Artigo
Resumo: O presente artigo objetiva analisar o perfil de bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Ceará (UFC), observando os padrões que possam indicar caminhos investigativos futuros sobre potenciais dificuldades que o público ingressante após a lei de cotas pode enfrentar para a inserção e permanência na carreira científica. A metodologia empregada consiste em uma análise descritiva dos dados oriundos de três fontes: 1) pesquisa de perfil realizada pela Faculdade de Educação da UFC; 2) currículo lattes dos bolsistas; 3) e dados dos Encontros Universitários da UFC. Ao todo foram estudados 61 bolsistas, dentro do recorte temporal de ingresso na graduação entre 2017.1 a 2020.1. Adota-se como referencial teórico a praxiologia de Pierre Bourdieu. Os resultados apontam um perfil com menor representação de: estudantes trabalhadores; estudantes do curso noturno; ingressantes por cota e transferência; e discentes das menores faixas de renda.
Palavras-chave: Educação Superior, Formação Científica, Equidade em Educação, Democratização do Ensino.
Abstract: This paper aims to analyze the profile of the fellows from The Institutional Program of Scholarships to Scientific Researchers (PIBIC) at Pedagogue Curse from the Federal University of Ceara (UFC). It intends to describe possible patterns to highlight investigative tracks on barriers to access the undergraduate scientific training programs for those who accessed higher education after the federal quota’s law implementation. The methodology consists of a descriptive analysis from 3 databases: 1) research realized by the Scholl of Education at Federal University of Ceara; 2) Lattes platform; 3) Encontros Universitarios’ annual meeting at UFC. We analyzed 61 students’ profiles. They all started at the undergraduate level between 2017.1 and 2020.1 semesters. The theoretical framework was based on general principles or Bourdieu’s praxeology. The results show an underrepresentation of workers, night shift students; quota’ fellows; transferred from other courses; and those from lower socioeconomic stratifications.
Keywords: Higher Education, Scientific Training, Equity on Education, Democratization of Education.
1 Introdução
O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) representa para os estudantes de graduação, sobretudo os de cursos de licenciatura, uma possibilidade de distinção entre pares e de prolongamento de suas trajetórias acadêmicas. Entre seus objetivos basilares, apresenta o compromisso de formação voltada para pesquisa e o preparo para o ingresso em programas de pós-graduação (CNPq, 2006). A distinção consiste de forma geral pelo fato de tais bolsas oferecerem a seus beneficiários a apreensão de conhecimentos diversos, que abarcam desde o aprofundamento do estudo sobre metodologias de pesquisa até uma maior sociabilidade nos espaços acadêmicos, acessando regras e valores do campo específico. Além disso, a bibliografia específica sobre o programa evidencia uma clara diferença entre bolsistas e não bolsistas em relação ao tempo de ingresso, quantidade de ingressantes, tempo de permanência e taxa de conclusão, reafirmando que estudantes bolsistas são mais bem-sucedidos em todas estas taxas que os demais (CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS, 2017; MASSI; QUEIROZ, 2015; OLIVEIRA; 2015). Interessa-nos a discussão do programa com foco no perfil de seu usuário, especialmente explorado pela relação com os estudos sobre desigualdade educacional. Mais especificamente, encontramos dois eixos que direcionam o estudo do perfil dos bolsistas de Iniciação Científica como forma de compreender os caminhos que a formação inicial estabelece em relação às desigualdades educacionais. O primeiro diz respeito ao processo de democratização do Ensino Superior Público Federal, cujo marco é a lei de cotas (nº 12.711/2012) que garantiu o acesso de grupos de estudantes pretos, pardos e indígenas (PPI), de escola pública, pessoas de baixa renda e, posteriormente, de pessoas com deficiência. O segundo, referente à pós-graduação, aponta para uma lenta diversificação do corpo discente e docente, reproduzindo, especialmente no nível de formação Stricto Sensu, uma baixa participação de professores e alunos PPI (VENTURINI, 2019). Embora o processo de democratização da educação superior no Brasil tenha avançado significativamente com a lei de cotas, o campo específico da formação ao mundo acadêmico stricto sensu parece não ter seguido o mesmo caminho. Sendo, portanto, importante a discussão sobre quais estudantes têm acesso à educação cientifica por meio da iniciação cientifica e quais dificuldades estão postas em nível de graduação para que os grupos que estão atualmente acessando a universidade continuem marginalizados dos espaços de pós-graduação. O presente artigo tem como objetivo descrever o perfil socioeconômico dos bolsistas PIBIC do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Ceará, observando, à luz da literatura específica, os padrões que possam indicar caminhos investigativos futuros sobre potenciais dificuldades que o público ingressante após a lei de cotas pode enfrentar para a inserção e permanência na carreira científica. Para tal, foi feita uma análise descritiva dos dados dos estudantes dos cursos diurno e noturno ingressantes no curso de pedagogia da Universidade Federal do Ceará (UFC), entre os semestres de 2017.1 a 2020.1.
