interpretativo do desempenho dos atores, dos mediadores televisivos: o ator representa a partir de seu próprio corpo, de suas próprias características, mas ele desempenha um papel. A performance do mediador é um aspecto central dos modos de endereçamento dos programas telejornalísticos [...]. (GOMES, 2007, p. 25)
Em relação à performance no Jornal Nacional, cabe direcionar olhares principalmente para a figura do apresentador William Bonner, que, diversas vezes, apresenta os fatos de forma eloquente e incisiva.
A edição do Jornal Nacional de 24 de abril de 2020 foi bastante longa, com duração de mais de uma hora e meia. Ainda na escalada8, ficou visível que o assunto da demissão de Sergio Moro teria destaque no telejornal. Os apresentadores Renata Vasconcellos e William Bonner começam a escalada fazendo um contraponto entre dezembro de 2018 e abril de 2020. Nas palavras dos dois jornalistas há ênfase para o fato de que no mês de novembro de 2018, Jair Bolsonaro prometeu dar amplo espaço para Moro, no momento em que fez a indicação do ex-juiz ao Ministério da Justiça, e que em abril de 2020, Bolsonaro contrariou os anseios de Moro, demitindo o diretor geral da Polícia Federal.
Nessa parte inicial da escalada, cabe apontar que fica visível a perspectiva de apresentar a mudança de postura de Bolsonaro em relação a Sergio Moro e ao Ministério da Justiça. No momento em que foi selecionada uma fala, de arquivo, de Bolsonaro dizendo que daria amplos poderes a Moro para complementar a introdução feita por Bonner (dizendo: “Novembro de 2018”) e por Vasconcelos (que fala: “O presidente eleito anuncia que vai dar carta branca ao homem que escolheu para ser ministro da justiça”), fica evidente que a posição dos apresentadores está embasada em confrontar a imagem do presidente e de passar perspectivas negativas sobre ele. Cabe apontar aqui que William Bonner, além de apresentador, é editor geral do telejornal, e que Renata Vasconcellos também é editora executiva do telejornal, o que implica que eles se mostram ativos na conformação textual e nos delineamentos dos assuntos levados ao público.
No decorrer da escalada, Bonner aponta: “Abril de 2020”. Vasconcelos salienta: “Contra a vontade de Sergio Moro, o presidente Jair Bolsonaro demite o diretor geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo”. Bonner acrescenta: “E o ex-juiz Moro pede demissão do Ministério com denúncias graves contra o presidente” (JORNAL NACIONAL, 2020, s/p). As palavras dos apresentadores se mostram como dotadas de sentidos de confrontação da atitude de Bolsonaro em 2018, ao nomear Moro, com as ações dele em 2020, que levaram ao pedido de demissão do então ministro. O início da escalada do dia mostra que a equipe que fez os delineamentos da conformação da edição, como um todo, foi ativa na constituição de uma narrativa voltada à geração de polêmicas em torno da figura do presidente da República. Continuando a escalada, os apresentadores enfocam a demissão de Sergio Moro:
- Renata Vasconcellos: Sergio Moro diz que a saída de Valeixo teria também como razão a preocupação de Bolsonaro com inquéritos que ocorrem no STF.
- William Bonner: Moro nega que Valeixo tenha pedido exoneração, como afirma o decreto do presidente, publicado no Diário Oficial.
- Renata Vasconcellos: E diz também que não assinou a demissão, ao contrário do que o decreto registra.
- William Bonner: O presidente Jair Bolsonaro convoca todos os Ministros para se pronunciar aos brasileiros.
- Renata Vasconcellos: Desqualifica a pessoa de Sergio Moro e diz que ele não tem compromisso com o Brasil, mas apenas com seu próprio ego.
- William Bonner: Diz que as denúncias de Moro são infundadas.
- Renata Vasconcellos: Nega que tenha dado carta branca ao ex-ministro e que tenha querido saber sobre investigações e inquéritos em andamento.
- William Bonner: Mas admite que pedia, sem sucesso, relatórios diários das atividades da PF.
- Renata Vasconcellos: Bolsonaro acusou Moro de condicionar o afastamento de Valeixo a uma vaga no Supremo.
