Artigos
Recepção: 20 Maio 2024
Aprovação: 25 Junho 2024
Resumo: O artigo apresenta o desenho didático arquitetado para o desenvolvimento do clube de leitura EscreVivências Ciberfeministas. O clube é fruto da pesquisa desenvolvida no Estágio de Pós-Doutorado junto à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que teve como objetivo forjar atos de currículo através da criação de um novo dispositivo de pesquisa-formação na cibercultura realizado no segundo semestre de 2023. O clube de leitura EscreVivências Ciberfeministas contou com participantes sujeita/e/os graduandos da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e docentes da rede pública e privada da educação básica. O percurso metodológico se ancora nos aportes da pesquisa-formação, com bases epistêmicas inspiradas na multirreferencialidade, na cibercultura e nos estudos dos/com/nos cotidianos. Trazemos apontamentos sobre a importância da estruturação de cursos on-line pensados a partir da perspectiva de promoção de situações de aprendizagem, pautados na interatividade e hipertextualidade.
Palavras-chave: ciberfeminismo, clube de leitura on-line, pesquisa-formação na cibercultura.
Abstract: The article presents the didactic design devised for the development of the Cyberfeminist Writing Club. The club is the result of research conducted during a Postdoctoral Internship at the Federal Rural University of Rio de Janeiro (UFRRJ), aimed at shaping curriculum actions through the creation of a new research-training device in cyberculture carried out in the second semester of 2023. The Cyberfeminist Writing Club had participants including undergraduate students from UFRRJ and teachers from public and private basic education. The methodological approach is anchored in the contributions of research-training with epistemic bases inspired by multireferentiality, cyberculture, and studies of everyday life. We provide insights into the importance of structuring online courses from the perspective of promoting learning situations based on interactivity and hypertextuality.
Keywords: cyberfeminism, online reading club, research-training in cyberculture.
Resumen: El artículo presenta el diseño didáctico ideado para el desarrollo del club de lectura EscreVivências Ciberfeministas. El club es el resultado de la investigación llevada a cabo durante una etapa de posdoctorado en la Universidad Federal Rural de Río de Janeiro (UFRRJ), que tuvo como objetivo forjar acciones curriculares mediante la creación de un nuevo dispositivo de investigación-formación en cibercultura realizado en el segundo semestre de 2023. El club de lectura EscreVivências Ciberfeministas contó con la participación de estudiantes de pregrado de la UFRRJ y profesores de la red pública y privada de educación básica. El enfoque metodológico se basa en las contribuciones de la investigación-formación con bases epistémicas inspiradas en la multirreferencialidad, la cibercultura y los estudios de los cotidianos. Se ofrecen reflexiones sobre la importancia de la estructuración de cursos en línea desde la perspectiva de promover situaciones de aprendizaje basadas en la interactividad y la hipertextualidad.
Palabras clave: ciberfeminismo, club de lectura en línea, investigación-formación en cibercultura.
Introdução
Com a intensificação do uso das tecnologias digitais em rede, diversos cenários surgem e se fortalecem em linguagens multimodais e hipermidiáticas. A cibercultura é a cultura contemporânea mediada pelo digital em rede, expressa em novas práticas sociais, organização, modos de comunicação e maneiras de viver e estar no ciberespaço (S
Com a intensificação do uso das tecnologias digitais em rede, diversos cenários surgem e se fortalecem em linguagens multimodais e hipermidiáticas. A cibercultura é a cultura contemporânea mediada pelo digital em rede, expressa em novas práticas sociais, organização, modos de comunicação e maneiras de viver e estar no ciberespaço (Santos, 2019). Este, por sua vez, não está apartado dos territórios físicos e informacionais, compondo um cenário sociotécnico e cultural entremeado por suas relações simbólicas e subjetiva (Levý, 2010). Compreendendo essa relação, diferentes acontecimentos e emergências revelam-se e tornam-se, para nós, que realizamos pesquisas na relação cidade-ciberespaço, um fenômeno a ser compreendido e estudado.
Um dos fenômenos que buscamos compreender em nossas pesquisas e que vem ganhando destaque nos últimos anos são os clubes de leitura on-line. O intuito do texto aqui apresentado está em descrever a construção do desenho didático do dispositivo de pesquisa criado durante o estágio de pós-doutorado realizado no ano de 2023 junto ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, a partir da linha de pesquisa ‘Docência e Cibercultura’, junto à participação no Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura, liderado pela professora Doutora Edméa Santos.
O objetivo geral da pesquisa realizada foi edificar um novo dispositivo de pesquisa-formação na cibercultura com docentes atuantes e professores em formação da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, o clube de leitura EscreVivências Ciberfeministas. Para tanto, buscamos arquitetar conteúdos e situações de aprendizagens construindo um desenho curricular pautado em interações síncronas e assíncronas. A questão central em torno da qual girou a pesquisa foi: como forjar um novo dispositivo de pesquisa-formação na cibercultura a partir dos diferentes usos do digital em rede e como a docência on-line pode estar articulada nesse processo?
Partindo da compreensão do fenômeno que emerge na cultura, procuramos, em um primeiro momento, mapear e entender a dinâmica da construção de clubes de leitura on-line para, em seguida, criar o novo dispositivo no âmbito da universidade. A pesquisa teve como abordagem metodológica a pesquisa-formação na cibercultura (Santos, 2009; 2019; 2020; 2022; 2023), eixo orientador para o estudo que possui bases epistêmicas inspiradas na multirreferencialidade (Ardoino, 2012; Macedo, 2009; 2015; 2020), nos estudos com o/nos cotidiano (Santos, 2019; Certeau, 1994) e na cibercultura (Santaella, 2013; Santos, 2019; Levý, 2010).
