ARTIGOS CIENTÍ­FICOS

À procura de um jardim de palavras: a transdisciplinaridade em Teresa Vergani [1]

Looking for a garden made of words: transdisciplinarity in Teresa Vergani

La búsqueda de un jardin de palabras: la transdisciplinariedad en Teresa Vergani

Louize Gabriela Silva de Souza
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, Brasil

Revista de Matemática, Ensino e Cultura

Grupo de Pesquisa sobre Práticas Socioculturais e Educação Matemática, Brasil

ISSN: 1980-3141

ISSN-e: 1980-3141

Periodicidade: Cuatrimestral

vol. 16, 2021

revistarematec@gmail.com

Recepção: 10 Dezembro 2020

Aprovação: 11 Fevereiro 2021

Publicado: 12 Fevereiro 2021



DOI: https://doi.org/10.37084/REMATEC.1980-3141.2021.n.p94-119.id323

Resumo: Quais as escolhas de Teresa Vergani no seu percurso intelectual que a levaram a construir uma obra pautada pela transdisciplinaridade? Partindo desse questionamento, entrevistei os professores Iran Abreu Mendes e Carlos Aldemir Farias, amigos, interlocutores e leitores dos escritos da autora por mais de vinte anos. Os entrevistados falaram sobre os caminhos sinuosos, díspares e movediços que a levaram a incorporar a incerteza do conhecimento científico nas suas pesquisas acadêmicas. A narrativa revela a disciplina intelectual, o rigor do pensamento, a prática de uma ciência estética e plural, a sensibilidade nômade para ouvir as vozes dos diferentes povos e culturas, a compreensão dos saberes presentes nos distintos domínios de pensamento; a amizade construída pelo afeto e a Educação revestida com arte e criatividade. A entrevista semiestruturada foi transcrita, editada, acrescida com referências, imagens e notas de rodapé.

Palavras-chave: Percurso intelectual, Teresa Vergani, Educação, transdisciplinaridade.

Abstract: What are the choices made by Teresa Vergani in her intellectual career that led her to build her work around the concept of transdisciplinarity? Based on this question, I interviewed professors Iran Abreu Mendes and Carlos Aldemir Farias, who have been friends, interlocutors and readers of the author’s writings for over twenty years. The professors discussed the sinuous, different, and unstable paths that led her to incorporate the uncertainty of scientific knowledge into her research. The narrative reveals the intellectual discipline, the rigor of thought, the practice of a plural and aesthetic science, the nomadic sensitivity to listen to the voices of different peoples and cultures, the understanding of the different kinds of knowledge present in the different domains of thought; a friendship built by affection and Education surrounded by art and creativity. The semi-structured interview was transcribed, edited, and enriched with references, images and footnotes.

Keywords: Intellectual path, Teresa Vergani, Education, transdisciplinarity.

Resumen: ¿Cuáles fueron las decisiones de Teresa Vergani en su trayectoria intelectual que la llevaron a construir una obra pautada por la transdisciplinariedad? Con base en este cuestionamiento, entrevisté a los profesores Iran Abreu Mendes y Carlos Aldemir Farias, amigos, interlocutores y lectores de los escritos de la autora desde hace más de veinte años. Los entrevistados comentan de los caminos tortuosos, dispares e inestables que llevaron a ésta a incorporar la incerteza del conocimiento científico en sus investigaciones. La narrativa revela la disciplina intelectual, el rigor del pensamiento, la práctica de una ciencia estética y plural, la sensibilidad nómada para escuchar las voces de diferentes pueblos y culturas, la comprensión de los saberes presentes en los distintos dominios del pensamiento; la amistad construida por el afecto y la Educación revestida de arte y creatividad. La entrevista semiestructurada fue transcrita, editada, ampliada con referencias, imágenes y notas al pie.

Palabras clave: Trayectoria intelectual, Teresa Vergani, Educación, transdisciplinariedad.

INTRODUÇÃO

Era uma manhã ensolarada na cidade de Natal do dia dezessete de dezembro de 2017, quando os professores Iran Abreu Mendes e Carlos Aldemir Farias me receberam em seu apartamento na capital potiguar para uma conversa sobre Teresa Vergani. Naquela época, eu cursava o doutorado em Educação na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), sob a orientação da professora Maria da Conceição Xavier de Almeida.

A tese tinha como tema central refletir sobre a dialogia vida e conhecimento a partir da obra da Matemática, artista plástica e escritora portuguesa Teresa Vergani. Meu interesse em estudar o trabalho da pensadora portuguesa se relacionava ao fato de perceber a natureza transdisciplinar de seus estudos, alcançando diferentes domínios do saber. Além disso, sempre me interessei por estudos, leituras e pesquisas que demonstrassem e discutissem estratégias de diálogo e relação entre saberes. Ao estudar o itinerário formativo e nômade de Teresa, era possível visualizar de modo mais próximo a relação existente entre ciência, arte, espiritualidade e Educação.

Compartilhar o itinerário formativo de Teresa permite expor algumas indicações explícitas ou implícitas que transversalizam os debates sobre Educação, formação do sujeito, aprendizagem e complexidade. Os caminhos escolhidos ao longo da vida pela pensadora fizeram-na operar sonhos, exercitar bifurcações, conhecer propostas antiparadigmáticas, experimentar o diverso e reinventar o seu mundo.

Teresa Vergani nasceu em 1942, em Lisboa, onde também realizou parte de seus estudos acadêmicos. Licenciou-se em Ciências Matemáticas, no ano de 1969, pela Faculdade de Ciências da Universidade Clássica de Lisboa, e, em 1973, concluiu o curso de Teologia Pastoral, em Louvain, Bélgica. No ano seguinte, em 1974, ingressou na Universidade de Genebra para realizar sua especialização e foi na mesma instituição que, em 1983, recebeu o título de doutora, com a tese “Análise numérica dos ideogramas Tshokwe de Angola”.[3] Sua tese foi considerada interdisciplinar por atravessar a Antropologia, a Matemática e as Ciências da Educação. No ano de 1990, realizou estágio pós-doutoral na Universidade de Londres. Foi consultora da UNESCO na República Democrática de São Tomé e Príncipe de janeiro a julho de 1977 e, dois anos depois, em 1979, na República Popular de Angola. Nesses países, atuou na formação de professores e na elaboração de programas de cursos intensivos. Além dessas atividades, Teresa contribuiu para instigar as pessoas da comunidade a manter a resistência. Exerceu a função de docente nas Universidades de Genebra, Lausanne, Luanda e Lisboa. Durante o percurso de formação acadêmica e profissional, deslocou-se para diferentes lugares do mundo, o que lhe possibilitou recolher fragmentos e saberes de diferentes culturas. Seu nomadismo se expressa na articulação entre as dimensões local e universal construídas em seus livros, bem como na interação entre técnica e simbolismo, entre arte, ciência e espiritualidade e na relação entre Ciências Exatas e Ciências Humanas[4]. Esse nomadismo também está presente em sua poesia, apresentando-se como um desejo incontido de ultrapassar as fronteiras, libertar-se do aprisionamento disciplinar, transformar a ordem estabelecida, dialogar com os mistérios do mundo.

Carlos e Iran, amigos próximos de Teresa e leitores de sua obra, foram essenciais ao longo de todo o processo do meu doutoramento em Educação na UFRN. Já na primeira entrevista, forneceram-me pistas que ajudaram a construir um mapa da vida e das ideias da pensadora. Naquela manhã do dia 17 de dezembro, tive acesso a informações inéditas sobre o vigor de um pensamento aberto, criativo e ousado, revelando um cenário vivo das ideias de Vergani que não estão presentes em seus livros e que reverberam uma intelectual que imprimiu vida às suas ideias e atitudes. Teresa Vergani é o retrato de uma pensadora complexa, não compartimentalizada, que injeta poesia na prosa da vida.

