Artigo
Construção e validação preliminar de um teste de conhecimento sobre os efeitos da atividade física na qualidade de vida para alunos do 9º ano do ensino fundamental
Práticas Educativas, Memórias e Oralidades
Universidade Estadual do Ceará, Brasil
ISSN-e: 2675-519X
Periodicidade: Frecuencia continua
vol. 5, núm. 1, 2023
Recepção: 24 Maio 2023
Aprovação: 05 Julho 2023
Resumo: A pesquisa teve como objetivo construir e validar de forma preliminar um teste de conhecimento sobre os efeitos da atividade física na qualidade de vida para alunos do 9° ano do ensino fundamental. Trata-se de um estudo descritivo e exploratório. Foi construído um teste de conhecimento com 12 itens de múltipla escolha. Professores de Educação Física da Educação Básica e Superior realizaram a avaliação de conteúdo dos itens a partir de um protocolo de avaliação de conteúdo. Foi realizado um pré-teste com 10 alunos do mesmo nível de ensino para fins de avaliação qualitativa dos itens. Inicialmente, o teste conteve 12 itens, dos quais quatro foram descartados por não atingirem o índice de discriminação adequado. A validação desse instrumento precisa ser realizada em amostras maiores para validade de construto e, assim, colaborar cientificamente em outras pesquisas. O teste pode ser utilizado pelos professores como ferramenta de avaliação da aprendizagem.
Palavras-chave: Atividade Física, Saúde, Conhecimento, Ensino Fundamental.
Abstract: The research aimed to elaborate and validate the content of a knowledge test on the effects of physical activity on the quality of life for 9th-grade students. It is a descriptive and exploratory study. We elaborated a knowledge test with 12 multiple-choice items. Physical Education Teachers of Basic and Higher Education performed the content assessment of items from a content evaluation protocol. We conducted a pretest with 10 students of the same level of education for qualitative evaluation of items. Initially, the test contained 12 items we discarded because they did not reach the discrimination rate. This validation needs to be improved on larger samples for construct validity and thus collaborate scientifically in other research. The test may be used as a pedagogical assessment tool.
Keywords: Physical Activity, Health, Knowledge, Elementary School.
1 Introdução
Tendo em vista as consequências negativas da inatividade física na qualidade de vida dos jovens, o objetivo da presente pesquisa foi elaborar e realizar uma validação preliminar de um teste de conhecimento sobre os efeitos da atividade física e de qualidade de vida para alunos do 9° ano do ensino fundamental. Esse teste tem o propósito de contribuir como os professores de Educação Física com a formação e o preparo dos estudantes, auxiliando-os na aquisição de novos hábitos saudáveis. Ao avaliar o conhecimento dos alunos nesse tema específico, pode-se identificar lacunas de aprendizagem dos alunos e áreas que precisam de maior atenção na Educação Física e saúde. Com o desenvolvimento de um instrumento válido e confiável, os professores poderão utilizá-lo como ferramenta de avaliação dos conhecimentos dos alunos sobre atividade física e saúde.
A população brasileira apresenta níveis baixos de atividade física, como evidenciado por alguns estudos (KNUTH et al., 2011; SILVA et al., 2021). Essa situação é especialmente preocupante entre os adolescentes que tendem a adotar hábitos sedentários como o uso prolongado de dispositivos eletrônicos e o consumo de mídia (HALLAL et al., 2010). No contexto do Ensino Fundamental, os alunos enfrentam facilidades de distração e têm acesso a diversas fontes de informação como a televisão, o rádio, revistas e o uso frequente da internet (BRASIL, 2018).
Os jovens têm demonstrado níveis menores de atividade física e aptidão física e, também, apresentam menos interesse em participar e assimilar as informações relacionadas às atividades físicas (FONSECA et al., 2020). Além disso, as crianças também têm baixos níveis de atividade física, devido ao aumento dos meios de transporte e à forte influência de atividades sedentárias em seu cotidiano (FERREIRA; SEDORKO, 2021).
De acordo com o Ministério da Saúde, 26,8% da população brasileira com mais de 20 anos de idade são considerados obesos e 6,7% dos adolescentes também sofrem essa condição. A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê um aumento no número de casos de obesidade em todo o mundo, com a estimativa de que 700 milhões de pessoas sejam diagnosticadas até 2025. Dados preocupantes em razão da obesidade ser o segundo fator de risco para infecção pelo coronavírus (BRASIL, 2021).
