Resumo: O objetivo do trabalho é apresentar uma transcrição do primeiro capítulo de um catecismo manuscrito anônimo em língua geral e parcialmente em latim, produzido, com muita probabilidade, por um dos jesuítas de língua alemã que atuaram na Amazônia em meados do século XVIII. O capítulo trata sobre os temas do nome do “cristão” e da prática do sinal da cruz. A transcrição é acompanhada de notas com as traduções para o português, sendo precedida por um texto de apresentação com hipóteses acerca da autoria do catecismo, o contexto histórico da produção do documento e a situação linguística das missões do Grão-Pará no setecentos.
Palavras-chave: Catecismo, Língua Geral, Jesuítas, Amazônia portuguesa, Século XVIII.
Abstract: The aim here is to present a transcription of the first chapter of an anonymous manuscript catechism in both Língua Geral and, partially, in Latin, which was very probably composed by one of the German-speaking Jesuits that worked in the Amazon region in the mid-18th century. This chapter deals with the matters of the name “Christian” and the practice of the sign of the cross. The transcription is accompanied by notes on the translation into Portuguese, and is prefaced by the presentation of hypotheses concerning the author of the catechism, the historical context of its production, and the linguistic situation of the missions of Grão-Pará in the 1700s.
Keywords: Catechism, Língua Geral, Jesuits, Portuguese Amazon, 18th century.
Documentos Históricos
O sinal da Cruz em um catecismo na língua geral da Amazônia [175-]
The sign of the Cross in a catechism in the general language of the Amazon [175-]
Recepción: 27 Enero 2017
Aprobación: 04 Marzo 2018
O manuscrito Doutrina christaã em lingoa geral dos Indios do Estado do Brasil e Maranhaõ, composta pelo P. Philippe Bettendorff, traduzida em lingoa geral e irregular, e vulgar uzada nesses tempos (Fol. 1- 6, ms.1089, Biblioteca da Universidade de Coimbra)1 (doravante Doutrina) é anônimo e sem data. A caligrafia do códice oferece algumas pistas sobre a identidade de seu autor. A forma de grafar o sinal de parênteses (/: : /)2 , revela que o autor dominava a língua alemã (Monserrat, Barros&Schmidt-Riese, 2017).
A hipótese a respeito do códice é que ele foi provavelmente escrito por um dos oito jesuítas centro-europeus de língua alemã que chegaram à Amazônia entre 1750 e 1753 para atuar como missionários. Esse grupo deixou testemunhos do seu processo de aprendizado da língua geral. Além da Doutrina, escreveram três dicionários (Prudente, 2017) e um extrato gramatical (Rosa, 1994) sobre a língua geral (Barros & Monserrat, 2016):
Todas as fontes acima assinalam que a língua geral usada então nas missões não correspondia mais àquela que os missionários tinham aprendido nos catecismos e nas gramáticas jesuíticas impressas (Anchieta, 1595; Figueira, [1621] 1687; Araújo, 1618; Araújo & Leam 1687). O padre alemão Anselmo Eckart (um dos candidatos a autor do catecismo parcialmente transcrito adiante) identificava as missões “paraenses” como o espaço da língua geral “corrompida”, diferente do modo de falar dos índios tupinambá, associado ao Estado do Brasil:
Deus non moritur, Tupànomanói. este é genuíno modo de falar no Brasil o dialeto Toupinambeus (sic). Mas nas Missões Paraenses, onde o idioma já está um tanto quanto corrompido, assim dizem: Deus, Tupã, ou Tupána, non, nitiú, moritur, omanó” (Eckart, 1778 apud 1994,p. 177) [negrito acrescentado ao original]
Foi esse uso da negação atribuído às missões - nitiú, mencionado acima por Eckart (1778), que o autor da Doutrina usou no capítulo aqui transcrito3. Em passagem de outro capítulo ele emprega a mesma expressão “nitiú omanó” [‘ele não morreu’], empregada por Eckart em 1778.
