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Racialização, imigração e as transformações dos espaços urbanos em São Paulo

Racialización, inmigración y transformaciones de los espacios urbanos en São Paulo

Racialization, Immigration, and Urban Space Transformations in São Paulo

Alex André Vargem
Universidade Estadual de Campinas, Brasil

Entretextos

Universidad de La Guajira, Colombia

ISSN: 0123-9333

ISSN-e: 2805-6159

Periodicidade: Semestral

vol. 18, núm. 35, 2024

entretextos@uniguajira.edu.co

Recepção: 15 Janeiro 2024

Aprovação: 20 Abril 2024



DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.11442523

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Resumo: A proposta deste ensaio é uma reflexão sobre a constituição da urbanização da cidade de São Paulo no fim do século XIX e início do século XX e os processos de racialização, assim como as migrações contemporâneas que residem na cidade de São Paulo, como a boliviana e africana. Um ponto inicial é a reflexão sobre a inserção dos negros no pós-abolição da escravidão em 1888, ponto central para se discutir a questão de integração e segregação dos mesmos, considerando um conjunto de práticas que criminalizaram os afro-brasileiros recém libertos como o crime de “vadiagem”, caso não comprovassem algum vínculo empregatício poderiam ser levados à delegacia, inclusive, os artistas musicais, além de que as políticas de embranquecimento da população com vinda de imigrantes europeus e as políticas eugenistas foram dialogadas pela elite intelectual paulista.

Palavras-chave: racialização, migrantes, escravidão, afrobrasileiros.

Resumen: Se propone realizar una reflexión sobre la constitución de la urbanización de la ciudad de São Paulo a finales del siglo XIX y principios del XX y los procesos de racialización, así como las migraciones contemporáneas que residen en la ciudad de São Paulo. Un punto de partida es la reflexión sobre la inserción de los negros en la post-abolición de la esclavitud en 1888, punto central para discutir la cuestión de su integración y segregación, considerando un conjunto de prácticas que criminalizaron a los afrobrasileños recientemente liberados como el crimen. de ‘vagancia’, si no acreditaban relación laboral, podían ser llevados a la comisaría, incluidos los artistas musicales, además de las políticas de blanqueamiento de la población con la llegada de inmigrantes europeos y las políticas eugenésicas.

Palabras clave: racialización, inmigrantes, esclavitud, afrobrasileiros.

Abstract: The purpose of this essay is a reflection on the constitution of the urbanization of the city of São Paulo at the end of the 19th century and the beginning of the 20th century and the processes of racialization, as well as contemporary migrations that reside in the city of São Paulo, such as the Bolivian and the African. A starting point is the reflection on the insertion of black people in the post-abolition of slavery in 1888, a central point to discuss the issue of their integration and segregation, considering a set of practices that criminalized recently freed Afro-Brazilians as the crime of “vagrancy”, if they did not prove any employment relationship, they could be taken to the police station, including musical artists, in addition to the policies of whitening the population with the arrival of European immigrants and eugenic policies were discussed by the São Paulo intellectual elite.

Keywords: racialization, migrants, slavery, agro-Brazilians.

Introdução

A proposta deste ensaio é uma reflexão sobre a constituição da urbanização da cidade de São Paulo no fim do século XIX e início do século XX e os processos de racialização, assim como as migrações contemporâneas que residem na cidade de São Paulo.

Um ponto inicial é a refelxão sobre a inserção dos negros no pós-abolição da escravidão em 1888, ponto central para se discutir a questão de integração e segregação dos mesmos, considerando um conjunto de práticas que criminalizaram os afro-brasileiros recém libertos como o crime de “vadiagem”, caso não comprovassem algum vínculo empregatício poderiam ser levados à delegacia, inclusive, os artistas musicais, além de que as políticas de embranquecimento da população com vinda de imigrantes europeus e as políticas eugenistas foram dialogadas pela elite intelectual paulista. A Sociedade Eugênica de São Paulo fundada em 1918, sediada na Rua Libero Badaró, nº 119, curiosamente, o mesmo local no qual hoje funciona a sede da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo (Goés, 2015).

