Artigo

Formação de professores para a promoção da saúde no Ensino Básico por meio de manual didático

Antonia Janieiry Ribeiro da Silva Brito Brito
Centro Universitário Christus - Unichristus, Brasil
Karla Angélica Silva do Nascimento Nascimento
Centro Universitário Christus - Unichristus, Brasil

Práticas Educativas, Memórias e Oralidades

Universidade Estadual do Ceará, Brasil

ISSN-e: 2675-519X

Periodicidade: Frecuencia continua

vol. 5, núm. 1, 2023

rev.pemo@uece.br



Resumo: O estudo tem como objetivo analisar as contribuições de um manual didático acerca das ações de prevenção e cuidado com a saúde na formação inicial de professores. A pesquisa foi conduzida em três fases: i) levantamento: aplicação do questionário online com os alunos do curso de Pedagogia e elaboração do manual; ii) implementação do manual mediante minicurso híbrido; iii) descrição, organização dos dados e análise sobre a validação do manual pelos acadêmicos de Pedagogia. O conhecimento dos participantes acerca da saúde na escola era mínimo antes de conhecerem o manual e vivenciarem as atividades no minicurso. Após o minicurso, os alunos reconheceram a importância do estudo sobre saúde – higiene corporal, bucal, mental e práticas corporais. Apesar disso, a maioria pensava que o tema saúde deveria ser tratado somente por especialistas, mas entendeu que os professores e as escolas desempenham um papel importante na promoção da saúde. Os resultados revelam que o manual utilizado ampliou o conhecimento e as habilidades dos alunos a respeito da saúde para sua promoção na escola. Portanto, a preocupação com o tema saúde deve superar a forma reducionista como é vista e ser incorporada no currículo dos estudantes de graduação para que, dessa forma, o tema Saúde na Educação possa ser desenvolvido de forma clara e com propriedade.

Palavras-chave: Manual Didático, Promoção da Saúde, Formação de Professores.

Abstract: The study aims to analyze the contributions of a didactic manual about the actions of prevention and health care in the initial training of teachers. The research was conducted in three phases: i) survey: application of the online questionnaire with students of the Pedagogy course and elaboration of the manual; ii) implementation of the manual through a hybrid minicourse; iii) description, data organization and analysis of the validation of the manual by the Pedagogy students. The participant's knowledge about health at school was low before they knew the manual and experienced the activities in the minicourse. After the minicourse, the students recognized the importance of the study about health - body, oral and mental hygiene, and body practices. Despite this, most thought that the health theme should be dealt with only by specialists, but understood that teachers and schools play an important role in health promotion. The results reveal that the manual used broadened the students' knowledge and skills regarding health for its promotion at school. Therefore, the concern with the health theme must overcome the reductionist way it is seen and be incorporated into the curriculum of undergraduate students so that, in this way, the theme of Health in Education can be developed clearly and with propriety.

Keywords: Didactic Manual, Health Promotion, Teacher Training.

Formação de professores para a promoção da saúde no Ensino Básico por meio de manual didático

1 Introdução

As estimativas de prevalência de doenças causadas pela falta de higiene básica indicam que 1 em cada 3 crianças no mundo sofre com infecções que poderiam ser sanadas com hábitos saudáveis (OMS, 2019). Buscando amenizar tal indicador, percebe-se que a prevenção e as práticas de intervenção escolar se tornam essenciais para reduzir a incidência de problemas de saúde que interferem na aprendizagem e no desenvolvimento das crianças.

Diante desse fato, como os professores podem ajudar na promoção da saúde na escola? Antes de tentar responder a esta pergunta, é importante verificar como os conhecimentos e as habilidades relativas à saúde e bem-estar são inseridos na formação inicial docente. Em pesquisa recente, foi identificado que, dos 396 cursos de Pedagogia analisados, por meio do sistema e-MEC, 68% dos cursos de Pedagogia não possuem em sua matriz curricular e nem em seu projeto pedagógico, disciplinas obrigatórias e nem optativas relacionadas à Saúde (BRITO; BRAYNER; NASCIMENTO; 2022; NASCIMENTO; FIALHO, 2020). A despeito de não contemplar o tema saúde na matriz curricular, é necessário esclarecer que essa temática se torna fundamental para a formação humana, bem como para a promoção, prevenção e atenção à saúde, tendo em vista a sua relevância para a melhoria da qualidade de vida do escolar.