R. Nitiúomanójebýráma ?:opŷatãpupéojeupir.
Nitiú omano jebyr aráma ‘não morrerá de novo’ o-pyatãpupé o-jeupír ‘com a própria força se elevou’. (Capítulo sobre a ascensão de Cristo ao céu). [trad. R.M.]
Ascendit immortalis, propriâ virtuteElevatus. (Anônimo 175-a, f.30r) [negrito acrescentado ao original]
As cinco fontes linguísticas escritas pelos jesuítas de língua alemã do período entre 1750 e 1759 fazem uso do termo “vulgar” para se referir ao modo de falar a língua geral dos índios das missões naquele momento (“nesses tempos”, como diz a Doutrina), em oposição à forma registrada nas obras impressas em tupi no século XVII. É esse registro “vulgar” da língua geral que o autor de Doutrinas e propõe a usar para adequar o diálogo de pergunta e resposta jesuítico tradicional (associado a “Bettendorff”) a uma audiência que não mais dominava o registro jesuítico impresso do tupi.
As missões paraenses foram espaços de mudança da língua geral devido à intensa mobilidade e diversidade etnolinguística de sua população. Alguns jesuítas do século XVIII mencionam que as missões não eram mais ocupadas por índios descidos que falavam a língua geral (Daniel, 2004, p. 334). Ao chegarem às missões, os índios eram socializados no seu cotidiano pela variedade da língua geral "corrompida"do século XVIII, segundo o padre João Daniel (2004, p. 334). A circulação dessa variedade por outros setores coloniais se deu devido à mobilidade de homens e mulheres das missões por conta das redes de trabalho compulsório às quais estavam obrigados. Algumas mulheres eram mandadas para as casas dos colonos como amas de leite ou como farinheiras. A parte masculina das missões passava ao menos seis meses do ano como remeira, período em que os homens ficavam fora da missão e em contato com outros índios. A regulamentação do trabalho dos índios da missão estava definida pelo "Regimento das missões" de 1686 (Mattos, 2012).
Levando em consideração as marcas germânicas da escrita do documento e o registro da língua geral empregado como próprio do século XVIII, podemos considerar que a Doutrina faz parte de um corpus documental produzido pelos oito jesuítas centro- europeus de língua alemã que atuaram no Estado do Grão-Pará e Maranhão entre 1750 e 1757.
A vinda deste grupo para a Amazônia portuguesa foi articulada pelo padre austríaco Roque Hundertpfundt (1709-1777), que atuava na região desde a década de 1750. Hundertpfundt era muito próximo da então rainha de Portugal Maria Ana de Áustria. A consorte real requereu junto ao superior geral da Companhia de Jesus, o padre Francisco Retz, que este autorizasse o envio de missionários de língua alemã para o Grão-Pará e Maranhão, conforme o pedido do padre Roque, que havia sido chamado à corte em 1749 na qualidade de procurador da Vice-Província do Maranhão.
Em 1750, foram enviados à Amazônia lusa dois padres, Lourenço Kaulen (1716- c.1797) e Antônio Meisterburg (1719-1799). Em 1753 chegaram à região os padres Martinho Schwartz (1718-1788), Anselmo Eckart (1721-1809), David Fay (1722-1767), Henrique Hoffmayer (1721-1757), João Nepomuceno Szluha (1723-1803) e José Kayling (1725-1791). No momento em que foram convocados, estes padres eram docentes em diferentes colégios jesuíticos localizados no Sacro Império Romano Germânico, portanto o trabalho nas aldeias do Grão-Pará e Maranhão foi sua primeira e única experiência como missionários (Leite, 1949a, 1949b; Meier & Aymoré, 2005).
Segundo o relato do padre Anselmo Eckart, o plano inicial do padre Hundertpfundt contemplava a vinda de doze missionários, mas apenas os oito citados foram enviados (Eckart apud Papavero & Porro, 2013, p. 63). Uma possível explicação para a interrupção do envio de mais padres centro-europeus para a Amazônia foi o falecimento da rainha de Portugal Maria Ana de Áustria em 1654, visto que ela foi a intermediária entre o padre Hundertpfundt e o superior geral dos jesuítas, o padre Francisco Retz, como supracitado. A morte da rainha acabou por fortalecer ainda mais o poder do secretário régio Sebastião José de Carvalho e Melo –que posteriormente recebeu o título com o qual ficou mais conhecido na história–, o Marquês de Pombal.