Em fevereiro de 2018, viajei para Belém para encontrar os professores Carlos e Iran na Universidade Federal do Pará. Na ocasião, levei a primeira entrevista transcrita. Naqueles dias, realizamos juntos a leitura para fechar as brechas, os recortes, as datas e, aos poucos, novas informações foram acrescentadas à entrevista.

Sabemos que a ciência se consolidou ao longo do tempo por proferir uma narrativa fria e escrita na voz passiva.[5] Em outra direção, a conversa com Carlos e Iran ganhou vida, e as falas foram marcadas pelo pulsar das emoções, dos afetos e da admiração, mas também por aquilo que não pôde ser dito. Na entrevista, fica nítido o reconhecimento pelas ideias e o modo de ser da pensadora e, além disso, os professores revelaram amizade, cumplicidade, admiração e reconhecimento pelo trabalho de pesquisa desenvolvido por Teresa desde a década de 1970 até 2004, quando se afastou da academia para operar outras bifurcações em sua vida. Transbordam, também, referências à arte, à criatividade e à humanidade, tão presentes no cotidiano e nas ações de Teresa.

A entrevista, a seguir, dá a ver pequenos detalhes que nos levam a enxergar com nitidez as escolhas feitas por Teresa, que a levaram, em certa medida, a se aventurar por caminhos sinuosos, díspares, movediços, sem garantias de segurança; a incorporar em seu trabalho a incerteza do conhecimento científico. Revela, ainda, a construção de uma pensadora transdisciplinar, a disciplina intelectual, o rigor do pensamento, a prática de uma ciência estética e plural, a sensibilidade nômade para ouvir as vozes dos diferentes povos e culturas, a utopia por um mundo mais justo; a compreensão dos saberes presentes nos distintos domínios de pensamento; a amizade construída pelo afeto; a Educação revestida com arte e criatividade; a pesquisa científica entendida como uma “ternura investigativa”, expressão usada por Teresa para se referir à pesquisa acadêmica e, por fim, às parcerias estabelecidas no campo científico.

***

Louize: Gostaria que começassem falando um pouco sobre como se deu a aproximação de vocês com Teresa Vergani.

Iran: Em termos de pensamento e ideias, nosso primeiro contato com Teresa foi quando eu e Carlos estávamos em Recife e vimos o livro O zero e os infinitos, de autoria de Teresa Vergani, em uma livraria. Naquela época, quis comprar o livro, mas tratava-se de um livro importado, bastante caro e, por isso, não compramos naquele momento. Dois anos depois, Carlos foi para um evento de Antropologia no Recife e comprou o livro. Isso aconteceu antes de conhecermos Teresa pessoalmente, em fevereiro de 2000.

Carlos: Quando vimos o livro de Teresa era 1995. Em 1997, voltei no Recife para participar de um Congresso de Antropologia, da ABA, regional Nordeste. Como estava no Recife, voltei à livraria; o livro de Teresa ainda estava lá. Pelo subtítulo, Uma experiência de antropologia cognitiva e educação matemática intercultural, tínhamos uma noção do conteúdo.

Iran: Começamos a ler o livro e a utilizá-lo. Iniciei fazendo palestras e mencionando o livro na Universidade do Estado do Pará (UEPA), onde trabalhei como professor de 1993 a 2002, e na Universidade Federal do Pará (UFPA), em Belém, no mesmo período. Por onde eu andava, fazia referência ao livro; comecei a referenciá-lo nos meus textos, ainda em 1997. Incluí algumas ideias na minha dissertação de mestrado, defendida nesse mesmo ano na UFRN. Na época, as ideias de Teresa Vergani eram completamente novas no Brasil. Em 1999, realizamos o 1º Colóquio Norte-rio-grandense de Etnomatemática. Reunimos o grupo de pesquisa Educação Matemática e Cultura, coordenado pelo professor John Fossa, da UFRN, uma professora da Universidade Potiguar (UnP) e falamos com Ceiça Almeida para que o Grupo de Estudos da Complexidade (GRECOM) participasse. Foi nesse momento que promovemos a visita de Ubiratan D’Ambrosio a Natal. Ele veio para fazer uma conferência no Colóquio de Etnomatemática, e Ceiça, que também havia se mobilizado para trazê-lo, convidou-o para fazer uma conferência na UFRN, promovida pelo GRECOM. Ubiratan estreitou, ainda mais, os laços de trabalho e de amizade com o grupo de Matemática e Cultura, com Ceiça Almeida e com o GRECOM. Nesse período, foi realizada por mim, Ceiça e Carlos uma grande entrevista com ele. Eu já conhecia Ubiratan há muito tempo e mantínhamos correspondência por cartas. Após voltar de Natal para São Paulo, passado um mês mais ou menos, Ubiratan nos escreveu dizendo que Teresa Vergani viria ao Brasil e passaria uns dias com o filho em Tibau do Sul, perto da praia de Pipa, litoral sul do Rio Grande do Norte. Ubiratan sugeria que fizéssemos contato com ela. Ele contou que, após retornar de Natal para São Paulo, refletiu bastante sobre o nível de discussão transdisciplinar que ocorria na UFRN, notadamente no GRECOM, e que Teresa, que ele já conhecia há algum tempo, pois já havia participado como membro da banca examinadora de sua tese de agregação na Universidade Aberta de Portugal, em Lisboa, era, para ele, a professora mais transdisciplinar que conheceu em sua vida profissional. Ubiratan descrevia as qualidades intelectuais de Teresa e sugeria que fizéssemos contato com ela para nos encontrarmos em Natal. Assim, Ubiratan enviou uma mensagem de e-mail para Teresa e nos enviou o contato para que pudéssemos falar com ela. Isso foi por volta de maio de 1999. Tentamos contato com ela várias vezes e não conseguimos. Teresa veio para Natal, mas o envio das nossas mensagens coincidiu com o momento em que ela estava a caminho. Assim, houve um desencontro, e ela só nos respondeu quando retornou a Lisboa. Como não acessou seus e-mails em Tibau do Sul, não viu nossas mensagens. Naquela época, Ubiratan tinha lançado dois livros, intitulados Educação matemática: da teoria à prática (1996) e Educação para uma sociedade em transição (1999). Em um desses dois trabalhos, fazia referência ao livro Apontamentos sobre o sol e os seus símbolos (1997), de autoria de Teresa Vergani. Eu e Carlos começamos a buscar mais informações sobre a autora.

Tudo isso aconteceu em 1999: a visita de Ubiratan, o colóquio de Etnomatemática em Natal, a chegada de Teresa a Tibau do Sul, o aprofundamento da leitura dos livros de Teresa. Foi assim, que, na virada do segundo milênio, Teresa chegaria às nossas vidas para ficar. Em fevereiro de 2000, viajamos para Portugal com o objetivo de participar do III Encontro Luso-Brasileiro de História da Matemática, na Universidade de Coimbra.[6] Logo no primeiro dia do evento, quando cheguei na porta da sala para ministrar o curso Atividades históricas para o ensino de conceitos trigonométricos, Teresa estava no corredor da Universidade nos esperando. Uma mulher de passos acelerados caminhava em nossa direção. Carlos logo a identificou. Por um instante a felicidade nos invadiu de surpresa, rimos de alegria. Ali mesmo nos abraçamos, conversamos um pouco. Foi na Universidade de Coimbra que nos conhecemos pessoalmente e selamos nossa amizade.