Tendo a consciência de que o desenvolvimento profissional contínuo para elevar os conhecimentos e as habilidades dos(as) docentes em relação à promoção da saúde é importante, o trabalho aqui descrito se baseia na premissa de que, ao formar os professores com os fundamentos dessas competências, eles estarão mais seguros para abordar as questões de saúde e mais capazes de contribuir para a promoção da saúde na escola.

Igualmente, reconhecendo que, no período dos anos iniciais do ensino fundamental, os alunos se encontram na infância, apontada como uma etapa decisiva para a construção de condutas e hábitos que repercutirão na fase adulta, observou-se a necessidade de compreender aspectos capazes de relacionar saúde e educação na formação docente. E, diante dessas informações, surge a questão-problema deste estudo: como o manual didático sobre ações de prevenção e cuidado com a saúde pode contribuir na formação inicial de professores?

Dessa forma, o presente artigo tem como objetivo principal analisar as contribuições de um manual didático acerca das ações de prevenção e cuidado com a saúde na formação inicial de professores.

2 Metodologia

Trata-se de um estudo exploratório descritivo, com abordagem qualitativa, de natureza aplicada, utilizando princípios de pesquisa-ação. Nesse sentido, Franco (2012) esclarece que a pesquisa-ação, com a sua estrutura dentro de seus princípios geradores, é uma pesquisa eminentemente pedagógica, dentro da perspectiva de ser o exercício pedagógico, configurado com uma ação que cientificiza a prática educativa, por meio dos princípios éticos que visualizam a contínua formação e emancipação de todos os sujeitos da prática.

Inicialmente, identificou-se que o curso de Pedagogia de uma universidade pública de Fortaleza não possuía, no período deste estudo, a temática saúde em sua matriz curricular nem nas ementas das disciplinas. Diante dessa ausência, a intervenção se deu com a proposta de elaboração de um manual didático a respeito da importância da saúde na formação docente. Para sua implementação, foi divulgado um minicurso híbrido com 20 horas, no período de 29 de novembro a 15 de dezembro de 2022 para 20 discentes do curso de Pedagogia desta universidade. Dos 52 inscritos, somente 16 puderam participar. Acredita-se que o número reduzido se deve ao fato do período letivo, visto que a finalização de semestre acarreta muitas atividades para serem realizadas pelos discentes. Dessa forma, a pesquisa foi dividida em três etapas.

Na primeira, os 16 participantes foram convidados a preencher um questionário online acerca dos conhecimentos prévios, relacionados à saúde na formação e na prática educativa. Diante das respostas, a pesquisadora elaborou e implementou um manual no minicurso para auxiliar a compreensão das seguintes temáticas: Saúde Bucal; Saúde Mental; Higiene Corporal; Educação Alimentar e Nutricional e Práticas Corporais. O minicurso, com o intuito de orientar os(as) discentes acerca das ações preventivas e de promoção para saúde na Educação Básica, foi dividido em duas partes: 12 horas presenciais desenvolvidas em um laboratório de informática da universidade selecionada e 8 horas com atividades assíncronas disponibilizadas no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), administrado pela Unichristus, por meio da plataforma Moodle. Além disso, alguns recursos educativos digitais foram apresentados, visto que os respondentes informaram que eles apoiam no desenvolvimento e estudo do tema. O diagnóstico foi importante no planejamento do minicurso e na elaboração do manual, pois, por meio dele, foi possível determinar os temas básicos e necessários à promoção e prevenção da saúde na educação e com base nos Temas Contemporâneos Transversais (TCT).

No tocante ao manual, intitulado Manual de Cuidados com a Saúde: Formação Docente na Educação Básica, cadastrado na EduCapes (http://educapes.capes.gov.br/handle/capes/720453), buscou-se atender aos critérios pedagógicos do TCT, com estratégias pedagógicas por meio de atividades, jogos, brincadeiras voltadas para os profissionais da educação, envolvendo a saúde no contexto escolar. Ademais, foi possível contar com a participação de especialistas das áreas da psicologia, odontologia, educação física, nutrição e enfermagem, que produziram slides e vídeos, disponíveis no manual, com noções básicas de cuidados com a saúde na Educação Básica. O Manual foi organizado da seguinte maneira:

a) Organização dos temas: com base na necessidade de abordar tópicos importantes do dia a dia da comunidade escolar, bem como das famílias e sociedade, por meio de uma introdução geral, estratégias e ações de ensino, sugestões de jogos educativos, bem como saiba mais e links interessantes;

b) Referencial teórico: foi utilizado referencial que embasou no resultado da elaboração do Manual.

c) Canva: aplicativo da web para formatação do manual;

d) Hiperlinks, vídeos, imagens etc.;

e) Elaboração de jogos educativos relacionados à saúde na escola.