Em meados do século XVIII Carvalho e Melo assumiu a secretaria de Estado de Portugal. Este político esteve à frente do governo luso entre 1750 e 1777, instituindo políticas que objetivavam modernizar o Estado português através da promoção de reformas econômicas, políticas e educacionais (Maxwell, 1996). O estado do Grão-Pará e Maranhão era uma região estratégica para o plano pombalino de recuperação econômica do império luso. Não por acaso Carvalho e Melo enviou seu irmão Francisco Xavier de Mendonça Furtado para o governo do norte da América portuguesa.
Durante o governo pombalino, ocorreram mudanças na relação entre Portugal e os membros da Companhia de Jesus. Adepto do regalismo, Carvalho e Melo passou a ver com maus olhos os negócios e a interferência dos inacianos no império luso, em especial no Grão-Pará e Maranhão, de onde recebia missivas de seu irmão governador sobre as contendas dos jesuítas com os colonos da região, principalmente sobre a questão do uso da mão de obra indígena.
Foi neste contexto, no início da década de 1750, que chegaram ao Estado do Grão-Pará e Maranhão os oito jesuítas da Europa Central supracitados. Eles permaneceram menos de dez anos na Amazônia, mas produziram diversos documentos de caráter linguístico (dicionários e catecismo em língua geral), bem como relatos de suas experiências na região amazônica (Eckart apud Papavero & Porro, 2013).Parte desse grupo atuou na região do rio Xingu e do rio Madeira, e outra, no Maranhão. Eles eram chamados de "tapuitinga" ("bárbaro branco", em tupi) pelos índios das missões amazônicas, segundo o padre David Fay (Fay apud Ronai, 1942, pp. 268-269).
Em um momento de redefinição das fronteiras coloniais ultramarinas entre Portugal e Espanha em virtude do Tratado de Madri (1750), a presença dos jesuítas centro-europeus em áreas fronteiriças na Amazônia foi vista com desconfiança pelas autoridades coloniais. Em virtude disso, os "tapuitinga" sofreram diversas acusações de conspiração com colonos e índios e de desobediência às leis régias. Não é de estranhar, assim, que estejam entre os primeiros jesuítas perseguidos e expulsos do Grão-Pará e Maranhão, sendo encarcerados em Portugal, alguns deles por quase vinte anos, até o fim do governo do Marquês de Pombal em 1777 (Prudente, 2017, pp. 80-125; Fernández Arrillaga & García Arenas, 2009, pp. 227-256).
A expulsão dos jesuítas dos territórios ultramarinos de Portugal foi o pontapé inicial na campanha anti-jesuítica da Europa, que culminou com a supressão da Companhia de Jesus (Wright, 2006, pp. 178-214). Antes disso, as resoluções pombalinas cada vez mais desfavoreciam os interesses da Ordem, sobretudo a partir de 1755, "o ano da virada na Amazônia portuguesa", nas palavras de Francisco Jorge dos Santos e Patrícia Maria Melo Sampaio (Santos & Sampaio, 2008). Entre as diversas medidas que provocaram uma inflexão na política colonizadora lusa, constou a perda do poder temporal pelos padres regulares (franciscanos, carmelitas, mercedários e jesuítas) sobre os índios amazônicos e a secularização das missões, transformadas em vilas.
As resoluções de Pombal seriam aglutinadas e ampliadas no documento do Diretório dos índios (Portugal, 1758), que previa em seu sexto parágrafo a proibição do uso da língua geral ou de outras línguas nativas no trato com os índios e a promoção da língua portuguesa. A questão do uso da língua geral na Amazônia já era discutida entre Mendonça Furtado e Pombal, como é possível observar em algumas cartas trocadas entre os dois (Mendonça, 2005).
