Recepção: 17 Maio 2023
Aprovação: 28 Maio 2023
Resumo:
As entrevistas que ora apresentamos são resultado de uma parceria da Revista Espinhaço com o projeto de pesquisa “Memórias e trajetória histórica da Faculdade Interdisciplinar em Humanidades (FIH), 2008-2018”[1]. O projeto foi uma demanda da congregação da FIH e reúne docentes, discentes e técnicos administrativos da FIH. Tem como propósito refletir sobre a história da unidade acadêmica e suas memórias, referentes ao período do planejamento para funcionamento do Bacharelado em Humanidades (BHU), em 2008, passando por 2009, quando o curso foi implantado, indo até 2018, quando a maioria dos projetos pedagógicos foi reformulada, mudando, assim, a configuração pedagógica da unidade.
Entrevistamos os docentes e as docentes que estiveram à frente das coordenações dos cursos da FIH, quando eles estavam sendo implantados. Foram ouvidos docentes de sete cursos de graduação: Licenciatura em Educação do Campo, em Geografia, em História, em Letras, em Pedagogia; os Bacharelados em Humanidades, e em Turismo. Em alguns casos (cursos de Letras e História), mais de um docente atendeu à nossa chamada, por isso, as respostas couberam a mais de um integrante do curso. As entrevistas foram gravadas no primeiro semestre de 2023, e, com poucas exceções, o texto é resultado das falas transcritas desses entrevistados. O roteiro foi elaborado para que cada um deles pudesse relatar os desafios que enfrentaram na implantação dos seus cursos. As respostas são fruto de um esforço pessoal, que trazem dados e
reflexões a partir de um trabalho de rememoração.
Importante salientar que os relatos dessas transcrições não representam um registro histórico pronto, acabado ou totalizador das memórias da nossa faculdade e, por vezes, se afastam das precisões documentadas em atas ou guardadas em arquivos institucionais. Ao contrário, o que aqui se apresenta são pontos de vista muitas vezes subjetivos, trajetórias pessoais e coletivas de professores e professoras que assumiram o centro desses processos, na tentativa de recuperar – e também apontar o que tem sido – a trajetória histórica da FIH.
O projeto
foi aprovado no EDITAL CICT 005/2022 - PIBIC/FAPEMIG,
PRPPG-UFVJM. Está registrado sob o número: 7252022. A equipe de pesquisa
é composta por Rogério Pereira de Arruda (coordenador), Alan Farber do
Nascimento (vice-coordenador); pelos/as pesquisadores/as Ana Cristina Pereira
Lage, Antônia Javiera Cabrera Munoz, Douglas Sathler dos Reis, Elayne de Moura
Braga, Fernanda Valim Côrtes Miguel, Flávia Aparecida Amaral, Guilherme Fortes
Drummod Chicarino Varajão, Hejaine de Oliveira Fonseca, Luciana Lopes dos
Santos, Luiz Otávio Costa Marques, Maria Cláudia Almeida Orlando Magnani, Maria
de Lourdes Santos Ferreira, Meirelle Aiane Almeida Loredo, Paulo Afrânio
Sant’Anna, Teresa Cristina de Souza Cardoso Vale, Thamar Kalil de Campos Rolla
Miranda; pelos/as discentes Luiz Alberto Freitas de Caux (bolsista), Andressa
Mendes Carvalho, Giovania Aparecida Oliveira, Gizele
Alves de Jesus, Naiara Lopes de Souza, Nayla Rodrigues da Silva, Stephanye Natasha da Silva Nunes.
Participaram da transcrição das entrevistas os seguintes discentes da UFVJM: Ana Alice Granca da Silva
Gomes, Ana Clara Menezes Vieira, Eduarda Diana Carvalho, Gleuber Alex dos
Santos, Iago Cordeiro Godinho, José Victor de Oliveira Bisneto, Mateus de Jesus
Moreira, Paola Alcedina de Almeida, Paulo Ricardo da Silva, Pedro Otávio de
Almeida Mafra, Tatiane Keroly Miranda e Valmir Paim da Silva.
Enfim, com esta publicação, esperamos colaborar com o registro e a preservação da memória da FIH. Desejamos boa leitura a todas, todos e todes!
Palavras-chave: UFVJM, Faculdade Interdisciplinar de Humanidades (FIH), memórias.
1) Como e quando se deu o ingresso do/a entrevistado/a na UFVJM? Quando e como se iniciou o mandato de coordenador/a e quanto tempo permaneceu no cargo?
Licenciatura em Pedagogia (Profa. Elayne de Moura Braga)
Eu sou Elayne de Moura Braga. Assumi, como professora adjunta da educação, quando eu fui lotada no então Instituto em Humanidades, que hoje é a Faculdade Interdisciplinar em Humanidades (FIH). Essa lotação ocorreu em 11 de fevereiro de 2011. Logo, no mesmo ano, assumi a coordenação pró-tempore, do curso de Licenciatura em Pedagogia, em 07 de julho de 2011. Permaneci como coordenadora, até março de 2012. Foram 8 meses sendo a primeira coordenadora pró-tempore da Licenciatura em Pedagogia, para atender às necessidades da instituição.
Licenciatura em Geografia (Prof. Douglas Sathler)
Meu nome é Douglas Sathler. Eu entrei na coordenação do curso de Geografia em 2013, e permaneci por pouco mais de um ano.
Bacharelado em Turismo (Profa. Virgínia Martins Fonseca)
Meu nome é Virginia Martins Fonseca. Sou professora no curso de Turismo da UFVJM. Tenho muito orgulho de dizer isso. Minha entrada na UFVJM foi por meio do edital zero um, no qual eu fui nomeada e tomei posse em janeiro de 2007. Eu assumi a coordenação do curso de Turismo em agosto de 2009 e me mantive como coordenadora até setembro de 2011. Em março de 2022, voltei como vice-coordenadora do curso, junto com a professora Ana Flávia Andrade de Figueiredo. Quando cheguei na UFVJM, apesar da sobrecarga de trabalho em atividades docentes e administrativas, devido à recente criação da Universidade e expansão de diversos cursos, não ignoro o quanto este foi um período desafiador, mas também devo reconhecer que trouxe muitas aprendizagens, contribuindo para minha história pessoal e profissional há mais de 16 anos.
Bacharelado em Humanidades (Prof. Atanásio Mykonios)
Eu sou Atanásio Mykonios, professor, aqui da UFVJM. Eu tomei posse no dia 04 de agosto de 2009. Isso foi bem no começo do Bacharelado em Humanidades. E no dia 19 de outubro de 2009 eu sofri um acidente dentro do aeroporto de Confins. Isso ocasionou alguns problemas de ordem pessoal e em seguida eu tive que ser submetido a uma cirurgia em Diamantina, que me custou seis meses de licença. Na queda que houve dentro do aeroporto eu fraturei o colo do fêmur de ponta a ponta, e eu só tinha duas alternativas: ou eu operava aqui, ou eu operava em São Paulo. Mas eu tinha grande chance de sofrer danos irreversíveis caso eu fosse transferido para São Paulo. Então eu voltei em 2010, e já em 2010 eu me candidatei à coordenação do curso de Bacharelado em Humanidades, que era na época o maior curso que a universidade tinha no campus JK. O nosso BHu recebia 240 alunos por semestre. Quando eu cheguei, o BHU já havia sido concebido, e seu projeto pedagógico já estava em vigor. O processo eleitoral ocorreu dentro de um clima de tensão, porque eu tinha sido acusado de ser a favor do fim do BHu. Então, eu tive que fazer uma campanha bem forte junto aos alunos, porque na época os alunos também votavam para coordenação. Eu me lembro porque eu fiz campanha, e além de fazer campanha, eu fiz comícios. Era uma época que ainda era possível fazer isso. Eu fui eleito, mas no entanto, o grupo adversário, achou por bem questionar a minha eleição no Ministério Público. Eu tinha ido visitar o ministério público uma semana antes, junto com meu vice, o Professor Wellington Oliveira, que é um grande amigo, grande companheiro, grande camarada, que sempre esteve do meu lado. Apesar de nós brigarmos algumas vezes, sempre fomos muito honestos um com o outro. E foi minha primeira coordenação. Eu tomei posse sobre vários aspectos muito complicados. Nós tivemos problema com a direção, e eu tive que conduzir, pois eu era a única liderança na época. A então diretora da unidade acadêmica foi convidada a se retirar do cargo e aí eu que conduzi e liderei o processo da nova escolha, que culminou com a eleição do professor Roberto Amaral. Nesse embate, o Professor Flávio César Vieira se desligou da vice-direção e nós tivemos uma nova eleição para vice-direção. Foi aí que a Professora Elaine Braga foi eleita à vice. Eu diria que foram dois anos muito conturbados, mas também muito intensos sobre vários aspectos. Eu atuei muito no CONSU, e no CONSEPE, mas principalmente no CONSU. Eu vi, eu testemunhei o desenvolvimento da universidade.
É importante dizer, a universidade precisava entrar no REUNI e tinha planos de se transformar num polo. O modo que foi encontrado, internamente, para que a universidade aderisse ao REUNI foi, evidentemente, criando dois grandes cursos, que abarcassem um número grande de professores e estudantes, a fim de alcançarem os índices que eram exigidos pelo MEC, para que fossem cumpridas as demandas do REUNI: 18 alunos por professores e 15 alunos por TA. E com a implantação desses dois grandes bacharelados, que tinham como propósito o engate com cursos sequenciais de segundo ciclo, é que a universidade pôde obter os recursos necessários para sua ampliação e construção dos dois campi.
Licenciatura em História (Profa. Mônica Liz Miranda)
Minha origem se dá por meio de famílias italianas pobres, do final do século XIX. Nossa chegada e consolidação na capital mineira, Belo Horizonte, se deu pela figura do meu tetravô, ao ficar sabendo da construção da cidade. Desta forma, minha formação é estritamente urbana. Tenho uma relação muito forte com a cidade de Belo Horizonte, ainda mais pelo fato da minha família toda estar por lá, sobrando apenas a minha pessoa de fora.
A minha entrada na UFVJM ocorreu com o concurso do ano de 2006, no mês de junho, efetivando minha nomeação e ocupação do cargo apenas em dezembro do mesmo ano. O processo de nomeação do cargo se deu de maneira tardia, pois houve recursos e burocracias advindas do próprio concurso, havia necessidade de tempo para que o mesmo se desse de maneira democrática e legítima. A princípio, meu ingresso se deu pelo curso de Turismo, sendo que ainda não havia a estrutura de uma Faculdade Interdisciplinar em Humanidade (FIH), constituindo-se posteriormente de maneira peculiar até. A implantação da FIH contou integralmente com a minha participação. Pode-se correlacionar o início da FIH junto ao curso de Turismo. O então curso de Turismo contava, em sua estrutura curricular, com apenas uma professora que de fato tinha o título de turismóloga, sendo os demais, eu, Marcelino Morais, Maria Cláudia Margnani e Lourdes Ferreira de outras áreas. Por volta dos anos de 2008 e 2009, a FAFIDIA, a qual pertencia a UEMG, enfrenta em sua conjuntura uma certa crise envolvendo os cursos de Licenciatura, culminado assim na promulgação e implementação de construir uma faculdade em Ciências Humanas na UFVJM, o que posteriormente efetivou-se como a Faculdade Interdisciplinar em Humanidades.
Atuei no curso de História nos períodos de 2011 a 2014, compondo a primeira chapa deste curso junto à professora Elaine Sodré. Ocupei a função de vice-coordenadora na oportunidade. Ressalto que o processo de implementação da FIH se dá por meio do curso de Turismo. No referido período, encontrava-se na figura de historiadora na UFVJM apenas a minha pessoa. Posteriormente, há o ingresso do Professor Fernando Afonso Ferreira Junior junto ao quadro docente do curso. Mais tarde, por volta de 2009, há outro movimento que agrega mais outro profissional de história ao curso, com a chegada do professor Wellington de Oliveira. Este grupo foi responsável pela implementação do curso de História na referida instituição.
Licenciatura em História (Prof. Rogério Pereira de Arruda)
Meu nome é Rogério Arruda, ingressei na UFVJM, Campus Diamantina, em agosto de 2012. Inicialmente, ministrei aulas somente no Bacharelado em Humanidades (BHU), após uns dois anos, comecei a dar aulas na Licenciatura em História. Na época, as professoras Elaine Sodré e Mônica Liz estavam à frente da coordenação do curso de História. Junto com o professor Wellington Oliveira, nós éramos os primeiros professores efetivos. No final de 2012 e ao longo de 2013, colaborei com o processo de seleção dos demais docentes efetivos do curso. Fui vice-coordenador entre 2014 e 2015, e coordenador em 2016.
Licenciatura em Letras (Profa. Juliana Leal)
Fui aprovada no concurso da UFVJM em 2009. E em janeiro de 2010, eu fui nomeada e iniciei na carreira docente na instituição. No ano de 2011, eu comecei a atuar como coordenadora. Fogem-me da memória as circunstâncias. Entretanto, posso dizer que foi por escolha de um pequeno grupo de professores que compunham a mesa docente do curso de Letras. O curso de Letras até então não existia, nós éramos docentes vinculados ao BHU, cuja formação estava relacionada à área de letras. Éramos aproximadamente seis docentes, se não me engano: Fernanda Valim, Conceição Bento, o professor Luiz Otávio Marques, Cristiano Otaviano Verutti e o professor Ricardo Sobreira. Então, assumi como coordenadora naquele momento, entre os anos de 2011 e 2012. Eu fiquei aproximadamente mais de 01 ano e meio. Por alguns motivos, infelizmente, eu não concluí meu mandato. Não existiu uma eleição, até porque ainda não existia um corpo docente, e não tínhamos ainda um conjunto de regras formadas. Éramos duas, eu como coordenadora e a professora Fernanda Valim como vice, e recordo-me que conduzimos até um certo período de 2012.
Licenciatura em Letras (Fernanda Valim Côrtes Miguel)
Sou uma paulista, de Campinas, que chegou às terras mineiras ainda muito jovem, sem conhecer Diamantina propriamente, já que vim para a cidade pela primeira vez justamente para a seleção do concurso público. A decisão sobre minha vinda para a UFVJM passou, decisivamente, pela existência da proposta inicial do curso do Bacharelado Insterdisciplinar em Humanidades (BHu), da qual fui uma entusiasta. Reconheci naquela proposta algo bastante inovador, que carregava um potencial de transformação social e de formação crítica para os moradores da cidade e das comunidades locais e regionais. A proposta de insterdisciplinaridade também dizia muito da minha própria trajetória de formação, que passou do jornalismo para a Letras, do estudo da crítica de cinema para as teorias literárias e culturais, com um estusiasmo enorme pela arte, pela literatura e pelo ensino humanístico, que, historicamente, sempre foi colocados em oposição ao ensino utilitário, reservado aos trabalhadores no Brasil. O BHu era um curso noturno, que recebia esses trabalhadores que nunca sonharam com o direito de acesso ao ensino superior e à universidade pública. Isso foi uma realidade e continua sendo. Tomei posse em agosto de 2009, junto com o professor Atanásio Mykonios, com que dividi muitas risadas, muitas inquietações e minhas primeiras experiência docentes na UFVJM e no BHu. Naquela época, o reitor da universidade era o professor Pedro Ângelo Abreu e a adesão aos pactos do REUNI na UFVJM foi incentivada pelo primeiro governo Lula. A instituição recebeu muito dinheiro em função disso, pertencendo a um plano mais abrangente de expansão das universidades públicas e de acesso social em uma região mais ao norte do estado de Minas Gerais, que só possuía uma universidade pública Estadual, até então, a UNIMONTES, em Montes Claros. Logo em seguida, já entramos em exercício para dar aulas para uma numerosa turma do antigo Bacharelado em Humanidades (BHu), em sistema de rotatividade. Na minha memória, que pode me trair, tratava-se da primeira turma do curso, que já estava finalizando seu primeiro ou segundo semestre, mas ainda não possuía professor de Oficina de leitura e escrita e de Filosofia. As primeiras aulas para esta turma de 240 alunos aconteceram no prédio do campus I, na Rua da Glória, em uma sala igualmente grande, microfone e muito calor humano. Uma turma muito marcante para mim, com muitos alunos da cidade que ainda encontro hoje e que me ajudaram muito também na minha familiarização local, criando laços de afeto. Ainda não existiam nossas salas, prédios e a FIH, no campus JK, da maneira como conhecemos hoje. Fui recepcionada na cidade e na instituição por três professores que foram pioneiros da proposta do BHu ou pelo menos os primeiros professoros que o curso teve: Danielle Piuzana (da Geografia), José Damiro Moraes (da Educação) e Wellington de Oliveira (da História). Daquela época, além dos professores já citados, posso me lembrar de outros mais e da turma bastante pioneira de humanidades que formávamos naquele contexto: Paulo Afrânio (da Psicologia), André Borges (da Antropologia), Marcelo Fagundes (da Arqueologia), Marcelino Morais (da Geografia), Carla Laino (da Psicologia), Cristiano Otaviano (da Letras), Juliana Leal (do Espanhol), Luiz Otávio Marques (do Inglês), Teresa Vale (da Política), entre outros mais. Atuei no curso do BHu até o seu desmembramento dos cursos de Licentuatura, que fizeram parte de um projeto também já existente, que também ajudamos a construir. Naquele momento inicial, o BHu funcionava como a porta de entrada para as Humanidades na UFVJM, sendo possível transitar, após 2 anos, para outras formações, a saber, 5 licencituras e um Bacharelado em Turismo. Desses 5 cursos de Licenciaturas, dois deles eram em Letras: Letras Português/Espanhol e Letras Português/Inglês. Na última reformulação do PPC desses cursos, conseguimos unificá-los em um curso de Letras, com dupla habilitação. Assumi pela primeira vez a coordenação do curso de Letras/Espanhol em 2011, na condição de vice pró tempore da professora Juliana Leal. Naquela ocasião, permanecemos no cargo por uns dois anos, até que conseguíssemos realizar os primeiros concursos na área, recepcionar os primeiros professores e fazer uma primeira eleição. Naquele momento, não recebíamos função gratificada para o cargo e éramos as primeiras professoras do curso, o que nos obrigava a assumir tais funções. Depois voltei a assumir a vice-coordenação junto com a professora Pâmella Pereira, desta vez através de um processo mais consciente e validado por eleição. Cheguei a assumir o cargo por uma terceira vez, durante 4 anos, desta vez na condição de coordenadora do curso de Letras Português/Espanhol, tendo como vice o professor Pedro Perini. Todas elas foram antes do curso de unir em um só.