Dialogamos com os estudos do ciberfeminismo (Fernandes et al., 2022; Hollanda, 2018) interseccionando pautas do feminismo negro (Carneiro, 2023; Akotirene, 2018; Kilomba, 2019; hooks, 2019; Gonzalez, 2020) nas discussões do estudo para compreender e pensar nas formas de violência, subjugação e interdições a que mulheres negras estão expostas em nossa sociedade e fazer/pensar em maneiras de ir além da denúncia dessas situações, caminhando para o anúncio de novas possibilidades de emancipação, criação e autoria de mulheres a partir da leitura de livros literários protagonizados e escritos por mulheres negras.
Os clubes de leitura on-line se edificam com a participação de pessoas geograficamente dispersas e com interesses em comum a partir da possibilidade do encontro para leitura, discussão e partilha sobre uma obra estudada. Essas práticas, que acontecem na relação cidade-ciberespaço, são frutos de atividades interconectadas de seres humanos e objetos técnicos que acontecem nas relações cotidianas.
Buscando aproximar essa relação que emerge das práticas culturais habituais das atividades pedagógicas de ensino e aprendizagem universitária, criamos o clube de leitura on-line supracitado, no âmbito da universidade, como prática extensionista, lendo e discutindo a obra Olhos d’água, de Conceição Evaristo, para fazer/pensar em estratégias e papéis de atuação, repertórios e formas de engajamentos de sujeita/e/os em uma sociedade cisheteropatriarcal, marcada pelo racismo em sua estrutura.
Introduzimos o debate do artigo apresentando a proposição do estudo realizado que se materializa em torno da criação de um novo dispositivo de pesquisa-formação na cibercultura, o Clube de Leitura EscreVivências Ciberfeministas. Em seguida, dissertamos sobre o feminismo negro pensado nas relações que acontecem na conexão cidade-ciberespaço. Progredimos apresentando a itinerância metodológica que se ancora na pesquisa-formação na cibercultura. Adiante, apresentamos o novo dispositivo criado no contexto da pesquisa realizada junto ao seu desenho didático e, por fim, apontamos caminhos e aberturas possíveis diante da ambiência formacional forjada a partir da criação do dispositivo de pesquisa-formação na cibercultura.
Ciberfeminismo negro
O cenário sociotécnico em que vivemos está caracterizado pela contingência do ciberespaço, processo marcado pela aceleração de processos de fluxos globais definido pela compressão do tempo e espaço em decorrência da criação de uma ambiência de sociabilidade virtual conectada. Novas formas de relações são arquitetadas, culminando em novos delineamentos para a sociedade (Santos, 2019) no que tange aos processos econômicos, profissionais, sociais, políticos e educacionais.
O (ciber)feminismo negro se apresenta como prerrogativa para o diálogo com as diferentes vozes de mulheres e aliades que buscam na articulação e mobilização de saberes no ciberespaço cocriar formas de expressão através de narrativas e relatos pessoais que transcendam a legitimação de uma história única. Nesse sentido, o feminismo negro se identifica como uma marcação que vai além das questões pautadas pelo feminismo, destacando as ausências, desigualdades, silenciamentos e violências a que mulheres negras são expostas e que se tornam invisibilizadas no contexto social.
Os espaços para empoderamento de pautas de gênero, classe, raça e sexualidade são necessários e imperativos para que se pense em ações voltadas para a participação crítica de sujeita/e/os em nossa sociedade a partir de debates que estabeleçam diálogos considerando e tensionando as desigualdades que permeiam essas relações. bell hooks (2022) nos alerta sobre a importância de debatermos as questões do feminismo no dia a dia, esmiuçando as miudezas que atravessam as nossas vidas em diferentes circunstâncias.
A compreensão da dinâmica das relações raciais atravessa múltiplos elementos transpassados pela racialidade, que opera como “um domínio que produz poderes, saberes e subjetividades pela negação e interdição de poderes, saberes e subjetividades” (Carneiro, 2023, p. 13). Trazer para o cenário de discussão do feminismo o recorte de raça implica em tensionar a pauta transpondo para a arena da conversa as posições de pessoas “protegidas pelos privilégios historicamente acumulados e justificados por uma narrativa de meritocracia” (Veloso et al., 2023, p. 12). Essa necessidade se dá já que “[...] as pessoas que fenotipicamente são identificadas como “brancas” são poupadas de lutas e desafios que compõem o cotidiano dos considerados “diferentes” por essa perspectiva de demarcação de diferença” (Veloso et al., 2023, p. 12).
O privilégio branco se sustenta a partir da criação do conceito de raça, que funciona como um “mecanismo de hierarquização e domínio de seres humanos, com a legitimação da filosofia, da ciência e da igreja e, no início dos anos 2000 – por meio de pesquisas genéticas” (Carine, 2023, p. 42). Nesse sentido, “branquitude” é compreendido como um termo que abarca uma “categoria social, que se refere a um lugar de vantagens simbólicas, subjetivas e materiais disponíveis para as pessoas identificadas como brancas em uma sociedade onde o racismo é estrutural” (Carine, 2023, p. 40).