Em relação ao minicurso, seu planejamento foi desenvolvido com base no manual. As leituras e as atividades eram disponibilizadas no AVA, cujo cronograma permitia que o aluno se organizasse para realizá-las dentro do prazo preestabelecido. Além disso, desde o início, os participantes sabiam da necessidade de fazê-las e compreenderam que elas faziam parte da avaliação que estavam divididas em: 1) Questão Desafio; 2) Fórum; 3) Tarefa, com base no conteúdo abordado no manual, além das atividades presenciais previstas.

Na etapa seguinte, foram desenvolvidos os encontros presenciais no laboratório de informática, importantes momentos para conhecer melhor os alunos, apresentar o cronograma de estudo, as ferramentas utilizadas no AVA, a proposta do manual e debater sobre os cinco temas propostos. Todas as participações dos alunos, tanto de forma presencial, quanto a distância, foram fundamentais para entender como o manual e, consequentemente, o minicurso, contribuíram na formação sobre o tema em tela.

À vista disso, os dados gerados no minicurso foram organizados para serem confrontados a partir da triangulação (diário de campo, registro fotográfico, áudio e questionário online), concomitância e informações adicionais. Para Minayo (2008), o uso da triangulação exige, inclusive, a combinação de múltiplas estratégias de pesquisa capazes de apreender as dimensões qualitativas do objeto, garantindo a representatividade e a diversidade de posições dos alunos que formam o universo da pesquisa.

Na terceira e última etapa, foram realizadas as transcrições dos áudios, estruturadas as observações contidas no diário de campo, bem como a avaliação das atividades disponibilizadas no AVA do minicurso; ou seja, foram organizados todos os dados que incluíram fatos e acontecimentos apresentados durante o minicurso e, consequentemente, na utilização do manual. De posse desse material, foram realizadas várias leituras para constituir uma visão geral dos dados e, depois, analisar os elementos da pesquisa.

Por meio das transcrições, buscou-se o método de análise de conteúdo de Bardin (2011), de caráter verbal transcrito (por áudio, observações, anotações e questionário online). O diagnóstico foi realizado por meio da ausência de disciplinas relacionadas à educação e saúde, em meio à pandemia. Dessa forma, surgiu a necessidade de se trabalhar a questão da saúde na educação em contexto escolar.

Após uma breve análise de conteúdo, resultaram quatro categorias, que são: 1) Definição de saúde na escola; 2) Desafios na implementação e consolidação da saúde na educação; 3) Saúde na educação X realidade acadêmica cotidiana, e 4) Saúde na escola X prática docente. A partir dessas categorias, são realizadas as discussões dos dados coletados que foram apresentadas nas subseções que seguem no próximo item.

3 Resultados e Discussão

Antes de apresentar uma análise aprofundada das respostas dos participantes, é interessante fazer aqui uma breve descrição do perfil dos 16 alunos, a partir do semestre, idade e opinião sobre a importância da saúde ao longo da vida. Ressalta-se, ainda, que todas as questões dessa primeira parte do instrumento foram obrigatórias, e nenhum participante se negou a responder a elas.

Semestre dos(as) discentes de Pedagogia
Gráfico 3
Semestre dos(as) discentes de Pedagogia
Elaboração própria (2022)

Como observado no gráfico 3, os 16 participantes pertenciam a distintos semestres, sendo que 3 deles estavam no 1º semestre, 8 faziam o segundo semestre do curso e o restante, 5 participantes, cursava cada um o terceiro, quarto, quinto, sexto e sétimo semestres, respectivamente.

Idade dos alunos
Gráfico 4.
Idade dos alunos
Elaboração própria (2022)

No que se refere à idade, a maioria (10) possuía entre 18 e 23 anos e, ao comparar com o período em que estavam, selecionado por eles no questionário online, observou-se que se tratava de alunos do 2º ao 4º semestre. Em seguida, 4 alunos possuíam entre 24 e 29 anos e 2 entre 36 e 41 anos.

