Perspectivas e desafios para uma agenda de impacto na área de Ensino: um processo de construção

Resumo

Este estudo tem como objetivo aprofundar a discussão sobre o impacto na área de Ensino. Por meio de uma revisão da literatura e análise de documentos da Capes, busca evidenciar a diversidade de perspectivas e desafios associados à avaliação do impacto, tanto no âmbito acadêmico quanto social. O estudo destaca o papel fundamental do artigo científico na disseminação do conhecimento e na geração de impacto, sublinhando a necessidade de expandir o entendimento sobre os benefícios que as pesquisas proporcionam à sociedade. Além disso, enfatiza a importância de desenvolver um arcabouço teórico e metodológico capaz de abordar a avaliação multidimensional do impacto, considerando a complexidade e a diversidade dos contextos educacionais. Por fim, ressalta-se a necessidade de fomentar estratégias e políticas institucionais que promovam a produção de pesquisas com impacto significativo e possibilitem o monitoramento e a avaliação contínua de seus resultados.

Palavras-chave: ensino; impacto da pesquisa; avaliação; produção científica; artigo científico.

Perspectives and challenges for an impact agenda in the area of Education: a process of construction

Abstract

The aim of this study is to deepen the discussion on the impact on the area of Education. Through a literature review and analysis of Capes documents, it aims to highlight the diversity of perspectives and the challenges associated with assessing impact, both in the academic and social spheres. The study emphasizes the fundamental role of the scientific article in disseminating knowledge and generating impact, underlining the need to expand understanding of the benefits that research provides to society. It also emphasizes the importance of developing a theoretical and methodological framework capable of addressing multidimensional impact assessment, taking into account the complexity and diversity of educational contexts. Finally, it emphasizes the necessity of fostering institutional strategies and policies that promote the production of research with significant impact and make it possible to continuously monitor and evaluate its results.

Keywords: education; research impact; evaluation; scientific production; scientific article.

Perspectivas y desafíos para una agenda de impacto en el área de la Enseñanza: un proceso de construcción

Resumen

Este estudio tiene como objetivo profundizar la discusión sobre el impacto en el área de la Enseñanza. Mediante una revisión bibliográfica y un análisis de los documentos de Capes, busca evidenciar la diversidad de perspectivas y desafíos asociados a la evaluación del impacto, tanto en el ámbito académico como en el social. El estudio destaca el papel fundamental del artículo científico en la difusión del conocimiento y en la generación de impacto, subrayando la necesidad de ampliar la comprensión sobre los beneficios que las investigaciones aportan a la sociedad. Además, enfatiza la importancia de desarrollar un marco teórico y metodológico capaz de abordar la evaluación multidimensional del impacto, considerando la complejidad y diversidad de los contextos educativos. Finalmente, se resalta la necesidad de fomentar estrategias y políticas institucionales que promuevan la producción de investigaciones con impacto significativo y permitan el monitoreo y la evaluación continua de sus resultados.

Palabras clave: enseñanza; impacto de la investigación; evaluación; producción científica; artículo científico.

Introdução

A busca por impacto e internacionalização tem se consolidado como uma das principais transformações na ciência nas últimas décadas (Wood Junior; Wilner, 2023). De acordo com Lima (2023), a definição, mensuração e incorporação desse impacto como prática e cultura institucional ganhou força significativa nesse período. Essa mudança cultural em curso, que vem se intensificando nas instituições de pesquisa e ensino superior, demanda não apenas compreender esse conceito, mas também promovê-lo de maneira estratégica. Essa transformação, ainda em processo de debate, tem o potencial de moldar o futuro da produção e disseminação científica, redefinindo suas diretrizes e prioridades.

Nesse sentido, torna-se essencial discutir como a produção intelectual gerada por discentes e docentes na área de Ensino pode ser disseminada de forma ampla e significativa. Essa produção e a difusão do conhecimento constituem aspectos centrais para a avaliação do impacto, em termos do avanço científico e tecnológico.

Para disseminar as contribuições dessas pesquisas, é fundamental investir em processos de criação do conhecimento e de mobilização de caminhos para impacto (Lima, 2023). Sendo assim, destaca-se a importância da comunicação científica, por meio da publicação de artigos, considerando que “[...] o principal elemento que qualquer artigo científico deve apresentar e desenvolver ao longo do texto é a sua contribuição para o campo no qual ele está inserido” (Bispo, 2023, p. 2).