A urbanização no início do século XX, contexto marcado pelo deslocamento com destaque para a população de mulheres e homens negros, ex-escravizados das áreas rurais para espaços urbanos, transformou as relações sociais, como no caso de São Paulo. Portanto, é de suma importância analisar o contexto histórico, sociológico e antropológico da marginalização da população afro-brasileira nas cidades, inclusive, as resistências, seja pelas mobilizações, associativismos da época.

1. Mobilizações Políticas

Do ponto de vista das resistências, como dialogado ao longo do curso, seja por meio das músicas ou processos de associativismo, é importante frisar um conjunto de atores no qual destaca-se a Frente Negra Brasileira (Barbosa, 1998), assim como os intelectuais negros, mulheres e homens que atuaram na Imprensa Negra desde os abolicionistas, em diversos veículos de comunicação, em especial, destaca-se a Imprensa Negra Paulista[1], que reuniu intelectuais e ativistas de diversas gerações que contribuíram com um pensamento crítico e notícias pertinentes à comunidade negra no país e no mundo. Jornais como o Progresso, Senzala, Alvorada, Liberdade, Chibata, Mundo Novo, O Clarim eram lidos entre 1903 e 1963.

De acordo com Félix (2010), nos anos de 1960 e 1970, é importante mencionar a constituição dos Baile Black na cidade de São Paulo. Existiam um conjunto de clubes como o Clube 220, que funcionava no edifício Martinelli. Vale ressaltar que os negros eram impedidos de entrar nos clubes frequentados pela elite branca paulistana: Clube Pinheiros, Homs, Paulistano e o Clube de Regatas Tietê (2º mais antigo da cidade) entre outros, muito criticado na época (1978) pelos ativistas fundadores do Movimento Negro Unificado (MNU). Hoje, o Clube Tietê, patrimônio do poder público municipal, desde 2004 funciona a sede da Faculdade Zumbi dos Palmares, 1ª universidade para negros no país.

Considerando o racismo dos clubes paulistanos frente à presença negra na cidade, no início dos anos de 1960, como resposta, foi criado o Aristocrata Clube (Soares, 2004), sediado na zona sul de São Paulo, gerenciado e frequentado por negros que se sentiam discriminados nos outros clubes, cuja pretensão era de resistência e afirmação da negritude, no qual mulheres e homens negros se filiavam e frequentavam também os diversos espaços e atividades ofertadas, entre as quais, musicais.

Neste contexto, em pleno período da ditadura militar brasileira, no âmbito urbano, da relação entre o centro e a periferia, da marginalização, os bailes Black realizados nas periferias, no centro, e inclusive, nas ruas da cidade se consolidavam, em especial, na década de 1970 (Lopes, 2007). Eram espaços de socialização e também da afirmação da negritude paulistana, de trabalhadores urbanos (empregadas domésticas, operários, etc) espaços que tocavam a soul music, considerada por alguns como instrumento de libertação dos afro-americanos, funk, R&B, compostos por Djs, a popularização do samba rock (com vários elementos que expressam o sentimento das famílias negras) os cabelos estilos Black Power, contestação ao racismo, movimento Black is Beautiful, a indumentária e toda a influência do movimento dos Panteras Negras nos Estados Unidos, o movimento dos Direitos Civis (EUA), os Pan Africanistas, a formação do Movimento Negro Unificado (MNU) nas escadarias do Teatro Municipal, a luta dos países africanos que conseguiam a sua independência frente aos colonizadores europeus, o posicionamento contrário ao regime do apartheid na África do Sul, assim como o Teatro Negro apresentado no MASP com a peça “E Agora Falamos Nós”, no qual minha saudosa mãe foi uma das atrizes juntamente dos meus 4 tios e tias que compuseram o elenco, composto somente por negros, além da formação do Centro de Cultura e Arte Negra em São Paulo (1971), fundado pela intelectual negra Thereza Santos (Rios, 2014) juntamente de membros da minha família. Academicamente, a Quinzena do Negro na USP (1977) também impulsionou movimentos culturais e políticos na metrópole paulista, idealizado pelo sociólogo Eduardo de Oliveira e Oliveira.