Com base no cenário apresentado, fica evidente a importância da prática de atividade física para a população em geral. Essa prática regular traz uma série de benefícios, incluindo a contribuição no combate à obesidade, a melhoria da saúde mental e fortalecimento da função imunológica. Além disso, a atividade física pode preparar o indivíduo para enfrentar cenários de pandemia como ocorreu com a Covid-19 (PITANGA; BECK; PITANGA, 2020). Os benefícios da atividade física podem variar de pessoa para pessoa, sendo assim, depende como cada um relaciona-se com a atividade e os efeitos obtidos (SABA, 2011).
Apenas ter conhecimento sobre os benefícios da atividade física não garante automaticamente a adoção de comportamentos mais ativos. Conhecimento e comportamento são esferas diferentes e é necessário que o indivíduo traduza esse conhecimento em ações concretas em sua vida (KNUTH et al., 2009; SILVA, 2022).
A qualidade de vida é uma percepção individual que envolve uma combinação de fatores individuais e socioambientais, e o nível de atividade física desempenha um papel importante nessa equação (NAHAS, 2017). É fundamental que as atividades físicas sejam incorporadas como hábitos saudáveis na vida das crianças e dos adolescentes, e a escola, especialmente por meio da disciplina de Educação Física, desempenha um papel central nesse processo (SILVEIRA; SILVA, 2011). Os profissionais de Educação Física têm a responsabilidade de disseminar conhecimentos sobre saúde, considerando o crescimento da obesidade e das doenças relacionadas ao sedentarismo (FERREIRA; SEDORKO, 2021).
A Educação Física oferece oportunidades para ampliar as experiências dos alunos na Educação Básica, enriquecendo seu repertório motor e proporcionando um amplo universo cultural (BRASIL, 2018). É importante que os professores contextualizem os benefícios da atividade física, levando em consideração o contexto social de cada aluno, para que eles compreendam os efeitos reais que a atividade física ou a inatividade podem ter na saúde. Ao longo dos anos, pesquisas científicas têm demonstrado o potencial das atividades físicas na melhoria do estado de saúde, incluindo a prevenção e o tratamento de doenças (KNUTH et al., 2009; FONSECA et al., 2020).
A existência de instrumentos de avaliação na área da Educação Física ainda é limitada, o que dificulta o acompanhamento do aprendizado pelos professores (SANTOS et al., 2022). A disponibilidade desses instrumentos de avaliação contribuiria de forma mais efetiva para a educação dos jovens, permitindo que a escola acompanhe o desenvolvimento do aluno em sua formação.
2 Metodologia
Esta pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, sob o número de protocolo CAAE: 15895819.8.0000.5589. O estudo foi dividido em três etapas: 1) Elaboração do instrumento; 2) Validação de conteúdo por especialistas; 3) Pré-teste do instrumento no público-alvo.
Na primeira etapa, foi realizada uma revisão da literatura relacionada aos efeitos da atividade física na qualidade de vida a fim de embasar os itens do instrumento. Com base nessa revisão, foram criados 12 itens de múltipla escolha com quatro alternativas cada, sendo apenas uma correta. Os itens seguem uma estrutura que inclui um texto base, um enunciado e os itens propriamente ditos, com um gabarito e quatro distratores. Os itens e suas referências de base estão descritos na Tabela 2.
a segunda etapa, foi realizada uma validação de conteúdo por especialistas. Foram convidados seis docentes para colaborar com a pesquisa. Destes, três são professores de Educação Física da Educação Básica, dos quais um com mestrado na área da saúde, outro com mestrado em educação. Os outros três são professores do Ensino Superior no curso de Licenciatura em Educação Física e ministram disciplinas relacionadas à área da saúde. Esses professores possuem doutorado e/ou mestrado na área.
Foi solicitado aos docentes que analisassem o conteúdo dos itens utilizando um Protocolo de Validação de Conteúdo. Nesse instrumento, os professores puderam avaliar a clareza (sim ou não) e a relevância de cada item para o objetivo pretendido, utilizando uma escala de 1 a 4, em que 1 era considerado pouco relevante e 4 muito relevante. Além disso, foi permitido que os professores sugerissem modificações nos itens.