Furtado via o difundido uso do tupi no Grão-Pará e Maranhão como obstáculo às novas diretrizes lusas para a região. No entanto, mesmo em um contexto político desfavorável ao uso da língua geral na Amazônia, os jesuítas continuaram a produzir documentos de caráter linguístico e religioso utilizando o tupi, como dicionários e catecismos (Prudente, 2017). Dessa forma, os jesuítas não abriram mão de seu modus operandi que, seguindo o princípio apostólico da acommodatio, previa a utilização das línguas dos nativos dos locais de missão para evangelizá-los. Nesse sentido, a Doutrina, tendo sido escrita na época pombalina, é um exemplo da persistência dos jesuítas na região amazônica em utilizar uma língua indígena para a catequese, contrariando frontalmente as ordens metropolitanas.
Transcrevemos abaixo o capítulo “Sobre o fim da criaçaõ, sinal da cruz e meyos da salvaçaõ” (fólios 1 – 6). São 36 perguntas e respostas sobre os temas do significado de “cristão” e da prática do sinal da cruz (Barros e Monsserrat 2016), organizados em duas colunas, uma em língua geral e outra parcialmente em latim. O uso do latim como língua de tradução nos documentos produzidos pelos padres centro-europeus evidencia a sólida formação desses religiosos naquele idioma, além de ser uma estratégia para que outros missionários sem domínio do português pudessem compreender o sentido dos termos em língua geral, como no caso da Doutrina.
A transcrição paleográfica é semi-diplomática. Na medida do possível, foram preservadas e reproduzidas as rasuras presentes no documento, bem como a grafia das duas colunas. Houve expansão de algumas das abreviaturas por meio de itálicos, outras vezes por colchetes. As interferências foram introduzidas também por colchetes. A numeração dos turnos de perguntas e respostas foi acrescentada pelos editores. Procurou-se manter a mesma disposição dos enunciados nas duas colunas do original, pois uma hipótese é que seu autor tenha querido estabelecer uma correspondência interlínguas organizada espacialmente. Não foi possível, porém, seguir esse procedimento quando houve expansão de abreviaturas ou acréscimos em colchetes.
A transcrição é acompanhada de notas de rodapé contendo as traduções para o português do texto em língua geral (feitas por Ruth Monserrat) e do texto em latim (feitas por Ilario Govoni e Karl Arenz). A tradução da língua geral para o português manteve as glosas instituídas nas fontes tupi jesuíticas. Por exemplo, a palavra tecoangaipaba (ver 34.R) é traduzida por ‘pecado’, como fixou-se nos catecismos e dicionários jesuíticos, e não por ‘maldade’ ou por‘ação má’ ou ‘vida má’, como ficaria pela sua morfologia: tecó-áng.aíb-aba.
Em lingoa geral dos Indios do Estado do Brasil e Maranhaõ, composta pelo P. Philippe Bettendorff, traduzida em lingoa g irregular, e vulgar uzada nesses tempos
Livro I
Do que pertence a Fé
Dos mysterios, q' se contem no Credo
Caput I
Introduçaõ
Sobre o fim da Criaçaõ, Sinal da cruz, e meyos da Salvaçaõ
[Fl. 1]
P.Abápe erimbäé icó ára, /: ybŷ :/ ybŷpóra pabé, paraná; i-póra, ybáka, có aracý, jacý; jacýtatá, ára, pytúna, ybŷtu, opacatu mbäé
abé omonháng?4
[Fl. 1]
Quis olim hunc mundum, terram, quæ in mundo
sunt, mare, in illo contenta coelum, solem, lunam, stellas, diem, noctem,
ventum, omnes quæ res fecit?5
1. R.
Tupána, jandé Iára.6
2. P. Abá
çupé Tupána opacatú mbäé monháng?7
Pro quo 8
[Fl.1v]
2.
R. Jandébo, jandé mbäérama, çöó etá,
jandé rembaberáma amó, amó jandé
rembiuaráma.