Gonzalez (2020) pondera sobre a condição da mulher negra na sociedade brasileira, ao afirmar que “ser negra e mulher no Brasil (...) é ser objeto de tripla discriminação, uma vez que os estereótipos gerados pelo ser racismo e pelo sexismo a colocam no nível mais alto de opressão” (p. 58). Entre as situações denunciadas por Gonzalez, destacam-se as atividades que a grande maioria das mulheres negras exercem em seu cotidiano e as condições de subordinação a elas atreladas, como em serviços de baixa remuneração (serviços de cuidado e limpeza); a visão sobre seus corpos enquanto objeto sexual; o sustentáculo que a mulher negra representa em seu corpo familiar em termos afetivo, econômico e moral; a exploração da mulher negra pela mulher branca historicamente ocultada nas discussões. Dessa forma, debater sobre essas situações é extremamente relevante.
O cenário em que costumamos ver as mulheres negras representadas apresenta uma única leitura subalternizada de seu ser. No entanto, para além das histórias de dor, “pode-se ver também aquela (mulher) que nada, buscando formas de surfar na correnteza. A que inventa jeitos de sobrevivência, para si, para a família, para a comunidade” (Werneck, 2015, p. 13), já que “a mulher negra tem muitas formas de estar no mundo (todos têm)” (Werneck, 2015, p. 14).
Consideramos que a compreensão do pensamento feminista negro se apresenta de diversas formas, como nas práticas cotidianas, em movimentos sociais, em produções teóricas e nas diversas formas de expressões artísticas e culturais que caminham para além da denúncia das situações de opressão e violação de direitos, para o anúncio de diferentes vivências e práticas da população negra. Diante disso, a literatura é um campo fecundo para reflexões em torno do contexto social, econômico e histórico de um corpo social.
A literatura compreende um ambiente em que há a possibilidade de projeção da experiência a partir do rompimento do silêncio. Cada palavra escrita revela o que se tem a dizer sobre si, sobre as experiências que nos tornam o que somos. A leitura de obras de mulheres negras nos ajuda na compreensão das experiências atravessadas pelos aprendizados e saberes acumulados por mulheres em contextos sociais e momentos históricos diferentes.
Para Conceição Evaristo, autora escolhida para ser trabalhada no clube de leitura, a literatura tem que ser um direito de todos, e vai além, ao considerar que “apropriar-se dos bens culturais, de tudo que as classes privilegiadas fazem com certa leveza, as classes populares também têm de lutar por isso, é um direito que não pode ser sonegado. E a literatura, eu considero também como um dos direitos fundamentais” (Evaristo, 2023, on-line).
A criação de um clube de leitura on-line se deu por compreendermos ser esta uma atividade social que movimenta a troca de saberes que têm como base a experiência de mulheres negras estruturada em forma de textos literários. Conhecer e pensar sobre a subjetividade de mulheres negras a partir da leitura e da troca de experiências compreendem maneiras de perceber diferentes visões de mundo que expõem um cenário diferente daquele construído pela branquitude.
Para tanto, foi necessária a construção de um desenho didático on-line que contemplasse interfaces de conteúdo e de comunicação para que o ponto principal dos encontros fosse a interação. Compreender, a partir da escrita, os aspectos que giram em torno da particularidade de um indivíduo e que, ao mesmo tempo, fazem parte do coletivo foram pontos presentes nas discussões realizadas.
A escolha pela obra Olhos d’Água, de Conceição Evaristo (2015), abarca os aspectos que gostaríamos de contemplar em nossas discussões pautadas na interseccionalidade de pautas relacionadas a gênero, raça e classe, observando não apenas as consequências diante das marcas contrastivas engendradas pela sociedade cisheteropatriarcal capitalista, mas as possibilidades de construção de formas de resistência e libertação.
A experiência com a obra de Conceição Evaristo conclama à observação dos aspectos relativos aos desejos e anseios, das relações familiares e amorosas bem como da memória ancestral através de seus personagens. Para além de esmiuçar teorias que tratem dessas questões, priorizamos os relatos pessoais, os entendimentos das formas de ser e estar no mundo, da atuação e dos processos criativos vinculados às histórias de vida dos participantes identificadas às situações vividas pelos personagens dos contos do livro.
Lançando, tecendo e destecendo fios, buscamos, a partir da (des)construção, compreender as linhas tênues que nos provocam a pensar nas amarras estruturais que posicionam a mulher negra em um lugar de subalternidade nas discussões realizadas no clube. Sendo o clube de leitura criado como um dispositivo de pesquisa-formação, entendemos que a mediação do professor-pesquisador possui um papel de destaque importante para os processos “formativos para a implementação/fortalecimento de uma educação antirracista, seja nos espaços físicos ou virtuais (Veloso et al., 2023, p. 21).
Para este artigo, apresentamos o desenho didático estruturado para a mobilização das ações do clube de leitura on-line que se materializou como um dispositivo pautado nos preceitos da educação on-line, que se caracteriza por ser “um conjunto de ações de ensino e aprendizagem ou atos de currículo mediados por interfaces digitais que potencializam práticas comunicacionais interativas e hipermidiáticas” (Santos, 2019, p. 37). Apresentamos, na seção a seguir, a itinerância metodológica do estudo.
Metodologia
Ao pensar o processo de investigação de fenômenos que emergem na ambiência cibercultural, o método da pesquisa-formação se atualiza e se evidencia por sua invenção. Nós, do Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura, ao passo que pesquisamos, atualizamos e (co)construímos novos arranjos curriculares mediados por tecnologias digitais em rede através de dispositivos em nossa itinerância.