Além disso, é essencial ir além da mera divulgação dos resultados científicos, buscando evidenciar o potencial impacto social das pesquisas realizadas. Essa busca por um impacto mais abrangente tem sido objeto de debates na comunidade científica nacional e internacional (Bispo, 2023; Boer et al., 2015; Nakano; Muniz Júnior, 2018; Sandes-Guimarães; Hourneaux Junior, 2020). A identificação dos potenciais benefícios que a pesquisa pode trazer para a sociedade evidencia a relevância social da ciência e estimula a aplicação do conhecimento científico para a resolução de problemas.

Nessa perspectiva, avaliar o impacto das pesquisas desenvolvidas na área de Ensino é justificada pela necessidade de maior transparência e potencial de transformação social dos resultados científicos. Conforme Lima (2023), compreender e engajar-se na agenda de impacto da pesquisa implica reconhecer o papel transformador da ciência para a sociedade.

A necessidade de debates específicos para a criação dessa agenda, dos indicadores de avaliação de impacto e de inovação voltados para a área de Ensino é evidente, como aponta Coelho (2024a). Contudo, a complexidade inerente a essa avaliação, marcada por sua natureza dinâmica e multifacetada, exige a adoção de abordagens metodológicas rigorosas e a consideração de múltiplos fatores.

Dado o exposto, este estudo tem como objetivo apresentar uma discussão sobre o impacto acadêmico/científico, com ênfase na publicação de artigos, e no impacto educacional, frequentemente “[...] associado à produção de material didático ou de conteúdos que apoiam e inovam processos de ensino e aprendizagem” (Wood Junior; Wilner, 2023, p. 2), evidenciando tais iniciativas como exemplos concretos. Com isso, busca-se contribuir para a compreensão e promoção do impacto educacional e social que podem ser gerados, especialmente, por meio do desenvolvimento e implementação de processos e produtos educacionais, integrados à pesquisa científica de rigor e qualidade.

Para tanto, aborda-se o conceito de impacto, sua relevância e principais desafios para comunicar os benefícios sociais da pesquisa, à luz dos critérios definidos por documentos norteadores da Capes (Brasil, 2019a, b, c). Essas diretrizes são complementadas por definições de diferentes estudos, analisados e relacionados por meio de uma revisão crítica (Alla et al., 2017; Bispo, 2023; Coelho, 2024a, b; Boer et al., 2015; Lima, 2023; Mendes-da-Silva, 2020; Nakano; Muniz Júnior, 2018; Sandes-Guimarães; Hourneaux Junior, 2020; Wood Junior; Wilner, 2023).

Impacto e construção da ciência

A literatura apresenta diferentes perspectivas e definições sobre o impacto aplicado aos resultados de pesquisas, evidenciando a diversidade de entendimentos sobre o tema. Observa-se que não há um consenso acerca de uma definição única para o termo (Brasil, 2019a; Lima, 2023; Sandes-Guimarães; Hourneaux Junior, 2020), o que configura um desafio para o planejamento e a avaliação abrangente desse fator.

O termo impacto é considerado um construto multidimensional (Coelho, 2024a; Wood Junior; Wilner, 2023) e polissêmico, permitindo várias interpretações (Coelho, 2024a). “Além disso, ele pode ocorrer ao longo do tempo, sendo resultado de múltiplas interações com diferentes agentes. A medição, também, pode absorver tempo e recursos consideráveis” (Wood Junior; Wilner, 2023, p.16).

A diversidade de conceitos de impacto reflete a complexidade de sua avaliação, que depende da natureza da pesquisa, do tipo de contribuição gerada e das perspectivas dos diferentes atores envolvidos (Sandes-Guimarães; Hourneaux Junior, 2020). Essa heterogeneidade demanda a compreensão e a aplicação de metodologias adaptadas a cada contexto, considerando as especificidades de cada área do conhecimento e os objetivos da pesquisa.