Quanto à resposta sobre “Importância da saúde ao longo da vida”, ver Gráfico 5, os 16 participantes responderam que se preocupam em ter uma alimentação saudável e hábitos saudáveis de higiene. Sobre a prática regular de atividade e exercícios físicos, 11 responderam que sim, que têm esse hábito, e 5 responderam que não se exercitam. Ao serem questionados em relação aos momentos de lazer, 15 responderam que incluem, e apenas 1 não inclui esses momentos no seu dia a dia. E, finalmente, quando perguntados se eles se consideravam pessoas saudáveis, 12 responderam que sim, mas 4 responderam que não se consideram indivíduos saudáveis.

Importância da saúde ao longo da vida
Gráfico 5.
Importância da saúde ao longo da vida
Elaboração própria (2022)

Destaca-se que os trechos selecionados para transcrição dizem respeito às falas mais elucidativas para a compreensão das categorias temáticas emergentes da análise de conteúdo, pois as respostas dúbias e pouco expressivas de cada categoria foram suprimidas por não contribuir com a compreensão leitora e sequer possibilitar uma elucidação ou aprofundamento do debate.

a) Categoria 1 – Definição de saúde na escola

A escola exerce um papel crucial na formação dos indivíduos, contribuindo para seu desenvolvimento social, emocional e cultural. Assim, torna-se um espaço oportuno para práticas de promoção da saúde, destinado a discutir as necessidades individuais e comuns dos alunos.

Embora a saúde seja fundamental ao desenvolvimento humano, existe uma falta de conhecimento e/ou distância em relação à sua promoção à dinâmica da escola e uma falta de sua definição e seus propósitos. Antes do minicurso, os alunos apontaram uma definição de saúde bem limitada, pois não tinham conhecimento. Eis algumas respostas dadas:

Não compreendo muita coisa, mas o básico que sei é que é um tema bastante importante a ser trabalhado na sala de aula, por meio do cotidiano (A1).

Acredito que é procura ensinar o básico aos estudantes, sobre doenças, gravidez, precauções, vacinas, abuso sexual... (A2).

Saúde na escola envolve os cuidados de higiene pessoal no ambiente escolar (A4). Ações que tragam benefícios à saúde na escola (A12).

Segundo Casemiro, Fonseca e Secco (2014), a saúde na escola como uma política pública envolve iniciativas municipais e nacionais. Há ações de intervenção e reflexão associadas à implementação de estratégias de promoção da saúde nas escolas e outros tópicos, tais como alimentação, controle de peso, saúde bucal, cuidados oftalmológicos, prevenção e controle da dengue, prevenção do uso de álcool, fumo e outras drogas, e saúde sexual e reprodutiva.

Diante disso, nos depoimentos após o minicurso, os participantes definiram a saúde na escola como uma forma de promoção desse tema, com a valorização de um modelo de educação para a vida e o desenvolvimento de habilidades para seu autocuidado.

Saúde na escola é a relação entre saúde e educação. Promovendo uma ligação entre família, escola e sociedade. A saúde deve ser estudada desde a educação infantil, seja na área psicológica, física, corporal, nutricional ou, até mesmo, relacionado à higiene (A1).

É autoconhecimento, autocuidado, responsabilidade (A2).

É muito importante levar questões para as escolas, para que todos os alunos tenham conhecimento sobre como cuidar não só da sua saúde, mas também como os dos seus familiares, que é sempre bom ensinar sobre cuidados físicos e mentais para melhorar o desempenho dos alunos (A4).

É a integração de práticas saudáveis que são indispensáveis na vida de um ser humano, práticas essas que devem ser reforçadas no ambiente escolar e na vida do indivíduo (A12).

Na tentativa de compreender a experiência da saúde escolar, os discursos revelam a importância da promoção e do cuidado da saúde na escola. Isso porque ela também promove um elo entre família e comunidade, contemplando desde a educação infantil até o ensino médio, seja na área da psicologia, corporal, nutricional, seja bucal.

Segundo Carter (2014), torna-se importante propor questões relacionadas à saúde no ambiente escolar para que todos os envolvidos tenham conhecimento sobre como cuidar não só da própria saúde, melhorando o seu desempenho, mas também da saúde da comunidade ao entorno da escola.