Licenciatura em Letras (Prof. Luiz Otávio Costa Marques)
Ingressei na UFVJM no ano de 2009. Fui lotado no instituto de Humanidades, que hoje chamamos de FIH. Lecionava a disciplina de inglês, no Bacharelado em Humanidades. Quando foi instituído o curso de letras/inglês, eu passei a lecionar neste curso. Atuei como professor neste curso até agosto de 2013. Não cheguei a trabalhar como coordenador do curso. Entretanto, fiz parte da equipe que elaborou o primeiro projeto pedagógico e fui membro do colegiado e de comissões para elaboração de concursos de docentes do curso.
Licenciatura em Educação no Campo (Prof. Paulo Afrânio Sant´Anna)
Ingressei na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri em 2009, junto de outros nove professores, para constituirmos o curso de Bacharelado em Humanidades. Na sequência, fui indicado como coordenador pró-tempore deste curso e ocupei o cargo durante três meses. Após esse período, foram abertas as primeiras eleições do curso que pertencia ao Instituto de Humanidades. Os cargos ocupados de diretoria e coordenação também eram pró-tempores. A partir disso, fui eleito diretor do dito Instituto e permaneci por seis meses.
Depois desse período, fui convidado pelo reitor da época, professor Pedro Ângelo, para coordenar um projeto que havia na universidade, denominado Procampo. Este era um projeto de extensão e ao mesmo tempo, um curso de graduação que fazia parte de um conjunto de ações do Ministério da Educação para criação das Licenciaturas em Educação do Campo. Primeiramente, três universidades federais foram contempladas com o Procampo, que criaram a base para a organização dessas Licenciaturas. Posteriormente, houve um segundo edital em 2010 ou 2009 e neste fomos contemplados. Já no segundo ano de vigência deste projeto, assumi a coordenação que era ocupada anteriormente pelo professor Leonardo Neves, do curso de Pedagogia.
Assumi a coordenação do Procampo, que apesar de também ser um curso de graduação, não era institucionalizado, mas sim viabilizado pelo projeto. Em 2012, o MEC lançou um novo edital (02/2012) contemplando cinquenta projetos para a institucionalização desses cursos que eram experimentais e viabilizados pelo Procampo, que a partir de então seriam cursos regulares, institucionalizados. Portanto, concorremos e fomos contemplados com a Licenciatura em Educação do Campo, curso que se tornou regular em 2013 e significou a abertura de 15 vagas para professores, duas vagas para Técnico Administrativo e uma vaga de TE. Nesse período, a LEC e o EAD foram cursos lotados na Reitoria, coisa que não existia antes.
Em 2013, ou 2014, foi proposto à Faculdade Interdisciplinar em Humanidades que a LEC fosse alocada ali. Isso gerou uma discussão intensa na época porque a LEC é um curso que traz uma série de peculiaridades e que demanda uma estrutura gerencial e administrativa bastante complexa. Houve, no entanto, um acordo com a Congregação e passamos a integrar esta Unidade Acadêmica.
2) Quais foram os desafios enfrentados para a implantação do curso? Temas explorados: Projeto pedagógico do curso, infraestrutura, composição do corpo docente, formação do grupo de técnicos, avaliação do MEC.
Licenciatura em Pedagogia (Profa. Elayne de Moura Braga)
Foram vários desafios. Para começar, a universidade está no interior de Minas Gerais e estamos atendendo os Vales do Jequitinhonha e o Mucuri. A faculdade ingressou no projeto REUNI, projeto muito importante para educação brasileira, que possibilitou o acesso de alunos do interior do Brasil ao ensino superior. E também o desafio de elaborar um projeto pedagógico de uma licenciatura vinculada a um bacharelado. Isso foi um grande desafio, pois os professores, que estavam construindo esse projeto, não tinham uma vivência com essa estrutura. Além da elaboração desse projeto, de uma certa forma complexa, o próprio Bacharelado em Humanidades (BHU), que era a base para as Licenciaturas, também estava sendo reestruturado.. A partir de então, ele passaria a ter três eixos: um eixo de base, um eixo de base complementar e um eixo de área de concentração, sendo essa área de concentração com uma grande intercessão com as Licenciaturas.
Esse vínculo, do próprio acesso dos discentes no curso de Licenciatura, e a carga horária, com as disciplinas do curso de Licenciatura completando esses eixos do BHU, exigiram muito diálogo e união entre os professores de todos os cursos da faculdade. Foram várias reuniões, foram vários pareceres da Prograd. As adaptações que tivemos que fazer, para que esses cursos fossem reconhecidos, fossem aprovados e consolidados. Sem essa união dos professores, teria sido mais difícil. Quanto à infraestrutura, o prédio que nós chamamos de prédio administrativo foi entregue à FIH (Faculdade Interdisciplinar em Humanidades) em março de 2012, logo no início dos cursos de Licenciatura. Até então, nós tínhamos uma sala administrativa e uma sala para reuniões para todos esses cursos que estavam sendo construídos, além do Bacharelado, do curso de Turismo e da direção da faculdade.
O corpo docente, que elaborou o projeto pedagógico da Licenciatura em Pedagogia era composto por 7 professores. Um grupo de professores que se tornaram o corpo docente do curso. Eram 7 professores efetivos e três professores temporários. Então, nós, os dez professores, elaboramos esse projeto pedagógico do curso, que se iniciou em 2012. Quanto aos técnicos, nós tínhamos 3 técnicos administrativos para atender às cinco Licenciaturas que estavam se iniciando, o Bacharelado em Humanidades, o Bacharelado em Turismo e a direção da Faculdade, era realmente pouco. Quanto à avaliação do MEC, a visita ocorreu no final de maio de 2013, e nós recebemos o conceito 4. Esse conceito foi muito importante, como um feedback muito interessante para o curso, claro que os pontos que eles destacaram serviram como fonte para nossos trabalhos em seguida. Mas essa nota, esse feedback, nos deixou com uma certeza, que estávamos em um bom caminho.
Licenciatura em Geografia (Prof. Douglas Sathler)
Eu entrei na universidade muito jovem. Com 28 anos de idade eu já era doutor e professor da UFVJM. Eu tive uma experiência anterior como pesquisador na Fundação João Pinheiro, mas nunca tinha trabalhado com ensino, diretamente, em nenhum curso de Licenciatura. Então, também não havia assumido nenhuma função de coordenação até topar esse desafio. O desafio foi imenso porque eu liderei a construção do projeto pedagógico do curso. O coordenador na nossa instituição também é chefe de departamento. Então, a gente fica a cargo das funções administrativas e não apenas pedagógicas.
O projeto pedagógico do curso foi construído a várias mãos. De uma forma geral, nós tivemos muita dificuldade porque era algo novo para mim e para outros docentes também essa experiência. Mas a gente fez o melhor que pôde naquele momento.
O primeiro projeto pedagógico ficou longe de ser um projeto ideal. A gente hoje reconhece que tiveram muitas falhas do ponto de vista das questões mais pertinentes da pedagogia e do ensino de geografia. O projeto trazia uma matriz curricular interessante, mas a gente não conseguiu inovar. A gente, de certa forma, reproduziu parte do que tínhamos vivenciando na nossa universidade, quando estudantes. No entanto, o projeto mais recente do curso de geografia é muito bom. Nele, corrigimos boa parte dos problemas que a gente identificou no primeiro projeto do curso. Mas isso é um processo. É uma questão de consolidação. Então, num primeiro momento, reconhecemos que houve algumas falhas. Mas, atualmente, temos um projeto muito mais consolidado na geografia.
Quando o curso começou, nós não tínhamos o prédio da FIH, com os gabinetes. E quando a gente teve acesso ao prédio, ainda ficamos um bom tempo sem internet. Então, realmente, a estrutura pecava bastante. As primeiras turmas que entraram não tiveram acesso, de imediato, ao pavilhão de aulas. A biblioteca ainda não estava pronta. A gente ainda estava montando o nosso acervo. Ao mesmo tempo construíamos o projeto pedagógico da Licenciatura em Geografia.
A gente tinha que dar conta da estruturação inteira do curso e foi um grande desafio. A gente conseguiu, naquele momento, fazer a compra de um volume adequado de exemplares de livros para formação da biblioteca. A gente teve recurso para isso. Os professores de geografia ganharam seus gabinetes. Nós temos o laboratório de geografia dentro da FIH. A Faculdade também dispõe de laboratório de informática. Mas apenas com a construção do CEGEO, que era um espaço aberto a todos os cursos que dialogam com as geociências, a Geografia conseguiu expandir o número de laboratórios. Hoje, temos vários laboratórios no CEGEO, incluindo o laboratório que eu coordeno, que é o Laboratório de Estudos Urbanos e Regionais (LAUR). Então, hoje, a infraestrutura já é bem melhor do que foi. As primeiras turmas não tiveram uma infraestrutura tão adequada.
O corpo docente da Geografia é muito bom. Eu considero que é um corpo docente bem acima da média de muitas universidades. É um corpo docente muito preparado, muito competente. Na época dos concursos, havia bastante disponibilidade de vagas em universidades no Brasil. Então, geralmente, vinham três, quatro, duas pessoas tentar os concursos. Mas a gente conseguiu, mesmo com uma procura relativamente baixa em relação a algumas vagas, preenchê-las da melhor forma possível, com docentes muito qualificados. Então, hoje, o ponto forte do nosso curso, com certeza, é o corpo docente, que abraçou o projeto da Licenciatura, que evoluiu do ponto de vista de aprendizado, de formação em relação à Licenciatura, e que hoje, com certeza, é muito mais preparado do que foi há dez anos para lidar com os desafios de um curso de Licenciatura.
Nós temos também os nossos técnicos, com destaque para o Elvis, que é técnico em geografia. Ele é um técnico muito competente, muito esforçado, uma pessoa muito tranquila e tem ajudado bastante o curso. No entanto, a gente tem carência de técnicos. O ideal seria aumentar esse quantitativo para dar suporte ao curso.
Os cursos novos, de fato, foram criados com menor disponibilidade de técnicos administrativos. Se a gente tivesse mais técnicos para apoiar laboratórios e apoiar as atividades de Geografia, com certeza, seria um ganho extraordinário para o curso.
Em relação à avaliação do MEC, ela aconteceu no momento em que ainda faltava muita coisa para organizar. Então, a gente acha que poderia ter tido uma nota muito melhor, se estivéssemos um pouco mais preparados para essa avaliação do MEC. Era uma coisa nova para todo mundo. Ninguém tinha muita ideia do que viria pela frente, do que seria mais valorizado. Ela aconteceu num momento muito conturbado do ponto de vista da quantidade de coisas e tarefas que a gente estava fazendo. E, com certeza, se o MEC viesse hoje avaliar o curso novamente, ele o encontraria muito mais organizado e com muitas coisas já funcionando perfeitamente, de uma forma mais adequada.
Bacharelado em Turismo (Profa. Virgínia Martins Fonseca)
Bom, quanto aos desafios enfrentados para a implantação do curso...? Por mais que a Faculdade de Odontologia e, posteriormente, as Faculdades Integradas (nomeações anteriores à UFVJM) já contassem com um contexto histórico, existia um coletivo relativamente pequeno de docentes. Então, a gente tinha uma sobrecarga muito grande de representação administrativa no CONSU, no CONSEPE, no COEXC, na CPPD, dentre outros. Portanto, basicamente, eu, como alguns outros docentes, erámos representantes em várias comissões e conselhos, além de termos que dar conta da adequação e da implantação do curso. Num primeiro momento, o curso de Turismo era lotado na FACESA, ou Faculdade de Ciências Exatas e Sociais Aplicadas, juntamente com os cursos de Química e de Sistemas de Informação. Então, estes cursos realmente não tinham uma aderência. E aí, era um coletivo de docentes muito diverso. Em torno de seis docentes para cada um desses cursos. Então, praticamente, todo mundo estava em tudo (comissões, conselhos e cargos). Eu estava no CONSEPE, na CPPD e no COEXC. Tinha também o colegiado de curso e a congregação. Logo, isso sobrecarregava sobremaneira a nossa atuação na UFVJM. Ainda, não havia normativas regimentais consolidadas em todas essas instâncias, e era um trabalho muito árduo, tanto dentro dos cursos quanto na representação da FACESA nessas instâncias, sobretudo, devido a necessidade de elaboração e concepção de todos esses regimentos. Então, esses eram os desafios que a gente não pode perder de vista nesse período de criação propriamente dita da UFVJM. Isso, de alguma maneira, reverberava na implantação do curso de Turismo, de uma maneira geral. Em relação à estrutura disponível, quando nós chegamos, a gente tinha uma sala de apoio docente no Campus I, para todos os docentes. Era uma sala que não tinha nem dez computadores. No Campus JK, basicamente, tinha o que a gente chamava de “galinheiro”, que eram três estruturas físicas, tínhamos dificuldade com a iluminação, com as vias de acesso e também a precariedade na oferta de transporte coletivo. Realmente, a infraestrutura era mínima. Se a universidade não tinha estrutura, o que falar da infraestrutura específica do curso de Turismo? O curso de Turismo nasceu, principalmente, de uma demanda da comunidade, diante da especificidade de Diamantina e do potencial econômico dessa atividade. E isso contribuir para que, diante de uma parceria junto à Pró-reitoria de Extensão e Cultura (PROEXC), fosse implantado o Núcleo de Estudos em Turismo, logo, em meados de 2008, na Rua do Amparo, no centro de Diamantina.
As nossas atividades administrativas, no âmbito do curso, eram variadas: assembleias docentes, reuniões do colegiado, desenvolvimento de projetos de extensão, entre outras. Demoramos para ter a composição completa do corpo docente, pois foi apenas em meados de 2012 que passamos a contar com os 15 docentes previstos para o curso desde sua concepção em 2005. Precisávamos de acadêmicos que tivessem um perfil alinhado às especificidades do curso e que dessem conta de enfrentar todos estes desafios. Assim mesmo, sabíamos que teríamos a avaliação do MEC em 2011. Foi bastante desafiador, mas nós conseguimos um ótimo resultado, diante de todo o trabalho que esse coletivo buscou promover nesse período. A avaliação do MEC, inclusive, coincidiu com o evento latino-americano que nós estávamos realizando, e isso foi muito positivo, mesmo que tenha sobrecarregado todo o grupo de maneira considerável. Em relação ao projeto pedagógico, fizemos uma revisão complexa, considerando a concepção do projeto do BHU, e diante da adesão da UFVJM ao REUNI, em que nosso curso estava integrado a esta formação de base. No entanto, não demorou para o curso de Turismo entender que, sua adesão ao BHU não era apropriada, inclusive porque éramos o único bacharelado posterior a integralização do BHU. Assim mesmo, a partir de 2010, concebemos dois PPC juntos, um para atender a demanda daqueles que concluíram o BHU e teriam interesse no título de bacharel em Turismo 18 meses depois, e outro PPC para retomar o ingresso direto no curso de turismo.
Bacharelado em Humanidades (Prof. Atanásio Mykonios)
Quanto à segunda parte, alguns aspectos que eu considero importantes são: primeiro, o gigantismo do curso. Nós éramos poucos professores e a entrada de 240 estudantes por semestre nos obrigava a termos turmas gigantescas. Cada um de nós, no começo do curso do BHU, tínhamos 2 turmas de 120 alunos. Isso, do ponto de vista do trabalho docente, foi um desastre, penso eu, porque dificilmente a gente conseguiria desenvolver qualquer conteúdo de forma mais consistente e consolidada. Esse é um ponto que eu considero relevante: a infraestrutura. Como o curso começou e o Campus JK não estava pronto, lembro-me bem de que um dos primeiros prédios a serem inaugurados foi o Pavilhão I. Aos poucos, nós fomos indo lá para cima em condições ainda um tanto quanto difíceis.
Nós não tínhamos ainda uma noção clara daquilo que estava no projeto pedagógico. Quando o curso avançava nos seus períodos, o PPP então previa que depois do quarto período, porque são 6 períodos, mas, nos dois últimos períodos, o curso se abria de forma a acolher disciplinas específicas para cada área do conhecimento. Então, era a partir daí que o estudante escolhia para que área de concentração ele iria: História, Geografia, Letras, Pedagogia ou Turismo. Mas, quando chegou nisso, eu lendo o PPP eu questionei a Pró-Reitoria, e questionei também aqueles que tinham elaborado o projeto. Parece que eles não haviam entendido a proporção e o fato de que nós não tínhamos professores já em condições de atuarem nas áreas de concentração. Então, foram as primeiras reuniões que nós tivemos, juntos com aqueles que estavam já no curso para delinear o nosso PPP. Mas antes, nós tínhamos que resolver um problema, porque o curso, quando chegava ao final dos quatro períodos, ele virava uma couve-flor. E prevendo a situação de um possível colapso, nós começamos a agir. Foi quando eu propus uma mudança no PPP, que pudesse minimizar os dois grandes problemas que a gente tinha na época. Uma proposta de PPP que pudesse diluir os estudantes nas turmas, dando condições para que os docentes lecionassem com menos alunos em sala de aula. Isso é um pacto que me moveu. O outro era o fato de que a gente tinha que começar a organizar os PPP.
Agora dois grandes problemas que nós enfrentamos desde o começo foram os seguintes: em primeiro lugar, não tínhamos clareza do que era, ou é, um curso interdisciplinar. Essa questão de interdisciplinaridade não foi entendida por nós. Um segundo problema, que se encaixa além desses outros que falei agora, é o fato de que boa parte dos professores que chegaram para serem incluídos em um PPP como um todo, do BHU, não tinha clareza sobre isso e começou a haver uma dificuldade. Eu inclusive, numas das conversas que eu tive com os professores, eu disse: o BHU iria viver um desequilíbrio, porque os professores que chegaram com formação específicas não estavam interessados no BHU, como um todo, mas, especificamente nos seus curso de origem: História, Geografia, Pedagogia e Letras.
Enfim, nesse processo, o curso de Turismo pediu para sair do projeto do BHU. Ficaram só o BHU e as Licenciaturas. Então, começa a haver um desequilíbrio, porque os professores chegavam e havia muito pouco interesse, e também havia pouco conhecimento da prática interdisciplinar. Outro fator que eu também considero importante é que a universidade surgiu e foi criada, formada, a partir de cursos tradicionais, tanto o BHU quanto o BCT. Mas o BHU se tornou uma ilha cercada de cursos tradicionais. Então, o projeto interdisciplinar não foi exatamente algo de adesão da universidade como um projeto institucional, e isso causou muitas dificuldades porque do ponto de vista da gestão institucional, apenas a defesa do BHU e do BCT como parte estruturante dos acordos que foram realizados e do pacto que ocorreu entre a universidade, e o Ministério da Educação, em função da adesão ao REUNI, não foi suficiente, e a ideia da interdisciplinaridade não foi absorvida pela universidade como um todo. Então, eu acho que isso foi um grande problema que culminou com o fim de uma experiência que, por outros motivos que eu vou falar um pouco mais a frente, resultou num fracasso dessa experiência interdisciplinar. Nós não conseguimos refletir sobre a interdisciplinaridade. Se bem que tentamos, mas não foi suficiente para nós podermos entender a profundidade e a importância da interdisciplinaridade, exatamente, em um ambiente, um contexto que parecia desfavorável.