Carlos: Conversei com Ceiça e falei que iríamos encontrar Teresa na viagem a Portugal. Sugeri que Ceiça enviasse, por nós, livros e materiais do GRECOM. Um cartão, escrito por Ceiça, acompanhava a encomenda. Ceiça mandou Ensaios de complexidade[7] e outros livros. Quando a encontramos na Universidade de Coimbra, entreguei a encomenda de Ceiça para Teresa. Naquele momento, ou seja, há quase 20 anos[8], aconteceu o encontro com Teresa, que estabeleceu uma relação que perdura até hoje. Naquela mesma tarde, ela sugeriu que saíssemos para jantar. Durante o jantar conversamos bastante sobre trabalho e trocamos presentes. Naquele ano, Teresa estava em pleno desenvolvimento intelectual, havia prestado exames para o concurso de agregação, em 1998, na Universidade Aberta de Portugal. No dia seguinte, Teresa regressou a Lisboa, porque havia ido a Coimbra tão-somente para nos conhecer. Permanecemos em Coimbra até o fim do congresso. Antes de partir para Lisboa, Teresa deixou um cartão dentro de um envelope na portaria do hotel onde estávamos hospedados. No cartão dizia que nos aguardava na Universidade Aberta, em Lisboa. Guardamos esse cartão até hoje. Ao longo do tempo conservamos as diversas correspondências enviadas por Teresa. Percebemos, desde o início, que se tratava de uma amizade especial. Nascia, ali, uma amizade para além do campo acadêmico, uma amizade tanto intelectual quanto das coisas simples da vida. Desde os primeiros contatos, percebemos em Teresa uma mulher humana, inteligente, sensível e admirável. Temos afinidades diversas e comungamos de valores, princípios e temas acadêmicos comuns.

Manuscrito de Teresa Vergani.


Manuscrito de Teresa Vergani.
Acervo: Carlos Aldemir Farias, 2000.

Iran: Ubiratan praticamente nos trouxe Teresa. Começamos a olhar as citações que ele fazia sobre seu trabalho e a procurar outras publicações dela. Em fevereiro de 2000, estabelecemos uma relação de convivência direta com ela e, a partir daquele momento, consolidamos uma amizade pessoal e profissional duradoura. Assim, quando terminou o III Encontro Luso-Brasileiro de História da Matemática, viajamos de trem de Coimbra para Lisboa. Quando chegamos à Universidade Aberta, fomos anunciados por uma recepcionista como dois professores do Brasil. Chegando ao gabinete de Teresa, conversamos com intensidade. Ela estava com livros de Etnomatemática em cima de sua mesa, elaborava um relatório de uma disciplina ministrada por ela em um curso de Especialização sobre Etnomatemática. Esse relatório, posteriormente, foi transformado no livro Educação etnomatemática: o que é?.[9] Nesse mesmo ano, Teresa finalizou o relatório e organizou o texto para publicação, por solicitação dos alunos do curso. Acompanhamos o fechamento de tudo. Lembro que ela abriu um armário que tinha uma série de publicações da Universidade Aberta; publicações que eram vendidas a um preço mais barato para os alunos da universidade. Eram materiais de excelente qualidade sobre Educação a distância. Tivemos que comprar uma mala para levar os livros que ela nos presenteou, inclusive livros com anotações e observações feitas pela própria Teresa.

Carlos: Em seguida, fomos almoçar em um restaurante próximo da Universidade. Nesse dia, Teresa nos apresentou a Carlos Pina Cabral, seu amigo pessoal e editor da Pandora, editora que não existe mais. Carlos Pina tem uma importância na vida intelectual de Teresa, pois grande parte de seus livros foram editados por ele. Há uma amizade entre os dois até hoje. Naquele dia, Carlos Pina foi ao nosso encontro, porque Teresa queria nos apresentá-lo. Também estabelecemos uma amizade com Carlos Pina que perdura até hoje. Em outubro de 2000, embarcamos novamente para Europa. Dessa vez, Ceiça Almeida foi junto.

Iran: Viajamos de Natal para Barcelona. Fomos participar do Simpósio Internacional “Pensar las Complejidades del Sur”, realizado em Vilanova i la Geltrú, entre os dias 18 e 20 de outubro de 2000. O evento contou com a participação de Edgar Morin e foi organizado pelo Instituto Catalão do Mediterrâneo e pela Associação para o Pensamento Complexo (APC). Quando o evento terminou, viajamos para Lisboa para participar do 1º Congresso Luso-Brasileiro de História da Ciência e da Técnica, que aconteceu nas universidades de Évora e de Aveiro, entre os dias 22 e 27 de outubro daquele ano. O evento começava em Évora; de lá, seguia para Coimbra; e de Coimbra, para Aveiro. Ceiça foi junto para apresentar uma comunicação sobre as “Técnicas de previsão climática no nordeste do Brasil”, produto de suas pesquisas na Lagoa do Piató, no município de Assu, Rio Grande do Norte. De Aveiro, fomos a Lisboa encontrar Teresa Vergani na Universidade Aberta e, dessa vez, levamos Ceiça. Ela conheceu Teresa nessa ocasião.

Carlos: Ali se estabeleceu o primeiro contato para viabilizar a visita prolongada de Teresa ao Brasil, em especial à UFRN, em 2001. Sua presença se deve a essa preparação, que vem desde o contato com Ubiratan, em 1999, os encontros em 2000, e a concretização da sua chegada à UFRN, especialmente ao GRECOM, em maio de 2001, para a realização de seu semestre sabático. Nesse intervalo de tempo, Teresa leu as produções do GRECOM que foram entregues por mim na Universidade de Coimbra, em fevereiro de 2000. Desde o início, estivemos juntos com Ceiça na concretização do projeto da vinda de Teresa ao Brasil.

Iran: Sua estadia entre nós foi intensa. Ela chegou em maio de 2001 a Natal; em junho, seguiu viagem para Belém do Pará, proferiu uma palestra sobre “Educação, transculturalidade e projeção de futuros”, a convite das Secretarias de Educação e de Promoção Social do Governo do Estado do Pará, para professores da Educação básica e do ensino superior. Concedeu, também, uma entrevista ao programa televisivo “Sem Censura Pará”. Fomos juntos à Ilha de Cotijuba, a Icoaraci (um distrito de Belém com oficinas de artesãos de cerâmica marajoara) e visitamos pontos turísticos da capital paraense.

Carlos: Na volta de Belém a Natal, Teresa escreveu o texto-testemunho ao GRECOM.[10] À noite, fomos à praia de Ponta Negra. Sentamos na areia em frente a um bar iluminado com tochas de fogo, ela distribuiu o testemunho impresso aos presentes e fez a leitura em voz alta. Estavam presentes um grupo de professoras da UFRN, sobretudo do GRECOM, e de estudantes de pós-graduação em Educação e em Ciências Sociais daquela época. Foi quando Teresa adentrou nossas vidas.

Iran: Nesse período, Teresa concedeu uma entrevista para Gustavo de Castro, publicada na revista Cronos, do Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais da UFRN. Ela produziu, ainda, um artigo que foi publicado no jornal Tribuna do Norte, no âmbito do projeto Polifônicas ideias, uma página semanal coordenada pelo GRECOM, no domínio de um projeto de extensão[11] coordenado por esse grupo de pesquisa.

Carlos: O projeto de extensão Polifônicas ideias estava em plena efervescência em 2001. O GRECOM vivia um momento de ebulição no plano das produções acadêmicas e das ideias. O Grupo Morin, embrião do GRECOM, tinha começado em 1992, mas passou a ser base de pesquisa em 1994.[12] As primeiras teses de doutorado foram defendidas em 1997/1998. Foram sobre essas primeiras produções que Teresa Vergani se debruçou durante o seu semestre sabático.