Sandes-Guimarães e Hourneaux Junior (2020, p. 283) afimam que o impacto da ciência na sociedade ganhou mais força nas últimas duas décadas, tendo em vista alguns fatores principais:

i) demanda por transparência dos investimentos em pesquisas financiadas com recursos públicos, principalmente em termos dos resultados gerados; ii) preocupação mais significativa com o uso de evidências científicas para apoiar a tomada de decisões (tanto no setor público quanto no empresarial; iii) e a necessidade de demonstrar como a pesquisa está contribuindo para os grandes desafios da sociedade - em outras palavras, sua relevância e impacto na sociedade - e não apenas para a ciência em si (Sandes-Guimarães; Hourneaux Junior, 2020, p. 283).

Alla et al. (2017), por meio de uma revisão sistemática, identificaram quatro categorias principais de definição de impacto da pesquisa: i) em termos de mudanças positivas ou efeitos decorrentes da aplicação das evidências em políticas e práticas; ii) como resultados mensuráveis; iii) definido por métricas bibliométricas; e iv) baseado no uso efetivo dos resultados da pesquisa.

De maneira geral, o impacto é tratado

como algum tipo de contribuição, influência, valor, mudança, efeito ou benefício que a pesquisa científica traz para a sociedade em suas mais diversas esferas (econômica, social, saúde, políticas públicas, etc.), direta ou indiretamente (Sandes-Guimarães; Hourneaux Junior, 2020, p. 284).

Lima (2023) corrobora, evidenciando definições como consequências ou efeitos da pesquisa. Para a autora (2023, p. 68), “esses efeitos são multifacetados e complexos, e variam significativamente ao longo do tempo e entre as comunidades envolvidas”.

Em suma, o impacto pode originar-se tanto do processo de pesquisa quanto de seus resultados, apresentando-se como positivo ou negativo, potencial ou real, direto ou indireto. Além disso, pode ser classificado por diferentes tipos ou naturezas, manifestar-se em variados tempos e escalas (imediato, curto, médio e longo prazo) e abranger múltiplos níveis de alcance (local, nacional ou internacional) (Brasil, 2019a, b, c; Coelho, 2024a; Lima, 2023; Wood Junior; Wilner, 2023).

De acordo com o documento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) (Brasil, 2019a, p. 49), o impacto “representa o resultado, consequências ou benefícios percebidos pela sociedade, causado pela introdução de produtos e tecnologias desenvolvidos na pós-graduação”. Nesse contexto, o impacto “necessita ser demonstrado a partir dos seus resultados e efeitos, a médio e longo prazo, em termos de avanço do conhecimento científico e tecnológico na área, bem como nas repercussões das investigações na qualidade do ensino brasileiro” (Brasil, 2019a, p. 10).

Portanto, para que uma saída da pós-graduação possa gerar impacto na sociedade ela necessita resultar num conjunto de benefícios percebidos pelos utilizadores, ou seja, satisfazer duas condições simultaneamente: 1) deve ser percebida como algo relevante, preenchendo uma lacuna e solucionando problemas; 2) apresentar resultados (sob a forma de ideias, produtos e serviços) com desempenho satisfatório (Brasil, 2019b, p. 15).

Nesse cenário, é importante ter em conta definições relacionadas aos termos benefício e relevância. Os benefícios são compreendidos como o conjunto de ganhos reais, percebidos pelo público ao fazer uso de um determinado produto. De acordo com Lima (2023, p. 56), “a criação de benefícios e valor social advindos da pesquisa científica é resultado de um processo que pode acontecer durante todo o ciclo da pesquisa, não apenas vinculado aos seus resultados ou publicações [...]”. Por outro lado, a relevância/importância é uma atribuição exclusiva do indivíduo utilizador e não do autor da obra (Capes, 2019a).

A documentação analisada também destaca a importância de distinguir entre o impacto potencial e real de uma pesquisa. O impacto potencial refere-se às expectativas dos pesquisadores (docentes e discentes) em relação aos resultados de suas investigações e a geração de impactos expressivos na sociedade, enquanto o impacto real se concretiza quando os produtos oriundos da pesquisa são efetivamente utilizados pelo público-alvo (Brasil, 2019a).

Nesse sentido, é importante ressaltar que a avaliação do impacto deve levar em conta a análise de uma perspectiva temporal abrangente, pois alguns efeitos podem surgir a longo prazo, possibilitando maiores chances de captar a trajetória de impacto de maneira mais efetiva. Essa necessidade de considerar diferentes escalas temporais é evidenciada tanto nos documentos da Capes, como por outros estudiosos (Brasil, 2019a, b; Coelho, 2024a; Lima, 2023; Wood Junior; Wilner, 2023).