Para a análise dos itens, foi utilizado o Índice de Validação de Conteúdo (IVC) proposto por Alexandre e Colucci (2011). Esse índice é calculado como a razão entre a quantidade de professores que selecionaram 3 ou 4 na escala de relevância e o número total de respostas dos professores. Um item com IVC ≥ 0,80 é considerado adequado, indicando uma taxa de concordância entre os avaliadores.
Os itens considerados adequados de acordo com esse critério foram corrigidos com base nas indicações dos avaliadores. Foram realizadas modificações nos enunciados, na ordem de apresentação das questões, na reorganização das alternativas e nos textos-base.
Na terceira etapa, foi realizado um pré-teste dos instrumentos no público-alvo, que consistiu na participação de 10 alunos do 9º ano do ensino fundamental de uma escola pública municipal do estado do Ceará. Esses alunos foram convidados a participar da pesquisa, mas para isso, era necessário estarem regularmente matriculados na disciplina de Educação Física. Dos participantes, 8 eram meninos e 2 eram meninas, com idades entre 13 e 16 anos.
Em um horário e local disponibilizados pela escola, foi realizada uma reunião com os alunos, na qual foram explicados os objetivos e procedimentos da pesquisa. Após essa etapa inicial, os alunos responderam individualmente às questões. O tempo estimado para a aplicação do teste foi de aproximadamente vinte a trinta minutos
Ao final, foi realizada uma discussão coletiva com os estudantes, na qual eles expressaram possíveis problemas encontrados nas questões, como palavras desconhecidas, formato incompreensível do enunciado e falta de compreensão das alternativas, entre outros. Todas as sugestões dos estudantes foram consideradas pelos pesquisadores para melhorar a estrutura e escrita dos itens.
Com base nas respostas dos estudantes aos itens, estes foram corrigidos e dicotomizados em certo e errado, atribuindo-se um escore de 0 e 1, respectivamente. Foi realizada uma análise da qualidade métrica dos itens por meio dos índices de facilidade e discriminação. A facilidade é determinada pelo percentual de acertos dos itens, e a discriminação pode ser calculada pelo índice de correlação ponto bisserial. Para a dificuldade dos itens, é desejável que eles estejam em torno de 0,50. Quanto ao índice de discriminação, consideram-se bons os itens com índices acima de 0,20.
3 Resultados e Discussão
Após a análise, foi constatado que os 12 itens foram considerados claros por 4 ou mais professores. Com base nas sugestões fornecidas pelos avaliadores foram realizadas alterações em todos os itens. A Tabela 1 apresenta a quantidade de docentes que indicaram clareza e relevância para cada item, bem como o IVC correspondente a cada item.
Itens | Clareza | Concordância | IVC |
Item 1 | 6 | 6 | 1 |
Item 2 | 6 | 6 | 1 |
Item 3 | 5 | 6 | 1 |
Item 4 | 5 | 6 | 1 |
Item 5 | 5 | 5 | 0,83 |
Item 6 | 6 | 6 | 1 |
Item 7 | 4 | 6 | 1 |
Item 8 | 5 | 6 | 1 |
Item 9 | 5 | 6 | 1 |
Item 10 | 4 | 6 | 1 |
Item 11 | 6 | 6 | 1 |
Item 12 | 5 | 6 | 1 |
Com base na tabela acima, podemos observar que os professores, em sua maioria, consideram os itens claros. Quanto à concordância, dos 12 itens avaliados, a totalidade dos professores (n = 6) indicaram concordância em 11 itens, com exceção do item 5, em que 5 professores identificaram concordância. Todos os itens também obtiveram um IVC ≥0,80, indicando uma alta concordância entre os avaliadores, seguindo a proposta de Alexandre e Colucci (2011).
Os dados demonstram que nenhum item apresentou valor abaixo de 4 na análise dos avaliadores, o que indica que os itens foram bem-avaliados por eles em termos de clareza e concordância. O IVC também seguiu essa lógica, apontando para uma alta concordância.