A pesquisa-formação na cibercultura é uma metodologia de pesquisa que compreende que o professor pesquisador realiza a investigação de sua prática cotidiana. Nesse sentido, a ação educativa não se encontra dicotomizada da atividade de fazer a pesquisa. A docência on-line, nessa relação, se constitui como um processo de ensino-aprendizagem pautado no compartilhamento de narrativas, saberes e construção coletiva de conhecimentos pela mediação das interfaces digitais.
Nesse pleito, novas indagações para refletir sobre a formação se apresentam e demandam práticas de pesquisa-formação na cibercultura. A multirreferencialidade se desponta como uma abordagem fértil, em termos epistemológicos, a ser ancorada à metodologia da pesquisa-formação, já que pressupõe “uma leitura plural de seus objetos, sob diferentes ângulos em função de sistemas de referências distintos, não supostos redutíveis uns aos outros” (Ardoino, 2012, p. 87). Torna-se possível, portanto, reconhecer outras referências e saberes nos processos de pesquisa, o que, para nós, é de extrema importância.
Compreendendo que as práticas sociais dos praticantes são indissociáveis de seu processo de formação, consideramos que é preciso repensar o ato formativo lançando luzes para questões que abram cenários críticos e mobilizadores para a edificação de novos paradigmas formacionais e práticas inovadoras. Nesse sentido, buscamos na nossa investigação compreender os saberes construídos a partir do encontro com o outro enquanto praticantes culturais, almejando experiências emancipadoras.
Em nossas pesquisas e estudos, o Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura se debruça em situações que emergem das práticas cotidianas e, concebe, com autoria, novos dispositivos de pesquisa-formação em nossas práticas educativas. A partir de ações mediadas pelo digital em rede, novos e diferentes atos de currículo se constroem, como o clube de leitura aqui apresentado, edificando novos saberes.
A ideia de ato de currículo, conceituado por Macedo, “realça a sua inerente processualidade criativa, sua instituinte materialidade, mais ainda, e acima de tudo, a responsabilização/participatividade” (Macedo, 2015, p. 46). Compreendemos, portanto, que as ações praticadas para pensar a construção da ambiência formativa estão imbricadas de uma reflexão profunda de seu processo, não engessado e edificado de antemão.
Os espaços de encontros, troca de saberes e convívio entre os pares são potencializados pelas tecnologias de informação e comunicação. A possibilidade de uso de redes sociais, mídias digitais e interfaces interativas propicia viver novas formas de presencialidades apartadas do contato físico no compartilhamento de competências e saberes (Santos, 2023).
A disposição comunicacional consolidada pelo cenário sociotécnico é marcada pela utilização de dispositivos digitais on-line que potencializam a docência e a aprendizagem e possibilitam que situações de aprendizagem disponham de interfaces de construção da comunicação e conhecimento edificados a partir do desenho didático.
Reconhecemos a importância do planejamento para o desenvolvimento do desenho didático que se proponha interativo. Além do planejamento, a produção e a escolha dos conteúdos bem como sua operatividade, além das situações de aprendizagem, são ações que estruturam o processo de construção do conhecimento quando pensamos em uma sala de aula on-line (Santos; Silva, 2009).
O exercício da ação docente requer que pensemos na intencionalidade pedagógica das atividades materializadas em atos de currículo e, para isso, arquitetar o desenho didático a ser trabalhado é de vital importância. Diante disso, “é preciso que o desenho didático contemple uma intencionalidade pedagógica que garanta a educação on-line como obra plástica, fluida, hipertextual e interativa” (Santos; Silva, 2009, p. 110). Nesse cenário, a imersão nas práticas ciberculturais possibilitada pelos novos arranjos espaçotemporais torna-se o cerne da questão para se pensar em novas práticas educativas.
Trataremos, na próxima seção, da edificação da ambiência formativa estruturada para o clube de leitura, dispositivo de pesquisa-formação do estudo abordado neste artigo. Construímos um desenho didático on-line implicado na formação dos praticantes culturais pautado na interação, cocriação, produção, compartilhamento e mobilização de saberes em rede.
O clube de leitura EscreVivências Ciberfeministas
O contexto pandêmico vivenciado no início da década atual fez eclodir o aumento na procura por clubes de leitura on-line. Conectadas em nossas redes sociais digitais, acompanhamos diversas ações desenvolvidas nessas ambiências e participamos como praticantes culturais de clubes que tinham como proposta a leitura de obras literárias protagonizadas e escritas por mulheres e, nessa esteira, lançamos um olhar com mais atenção à questão racial interseccionada tanto pela composição da obra quanto pelos personagens que nelas estão inseridos.
Compreender na cultura como se davam aquelas relações foi a intenção primeira da pesquisa realizada. Como se construíam os etnométodos arquitetados por coletivos de mulheres que liam outras mulheres, sobretudo na intersecção entre gênero, raça e classe? Por quais ambiências construíam suas redes de interlocução? Geograficamente dispersos, como entrecruzavam seus saberes e fazeres construindo redes de colaboração e partilha?
Como praticantes culturais, vivenciamos contextos diversos de aprendizagem e de troca, percebendo as dinâmicas de possibilidade de construção de situações de aprendizagem nos territórios híbridos e ubíquos. Aportados na premissa da pesquisa-formação na cibercultura, que compreende que os sujeitos formam e se formam em contextos diversos de situações de aprendizagem e de trabalho (Santos, 2022), aprendemos e trocamos diálogos e saberes a partir de nossa participação em clubes de leitura como praticantes culturais.