Acredita-se que a compreensão dos diferentes termos aqui mencionados pode auxiliar o pesquisador a estruturar o que almeja alcançar com seu produto educacional, evidenciado por meio de resultados, efeitos, benefícios, contribuições atreladas ao processo formativo, aprendizagem de conteúdos, desenvolvimento de habilidades, de acordo com os objetivos da pesquisa (Coelho, 2024a).

Desafios para fomentar impactos práticos

Conforme destacado por Wood Junior e Wilner (2023), a produção acadêmica tradicionalmente se concentra em temas originados no âmbito acadêmico e desenvolvidos dentro de disciplinas específicas, encerrando-se com a publicação em revistas científicas voltadas para pesquisadores. Essa abordagem, embora importante, pode limitar a interação entre a pesquisa e a sociedade. Sendo assim, os autores reforçam a necessidade de “[...] fomentar os impactos práticos – organizacionais, sociais e em políticas públicas – em paralelo com os impactos acadêmicos – científicos e educacionais” (Wood Junior; Wilner, 2023, p. 15).

Trata-se de uma demanda relevante, contudo, são evidenciados diferentes desafios relacionados à complexidade da avaliação do impacto da pesquisa, tanto em sua concepção, como operacionalização. A avaliação do impacto social se constitui matéria complexa, especialmente, devido ao fato de que, “[...] é difícil isolar o que de fato é resultado de pesquisa e o que são fatores externos que podem afetar os resultados” (Wood Junior; Wilner, 2023, p. 4).

Considerando o contexto da área de Ensino, evidenciam-se alguns desses desafios. Inicia-se essa reflexão levando em conta que “[...] nas humanidades (entendidas aqui como o conjunto das áreas do saber que são classificadas como ciências humanas, ciências sociais aplicadas, letras e artes) os impactos são mais intangíveis do que nas ditas ciências exatas”[2] (Brasil, 2019a, p. 10). De acordo com Coelho (2024a), os impactos da investigação nas áreas de Artes e Humanidades são difíceis de identificar e mensurar, devido à falta de indicadores e critérios qualitativos específicos que possam auxiliar na análise dos dados.

Um desafio adicional refere-se à avaliação do impacto dos produtos educacionais, um processo multifacetado e complexo, especialmente quando considera-se a necessidade de acompanhar os resultados em diferentes escalas temporais (impacto imediato, curto, médio e longo prazo). Como apontado por Lima (2023), alguns efeitos podem levar mais tempo para se manifestar. Diante desse cenário, e considerando a área de Ensino, como garantir uma avaliação contínua, após a conclusão da pesquisa, para mensurar os impactos de médio e longo prazo? E quem seriam os responsáveis por monitorar esses impactos na aprendizagem, a médio e longo prazo?

A percepção de relevância, que varia significativamente entre discentes e docentes, também torna complexa a avaliação de impacto. Essa subjetividade dificulta a generalização dos resultados (Brasil, 2019a, p. 14). “Daí se infere a dificuldade da mensuração dos benefícios proporcionados por uma saída da pós-graduação, pois, para cada público-alvo destinatário da solução, a percepção de benefício será diferente”.

O acompanhamento contínuo das contribuições desses produtos educacionais exige a colaboração de diversos atores, como discentes, docentes e a própria instituição. Nesse cenário ressaltam-se os desafios enfrentados, como a falta de preparo institucional para oferecer suporte aos pesquisadores, a escassez de recursos e o baixo investimento em áreas como as humanidades.

Com o intuito de potencializar o impacto social desses produtos e das pesquisas atreladas, é necessário desenvolver ações estratégicas que envolvam a instituição, egressos e outros atores sociais. Essas ações devem incluir atividades concretas, como a criação de mecanismos para a geração, comunicação e disseminação do conhecimento, realizadas em intervalos de tempo definidos, a identificação dos potenciais tipos de impactos sociais gerados e indicadores para sua avaliação.