artaz de estreia da peça: “E Agora Falamos Nós” – Ano de 1971
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artaz de estreia da peça: “E Agora Falamos Nós” – Ano de 1971

2. Memória

A memória negra na cidade de São Paulo é fruto de uma importante reflexão de como a constituição de espaços por grupos racializados são esquecidos e invisibilizados. Talvez, o que exemplifica isso, como discutido na segunda aula, é o bairro da Liberdade. As reflexões apontadas por Sevcenko (2004), considera a Rua São Paulo localizada no centro a mais representativa da cidade por conta daquilo que se oculta, no qual denomina de “pontos-cegos”, um contraponto aos locais que a história oficial geralmente valoriza como o Pateo do Colégio, o simbólico marco zero da cidade na Pça da Sé, além de outros locais da metrópole. É destacado a presença negra (africana e afrodescendentes) outrora escravizada que habitavam o bairro da Liberdade, com forte representação.

O próprio nome Liberdade foi ecoado por pessoas que pediam a libertação de um homem negro escravizado que seria enforcado mas como a corda arrebentou por 3 vezes, foi morto a pauladas. Entre os locais centrais, estão o cemitério e a capela dos aflitos, localizado entre as Rua Galvão Bueno e Rua da Glória; o Largo do Pelourinho (hoje Largo 7 de Setembro, a poucos metros da Pça João Mendes), local no qual escravos eram açoitados; a Igreja Santa Cruz dos Enforcados, localizada no coração da Pça Liberdade. O interessante é que o debate e as críticas estão em curso, promovida pelos movimentos negros, referente a processos sociais e políticos no sentido de se anular a memória do bairro Liberdade ser historicamente negro, sobretudo, nos últimos anos, no qual a estação Liberdade do metrô (linha Azul) foi rebatizada em 2019 para “Japão-Liberdade”, em reverência a presença asiática, majoritariamente japonesa, e em parte pela chinesa, que habitam o bairro desde o início do século XX. Há um Projeto de Lei nº 71 /2020 no âmbito da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo para se alterar o nome da estação para “Japão, Liberdade, África” mencionando assim o povo africano que habitou a região e a população japonesa que chegou no começo do século XX.

Como campo de disputa, há um outro projeto de Lei (703/2020) por parte da Câmara dos Vereadores de São Paulo que institui a “Feira Oriental da Liberdade”, que veta a possibilidade de vendas de produtos que não sejam orientais, considerando que lá funcionam barracas de comida como acarajé, fogaça, pastel, tapioca, caldo de cana entre os diversos artesanatos, medida que gerou uma discussão em 2020.

É importante atentar-se que muitas mulheres e homens negros que saíram da região central neste período, foram habitar bairros da zona norte paulistana, como o bairro da Casa Verde, no qual alguns autores atribuem o território como uma pequena África paulistana, no qual surgiram, por exemplo, grandes agremiações carnavalescas até hoje sediadas nesta parte da cidade (Kaçula, 2019).

Como contraponto, é importante mencionar que ruas com nomes ou memorial de negros na cidade de São Paulo estão representados na região central, especialmente no bairro da Bela Vista, como a a Rua 13 de Maio (data da Abolição da escravidão de 1888), Rua Abolição, Monumento em homenagem ao abolicionista Luiz Gama[2], localizada no Largo do Arouche, e na parte mais elitizada da cidade, entre Pinheiros e Jardins, a Avenida Rebouças[3], o Túnel Noite Ilustrada[4], que liga a avenida Rebouças à Av. Dr. Arnaldo e o Pacaembu.

3. Bolivianos no Bairro do Bom Retiro

No que tange à Boca do Lixo e regiões próximas como o Bom Retiro, Luz, Campos Elíseos, Pça Júlio de Mesquita, etc, é possível observar a transformação desses locais e os processos de ilegalidades como aponta Teixeira (2015), região que funciona a Cracolândia ao lado da Estação de Trem Júlio Prestes. Também há algumas ocupações dos diversos movimento dos sem-teto, compostos por brasileiros ou somente de imigrantes e refugiados africanos e/ou haitianos que residem na região. A região da Luz era uma porta de entrada para a cidade pois ali funcionava o Terminal Rodoviário antes de ser transferido para o Tietê no início da década de 1980, no qual chegavam migrantes de diversas cidades, em especial, nordestinos. O Bairro do Bom Retiro, das fábricas que atuavam operários de origem italiana, hoje dá destaque às lojas de roupas, algumas de grifes, mas também é um forte local dos imigrantes coreanos.