Buscamos inspiração nas experiências em clubes e coletivos de leitura como @clubedolivrofalapreta, organizado por Jessica Cardoso; @bau_encantado_historias_livros, o clube do livro Preta, estruturado por Maggna Domingues; @literalmente elas, coletivo de mulheres; @clubedeleituradamanu, clube de leitura liderado por Manuela D’Ávila; @mulheresdoler, coletivo de mulheres atuantes na Baixada Fluminense do RJ.
Nessa dinâmica, arquitetamos o clube de leitura intitulado EscreVivências Ciberfeministas, fruto da pesquisa que investiga os fenômenos ciberculturais que emergem na relação cidade-ciberespaço (Santos, 2019). Esse processo de materialização do dispositivo só foi possível a partir do aprendizado com a cultura. Clubes de Leitura realizados em espaços físicos e on-line já existiam, não foi uma invenção nova a nossa. A inventividade está, exatamente, no nosso jeito próprio de fazer. Nos nossos modos de entendimento, percepção, compreensão, saberes e competência próprios.
O dispositivo foi pensado e criado dentro do contexto do Grupo de Pesquisa Docência e Cibercultura, com o intuito de colaborar para a formação leitora crítica e criativa de discentes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e docentes da rede pública e privada de ensino através da interação, debate e troca de saberes e vivências cotidianas. O clube aconteceu em parceria com a Escola de Extensão da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e disponibilizou uma certificação ao final dos encontros, realizando ações pautadas nos princípios da educação on-line. A imagem representada pela figura 1 traz recorte da página da Escola de Extensão com a chamada para inscrições no clube de leitura realizado no segundo semestre de 2023.
Buscamos garantir a aproximação dos sujeitos, que, embora geograficamente apartados, estão juntos em potência, “compartilhando informações, conhecimentos, seus dispositivos e narrativas de formação a partir da mediação tecnológica das e com as interfaces e dispositivos de comunicação síncronas e assíncronas e de conteúdos hipertextuais disponíveis no ciberespaço a partir do AVA” (Santos, 2019, p. 62).
A primeira edição do clube teve um cronograma de ação com duração de dois meses, com encontros que aconteceram semanalmente, no segundo semestre de 2023. O curso foi ofertado para cinquenta participantes e contou com seis encontros on-line e um presencial, que aconteceu ao final do clube.
Na primeira oferta do nosso clube, buscamos trabalhar com ambientes on-line constituídos por interfaces que propiciem a imersão, a colaboração e a interatividade, já que o cenário sociotécnico do nosso tempo é marcado pelo uso do digital em rede, propiciando arranjos comunicacionais que potencializam a docência e a aprendizagem, o que favorece a colaboração mútua entre todos os participantes.
Debatemos intensamente sobre os temas presentes no cronograma dos encontros síncronos e nas interfaces assíncronas disponibilizadas para a comunicação. Todos os encontros foram gravados, exceto o encontro presencial. Solicitamos o consentimento da autorização do uso de imagem, voz, texto e demais produções para fins de pesquisa através de um formulário feito no Google Forms.
Utilizamos as potencialidades das tecnologias digitais buscando as principais interfaces para que pudéssemos promover situações de aprendizagem. Para tanto, pensamos e arquitetamos um desenho didático para o Clube de Leitura que será apresentado a seguir.
Arquitetura do desenho didático
A construção de um desenho didático on-line é salutar para nós, que estudamos e empreendemos atos de currículo na cibercultura. Arquitetar ações voltadas para o empreendimento de atos de currículo requer pensar em situações para a materialização de um dispositivo que alcançará uma possibilidade formacional focando na autoria de seus praticantes culturais. O desenho didático é a “arquitetura de conteúdos e de situações de aprendizagem para estruturar uma sala de aula on-line, contemplando as interfaces de conteúdo e de comunicação” (Santos; Silva, 2009, p. 276).
O desenho didático do nosso clube se materializou com a criação de um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), também conhecido como sala de aula on-line. Nele, hibridizamos interfaces de conteúdos que são “dispositivos que permitem produzir, disponibilizar, compartilhar conteúdos digitalizados em diversas linguagens: texto, som e imagens” e interfaces de comunicação que “contemplam a troca de mensagens entre os interlocutores do grupo ou da comunidade de aprendizagem” (Santos, 2010, p. 38-39). As interfaces podem ser síncronas, tendo em vista que acontecem em tempo real (conferências através de salas on-line) e assíncronas, que acontecem em tempos de comunicação diferentes (mensagens por WhatsApp, diálogos no Instagram, fóruns do Moodle e comentários no Padlet).
Apresentamos as interfaces e plataformas utilizadas no decorrer das ações do clube, que compuseram o Ambiente Virtual de Aprendizagem. São elas:
Moodle - Plataforma on-line que concentra um conjunto de interfaces de conteúdo e comunicação direcionada à administração de cursos. Utilizamos a plataforma Moodle como forma de alinhavar o desenho didático pensado para o Clube. Os conteúdos foram dispostos de forma hipermidiática, encadeando links externos e internos em múltiplas formas de linguagens e mídias. A figura 2 apresenta um print da tela inicial da sala de aula on-line criada na plataforma Moodle da Escola de Extensão da UFRRJ.
Instagram – (@escrevivencias.ciberfeministas) Rede social on-line que permite o compartilhamento de fotos e vídeos. No cenário atual, inúmeras dinâmicas sociais perpassam através do uso desta rede. Através dela, foi possível realizar a divulgação das ações do clube com nossos praticantes culturais e pessoas interessadas nas ações desenvolvidas. A página do clube de leitura criada nessa rede social está representada através do print de tela representada pela figura 3.