- William Bonner: O presidente diz ainda que a PF tem que ter autonomia.
- Renata Vasconcellos: E que não há possibilidade de interferência política.
- William Bonner: O Jornal Nacional cobra do ex-ministro Sergio Moro provas de acusações de que ele fez ao presidente.
- Renata Vasconcellos: E de que Moro não barganhou a nomeação para o STF em troca de demitir o diretor da PF.
- William Bonner: E o ex-ministro da justiça mostra provas com exclusividade ao JN.
- Renata Vasconcellos: O procurador geral da República, Augusto Aras, determina uma análise de possíveis crimes cometidos pelo presidente, segundo as denúncias do ex-ministro da justiça.
- William Bonner: A saída de Sergio Moro provoca críticas enfáticas e a preocupação de autoridades nos três poderes e de organizações da sociedade civil. (JORNAL NACIONAL, 2020, s/p)
É visível que a escalada corrobora a polemização em torno da saída de Moro e da introdução de um noticiário voltado a fazer amplas reflexões sobre o assunto. Também é perceptível a ênfase em criar sentidos negativos em torno da imagem do presidente da República. Isso pode ser evidenciado quando Bonner e Vasconcellos salientam que o Jornal Nacional cobrou provas de Sergio Moro em relação às acusações que ele fez ao ex-presidente e Bonner, falando de forma enfática, salienta que Moro mostrou provas com exclusividade ao JN. Neste momento, a fala de Bonner evoca sentidos de que o telejornal é um espaço legítimo para passar informações exclusivas e não disponíveis em outros espaços jornalísticos. Neste contexto, vale destacar que quando o JN se foca na polemização acerca da saída de Moro do Ministério da Justiça e na corroboração de sentidos negativos sobre Bolsonaro, está tendo uma atuação que pode ser considerada como efetiva no cenário político brasileiro, o que remete a outros momentos do telejornal, como a cobertura das Diretas Já e do debate entre Lula e Collor na eleição de 1989. A opção por focar determinado ponto em detrimento de outros tem participação direta dos mediadores.
Após a apresentação da escalada, Bonner começa o programa fazendo uma espécie de pronunciamento sobre a saída de Moro do governo, o que aponta para o destaque do JN ao assunto e para a ampla cobertura ao fato, pois não faz parte da rotina cotidiana do JN a apresentação de falas longas dos apresentadores no início do programa. Em sua performance, deu ênfase a vários pontos e fez diversas pausas, que foram importantes na produção de sentidos acerca do assunto que estava sendo passado. O fato de o jornalista grifar alguns pontos da fala demonstra que a desenvoltura do mediador é fator primordial para o desenvolvimento do telejornal e para a constituição de seu estilo. Cabe apontar, também, que as expressões faciais de Bonner, durante a sua fala, foram bastante demarcadas e que mexeu a cabeça várias vezes, demonstrando querer dar destaque ao conteúdo que estava sendo proferido. O apresentador começa sua fala:
Terminou hoje, de forma avassaladora, a passagem de Sergio Moro pelo Ministério da Justiça do governo de Jair Bolsonaro. O ex-juiz, celebrizado pela operação Lava-Jato, que recebeu do então presidente eleito carta branca para combater a corrupção e o crime organizado, deixou o cargo após a exoneração do braço direito dele, o diretor-geral da Polícia Federal Maurício Valeixo. (JORNAL NACIONAL, 2020, s/p)
Durante a fala, Bonner mexe muito as mãos e faz diversas movimentações nas sobrancelhas, o que demonstra que está dando destaque ao assunto. Ainda sobre a fala de Bonner, chama a atenção o momento em que ele diz que a saída de Moro do governo se deu de forma avassaladora. O uso de adjetivos não é comum em textos telejornalísticos, o que demonstra que quem escreveu o texto proferido pelo apresentador teve a intenção de chamar a atenção do público. Aqui fica evidente que a postura do apresentador e a sua forma de levar ao ar o assunto em questão marcam a constituição de estilo do JN, na edição em estudo, como incisivo, contundente e voltado para destacar a saída de Moro do governo Bolsonaro. O estilo configurado demarca a busca do estabelecimento de relações com um público interessado em política e em ver polêmicas sobre o assunto. A utilização de conteúdos de arquivos e, em seguida, de falas atuais do presidente têm o intuito de demonstrar a contradição de Bolsonaro na relação com Moro. Além disso, o amplo destaque dado ao acontecimento desde o início da edição pode ser justificado, em parte, pelo fato de que é incomum um Ministro de Estado pedir a exoneração do cargo fazendo acusações contra o chefe do poder Executivo. Aliado a isso, envolveu um dos Ministros mais populares do governo e um personagem que contava com bastante prestígio perante parte da população e dos apoiadores de Bolsonaro. O apresentador segue:
Desde ontem, a intenção do presidente de afastar Valeixo tinha trazido rumores de que o ministro entregaria o cargo, mas enquanto esperava que Bolsonaro avaliasse ao menos que o substituto fosse indicado por ele, Moro, uma edição extra do Diário Oficial de hoje decretava a exoneração e surpreendia o ministro da justiça porque o documento oficial trazia a assinatura dele, além da do presidente e ainda informava que a exoneração tinha sido um pedido de Maurício Valeixo. (JORNAL NACIONAL, 2020, s/p)
Essa parte da fala de Bonner ainda tem cobertura por imagem com recursos gráficos ressaltando os nomes de Bolsonaro e de Moro na assinatura do Diário Oficial. O uso do recurso gráfico (Figura 1) enfatiza o que o apresentador está falando; que Bolsonaro colocou o nome de Moro junto àassinatura da demissão do policial federal, assinalando e enfatizando a postura do presidente que pode ser vista de forma questionável. Novamente, a performance do jornalista é voltada ao levantamento de polêmicas e do conflito entre os personagens. Também cabe ressaltar o papel dos mediadores responsáveis por desenvolver recursos gráficos. Eles contribuem para dar mais informações para o público e para demarcar que o JN assume um estilo de dar amplo espaço para o uso de recursos provindos da tecnologia.
O discurso do apresentador continua com a ênfase ao fato de o Diário Oficial ter tido uma reedição e que a assinatura de Moro foi retirada do documento: “No início da noite, o Diário Oficial foi reeditado, desta vez sem a assinatura de Sergio Moro, mas o estrago estava feito” (JORNAL NACIONAL, 2020, s/p). Neste momento da fala de Bonner, há uma perspectiva de demarcar que o presidente havia publicado um documento faltando com a verdade e com dados incorretos. O apresentador continua:
A demissão de Valeixo foi a gota d’água para Moro, que vinha sendo esvaziado dentro do governo há meses. Ele avisou a imprensa que faria um pronunciamento às 11h da manhã em Brasília, no horário marcado, diante dos jornalistas e de integrantes do Ministério da Justiça, o ex juiz anunciou que deixava o governo, mas também fazia acusações graves ao presidente Jair Bolsonaro, que reverberaram o dia todo e que levariam o presidente também a fazer um pronunciamento menos de seis horas depois. No discurso, em parte improvisado, em parte lido, Jair Bolsonaro negou qualquer interferência política ao substituir Valeixo e ainda acusou Moro de ter exigido a nomeação para o Supremo Tribunal Federal para aceitar a saída de Maurício Valeixo. O Jornal Nacional procurou o ministro para cobrar provas das acusações que ele havia feito publicamente ao presidente pela manhã. E o ex-ministro as apresentou. É essa sucessão de fatos que o Jornal Nacional começa a apresentar a partir de agora. (JORNAL NACIONAL, 2020, s/p)
Quando Bonner fala “A demissão de Valeixo foi a gota d’água para Moro, que vinha sendo esvaziado dentro do governo há meses” (JORNAL NACIONAL, 2020, s/p), produz sentidos voltados à construção de uma perspectiva de que já estaria ocorrendo um afastamento entre o presidente e o Ministro da Justiça no decorrer do governo. E o decorrer da fala do jornalista é voltado à ênfase da existência de acusações graves de Moro em relação a Jair Bolsonaro, ao fato de o presidente ter negado interferência na PF e, também, ao destaque de Moro ter provas feitas ao presidente. A fala de Bonner é voltada a apontar polêmicas em torno da saída de Moro do governo e ele se mostra como um mediador hábil a levantar essas polêmicas e a reiterar que o JN do dia está voltado à polemização sobre o assunto. Aqui, novamente, cabe enfatizar que o JN se mostra como um espaço de fomento em relação a polêmicas no campo da política e como um agente ativo nesse cenário.