A Tabela 2 apresenta os itens aprovados no processo de validação de conteúdo pelos avaliadores. Os itens da prova foram modificados com alterações gramaticais para melhor entendimento pelo público-alvo da pesquisa, bem como reformulações em alguns itens levando em consideração as sugestões para aprimoramento das questões.
Questões | Gabarito | Referência |
1) Simples atividades como espanar uma casa, correr para pegar um ônibus ou mesmo um passeio eleva nosso gasto energético para além dos níveis de repouso. Esse conceito refere-se? | C | Caspersen, Kenneth e Christenson (1985) |
2) Qual conceito aplica-se para representar as atividades recomendadas para melhorar a qualidade de vida descrita no texto? | A | Caspersen, Kenneth e Christenson (1985) |
3) A atividade física regular apresenta efeitos benéficos contra doenças degenerativas tais como, doença coronária, a hipertensão e diabetes entre adultos mais velhos, além de reduzir o risco de desenvolvimento em indivíduo normal. Quais doenças crônicas estão relacionadas ao sedentarismo? | C | Filho, Jesus e Araújo (2019) |
4) O texto aponta o estado de saúde como fator importante para a qualidade de vida. A saúde tem a atividade física entre outros, como um dos principais elementos. Portanto, considera-se que a atividade física é muito importante para a qualidade de vida | B | Saba (2008) |
5) A partir do texto, marque a alternativa que corresponde aos aspectos da qualidade de vida, assim apresentadas: | B | Saba (2008) |
6) Qualidade de vida está relacionada a vários fatores na vida de uma pessoa: saúde, relacionamento com os amigos, sensação de bem-estar, situação financeira, satisfação com o trabalho etc. A atividade física pode contribuir muito com alguns desses fatores. Quais dos seguintes elementos apresentados NÃO estão diretamente relacionados à prática de atividade física? | D | Araújo e Araújo (2000) |
7) Das afirmativas que se seguem, quais são corretas a respeito da qualidade de vida? | D | Araújo e Araújo (2000) |
8) Uma jovem garota, em busca de um “corpo perfeito” realiza exercícios físicos exaustivamente por, no mínimo, duas horas diárias de forma intensa e na maioria dos dias da semana. No entanto, ela está sentindo-se mais cansada e indisposta para as suas atividades de lazer com a família e amigos. Isso deve ocorrer porque: | B | Petry et al. (2010) |
9) Enquanto a prática de atividade física no deslocamento para o trabalho é mais frequente entre as pessoas com menor nível de escolaridade. | E | Knuth et al. (2008) |
10) Com base nas informações apresentadas, o que pode impedir a qualidade de vida dos trabalhadores do campo da região nordeste? | A | Araújo e Araújo (2000) |
11) De acordo com o texto, muitos nordestinos que trabalham no campo possuem ótimos níveis de atividade física, no entanto, não possuem bons níveis de qualidade de vida, isso ocorre porque | B | Araújo e Araújo (2000) |
12) O texto faz uma relação entre atividade física, saúde e qualidade de vida. A partir das informações, é possível concluir que | C | Araújo e Araújo (2000) |
Durante o pré-teste, um grupo de 10 alunos respondeu ao instrumento elaborado. Em seguida, eles foram entrevistados e foram feitas perguntas relacionadas ao questionário, enfocando a compreensão de cada item, o nível de dificuldade em relação às alternativas e se os estudantes foram capazes de diferenciar a alternativa correta das incorretas. O pré-teste foi uma fase fundamental da pesquisa, no qual o público-alvo entra em contato com os itens, permitindo que o pesquisador analise se os itens podem ser interpretados corretamente pelos participantes (WINDELFET et al., 2005). Na Tabela 3, são apresentados o índice de facilidade e o índice de discriminação dos itens.