WhatsApp - Por se tratar de um aplicativo de mensagens instantâneas comumente usado no cenário atual, seu uso no clube de leitura tornou-se essencial para uma comunicação direta entre os praticantes culturais.
Padlet - Este mural dinâmico e interativo foi utilizado como forma de compartilharmos imagens, vídeos, diálogos, hiperlinks, entre outros. Criamos três cenários com esse recurso: um mural sobre a vida e obra da autora, discussões sobre o livro escolhido para debate e sugestões de leitura. A figura 4 representa os prints de tela dos murais virtuais criados no Padlet do clube de leitura.
RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa) - Os encontros síncronos semanais aconteciam a partir dessa plataforma de videoconferência. Através de um login federado conseguimos ter acesso a vários recursos e gravar os encontros realizados. A próxima imagem, figura 5, apresenta um print de tela de um dos encontros realizados através dessa plataforma pelo clube de leitura.
Optamos por trabalhar com apenas um livro durante a primeira oferta do clube, tendo em vista a densidade e complexidade dos assuntos abordados. O cronograma dos encontros foi organizado por temas previamente organizados de acordo com os contos presentes no livro trabalhado, como detalhado na figura 6:
O primeiro encontro foi exclusivamente dedicado à apresentação da arquitetura e disposição dos conteúdos na sala de aula on-line, dos mediadores das ações do clube, da obra escolhida e autora do livro, dos espaços de interação e debate e da dinâmica avaliativa nos encontros. Funcionando como uma semana de ambientação, sabemos de sua importância para o bom funcionamento de um curso. Santos aponta a relevância desse primeiro contato, destacando que nos habituamos a criar nesse período “[...] atividades de mobilização de saberes para a aprendizagem on-line, a exemplo da mobilização de saberes e competências para a leitura e escrita hipertextuais, a comunicação interativa entre docentes e estudantes, e sobretudo entre estudantes e estudantes” (2023, p. 282).
O escopo de organização do AVA se deu a partir da intencionalidade pedagógica requerida para cada semana. Na primeira, dispusemos uma apresentação e explicação das dinâmicas por escrito, além de hiperlinks que deslocavam o praticante para leituras em formas de linguagem distintas, como vídeos, textos e imagens articuladas a páginas web.
As semanas seguintes aconteceram de forma semelhante. Elencamos um arcabouço de informações relativas aos temas trabalhados e buscamos sempre uma entrevista com a autora sobre determinado ponto que fazia conexão com a obra estudada e que, consequentemente, iria reverberar em um convite para a discussão nos encontros síncronos e nos espaços de discussão assíncronos. Enquanto docentes-pesquisadoras, entendemos que devemos promover a interatividade a partir de situações que possam fomentar o debate entre os praticantes. A utilização de diferentes recursos midiáticos disponibilizados previamente no AVA pode disparar uma conversa de maneira mais fluida e com maior densidade, tendo em vista o trabalho de curadoria realizado pelo docente.
Tais recursos não devem ser vistos como elementos meramente ilustrativos, porém como componentes que aprofundam e geram debates críticos. Não precisam ser exaustivos para a leitura e visualização, mas elucidativos e claros, dispostos em seções divididas em fundamentais, para a semana trabalhada, e extras ou complementares, para aqueles que desejarem se aprofundar no assunto.
Dentre as interfaces utilizadas para a construção de nossa sala de aula on-line, destacamos o uso do WhatsApp, já que a comunicação se dá de forma instantânea e rápida. A possibilidade de compartilhamento, gravação de voz e escrita da mensagem em um recurso altamente utilizado em nosso cotidiano facilitou bastante a nossa comunicação. Há, ainda, a possibilidade de fixarmos links para acesso a páginas importantes na barra de conversa do grupo criado, o que facilita ainda mais a navegação pela rede.
O Instagram também se destacou pela possibilidade de compartilhamento das imagens printadas das telas e chamadas para os próximos encontros que viriam a acontecer. Comumente utilizado pelos praticantes, bastava clicarmos em seguir a página do clube e feito. Todas as informações eram recebidas e lidas pelo praticante ao passo que rolasse a tela de seu dispositivo.
A plataforma de encontros on-line RNP foi essencial para a construção de nossos encontros síncronos. O acesso federado, além de permitir o uso de diversos recursos, possibilitava a gravação e a permanência por tempo indeterminado. Sem dúvidas, esse foi um recurso essencial para nossas dinâmicas.
O Padlet nos surpreendeu por sua facilidade de uso. A interface permite que o usuário acesse a página apenas com o link, sem a necessidade de realizar login. Há a possibilidade de adicionar fotos e links nas publicações de forma fácil e prática o que, na nossa avaliação, se demonstrou primordial para a interação nessa interface. Estabelecemos relatos riquíssimos que permanecem registrados para futuras leituras por todos os praticantes culturais e, para nós, pesquisadores, que desejamos estabelecer pontes de interlocução teórica para nossos estudos com os cotidianos. Há ainda a possibilidade de interação entre os praticantes nas postagens uns dos outros, o que aconteceu algumas vezes, adensando a conversa sobre os temas propostos.
Já o Moodle, que para nós foi considerado o recurso mais rico em termos de organização e disposição das interfaces de comunicação e conteúdo, foi o recurso menos utilizado no clube. Em nossa avaliação e pela escuta dos relatos sobre a utilização do Moodle, o recurso se tornou inviável de se utilizar tendo em vista a dificuldade para ingressar na plataforma. O primeiro ponto era a criação de um usuário e senha, distribuição para os praticantes e necessidade de efetuar login a cada acesso.