Quando o MEC chegou, na verdade, o que ocorreu foi o seguinte: havia já em 2011 a 2012, quando nós estávamos em um processo de elaboração dos Projetos Político Pedagógicos das Licenciaturas, e também da revisão do PPP, do BHU, muitas dificuldades, porque um grupo de docentes já atuava quase que abertamente nos corredores da pró-reitoria com a intenção de acabar com o BHU. A ideia era reduzir apenas as formações gerais, que o BHU dava nos primeiros períodos. Queriam que isso fosse reduzido à base de todas as Licenciaturas, e então operam esse grupo que eu prefiro não descrever os nomes, inclusive pessoas muito próximas a mim, atuavam com o objetivo de que o BHU acabasse. Como o processo caminhou no sentido da elaboração dos PPP e das Licenciaturas, nós então fizemos toda uma mobilização com o objetivo de aprovar a mudança do PPP do BHU, que ocorreu em 2012. Mas esse grupo estava com a intenção de que quando o MEC chegasse, eles iriam pedir para que o BHU fosse extinto, e que ficassem apenas as Licenciaturas. Mas isso não aconteceu, penso eu também que por motivos políticos, porque era interesse também da universidade e também interesse do Ministério da Educação, manter PPP de caráter interdisciplinar.
Mas a luta foi muito intensa, para que a gente pudesse garantir uma nova perspectiva pedagógica que pudesse dar aos estudantes a possibilidade deles percorrerem o seu percurso dentro do BHU, e que dessem a eles a oportunidade de uma interação maior no sentido da interdisciplinaridade. Aqui, eu quero fazer uma observação que eu considero importante: porque a interdisciplinaridade é importante para uma região como a nossa, porque, historicamente, a formação dos filhos das elites e das classes dominantes sempre foi uma formação interdisciplinar, desde os antigos e romanos, as suas escolas e academias eram interdisciplinares. Na Idade Média a mesma coisa, mas os pobres nunca tiveram acesso a uma formação interdisciplinar. No sistema social histórico do capitalismo, aos trabalhadores foram dadas a chance apenas de uma formação disciplinar, estanque, compartimentada, e pela primeira vez da história recente da educação brasileira é que foi dada a possibilidade dos estudantes mais pobres terem acesso a uma educação interdisciplinar.
E qual é o grande elemento que constitui a formação interdisciplinar: é a possibilidade de articular uma interpretação e uma leitura teórica da totalidade social. A interdisciplinaridade, ao meu ver, favorece as condições para que os formandos tenham a capacidade e agilidade de articular os vários elementos das relações sociais, em uma chave interdisciplinar, e propiciar isso aos pobres era um feito inédito, ainda mais numa região como a do Vale do Jequitinhonha e o município de Diamantina, e também Teófilo Otoni. Então, eu vejo isso como um elemento muito importante, como a possibilidade dos pobres terem acesso a uma formação, que exige também do corpo docente uma outra postura, e um outro comportamento, ou seja, nós não estávamos preparados para isso. Nós não estávamos em condições de darmos aos mais pobres uma formação de qualidade, que pudesse fazer com que essas populações atendidas, esse público atendido, tivesse um salto de qualidade na sua interpretação de mundo. Eu acho que nós perdemos uma grande oportunidade.
Licenciatura em História (Profa. Mônica Liz Miranda)
No que tange à organização do curso, eu sempre fui muito crítica ao projeto proposto na época e que acabou efetivado. A princípio, a ideia era pensar o Bacharelado em Humanidades em um formato de duração de dois anos, propiciando assim uma otimização no efetivo do corpo docente, além de promover uma interdisciplinaridade na formação dos discentes dos distintos cursos. O momento no qual se deu este movimento foi quando o professor Fernando Haddad estava à frente do Ministério da Educação. Dentre os professores de que me lembro e que contribuíram para a implementação deste modelo de curso, pode-se citar os professores Fernando Afonso e Marcelino Morais. Os demais, não me recordo ao certo quem eram. Para tal implementação, fez-se necessária uma ampla pesquisa, que objetivou identificar os melhores planos pedagógicos com a estrutura a qual nos propúnhamos a adotar. O processo inicial se deu por minha pessoa e a dos professores Wellington Oliveira, Fernando Afonso e Elaine Sodré. Houve outras contribuições de novos professores contratados. Porém, não tenho a informação pois era mestre, até então, e não participei do processo de seleção dos mesmos.
Com relação ao projeto pedagógico do curso que deu origem ao Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades, que seria a base estruturante das Licenciaturas, saliento que me neguei a assinar a implementação do mesmo. Abstive-me e não integrei mais a comissão.
Licenciatura em Letras (Profa. Juliana Leal)
No momento de criação do curso e da coordenação da qual fiz parte não existia FG (Função Gratificada). Então, eu trabalhei, aproximadamente dois anos, sem receber gratificação pelo cargo. Quando ingressei, em 2010, na universidade, eu era doutoranda da UFMG e naquele tempo não era possível pedir licença ou afastamento para fazer o doutorado, porque era necessário cumprir três anos do estágio probatório antes de pedir qualquer licença. E para introdução ou inclusão de professores nesses cursos novos, que começariam, era necessária a criação de um corpo docente que até então não existia. Era tudo muito novo e os seis que já estavam, até então, atuavam nas disciplinas oferecidas no BHU, e eu, inclusive, atuava até na área do turismo durante os meus primeiros anos aqui na instituição. Nesse período, entre 2011/2012, se não estiver enganada, foi fundada a comissão para a elaboração do PPC do curso de Letras. A professora Clarisse Barbosa, que hoje é professora efetiva do curso de espanhol, fez parte da comissão de elaboração do PPC do curso de Letras, mas naquela ocasião ela era professora substituta. Ela teve um uma atuação muito importante na elaboração do PPC. Particularmente, eu tive uma participação muito pequena, pois estava encontrando grandes dificuldades de conciliar a demanda de trabalho com o doutorado.
Em 2012, entraram muitos professores devido ao grande número de concursos na área de linguística, na área de inglês e na área de espanhol. Então, eu acabei atuando muito nesse momento na composição do corpo docente. Em 2013, já tínhamos muitos professores preparados, inclusive, para assumir a coordenação do curso de Letras. A coordenação foi assumida pelas professoras Adriana Bodolay e Simone Mendes, que acompanharam a avaliação do MEC, que se deu em 2013. A partir desse momento, o aluno ficava dois anos e meio a mais para terminar e concluir o curso de Letras Português e Espanhol. Então, ele levava cinco anos e meio, no mínimo, para se formar. Ontem, tive uma conversa com uma delas: ela me disse que foram três ou quatro meses depois da entrada delas na coordenação que elas receberam a visita do MEC. E essa avaliação foi muito positiva. Nosso curso foi avaliado com nota quatro, uma nota muito boa. Na avaliação do MEC é considerado especialmente a proposta do BHU, que tinha como objetivo dar um reforço na formação do aluno que vinha do ensino médio, principalmente o aluno da escola pública. Então, o BHU funcionaria como uma espécie de reforço antes que o estudante entrasse no curso de Letras.
Licenciatura em Letras (Fernanda Valim Côrtes Miguel)
Acredito que todos nós, que estamos respondendo a esta entrevista agora e todos os que permanecem conosco hoje na FIH, na condição de técnicos e docentes, podemos dizer que somos pioneiros no sentido de construir um curso, ou cursos, uma universidade. Aliás, uma das mais recentes universidades federais do país. Isso não é pouca coisa! De lá pra cá, houve momentos que misturaram euforia, otimismo e muito trabalho com momentos de desânimo, cansaço e muito trabalho. Nesse sentido, os desafios foram e continuam sendo imensos e de muitas naturezas diferentes.
Quando chegamos, e começamos a atuar no BHu, ainda não tínhamos ideia concreta do que nos aguardava com o andamento do curso. Refiro-me aqui ao que aconteceria no momento de transição do curso para outros mais, que começava após o segundo ano finalizado. O BHu tinha 3 anos de duração no total, sua proposta era justamente a de aumentar o tempo de permanência dos estudantes em sua trajetória na universidade, tendo em vista que estava todo centrado na recepção de alunos trabalhadores, de cursos noturnos. O curso funcionava como uma introdução interdiciplinar e crítica a esses alunos para a grande área de humanidades, pensando em suas necessidades mais básicas, ou seja, no trabalho de leitura e escrita, a reflexão crítica sobre nossa realidade política e social, letramento acadêmico e muitos outros letramentos, tendo em vista que recebíamos, principalmente, alunos de toda a região do Vale do Jequitinhonha, com forte herança das tradições orais e populares, pouca ou nenhuma familiaridade com as práticas universitárias e escolares, oriundos de famílias analfabetas, representando, muitas vezes, as primeiras gerações com acesso aos estudos universitários. Até hoje, essa realidade parece ter se modificado muito pouco, com a diferença que, após a mudança no sistema de ingresso, agora pelo ENEM, passamos a receber, no curso de Licenciatura em Letras, alunos de várias outras partes do país, outras regiões de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, mas ainda com maior quantidade de alunos da região de Diamantina.
Neste primeiro momento, por assim dizer, quando só existia o curso do BHU e as Licenciaturas ainda não representavam um projeto consolidado, os principais desafios estavam em entender a proposta do próprio curso, conhecer o local onde atuávamos, tendo em vista que a maioria de nós éramos de fora da cidade, muitas vezes fora do estado de Minas, não conhecíamos com profundidade o lugar em que estávamos, suas práticas culturais e os principais desafios que teríamos, a começar por entender a importância de construção coletiva de uma universidade popular, que fosse capaz não apenas de fazer ingressar os alunos de Diamantina e região na universidade, mas de encontrar mecanismos para sua permanência qualificada aqui. Quando digo permanência qualificada, entendo duas coisas fundamentais e diferentes: a primeira, dar ferramentas para qualificar a experiência letrada dos alunos em sua passagem pela universidade, respeitando o diálogo com as tradições orais, mas reconhecendo a dimensão política da cultura escrita no mundo contemporâneo. Nesse sentido, o maior desafio estava em lidar com esta aparente contradição: reconhecer e valorizar os saberes culturais das comunidades locais, aprender com eles e, ao mesmo tempo, ensinar os atravessamentos ideológicos e as relações de poder que envolvem o trabalho com a linguagem nas formas de vida. Como formar leitores críticos e sensíveis? Negar o acesso ao mundo letrado, à palavra escrita, ou apenas chamar de elitista o ensino da literatura, da linguagem e o trabalho com a arte, me parecia um olhar contra-producente, de não reconhecimento dos processos históricos de exclusão das classes trabalhadoras aos estudos artísticos, humanísticos e ao ensino formal. Cheguei a dar aulas, muitas vezes, para alunos semi-analfabetos e ao final do semestre pairava um sentimento antagônico: reprová-lo, para que ele permaneça mais tempo aprimorando esses aprendizados, ou aprová-lo, reconhecendo a trajetória do aluno e o progresso desenvolvido ao longo do curto caminho? A dificuldade de reunir esses alunos para uma formação paralela, um acompanhamento cuidadoso, era quase impossível, tendo em vista a quantidade de estudantes que recebíamos por semestre: duas turmas de 120 alunos. Esta quantidade acabava inviabilizando um trabalho mais personalizado de trajetória de formação. A segunda coisa, em relação à permanência qualificada, dizia respeito a um conjunto de fatores relacionados à permanência estudantil: a inexistência de um refeitório universitário, com refeições a preço popular; a inexistência de moradia estudantil, tendo em vista o alto custo de vida da cidade; a inexistência de uma biblioteca qualificada, bem como de espaços de estudos e de convívio social, espaços de lazer e atividades artísticas e culturais; a inexistência de transporte público gratuito até o campus e dentro dele, nem mesmo desconto de meia passagem os estudantes tinham direito. Não tínhamos internet aberta na universidade, nem acesso a computadores; o preço das cópias dos textos para leitura ficava inviável nesse contexto. O que existiam, na época, eram bolsas de assistência estudantil e vale marmita. Avançamos em alguns pontos, mas ainda estamos longe do que seria desejável.
Por fim, pensando agora no curso de Licenciatura em Letras, o momento já era outro, pois já tínhamos uma melhor infraestrutura física: salas de aulas, biblioteca no campus JK, gabinetes e o prédio da FIH construídos. Claro que, para que isso acontecesse, tivemos muito trabalho burocrático dos mais variáveis níveis, até medidas de planta de prédio tivemos que enviar, imaginem vocês que loucura! Tínhamos poucos técnicos administrativos e acabávamos assumindo, como até hoje, um excesso de encargos administrativos e burocráticos, sem nenhuma assistência institucional, tínhamos que aprender tudo sozinhos, muito pesado. O que fizemos de listas para pedido de materiais diversos, não dá nem para contar: tudo relacionado à patrimônio público, lousa, cadeiras, estantes; materiais de almoxarifado; listas de equipamentos para contemplar os cursos; inúmeros formulários para preencher, sempre com urgência, mas que depois se mostrava trabalho inútil, jogado fora. É impensável olhar para trás e ver tudo o que fizemos. Para além disso, o maior desafio esteve realcionado à construção do PPP do curso de Letras e, sobretudo, em colocar em prática seu funcionamento efetivo, já que precisávamos abrir inúmeros concursos públicos, um outro momento de trabalho infindável e muita sobrecarga física e mental. Foi um momento muito trabalhoso, pois tudo estava por fazer e as responsabilidades eram imensas, éramos poucos professores e muitas tensões, de inúmeras naturezas, muitas brigas políticas. Com a chegada dos aprovados nesses concursos, o clima mudou para melhor, o grupo docente cresceu bastante e os trabalhos e tensões se diluíram. Éramos dois cursos (Letras Português/Inglês e Letras Português/Espanhol) e três habilitações (língua portuguesa e suas literaturas; língua inglesa e suas literaturas; língua espanhola e suas literaturas). Posteriormente, seguimos cheios de trabalho, mas em um novo momento institucional. O trabalho foi intenso também para a recepção do MEC, nossa primeira avaliação de curso, em 2014. Houve um esforço coletivo imenso para nos prepararmos para esta visita. Naquele ano, pelo que me lembro, os dois cursos de Letras obtiveram nota máxima, nota 5, graças ao trabalho incansável do grupo e das coordenações dos cursos da época. Não poderia citar dois ou três nomes apenas para não correr o risco de deixar ninguém de fora, foram muitos os envolvidos. A ruptura com o BHu foi um momento político muito difícil também, porque a maioria dos colegas que chegaram depois, apenas para as Licenciaturas, não possuíam a dimensão histórica do processo e do curso, acabaram optando coletivamente por um retorno exclusivo ao modelo que já conheciam, através dos quais fomos formados, inclusive. Particularmente, acredito que poderíamos ter pensado uma proposta de Bacharelado em Humanidades como um início muito importante para a formação de professores, um modelo menos rígido, com ampla participação coletiva docente, que realmente garantisse propostas interdisciplinares. O BHU foi um curso profundamente inovador, que poderia ter se fortalecido de outros meios talvez. No entanto, aquela estrutura que tínhamos se tornou inviável. Especialmente para os alunos que queriam se licenciar nos cursos de Letras, o percurso de formação se tornava mais longo ainda, em função da dupla habilitação. Os alunos não tinham como se manter por tantos anos naquele modelo de percurso formativo.
Licenciatura em Letras (Prof. Luiz Otávio Costa Marques)
Houve uma grande dificuldade no processo de implementação do curso devido à infraestrutura. Os espaços não eram adequados para realização dos cursos e o número de docentes era insuficiente. Quando elaboramos o primeiro PPP, havia poucos docentes no curso de Letras. Eram mais ou menos seis professores. Pelo fato de não sermos naturais de Diamantina, não conhecíamos o perfil dos estudantes. Posso dizer que o primeiro Projeto Pedagógico do Curso não dialogava com a realidade dos alunos e da região.
Outro grande desafio para implementação do curso era que os docentes não aprovaram o critério de admissão, que ocorria após concluírem o BHU. Os docentes acreditavam que o BHU não oferecia o devido suporte para que o discente ingressasse no curso de Letras/Inglês.
Licenciatura em Educação no Campo (Prof. Paulo Afrânio Sant´Anna)
Os desafios foram enormes e muitas das dificuldades que nós temos, e compartilhamos com outros cursos de Licenciatura da universidade, são em relação à infraestrutura, o apoio administrativo, a compreensão geral dos funcionamentos dos cursos, sobretudo, daqueles voltados para a área de Humanas. Existem, no entanto, outras dificuldades que são muito específicas da LEC.
A começar pela própria natureza do curso, do ponto de vista didático-pedagógico; a estrutura curricular. Afinal, trabalhamos na modalidade da Pedagogia da Alternância, que pressupõe diferentes tempos e espaços educativos. Ou seja, no início e meio do ano existe o Tempo Universidade em que o aluno permanece aqui por seis semanas e tem toda a carga teórica das unidades curriculares aplicadas. Alternado a isso, temos o Tempo Comunidade, que são os três meses que complementam o semestre letivo. Dessa maneira, os discentes realizam trabalhos de pesquisa, de intervenção, estágios e práticas de ensino em suas respectivas comunidades. Nesse período, os professores se deslocam para as comunidades com o objetivo de orientar os trabalhos e acompanhar a dinâmica de interlocução do curso com as comunidades de origem dos alunos. Enfim, toda essa estrutura e dinâmica demandam uma organização que é atípica dentro da universidade. Mesmo após dez anos do curso, sua lógica ainda não foi assimilada pela universidade e isso implica um trabalho contínuo da coordenação e do corpo docente de esclarecimentos corriqueiros sobre o que é o curso, como funciona, quais são as demandas e que tipo de alunos atendem. Então, tornam-se desafios a superação das barreiras administrativas ou mesmo de gestão decorrentes da própria natureza do curso.