Hoje, junto há grande presença dos Coreanos no bairro que possuem grandes comércios, região também conhecida como “Coreatown” há uma presença dos povos andinos, no caso, dos bolivianos (alguns são indígenas da etnia Aymara) e alguns peruanos que residem o bairro, ambas as nacionalidades trabalham no ramo da confecção em oficinas de costura e vendem a produção feita com a família para as grandes lojas de roupas. Judeus ortodoxos também habitam a região. Recentemente, em meados de junho de 2021, a Rua Três Rios, uma das principais ruas do Bom Retiro, foi eleita como uma das ruas “mais legais do mundo”, ranking feito pela revista britânica “Time Out”, configurando um ranking de 7º lugar, mas a seguir farei um contraponto.

Para retratar um segmento do bairro, farei um testemunho. Como mencionado, há uma presença de bolivianos na região e alguns peruanos, que atuam em oficinas de costura e inclusive, alguns em situação análoga à de trabalho escravo. Os dados que evidencio a seguir foram coletados na época em que eu atuava na diretoria da Pastoral do Migrante, instituição presente na região do Campos Elíseos e Bom Retiro. Circulei muito por aquelas ruas junto às comunidades da América do Sul e África. Em 2018, acompanhei alguns dias os agentes sociais na região para compor um relatório, no caso, os agentes são bolivianos que faziam o trabalho de base junto às oficinas de costura, num trabalho de conscientização e sensibilização dos direitos no Brasil.

Numa rua próxima à José Paulino, centro de lojas de roupas, e da rua Três Rios, há um conjunto de casas chamada Vila Michele Anastasi, construída no início do século XX para abrigar operários migrantes italianos que trabalhavam nas fábricas da região. Posteriormente, anos de 1970 e 1980 era uma vila composta por trabalhadores do nordeste do Brasil, os chamados nordestinos brasileiros. Hoje, os moradores que habitam lá são bolivianos e alguns peruanos. Estive presente no monitoramento do trabalho de base junto aos 2 agentes sociais, 2 bolivianos indígenas que falavam Aymara e Quéchua, e pela experiência, tinham facilidade de se comunicar com os demais compatriotas. Apresento algumas fotos de minha autoria.


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Observa-se nas fotos, um lugar discreto, com um acesso por um túnel. Nos cortiços, os bolivianos moram e trabalham no próprio local, atuam no ramo de confecção com oficinas de costura no qual a família está envolvida na cadeia de produção, há muitas mulheres e crianças na vila. O registro foi em agosto de 2018, nota-se as bandeiras do Brasil nos pós copa do mundo de futebol, e os 2 agentes bolivianos atuando e fazia os registros para compor alguns dados. Ainda hoje, em 2021 continua a mesma configuração no sentido do estrato social e nacionalidades presentes.

4. Bolivianos no Bairro da Penha em São Paulo

Um outro exemplo da mudança da composição social na cidade de São Paulo é o bairro da Penha, zona leste da cidade. No Largo do Rosário existe a Igreja Rosário dos Homens Pretos da Penha, construída em 1802, erguida por negros que faziam parte da Irmandade dos Homens Pretos, proibidos de frequentar a igreja dos brancos, considerando todo o período de escravidão e pós escravidão.