Iran: Ela passou um tempo dedicada à leitura das produções do GRECOM. Teresa ficava o tempo inteiro lendo as dissertações e as teses e assistindo à produção videográfica do grupo.

Carlos: Ceiça preparou a sala com carinho para receber Teresa. Foi quando se firmou a amizade entre nós. Ubiratan D’Ambrosio foi um interlocutor importantíssimo nesse processo.

Iran: O elo era eu, Ceiça, Carlos, Ubiratan e Teresa Vergani. Até hoje esse movimento ocorre entre nós.

Carlos: No mesmo período, Iran apresentou as ideias de Teresa para o grupo Educação Matemática e Cultura, do qual ele fazia parte. Iran estava finalizando o doutoramento em Educação em 2001.

Iran: Na verdade, eu estava finalizando a minha tese de doutoramento no final de junho de 2001. Defendi em setembro daquele ano. Os conceitos e reflexões de Teresa foram tratados na minha tese. Eu já havia me apropriado de suas ideias.

Louize: E como surgiu a ideia do livro A surpresa do mundo?

Iran: Foi um pouco depois. Quando ela veio, em maio de 2001, trouxe sua tese de agregação[13] e usou uma parte do trabalho para ministrar o curso “O racional e o simbólico na produção de conhecimento”, na UFRN. Depois, ela nos deu de presente o material do curso e, vez ou outra, enviava textos inéditos de sua autoria por e-mail.

Carlos: Começamos a organizar uma pasta com os arquivos dos textos de Teresa.

Iran: Havíamos comprado o livro O zero e os infinitos. Ela nos deu de presente Excrementos do sol. Quando Teresa veio ao Brasil, em especial a Natal, trouxe malas com livros que foram doadas para o GRECOM e para nós.

Carlos: Ela trouxe na bagagem Educação Etnomatemática: o que é?, além de outros livros.

Iran: No ano em que o GRECOM completou 10 anos, em 2003, eu estava trabalhando na Universidade Federal do Ceará, em Fortaleza, e Carlos estava em processo de defesa da dissertação de mestrado em Educação no GRECOM. Foi quando nasceu a ideia de organizar um livro com os textos de Teresa para presenteá-la e para compor as publicações lançadas nas comemorações dos 10 anos do GRECOM, durante o Fórum para o estudo do homem e da vida. Reunimos o material do curso “Pensamento racional e pensamento simbólico” e juntamos com outros textos, entre eles, um texto de Teresa publicado no II Congresso Internacional de Etnomatemática, ocorrido em agosto de 2002, em Ouro Preto, Minas Gerais. Teresa não pôde comparecer, mesmo assim, o texto foi publicado nos Anais.

Carlos: Além desses que Iran falou, também fez parte do livro o texto “A criatividade como destino”, apresentado por Teresa no 1º Congresso Internacional de Criatividade, ocorrido em São Paulo, em 1998.

Iran: Reunimos, também, alguns poemas escritos por ela e publicados em alguns dos livros já esgotados que foram doados para nós. E um texto de Carlos Drummond de Andrade, intitulado “Teresa”, entrou no material para compor a coletânea. O prefácio foi o texto que Ubiratan D’Ambrosio havia escrito para o concurso da tese de agregação de Teresa na Universidade Aberta. Foi a partir dessa composição que editamos o livro A surpresa do mundo. O título foi sugestão da própria Teresa.

Carlos: A frase que se transformou em título do livro encontra-se dentro de alguns livros da própria Teresa. Nós escrevemos a apresentação. Na época, o projeto de Ceiça era escrever a história do GRECOM, que se concretizou com o livro Ciclos e metamorfoses, publicado em 2003, em que ela escreveu a primeira parte, e Margarida Knobbe, a segunda. O texto-testemunho de Teresa sobre o GRECOM, escrito em maio de 2001, se transformou na apresentação do livro de Ceiça e Margarida, com autorização de Teresa. O projeto dos 10 anos do GRECOM incluía algumas publicações, entre elas o livro de Teresa (A surpresa do mundo), Ciclos e metamorfoses, entre outros.

Iran: Esse livro de Teresa inaugurou a criação do selo editorial Flecha do Tempo, que completou 15 anos em 2018.

Carlos: A ideia desse selo foi minha e do Iran com o propósito de publicar textos que não têm espaço em editoras maiores. Poucos anos depois, foi criada a Coleção Metamorfose. Como no GRECOM havia muitos materiais inéditos, pensamos em juntar o selo editorial Flecha do Tempo com o GRECOM e, a partir dessa ideia, passou a existir a Coleção Metamorfose. Começamos a publicar pequenos livros. Quando o livro Educação Etnomatemática: o que é? esgotou em Portugal, falamos com Teresa para publicarmos no Brasil. Fizemos no mesmo formato da primeira edição, só mudamos a capa e publicamos pela Coleção Metamorfose como um número especial, em 2007. O contato com Teresa avançava a passos largos, e fomos dando vida aos seus escritos que estavam esgotados.

Louize: Fiz um levantamento na internet dos trabalhos que utilizam referências de Teresa em suas produções acadêmicas. De modo geral, a maioria dos trabalhos discutem sobre Etnomatemática e fazem referência a Teresa e a outros autores. No livro Educação Etnomatemática, o que é?, Teresa diz o seguinte: “Sinto-me pouco à vontade porque a etnologia ‘nasceu’ com os colonialismos e, aos nossos ouvidos europeus, a palavra ‘etno’ ainda lembra (mais ou menos conscientemente) ‘nativos’ ou ‘indígenas’. A distância que separa esses vocábulos do conceito de ‘indigentes’ é, no contexto ocidental, bem reduzida...”. Gostaria que vocês comentassem um pouco sobre isso.

Iran: Esse termo é polêmico até hoje. Não foi apenas Teresa que falou isso. Um número grande de intelectuais da área da Educação Matemática, em especial, da Etnomatemática, que se debruçou sobre esse tipo de olhar cultural para a Matemática produzida socialmente, foi contra o termo. Contudo, Ubiratan se manteve firme, quando argumentava que não estava se referindo ao prefixo etno como algo que fosse preconceituoso ou inferiorizador dos grupos sociais. A ideia era muito mais no sentido da raiz de onde as coisas surgem e de onde nascem. O sentido etnousado por Ubiratan é correlato ao sentido de saberes da tradição, de Ceiça Almeida[14], que muita gente olha pejorativamente como algo que não tem valor. Ubiratan enfrentou muitos impasses e discussões acadêmicas calorosas com pesquisadores e pensadores contrários ao termo. Teresa é uma dessas pensadoras que se sente incomodada com a terminação. Ela a utiliza porque já estava estabelecida e as pessoas queriam que ela falasse pela via desse termo, mas o que Teresa fala está para além do que o termo coloca. Na sua tese de doutorado, de 1983, já discutia essas ideias todas sem usar o termo Etnomatemática. No livro O zero e os infinitos, ela utiliza rapidamente o termo. Para os desavisados, o termo diminui a competência de quem produz esse tipo de conhecimento, e ela é contra, como Paulus Gerdes e outros tantos pesquisadores. Paulus, amigo pessoal de Teresa, também não concordava.[15] Houve uma discussão intelectual em torno do termo, mas o significado tem o seu valor. Tanto que Ubiratan começa a reformular a sua ideia de Etnomatemática quando criou no Programa Etnomatemática uma ideia muito mais ampla e que, vale lembrar aqui, rende a ele o reconhecimento como um dos cem matemáticos do século 20, no mundo inteiro, sobretudo pela criação do termo Etnomatemática. Ele bifurcou a área de conhecimento, isso se constitui um evento importante. Ubiratan lançou o livro Etnomatemática: arte ou técnica de explicar e conhecer em 1990. Contudo, começou a falar de Etnomatemática em um congresso de Educação Matemática, na Alemanha, em 1986 e lançou no mesmo ano o livro Da realidade à ação: reflexões sobre educação (e) matemática. Esse livro faz um apanhado das ideias que Ubiratan vinha discutindo sobre Educação Matemática desde meados da década de 1970. Trata-se de um conjunto de textos escritos para conferências em congressos. A gênese das ideias sobre Etnomatemática já estava lá. Nesse tempo, ele começou a usar o termo para discutir uma temática de abordagem cultural e transdisciplinar da Matemática, numa perspectiva humanística, social e cultural. Essa tríade é trabalhada por Ubiratan e por outros pesquisadores, como Teresa Vergani. Só que Teresa já fazia tudo isso, embora não usasse o termo Etnomatemática.