Por fim, um outro desafio que julgo ser semelhante ao de outros cursos da FIH diz respeito à constituição do corpo docente. Durante a minha gestão houve um período intenso de concursos para compor tais cargos. No entanto, foi um processo extenso devido à evasão de muitos professores, justificada pela dificuldade de atuar num curso interdisciplinar, pois seguiram uma formação disciplinar específica em uma área do conhecimento. Além disso, esses professores não vinham de uma formação em alternância.
Temos ainda na estrutura do curso, três áreas de conhecimento que são: Ciências Humanas, Ciências da Natureza e Linguagens e Códigos. Sendo assim, esse é um curso que implica um trabalho coletivo e intenso de organização e planejamento já que durante o Tempo Universidade nós temos que trabalhar em plena sintonia, para que possamos atender todos os conteúdos das disciplinas e suas respectivas cargas horárias e o corpo docente influencia nessa tarefa. Afinal, é como se tivéssemos que nos formar outra vez para poder atuar num curso de natureza tão específica. Isso acaba por encontrar muita resistência por parte de alguns professores.
Outra importante questão a ser posta aqui são os recursos financeiros. Durante quatro anos, recebemos uma verba direta do Governo Federal via Ministério da Educação para a implementação do curso. No ano seguinte, com a formação da primeira turma, ela passou a ser inserida dentro do orçamento geral da universidade e isso gerou uma dificuldade na gestão desses recursos. A própria universidade coloca o curso dentro da perspectiva de uma licenciatura, que é um curso relativamente barato. Porém, a LEC é um curso que exige mais recursos e todo semestre são necessárias muitas negociações, entendimentos e reavaliações para que o curso esteja em andamento.
Havia o Projeto Pedagógico do Procampo, que era o curso experimental, hiperinflado e superdimensionado. Quando houve o edital (02/2012) e que tínhamos que apresentar um novo Projeto Pedagógico, uma série de ajustes foram feitos. Partimos de algumas ideias, da própria organização do tempo-espaço do curso, mantivemos a alternância, além de redimensioná-lo. Tivemos, inclusive, uma aprovação imediata do MEC, sem nenhuma recomendação de alteração, o que facilitou o processo.
Esse projeto foi reformulado em 2014 e 2018, sobretudo, para ajustar as cargas horárias e os conteúdos das disciplinas, uma vez que o corpo docente foi se constituindo nesse período e foi recentemente avaliado pelo MEC com nota máxima (5). Iniciamos, em 2023, um novo processo de reformulação do Projeto Pedagógico do curso.
Em relação à infraestrutura, passamos por uma sala no Campus I, por salas do Instituto de Humanidades, no Campus II, posteriormente, fomos transferidos para um prédio da Fisioterapia e somente quando ingressamos na FIH é que passamos a ter um espaço do curso, incluindo os gabinetes dos professores, a sala de coordenação e um laboratório. Também temos tido dificuldades a todo semestre com o agendamento de salas. Como se trata de curso em alternância, em alguns semestres a distribuição das salas de aula se torna problemática. Há ainda uma demanda para a construção de um espaço de alternância incluindo alojamentos para que atendesse os alunos durante o Tempo Universidade.
Atualmente, temos 15 docentes atuantes no curso, sendo seis pertencentes à área de Linguagens e Códigos, seis das Ciências da Natureza e três das Ciências Humanas. O curso oferece o total de 60 vagas, sendo 30 para habilitação na área de Ciências da Natureza e 30 para a área de Linguagens e Códigos.
Os quatro primeiros semestres são comuns às duas habilitações. Ou seja, nesse período, é dada a formação básica em Educação, em Ciências Humanas, em metodologia e, só a partir do quinto semestre, os discentes passam a ter as unidades curriculares específicas de suas áreas.
3) Houve adequações no projeto pedagógico e na gestão do curso tendo em vista o perfil do público que atendemos na UFVJM e a Lei de Cotas (2012)? Poderia falar sobre projetos de destaque direcionados aos públicos atendidos pelo curso.
Licenciatura em Pedagogia (Profa. Elayne de Moura Braga)
O ingresso da Licenciatura em Pedagogia, como está no projeto 2012, era via Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades. Então, os discentes ingressaram no Bacharelado, cumpriam três anos de curso e faziam a migração para a Licenciatura, e cumpriam mais dois anos de curso para obtenção do diploma de Licenciatura. Então, para o ingresso no Bacharelado, a cada semestre, eram ofertadas duzentas vagas. Essas duzentas vagas eram divididas entre os cinco cursos de Licenciaturas, que estavam sendo iniciados em 2012. A pedagogia tinha 40 vagas ofertadas para os discentes que viriam do BHU. Não havia questão específica de cotas para o ingresso na pedagogia, porque todos 40 discentes que viriam do Bacharelado teriam vaga garantida na Licenciatura.
Não sei especificar quando o Bacharelado (e a UFVJM) adotou a lei de cotas para os ingressos, mas sei que hoje existe a comissão responsável na UFVJM, formada em 2017, que atinge o ingresso na graduação, na pós-graduação, enfim, nos concursos de uma forma geral. Nossos discentes são oriundos, na sua maioria, de Diamantina e região. Nós temos alguns poucos, mas temos alunos de longe, como: São Paulo, Espírito Santo, também já tivemos alunos da região sul, por exemplo, mas a maioria é daqui de perto de Diamantina. O curso tem uma formação muito ampla. A atuação dos nossos egressos vai desde a educação infantil, anos iniciais do ensino fundamental, em cursos de formação que exigem um conhecimento em pedagogia, gestão educacional e atuação em espaços escolares e não escolares, além de desenvolvimento de pesquisas.
Enfim, buscamos atender essa formação ampla e as demandas do público com base nas unidades curriculares, por exemplo: as práticas, a maioria das disciplinas das nossas unidades curriculares têm práticas, além da carga horária teórica, adotamos temas transversais, como a própria discussão étnico-racial em algumas disciplinas. Trabalhamos e buscamos atingir esse público através dos estágios, com os eventos que o próprio curso promove. Em 2022, nós realizamos o sexto encontro de estudos pedagógicos e o sétimo Seminário em Educação Infantil, que atende não só o público interno, mas toda a rede de educação de Diamantina e região. Buscamos incentivar os nossos alunos a realizarem atividades de AACC, buscarem bolsas PIBIC, PIBID e outros incentivos, como os que a própria Proace promove.
Licenciatura em Geografia (Prof. Douglas Sathler)
Com certeza houve adequação em relação ao primeiro projeto que foi desenhado, quando a gente ainda não tinha um entendimento tão amplo em relação ao nosso público. Hoje, a gente tem um projeto já revisado. É um novo projeto muito mais adequado ao nosso público. É um projeto que coloca a licenciatura no centro, o tempo todo. Ele não é um projeto do tipo três mais um, que seria aquele projeto em que o estudante passa a maior parte do curso fazendo matérias de geografia e, depois, apenas no final da formação, ele estuda as práticas de ensino. Nosso projeto atual contempla a didática e as práticas de ensino no início da formação. É um projeto avançado em relação ao que existe nas universidades tradicionais, sendo muito mais adequado à realidade do nosso estudante.
Os nossos estudantes têm um perfil bastante heterogêneo. Temos estudantes que tiveram uma preparação mais forte durante os níveis de ensino básico, durante o fundamental e médio, mas também temos estudantes que não tiveram a oportunidade de ter uma formação adequada nos níveis anteriores de estudo. Então, de certa forma, isso faz com que a gente tenha na nossa frente um desafio forte do ponto de vista das nossas práticas pedagógicas. A gente já entendeu que as práticas pedagógicas tradicionais geralmente têm pouca eficácia, considerando o público que atendemos. A gente entende que práticas ativas, práticas pedagógicas que buscam desenvolver o protagonismo do estudante, práticas pedagógicas que aproximam o estudante da realidade dele, e que fazem com que ele parta da sua realidade para depois disso compreender o mundo, elas são mais adequadas.
Nós temos muitos projetos neste sentido. Eu posso citar alguns projetos de destaque, correndo o risco de deixar de fora iniciativas muito relevantes de outros colegas. Um projeto de destaque seria o PIBID. O PIBID é um projeto fantástico, que traz uma oportunidade muito boa para que o estudante tenha acesso à práticas pedagógicas inovadoras, no chão da escola, junto com professores e estudantes de Diamantina. Temos também um projeto muito interessante, coordenado pela professora Danielle Piuzana, que inclusive foi destaque na época da nossa primeira avaliação do MEC, que é o projeto GAIA (Geociências, Arte, Interdisciplinaridade e Aprendizagem). É um projeto que também busca unir elementos da arte com a geografia. Um projeto que traz muitas práticas pedagógicas interessantes, e que une os nossos estudantes da UFVJM com estudantes e professores das escolas da região. É um projeto bem inovador. O projeto Geografia em Comunidade, que eu coordeno, busca, através do empreendedorismo social, oferecer ferramentas para os nossos estudantes, para lidar com os problemas e desafios da educação e das comunidades em que eles irão se inserir. E muitos outros projetos que existem, muitos outros grupos, que também tiveram bastante destaque, que eu não vou conseguir lembrar de todos aqui.
Bacharelado em Turismo (Profa. Virgínia Martins Fonseca)
O curso de Turismo exige toda uma fundamentação teórica e prática. Pensamos na promoção dos conteúdos básicos para atingir uma formação bastante interdisciplinar e buscamos ter sensibilidade para considerar o território em que a UFVJM está inserida e também as especificidades de quem busca o curso de Turismo aqui no Vale do Jequitinhonha. A gente tinha consciência da importância da Lei de Cotas para a universidade e para a região. Ela oferece uma maior oportunidade de inclusão social dos estudantes das escolas públicas, para além dos grupos mais privilegiados da sociedade. O curso de Turismo sempre teve muita adesão às discussões que consideram essa perspectiva, esse perfil, essa atuação, essas demandas e esse potencial da região. Os nossos projetos sempre buscaram atender a esse público, considerando as suas localidades de origem e o território em que estamos inseridos.
Bacharelado em Humanidades (Prof. Atanásio Mykonios)
A adequação foi a revisão e a mudança do PPP com objetivo de atender melhor os alunos e de dar melhores condições para que eles pudessem escolher o seu percurso. Isso foi muito mal visto dentro da pró-reitoria de graduação. Aqui temos um detalhe importante: a nossa universidade nasceu sob a égide da tutela e não da liberdade. Significa que nós temos muita desconfiança com relação aos nossos estudantes, por isso que todos os procedimentos e a relação da UFVJM com os seus estudantes é de tutela, e não de liberdade. A tutela tem muitas variações, gradações e tudo mais. É importante dizer que a ideia de que os pobres podem ter a liberdade de escolher o seu próprio percurso, de fazer sua própria formação, de ter o domínio sobre ela é muito difícil. Além do PPP que nós mudamos, o novo projeto previa uma nova proposta para que um grupo de professores monitorassem o percurso desses estudantes. Mas isso não aconteceu e, no fundo, nós não temos muito essa prática. E muita gente considerou que isso seria uma espécie que os professores seriam pajens dos alunos. Porque também a formação dos nossos docentes, todos nós, a gente veio praticamente de grandes centros, e esses grandes centros ainda mantém uma estrutura bem tradicional da formação, não só pedagógica, mas na organização dos cursos. Então, o nosso padrão é UFMG, USP, UNICAMP, UFRJ, Viçosa, Federal Fluminense, enfim, são estes grandes centros, esses grandes nichos, que são referências.
E os nossos professores vieram daí, todos nós tivemos muita dificuldade em lidar com a nova realidade, e nós tivemos também, além das dificuldades, muita resistência em transformar a UFVJM em uma universidade realmente nova, com propostas novas de atuação, no campo pedagógico, no campo da formação, no campo da atuação social, na relação com as comunidades e a coletividades locais. Enfim, tivemos muitas dificuldades com isso, e eu vejo que a UFVJM rapidamente envelheceu e passou a reproduzir todas as estruturas que estavam aí já consolidadas, focalizadas, cristalizadas, engessadas e, evidentemente, que os nossos estudantes foram sofrendo com isso.
Aí tem um aspecto que eu considero também importante dizer: o perfil dos nossos estudantes, no começo, nos primeiros dois anos mais ou menos, os ingressantes eram praticamente todos de Diamantina, eram pessoas que tinham uma idade média entre 25 a 40 anos, muitos casais que ingressavam juntos para fazer o BHU, muita gente da cidade mesmo. Então, nesse primeiro momento, houve esse boom vindo da própria cidade. Nesse período, ainda as cotas não estavam consolidadas dentro da UFVJM. Só depois é que a coisa foi tomando um outro rumo, com as cotas e com o ENEM. Quando nós começamos com o curso, o ENEM ainda não estava implantado na universidade, e isso também fez com que o perfil do BHU passasse a ser de gente vinda de várias localidades do Brasil.
Eu fui depois novamente coordenador, entre os anos de 2016 e 2018, já em uma outra configuração do BHU. Como o curso era noturno, isso implicava que nós recebíamos a maior parte dos nossos estudantes pobres e trabalhadores. A classe trabalhadora chegou em peso na UFVJM por meio do Bacharelado em Humanidades, e evidentemente que nós não tínhamos experiência com isso. Não sabíamos exatamente o que fazer. Passamos a reproduzir todas as estruturas que a universidade já tinha. Talvez situação mais confortável, somente para aqueles que não precisavam trabalhar e tinham condições de atuar nos grupos de pesquisas, ou então em projetos de pesquisa. Isso também eu acho que é muito importante porque a universidade não permite horários para que estudantes trabalhadores possam atuar em pesquisas. Isso é muito difícil. Nós reproduzimos a estrutura já secular das condições de pesquisas dentro da universidade e evidentemente que aqueles alunos não têm condições de desenvolver no seu percurso pesquisas. Pois aqueles que têm mais tempo e que conseguem passar o dia em um trabalho de campo, aqueles que conseguem atuar de uma maneira mais tranquila sem a pressão social e econômica, esses são tratados de uma maneira diferente pelos professores pesquisadores.
Eu me lembro de professores que chegavam e a primeira coisa que me pediam era um lugar para montar seus laboratórios de pesquisas. Muitos chegavam com o firme propósito de apenas e tão somente desenvolver as suas pesquisas. Então, eu acho que houve um distanciamento, não vou dizer natural, mas a consequência foi exatamente um distanciamento. E nós não tivemos condições de desenvolver planos de reestruturação para que pudéssemos atender melhor os nossos estudantes trabalhadores que chegavam. Então, eles vinham primeiramente da cidade, depois houve um aumento por causa do ENEM. E aí, a terceira etapa desse processo, de que eu me lembro bem, é que os estudantes do entorno de Diamantina e dos municípios envoltos de Diamantina começaram a frequentar o BHU: Datas, Gouveia, Kubitschek, Couto de Magalhães, Felício dos Santos, Senador Modestino e Serro. Vinha gente de todos esses lugares para poder estudar na universidade.
E eu me lembro bem de que nós sofremos muitos preconceitos. Os nossos estudantes eram tratados de maneira muito cínica e perversa nos corredores, nos banheiros, mensagens gravadas nas portas dos banheiros e também por professores de outros cursos e unidades acadêmicas que não viam sentido no BHU, não viam utilidades, não viam nada de positivo e nada de objetivo no BHU. Mas isso também se refletia internamente porque um dos grandes problemas que nós tínhamos na relação com os nossos estudantes era que, primeiro, nós não havíamos entendido muito bem o que era, como eu já disse, a interdisciplinaridade, e, por outro lado, os alunos também não haviam entendido. Eu me lembro diversas vezes em que os estudantes perguntavam para mim, em particular, mas em que eu posso trabalhar com isso, para que serve o BHU, o que a gente vai fazer com isso, o meu diploma servirá para quê?
Então, eu me dei conta de que o nosso curso foi criado antes que fosse criado um mercado para ele dentro da estrutura capitalista na região de Diamantina e no Vale do Jequitinhonha. Era muito difícil a gente dizer para eles com o que eles poderiam trabalhar, porque a pressão era concreta, objetiva em condições reais da reprodução da vida das pessoas e de suas famílias e de suas coletividades. Ou seja, para que serve o meu diploma? Hoje a gente viu pessoas que foram formadas fazendo BHU e não seguiram na sequência do segundo ciclo para uma formação de licenciados. Tem gente atuando em várias áreas, principalmente nas áreas governamentais de assessoria, de planejamento, de atuação direta em políticas públicas. Mas, isso, convenhamos, é pouco.
Também, as cotas ainda não tinham sido implantadas no meu primeiro mandato, e no segundo também não. Ou seja, já tinham começado, mas isso ainda era insuficiente. As cotas raciais já haviam começado a ser implantadas principalmente para estudantes oriundos do ensino público estadual. Então, nós não tivemos a capacidade de enfrentar isso tudo com sabedoria e com discernimento. Eu digo que não estava em nós, como coletivo, um projeto que fosse inovador, formativo, pedagógico e de um caráter mais aberto e mais ousado. Nós não acreditamos nisso. Nós, no fundo no fundo, somos um grupo muito pequeno. Então, foi uma sucessão de tentativas, sucessão de fracassos, uma sucessão de decisões equivocadas, e uma luta política interna, que no fundo eram um tanto quanto equivocadas. E, também, a maioria dos professores que chegou não entendeu o projeto, não quis entender e também não estava comprometido com isso.
Eu me lembro bem que na atuação dos grupos específicos para a criação e elaboração dos respectivos PPP, a discussão também era essa: a questão dos licenciados, em que a maioria dos grupos estava com intenção de formar muito mais seus Bacharelados do que as Licenciaturas. Foi uma grande dificuldade para todos os cursos de Licenciaturas no processo de formação de seus PPPs. Pensaram nisso porque o grande imbróglio, a grande pedra no sapato de todos, era a questão da formação, de trazer docentes na formação em licenciatura para poder lidar. Porque chegou a um ponto em que alguns pensaram que bastaria uma formação pedagógica complementar. Em diversas universidades isso ocorre, tendo como eixo uma Faculdade de Educação forte, o que foi inclusive tentado por alguns da área da pedagogia, sugerindo-se a extinção da FIH. Houve esse projeto também, ou seja, eu não diria projeto, mas houve essa sinalização de extinguir a FIH e, no lugar dela, criar a Faculdade de Educação e espalhar todos os professores possíveis, e manter os cursos ou qualquer coisa nesse sentido, dando uma base de formação pedagógica para os licenciados, mas isso não prosperou.