Infere-se que, após o minicurso, os participantes conseguiram falar acerca da saúde na escola com mais propriedade. Além disso, eles perceberam a necessidade de introduzir a saúde na educação, com o intuito de ser uma via de mão dupla entre professores, agentes da saúde, alunos e família, para que, dessa forma, seja repassado o conhecimento necessário, minimizando possíveis doenças e garantindo a prevenção e os cuidados com a saúde.

Saúde na escola é um tema importante a ser destacado no curso de Pedagogia por estar relacionado à formação do indivíduo. Casemiro, Fonseca e Secco (2014) ressaltam que não se trata somente da atuação de profissional na área da saúde, pois a formação deve ser propagada em todos os segmentos, não fugindo da atuação do professor.

A integração de práticas saudáveis no ambiente familiar, escolar e comunidade é fundamental na vida do indivíduo, objetivando a promoção e prevenção. Conforme Dantas, Rezende e Pedrosa (2009), a saúde engloba uma ampla área de conhecimento que vai do simples cuidado até certa complexidade que exija uma intervenção do corpo escolar para ajudar as crianças e os adolescentes em seu desenvolvimento.

Nota-se, nos depoimentos, que os assuntos saúde e educação são complementares, principalmente quando se trata de conscientizar os alunos acerca de vários hábitos saudáveis, desde uma boa alimentação, escovação, prática corporal, higiene, até sua saúde mental.

b) Categoria 2 – Desafios na implementação e consolidação da saúde na educação

A implementação do tema saúde na educação, no plano pedagógico escolar, torna-se desafiadora por parecer que são duas áreas de conhecimento distantes entre os campos de atuação na sociedade. Faz parecer que não há meios para que as ações pedagógicas colaborem com a saúde e que não possam ser dinamizadas pela prática docente. Em contrapartida, é possível, por meio de uma formação docente inicial ou continuada, estabelecer esse vínculo, aproximar educação e saúde em contexto escolar.

Nesse sentido, os participantes, antes do minicurso, pontuaram que a falta de recursos é um elemento agravante para que ações de promoção da saúde sejam implementadas nas escolas.

Falta de formação e conhecimento sobre (A1). A falta de interesse em relação ao tema proposto (A13).

Para os alunos, um ponto que merece destaque é sobre os recursos financeiros a serem utilizados para investimentos voltados para as ações de formação dos profissionais de educação, envolvendo a promoção e prevenção da saúde na educação. Segundo Quiroga (2022), existe uma deficiência de conhecimento dos profissionais da educação acerca do tema saúde no ambiente escolar.

Logo após o minicurso, quando questionados sobre os desafios na implementação e consolidação da saúde na educação, as respostas foram as seguintes:

Além da falta de políticas públicas e de verba do governo, uma boa preparação dos professores e do corpo acadêmico sobre conhecimentos referentes à saúde (A1).

Separação entre os campos de conhecimentos da sociedade, como se a educação não pode trabalhar em conjunto com outras áreas por exemplo com a saúde, como se não houvesse meios para que as ações que colaborem com a saúde não pudessem ser dinamizadas pela forma encantadora (A13).

A utilização das práticas pedagógicas voltadas para a saúde no ambiente escolar requer, também, interesse por parte do gestor escolar para acolher e inserir ações propostas para a implantação de temas relacionados à educação e à saúde no ambiente escolar, assim como a formação continuada dos professores.

c) Categoria 3 - Saúde na educação X realidade acadêmica cotidiana

A realidade acadêmica voltada ao tema saúde e educação está distante de se tornar uma prática cotidiana, tendo em vista as poucas instituições que contemplam, em sua matriz curricular, esse tema. Referente a isso, antes do minicurso, as respostas dos alunos mostram que:

Ainda não foi relevante nessa área, já que não tive nenhuma cadeira e nenhum projeto voltado para o tema (A4).

Aplica-se por meio de ações de conscientização enquanto a saúde mental e emocional, de doenças, e de distúrbios e ademais (A7).

Em cursos, artigos, palestras e vídeo aula no Youtube (A9). Se aplica de maneira muito pouco resumida a meu ver no simples lavar as mãos (A11).

Percebe-se, nas falas dos alunos, que o conhecimento sobre saúde na escola é intrínseco às experiências de vida, ou seja, se o indivíduo sabe que deve lavar as mãos, então, essa informação pode ser repassada para os demais. No entanto, promover saúde não é somente isso, conforme Batistella (2007, p. 28), “a saúde é um constructo que possui as marcas de seu tempo. Reflete a conjuntura econômica, social e cultural de uma época e lugar” e, por isso, deve ser estudada e compreendida em diferentes setores, inclusive na escola.