2 Metodologia
A população estudada engloba os alunos matriculados nos cursos de Pedagogia diurno e noturno, no intervalo entre 2017.1 e 2020.1, e que tenham participado do Pibic até junho de 2020, momento de coleta dos dados desta pesquisa. Ao total foram observados 61 alunos. O recorte temporal escolhido justifica-se, uma vez que, considerando que o período de duração da Pedagogia da UFC é de oito semestres, os estudantes de 2017 estariam, em junho de 2020, próximos da conclusão do curso e os de 2020.1 ingressando nele. Ademais, esse recorte alcança também os mais recentes beneficiários da Lei de Cotas, permitindo, então, um exame sob a ótica de uma política já consolidada. O processo de construção de dados consistiu em quatro etapas: (1) levantamento via Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA) dos alunos matriculados no curso; (2) consulta de currículos lattes e consulta dos anais dos Encontros Universitários (Encontro de Iniciação Científica); (3) solicitação de dados de perfil socioeconômicos levantados pela Faculdade de Educação da UFC; (4) compilação dos dados em uma matriz e padronização. Para as etapas de levantamento dos alunos matriculados no curso, solicitou-se, junto à coordenação dos cursos diurno e noturno, o nome dos estudantes e o número de matrícula de todos os ingressantes entre 2017 e 2020, incluindo na matriz de dados apenas os estudantes com status de matrícula “ativo” ou “concluído”. Ainda com esses dados, observou-se o tipo de ingresso: SISU, transferência ou mudança de curso. Para os ingressantes via SISU, correspondente à grande maioria dos estudantes, colheu-se, ainda via SIGAA, se o ingresso se deu por ampla concorrência (AC) ou por cota. Na instituição, há oito nomenclaturas de cotas, correspondendo, segundo site do SISU na UFC, aos seguintes critérios:
Aos estudantes que não ingressaram via SISU e, portanto, não possuem informações de ingresso por cota ou ampla concorrência, estabeleceu-se que não há resposta para esta variável. Estes totalizam 9 estudantes. Para as etapas de identificação dos estudantes bolsistas, foi realizada a pesquisa nominal na plataforma Lattes de todos os 566 estudantes matriculados, verificando: (1) a existência de currículo cadastrado; (2) declaração de Pibic; (3) declaração de monitoria; (4) declaração de outras modalidades de bolsas, (5) existência de publicações e (6) professor orientador. Concomitante a este processo, uma vez que nem todos os estudantes adicionam ao currículo a informação de participarem ou não de uma bolsa, foi realizada a análise das edições entre e 2017 e 2021 do Encontro de Iniciação Científica da instituição (ENCONTROS UNIVERSITÁRIOS, 2017; 2018; 2019; 2020; 2021), pois, sendo a participação no evento obrigatória para bolsistas, é possível encontrar os estudantes que estão no ciclo vigente. A penúltima etapa ocorreu por meio da junção dos dados aqui já descritos aos dados colhidos pela FACED no decurso do planejamento das atividades emergenciais durante a pandemia da Covid-19 (UFC, 2020b). A pesquisa foi realizada pela “Comissão Organizadora do Seminário de Avaliação e Planejamento", que foi componente do Plano “Participar e Incluir” da mesma unidade, no ano de 2020. Antes do acesso em definitivo os dados foram anonimizados, evitando que a autora, por também ser estudante do curso de pedagogia naquele momento, identificasse colegas em dados não anônimos. Nesta