As outras interfaces são mais usuais e estão presentes em nosso cotidiano, o que facilita a interação. Esta seria uma a mais no rol de interfaces que já acessam. Por se tratar de um curso de rápida duração e que não exigiria uma demanda maior de ações, os recursos citados anteriormente foram o suficiente para o desenvolvimento do curso. Ainda que visualmente o desenho didático fique extremamente organizado, dada a oferta de interfaces pela plataforma, para este contexto, não seria necessário, apesar de defendermos o uso do Moodle para fomentar um AVA.
A avaliação se deu a partir da participação nos encontros síncronos, considerando a frequência mínima de 75%, e assíncronos, solicitando que registrassem no Padlet uma frase de ao menos um conto discutido a cada semana, trazendo seu ponto de vista sobre o destaque realizado. A participação no encontro presencial não foi obrigatória, tendo em vista que a maioria dos praticantes culturais se encontrava geograficamente dispersos.
Nós nos surpreendemos com a densidade das participações no Padlet. Aproveitamos os questionamentos trazidos nas interações assíncronas e continuávamos a conversa nos encontros síncronos, através dos encontros pela plataforma RNP. A sensação que tivemos foi de uma imersão de dois meses nos temas trazidos no livro e que se debruçaram por mais algumas semanas após o término da primeira edição.
Os encontros síncronos aconteceram com discussões acaloradas, com muitos desdobramentos da curadoria digital realizada no AVA, como elementos disparadores, e das discussões que aconteciam no assíncrono. Sem dúvidas, a aliança das comunicações síncronas e assíncronas foi fundamental para o repertório de conversas gerado nesse período.
Em última análise, e, não menos importante, a mediação do docente-pesquisador nesse cenário foi um dos pontos altos para alcançar o objetivo do clube. A mediação aqui perpassa por alguns aspectos que foram considerados essenciais na nossa pesquisa, quais sejam: a curadoria dos materiais, como já mencionado acima; o conhecimento da obra e do autor; e a escuta e o diálogo nas interações.
Propusemos a oferta do clube como uma ação de extensão que não se debruçava em uma análise profunda da obra. O clube estava aberto àqueles que se interessassem pela leitura e conversa, não necessitando ser formado em Letras. Porém, conhecer a obra durante o planejamento das ações do clube foi uma ação imprescindível.
Considerações finais
Forjar novos e diferentes atos de currículo a partir de ações mediadas pelo digital em rede foi o desafio por nós assumido a partir da criação do novo dispositivo de pesquisa-formação na cibercultura, o clube de leitura EscreVivências Ciberfeministas. Para tanto, edificamos um desenho didático on-line propositivo considerando uma aprendizagem colaborativa, interativa e hipermidiática (Santos, 2023).
Pensamos o processo para a construção da ambiência formativa em uma perspectiva de não engessamento das ações praticadas e buscamos a organização do AVA a partir da intencionalidade pedagógica requerida. Diante da apresentação e reflexão sobre a construção do desenho didático descrito, elencamos alguns apontamentos de destaque para a estruturação de cursos on-line, tais como:
● A importância do estudo e planejamento das ações com intencionalidade pedagógica;
● A hibridação das interfaces de conteúdo e comunicação para a construção do AVA;
● A seleção de conteúdos multimodais (animações, gêneros diferenciados de vídeos, imagens, podcast, livros, entre outros);
● Proposta de discussões on-line nos formatos síncronos e assíncronos;
● A mediação das interações pelo docente-pesquisador de forma ativa, convidando todos os participantes para a conversa;
● Promoção de intercâmbio de narrativas entre os praticantes culturais e compartilhamento de conteúdo;
● Garantia de criação de ambientes hipertextuais como proposição para a conexão com outras páginas e documentos e da intratextualidade a partir de conexões no mesmo documento;
● A apresentação de um ambiente simples e de fácil acesso, garantindo a navegabilidade;
● A disponibilização de conteúdos considerados essenciais e extras, possibilitando a discussão para cada semana e trazendo alternativas a quem se dispuser a um aprofundamento do assunto;
● Incentivo à externalização de sentimentos, emoções, habilidades e reflexões de acordo com os temas levantados;
● A atenção ao tempo de escuta pelo docente-pesquisador, não tomando todo o tempo de fala, puxando fios para o enriquecimento das discussões;
● A importância de o docente-pesquisador conhecer toda a dinâmica proposta bem como a obra a ser estudada.
Esses foram os destaques que identificamos em nosso estudo, que buscou entrecruzar saberes em diálogo com os participantes do clube com o objetivo de proporcionar uma ambiência formativa a partir da discussão da obra literária Olhos d’água, de Conceição Evaristo.
Construindo fios de diálogo com o ciberfeminismo negro, buscamos ainda estabelecer pontes que ajudassem na compreensão das exclusões e interdições às quais a população negra tem sido exposta em nossa sociedade. Galgamos ao encontro de vias que proporcionassem uma experiência substancial ecoformativa a partir de um debate crítico e contextualizado com a obra da autora atrelados aos relatos pessoais que emergiram das discussões, tornando-se objeto de reflexão coletiva. Desejamos, com as conversas disparadas, trazer novos dados de análise pensando nos conhecimentos produzidos durante a pesquisa realizada em publicações futuras.
Referências
AKOTIRENE, Carla. O que é interseccionalidade? Belo Horizonte: Letramento, 2018.