Carlos: O que percebo nesse movimento é que tanto Teresa quanto Ubiratan e Paulus Gerdes apresentam essa abordagem da Matemática e da cultura a partir de suas experiências e implicações no contexto sociocultural africano. Cada um ao seu modo. Teresa, como consultora da UNESCO em países africanos de língua portuguesa, Angola, São Tomé e Príncipe; Ubiratan D’Ambrosio, quando saiu do Brasil para trabalhar nos Estados Unidos da América (EUA), estabeleceu contato com algumas universidades africanas, sobretudo no Mali, e foi formar professores de Matemática. Ele percebeu, naquele contexto, o quanto a cultura africana era significativa e poderia ser potencializada a partir do conhecimento matemático. Por fim, Paulus, quando saiu da Holanda para Moçambique, em especial, Maputo. Sua experiência de trabalho com a cultura moçambicana lhe permitiu construir uma obra que tem início nos anos 1980, sobre a natureza Matemática e suas dimensões social, cultural, política, econômica e pedagógica. O que observo é o despertar da Matemática a partir de elementos e artefatos das culturas africanas, seja no Mali, em Moçambique, Angola, São Tomé e Príncipe. Esses estudos emergem entre Matemática e Antropologia, especialmente relacionados à cultura. Esse movimento aconteceu entre as décadas de 1960 e 1980. Conhecemos Paulus Gerdes de perto, publicamos um livro seu na coleção Contextos da Ciência, coordenada por nós na editora Livraria da Física, de São Paulo. Quando Paulus trabalhou como professor visitante na Universidade de São Paulo, estivemos juntos em vários momentos profissionais. Iran o levou à UFRN e à UFPA para proferir palestras no ano de 2011, por ocasião do lançamento do seu livro Geometria dos trançados Bora na Amazônia peruana (2010).

Iran: Isso aconteceu com o movimento de independência das colônias africanas. Paulus foi para Moçambique quando houve a revolução. Teresa foi nesse mesmo período. Lá, eles conheceram essas culturas e o seu modo matemático de pensar. Após a Segunda Grande Guerra, começou um movimento com vários matemáticos preocupados com a produção de conhecimento além da Matemática, ou seja, aquela Matemática vista como um pensamento, uma linguagem e uma prática, exclusivamente de matemáticos. Há um movimento no sentido de olhar mais atentamente e, de um modo geral, para o contexto sociocultural. Os novos estudos que olham a Matemática e a cultura começam a aparecer por aí. Só vamos compreender a influência desses autores nos trabalhos de pesquisadores como Teresa Vergani, por exemplo, quando consultamos as referências em seus livros. A base epistemológica de Teresa é suíça, o doutorado foi realizado em Genebra. Ela elaborou uma tese praticamente autoral e independente, mas com base na influência de autores da Bélgica, da França e da Suíça. Os autores desses países são vanguarda no campo das Ciências da Educação. Depois da tese, Teresa alargou sua matriz de conhecimento numa direção mais filosófica, com o propósito de compreender teoricamente tudo o que tinha apresentado até aquele momento. Então, a discussão na sua tese[16] sobre pensamento cigano e nômade vai no sentido de percorrer os vários ramos da atividade humana dentro do contexto acadêmico para buscar lastro para explicar as ideias e os eventos que Teresa vinha desenvolvendo e pesquisando. Por isso, ela não se fechava em uma única direção, porque reconhecia que, ao se fechar numa única explicação, não daria conta de elucidar o que pretendia explicar. Isso só é possível a partir de um aglomerado de modelos de pensamento.

Carlos: O trabalho acadêmico, no campo da Educação, de Teresa, Paulus e Ubiratan têm uma implicação na Matemática e na Antropologia. Paulus tem formação em Matemática, em Teologia e em Antropologia. Teresa, tem formação em Matemática e Teologia, mas à medida que foi se envolvendo nesse movimento, sentiu necessidade de estudar Antropologia. Ubiratan é aberto às leituras da Antropologia, sem as quais não teria conseguido criar a área de Etnomatemática, porque é Matemática e cultura. Ubiratan também teve uma amizade profissional com Paulo Freire. Essa é a base que vai constituir o novo momento: Matemática e Antropologia. Lembre-se que o subtítulo do livro O zero e os infinitos é “uma experiência de antropologia cognitiva e educação matemática intercultural”. Outro exemplo é o livro Excrementos do sol, um título metafórico que remete à expressão dos antigos povos mexicanos para designar o ouro. O subtítulo desse livro, a propósito de diversidades culturais, discute a diversidade em algumas culturas. Atualmente a diversidade cultural é discutida e apreciada nas pesquisas em Educação no Brasil, sobretudo na formação de professores. Vale lembrar que esse tema da diversidade cultural estava presente nos estudos de Teresa desde os anos 1980. Ela introduz termos e expressões na Educação antes de se tornar o padrão, ou seja, ela vai no movimento de contracultura epistemológica.

Iran: E essa ideia das experiências interculturais também. Ela lançou expressões novas que hoje têm um significado forte e que se tornaram padrão, expressões que ela usou há 35 anos atrás ou mais. Os trabalhos de Teresa, os livros e os artigos, são originados, quase todos, de sua experiência como pesquisadora e docente concomitantemente, era uma pesquisa na docência. É uma educação que aposta na dinâmica sociocultural o tempo inteiro.

Carlos: Ela partia da sala de aula, da formação docente e transformava o material produzido com os estudantes em livros, artigos e material estético.

Louize: Uma formação docente bem sofisticada.

Iran: Sim, e muito mais aberta. Uma Educação complexa, transdisciplinar. Daí sua sintonia com o trabalho de Ceiça Almeida e do GRECOM.

Carlos: Consultando as referências bibliográficas utilizadas por Teresa, veremos que há pensadores da complexidade, como Edgar Morin. Também faz referência a Henri Atlan, Isabelle Stengers, Ilya Prigogine, Claude Lévi-Strauss, David Bohm, entre outros. Toda essa bibliografia foi lida no original, na língua francesa, ou seja, ela teve acesso muito antes de ser traduzido para o português. Teresa fazia uso desses autores em primeira mão. Quando Teresa recebeu parte da produção do GRECOM, em 2000, por meio do material enviado por Ceiça, percebeu a conformidade de suas ideias com os trabalhos do GRECOM, uma vez que os autores utilizados por Teresa constituem a base epistemológica das pesquisas orientadas, sobretudo por Ceiça Almeida, na UFRN. As ideias de Teresa, as pesquisas produzidas no GRECOM e os trabalhos que Iran produzia estavam em sintonia com as pesquisas de Ubiratan D’Ambrosio, realizadas desde a década de 1970. Iran percebeu em Teresa o mesmo que ele já percebia em Ubiratan, depois em Paulus etc. Há uma convergência de ideias e discussões, uma filosofia, uma base epistemológica comum.