Impacto das pesquisas oriundas da pós-graduação

Nesta seção, discute-se a avaliação do impacto de duas saídas de um programa de pós-graduação, especialmente no âmbito profissional: artigos científicos e produtos educacionais. Nesse sentido, o impacto “[...] designa uma medida de quanto uma saída da pós-graduação é capaz de gerar efeitos positivos para uma coletividade quando a solução estiver disponível para uso” (Brasil, 2019a, p.15). Para tanto, é fundamental refletir sobre como ampliar a disseminação dos resultados e o impacto desses resultados, a fim de evidenciar a aplicabilidade prática e a resolução de problemas reais, buscando a melhoria contínua dos processos de ensino e aprendizagem, tanto em ambientes formais quanto informais. O impacto, seja ele imediato ou de longo prazo, pode ser observado em diferentes níveis, desde a aprendizagem de conteúdos até o desenvolvimento de habilidades.

Vale ressaltar que o impacto é um dos eixos apontados pelos documentos norteadores para avaliação do produto educacional. Para avaliar esse eixo faz-se necessário compreender a demanda (o motivo e relevância da criação), o objetivo da pesquisa (o foco de aplicação do produto) e a área impactada pela pesquisa, possibilitando avaliar em quais áreas podem ser percebidas as mudanças (Brasil, 2019c).

Sendo assim, avaliar as contribuições alcançadas (impactos) desses produtos pode contribuir para a melhoria contínua dos processos de ensino e aprendizagem e atender a demandas da educação contemporânea. Essa avaliação considera múltiplas dimensões, tais como as repercurssões na prática pedagógica, a abrangência do uso, a facilidade de acesso, a aplicabilidade em diferentes contextos, a aderência às necessidades dos usuários, o grau de inovação, a possibilidade de replicação em outros ambientes, a complexidade da implementação, o alinhamento com as diretrizes dos programas de pós-graduação, entre outros aspectos. A análise dessas dimensões permite identificar as contribuições efetivas dos produtos e direcionar futuras ações de desenvolvimento (Coelho, 2024b).

Diante da relevância dos produtos educacionais para a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem, a divulgação dos resultados das pesquisas nessa área torna-se fundamental. A publicação em revistas científicas, após a defesa, emerge como um mecanismo eficaz para compartilhar o conhecimento gerado com a comunidade acadêmica e a sociedade em geral, gerando um impacto inicial significativo. No contexto atual, marcado por uma nova sistemática de classificação da produção intelectual, esse veículo de divulgação adquire ainda mais destaque, consolidando-se como um canal privilegiado para a disseminação de novas práticas e conhecimentos na área do Ensino[3].

É fundamental que os artigos científicos evidenciem, de forma clara, o desenvolvimento, a aplicação e a avaliação dos produtos educacionais, fundamentando-se em dados rigorosos e em um referencial teórico sólido (Coelho, 2024a, b). Nesse contexto, a formulação de questões de pesquisa capazes de identificar as contribuições e limitações desses produtos torna-se essencial para assegurar a relevância e a aplicabilidade dos resultados.

De acordo com Coelho (2024a), essa abordagem busca favorecer a avaliação do impacto com base em indicadores previamente estabelecidos, contribuindo de forma significativa para a construção do conhecimento na área e para a disseminação de práticas contextualizadas. Considerando que o desenvolvimento de produtos educacionais é um processo complexo, a avaliação de seu impacto é igualmente indispensável.

Isso implica coletar evidências sobre a sustentabilidade dos efeitos das intervenções e fornecer informações sobre o que funciona e o que não funciona, considerando os objetivos, as circunstâncias e as dimensões envolvidas. Além disso, visa informar possibilidades de expansão, modificação e replicação de processos e produtos (Coelho, 2024a, p. 9).

Com essa abordagem, busca-se transcender os limites da academia, podendo abranger uma potencial avaliação de impactos sociais, culturais, políticos e/ou ambientais, permitindo um alinhamento mais assertivo da pesquisa com as demandas da sociedade. Apesar do reconhecimento da importância de uma ciência mais responsiva às necessidades sociais e de fomentar impactos multidimensionais, como defendem Wood Junior e Wilner (2023), ainda há muito a ser feito. É preciso aprofundar os debates para orientar os pesquisadores na busca por esses impactos e criar as condições institucionais que os suportem.

Nesse contexto, ressalta-se o fato de que avaliar o impacto social, a partir das pesquisas e dos produtos educacionais gerados, não é uma atividade trivial (Brasil, 2019a). Trata-se de uma tarefa complexa, que demanda a identificação, a mensuração e a comunicação das transformações e contribuições geradas pela pesquisa na sociedade, o que exige um olhar crítico e reflexivo, bem como a adoção de metodologias específicas e a consideração de diversos fatores sociais, culturais e históricos.