Item | Índice de facilidade | Índice de discriminação | ||
1 | 0,60 | Médio | 0,53 | Discriminativo |
2 | 0,30 | Difícil | 0,06 | Não discriminativo |
3 | 0,60 | Médio | 0,25 | Discriminativo |
4 | 0,90 | Fácil | 0,27 | Discriminativo |
5 | 0,40 | Médio | 0,72 | Discriminativo |
6 | 0,70 | Médio | 0,39 | Discriminativo |
7 | 0,70 | Médio | 0,09 | Não discriminativo |
8 | 0,70 | Médio | 0,09 | Não discriminativo |
9 | 0,40 | Médio | 0,31 | Discriminativo |
10 | 0,40 | Médio | 0,44 | Discriminativo |
11 | 0,30 | Difícil | 0,36 | Discriminativo |
12 | 0,20 | Difícil | -0,41 | Não discriminativo |
Com base no índice de facilidade, que é calculado a partir do percentual de acertos em cada item, podemos observar que dos 12 itens, oito foram considerados de dificuldade média (itens 1, 3, 5, 6, 7, 8, 9 e 10), três itens foram classificados como de dificuldade alta (itens 2, 11 e 12) e um item foi considerado fácil (item 4) pelo público-alvo durante o pré-teste.
O índice de discriminação mede a capacidade de um item diferenciar os alunos de menor habilidade dos alunos de alta habilidade. De acordo com os dados apresentados, quatro itens (2, 7, 8 e 12) apresentaram um índice de discriminação abaixo de 0,20, indicando uma capacidade limitada de diferenciar os alunos de menor e de maior habilidade. Por outro lado, oito itens (1, 3, 4, 5, 6, 9, 10 e 11) apresentaram um índice de discriminação acima de 0,20, o que sugere uma melhor capacidade de distinguir os alunos de menor e de maior habilidade.
É importante ressaltar que o índice de discriminação analisa a qualidade de um determinado item (VILARINHO, 2015), no sentido de indicar se os alunos que mais sabem do conteúdo têm maior probabilidade de acertá-lo. Quando o índice de discriminação é negativo, significa que os alunos de menor habilidade têm uma chance maior de acertar o item em comparação aos alunos de maior habilidade. Isso demonstraria um problema na construção do item.
Através das entrevistas realizadas, foi observado que os alunos enfrentaram certa dificuldade na leitura dos textos e na interpretação do conteúdo de alguns itens. Além disso, houve relatos de indecisão em relação à clareza das questões e ao entendimento de termos associados à atividade física, o que resultou em dificuldade para diferenciar qual alternativa era correta. Dos 10 alunos avaliados no teste, 5 obtiveram uma pontuação de 50% ou mais em relação aos 12 itens avaliados. Isso indica que metade dos alunos conseguiu responder corretamente a metade dos itens do teste.
É importante ressaltar que os instrumentos de medida, como o proposto nesse estudo, fornecem ferramentas que apresentam indicadores e atribuem valores numéricos a conceitos abstratos que podem ser observáveis e mensuráveis, colaborando para aprimorar a práxis em saúde (COLUCCI; ALEXANDRE; MILANI, 2015). Na especificidade desse estudo, esse instrumento pode auxiliar o professore de Educação Física no seu fazer pedagógico em relação aos conteúdos sobre atividade física e saúde.
Os instrumentos validados para avaliação de conhecimento em determinadas áreas são muito importantes. No estudo de Roncada et al. (2015), foi constatado que existem 22 questionários disponíveis para avaliar o nível de conhecimento sobre a asma. No entanto, a maioria desses instrumentos não possuem validação psicométrica completa para a realização da pesquisa.
a pesquisa realizada por Leite et al. (2018), foi elaborado e validado um instrumento de validação de conteúdo educativo em saúde e identificou boa confiabilidade. O referido instrumento poderá contribuir na elaboração de conteúdos educativos por pesquisadores e profissionais da área de educação e saúde. Esses achados reforçam a importância da colaboração entre pesquisadores e profissionais especializados durante o processo de validação do instrumento a fim de evitar resultados confusos ou medidas tendenciosas que levassem a conclusões equivocadas (LEITE et al., 2018).
Na área de Educação Física, um estudo foi realizado com o objetivo de validar itens para a avaliação cognitiva dos conteúdos dos jogos e brincadeiras populares direcionados ao 9º ano do ensino fundamental (SANTOS et al., 2022). Para realizar essa validação, foi formado um grupo de juízes que avaliou os itens e foram identificadas boas evidências de validade de conteúdo.
Outro estudo similar foi realizado com o objetivo de elaborar e validar itens para avaliar o conhecimento dos alunos do ensino fundamental sobre os efeitos da atividade física no corpo (SILVA et al., 2019). Como resultado desse estudo, foi obtida a validação de conteúdo e itens, resultando em um instrumento contendo 24 itens. Ainda que existam alguns estudos como este, na área da Educação Física, ainda são poucos os instrumentos validados para avaliar o conhecimento em relação a esse conteúdo.