Iran: Esses autores, mencionados por Carlos, eram a vanguarda do pensamento transdisciplinar. É isso que agrega e aproxima, porque são autores que seguem um modelo para pensar a produção de conhecimento próximo daquilo que já construíamos em nossa carreira e em nosso modo de viver. Do pensamento para a vida, de um outro modo de pensar a Educação e a produção de conhecimento.

Carlos: Outra maneira de agregar elementos da cultura à Educação, conforme Morin, é contextualizar o conhecimento, imprimir vida às ideias, trata-se de uma implicação do sujeito no conhecimento. Por essa e outras razões, a amizade com Teresa floresceu e se consolidou. Após 2004, quando Teresa se aposentou da Universidade, mantivemos ainda mais vivo o contato com ela. É importante observar, também, que tanto Ubiratan quanto Teresa e Paulus encontraram resistência dentro das universidades, devido às ideias e posições que defendiam.

Louize: Em alguns livros de Teresa podemos identificar argumentos de diferentes místicos, budistas em diálogo com as ideias de renomados cientistas. Como vocês veem a inserção desses pensadores na obra dela?

Iran: Como ela teve uma formação densa, tanto na Teologia quanto na Filosofia, percebeu que há modelos do pensamento, princípios teóricos estabelecidos sobre a existência humana, sobre a produção de conhecimento, sobre a produção de ideias que são transversais, tanto na ciência quanto na espiritualidade. O que interessa para Teresa é essa conexão, os princípios teóricos que estabelecem a ciência, que dialogam com os princípios teóricos da religião, da espiritualidade, da teologia. Ela percebe que os princípios não se separam, porque são os mesmos, no sentido da conexão. Podem não ser os mesmos autores, mas ela suspeita, investiga e comprova que esses pensamentos têm uma mesma gênese na ancestralidade intelectual.

Carlos: Ela conecta bem demais as ideias de diferentes autores, isso se deve à sua formação. Ninguém consegue ser transdisciplinar se não tem uma formação sólida, sem ser um bom especialista em sua área de conhecimento. Sua abertura cognitiva para leituras de outros campos de conhecimento, seu gosto pela estética e sua experiência de trabalho na África permitiram-na olhar o mundo a partir de diversas perspectivas. Daí ela produzir textos de rica intertextualidade em torno de uma determinada temática. Teresa consegue costurar com linha fina as ideias de diferentes autores e elaborar um texto original.

Iran: Ela fez um curso no padrão da Matemática rígida, dura, densa, mas entendeu conceitualmente as ideias, os conceitos matemáticos, tanto que opera a migração desses conceitos para a poesia, para a literatura, para a filosofia e para as artes. Ela consegue transferir as formulações conceituais e atribuir novos significados. Se você vai para a poesia de Teresa e não tem compreensão Matemática de diversos conceitos, você não entende o que ela está dizendo. Quem enxerga a poesia do poema A morte da circunferência, de autoria de Teresa, são os matemáticos. Quem não conhece os conceitos que estão presentes nesse poema, não o entende com propriedade.

Carlos: Teresa, desde muito cedo, teve uma formação diversa. Sempre se interessou por artes plásticas, e mantém uma atividade de pintura até hoje. Por outro lado, foi uma mulher que viajou bastante, conheceu lugares e culturas diversas. Teresa ouve as pessoas para entendê-las, jamais faz comparação. Quando chega em lugares culturalmente diversos, não estabelece nenhum tipo de comparação. Cultura não se compara, Teresa sabe disso. Quando uma pessoa estabelece comparações entre culturas é porque não tem uma compreensão do que seja a diversidade das culturas.

Iran: Além disso, todo objeto humano, que é de natureza qualitativa, não possui parâmetro de comparação, como é o caso da cultura.

Carlos: Saber ouvir, registrar, fotografar são características de Teresa. Certa vez nos falou que guarda todas as suas agendas com comentos de viagens. Quando se aposentou da Universidade Aberta mandou a sua biblioteca pessoal transportada de navio para Guiné-Bissau. Ela se desfez de quase todos os livros acadêmicos. Com os livros que ficaram, ela fez uma fogueira e depois espalhou as cinzas no jardim de sua casa. Talvez um modo simbólico de dizer adeus à academia. Operou mais um rito de passagem em sua vida.

Iran: Ela deve ter pensado bastante antes de fazer isso e decidido que, a partir daquele momento, a vida intelectual não pertencia mais a ela, de tal maneira que tomou a decisão de não se envolver mais academicamente com nada – e não se envolve desde 2004.

Carlos: Em uma de nossas viagens a Portugal, em novembro de 2017, encontramos Teresa. Fomos participar do primeiro Encontro Luso-brasileiro TEAR – Territórios Artísticos com a Matemática, em Óbidos, um evento concebido em 2014, por um grupo de professores brasileiros e portugueses. Naquele ano, 2014, pensávamos na possibilidade de homenagear Teresa Vergani, pois ela sempre esteve nessa convergência entre a Matemática e arte. Contudo, ela não aceitou a homenagem, pois havia se afastado da vida acadêmica. Quando voltamos do evento de Óbidos nos encontramos em Lisboa, no dia 12 de novembro de 2017. Teresa foi ao nosso encontro, e saímos para jantar. Durante o jantar pedi para ela autografar o livro A palavra e a pedra para Louize. Falei que Louize cursava doutoramento, sob a orientação de Ceiça Almeida. Como a homenagem a Teresa no evento não aconteceu, eu, Iran e Amílcar Martins compramos 30 exemplares do livro A palavra e a pedra. Os livros estavam guardados e empoeirados no depósito da Universidade Aberta e foram descobertos por Amílcar Martins. Então, tivemos a ideia de comprá-los para presentear os convidados do TEAR. Nem a própria Teresa sabia da existência dos livros, pensava que já estavam esgotados.


Cartaz do TEAR.
Acervo: Carlos Aldemir Farias, 2017.

Louize: Iran, em alguns momentos Teresa fala de uma especificidade do pensamento matemático, o que seria isso?

Iran: Refere-se à exatidão matemática, a essa tentativa que a Matemática tem de trabalhar com modelos. Modelos que a Matemática tenta instituir, modelos rígidos para explicar os objetos do mundo. E quando você acredita que existem modelos para explicar os fenômenos do mundo de modo geral, você impede qualquer possibilidade de acontecer algo inusitado, os instantes de reinvenção da natureza. Quem acredita na rigidez do mundo, não admite qualquer outra coisa; quem acredita que o número é invenção humana, não acredita, por exemplo, na numerologia, não acredita no horóscopo, na astrologia. Faz sempre uma previsão para o futuro considerando que o futuro já está dado, considerando que há um percurso que vai ser reproduzido ciclicamente. No entanto, o que está acontecendo é que os fenômenos naturais e sociais mudam continuamente. Essa rigidez é o pensamento matemático, e esse pensamento é emprestado para as ciências chamadas duras. Todas as vezes que esse pensamento é levado para as Ciências Humanas e Sociais, quebra os fenômenos sociais e socioculturais, porque não consegue atender a essa rigidez, só dá certo quando você trabalha com fenômenos isolados e retira todas as interferências. É disso que Teresa está falando o tempo inteiro. Está dizendo que esse é um modelo que caracteriza a Matemática, essa é a especificidade que as outras áreas não têm, porque elas não acreditam nessa rigidez. Para ela, a Matemática é isso e muito mais do que isso. Se assim não fosse, ela não acreditaria nas artes, na criatividade, na poesia. Para Teresa, a Matemática é mais livre, por isso, ela rompe com a Matemática pura. Não é esse modelo seco, sem vida.