etapa, incorporou-se à matriz dados de: (1) estado civil; (2) gênero; (3) idade; (4) localidade; (5) renda; (6) informações de ocupação profissional; (7) número de filhos e se se encontram ou não em idade escolar; (8) número de pessoas com quem reside; e (9) informações de bolsa remunerada ou auxílio universitário. Nem todos os alunos matriculados, entre o recorte temporal de 2017 a 2020, responderam ao questionário da FACED, dado que: alguns estudantes já haviam concluído o curso; os estudantes do semestre 2020.2 ainda não haviam ingressado no momento da pesquisa; e os demais optaram por responder, ou não lhes foi possível. De maneira geral, adotou-se como critério de análise a comparação entre os estudantes bolsistas PIBIC e os estudantes matriculados na Faced como um todo. Trata-se, portanto, de um trabalho focado na análise transversal descritiva de dados, quase em sua totalidade, categóricos. Os programas utilizados para a observação estatística e a construção da matriz de dados foram Excel e Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).
3 Resultados e Discussão
Dentre os cursos de Ciências Humanas da UFC, a Pedagogia representa o maior percentual de bolsistas, com 25% do total. Comparando com números da mesma área, isso significa o dobro do total de bolsas de cursos como Filosofia e História (FERREIRA, 2015). Contudo, apesar destas taxas, o percentual de estudantes contemplados com essas bolsas (contabilizando voluntárias e remuneradas) ao longo do período estudado é de apenas 11% de toda a população discente da Pedagogia. O que nos faz reafirmar que tal posição de bolsista é distinta e pouco comum dentre as trajetórias. Este percentual, quando comparado com dados da UFMG (CANAAN, 2012), cujos números variam entre 25% e 40%, representa um número muito abaixo e consequentemente uma maior disputa por vaga.
3.1 Perfil dos estudantes observados
Observando a figura 1, percebe-se que, assim como maioria no perfil do curso (84%), as mulheres também estão em maior número dentre os bolsistas (90%). Por sua vez, a população masculina tem uma sub-representação de 6 pontos percentuais entre a população geral e a população de bolsistas. Entretanto dados acima são compatíveis com os dados gerais da UFC, onde o número de egressos do sexo feminino PIBIC das Ciências Humanas representava 93,3% do grupo total (FERRREIRA, 2015). Ao comparar os mesmos números com o panorama nacional, tem-se que a taxa de participação feminina é muito superior à média, nesse caso, caindo para 60,30% (CGEE, 2017). Sobre a configuração etária dos estudantes observados, os dois recortes apresentam-se predominantemente jovens. O curso de pedagogia tem 74% de seus estudantes com idade de até 25 anos, enquanto que a taxa para PIBIC é de 78,33%.
Há uma variação entre turnos, com o curso noturno apresentando um maior número de estudantes com idade maior de 30 anos, cuja taxa é 23,57%. O número para o diurno é de apenas 10,23%. Historicamente, o perfil de bolsistas PIBIC segue este quadro, uma vez que até 2001 havia uma restrição de idade, sendo o limite para o ingresso ter até 24 anos (Resolução Normativa 019/2001). Mesmo não havendo mais tal restrição, a média de idade dos PIBIC na FACED é de 24,3 anos. Em relação ao estado civil, a população de bolsistas possui taxas bem próximas às da população geral do curso, cuja grande maioria (75%) está na categoria “Solteiro(a)”.