É óbvio que eu vejo que, em grande medida, nós não tivemos maturidade suficiente, e digo da minha parte também. Tenho que reconhecer isso. Não houve maturidade suficiente para poder entender com mais profundidade e compromisso aquilo que foi o BHU. Ou melhor, aquilo que era uma proposta interdisciplinar como, por exemplo, a Faculdade Interdisciplinar do ABC. Ela foi toda concebida, montada e criada, dentro da moldura interdisciplinar, e, então, todos os cursos ali criados, todas as unidades acadêmicas ali criadas tiveram como eixo comum e fundamental a interdisciplinaridade. Então, quem entrasse ali, tinha que se comprometer com isso. Não foi o nosso caso, e eu acho que nós perdemos uma grande oportunidade. E isso revela também a nossa grande desarticulação do ponto de vista político. Já que a gente não tinha um projeto, um propósito comum, um objetivo comum, nós nos expressamos. E aí as lutas políticas investidas também contribuíram muito para que nós chegássemos ao ponto da extinção do BHU.
Licenciatura em História (Prof. Rogério Pereira de Arruda)
O projeto inicial do curso de História, de 2012, vigorou até 2018, quando foi substituído por um novo PPP. Entre 2012 e 2018 não foi realizada nenhuma adaptação considerável. Na verdade, foram feitas modificações em ementas e bibliografia de algumas disciplinas, basicamente ofertadas no BHU, mas sem grandes impactos na concepção do projeto. Houve também, no período, a necessidade de oferecer algumas disciplinas, em período especial, para complementação de carga-horária faltante, mas foram casos episódicos. No contexto de discussão do novo projeto, em 2018, os pré-requisitos existentes em várias disciplinas foram quebrados, trazendo uma modificação importante na matrícula dos discentes, facilitando a integralização da carga-horária. Quanto à Lei de Cotas, não posso fazer muitas considerações. Não me lembro de uma discussão muito aprofundada sobre o assunto no curso. É difícil avaliar se a lei teve impacto porque os alunos ingressavam no curso após terem cursado três anos no BHU. Daqueles que entravam no BHU poucos continuavam seus estudos. Então, é difícil avaliar tais impactos. Já a partir de 2018, com entrada direta no curso, essa discussão pode ser feita.
O principal projeto do curso, como de todos os demais da FIH, foi o PIBID. Ele trouxe a possibilidade de aproximar docentes e discentes da universidade ao ambiente da escola básica. Isso foi e tem sido muito importante para nossos alunos, pois a bolsa é importante para a manutenção deles em Diamantina, além do projeto promover uma formação conectada com as questões da escola, viabilizando a troca de experiências e saberes. Para além do PIBID, existiram outros projetos nos quais estudantes e docentes participaram, como o Cine Mercúrio, que teve longa duração. Especifíco do curso de História é preciso citar o Laços na História, a partir de 2018, realizado no âmbito do Proae (Programa de Apoio ao Ensino de Graduação). Entre suas iniciativas, registra-se a oferta de cursos e oficinas para apoio escolar e a realização das Semanas de Recepção aos Calouros, no início do semestre. Alguns docentes do curso coordenam projetos de pesquisa e de extensão, além de Grupos de Estudos, com participação dos discentes. Tais projetos têm colaborado com a inserção dos estudantes no curso e trazido oportunidades para participação em eventos científicos e colaborando na continuidade de estudo deles, por meio do ingresso em programas de pós-graduação.
Licenciatura em Letras (Profa. Juliana Leal)
Pois bem, tenho que averiguar se existe já contemplado ali a questão das cotas, mas acredito que isso aparece no PPC reformulado.
Licenciatura em Letras (Fernanda Valim Côrtes Miguel)
O projeto pedagógico do curso de Letras sofreu adequações intensas e significativas, especialmente em função das exigências legais em relação ao acréscimo de horas práticas como componente curricular e das disciplinas pedagógicas para os cursos de Licenciatura. O projeto foi remodulado por duas vezes e ainda agora, segue em novo processo de reformulação. Nosso maior desafio, naquele momento, e que perdura até hoje, era a ausência de professores com perfil de formação para assumir disciplinas exigidas aos cursos de licenciatura, justamente ligadas à área de educação (a exemplo de Psicologia da Edicação, Filosofia da Educação...), pois ainda que todo o grupo docente estivesse engajado no projeto de formação de professores, muitos não eram licenciados, não possuíam formação qualificada para atuar nessas disciplinas e já assumiam compromisso com outras disciplinas da grade curricular. Além disso, os embates políticos com a DAP, em nossa instituição, eram imensos: havia uma dificuldade institucional em ouvir os professores do curso, em compreender as demandas de um curso com dupla habilitação, suas especificidades e outras demandas mais, que passavam pela nossa experiência no trabalho com os estudantes do curso, suas expectativas, problemas de evasão e ausência de suporte e estrutura institucional para todos nós. Este processo foi bastante desgastante. Recordo-me de colegas que saiam arrasados dessas reuniões na DAP, pelas limitações de nos fazermos ser compreendidos, ouvidos. Este novo projeto do curso passou a vigorar a partir de setembro de 2018, após amplas discussões coletivas e trabalho árduo do Núcleo Docente Estruturante e do apontamento de uma série de lacunas e necessidades ausentes no projeto anterior, especialmente com atenção à formação de professores em nossa região (de língua portuguesa, língua inglesa, língua espanhola e suas respectivas literaturas).
Tivemos vários projetos de destaque, desde o surgimento do curso até o momento presente, temo apenas de deixar ausente aqui muitos deles, o que fatalmente acontecerá diante das lacunas da memória. O projeto Cine Mercúrio, por exemplo, talvez um dos projetos de extensão mais conhecidos de todos nós, surgiu pela parceria do curso de Letras/Espanhol (os trabalhos da professora Juliana Leal) com o técnico Silvio Diogo, da PROEXC. Inclusive, me recordo agora que todo o acervo literário que pertencia ao Silvio foi doado para a UFVJM e encontrou dificuldades em ser acolhido institucionalmente. Para sorte de todos, ele pertence hoje à FIH, e está localizado no LABLET, Laboratório de Letras do prédio principal da FIH. Tivemos atuação em inúmeros projetos do PIBID: Pibid diversidade (da LEC); Pibid de Português (ler e ser); Pibid interdisciplinar; Pibid de inglês e de Espanhol e agora também nos projetos de Residência Pedagógica. Todos os projetos vinculados ao Nucli (Núcleo de Línguas) foram criados pelos professores de língua estrangeira do curso, como desdobramento do programa Idioma sem Fronteiras (do MEC), bem como a atuação desses professores no antigo Centro de Idiomas da UFVJM, que encerrou suas atividades em função dos problemas relacionados à FUNDAEPE. Lembro-me das professoras Hejaine Fonseca e Érika Vieira coordenando essas atividades, assim como tocando os exames de proficiência em língua estrangeira na UFVJM. O curso de ecoturismo, cultura e ensino de português para alunos estrangeiros também é outro projeto de grande expressão institucional e que continua ativo até hoje, tocado por colegas do curso, como Luisa Godoy, Pâmella Vieira e Adriana Bodolay. A revista 1Q foi o primeiro periódico criado pelo curso, sob coordenação da professora Rebecca Monteiro, um projeto do qual me recordo muito também. O projeto do jornal Vozes Femininas, de apelo interdisciplinar e que ganhou prêmio no último Sintegra, também está ativo e vivo em minha memória mais recente, assim como o Literatura e Feminismos e o projeto para ler e escrever o mundo, um trabalho coletivo e interdisciplinar com a educação popular na Ocupação Vitória, neste caso pelo fato de eu estar diretamente envolvida e implicada, é claro. Lembro-me agora de dois outros projetos de extensão do curso que tiveram ampla repercussão pela rádio universitária, hoje infelizmente extinta: o Linguística do Cotidiano, criado pela professora Luísa Godoy, e o programa de espanhol criado pela professora Lorenza Guimarães. O evento anual da Primavera das Letras também merece destaque, foi idealizado pela professora Rebecca Monteiro e professora Simone Santos, se não foram as idealizadoras certamente foram as maiores responsáveis por sua realização. Isso sem mencionar os inúmeros projetos de pesquisa e extensão desenvolvidos pelos demais colegas do curso, tarefa impossível de ser recordada aqui como seria o desejável. Esses projetos foram e alguns são, até hoje, fundamentais para os estudantes, na geração de bolsas, de perspectivas de formação, geração de vínculos, potencialidade de permanência e inserção no mercado de trabalho.
Licenciatura em Letras (Prof. Luiz Otávio Costa Marques)
Não me recordo se no tempo em que fui docente houve alteração no projeto pedagógico, levando em consideração o perfil do público da universidade a Lei de Cotas de 2012, mas acredito que não houve. Uma das ressalvas que eram feitas na época com relação ao PPP do curso é a de que ele era um pouco elitista. Creio que com o passar do tempo essa questão foi discutida pelo corpo docente e, provavelmente, foi sanada. Na época em que fui docente eu não me recordo de nenhum projeto de destaque, mas recordo-me que os professores coordenavam grupos de estudos, incluindo discentes e projetos de extensão e pesquisas.
Licenciatura em Educação no Campo (Prof. Paulo Afrânio Sant´Anna)
Em relação ao projeto pedagógico, como mencionei anteriormente, foi revisto duas vezes e segue, no momento, em mais um processo de revisão. É provável que no próximo ano ele se materialize e vigore. Essas revisões visam sempre uma melhor adequação da formação, uma melhor adequação às demandas dos nossos discentes, que apresentam um perfil bastante específico e que eu acredito que seja o perfil ao qual a universidade deveria se voltar, que é o perfil dos jovens dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Nós trabalhamos com alunos de origem camponesa, que vivem e que transitam em vários lugares, inúmeras comunidades rurais; do norte e nordeste de Minas, do Vale do Jequitinhonha, do Vale do Mucuri, do Vale do Aço, aqui da região do Alto Jequitinhonha. São alunos, na sua maioria, pretos e que de alguma forma são contemplados pela Lei de Cotas. Esses alunos, em sua maioria, são de comunidades quilombolas, o que lhes dá acesso a parte das bolsas direcionadas para permanência dos quilombolas e indígenas. Em sua totalidade, são alunos de escolas públicas rurais, o que faz com que sejam contemplados no processo de seleção, por estarem praticamente encaixados em todos os quesitos no que tange à Lei de Cotas.
O ingresso ao curso é realizado via um vestibular específico da LEC, não se entra via ENEM. Neste vestibular é pensada uma série de estratégias para atender o perfil dessa população que a gente recebe. Aqui na LEC, pela própria organização e pela dinâmica da alternância, somos propensos a ter uma relação muito estreita, muito próxima com as comunidades que são atendidas pelo curso, pois os alunos desenvolvem trabalhos de pesquisa e extensão em suas comunidades, pois isso faz parte do plano de formação e depois esses trabalhos são socializados durante o tempo universidade, de forma que a gente vem sempre sendo oportunizados a conhecer essas comunidades e suas realidades. E, assim, tendo a chance de construir projetos e firmar parcerias com os envolvidos na comunidade, como as escolas, os sindicatos, movimentos sociais que acabam direta ou indiretamente sendo atendidos pelo curso. Como foi o caso do PIBID Diversidade, que durou quatro anos, que propiciou o desenvolvimento de inúmeros projetos pela região norte e nordeste de Minas Gerais, projetos que tiveram muito impacto nas escolas rurais. Atualmente, temos o projeto PIDID, só que em outro formato, mas visando atender às comunidades. Paralelo a isso, grande parte do corpo docente possui projetos de pesquisa, extensão e projetos com movimentos sociais, associações e escolas. Essas relações sempre se dão dentro das comunidades com as quais a gente trabalha.
No momento atual, estamos estruturando um programa de extensão, tendo em vista a curricularização da extensão, esse programa irá consolidar os núcleos de alternância. São dez núcleos de alternância instaurados nas comunidades onde os discentes moram. Servem como espaços de referência da educação do campo, assim como espaço para os nossos alunos criarem e/ou desenvolverem ações educativas, informativas, políticas em suas comunidades. A propósito, esse projeto já se encontra em fase de cadastramento e os demais projetos dos diversos núcleos de alternância estão sendo finalizados para cadastramento no próximo semestre.
4) Como foi o processo de ingresso dos discentes no curso e como eles se comportavam e observavam as mudanças e novidades da faculdade/curso?
Licenciataura em Pedagogia (Profa. Elayne de Moura Braga)
O ingresso no curso de Licenciatura em Pedagogia, como projeto de 2012, era realizado através do Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades. No Bacharelado, o curso de Licenciatura tinha garantido 40 vagas, e o processo seletivo do Bacharelado era realizado através do Enem. Os alunos ingressavam no Bacharelado, cumpriam os três anos de curso. A carga horária dos três eixos, sendo que um dos eixos era a área de concentração, que correspondia ao quinto e sexto período do Bacharelado, com disciplinas específicas do curso de Licenciatura, no nosso caso, o curso em Licenciatura em Pedagogia. Acontece que essa dinâmica proporcionava casos muito diversos entre os alunos. Por exemplo: acontecia do aluno conseguir realizar, cumprir toda a carga horária do Bacharelado para ter o diploma de bacharel, mas não conseguir migrar, fazer a transição para o curso de Licenciatura. Vou dar um exemplo: se o aluno cumpriu todos os três eixos, toda a carga horária, mas se ele cumprisse disciplinas nessas cinco (Pedagogia, História, Geografia, Letras, Português, Inglês e Espanhol) ou em duas, enfim, que seja menos, isso implicaria que ele deixou de fazer alguma disciplina da área de concentração de Pedagogia, então era necessário, para fazer a transição para a Licenciatura em Pedagogia, que ele cumprisse as dez disciplinas da área de concentração em Pedagogia. Isso fez com que a transição fosse muito variada entre os discentes.
Acontecia muito dos discentes estarem ainda vinculados, matriculados no Bacharelado e começarem a cursar, “puxar disciplinas”, da Licenciatura. Nós não tínhamos uma turma inteira e fechada, “tantos alunos para todas as disciplinas do primeiro período do curso”, justamente por essa dinâmica que em cada disciplina, variava a quantidade de alunos, justamente por esses que iam “puxando as disciplinas”. Isso fez, ainda faz, uma demanda administrativa muito grande, por exemplo: a coordenação tendo que fazer reajustes manuais de matrícula, analisando cada caso de aluno. Mas em 2018 nós reestruturamos o projeto pedagógico, o curso. Todos os cursos de Licenciatura da FIH, Faculdade Interdisciplinar em Humanidades, fizeram essa adaptação.
Nós passamos a ter a entrada direta nos cursos de Licenciatura. Continuamos ofertando 40 vagas, mas agora a entrada passa a ser, além do Enem, pelo Sisu, pelo Sasi e ainda continuamos recebendo as transições do BHU, porque todos os discentes que ingressaram até 2017/2, após cumprirem o Bacharelado, tinham direito de ingressar na Licenciatura. Essa era uma questão que os alunos e os professores observavam com uma certa ansiedade, através dos relatos com a representatividade junto ao colegiado, mas também com as devolutivas e os próprios diálogos que a gente mantinha com os discentes. Observamos que é uma questão que está sendo diminuída, amenizada, com esta entrada direta, já há algum tempo, desde 2018, mas que ainda guarda alguns resquícios. Claro que como todo processo de construção coletiva, tivemos vantagens também, os diálogos entre os cursos, entre as Licenciaturas e Bacharelado proporcionaram grandes aprendizados.
Licenciatura em Geografia (Prof. Douglas Sathler)
Inicialmente o ingresso se dava através do BHU, Bacharelado em Humanidades. Eram turmas muito grandes, e apenas depois da metade do curso é que os estudantes ingressavam, de fato, nas disciplinas específica de geografia. Então, eu acho que esse modelo não era apropriado para o perfil do nosso público. É importante oferecer para o nosso estudante um tratamento mais próximo, personalizado. Isso é muito importante para os nossos alunos. Então, antes, a gente apenas sabia quem iria de fato ingressar na geografia quando já tinha se passado mais da metade do curso. Hoje, desde o primeiro período, nós, docentes do curso de geografia, já conseguimos estar mais próximos daqueles estudantes que irão trabalhar com a gente.
Os nossos estudantes, como eu já disse, possuem um perfil muito heterogêneo. Então, a gente percebia que a universidade, para maioria deles, era algo muito diferente do que eles tinham visto na vida, do que eles já tinham experimentado, vivenciado. A maior parte dos nossos estudantes formam a primeira geração de filhos que têm acesso à universidade pública. Então, eles descobriram a universidade, entraram na universidade sem que a universidade tenha, de alguma forma, feito parte da vida da família deles no passado. Isso é muito significativo. Muitas vezes, os pais não compreendem muito bem o que os estudantes estão fazendo. Existe uma série de questões que surgem em relação a isso.
Bacharelado em Turismo (Profa. Virgínia Martins Fonseca)
O processo de ingresso envolvia muito encantamento por parte dos estudantes. Era aquela coisa nova, né? Da Faculdade se tornando universidade. O curso tinha aderência à realidade da região e havia expectativa por parte dos alunos, e claro, dos docentes também. Não podemos ignorar que em 2003 foi constituído, pela primeira vez no Brasil, o Ministério do Turismo. E o curso de bacharel em turismo estava explodindo no Brasil, tanto em instituições públicas quanto privadas. Depois de toda essa animação, essa empolgação, também era perceptível uma certa frustração diante da sobrecarga dos servidores e da carência da infraestrutura física dentro da universidade. A própria biblioteca não tinha livros. Não havia muitos professores nem curso, nem na UFVJM. A gente não dava conta de desenvolver tantos projetos, né? De extensão, de pesquisa... como eram as expectativas de docentes, discentes e sociedade. Era um cenário de muitos desafios, até mesmo por uma questão de sobrecarga administrativa, organização interna, de sistematização desses projetos, de disponibilização de bolsas, dentre outros. Mesmo assim, os discentes sempre estavam muito engajados com a universidade e com as atividades do curso, muito engajados com o que estava acontecendo em Diamantina e no entorno. Os discentes se mostravam muito disponíveis para ajudar na organização de determinadas iniciativas, principalmente eventos. Apresentavam um perfil muito interessado na formação acadêmica. Os primeiros discentes sempre comemoravam, com muita veemência, qualquer conquista que a universidade e o curso proporcionavam na trajetória acadêmica deles. Esta é uma percepção que, infelizmente, não tenho notado no atuais discentes de nosso curso.