No decorrer da edição, partes do pronunciamento de Moro são apresentadas pelo telejornal. Nesta seara, cabe situar o papel das pessoas que delinearam a edição e que selecionaram os pontos da fala de Moro para serem mostrados. O pronunciamento, que teve quase 40 minutos de duração, foi cortado e editado para a apresentação de falas dos apresentadores. Ao fazer a transição de uma parte mostrada do depoimento de Moro para outra, Bonner destaca: “Moro lembrou os termos em que foi convidado a integrar o governo do então presidente eleito. E o compromisso de Bolsonaro de que lhe daria total autonomia no ministério” (JORNAL NACIONAL, 2020, s/p). Neste momento, fica visível a intenção do telejornal em mostrar as práticas contraditórias de Jair Bolsonaro. Foi destacado por Renata Vasconcelos que Sergio Moro fez uma acusação grave a Bolsonaro. Na fala de Moro que foi apresentada na sequência, foi destacada por ele a interferência da presidência na PF. E argumentos do ex-ministro foram mostrados. Neste ponto, visualiza-se que os que foram responsáveis pela tessitura do telejornal deram amplo espaço para os pontos de vista de Moro. Quando falamos que mediadores do JN deram espaço ao lado de Sergio Moro, visualizamos que esses profissionais estão sendo essenciais na constituição do estilo do telejornal e na manutenção das perspectivas editoriais dele, que têm relações com os olhares da TV Globo sobre a política, direta ou indiretamente.
Houve destaque para a acusação de Sergio Moro em relação a Bolsonaro de tentar obter informações sobre inquéritos também no Supremo Tribunal Federal. Bonner frisou que, naquele momento, o STF tinha pelo menos duas investigações que atingiam Bolsonaro ou alguma pessoa da família dele. A fala do apresentador implica em deixar o espectador em alerta em relação ao presidente e gerar polêmicas em relação ao seu nome.
No decorrer da edição, em reportagem, a jornalista Camila Bonfim enfoca:
Ser pego de surpresa com a demissão de Valeixo foi a gota d’água para Sergio Moro. Ele já estava insatisfeito com movimentos políticos de Bolsonaro mirando a PF desde o segundo semestre do ano passado. Foram dezesseis meses no cargo. Muitos deles marcados por uma série de divergências com o presidente. (JORNAL NACIONAL, 2020, s/p)
No decorrer da fala de Camila, é visível uma postura enfática, voltada a demarcar os sentidos sobre o que está sendo falado. No decorrer de sua fala, a repórter faz diversas gesticulações e apresenta uma fala lenta, voltada a demarcar alguns pontos do que está sendo transmitido.
A postura de Camila evidencia que o papel do repórter, no momento da passagem9 na reportagem, é fundamental para dar destaque ao conteúdo e para demarcar determinados sentidos, como a insatisfação de Moro em relação a Bolsonaro.
Um outro ponto-chave da edição em análise é a apresentação do discurso de Jair Bolsonaro, ocorrido às 17h do dia da saída de Moro do governo (Figura 3). Renata Vasconcelos enuncia: “O presidente Jair Bolsonaro assistiu o pronunciamento de Sergio Moro ao lado de militares do alto escalão do governo. Poucas horas depois, anunciou em uma rede social que falaria às cinco da tarde, para, segundo ele, restabelecer a verdade sobre as demissões de Maurício Valeixo e Sergio Moro. O pronunciamento de Bolsonaro foi no Palácio do Planalto. Todos os ministros foram convocados e estavam do lado dele. O presidente começou falando de improviso e acusou o ex-ministro de só ter compromisso consigo mesmo”. A fala de Vasconcelos aponta para a existência de conflitosno governo e a existência de discórdias entre Bolsonaro e Moro. Cabe salientar também que a jornalista destacou o fato de Bolsonaro ter começado seu pronunciamento de improviso, o que cria uma perspectiva de falta de organização por parte do presidente.