As variações mais significativas dão-se entre os casados e os de união estável, com sobre representações de, respectivamente, em 3,73 e 1,76 pontos percentuais.De forma geral, a configuração onde os solteiros são maioria dentre os bolsistas, repete-se para outros cursos. No caso das bolsas de IC dos cursos de História, Engenharia Elétrica e Ciências Biológicas estudados por Canaan (2012) todos os estudantes pertenciam a esta categoria. Ainda, para além de os perfis serem majoritariamente jovens, indivíduos em união estável ou casados, podem ter mais dificuldades a ingressarem nas bolsas em decorrência de terem responsabilidades diferentes (maior participação na renda familiar, maior jornada de trabalho e mais atividades domésticas, este último item podendo ser ainda mais significativo com o recorte de gênero).
Para a variável “Filhos”, embora o perfil do curso seja composto por uma grande maioria de estudantes sem filhos, ao analisarmos o quadro de bolsistas esse número torna-se ainda maior. Há uma queda na representação dos estudantes com filhos, com o decréscimo de 4,17 pontos percentuais. Ressalta-se ainda que a maioria de estudantes do curso nesta categoria são mulheres do curso noturno (61,97%) e que toda a população de bolsistas com filhos, é também do sexo feminino. Analisar a representação não proporcional de tal grupo no PIBIC, encontra-se dentro da discussão de maternidade e ciência. Os critérios de seleção desses bolsistas, uma vez levando em conta aspectos de dedicação exclusiva (CNPq, 2006) para uma bolsa que, quando remunerada, equivale a 400 reais, e com carga horária semanal de 16h (4h a mais que as demais bolsas da universidade), tornam-se grandes empecilhos para essas estudantes. Santoro, et al. (2021, p.74) afirma que: “novas mães têm mais probabilidade do que novos pais de deixar a carreira científica, mudar para um trabalho de meio período ou ficar desempregada. Notoriamente a parentalidade não afeta os pais na mesma proporção que as mães”. A representação de estudantes que exercem atividades laborais decai em 10,50 pontos percentuais quando observada a população de PIBICs. Tal taxa, mesmo considerando seu decréscimo, é bastante peculiar por considerar que uma vez exigindo uma dedicação exclusiva de seus estudantes, a taxa esperada seria de 0%.
No entanto, pode-se refletir que tal número expresse a necessidade desses discente de obter outra fonte de renda, pois, considerando que no curso de Pedagogia, tem-se um perfil de estudantes majoritariamente de baixa-renda e que o valor de bolsa é insuficiente para ser tomado como única fonte de renda, seria muito difícil cumprir a exigência de ser apenas bolsista. A análise do gráfico reitera ainda que mesmo criando meios para obter uma fonte de renda externa ao PIBIC, discentes que trabalham tendem a não ingressar nessas bolsas. Dados da Universidade Federal de Minas Gerais (CANAAN, 2012, p. 86) trazem que “Um aluno que já havia trabalhado em algum momento de sua vida tem 13% menos chances de se tornar bolsista de IC em Ciências Biológicas, e 58%, em História”. Por fim, tanto para o perfil geral do curso, como também para bolsistas, mais de 60% dos estudantes que trabalham são do curso noturno. Em relação à renda, adotou-se como critério de comparabilidade a divisão dos estudantes de pedagogia (bolsistas e não bolsistas) por faixas de renda. Isso é, se estabeleceu 4 grupos de estudantes por faixa de salários mínimos per capita, definidos na Tabela 2. Ao fim, aplicou-se o mesmo recorte apenas em estudantes bolsistas PIBIC, encontrando a seguinte distribuição percentual.
O resultado esperado, seguindo a estimativa geral, era uma distribuição igual de 25% por faixa de renda. Entretanto, há um deslocamento do percentual de bolsistas na faixa inferior de renda para os da faixa intermediária superior. Isso é, dentre os bolsistas há uma menor participação dos mais pobres do curso e uma maior participação do segundo grupo mais rico. De todo modo, faz-se destaque que as faixas de renda basicamente concentram pobreza. Somente 4,5% dos estudantes matriculados no curso de pedagogia teriam renda para superar a barreira econômicadas cotas e com 87,6% ganhando menos de um salário mínimo per capita, por exemplo.