Bacharelado em Humanidades (Prof. Atanásio Mykonios)
Inicialmente, o ingresso não foi pelo Enem, como eu já disse. Isso ocorreu durante algum tempo, os primeiros períodos, os primeiros semestres do curso, 2009 e 2010 e 2011. O pessoal entrava por meio das provas que eram aplicadas: não me lembro do nome técnico e havia um certo desespero institucional em preencher essas vagas. Parecia que chegava um momento em que eles abriam para todo mundo entrar, buscando possíveis ou potenciais estudantes para o BHU a laço. Depois do ENEM, isso já ficou mais regularizado, mas os estudantes que entravam, uma parte deles, posso dizer que eu cheguei a fazer uns levantamentos, mas chegamos a ter em algumas turmas algo em torno de 12 a 15% de semianalfabetos, gente que chegava sem nenhuma condição de compreender textos e escrever. A escrita de muitos era realmente precária, extremamente precária.
Nós que estávamos na base, eu, principalmente, lecionando aquelas disciplinas básicas, fundamentais na formação, encontrávamos muitas dificuldades por parte dos estudantes, principalmente na escrita e no desenvolvimento das atividades pedagógicas, tanto em sala de aula quanto fora de sala de aula. Nós nunca conseguimos desenvolver um plano consistente de recuperação. Por outro lado, eu particularmente só me dei conta de que os estudantes não apenas não tinham entendido o BHU, mas também que o grande interesse da maioria dos estudantes eram as Licenciaturas. Numa assembleia, já no meu segundo mandato, a partir de 2015, começou haver uma mudança, porque o Ministério da Educação emitiu uma resolução que tratava da reestruturação das Licenciaturas, e isso foi, na verdade, a senha para que começasse uma movimentação não só para reestruturar as Licenciaturas, como também para acabar com o BHU. Foi a grande chance, a grande oportunidade para acabar com BHU.
Então, os estudantes sofreram muito com isso, não entenderam nessa assembleia que nós havíamos convocado os estudantes e professores pra mostrar para onde o BHU estava caminhando e que a tendência era a sua extinção. Os estudantes se levantaram contra nós numa clara manifestação de que o que interessava para eles eram o seu futuro nas Licenciaturas. Isso me marcou profundamente, porque foi aí que alguns mitos caíram, principalmente o mito de que os estudantes estavam razoavelmente satisfeitos e entediam o que estava acontecendo. Não foi isso.
Outro ponto que eu acho importante tem relação com a proposta inicial. Praticamente todos os lugares onde foram implantados os cursos interdisciplinares num mesmo modelo, ou seja, na sequência como segundo ciclo, outros cursos e tendo o Bacharelado como um curso de articulação interdisciplinar, em todos os lugares onde eu pesquisei, os cursos de segundo ciclos eram os bacharelados. O nosso era o único praticamente no Brasil em que a partir de um Bacharelado interdisciplinar os estudantes iam para as Licenciaturas. E isso criou um desequilíbrio abissal. Se nós tivéssemos bacharelados engatados ao BHU, isso possivelmente teria dado a nós uma outra perspectiva. Então, diante disso, nós não conseguimos ampliar outros cursos, não conseguimos desenvolver uma unidade acadêmica que tivesse realmente uma identidade e, infelizmente, os estudantes acompanharam isso nas arquibancadas, sem muito envolvimento.
Nesse sentido, eu notei uma coisa muito interessante. À medida que o ENEM foi se consolidando no processo de ingresso dos estudantes, quem passou a participar mais e ter mais voz ativa do ponto de vista de políticas estudantis, dentro do curso, dentro da Faculdade Interdisciplinar, foram os estudantes que vieram de fora. Essa foi uma característica interessante porque a maioria dos estudantes da região e de Diamantina nunca se manifestaram politicamente, nunca quiseram participar dos Centros Acadêmicos. Eram muito poucos, uma minoria da minoria mesmo. Isso para mim revelava algo interessante do ponto de vista político. A própria população natural não se engajava nos destinos do curso e da FIH. Eram os espectadores de todo o processo histórico. Havia muita dificuldade em fazer com que eles pudessem participar. Então, os estudantes que vieram de fora, e depois aqueles que passaram a ocupar também as dependências da moradia estudantil, foram os mais atuantes, não só dentro da FIH como fora, nas representações, nos conselhos, nos colegiados, nas congregações. Isso também foi algo marcante no traçado do perfil dos nossos estudantes, os originários, vamos dizer assim. Os estudantes que vêm das camadas mais populares de Diamantina e região nunca se envolveram com a vida acadêmica propriamente dita, que não é só frequentar as aulas
Licenciatura em História (Profa. Mônica Liz Miranda)
O perfil do aluno que ingressa em nosso curso sempre foi precedido de bastante preocupação, pois procurávamos oferecer e promover aqui no Vale do Jequitinhonha e todo norte de Minas o acesso à educação superior a muitos que, de certa maneira, foram ou tiveram seus pais e avós alijados de acesso ao ensino público e gratuito. Quando cheguei a Diamantina, por volta de 2006, o que a gente percebia é que as populações mais periféricas e rurais viam a UFVJM distante de suas realidades, cabendo esta apenas a pessoas que tivessem certo poder aquisitivo privilegiado. Isso se dava também pelo fato de existir na cidade apenas o curso de Odontologia, no período anterior à implementação da Federal, curso este que em tempos passados e vindouros sempre se constituiu de discentes socioeconomicamente bem favorecidos. A questão explanada acima não destoa da história da cidade, a qual alicerçou-se calcada sob uma égide escravista, a qual refletia direitos a poucos.
Licenciatura em Letras (Profa. Juliana Leal)
A forma de ingresso ao curso era então a conclusão do BHU, que durava em média três anos. Ele era visto como um projeto interdisciplinar. E, inclusive, essa foi uma das justificativas que o MEC deu para avaliar tão positivamente o nosso curso, que tinha esse caráter interdisciplinar de formação básica. Hoje, os cursos de Letras são de entrada direta. Isso é muito recente no PPC, e o BHU já não existe mais, ele virou outra coisa, outro curso. Os três semestres finais do BHU eram as disciplinas da área de concentração. E, então, eles optavam pelo curso fazendo esse tour de disciplinas de várias áreas, e optavam, ao final, para qual curso seguiriam.
Licenciatura em Letras (Fernanda Valim Côrtes Miguel)
Como mencionei anteriormente, o acesso dos estudantes ao curso dependia do seu ingresso no BHU. Então, os alunos começavam a cursar disciplinas mais específicas da Letras apenas no terceiro ano do Bacharelado. Depois ainda tinham mais quatro anos pela frente para obter o diploma de dupla habilitação no curso. De todo modo, existiam prós e contras nesse processo. Tivemos alunos que adoraram o curso do Bacharelado e depois optaram por seguir estudando e cursando as licenciaturas, mas também tivemos alunos que preferiam o ingresso direto no curso de Letras. Acredito, no entanto, que a partir da entrada direta no curso de Licenciatura, via ENEM, conquistamos uma identidade maior dos alunos em relação ao curso, com possibilidade de acompanhamento mais subjetivo de suas trajetória em função de uma menor quantidade de alunos. Caminhamos para uma compreensão cada vez mais ampla (e eu espero que eu esteja certa) sobre a importância da UFVJM para a cidade e para as regiões que ela ocupa, para a parcela majoritária de estudantes que ela ocolhe, para a dimensão popular de sua existência e a responsabilidade de seu papel social e político.
De modo geral, o ingresso dos alunos me parece uma mistura de encantamento, em função do acesso à universidade pública (muitas vezes algo impensável de ser conquistado em suas trajetórias familiares) e de dificuldades, sobretudo em relação ao desconhecimento das práticas universitárias, da sobrecarga de leituras e das dificuldades em relação à permanência estudantil. Acredito que ainda não conseguimos conquistar uma experiência real de vivência universitária na UFVJM, porque, na minha compressão, a formação universitária é algo bastante abrangente, que envolve uma relação muito mais ampla e complexa do que apenas o convívio dos alunos em sala de aulas formais. Isso passa necessariamente por políticas de permanência universitária e de criação de espaços mais acolhedores de convivência coletiva, além de possibilidades de acessos artísticos, políticos, culturais, esportivos, dentre outros mais. Nosso campus universitário ainda é profundamente inóspito, uma série de prédios novos que já parecem ruínas, como nas imagens aludidas por Walter Benjamin: prédios distantes, ausência de árvores e espaços de convivência; ausência de cantinas descentralizadas e gostosas, ausência de um restaurante universitário popular, de livrarias, de feiras-livres de várias naturezas, música e atividades culturais permanentes. Temos hoje estruturas descentralizadas, que pulverizam professores da mesma área em cursos diferentes, desarticulando uma política de cooperação mais eficiente e instigante. Apesar disso tudo, temos avançado em muitos aspectos: temos bons professores e pesquisadores, bons alunos, uma boa biblioteca, estudantes trabalhadores que se esforçam muito para conseguirem se formar de forma qualificada. Temos egressos trabalhando em escola da cidade e região, muitos deles concursados. Outros em cursos de pós-graduação na própria instituição e fora dela. Tivemos experiências recentes de ex-alunos que retornam ao curso como professores substitutos, além de relatos positivos em relação às suas trajetórias de formação e abertura de outras possibilidades profissionais.
Licenciatura em Letras (Prof. Luiz Otávio Costa Marques)
O ingresso ao curso era através do BHU. Os bacharelados eram novidade nas universidades do país. Alguns discentes eram favoráveis ao bacharelado como ingresso, mas por outro lado, outros não. Segundo eles, o tempo era extenso demais. Posso dizer que os alunos chegavam ao curso com certa dificuldade em língua estrangeira (Inglês) visto que, por sua vez, no BHU, havia poucas disciplinas voltadas à língua inglesa. Os discentes vinham de escolas públicas, nas quais a carga horária de inglês é muito baixa. Por isso, enfrentavam grandes dificuldades.
Licenciatura em Educação no Campo (Prof. Paulo Afrânio Sant´Anna)
Como eu havia mencionado anteriormente, o ingresso dos nossos discentes é realizado por vestibular específico e observar a relação desses alunos com a universidade é muito interessante. Pensar que são alunos que vêm de comunidades rurais muito pequenas, que são, em grande maioria, o primeiro membro da família ou até mesmo da comunidade a ter acesso à universidade. Isso tem um impacto muito forte não só para os alunos, como para a família e sua comunidade. Abre-se aí todo um universo de possibilidades que vai muito além da formação acadêmica. A gente vai percebendo essa inserção das famílias e comunidades no processo formativo educativo, que naturalmente vão participando, e esse envolvimento faz parte da nossa proposta metodológica. Assim podemos notar o quanto isso amplia dentro dessas comunidades a possibilidade de desenvolvimento dos seus jovens, de sua organização.
A chegada do estudante é sempre de muito espanto, de curiosidade, aquele medo, né?! E é muito bonito ir percebendo ao longo dos quatro anos os movimentos que acontecem da parte deles, de superação, de mudança, de transformação. Grande parte dos nossos discentes têm acessado a pós-graduação ou têm possibilidades de empregos com atuações bastante interessantes. Contamos com inúmeros depoimentos desses processos de transformação. É uma coisa muito bonita e bastante provocadora a se pensar a importância que a UFVJM tem no espaço que ocupa.
5) Como avalia o processo de consolidação do curso?
Licenciatura em Pedagogia (Profa. Elayne de Moura Braga)
Acho que são vários aspectos para avaliarmos como consolidados, desde a avaliação do MEC, esse reconhecimento em 2013, com o conceito 4, e também aspectos que consideramos importantes, como o próprio quadro docente, os técnicos que nós temos, a qualidade dos trabalhos que são realizados nas unidades curriculares, nos estágios, no trabalho de conclusão, nos projetos que realizamos em conjunto com a própria comunidade de Diamantina e região. Um aspecto importante também é a própria procura pelo curso, então, por exemplo: em 2022/2, um semestre logo após a pandemia, ou seja, há relatos de cursos que tiveram uma queda na procura, nós tivemos quarenta e poucos ingressantes, uma procura muito interessante, muito significativa e isso nos alegra bastante.
Licenciatura em Geografia (Prof. Douglas Sathler)
O curso de Geografia, com certeza, hoje é mais consolidado. Ainda temos uma série de questões a serem resolvidas. Os últimos 4 anos, principalmente, foram muito ruins do ponto de vista dos avanços que a gente precisava. Mas temos um curso mais consolidado. Então, hoje, a gente já tem uma infraestrutura mais organizada, um corpo docente completamente formado e definido, projetos consolidados e rodando. Nós já temos uma experiência e um amadurecimento institucional maior como grupo de professores e equipe de servidores.
Bacharelado em Turismo (Profa. Virgínia Martins Fonseca)
O processo de consolidação do curso é constante. Está relacionado à consolidação da UFVJM nesse território tão significativo, que é a região dos Vales do Jequitinhonha, do Mucuri e do Norte. Também está associado à qualificação do corpo docente. Nós iniciamos a estruturação do curso sem que tivéssemos um professor com o título de doutor. O grupo buscou essa qualificação no decorrer da própria consolidação do curso. Realizamos a reestruturação dos projetos pedagógicos, o alinhamento dos objetivos, de uma forma mais orgânica com a própria realidade em que estamos inseridos, considerando o patrimônio cultural, o patrimônio natural e as possibilidades de absorção do mercado de trabalho dos egressos. Desde 2020, nós fundamos um Núcleo de Pesquisa em Turismo, cadastrado na plataforma do diretório do CNPQ, denominado “Patrimônios, Territórios Descoloniais e Trabalho”, o PATTTUR, que, de alguma maneira, tem também contribuído para a consolidação do curso. Estamos criando uma revista científica, além de uma pós-graduação em nível de mestrado interdisciplinar e acadêmico denominado Turismo e Territórios Protegidos. Estamos articulando com pesquisadores, não só do Turismo, mas da FIH e, quiçá de outras universidades, inclusive latino-americanas. Então, essa consolidação é uma constante. E, o que nós percebemos é que, de fato, a gente tem obtido sucesso. Temos resultados bastante animadores, diria inspiradores, além de boas perspectivas para os próximos anos, em tempos que foram tão desoladores. A gente acabou de debutar e já estamos pensando na maturidade dos dezoito anos do curso, que vai acontecer em 2024.
Bacharelado em Humanidades (Prof. Atanásio Mykonios)
Para isso eu vou me valer de alguns dados que eu acho que são importantes, para poder mostrar que nós não tínhamos noção, mas o BHU já nasceu morto na verdade. Já nasceu morto. E são dados do Inep que eu utilizei no artigo que eu e a professora Josélia Barroso e a professora Aline Sulzbacher escrevemos nos anos 2020, 2021... alguma coisa assim. Em 2019, segundo o Inep, havia no país 35.898 cursos de graduação presenciais. Desse total de quase 36.000 cursos presenciais no Brasil inteiro, havia apenas 138 cursos de modalidade interdisciplinar, 138. Sendo que havia apenas 18 cursos na área de humanidades, sendo 14 em instituições federais e 4 em instituições privadas. Nesse caso, o curso jamais iria se consolidar. Nunca foi um projeto e nunca foi um plano, nunca foi uma proposta, nunca foi de fato uma ideia comprada pelo Ministério da Educação e, muito menos, pela nossa Universidade. Então, havia apenas 138 cursos interdisciplinares e desses 18 em humanidades, num universo de 35.898 cursos. Por outro lado, desses 35.898 cursos de graduação presenciais, 25.703 eram cursos de graduação pertencentes a instituições privadas. Por isso, eu penso que o nosso curso não teria como caminhar, porque dentro da Universidade também nunca foi um projeto institucional, nunca foi uma proposta e nunca foi um compromisso a interdisciplinaridade.
Eu só tive condições de compreender isso depois de já ter saído e de ter acabado meu segundo mandato. Isso tudo me fez pensar muito. Nós estamos tateando no escuro, não sabíamos a dimensão daquilo que havia sido proposto em âmbito nacional. Se do ponto de vista nacional a interdisciplinaridade não é uma política de Estado, mas sim uma proposta que ganha fôlego em alguns nichos, não seria aqui na universidade, na nossa UFVJM, que o BHU iria se consolidar como um curso de vanguarda. Isso está fora de cogitação. Hoje, tenho claro que todas as condições dadas para as constituições de um curso dessa natureza eram condições extremamente precárias. Foi um curso que nasceu natimorto. E que de alguma maneira não tinha futuro e ainda mais dentro de um governo do Bolsonaro, que tinha como propósito estrangular qualquer proposta nesse sentido.
Assim, diante de tudo aquilo que eu já refleti sobre as condições das interdisciplinaridades, as condições institucionais em que se deu o projeto, e mesmo na condição da FIH, eu acho que hoje não deveria se chamar Faculdade Interdisciplinar em Humanidades, porque nós não acreditamos na ideia de interdisciplinaridade. É um discurso que soa muito vazio para a maioria dos acadêmicos, tantos para os acadêmicos de esquerda quanto para os acadêmicos de direita e os acadêmicos neoliberais, os de extrema direita, os bolsonaristas. A interdisciplinaridade soa como algo muito estranho, vago, distante, inoperante, fora de objetivo, sem objeto concreto, difícil de fazer pesquisa, difícil de escrever, difícil de pensar, difícil de articular conhecimentos de outras ciências.
Desse modo, não haveria como o curso se consolidar. Evidentemente, o que fez o curso acabar não foram exatamente essas causas, essa realidade maior a gente não via, a gente não tinha uma clareza sobre isso e ainda não temos. Portanto, do ponto de vista político nós não tínhamos nenhuma capacidade orgânica de atuar no sentido de manter. Depois que o Pedro Ângelo Abreu saiu da reitoria entrou o Gilciano Saraiva. Na verdade, ele agiu politicamente no sentido de não confrontar, mas também de não defender uma proposta interdisciplinar. Nunca foi também a ideia do Gilciano ou dos gestores envolta dele. A pró-reitoria nunca olhou com bons olhos um Bacharelado Interdisciplinar a não ser dentro daquelas prerrogativas de engessamento dos estudantes e tudo mais. Sempre tivemos muitos problemas quando da primeira revisão do projeto, na mudança do projeto e depois com o fim do BHU e a instituição do Bacharelado em Ciências Humanas, o BCH. Também, do mesmo jeito, eu acho que houve uma incompreensão e essa incompreensão, na verdade, travou-se num embate político e que tem força. A gente sabe muito bem e leva vantagem na disputa em função dos seus interesses. Isso também causou grande problema interno, porque no meu segundo mandato eu voltei do doutorado lá do Rio de Janeiro, na UFRJ, e assumi novamente a coordenação do BHU, já num outro contexto de embate. Nós estávamos caminhando para o fim do BHU e a minha luta foi muito difícil, inclusive, me aliei a alguns adversários e algumas inimizades ocorreram em função disso, porque eu entendia que era necessário defender o BHU com unhas e dentes e isso não foi muito bem compreendido, porque queriam rifar os nossos professores. Todos nós, de alguma maneira, nos cursos que estavam presentes já nas Licenciaturas, a pró-reitoria queria nos rifar em outros cursos a fora. Então, foi muito desgastante, foi muito difícil porque muita gente olha para mim como se eu fosse um sujeito encrenqueiro, que gosta de arrumar encrenca de todo lado, e eu tinha um propósito.