Avaliar o conhecimento dos alunos nesse nível de ensino é imprescindível para o professor de Educação Física, pois os alunos parecem não atribuir uma importância na prática de atividade física regular, portanto, podem não estar conscientes dos benefícios da atividade física ou não os compreender completamente, não desfrutando dos benefícios ligados a esta prática (SANTOS; MARTINS; MARQUES, 2014).
Ao avaliar o conhecimento dos alunos sobre determinado conteúdo, o ponto de corte de pelo menos 70% de acertos é frequentemente utilizado como critério para determinar se um conhecimento é considerado satisfatório ou não. Esse critério também é adotado por muitas escolas como requisito para a aprovação imediata nas disciplinas (BARROS; SILVA, 2013). Na pesquisa de Silveira e Silva (2011), que avaliou o conhecimento de escolares sobre atividade física e sua associação com fatores socioeconômicos, demográficos, comportamentais, nutricionais e de saúde, foi aplicado um questionário a 1.233 adolescentes. Com uma pontuação total variando de 0 a 22 pontos, os participantes obtiveram uma média de 14 pontos, que corresponde a 63% de acertos. De acordo com os pesquisadores, essa média de acertos foi considerada baixa em relação ao conhecimento avaliado. Em outro estudo, os alunos encontraram dificuldades em diferenciar conceitos relacionados à atividade física, exercício físico e aptidão física (BARROS; SILVA, 2013). Isso indica uma lacuna no entendimento desses conceitos por parte dos alunos.
Esses resultados são preocupantes, pois a falta de clareza na diferenciação desses termos pode afetar a compreensão mais ampla dos alunos sobre a importância da atividade física para a saúde. É essencial que os alunos tenham uma compreensão adequada dos diferentes conceitos relacionados à atividade física para que possam tomar decisões informadas sobre sua própria saúde e bem-estar.
Aliada à falta de conhecimentos dos alunos sobre esse assunto, os benefícios da atividade física para a saúde ainda são pouco discutidos no âmbito escolar. Isso destaca a necessidade de incluir discussões e informações mais abrangentes sobre os benefícios da atividade física nas escolas de modo a promover uma melhor compreensão dos alunos sobre esses aspectos.
O instrumento utilizado nessa pesquisa pode ser uma ferramenta importante para os professores de Educação Física no ensino fundamental, uma vez que esse conteúdo é relevante atualmente para desenvolver o entendimento dos alunos sobre os benefícios que a atividade física proporciona.
Após o pré-teste, o instrumento foi validado com oito itens que abordam o conhecimento dos efeitos da atividade física na qualidade de vida. Portanto, o teste mostrou-se eficaz como uma ferramenta para os professores utilizarem no planejamento pedagógico, permitindo a identificação do conhecimento dos alunos sobre os benefícios que a atividade física proporciona.
4 Considerações finais
O objetivo desta pesquisa foi elaborar e realizar uma validação preliminar de um teste de conhecimento sobre os efeitos da atividade física e qualidade de vida para alunos do 9° ano do ensino fundamental. Ao final, obtivemos um teste de conhecimento com oito itens de múltipla escolha com bons indicadores preliminares de validade. Esse instrumento pode proporcionar uma visão significativa do conhecimento dos alunos sobre o tema abordado no teste. Com esse instrumento, os professores podem avaliar o conhecimento de seus alunos na disciplina de Educação Física em relação ao conteúdo sobre os efeitos da atividade física na qualidade de vida.
No entanto, é importante ressaltar que a validação desse instrumento ainda precisa ser realizada em amostras maiores para verificar a validade de construto. Acreditamos que esse instrumento poderá contribuir para outras pesquisas que visem a avaliar o conhecimento dos alunos do 9° ano do ensino fundamental sobre atividade física e qualidade de vida. Em pesquisas futuras, o conhecimento dos alunos sobre essa temática pode ser relacionado a outras variáveis como características sociodemográficas. Também pode ser utilizado como avaliação do conhecimento dos alunos após um programa de intervenção que envolva a temática.
Referências
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