Pirá recé jabé jebŷr: cóaracý omëengaráma ára jandébo: jacý, cendyráma, pytúnarame: jabé jebŷr
opacatú amó, Tupána remimonhanga recé
jandé mbäeráma nhénhé:9
[Fl. 1v]
animalia,
alia ut educemus, alia, que comedamus.
De piscibus idem est: solem, ut det diem nobis: lunam, ut luceat, cum fuerit nox : idem est de
omni alio, quod Deus fecit in usum
nostrum denique.10
3. P.Cöŷr:
mbäeráma Tupána jandé monháng?
Míra mbäérama cecó có ybý pupé?
omoçaräimbäeráma? ombaeuuaráma? Ocäumbaeráma? Oporomonhangmbaeráma,? Oporomenombaerama?11
Homines ad quid
sunt in hâc terrâ? ad ludendum? ad comedendum? ad bibendum? ad se propagan-
-dos?
ad fornicandum?12
3. [R.]
Aananangaité, aanaangaite. R. Tupána pemonháng /: pejeapuçaca catú :/ Tupaná
pemonháng, có ybŷ pupé pecuaûmbaeráma Tupána, i-nhëénga /: i-angaturametémbäé :/
peporucarmbäeráma,pemanó riré, ybákypé13
[Fl. 2]
pecetametébäé [peretametébäé], Tupána pe Monhangárapŷri peçóbaeráma,
ybáka torýba monhánga nhénhé.14
Coŷr ybŷpe peicó, nitiú ybŷpóramo aujeramanhé; goataçáranho peicó. Perapé cycába ybakype cecoû.15
R. vos fecit
/: auscultate16
ut sciatis
Deum17,
/: quæ est sanctissma :/18
[Fl. 2]
quæ
est patria vestra19,
ad cœleste.
gaudium faciendum sine fine20.
Nunc in
terra estis, non tanquam terræ incolæ pro semper; peregrini solum estis.
viævestræterminus in cœloest21.
4. P.Nitíu
cerá Tupána monháng amó abá, anhánga ratá pé oçóbaeráma?22
4. R.
Aipobaeráma Tupána nitiú
abá monháng?23
R. Ad
hoc Deus ne-
-minem creavit.24
5.
P.Maranamótepe abá canhem etéu?25
Pois porque
se danaõ tantos?26
5. R. Tupána
nhëénga rupí cecoeŷma recé.27
R. quia non
servant legem Dei28
6.
P.Umabaepé icó ára póra pabé çüí ixoûne
ybakypé?29
Qui ex
omnibus hujus mundi incolis sunt salvandi?30
6 R.
Christaõ eté anhó.31
R. Solùm
veri Chistiani32
7. P.Abá cupépe[çupé], Christaõ acẽ[acé]iëú?33
Quos vocamus
Chistianos?34
7.
R.Imongaraibipŷra, Jesu Christo
rerobiaçára, i-nhëénga mombegoârabé 35
R.Baptizatos,
in Jesum CHRISTUM.
credentes, et ejus legem
servantes36.
[Fl. 2v]
8.
P.Abatäé Jesu Christo?37
8 R.Tupána
Raýreté, apŷabetéabé,
jandé jabé,
onhemonhangbaepoera38
[Fl. 2v]
R.
Verus Dei Filius39,
9. P. Jandé
J.J.C° [Jara Jesus Christo], çüipé
Christaõ oguerama ráricerã?40
Christiani à
Jesu Christo sump-
serunt suum nomen?41
9. R. Ixüí
tári.42
R. Ab illo
sumpserunt.43
10. P.Christaõpé
ndé.44
Esné
Christianus?45
10 R.
Christaõ xé, Tupána graça recé.46
R. Sum per
Dei gratiam47
11.
P.Maranamopé Christaõ xé Tupána
gráça
recé eré?48
Cur dices p
[per] Dei graám [gratiam]49
11 R. Nã xé
recócatúagoera, coipó
xe Rúba, coipó xe
Máya, coipó
amómbäé Tupána
remimonhangoéra
é recéruã. Chistaõ xé
Tupána
angaturáma, Tupána
porauçubára
recé, J.J.J.C°. reõagoera,
i-poraraçagoera recebé.50
R. porque
non per mea merita, nec patris mei, aut matris meæ aut alterius creatura
Sum Christianus per Dei bonitatem, et mysericordiam51
12.