Eu e um grupo, nós éramos 12 e ainda somos 12 que continuamos agora no BCH. Esses 12 nunca constituíram unidade política, nunca conseguimos constituir uma base política. Existe pelo menos entre esses 12, três grupos diferentes e nós, mais uma vez, não tivemos condições e nem capacidade de atinar para aquilo que realmente estava acontecendo. Quando a gente não tem visão do todo ou quando a gente não amplia a nossa visão para além das circunstâncias locais, a gente fica muito preso a essa visão. Acaba se tornando ilusória porque a gente vê o todo a partir da parte e não é bem assim. É preciso haver uma relação que se trata de um processo dialético. Então, o curso não conseguiu se consolidar. Na verdade, eu penso que a ideia fracassou, nós fracassamos. Infelizmente, nós fracassamos nesse sentido. Não tivemos condições para poder enfrentar, inclusive, não tivemos visão histórica disso tudo. Faltou em nós uma consciência histórica e uma consciência social do que seria uma proposta de um curso como esse no Vale do Jequitinhonha.
Licenciatura em História (Profa. Mônica Liz Miranda)
O processo de consolidação do curso deve muito a trajetória e empenho do professor Wellington de Oliveira, o qual, infelizmente foi acometido por um Acidente Vascular Cerebral, afastando-o de suas atividades laborais frente a esta universidade. No processo de discussão e implementação do curso, muito foi elaborado sobre a necessidade da busca pelo bem-estar social coletivo, e o professor, de ideologia marxista, especialista em Gramsci e um grande leitor e estudioso dos métodos de Paulo Freire, contribuiu muito neste processo e me ajudou a relacionar de maneira empática e compreensiva o universo dos discentes que nós iríamos assistir e que seria bem distinto do que eu conhecia.
Licenciatura em História (Prof. Rogério Pereira de Arruda)
Acredito que o processo de consolidação do curso aconteceu de forma boa até 2018, que é o recorte temporal desta pesquisa, mas temos muitos problemas que não foram resolvidos. Falarei deles mais à frente. Um dos aspectos desse processo foi a contratação de docentes efetivos, feita entre 2012 e 2013. Posso dizer que acompanhei o processo de perto e foi muito bem encaminhado. Constituiu-se de um corpo docente em parte formado por profissionais já experientes, em parte por docentes iniciantes, o que trouxe muitas vantagens para os discentes e para o andamento das questões administrativas e pedagógicas do curso. Não conseguimos vagas de docentes do próprio curso para algumas disciplinas, como Psicologia da Educação e Libras. O que tem trazido alguns problemas. A oferta de Libras me parece que é uma questão resolvida, assim espero. Outro problema, a meu ver, é a pouca quantidade de Técnicos Administrativos na FIH, o que reflete no curso. Desde a implantação do BHU e das Licenciaturas, temos dificuldades com o andamento das questões administrativas, pois é raro termos o apoio efetivo de TAs ao longo de todo o ano letivo para auxiliar a coordenação do curso. Isso faz com que coordenadores e seus vices, há mais de dez anos, tenham assumido tarefas que não são exatamente suas, gerando uma sobrecarga de trabalho e um desvio de função. Também faz parte do processo de consolidação a implantação dos Laboratórios do curso, que são dois: O LAPEHIS e o Laborales. O funcionamento deles tem trazido desafios que os docentes responsáveis pela coordenação têm encarado com criatividade e seriedade, mas vejo que não é fácil engajar todos os docentes nos projetos dos Laboratórios.
A participação dos discentes na consolidação do curso é um aspecto importante também, que se dá para além da sala de aula, acontece no envolvimento com os projetos de pesquisa, extensão e ensino. A existência do PIBID, por exemplo, é essencial para pensar o engajamento dos discentes no curso. Até por por volta de 2018, se não me engano, o projeto chegou a contar com várias bolsas por semestre, mas, desde então, tem diminuído significativamente. Todavia, tenho visto que algumas iniciativas colocadas em prática para atender demandas dos discentes, na verdade, não são aproveitadas por eles mesmos, o que indica a necessidade de sensibilização e de diálogo constante. Mas um dos maiores problemas era a baixa procura pelo curso no modelo do BHU, o que tentamos resolver, ou, pelo menos minimizar, com o projeto de 2018. É preciso destacar, ainda, que a entrega do prédio da FIH, no final de 2012, possibilitou que vários docentes tivessem seus gabinetes, o que viabilizou o efetivo exercícios de suas atividades. A entrega do prédio do Centro de Humanidades também foi outra conquista importante. Então, do ponto de vista da infra-estrutura, a situação é boa. O desafio é sua manutenção constante. Com relação à infra-estrutura é preciso lembrar que a inexistência de um Restaurante Universitário traz impactos negativos para os discentes, comprometendo a consolidação de todos os cursos.
Licenciatura em Letras (Profa. Juliana Leal)
Acho que o corpo docente atual responderia esta pergunta com mais propriedade. Entretanto, creio que ainda estamos no momento de consolidação do curso, até porque a lei 11.161, que foi promulgada em 2005 pelo governo Lula, foi revogada pelo governo Temer em 2017. E essa lei ela previa que a oferta do ensino de espanhol seria obrigatória no ensino médio brasileiro.
Licenciatura em Letras (Fernanda Valim Côrtes Miguel)
Acredito que o curso vem avançando, cada vez mais, em seu processo de consolidação: realizamos concursos para a maioria das áreas que o compõe; temos procurado nos conhecer melhor e aprimorar as propostas de ensino, pesquisa e extensão universitárias; criamos grupos de pesquisa e muitos projetos coletivos; conquistamos espaços físicos fundamentais, como nossos gabinetes, nossos prédios da FIH e nossos laboratórios de pesquisa; realizamos força-tarefas coletivas para termos equipamentos nesses espaços, materiais de estrutura física e humanização desses espaços, inclusive na própria FIH, com vasos de plantas que compramos para as áreas comuns, adesivos de parede, pufes para acolher as pessoas na chegada do prédio. Retomamos, recentemente, um processo de consolidação de nosso evento anual, a Primavera das Letras, com apresentação dos projetos e das pesquisas desenvolvidas por estudantes e professores do curso e atividades culturais. Criamos uma proposta de mestrado, que ainda aguarda tramitação, como possibilidade de fortalecer também o campo das pesquisas aqui desenvolvidas, nomeio aqui os professores responsáveis por sua idealização e escrita inicial: Pedro Perini, Tamer Thabet, Melissa Boëchat e Rebecca Monteiro. Criamos o Nucli (Núcleo de Línguas), esforços dos professores de língua estrangeira do curso, como desdobramento do programa Idioma sem Fronteiras (do MEC).
No entanto, ainda temos muitos desafios pela frente. Somos um curso que agrega muitos professores quando comparado aos demais cursos de licenciatura, especialmente pelo fato de que o esboço idealizado para ele, antes de nossa chegada na instituição, previa a existência de dois cursos distintos: Letras Português/Inglês e Letras Português/Espanhol. Éramos, portanto, dois cursos que, posteriormente, unimos em um só. Isso nos trouxe perdas e ganhos. Nosso maior desafio é como nos organizar estrategicamente e sistematizar ações e decisões coletivas com áreas bastante diferentes e seus interesses políticos também distintos e sem a existência de departamentos que pudessem organizar melhor essas dinâmicas. Faltam técnicos administrativos para nos apoiar e diminuir os desvios de funções. Gostaríamos de manter nossos laboratórios sempre abertos, criando espaços mais disponíveis, mas não temos técnicos para assumir essa função. Assumir a coordenação deste curso se tornou tarefa dificílima e não desejada por ninguém, porque o peso dos encargos administrativos, o baixo valor da função gratificada, a responsabilidade e a total ausência de suporte formativo – que já são tarefas imensas para qualquer curso –, se tornam ainda mais trabalhosas para nós. Somos um único curso com três habilitações e pelo menos cinco grandes áreas: línguas estrangeiras; literaturas estrangeiras, linguística e língua portuguesa, literatura em língua portuguesa e ensino. Como o grupo é grande, é muito difícil criar um envolvimento de todos os professores e um maior engajamento coletivo para a realização de projetos fundamentais do curso ainda não conquistados: a recriação e a consolidação de um Centro de Idiomas forte, que atendesse a toda comunidade universitária, o que dependeria de uma fundação igualmente forte e consolidada, o que não temos hoje institucionalmente. Quem sabe também a criação de uma livraria no campus e de uma editora da UFVJM, assim como a consolidação de nosso projeto pedagógico e de um programa de pós-graduação.
Licenciatura em Educação no Campo (Prof. Paulo Afrânio Sant´Anna)
Em relação à consolidação do curso, posso dizer que de certa forma, o curso está consolidado. Temos um histórico de formação com resultados bastante interessantes. Entretanto, a LEC é um curso que depende muito da conjuntura da universidade, da conjuntura política. Nesses últimos quatro anos observamos uma grande dificuldade em relação à manutenção do curso, demandando um esforço enorme do corpo docente, sobretudo, a coordenação, com negociações e prestação de esclarecimentos e, ainda, a lida com a frustração, pois muito foi perdido. Muitas bolsas foram excluídas, recursos que nos eram garantidos para a realização das atividades foram reduzidos. Toda essa instabilidade política do país teve um impacto grande no curso. Perdemos um bom número de alunos que dependem única e exclusivamente dessas bolsas. São discentes de famílias extremamente pobres que não conseguem se manter com alojamento, transporte e até mesmo com a alimentação.
Um outro fator impactante foi a pandemia da Covid-19. Durante esse período, de quase três anos, tivemos um enorme desafio para manter o curso em andamento. Apesar de todos os percalços, conseguimos mantê-lo regular. As atividades aconteceram mesmo mesmo com o pouco apoio da universidade. Nossos alunos, que não tinham acesso à internet e que não possuíam equipamentos para acessar o meio digital, tiveram que superar essas dificuldades com muito pouco apoio, ou quase nenhum, vindo da instituição.
Voltando à consolidação, é um curso que está bem implementado. Contudo, não significa que não precise de atualizações e reformulações, apresentamos algumas dificuldades em termos do número de professores por aluno. Somos um corpo docente de quinze docentes que atuam em dois cursos com um número de alunos elevado. Somam sessenta alunos, que adentram a universidade com uma imensa dificuldade a ser superada. Precisamos, atualmente, de um reajuste em função da sobrecarga de trabalho para além de toda a sobrecarga de trabalho administrativo, de planejamento, organização, trabalho pedagógico. Embora o curso esteja consolidado, para a continuidade do curso, acredito que ele tenha de ser redimensionado. A discussão para redimensionamento do nosso projeto pedagógico já está em andamento, mas ainda precisamos de um redimensionamento do corpo docente, do apoio administrativo, que ainda é bastante precário em termos gerais na universidade e acaba sobrecarregando os envolvidos no curso.
6) Em relação às expectativas existentes no início da implantação do curso, o que se almejou e o que não conseguiu atingir?
Licenciatura em Pedagogia (Profa. Elayne de Moura Braga)
As expectativas, de início, que nós atingimos, eu acho que foi justamente essa consolidação do curso. A gente almejava ter um corpo docente que colaborasse para que esse curso realizasse as ações para atingir os objetivos que propúnhamos no próprio projeto, e assim, entendendo que o curso é dinâmico e precisa estar em constante atualização. Esse corpo docente, os nossos técnicos, os próprios alunos participando das decisões e das atualizações, isso é muito interessante dentro do curso. A gente já vê por essa dinâmica. Nós já estamos no segundo projeto pedagógico em execução, mas já temos algumas perspectivas de alterações, por exemplo: a carga horária do curso, algumas unidades curriculares para terem atualização em ementas, em referências. Enfim, essa era uma perspectiva e estamos em um momento muito interessante de um curso, de um grupo de docentes, técnicos e discentes que trabalham juntos, para que essas ações do curso sejam bem-sucedidas.
E como expectativas não atingidas, justamente por essa dinâmica, nós temos algumas, destaco aqui: a questão de aumentar o corpo docente e a quantidade de técnicos no curso, por exemplo, além do ensino, da pesquisa e extensão. Nós temos algumas demandas administrativas que nos limitam, de certa forma, atingir, a realizar ações para as demandas pedagógicas como gostaríamos de realizar, por exemplo: nós temos quatro Laboratórios, uma brinquedoteca, o Laboratório de práticas de ensino pedagógico, o Laboratório de estudos audiovisuais e tecnologias aplicadas à educação e o Laboratório de matemática, ciências naturais e ciências da vida. No entanto, esses Laboratórios não estão funcionando como gostaríamos, como prevemos, porque, justamente, não temos a estrutura para que isso ocorra, então, a gente não vê a hora de ver esses ambientes funcionando numa dinâmica de atendimento ao público, tanto interno do curso e da Faculdade, mas também o público externo à universidade. Enfim, essas perspectivas visando vagas, visando atender às diretrizes nacionais de uma forma geral, além das especificidades da nossa região.
Licenciatura em Geografia (Prof. Douglas Sathler)
Nós almejamos sempre formar bons professores e, talvez, a gente tenha avançado bastante, em relação a várias coisas. Nós conseguimos estruturar um curso, consolidar um curso, com um corpo docente forte. Inclusive, naquela pesquisa do Estadão, o curso é nota máxima. É um dos poucos cursos da instituição que tem nota máxima. Eu acho que em grande parte isso se deve à qualidade dos nossos docentes e ao trabalho que a gente faz.
E uma expectativa frustrada é a redução do número de estudantes nos últimos anos, principalmente depois da pandemia. Está muito difícil convencer o jovem que a universidade vale a pena, que a universidade faz sentido. Mesmo a universidade sendo gratuita é caro estudar. Precisa de algum tipo de apoio, e este apoio não tem vindo, na maioria das vezes, por parte do governo, sobretudo, nos últimos quatro anos. Então, isso é algo que gera muita preocupação entre os docentes. As turmas estão bem reduzidas e isso com certeza é uma frustração muito grande, porque no início, tínhamos turmas grandes, e esperávamos manter isso ao longo dos anos, principalmente com a consolidação do curso.
Com as melhorias que a gente foi implementando ao longo do tempo, temos um curso mais estruturado. Só que por mais que os professores se esforcem e apresentem para os estudantes um curso mais consolidado, um curso melhor, a gente esbarra numa série de fatores contextuais e conjunturais que, infelizmente, minam o nosso trabalho. Mas por outro lado, eu acho que avançamos em muitos aspectos em relação à organização geral do curso. Algo que a gente sempre gostaria de ter tido era também a opção de oferecer o Bacharelado. E, atualmente, a gente está construindo um novo projeto pedagógico prevendo também a opção do Bacharelado. Então, isso era muito importante. Algo que se cogitou no início foi também a criação da pós-graduação, para melhorar a formação dos professores. Muito dos professores do curso estão, atualmente, credenciados em programas de pós-graduação, que oferecem mestrado e doutorado, seja dentro da FIH, seja em outras Faculdades da UFVJM, ou até mesmo em outras instituições federais. Então, acreditamos que avançamos muito, em muitas frentes, mas os desafios parecem ter ficado maiores nos últimos anos.
Bacharelado em Turismo (Profa. Virgínia Martins Fonseca)
Bom, essa pergunta eu acho que eu não consigo respondê-la. Isso envolve não apenas as minhas expectativas, mas também expectativas de outros colegas. Mas de forma geral, das expectativas que nós tínhamos com o início da implantação do curso, muitas se cumpriram, apesar de nem sempre dentro do tempo imaginado. Alcançamos os nossos objetivos de uma maneira bastante gradual e orgânica. Dialogando, de uma forma mais genuína, com a realidade do território que estamos inseridos. Na universidade, atualmente, destaco a questão mesmo do próprio projeto de Encontro de Saberes, que traz pra dentro da universidade esses saberes pluriepistêmicos e que são tão valiosos, tão significativos, tão potentes para todos os envolvidos. As expectativas que nós temos, atualmente, estão relacionadas à implantação de uma pós-graduação em nível de mestrado acadêmico. Este projeto já está bem avançado. A gente vislumbra um cenário bastante propositivo para 2024, com a implantação da revista científica, do desenvolvimento de projetos de extensão e de pesquisa. Acreditamos numa atuação institucional e regional da UFVJM mais intensa nos próximos anos, de uma maneira geral, principalmente considerando tempos de gestão mais sensíveis às questões da humanização como alicerce das relações. De alguma maneira, a gente vai buscando alcançar os nossos objetivos, na medida em que vamos realizando essa travessia. Temos vários docentes que já chegaram e já foram, vários alunos que já chegaram e já foram, e muitos docentes que chegaram e continuam aqui na casa. Tenho a impressão, que dentro do Turismo, estamos todos muito dispostos para contribuir com o curso e com a universidade.
Bacharelado em Humanidades (Prof. Atanásio Mykonios)
Em relação às expectativas existentes no início da implementação do curso, o que se desejou e o que não conseguimos atingir. É simples, eu almejei fundamentalmente fazer o BHU existir, sobreviver e viver e não consegui atingir este objetivo, de forma bem sucinta. Fracassamos, eu fracassei e, talvez, uma das coisas que mais me deixa desconfortável é o fato de que nós estávamos lidando. Eu particularmente estava lidando com dinheiro público, principalmente, com o dinheiro dos mais pobres, porque são esses que sustentam o Estado, que sustentam as universidades: 80% dos trabalhadores do Brasil ganham até três salários-mínimos e são esses que contribuem com aproximadamente 56% do que o Estado arrecada. Portanto, são trabalhadores mais pobres que sustentam todo Estado, todo aparato, toda máquina, toda estrutura estatal, inclusive, a educação. Então, eu me vejo nessa situação extremamente desconfortável porque não fomos capazes de oferecer, não só para os nossos estudantes, mas também aqueles que estão fora e que não conseguem entrar na universidade, que não conseguem ingressar, condições de ensino ousado, libertador, que tivesse um caráter social, que tivesse um caráter histórico, não apenas inclusão, mas de articulação dos conhecimentos científicos visando a uma interdisciplinaridade.