No decorrer da apresentação do pronunciamento de Bolsonaro pelo JN, uma outra fala de Renata corrobora a ênfase na existência de conflitos entre o governo e Sergio Moro. A apresentadora salienta: “O presidente Jair Bolsonaro disse que conversou com Valeixo ontem à noite. E ao contrário do que disse Sergio Moro, afirmou que o ex-diretor da Polícia Federal concordou com a exoneração dele a pedido, ou seja, por vontade própria” (JORNAL NACIONAL, 2020, s/p). Com a frase de Renata, fica evidente que há um forte papel dos mediadores do programa em selecionar e dar ênfase a pontos que mostram a ocorrência de discordâncias entre Moro e o presidente da república.
No decorrer da edição, Bonner aponta: “Bolsonaro disse que trabalha com o diálogo e que Moro fez acusações infundadas” (JORNAL NACIONAL, 2020, s/p). Após a frase de Bonner, é mostrada uma parte da fala de Bolsonaro em seu pronunciamento dizendo que sempre foi do diálogo e que nenhum ministro poderia negar isso. Neste ponto, novamente é mostrada a existência de discordância entre Moro e Bolsonaro e há a criação de discursos voltados à apresentação de conflito.
O pronunciamento de Bolsonaro foi amplamente explorado no Jornal Nacional do dia em que ocorreu, o que pode ser verificado como uma perspectiva de decisões da equipe do programa, voltada a polemizar a ocorrência da saída de Moro do governo. Neste ponto, é possível apontar que os mediadores do programa atuaram no sentido de construir uma narrativa telejornalística com demarcação de pontos polêmicos e voltada a destacar conflitos de ideias entre Moro e Bolsonaro. E o trabalho dos mediadores teve amplas relações com a constituição dos modos do Jornal Nacional de narrar o assunto e de constituir sentidos sobre ele. A constituição das notícias do JN e a performance dos que levam elas ao ar não podem ser desvinculadas das perspectivas editoriais do telejornal e das relações dele e da TV Globo com o meio político. Esses profissionais podem, conscientemente ou não, condicionar determinado ponto de vista sobre o caso de acordo com a linha adotada pela emissora, mesmo tratando-se de pessoas com funções de comando perante a redação do jornalístico.
Com o fim da apresentação de pontos do pronunciamento de Bolsonaro, Bonner introduz novo elemento a ser discutido pelo telejornal:
Após o pronunciamento em que o presidente Jair Bolsonaro afirmou que as acusações do ex-ministro Sergio Moro eram infundadas, o Jornal nacional cobrou do ex ministro provas de que elas tinham fundamento. Moro mostrou, então, a imagem de uma troca de mensagens entre ele e o presidente ocorrida ontem. (JORNAL NACIONAL, 2020, s/p)
A postura de Bonner, como em outros momentos do JN em análise, foi enfática e a fala do apresentador foi calma e com a entonação voltada a dar ênfase a algumas palavras. Aqui cabe dizer que o apresentador teve um papel que foi além da introdução de uma reportagem, ele teve uma postura voltada a conduzir o olhar do espectador para os erros do presidente.
No decorrer da cobertura, também foram utilizados recursos gráficos, como no momento em que foram ilustradas as informações passadas por Moro como sendo provas em relação às denúncias sobre o presidente, mostradas na figura 4.
Como mostra a figura 4, através de ilustrações, informações foram destacadas. Neste contexto, cabe novamente apontar o papel dos responsáveis pela elaboração de artes no JN. Esses agentes fizeram um trabalho importante para compor o panorama que o telejornal objetivou passar e a composição de sentido entre o público.
Outro aspecto relevante é o amplo enfoque em relação ao contexto de possível interferência de Bolsonaro na PF na edição em estudo. Para isso, também foram utilizadas diversas ilustrações, que tiveram papel importante na demarcação de sentidos sobre o assunto em questão. O repórter Júlio Mosquéra, na passagem de uma reportagem, dá ênfase para o fato de partidos terem entrado com pedido de impeachment de Bolsonaro. A passagem é gravada em frente ao Senado Federal, mesmo sendo à noite e não havendo atividades políticas naquele local, o que mostra a opção por parte do repórter de criar a ideia de que ele está em local de constante movimentação política.