P.Majauetäé Tupána abá rerecó,
Chistaõ
onhemonhángrame.52
Quomodo Deus
illum tractat, qui
Xtúm [Christianum] se fecerit?53
[Fl.3]
12 R. Tupána
Taýraráma, omoingou,
ybâka poraráma
omoingou:54
[Fl.3]
R. Dei
Filium illum constituit,
cœlestem civem
illum constituit.55
13 P.Abá
nitiú onhemonhangpotárame,Christaõ,
marãtäé?56
Qui non vult
se facere
Cristianum, quid illo fit?57
13. R.
Juriparí remiauçubarama
opŷtá.58
R.Diaboli
mancipium
manet59.
14.
P.Eremombëú üã ixebo abá reroki-
-pŷra réra, coŷr emombeú
ixebo: mbäétäé Christaõ jecua-
-pába. 60
Dixisti mihi
jam hominis bap-
-tizati nomen, nunc dic
mihi: quodnam Xtni [Christiani] sig-
-num?61
14 R. Santa
cruz räangába62.
15. P.Mbäé
recé?63
15. R.
I-aribó J.J.J.C°[Jesus Cristo] omanó recé,
jandé
pycyrõbaeráma recé
erimbäé. 64
R. q [quæ]
super illâ N.D.J.C. mortuus
est olim, ut
redimeret.65
16. P.Mobýr
tecó rupí Christaõ monháng Santa
cruz66.
Quot modis67
16 R. Mocoĩ rupí68.
17. P.Marã
eitäé?69
R. Quales
sunt?70
[Fl. 3v]
17
R. Jandé recé Christaõ jecuapába jandé
moína, jandé nhemongaribabé71
[Fl. 3v]
R.
In hoc Xtnorum [Christianorum] signum ponendo,
et nos benedicendo.72
18 P. Marã
jabépe acẽCristaõ jecuapaba
oioecé imöíni.73
Quomodo nós
sig-
-namus?74
18 R. Opó
acatuaba [ecatuaba] acẽçokendápa, opópöagoaçú mopöámabé, cruz mirí moçapýr,
ojepé ocybápe, amo ojurúpe, amó opotiápe
imonhánga coyté75
R. Fechando
a maõ direita, et pollice faciendo cruces parvas tres, unam in fronte, aliam in ore, aliam in pectore76.
19.
P.Mbäétäé ëipé acẽ emonã, oçobaçápa?77
Quid
dicimus, nos signando?78
19 R.
Ocybápe acẽ cruz möína, Santa
cruz raangaba recé, ëí: äēriré acẽ
ojurúpe amó möína, orépŷcŷrõ jepé
Tupána
ore Jara, ëí: äé riré abé amó opotiápe
acẽ möína, oré amotareŷmbara
çüí, ëí.79
R.Faciendo
unam in fronte crucem,
per Signum Sanctæ crucis dicimus: postea
in ore
aliam faciendo, libera nos
Deus noster! dicimus: postea aliam
in pectore faciendo, ab inimicis nostris
dicimus.80
20. P.Maranamopé
acẽ öcybápe jabaçába
[jobaçába] möíni? 81
Cur facimus
signum crucis in fronte?82
20
R.Taxepŷcŷrõ Tupána maenduaçàba
äíba
çüí.83
R. Ut me
Deus liberet cogitationibus
malis84
21. P.Maranamopé acẽ ojurúpe çaanghino?85
Cur in ore?86
[Fl. 4]
21
R.Toipëá Tupána nhëénga memoã
xé jurú çüí.87
[Fl. 4]
R.
Ut segreget Deus verba mala
ab ore
meo.88
22.