ARDOINO, Jacques. Pensar a multirreferencialidade. In: MACEDO, Roberto Sidnei; BARBOSA, Joaquim Gonçalves; BORBA, Sergio. Jacques Ardoino & a educação. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2012. p. 87-100.
HOLLANDA, Heloísa Buarque de. O grifo é meu. In: HOLLANDA, Heloísa Buarque de (Org.). Explosão feminista: arte, cultura, política e universidade. São Paulo: Companhia das Letras, 2018, p. 11-22.
CARNEIRO, Sueli. Dispositivo de racialidade. a construção do outro como não-ser como fundamento do ser. Rio de Janeiro: Zahar, 2023.
CARINE, Barbara. Como ser um educador antirracista. São Paulo: Planeta do Brasil, 2023.
CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano: 1: artes de fazer. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
EVARISTO, Conceição. Olhos d’água. Rio de Janeiro: Pallas, 2015.
EVARISTO, Conceição. Entrevista: Conceção Evaristo, Escrevendo o futuro [S.l.: s. n.], 2023. Disponível em: https://www.escrevendoofuturo.org.br/conteudo/revista-digital/artigo/73/entrevista-conceicao-evaristo. Acesso em: 20 jun. 2024.
FERNANDES, Teresinha; SANTOS, Edméa; YORK, Sara Wagner. Ciberfeminismos e expressões contemporâneas: pluralidade de vozes e ativismos. In: SANTOS, Edméa; FERNANDES, Teresinha; YORK, Sara Wagner. Ciberfeminismos e cibereducações: narrativas de mulheres durante a pandemia de Covid-19. Salvador: Edufba, 2022. p. 75-90 . Disponível em: https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/36098/1/Ciberfeminismos%20e%20cibereduca%C3%A7%C3%B5es-ri.pdf. Acesso em: 22 nov. 2022.
GONZALEZ, Lélia. Por um Feminismo Afro-Latino-Americano: Ensaios, Intervenções e Diálogos. Rio Janeiro: Zahar, 2020.
HOOKS, bell. Teoria feminista: da margem ao centro. São Paulo: Perspectiva, 2019.
HOOKS, bell. O feminismo é para todo mundo: políticas arrebatadoras. 3. ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2022.
KILOMBA, Grada. Memórias de Plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
LEVÝ, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 2010.
MACEDO, Roberto Sidnei. A pesquisa como heurística, ato de currículo e formação universitária: experiências transingulares com o método em ciências da educação. Campinas: Pontes Editores, 2020.
MACEDO, Roberto Sidnei. Pesquisar a experiência: compreender/mediar saberes experienciais. Curitiba, PR: CRV, 2015.
MACEDO, Roberto Sidnei. Outras luzes: um rigor intercrítico para uma etnopesquisa política. In: MACEDO, Roberto Sidnei; GALEFFI, Dante; PIMENTEL Álamo (Orgs.). Um rigor outro: sobre a questão de qualidade na pesquisa qualitativa. Salvador: Edufba, 2009. p. 75-126.
SANTOS, Edmea; SILVA, Marco. Desenho didático para educação on-line. Revista em Aberto, Brasília, v. 22, n. 79, p. 105-120, jan. 2009.
SANTOS, Edmea. Educação on-line para além da EAD: um fenômeno da cibercultura. In: SILVA, Marco; PESCE, Lucila; ZUIN, Antônio (Orgs.). Educação on-line: cenário, formação e questões didático-metodológicas. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010. p. 29-48.
SANTOS, Edmea. Pesquisa-formação na cibercultura. Teresina: EDUFPI, 2019. Disponível em: http://www.edmeasantos.pro.br/assets/livros/Livro%20PESQUISA-FORMA%C3%87%C3%83O%20NA%20CIBERCULTURA_E-BOOK.pdf. Acesso em: 25 nov. 2022.
SANTOS, Edmea; RANGEL, Leonardo. O caminhar na educação: narrativas de aprendizagem, pesquisa e formação. Ponta Grossa: Atena, 2020. Disponível em: http://www.edmeasantos.pro.br/livros. Acesso em: 30 nov. 2022.
SANTOS, Edmea. Escrevivências Ciberfeministas: narrativas de uma mulher durante a pandemia Covid-19. São Carlos: Pedro & João Editores, 2022. Disponível em: https://pedroejoaoeditores.com.br/produto/escrevivencias-ciberfeministas-e-ciberdocentes-narrativas-de-uma-mulher-durante-a-pandemia-covid-19/. Acesso em: 03 jan. 2023.
SANTOS, Edmea. Educação on-line na pós-graduação stricto sensu: o caso da unidade curricular “Applied Instrucional Design” do Programa de Pós-Graduação on-line em tecnologia educativa da Universidade do Estado de Ohio nos Estados Unidos. Revista Interfaces Científicas, v. 12, n. 1, p. 278-298, 2023. Disponível em: https://periodicos.set.edu.br/educacao/article/view/11537. Acesso em: 13 jan. 2024.
SANTAELLA, Lucia. Comunicação ubíqua: repercussões na cultura e na educação. São Paulo: Paulus, 2013.
WERNECK, Jurema. Introdução. In: EVARISTO, Conceição. Olhos d’água. Rio de Janeiro, Pallas, 2015.
VELOSO, Maristela Midlej Araujo; SANTOS, Edmea Oliveira; SALES, Kathia Marise Borges. O racismo cotidiano: um caso de pesquisa etnográfica na cibercultura. Revista Periferia, v. 15, p. 1-24, 2023. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/periferia/article/view/71243. Acesso em: 25 abr. 2024.
Notas
Autor notes