Hoje, o Largo do Rosário é ocupado pela Feira Cultural dos Povos Andinos, importante espaço que reúne a comunidade boliviana. Em 2020, por exemplo, a convite de lideranças da comunidade boliviana que eu atuo em conjunto na organização da Marcha dos Imigrantes e Refugiados, pude presenciar e registrar junto aos amigos bolivianos o evento. O interessante é que a Igreja Rosário dos Homens Pretos da Penha, espaço simbólico para o movimento negro da região, agora é frequentado por uma parcela bem significativa de bolivianos, inclusive, com festas folclóricas como a Alasitas, organizada pela Feira Cultural dos Povos Andinos. Na Bolívia, Ekeko é um personagem em miniatura associado à abundância e prosperidade, e ele é a figura central no Festival de Alasitas, que na língua Aymara significa: "cómprame" (Compra de Mim). A celebração possui grupos folclóricos e comidas típicas, inclusive, a presença dos curandeiros Aymaras bolivianos, conhecidos como ‘Yatiris’.


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Nas fotos observa-se os bolivianos ocupando o Largo com a Igreja ao fundo, além dos grupos folclóricos e os Yátiris realizando as oferendas na frente da Igreja, além de realizarem atendimento pessoal de purificação com defumação, bebidas alcólicas e aconselhamentos aos que solicitavam.

5. Africanos de Biafra no centro de São Paulo

Por fim, gostaria de evidenciar o caso da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos que fica no Largo do Paissandu, centro da cidade de São Paulo, construída em 1721 na Praça Antonio Prado, demolida em 1903 pelo processo de urbanização da época e reconstruída em 1906 no atual local. Em espacial, no Largo do Paissandu que teve a queda da torre de vidro, prédio ocupado que pegou fogo e desabou no dia 1º de maio de 2018, no qual pude acompanhar e relatar o drama vivido[5] pelos sobreviventes.

No dia 30 de maio de 2021, houve uma manifestação religiosa dos imigrantes e refugiados de Biafra (Território localizado na Nigéria), grupo que tenho acompanhado há muitos anos e que tenho um forte vínculo, realizando atividades junto aos mesmos ao longo dos anos, inclusive, compõem a minha pesquisa de doutorado. Eles ocuparam a Igreja que é referência para o movimento negro paulistano e fizeram um ato religioso.

O dia 30 de maio é um dia sagrado para eles pois comemora-se o Biafra Heroes - Dia dos Heróis de Biafra. O grupo denominado Povos Indígenas de Biafra é o grupo de biafranos, como se denomiam. Neste dia, eles pedem paz e a independência da terra natal, clamam a separação da Nigéria, que sejam livres e formem um Estado independente. Nesta data relembra-se e homenageia-se os quase 2 milhões de mortos, resultante da “Guerra Civil da Nigéria” ou “Guerra de Biafra” entre 1967-1970. Muitas destas situações foram provocadas pela presença da colonização europeia no início do século 19, que mesmo após a retirada, deixou resquícios, divisão e disputas políticas resultantes da sua presença. Os biafranos, maioria da etnia igbo se sentem marginalizados e perseguidos em seu território, seja pelo governo nigeriano, seja por parte dos outros grupos étnicos. Ainda hoje, há diversas violações dos direitos humanos na região, com milhares de mortes. Algumas fotos a seguir que registrei no dia.


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Neste dia, fui convidado pelas lideranças e no final do culto fiz uma saudação aos presentes. Como observa-se nas fotos, eles levaram a bandeira de Biafra, assumindo a identidade de não-nigerianos. Além de camisetas pedindo o referendum para o território se tornar independente da Nigéria. O ato religioso foi proferido por 3 padres de Biafra, que ocuparam o altar e proferiam a missa na língua igbo e em inglês, ao som de tambores e um coral de biafranos, mulheres e homens que cantavam no interior da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Também, os padres pediam a liberdade de Biafra ecoando em alto som “Biafra Freedom”.

Considerações Finais

É interessante observar como as aulas desde o início trouxeram elementos interessantes para análise e as respetivas conexões no âmbito da temporalidade e as escalas, a reflexão sobre o processo urbano, o pós-abolição, o centro de São Paulo, os italianos e os nordestinos na cidade, as músicas, a construção da identidade, os ilegalismos, o debate acadêmico sobre as comunidades, etc.