Carlos: Quando o livro A surpresa do mundo (2003) se esgotou, demos vida a ele não mais com o mesmo título, e sim como A criatividade como destino (2009).Essa expressão que dá título ao livro é de Teresa. Para ela, nosso destino é ser criativo; estamos aqui para criar e não podemos fugir dessa sina. No inverno de 2007, nos reunimos em Lisboa, num jantar em sua casa no Estoril, e falamos sobre a nova edição. Utilizamos como base A surpresa do mundo, mas, dessa vez, inserimos novos textos, além de prefácio de Ceiça Almeida. Teresa aceitou, sugeriu cortes e acréscimos. O livro ganhou vida pela coleção Contextos da Ciência, sob a nossa coordenação (minha e de Iran). O livro de Teresa abre a coleção juntamente à segunda edição revisada e ampliada de Ciência, razão e paixão, de autoria de Ilya Prigogine[17]. Além de tudo isso que já falamos, há detalhes importantes que gostaria de destacar. Teresa sempre foi uma mulher reservada. Tem um amor intenso pela natureza. Ama as plantas, tem uma devoção pelas árvores, tanto que gastou uma abastança em euros para preservar uma árvore de cedro bastante antiga que tem no jardim de sua casa, para mantê-la viva. Gosta de animais. Um de seus gatos foi batizado Ubi, em homenagem a Ubiratan D’Ambrosio.

Louize: Tem uma foto dele no GRECOM.


Cedro e placa no jardim da casa de Teresa Vergani.
Fotos: Carlos Aldemir Farias, 2019.

Carlos: Nós conhecemos Ubi. Era um gato grande, belo, bem cuidado. Às vezes, Teresa encontra gatos doentes na rua e os leva para casa, cuida, dá nomes. Há uma história curiosa, contada por Teresa, em relação às gaivotas. As aves estavam morrendo de fome porque os barcos de pesca japoneses invadem o litoral de vários países para pescar atum e diversos peixes. Passam arrastando tudo com suas redes de pesca e não deixam comida para as gaivotas e outras aves. Teresa ia ao mercado, comprava peixes e se dirigia à praia na região de Cascais para alimentar as aves. Ela tem um carinho pelos animais. São coisas bem fora do espectro de uma mulher acadêmica, que sempre teve acesso a um mundo sofisticado de cultura, de arte. Comumente não vemos no campo acadêmico essa humanidade. Ela ajuda os amigos, os animais, as plantas. Lembro-me de Nise da Silveira, que inseriu gatos e cachorros na função de coterapeutas no tratamento da esquizofrenia, no Engenho de Dentro, Rio de Janeiro. Cheguei a presentear Teresa com o livro Gatos, a emoção de lidar, de autoria de Nise da Silveira. Conhecemos essas particularidades de Teresa no dia a dia. Quem a conheceu na universidade fala de uma mulher formal, mas, para os amigos, é outra Teresa. Estivemos com Teresa nas quatro estações do ano. No inverno, a forma de ser de Teresa é completamente diferente da Teresa do verão. No verão, é uma mulher completamente solta, se desloca rápido, tem outra alegria.

Iran: Conhecer a trajetória de vida de alguém é importante para se entender melhor sua trajetória intelectual. Não se conhece alguém apenas pela leitura da obra, porque a vida não aparece. O que aparece dela na obra é a sensibilidade, o lado humano, mas, sem conhecê-la na intimidade, é difícil compreender a preparação que a levou a desenvolver a sua matriz epistemológica de trabalho. Não dá para entender como a criatividade de uma pessoa surge, porque existe um momento de preparação. Existe uma base constituída, desde muito cedo, Teresa Vergani foi uma miúda curiosa. É bem preparada em todos os sentidos, bem-formada, bem-educada. Estudou bastante, frequentou bons lugares, viajou muito. Teve uma formação acadêmica intensa, de excelente qualidade: estudou línguas estrangeiras desde criança, frequentou o conservatório. Ela abraçou todo esse capital cultural. Já era do espírito dela ser daquele jeito.

Carlos: Simplicidade, sofisticação e criatividade são termos que definem Teresa Vergani. Uma mulher simplíssima, porque consegue manter uma humanidade, contudo, sofisticada e ousada nas ideias, além de criativíssima. Ela saía na rua e encontrava uma lata de cerveja; os carros já haviam passado por cima da lata várias vezes. Ela consegue ver naquela lata toda amassada um objeto de arte. Recolhe a lata, lava com ácido, escova, esfrega, limpa, agrega outros elementos e a velha lata se transforma em um pingente para um colar ou um adorno.

Iran: Chegamos um dia em sua casa e ela estava fazendo o levantamento de todas as suas obras. Pensávamos que ela faria uma exposição, mas era um catálogo de tudo o que tem em casa, tudo o que comprou e produziu, e, no meio, encontramos uma instalação feita por ela. Ela encontrou um espelho de guarda-roupa, uns pedaços de árvore e de coisas antigas, jogados no lixo, recolheu, mandou alguém levar e deixar em sua casa. Pegou o lado contrário do espelho, colocou no centro e criou uma espécie de uma mesa, com várias coisas que juntou. O detalhe do espelho é que a oxidação criou uma espécie de imagem, de um vulto, e foi essa imagem que fez com que ela retirasse o espelho do lixo e criasse uma instalação original.

Carlos: O que mais fizemos foi usar essa criatividade para que pudéssemos permanecer no planeta. É importante observar que, desde os títulos dos livros de Teresa aos seus escritos e ao seu modo de viver, há uma filosofia que atravessa tudo. Ela não separa, tudo está unido, tudo está junto, tudo vai convergindo para uma filosofia de vida pautada pela arte, pela criatividade, pela simplicidade, pela humanidade. Há essa coerência entre os seus escritos e sua forma de viver. Uma expressão de Edgar Morin[18] se amolda bem a Teresa: “a vida nas ideias e as ideias na vida”, ao contrário de diversos intelectuais que escrevem uma coisa e vivem outra, uma espécie de esquizofrenia.


Espelho. Instalação Teresa Vergani.
Acervo: Iran Abreu Mendes, 2016.

Iran: Todo o trabalho de Teresa como educadora é 100% transdisciplinar. Ela não se separa da educadora, da filósofa, da budista, da artista visual.

Carlos: Esse nomadismo das ideias de Teresa também se deve aos diversos lugares em que viveu e fez amigos, como França, Bélgica, Inglaterra, Brasil, Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e, especialmente, em Portugal. Nos dias de hoje, raramente as pessoas mantêm as amizades, elas estão interessadas nas materialidades. Teresa interessa-se pela amizade sincera. Vibra com o sucesso dos amigos. Por meio de Teresa, conhecemos pessoas admiráveis, tanto dentro quanto fora da universidade. Sempre generosa, apresentou seus amigos e, assim, ampliamos a nossa rede social vivida no mundo real. Nossos amigos são reais; não são virtuais. Esse tempo de fabricação de amigos ilusórios nas redes sociais chegou depois.

Finalizamos essa entrevista em dueto com aquilo que considero ser uma das marcas da produção das ideias de Teresa Vergani: palavras e imagens. Registramos um poema[19] escrito por ela para Iran e fotografias dos momentos em que estivemos juntos, em Portugal.

  1. Para o queridíssimo Iran,

    Sangue e voz de pé no mundo.

    Quando o fogo foi água, inventou onda.

    Quando a água foi terra, ergueu flor.

    Quando o ar foi fogo,

    Chamou vento à labareda.