Conforme aponta Lima (2023), a resistência à avaliação do impacto social no ambiente acadêmico ainda é um desafio a ser superado[4]. Para avançarmos nesse sentido, é necessário aprofundar a discussão sobre conceitos e indicadores de impacto, bem como desenvolver metodologias robustas para a sua mensuração. Como afirma Coelho (2024a), a adoção de abordagens multidimensionais, que envolvam planejamento criterioso e metodologia rigorosa, é fundamental para promover melhorias significativas nesse processo.

Diante da complexidade apontada, a pesquisa na área de Ensino se destaca como um campo fértil para reflexões sobre o impacto da produção científica. Para que isso ocorra, é fundamental que se estabeleça uma agenda de impacto que guie os estudos, permita avaliar a efetividade das ações, além de identificar os possíveis caminhos para impacto. Segundo Lima (2023, p. 56), os caminhos para impacto “são os processos de criação e mobilização do conhecimento que auxiliam na realização dessas mudanças” e “[...] incluem iniciativas relacionadas à comunicação científica, cocriação, disseminação e exploração da pesquisa, incluindo comercialização e transferência de tecnologia”. Identificar esses processos faz parte dessa agenda.

Nesse sentido, a definição e a avaliação do impacto social das pesquisas e produtos educacionais emergem como questões cruciais, a serem debatidas nos programas de pós-graduação, contemplando como essa prática será adotada e quais atores serão responsáveis por sua condução e manutenção.

Isso implica o desenvolvimento de novas abordagens de avaliação para auxiliar na avaliação dos efeitos sociais das pesquisas e produtos educacionais. Essa tarefa demanda a consolidação de conceitos-chave, a mobilização de recursos e a adoção de estratégias diversificadas de investigação.

Inicialmente, pode-se propor a adaptação de modelos de avaliação às especificidades da área, considerando critérios, métodos, expectativas e prioridades próprias do campo, incorporando múltiplas dimensões do impacto que transcendem a simples mensuração por indicadores. Essa adaptação exige a valorização de abordagens qualitativas e a aceitação da subjetividade inerente à avaliação de fenômenos complexos e multidimensionais.

Diante desse cenário, destaca-se a importância do posicionamento institucional junto à comunidade como um catalisador para a adoção do impacto social. É fundamental reconhecer que o esforço de gerar impacto social não se restringe aos pesquisadores, tampouco precisa ser uma exigência individualizada.

Para tanto, é necessário construir um ecossistema que o incentive e o sustente. Isso envolve criar uma cultura institucional que valorize a geração de impacto e investir em políticas, estruturas e recursos que possibilitem a todos os projetos alcançarem seu potencial máximo de transformação social. Além disso, a área de conhecimento deve estabelecer diretrizes claras sobre quais iniciativas podem contribuir para o impacto social nesse campo (Lima, 2023).

Conclusões, implicações e pesquisas futuras

Este estudo buscou contribuir para o debate sobre o impacto das pesquisas em Ensino, estimulando a reflexão sobre como definir e mensurar esse impacto tanto no âmbito acadêmico quanto na sociedade. Com base nas discussões apresentadas, o estudo conclui que o artigo científico, enquanto principal produto da pesquisa, desempenha um papel fundamental na disseminação do conhecimento e na geração de impacto.

Com base na discussão, ressalta-se a necessidade de um olhar atento, reflexivo e crítico para avaliar o impacto das pesquisas, processos e produtos desenvolvidos, buscando identificar as contribuições e as mudanças geradas pela pesquisa. Ao definir intencionalmente uma agenda de impacto, podemos estimular a busca por evidências que demonstrem o valor social das pesquisas e dos produtos educacionais desenvolvidos.

A diversidade de definições para o termo impacto evidencia a necessidade de um marco conceitual claro e de estratégias específicas para fomentar, medir, avaliar e comunicar os resultados das pesquisas em Ensino. A complexidade inerente a essa avaliação exige uma mudança de paradigma, tanto epistemológica quanto atitudinal. Dessa forma, as instituições podem adotar estratégias e iniciativas que promovam a geração de impacto, incentivando modelos de produção de conhecimento mais orientados para a prática e a criação de instrumentos de avaliação inovadores e contextuais, que possam abarcar as especificidades da área.