Há uma evidente disparidade na distribuição de bolsistas entre turnos. Enquanto que no curso há uma diferença de apenas 2% entre os turnos, entre os bolsistas doo PIBIC, a diferença cresce para 31,14%. Ou seja, o percentual de bolsistas do turno diurno aproxima-se do dobro dos discentes do noturno. A baixa representação do curso noturno pode ser entendida principalmente pelo aspecto do trabalho, uma vez que 69,39% dos estudantes que trabalham, estão matriculados no turno noturno. Outro aspecto também já mencionado que pode influenciar tal taxa, é a maior presença de mães no noturno. Por fim, tem-se a própria organização pedagógicada FACED que, em grande parte, concentra suas atividades no turno diurno, considerando atividades extraclasse e funcionamento de espaços físicos (ARAÚJO, 2019). Isso implica em dizer que, para estudantes do noturno que apenas têm a disponibilidade no seu turno de matrícula, seu acesso a quaisquer atividades que não sejam componentes curriculares torna-se fora de seu alcance.
Para a variável “Tipo de ingresso”, há uma inversão na predominância entre àqueles que acessaram via cota sendo maioria dos matriculados, com aqueles da ampla concorrência sendo maioria entre os bolsistas PIBIC. Para ampla concorrência, tem-se uma variação de 10% entre estudantes em geral e bolsistas Pibic, representando a única taxa que sofre aumento e chegando a quase 50% dos bolsistas. Os estudantes beneficiários de cotas, passam ao segundo maior número de discentes com bolsa, e decrescem em 3,3%. Por fim, estão os estudantes ingressantes via transferência, cuja taxa de representação cai em 7,25%. Tecendo comparação a licenciatura da UFMG, mantêm-se aqui a tendência de que a maioria dos bolsistas sejam oriundos de escolas privadas (CANAAN, 2012). Esta "vantagem" se daria pelo aspecto da origem cultural, que teria influência tanto nas escolhas de trajetórias acadêmicas, e sobretudo nos processos seletivos.
4 Considerações finais
Sintetizando os dados expostos, é observável que o perfil dos estudantes que, em sua maioria, acessam o lugar de formação para a pesquisa no curso de Pedagogia é composto por: mulheres na faixa de 24 anos;solteiras, sem filhos; sem vínculo empregatício ou exercício de atividade laboral; estudantes do curso diurno; ingressantes por ampla concorrência e com renda per capita acima da mediana dos estudantes da pedagogia na Faced. Dentre as variáveis estudadas, os aspectos de maior discrepância ocorrem na representação relativa ao turno, trabalho, renda e tipo de ingresso. Indicando que estudantes do curso noturno, discentes que exercem alguma atividade laboral, estudantes de menores faixas de renda e estudantes ingressantes por cota ou transferência, estariam, provavelmente, mais distantes das bolsas de IC que os demais. O presente cenário permite a análise de que (1) a exigência de dedicação exclusiva combinada ao baixo valor da bolsa PIBIC é potencialmente uma das principais barreiras de acesso, uma vez que os estudantes da Faced em sua maioria possuem renda de até 1 salário mínimo per capita, sendo a IC um lócus menos atrativo quando comparado a estágios de maior remuneração e bolsas que não possuem tal exigência. (2) O tipo de escola representa um fator importante na aquisição de bolsas, indicando a importância de estudos voltados para tais processos seletivos, investigando seus critérios e procura por categoria de ingresso. Em síntese, a partir dos dados de perfil dos bolsistas, observamos que os estudantes ingressantes por política de ações afirmativas ainda encontram entraves para a plena participação dos espaços existentes no Ensino Superior (materializando-se aqui com a análise da Iniciação Científica), demonstrando assim, a manutenção de desigualdades. Espera-se, com isso, que esta pesquisa amplie as discussões de avaliação de políticas de IC e acerca das ainda necessárias ações voltadas para o público das ações afirmativas, especialmente que garantam para além do acesso, sua permanência e efetiva participação nos diversos espaços acadêmicos.
Referências
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