Como pesquiso a questão da mobilização dos imigrantes e refugiados africanos na cidade de São Paulo, composto por diversas nacionalidades de diferentes estratos sociais, as reflexões advindas dos diálogos com todos os colegas e a pesquisa de outros referenciais bibliográficos contribuirão na análise da construção desse conhecimento pela etnografia. Referente as aventuras de antropólogos em campo e como escapar das armadilhas do método (Cardoso, 2004) é importante a volta ao trabalho de campo e ao respeito pelo dado empírico, negando a neutralidade do pesquisador, a subjetividade, a coleta de dados com os atores no campo, a reformulação de hipóteses, a mediação entre a análise e a produção da informação.

A imersão dos pesquisadores que utilizam o método etnográfico para a construção de novos conhecimentos, a interação com os sujeitos da pesquisa, fato que permite um olhar crítico e aprofundado. Há uma heterogeneidade dos segmentos que hoje ocupam e transitam em espaços históricos na cidade de São Paulo. É importante estar atento às modificações de suas identidades, o contexto das lutas coletivas, as complexidades dos movimentos sociais que possuem diversas vozes, as tensões, práticas e pontos de vista diferenciados, seja nas atividades recreativas ou reivindicatórias.

Referencias bibliográficas

Acervo. Imprensa Negra. A Universidade de São Paulo digitalizou o acerto. Disponível em: http://biton.uspnet.usp.br/imprensanegra/

Cardoso, R. C. L. (2004). Aventuras de antropólogos em campo ou como escapar das armadilhas do método. In: A aventura antropológica: teoria e pesquisa[S.l: s.n.].

Felix, J. B. de J. (2010). Chic Show e Zimbabwe e a Construção da Identidade nos Bailes Black Paulistanos. Dissertação de Mestrado em Antropologia Social- Universidade de São Paulo (USP).

Góes, W. L. (2015). Racismo, eugenia no pensamento conservador brasileiro: a proposta de povo em Renato Kehl. 276 f. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Faculdade de Filosofia e Ciências.

Barbosa, Márcio (1998). Frente Negra Brasileira: depoimentos/entrevistas e textos. Quilombhoje, (Org.). São Paulo.

Kaçula, T. (2019) Casa Verde: uma pequena África paulistana. Editora LiberArs.

Lopes, Maria Aparecida de Oliveira (2007). História e memória do negro em São Paulo: efemérides, símbolos e identidade (1945-1978). Assis. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Ciências e Letras de Assis – Universidade Estadual Paulista.

Projeto de Lei nº 71/2020 - Denomina "Japão - Liberdade - África" a atual estação Japão-Liberdade do Metrô de São Paulo. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/propositura/?id=1000319630 Acessado em: 18/06/2021

Projeto de Lei n° 789/2020 - Feira Oriental da Liberdade, para a valorização e difusão da cultura oriental. http://documentacao.camara.sp.gov.br/iah/fulltext/parecer/CONJ0703-2020.pdf. Acessado em 20/06/2021

Rios, F. (2014). A trajetória de Thereza Santos: comunismo, raça e gênero durante o regime militar. Plural (São Paulo. Online), v. 21, p. 73-96.

Sevcenko, N. (2004). A cidade metástasis e o urbanismo inflacionário: incursões na entropia paulista. Revista USP, (63), 16-35.

Soares, R. da S. (2004). Negros de classe média em São Paulo: estilo de vida e identidade negra. Tese [Doutorado]. São Paulo: FFLCH/USP.

Teixeira, A. (2012). Construir a delinquência, articular a criminalidade: um estudo sobre a gestão dos ilegalismos na cidade de São Paulo. Doutorado em Sociologia – Universidade de São Paulo.

UOL. Rua do centro de São Paulo é eleita uam das “mais legais do mundo” https://www.uol.com.br/nossa/noticias/redacao/2021/06/10/tres-rios-em-sao-paulo-e-eleita-uma-das-ruas-mais-legais-do-mundo.htm.

Vargem, A. (2018). Entre selfies e escombros: imigrantes e refugiados após desabamento no Largo Paissandu. MigraMundo. Disponível em: https://migramundo.com/selfies-escombros-imigrantes-refugiados-apos-o-desabamento-largo-paissandu/

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