Após o minicurso, as respostas foram as seguintes:

Com esse minicurso, entendi que esse tema é importante e precisa de mais tempo para se aprofundar (A4).

As leituras que fizemos e o manual trouxeram informações sobre saúde que não tinha, saúde mental é muito importante agora (A7).

Se aplica muito, sobretudo na questão de como as nossas crianças se vem impactadas devido a pandemia que estamos por passar (A9). Ajuda no aprendizado, relações e assim para aprimorar o conhecimento (A11).

Comparando às respostas antes e depois do minicurso, parece que alguns recursos (lives, vídeos, podcast) abordam experiências voltadas para a saúde de forma extracurricular. Apesar de a autonomia de buscar essas ferramentas ser válida, é necessário incluir esses temas nas matrizes curriculares dos cursos de Pedagogia, haja vista que as ações visam a uma construção mais sólida relacionada à saúde no ambiente escolar, pela essencialidade de práticas de hábitos saudáveis na vida do indivíduo, além disso impactam na comunidade acadêmica com essa política educacional.

A prática docente, envolvendo as discussões sobre o cuidado com a saúde, segundo Menezes et al. (2020), Pereira, Melo e Nascimento (2021), também deve compreender o autocuidado; ou seja, é importante que esteja bem para poder estar com seus alunos. Ao entender esse processo, o(a) doente desenvolve a prática de atividades de autocuidado com os estudantes, ensinando-lhes como administrar e lidar com situações desafiadoras.

d) Categoria 4 – Saúde na escola X prática docente

No atual contexto brasileiro, observa-se a necessidade de abordar questões relacionadas ao tema saúde na escola por meio da formação docente, proporcionando um conhecimento de maior interesse pela temática, por meio de estratégias pedagógicas e recursos educacionais digitais, mostrando as formas lúdicas e melhores didáticas para o aprimoramento do aprendizado do aluno.

Antes do minicurso, os participantes tinham as seguintes opiniões:

No curso não tem disciplinas e nem projetos sobre saúde (A1).

Infelizmente, não é oferecida uma formação sobre o tema (A11).

Formalmente não temos disciplinas relacionadas à saúde diretamente (A15).

Observa-se que, após o minicurso, por meio das respostas dos participantes sobre a importância de estudar o tema saúde no curso de Pedagogia por um manual, bem como por intermédio da organização do minicurso, observou-se que o tema ajudou a compreender melhor as ações de promoção da saúde em contexto escolar.

O minicurso realizado proporcionou um maior interesse pela temática, pois pude perceber a importância e a necessidade do estudo da saúde. O manual trouxe a teoria e também a prática, por meio de estratégias pedagógicas e recursos digitais. Foi um grande aprendizado! (A1).

Agora poderei ampliar meu campo de atuação buscando somar junto estratégias que me permitam trabalhar em ambos as áreas e assim uni-las da melhor forma para construir conhecimento e transformar saberes (A11).

Abri os olhos que saúde vai além de lavar só as mãos, o psicológico também faz parte. Poderíamos ter mais aulas a respeito de como tratar de saúde mental nas salas de aula (A15).

Como afirma Casemiro, Fonseca e Secco (2014), por outro lado, as escolas precisam adotar ações em toda a sua estrutura e parcerias entre a comunidade e o setor de saúde. Isso implica a formação docente para compreensão, não apenas da melhoria da saúde para a mudança de comportamento individual, mas também das competências do setor público sobre a saúde da população, mudança organizacional e comunitária. Em relação ao manual, os alunos informaram que o recurso:

O manual tem muitas dicas para desenvolver com os alunos na escola. Até pra gente ler e se aprofundar, porque traz elementos como higiene do corpo, bucal, mental etc. (A1).

Possui várias formas lúdicas que serão usadas em ambiente escolar mostrando as melhores didáticas para passar nas salas de aula para os estudantes (A11).

Contribui de forma positiva, entretanto a educação deve aprimorar seus conhecimentos referentes à saúde (A15).

Após o minicurso, foi perguntado aos alunos quais temáticas consideravam importantes para serem trabalhadas na escola. E, conforme gráfico 6, os envolvidos nesta pesquisa foram unânimes, identificando três como principais temas: educação nutricional e alimentar, higiene bucal e atividade física. Além dessas, 15 apontaram hábitos e higiene corporal e 10, orientação sexual.