P.Maranamopé acẽ opotiápe imöini?89
Cur in
pectore?90
22 R.Taxepëá
Tupána tecoángaipába
çüí, acẽ nhia cüí [çuí] océmbäé.91
R. Ut me segreget
Deus âb operibus malis,
è corde nostro, que prodeunt.92
23. P.Marã
jabépé acẽ nhemongaräibi? Majauetäé abá Christaõ
jecuapãba onóng? 93
Quomodo94
Quomodo
aliquis in se Xtnórum
[Christianorum] signum facit?95
23. R.
Ocekendá ipó ecatuába, ipópoa-
-goaçúnhó mopoáma, i-pupé moçapýr cruza mirí
monháng, ojepé ocybápe, ojurupé amó,
opotiápe amó coyté.96[Trecho rasurado]
R. Claudit
suam manum dextram, suum pollicem solum erigendo, illo tres cruces parvas facit, unam in sua
fronte, in suo ore aliam, in suo pectore aliam deniq[ue].97[Trecho
rasurado]
24. P.Marã ëí abá, aipó moçapýr cruza
mirí
monhánga?98 [Trecho rasurado]
Quomodo
dicit aliquis, has tres cruces
parvas faciendo?99 [Trecho rasurado]
24. R.
Ocybápe cruza monhángrame, Santa cruz räangába recé, ëí: ojurúpe amo o-
-moinrame,
orepy100 [Trecho rasurado]
R.
Ocekendabóc abá opó ecatuába, ipupé oçaýr cruz ocybá çüí101
[Fl.4v]
athe
ocuá rupí catú ranhé, äé riré oatiŷba
açúra çüí oatiŷba ecatuaba cotý cruza mombab.102
R. Aperit
quis suam manum dexteram, illâ delineat crucem à sua fronte,103
[Fl.4v]
bene
usq[ue] ad medium sui corporis inprimis,
postea à suo humero sinistro, suum
hume [rum]
dextrum versus crucem absolvit.104
25.P.Marã ëítäé abá, jabé onhemonga-
-raiba?105
Quomodo
dicit aliquis, sic se benedi-
-cendo?106
25 R. Abá
onóngrame opó ocŷbápe, Túba, ëí: ocýcrame ipó icuape,
Taýra, ëí: äé riré ocykyrame ipó oatiŷba açura çüí oatîyba ecatuába cotý, Espirito.Santo.rera pupé ëí :107
Cūm quis
ponit manum suam in suâ fronte dicit:...cūm p[er]tingit
illius manus ad mediū sui oris
dicit:.......Dein cūm traxerit manum suam ab humero suo sinistro, humerum suū dextrū
versùs, dicit......108
26. P.Mbäé
recé abá jobaçáb? 109
Quare homo
se benedicit?110
26 R.
Santissma. Trindade Túba,Taýra Espirito Santo
moçapýr abá, ojepenhó Tupána mombëuráma
recé. 111
R. Ad profitendum,112
27. P.Mbäe
recébe abá jobaçábi?113
Cur
ampliùs?114
27 R.
Oremombeurama recebé, Tupá Taýra ybâkaçüí oúragoéra, Sª MARIA cunhã mbucú [mbuçú] i-jabykyéyma mnhe [nhenhé]barriga pupé, apŷabeté onhemonhángagöéra,115
[Fl. 5]
cruza áribo omanóbaepöéra, oaçúra. /:jandé
canhemagöéra mombeuçába :/ çüí, oecatuába
/: ybâkypé jande corama [çorama] mombegoãba:/ cotý, jande reraçóagöéra
mombëuráma nhenhe116.
R. Ut
profiteamur insuper Dei Filium de cœlo venisse, in Santa MARIA
Semper virginis intemérata ventre hominem factum117,
[Fl 5]
in
cruce mortuum fuisse, à sinistrâ suâ /: nostræ perditionis significativâ
:/dexteram suam /: salvationis nostræ futura significativâ :/ versùs nos
transtulisse ad profitendum constanter.118
28 P.Mbäé
recebé?119
28 R.
Anhánga mondyjaráma recé, mbäéäíbá pabé, jandé robaké çüí momocembäeráma.120
R. Ad
dæmonem intimitandū, malum omne ex
nostra præsentia ad pellendum.121
29. P.
Majauerámetäé corí jandé jobaçáb?122
29 R. Mbäé
ypŷrúnga jabiõ pupé, coipo máme
maranmarán jaicobaeráma recé, jacykyjeráme.123
Quando
R. In rei
cujusvis principio, aut alicubi aliquid
adversi nos passuros, ubi timuerimus.124
30.