Então, essas expectativas foram frustradas nesse sentido. Não fui capaz de viver em um ambiente orgânico, de solidariedade, mais do que a amizade, de uma solidariedade no ambiente de trabalho. Esse eu acho que é outro elemento que eu não consegui atingir. As nossas relações internas são muito desgastantes, muito precárias, muito frágeis. Para ser sincero, também muito cínicas. É muito jogo nos bastidores. Há muitos jogos nos corredores, mas pouco enfrentamento para valer. Eu venho de uma época em que a luta política era cara a cara e a gente vivia debaixo de uma ditadura. Isso não faz parte mais das gerações. Então, nós temos muitas dificuldades em compreender a nossa importância social, política e histórica. Então, eu acho que não sei se almejei tantas coisas, mas almejei aquilo que era possível.
Licenciatura em História (Profa. Mônica Liz Miranda)
Com relação às expectativas, estas sempre foram boas, quase que épicas, pois é fundamental trazer conhecimento e seduzir as pessoas para o conhecimento, e ao mesmo tempo lutar contra uma estrutura histórica escravagista que ainda insiste em se estabelecer na sociedade, sobretudo, a diamantinense. Em parte, os desafios e realidades são bastantes, se estruturando de diversas maneiras. Uma das grandes questões que torna bem difícil a estruturação e relação universidade e sociedade, são as dinâmicas relacionais entre ambos os agentes.
Licenciatura em História (Prof. Rogério Pereira de Arruda)
Eu não fiz parte da equipe que elaborou a proposta do BHU e dentro dela a complemetação de estudos em Licenciatura, por isso, não tenho muitos elementos para discutir essa questão a fundo. O que posso dizer é que quando ingressei na universidade, em agosto de 2012, achava muito interessante o projeto do BHU, mas me causava certo estranhamento os cursos de Licenciatura não terem entrada própria. Falo isso porque já atuava na área há muitos anos e tinha sido coordenador de curso em outras instituições, quando tive oportunidade de discutir a formação em História e os currículos no início dos anos 2000. Naquele ocasião, estávamos rompendo com o modelo dos Estudos Sociais, e com a existência da Licenciatura Curta (para atuação no 1º Grau) e da Licenciatura Plena (para atuação no 2º Grau), bem como criticando a separação entre Bacharelado e Licenciatura na formação em História. As reformas se pautaram por uma formação em História plena, que considerasse a formação profissional desde os anos iniciais e que não fosse uma continuidade de outros estudos. E isso só podia ser efetivado se o curso garantisse aos discentes uma formação em História desde o primeiro período. Então, aqui na UFVJM, o estudante somente optava pela Licenciatura em História depois de cursar três anos, o que à luz das discussões já consolidadas da área me parecia problemático. Isso mudou nas reformas curriculares de 2018, quando a entrada nos respectivos cursos de Licenciatura da FIH passou a ser direta. Acho que isso foi uma conquista, pois me parece que era algo almejado por alguns integrantes da FIH quando começaram a discutir a implantação de cursos de Licenciatura na UFVJM.
Licenciatura em Letras (Profa. Juliana Leal)
Havia uma expectativa muito grande dessa formação interdisciplinar que o BHU oferecia. Mas à medida que foram entrando outros docentes, também com formações específicas, chegou-se à conclusão de que o melhor seria a entrada específica e não aquela formação básica contemplada naquela ideia inicial, que está posta lá na avaliação do MEC. Então, aquela grande expectativa do BHU como um curso de base, ela acabou. Ela se extingue e, então, começa-se um curso pela via clássica. Não posso dizer se isso foi positivo ou se foi negativo. Nunca houve uma discussão acerca disso. Provavelmente, os integrantes do NDE e até de professores que fizeram parte da comissão de reestruturação dos PPCs do curso de Letras, podem responder com mais clareza sobre.
Licenciatura em Letras (Fernanda Valim Côrtes Miguel)
O que almejamos, coletivamente, no início do funcionamento do curso foi, principalmente, a constituição de um corpo docente qualificado e, ao mesmo tempo, envolvido com os problemas de nossa região, que pudesse fomentar o pensamento crítico e participar ativamente do processo de construção deste curso, desta faculdade e desta universidade. Acredito que isso foi conquistado, em grande parte. Outra aposta importante passou pelo fortalecimento do curso através da proposta de sua unificação e entrada direta: acreditávamos na consolidação de uma identidade do curso e na ampliação de sua procura, com entrada maior de alunos. Quando nossa entrada era dependente do BHU, tínhamos uma baixa procura, talvez a menor delas entre as licentiaturas da FIH. Num primeiro momento, esta situação se reverteu positivamente, do modo como imaginávamos: nossa primeira turma com entrada direta foi quase total, com 60 alunos. No entanto, com o passar do tempo, a entrada de alunos voltou a cair vertiginosamente. Atribuo isso a vários fatores distintos: a decisão à entrada semestral ao invés de anual, por exemplo, mas, sobretudo, sem dúvida, à ausência radical de uma política de permanência universitária qualificada, como comentei anteriormente. Junto a tudo isso, o atravessamento da Pandemia da Covid-19 aliada ao governo neoliberal e neofascista de Bolsonaro, que minou toda e qualquer perpectiva de fortalecimento das universidades públicas do país, sobretudo aqui na UFVJM, uma universidade ainda em provesso de consolidação, em que tivemos (e ainda temos neste exato momento) o cargo da reitoria ocupada por reitor interventor, último lugar na consulta à comunidade acadêmica. Vivemos seis anos, com ênfase nos últimos quatro (2019-2022), de profundo retrocesso no país e, como espelho, em nossa universidade. O pensamento empresarial, o desprezo pelos cursos de licenciatura e pelas humanidades, o escandaloso desprestígio direcionado à formação de professores e à educação de maneira mais ampla, o desprezo pela ciência, o negacionismo, a falta de verbas, o desrespeito às decisões democráticas, as perseguições políticas, tudo isso fez parte de um projeto intencional de desmantelamento da universidade pública. Seus impactos foram mais sentidos em realidades como as da UFVJM, universidades ainda em processo de consolidação. Isso apenas reforça, a meu ver, a importância de sua (r)existência.
Dessa forma, ainda não conquistamos uma realidade almejada, no que se refere à entrada de alunos no curso, ocupando todas as vagas disponíves, e a formação plena desses estudantes, pois os índices de evasão ainda são grandes. Também ainda não conquistamos a vinda de técnicos para que pudéssemos manter nossos laboratórios permanentemente abertos ao público. Não conquistamos a existência de um departamento pedagógico e de políticas institucionais capazes de olhar para nossas necessidades específicas, enquanto curso, com inteligência, atenção e sensibilidade merecidas. Nosso atual projeto pedagógico ainda possui problemas que necessitam de resoluções e que esbarram na questão das horas práticas curriculares e na obrigatoriedade de oferta de muitas disciplinas da educação para as quais ainda não temos professores. Não conquistamos um suporte institucional minimamente adequado para a criação qualificada de um Centro de Idiomas na UFVJM e de consolidação de uma política concreta para as línguas estrangeiras, por exemplo, para que tivéssemos uma estrutura capazes de realizar exames de proficiência e ofertar tantos outros cursos. Ainda não temos nenhum curso de pós-graduação que pudesse dar continuidade a grande parte das pesquisas desenvolvidas no curso.
Licenciatura em Educação no Campo (Prof. Paulo Afrânio Sant´Anna)
Acredito que até então tudo o que estava proposto no projeto pedagógico foi implementado, mesmo com todas as dificuldades que se apresentaram no caminho, algumas questões foram reformuladas num primeiro instante e outras durante o percurso. Ademais, temos conseguido realizar o que propomos, com as dificuldades, os entraves administrativos, financeiros, pedagógicos. O que não significa que a gente não necessite repensar alguns aspectos e adotar novas estratégias para atingir outras metas em relação ao curso.
7) Qual a perspectiva de hoje em relação ao futuro do curso nos próximos 10 anos.
Licenciatura em Pedagogia (Profa. Elayne de Moura Braga)
Dez anos são muitos anos para um curso de graduação, mas eu acho, como perspectiva, que o curso dialogue cada vez mais com a educação básica, que ele atenda a sua função social, inserido aqui nessa região. O acesso à permanência dos discentes esteja mais firme, mais consolidado, que mantenhamos uma perspectiva de nos revisitar, que o curso reveja o seu projeto pedagógico, que ele seja constantemente atualizado, dialogue com a sociedade, que condiga com a realidade, com o momento histórico social e político. Em dez anos esperamos que o curso esteja consolidado, reconhecido e que desenvolva mais ações Interdisciplinares. Nós estamos em uma Faculdade Interdisciplinar em Humanidades, que essa Interdisciplinaridade ocorra não só nos cursos desta Faculdade, mas também em outros cursos da universidade. Enfim, que nós consigamos promover conhecimentos para que a educação seja realmente significativa, e que possibilite o desenvolvimento de cada ser humano que está nesse processo.
Licenciatura em Geografia (Prof. Douglas Sathler)
A perspectiva é de preocupação, mas também de otimismo. Preocupação com o contexto atual: muito poucos alunos entrando no curso, uma evasão ainda significativa, falta de recursos e falta de apoio para os estudantes. Então, a gente tem uma preocupação muita grande em relação a tudo isso. Mas de certa forma e, principalmente, por conta da mudança recente de governo e de diretrizes para educação no Brasil, existe um clima de otimismo. A gente tem maior confiança que as instâncias superiores, no nível de Ministério, principalmente, entendem a importância e o papel das universidades públicas no Vale do Jequitinhonha, e nas regiões em que estamos inseridos. Então, o que a gente espera é melhorar a entrada, reduzir a evasão. Para isso, precisamos de apoio tanto institucional (espero que este tipo de apoio seja mais presente nos próximos anos) e, principalmente, de apoio no nível do MEC. Isso é fundamental para amarrar algumas pontas e aparar algumas arestas, oferecendo condição de trabalho para que possamos continuar cumprindo a nossa missão como professores da UFVJM, que é ser um agente direto no desenvolvimento de uma região riquíssima culturalmente, mas que ainda carece de muitos recursos sociais e econômicos, sobretudo, recursos educacionais.
Bacharelado em Humanidades (Prof. Atanásio Mykonios)
O BHU praticamente está extinto, nós estamos com um novo curso, o Bacharelado em Ciências Humanas, e estamos prestes a aprovar uma mudança com a inclusão de um segundo ciclo profissionalizante na perspectiva das políticas públicas, uma formação específica nas áreas das políticas públicas. Foram muitos anos depois da implantação do curso, de muitos embates internos para a gente conseguir chegar a um denominador comum que pudesse minimamente satisfazer os interesses de um grupo de doze professores que é bem heterogêneo. Eu não saberia dizer com clareza quais são as perspectivas do curso para o futuro. Nós estamos em um curso e vamos remodelá-lo para que ele possa incluir um segundo ciclo dentro daquilo que hoje se tornou muito popular, as políticas públicas. A partir dos governos do PT, desde 2003 a 2016, as políticas públicas passam a ser alvo de interesse de muita gente. Inclusive, na nossa linha de pesquisa, dentro do programa de pós-graduação, a maior parte dos candidatos ingressantes tem como preocupação pesquisas relacionadas às políticas públicas. Então, eu vejo como algo promissor.
O grande desafio que eu vislumbro é em relação à formação destes estudantes dos ingressos no que diz respeito às políticas públicas, principalmente no que diz respeito à atuação na região do Vale. Sabemos que as prefeituras e municípios pequenos, de pequeno porte, têm muitas dificuldades porque são governados por caciques locais, por coronéis locais, por lideranças que conduzem a sua governança numa perspectiva muito personalista e, diante disso, a questão das políticas públicas é sempre um problema nessa perspectiva. Somente municípios de médio porte e vamos aqui dizer que no Vale do Jequitinhonha, o município com maior população é o de Diamantina, no alto do Jequitinhonha. Então, isso revela um problema, não só de inserção do curso, mas também de desenvolvimento, de uma estratégia pedagógica que instrumentalize os nossos egressos a fim de que possam atuar de forma objetiva e até mudando o curso daquilo que comumente nós encontramos nas políticas públicas na região. Agora, por outro lado, nós vamos ter também estudantes que vieram de outros centros e que terão, talvez, melhores condições de atuar. Mas eu vejo com bons olhos a nossa atuação e a perspectiva desse curso nos próximos dez anos.
Licenciatura em História (Prof. Rogério Pereira de Arruda)
Acredito que nos próximos dez anos o curso tem alguns desafios. Gostaria de destacar três. O primeiro é estabelecer uma forma contínua de divulgação do curso em Diamantina e nas cidades próximas, inclusive, nas demais áreas do Vale do Jequitinhonha. É preciso que docentes e discentes do ensino médio saibam que existe uma universidade em Diamantina que é pública, pois muitos não sabem. É necessário reconhecer que iniciativas já existem, acredito que elas devem continuar e serem ampliadas. Nessa divulgação, o curso de História tem que buscar seu espaço, tem que se apresentar como opção de formação, como uma profissão. E, claro, buscar se apresentar como alternativa no contexto regional e nacional, para proporcionar maior ocupação das vagas disponíveis. Turmas vazias é uma realidade preocupante. O segundo desafio, que é urgente, é rever o projeto pedagógico do curso. O atual é fruto da remodelação feita entre 2015 e 2018, em virtute da Resolução n. 02/CNE de 2015. Ele tem avanços importantes, porque garantiu a entrada direta dos discentes no curso, mas os últimos anos mostraram a necessidade de fazer alguns ajustes. O terceiro é ampliar seu quadro docente, pois temos uma realidade marcada por uma alta carga-horária de disciplinas da área de educação/preparação pedagógica, mas com um número reduzido de docentes, levando à dificuldades de fortalecer um trabalho de qualidade em que pesquisa, ensino e extensão sejam realmente articulados em prol da formação dos discentes. E tem algumas áreas que também precisam ser fortalecidas com a contratação de docentes, para que, principalmente, a pesquisa dentro do curso seja fortalecida. Acrescento um quarto desafio: a implantação de um mestrado em História. Isso dependerá de alguns fatores, entre eles, uma maior integração dos docentes no curso, a disponibilidade para um diálogo aberto e o efetivo engajamento com a pesquisa em História.
Licenciatura em Letras (Profa. Juliana Leal)
As expectativas estão absolutamente entrelaçadas à essa nova gestão presidencial. Creio que vai ter um caráter muito mais humanista, com mais recursos destinados à ciência, pesquisa e educação. Os últimos seis anos foram de extremo retrocesso educacional. Vimos tudo que lutamos para conseguir ser, aos poucos, deixado de lado. Vamos precisar de muito tempo para reconquistar novamente todos os nossos direitos.
Licenciatura em Letras (Fernanda Valim Côrtes Miguel)
A perspectiva para o curso de Letras para daqui há dez anos é de um otimismo comedido, mas esperançoso, que passa por um desejo de que o grupo seja capaz de se unir, de se fortalecer como curso, para além dos problemas internos e pessoais. Carregamos essa potência, ainda mal explorada e mal compreendida: um grupo grande e qualificado de professores, com um poder fantástico de realizar projetos importantes para a comunidade universitária, para a cidade e de toda a região dos Vales do Jequitinhonha. Idealizo a construção de um centro de idiomas forte, em diálogo permanente com o Nucli; de uma livraria e espaço cultural no campus JK; de uma editora da UFVJM; de uma sala permanente de cinema para toda a comunidade; de melhor usufruto dos espaços de nossos laboratórios; da abertura de cursos de pós-graduação; do fortalecimentos de projetos de pesquisa e extensão universitária que já existem e criação de outros mais; de um trabalho de equipe; realização de eventos com ampla participação; de um constante revisitar de nosso projeto pedagógico do curso, para que a gente compreenda melhor a realidade em que estamos inseridos e que possamos melhorar cada vez mais o entendimento em relação à função de um curso de licenciatura e formação de professores. Para que isso aconteça, um primeiro passo mais amplo já foi dado, expresso pela mudança de presidente, pela recusa ao autoritarismo e, em breve, pela mudança da reitoria, pela retomada da autonomia universitária e redemocratização mais ampla. Precisamos seguir lutando por mais verbas, pelo fortalecimento de nossa instituição, sobretudo pelos cursos de humanidades e licenciaturas, pela desburocratização da vida acadêmica e criação de um projeto de permanência estudantil e docente na UFVJM.
Licenciatura em Educação no Campo (Prof. Paulo Afrânio Sant´Anna)
Acredito que a perspectiva do curso é, primeiramente, encontrar um espaço institucional seguro, tanto do ponto de vista da gestão da universidade quanto da própria FIH. Um espaço em que entendam melhor as especificidades da LEC. É muito importante que o curso encontre seu espaço real dentro da universidade.
Uma outra expectativa é que o curso se expanda, que a gente possa abrir mais cursos na modalidade da alternância, cursos vocacionados às comunidades rurais do Vale do Jequitinhonha, do Norte e Nordeste de Minas. Sendo assim, esperançamos que, para além de abrir mais habilitações para a LEC, possamos oferecer mais graduações na modalidade de alternância com um olhar regional, com a preocupação com a cultura local, respeitando as especificidades da população que atendemos.
Outro ponto que se faz necessário é a facilitação do acesso à pós-graduação e à possibilidade que esta seja na modalidade da alternância. Entendo que é um grande desafio, mas também é um grande desejo!
Bacharelado em Turismo (Profa. Virginia Martins Fonseca)
Entendo que esta resposta está associada a questão anterior. De fato, estamos bem otimistas, seja com a elaboração do APCN Mestrado Acadêmico em Turismo e Territórios Protegidos, sob a coordenação do prof. Alan Faber do Nascimento, que conta comigo além das professoras Raquel Scalco, Camila Heleno e Maria Cláudia Magnani, buscando envolver como corpo docente permanente, colegas do Turismo, Geografia e História que dialogam com esta temática. Além disso, a comissão de criação da Revista Científica PATTTUR, que já está em fase final para realizar a primeira chamada de publicação. Estas ações estas interligadas com nosso grupo de pesquisa, que possui um site para maiores informações (patttur.com). Por fim, não podemos ignorar os projetos de ensino que vem sendo desenvolvidos, de forma interdisciplinar entre quase todos os docentes do curso, de Incentivo à Leitura, o Canal Turismo Consciência, que atuou de forma tão singular durante a pandemia, em que as transmissões geraram a publicação de um livro, assim como outras atividades extensionistas que estão fundamentando como se dará o processo de creditação da extensão universitária. Esperamos com este relato que o diálogo entre nossos colegas do Turismo, da FIH e da UFVJM seja cada vez mais profícuo, parabenizando esta organização pelo registro deste momento de forma tão cuidadosa e generosa.