    Quando nasceu Iran, cresceu o tempo.

    As trilhas da terra douraram seus passos.

    O vento levantou a seiva azul do rio,

    O cacto deu pétalas macias como frutos.

    E eu, que tive o misterioso

    dom de o conhecer.

    Bebi na sua força

    a voz do seu fazer.


Teresa Vergani, Estoril, Portugal.
Foto: Carlos Aldemir Farias, 2019.


Teresa Vergani e Iran Abreu Mendes em Portugal.
Foto: Carlos Aldemir Farias, 2019.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Maria da Conceição de. REIS, Mônica Karina Santos. Emergências de complexidade, reinvenção da universidade. Natal: EDUFRN, 2018.

ALMEIDA, Maria da Conceição de. Complexidade, saberes científicos, saberes da tradição. São Paulo: Ed. Livraria da Física, 2010 (Coleção Contextos da Ciência).

ALMEIDA, Maria da Conceição de. KNOBBE, Margarida Maria. Ciclos e metamorfoses. Uma experiência de reforma universitária. Porto Alegre: Sulina, 2003.

ALMEIDA, Maria da Conceição de. KNOBBE, Margarida Maria; ALMEIDA, Angela (Org.). Polifônicas ideias. Por uma ciência aberta. Porto Alegre: Sulina, 2003.

ALMEIDA, Maria da Conceição de et al. (Org.). Ensaios de complexidade. Porto Alegre: Sulina, 1997.

D’AMBROSIO, Ubiratan. Educação para uma sociedade em transição. Campinas, SP: Papirus, 1999.

D’AMBROSIO, Ubiratan. Educação Matemática: da teoria à prática. Campinas, SP: Papirus, 1996. (Coleção Perspectivas em Educação Matemática).

D’AMBROSIO, Ubiratan. Da realidade à ação: reflexões sobre educação (e) matemática. São Paulo: Summus, 1986.

FARIAS, Carlos Aldemir. Entrevista concedida a Louize Gabriela Silva de Souza sobre Teresa Vergani. Natal, 17 dez. 2017. Gravador de voz digital. Áudio de 2h e 2 min.

FARIAS, Carlos Aldemir (Org.). Iran Abreu Mendes: a docência como profissão. Natal: EDUFRN, 2011. p. 6-7.

FARIAS, Carlos Aldemir; MENDES, Iran Abreu. Apresentação. In: VERGANI, Teresa. A criatividade como destino: transdisciplinaridade, cultura e educação. São Paulo: Ed. Livraria da Física, 2009. p. 9-13.

GERDES, Paulus. Geometria dos trançados Bora na Amazônia peruana. São Paulo: Ed. Livraria da Física, 2010. (Coleção Contextos da Ciência).

MENDES, Iran Abreu. Entrevista concedida a Louize Gabriela Silva de Souza sobre Teresa Vergani. Natal, 17 dez. 2017. Gravador de voz digital. Áudio de 2h e 2 min.

MORIN, Edgar. Meus demônios. 5. ed. Tradução Leneide Duarte e Clarisse Meireles. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2010.

PRIGOGINE, Ilya. Ciência, razão e paixão. 2. ed. (Org. Maria da Conceição de Almeida e Edgard de Assis Carvalho). São Paulo: Ed. Livraria da Física, 2009. (Col. Contextos da Ciência).

SHELDRAKE, Rupert. Ciência sem dogmas: a nova revolução científica e o fim do paradigma materialista. São Paulo: Cultrix, 2014.

SOUZA, Louize Gabriela Silva de. Teresa Vergani: nomadismo, insubordinação, complexidade. 2019. 197f. Tese (Doutorado em Educação) - Centro de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2019.

VERGANI, Teresa. A criatividade como destino: transdisciplinaridade, cultura e educação. (Org. Carlos Aldemir Farias, Iran Abreu Mendes, Maria da Conceição de Almeida). São Paulo: Ed. Livraria da Física, 2009 (Coleção Contextos da Ciência).

VERGANI, Teresa. A surpresa do mundo. Ensaios sobre cognição, cultura e educação (Org. Iran Abreu Mendes e Carlos Aldemir Farias da Silva). Natal: Flecha do Tempo, 2003.

VERGANI, Teresa. Educação Etnomatemática: o que é? Lisboa: Pandora, 2000.

VERGANI, Teresa. Apontamentos sobre o sol e os seus símbolos. Faro: Centro Ciência Viva do Algarve, 1997.

VERGANI, Teresa. Excrementos do sol. A propósito de diversidades culturais. Lisboa: Pandora, 1995 (Olhos do Tempo).

VERGANI, Teresa. A palavra e a pedra. Lisboa: Universidade Aberta, 1993.

VERGANI, Teresa. O zero e os infinitos: uma experiência de antropologia cognitiva e educação matemática intercultural. Lisboa: Minerva, 1991.

Notas

[1] Entrevista concedida pelos professores Iran Abreu Mendes e Carlos Aldemir Farias em 17 de dezembro de 2017, em Natal, Rio Grande do Norte. A mesma integrou a minha tese de doutoramento em Educação, defendida em fevereiro de 2019 no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFRN. Aqui, aparece editada e com fotografias inéditas.
[3] A tese de doutoramento de Teresa Vergani intitula-se “Analyse numerique des ideogrammes Tshokwe de L’Angola: expressions symboliques du nombre dans une culture traditionnelle africaine”.
[4] FARIAS; MENDES, 2009.
[5] SHELDRAKE, 2014.
[6] O evento foi realizado entre os dias 7 a 12 de fevereiro de 2000 no Departamento de Matemática da referida universidade. Naquele ano foi comemorado o “Ano Mundial da Matemática” e os “500 anos de relações Portugal-Brasil”.
[7] ALMEIDA et al, 1997.
[8] Na verdade, faz mais de vinte anos. Essa afirmação foi feita em 2017.
[9] A primeira edição deste livro foi lançada no ano 2000 pela editora Pandora. No ano de 2007, foi impressa a segunda edição brasileira pela Editora Flecha do Tempo, editada por mim e Carlos (nota dos entrevistados).
[10] Publicado no livro Ciclos e metamorfoses (ALMEIDA; KNOBBE, 2003).
[11] O projeto Polifônicas ideias foi uma ação de extensão realizada no período de junho de 2000 a junho de 2003, por meio da publicação semanal de artigos no Caderno Viver do jornal Tribuna do Norte, da cidade de Natal, sob a coordenação do GRECOM (ALMEIDA; REIS, 2018).
[12] A história desse grupo de pesquisa encontra-se nos livros Ciclos e metamorfoses: uma experiência de reforma universitária (ALMEIDA; KNOBBE, 2003) e Emergências de complexidade, reinvenção da universidade (ALMEIDA; REIS, 2018).
[13] Tese intitulada “Pensamento racional e pensamento simbólico: uma matriz uni-dual de cognição transdisciplinar e holística”.
[14] Ver o livro Complexidade, saberes científicos, saberes da tradição (ALMEIDA, 2010).
[15] Paulus Gerdes (1953-2014) foi um matemático e pesquisador holandês que viveu na África durante muitos anos, especialmente em Moçambique.
[16] O professor Iran Abreu Mendes refere-se a tese doutoral da entrevistadora, que naquele momento encontrava-se em elaboração. Atualmente disponível para download no Repositório Institucional UFRN. SOUZA, Louize Gabriela Silva de. Teresa Vergani: nomadismo, insubordinação, complexidade. 2019.
[17] PRIGOGINE, 2009.
[18] MORIN, 2010.
[19] Publicado no livro intitulado Iran Abreu Mendes: a docência como profissão (FARIAS, 2011, p. 6-7).

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