P.Majauérameabé?125
Et quando
magis?126
30 R. Ore
pacárame, okaçüí orecém rame, Tupã ókype oreikérame,oré
kéra janondébé.127
R. Cum
evigilamus, domo eximus, Ecclesiam intramus, et ante somnum nostrum.128
31.
P.Ocobacábtäé [oçobaçabtäé] abá cembiurama.129
Benedicúntne hocs [hos]cibos
suos?130
31.
R.Ocobacáb [oçobaçab], nitiu jandé momarãbäeráma jandé rembiú.131
R.
Benedicunt, ne nobis noceant cibi nostri132
[Fl.6]
32.
P.Mbäérecétäé abá jobaçáb mbäé ypý-
-rúnga jabiõ pupé?133
[Fl.6]
Fuente: Cur
ab initio cujusvis rei?134
32 R.
Tonhemonháng jandé morabýkyçába, Tupã möetábäerama recé.135
R. ut fiat
noster labor
ad Dei honorem136
33.
P.Catútäé abá, cetaŷí oçobaçáb?137
bene agit,
qui sæpiús se benedicit?138
33 R. Catúeté;
Tupã jandé pycyrõbaerama jandé ánga
amotareŷmbáreta çüí, umã umã rupí
jaicórame?139
R. Optimè,
ut Deus nos liberet animæ nostræ inimicis, ubi-
cunq[ue]extiterimus140.
34. P.Mbäé
pupé täé, orejepŷcŷrõ juripari çüí, ybakypé jaçocatubaerama141.
Quâ nos re
liberamus, à dæmone, ut ad cœlum pertingamus?142
34 R. Tupã
rerobiá pupé; Tupã jerobiá pupé; Tupã
rauçúba pupé; onhemonga-
-rípa [-raípa] pupé; Tupã nhëenga rupí, jaicó pupé; tecó morangatú monhánga pupé, Santa Madre Igreja nhëénga rupí jaicó pupébé,
tecoangäipába monhánga çüí jacykycéetéramebe.143
R. Fide in
Deum, Spe, Amore Dei, procuratione
Baptismi, bonos observatione legis Dei, bonorum operum operatione, Sancta Matris Ecclesia legum observatione,
peccati commissionem ubi summè timuerimus144.
35. P.Mbäé
pupébetäé orejepycyrõgatú anhánga cüí
[çuí]?145
Quibus porrò
mediisnos perquamliberamus à dæmone?146
[Fl. 6]
35
R. Santa Madre Igreja Sacramentos raçaba pupé, nhemombëúcatú pupé, Tupã raçaba
pupé, Tupána graça pupé oicó pupé147.
[Fl. 6]
R.
Sanctæ Matris Ecclesiæ Sacramentorū susceptione, confesssione bonâ, com-
-munione,in Dei Gratia
perseverantiâ.148
36.
P.Onhemoçainan catútäé Christaõ, aipó pabé ybâkype ceraçoçabeta pupé149
Debetne
procurare omni studio Xtnús [Christianus], hæc omnia ad cœlum quæ ipsum
perducunt150
36 R.
Onhemoçainan eté cecé151.
R. Omni
studio.152
Agradecemos ao Programa de Capacitação Institucional (PCI) do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT - Brasil) que possibilitou o deslocamento da primeira autora para o Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG - Brasil) onde foram realizadas pesquisas e discussões pertinentes para a realização deste trabalho. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) pelo apoio e financiamento concedido para a segunda autora. À Evahir Pereira pela a transcrição paleográfica preliminar; ao Padre Ilario Govoni pela tradução do latim.