Temáticas importantes da saúde no contexto escolar
Gráfico 6.
Temáticas importantes da saúde no contexto escolar
Elaboração própria (2022)

Favorecer o debate desses temas faz que a escola fortaleça sua capacidade de ser um ambiente saudável para viver e aprender, visto que promove projetos e extensão escolar/comunitária, programas de promoção de saúde para funcionários, programas de nutrição, oportunidades para educação física e recreação, programas de aconselhamento e apoio social, promoção da saúde mental (BRANDENBURG et al., 2020), implementação de práticas que respeitam o bem-estar, bem como realizações pessoais.

Segundo Rocha et al. (2011), Veras, Ferreira e Lourinho (2020), a saúde escolar é uma proposta interdisciplinar e intersetorial de ampla relevância que visa desenvolver habilidades individuais e coletivas de forma ativa e proativa para construir seu projeto de vida e saúde, com o objetivo de alcançar uma qualidade de vida saudável. Esta forma de fazer saúde implica consciência, participação, espontaneidade, cooperação e valores, ou seja, uma melhoria das competências físicas, mentais e sociais do ser humano.

4 Considerações finais

No caminho percorrido nesta pesquisa, procurou-se elaborar um manual para auxiliar atividades mediadas pelo docente em uma experiência de aprendizagem com estratégicas pedagógicas para promoção da saúde. Para isso, foi preciso analisar o referencial teórico e determinar o ponto de partida.

Assim, retoma-se aqui o objetivo principal desta pesquisa que foi analisar as contribuições de um manual didático acerca das ações de prevenção e cuidado com a saúde na formação inicial de professores. Foi possível compreender, durante a pesquisa, que é essencial que os professores tenham consciência da importância de aliar educação e saúde, pois estes, por sua vez, podem orientar as práticas pedagógicas de prevenção da saúde na escola. Dessa forma, é necessário que, desde a formação inicial e durante movimentos formativos de atualização permanentes no trabalho, os professores tenham consciência de que essa temática precisa estar contemplada.

Por meio dos questionários (inicial e final), foi observado que é importante promover a formação inicial de professores com o tema educação e saúde na escola, visto que existem fragilidades formativas que devem ser minimizadas por meio do aprimoramento constante.

A implantação do manual didático tornou-se fundamental para promover ações voltadas aos cuidados em saúde na escola, sendo uma ferramenta utilizada como estratégia pedagógica para contribuir com a promoção da saúde no ambiente escolar, principalmente na formação inicial de professores, pois seu conteúdo é educativo e interativo, cuja abordagem inclui temas voltados à educação alimentar e nutricional, saúde bucal, saúde mental, higiene corporal, práticas corporais e recursos educacionais digitais.

O conhecimento voltado para a saúde na escola é pouco tratado no curso de Pedagogia da universidade selecionada e, por isso, é necessário que tal tema esteja incluído na formação de professores. As falas dos participantes mostram que, antes de estudarem o assunto pelo manual, eles tratavam saúde por meio da própria vivência, resultando em informações que carecem, em muitos casos, de veracidade e coerência. Como consequência, os acadêmicos podem achar difícil fazer as conexões fundamentais entre saúde e educação, por isso reconhecem a importância disso em seu futuro papel como professores e, também, promotores de saúde na escola. Assim, deve-se fazer que professores compreendam como a saúde e a educação estão ligados, bem como permitir que eles adquiram os conhecimentos e as habilidades para serem promotores de saúde eficazes e se engajarem, ativamente, nesse papel.

Além do desenvolvimento profissional contínuo, a inclusão das principais habilidades de saúde pública nos cursos de formação inicial de professores pode contribuir para o cumprimento dessas expectativas.

Embora esta pesquisa seja limitada em relação à sua representatividade, supõe-se que aqueles que participaram da pesquisa em ambos os momentos (presencial e a distância) estavam, de fato, mais interessados na saúde; então, os resultados obtidos destacam a necessidade de mudanças ainda maiores nos currículos existentes.

Portanto, a preocupação com o tema saúde deve superar a forma reducionista como é vista e ser incorporada no currículo dos estudantes de graduação para que, dessa forma, o tema Saúde na Educação possa ser trabalhado de forma clara e com propriedade.

Referências

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