Após ampla exploração por parte do telejornal em relação ao fato político ocorrido no dia, matérias sobre o coronavírus são levadas ao ar, porém, com tempo bem menor que a cobertura da demissão de Moro e suas implicações. Aqui, cabe inferir também que isso se dá por opção da equipe de formulação do telejornal. Cada decisão referente à tessitura jornalística do telejornal é determinante na constituição do seu estilo. Sabemos que os papéis de todos os envolvidos no contexto da conformação da edição são importantes para a construção da narrativa. Sabemos, também, que as escolhas e a performance dos mediadores são determinantes no delineamento do telejornal e no destaque aos assuntos. E sabemos ainda que essas performances têm amplas vinculações com a posição editorial do telejornal frente aos assuntos políticos. Na medida em que aqueles que fizeram a tessitura do JN da edição em análise optaram por dar mais destaque à saída de Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública do que ao coronavírus, que é uma das pautas mais comentadas no país desde março de 2020, eles delinearam mais o olhar do público para o fato político do que ao problema de saúde pública.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A edição do Jornal Nacional analisada neste estudo pode ser considerada como histórica. Tal importância é perceptível, por exemplo, no tempo destinado ao assunto da saída de Moro do Ministério da Justiça durante 1 hora e 31 minutos da edição completa. Desse total, cerca de 1 hora e 6 minutos foram destinados a reportagens que tratavam sobre os pronunciamentos de Moro e Bolsonaro, contextualização do caso e as repercussões entre políticos, o mercado de ações e em veículos internacionais, os impactos na economia e as ações do poder judiciário. A decisão de destinar tamanho espaço pode ser atribuída, justamente, aos envolvidos na tessitura do telejornal, cujo entendimento foi de que esse acontecimento teria maior prioridade do que as informações sobre a pandemia de Covid-19 no país, assunto que, em edições anteriores, estava em destaque já no primeiro bloco e na escalada.
O decorrer da edição foi marcado pelo delineamento da existência de diversas polêmicas em torno dos fatos que cercaram a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça. E, também, foi marcado pelo destaque à existência de conflitos entre Moro e Bolsonaro. Os mediadores da edição salientaram os embates entre os dois e, assim, houve a constituição de um estilo baseado na exaltação de pontos polêmicos que cercaram a relação entre o presidente da República e o ex-ministro. Aqui, cabe destacar que essa postura dá bases para a conformação de um telejornal que assume um viés controverso em relação à política e que, com suas transmissões, pode ter papel decisivo no andamento do cenário político brasileiro.
Com relação à postura dos apresentadores, é cabível retomar que William Bonner teve, na edição analisada, uma postura dotada de eloquência e voltada a dar ênfase para determinados pontos. A performance marcante do apresentador caracteriza que ele teve papel importante na constituição de sentidos sobre os fatos e na constituição do estilo do JN no dia.
Na medida em que a edição teve um delineamento incisivo ao mostrar as diferenças entre Moro e Bolsonaro e em tensionar os fatos, é cabível falar que foi voltada a dar espaço aos temas políticos e que teve seu estilo constituído com a finalidade de cativar um espectador que buscava informações sobre os fatos políticos do país no dia, visto que o assunto teve ampla repercussão em diversos veículos de imprensa desde a manhã do dia 24 de abril de 2020.
Para finalizar, é importante destacar que o desenvolvimento da edição e a constituição do estilo do programa se deram a partir do trabalho dos envolvidos na tessitura do jornalístico. Assim, os mediadores podem ser evidenciados como fundamentais para a demarcação do JN do dia e para o estabelecimento de relações com os espectadores, bem como no subsídio de informações sobre o acontecimento ao público. Deve-se considerar, ainda, que os mediadores, em seu trabalho de constituição do JN, são agentes que contribuem para fomentar a impactante presença do telejornal no cenário político brasileiro. Como mencionamos no decorrer do texto, o JN teve postura marcante em coberturas de diversos momentos relacionados à política no Brasil, e no caso estudado, não foi diferente.
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Notas