As discussões apresentadas abrem caminho para futuras pesquisas que explorem abordagens inovadoras para avaliação do impacto das produções científicas na área de Ensino, considerando a complexidade e a diversidade dos contextos em que são aplicadas. Estudos podem aprofundar o desenvolvimento de modelos integrados de avaliação de impacto, que combinem indicadores quantitativos e qualitativos, e que incorporem as perspectivas de diversos atores envolvidos no processo (pesquisadores, gestores, educadores e comunidades beneficiadas).

Referências

ALLA, K. et al. How do we define the policy impact of public health research? a systematic review. Health Research Policy and Systems, [S. l.], v. 15, n. 1, 2017. Disponível em: https://health-policy-systems.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12961-017-0247-z. Acesso em: 8 jan. 2025.

BISPO, M. S. Contribuições teóricas, práticas, metodológicas e didáticas em artigos científicos. Revista de Administração Contemporânea, [S. l.], v. 27, n. 1, e220256, 2023. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rac/a/gvLGLDq49hfqkcgg3z4jrMD/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 8 jan. 2025.

BOER, H. et al. Making a meaningful contribution to theory.International Journal of Operations & Production Management, Denmark, v. 35, n. 9, p. 1231-1252, 2015. Disponível em: https://vbn.aau.dk/ws/portalfiles/portal/219125921/ijopm_2015_boer_et_al_om_theory.pdf. Acesso em: 8 jan. 2025.

BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES. GT impacto e relevância econômica e social: relatório final de atividades. Brasília, DF: CAPES, 2019a. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/2020-01-03-relatorio-gt-impacto-e-relevancia-economica-e-social-pdf/view. Acesso em: 5 dez. 2024.

BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES. Documento de Área – Ensino. Brasília, DF: CAPES, 2019b. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/ENSINO.pdf. Acesso em: 5 dez. 2024.

BRASIL. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES. Grupo de trabalho Produção Técnica. Brasília, DF: CAPES, 2019c. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/10062019-producao-tecnica-pdfAcesso em: 5 ago. 2024.

COELHO, I. M. W. S. Estratégias para a elaboração de perguntas de pesquisa científica e recuperação de informações no contexto educacional. Cadernos de Pesquisa, Maranhão, p. 1–24, 2024a. Disponível em: https://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/cadernosdepesquisa/article/view/23654. Acesso em: 19 dez. 2024.

COELHO, I. M. W. S. Desenvolvimento e avaliação de produtos educacionais na pós-graduação profissional em Ensino: metodologias e desafios emergentes. Revista Ensino em Debate, Fortaleza, v. 2, p. e2024039, 2024b. Disponível em: https://revistarede.ifce.edu.br/ojs/index.php/rede/article/view/82. Acesso em: 4 dez. 2024.

LIMA, G. M. R. Práticas Institucionais de Adoção do Impacto Social da Pesquisa. In: MARCOVITCH, J. (org.). Repensar a Universidade III: Saberes e Práticas. São Paulo: Com-Arte; Fapesp, 2023. p. 55-73.

MENDES-DA-SILVA, W. Lessons that can be learned from the rejection of an article. Revista de Administração Contemporânea, Paraná, v. 24, n. 4, p. 369-375, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rac/a/y6h83M57x9DxYVHQtKLqrtq/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 8 jan. 2025.

NAKANO, D.; MUNIZ JUNIOR, J. Writing the literature review for empirical papers.

SANDES-GUIMARÃES, L. V.; HOURNEAUX JUNIOR, F. Research impact – what is it, after all? Editorial impact series part 1.RAUSP Management Journal, [S. l.], v. 55, n. 3, p. 283-287, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rmj/a/Q6yvK3FXQdDVtfJb456GKYm/?format=pdf&lang=en. Acesso em: 7 jan. 2025.

WOOD JUNIOR, T.; WILNER, A. Impacto multidimensional da pesquisa: desenvolvimento e teste de um modelo para avaliação. Cad. EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 21, n. 5, e2022-0258, 2023. Disponível em: https://scielo.br/j/cebape/a/wMwB9tCJr7gKtfPztXmcRpK/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 7 jan. 2025.