Resumo: O artigo apresenta uma pesquisa com os bebês, realizada em um CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) do município de Vitória/ES e tem por objetivo verdejar os espaçostempos de seus quintais em ações que integrem a natureza em seus cotidianos, fazendo brotar alegrias no corpo. Utiliza a cartografia como metodologia para acompanhar os processos que se efetuam junto aos bebês em aprendizagens inventivas. Argumenta que o quintal, como prática do encontro, possibilita um plano imanente em que os agenciamentos dos/com os corpos dos bebês se intensifiquem por meio das experimentações inventivas abertas às infindáveis possibilidades e devires. Aposta na força do encontro coletivo junto aos quintais, fazendo expandir movimentos em que a vida pulsa de modo efusivo na potência dos saberes que surgem nesses ajuntamentos, como possibilidades propagadas por contágio a ampliar vivências que transbordam o concreto que os permeia. Conclui afirmando a vida junto às experiências no CMEI por meio de ações que fazem explodir multiplicidades junto à natureza para escapar e resistir aos endurecimentos cotidianos, movimentando invenções curriculares.
Palavras-chave: Aprendizagens inventivas,Cartografia,Contágio,Bebês,Educação Infantil.
Abstract: The article presents a research study conducted with babies in a Municipal Center for Early Childhood Education (CMEI) in the city of Vitória/ES, aiming to green their backyard spaces through actions that integrate nature into their daily lives, nurturing joy in their bodies. It utilizes cartography as a methodology to accompany the processes that unfold with babies in inventive learning. The argument posits that the backyard, as a practice of encounter, enables an immanent plan where the interactions with and among the babies' bodies intensify through inventive experiments that are open to endless possibilities and becomings. It emphasizes the power of collective encounters in the backyard, expanding movements in which life pulsates exuberantly in the potential of knowledge that emerges in these gatherings, as possibilities propagated through contagion to enhance experiences that transcend the concrete that surrounds them. The article concludes by affirming life within the experiences at the CMEI through actions that unleash multiplicities in nature, seeking to escape and resist everyday rigidity while fostering curricular inventions.
Keywords: Inventive learning, Cartography, Contagion, Babies, Early Childhood Education.
Resumen: El artículo presenta una investigación con bebés llevada a cabo en un CMEI (Centro Municipal de Educación Infantil) en el municipio de Vitória/ES, con el objetivo de integrar la naturaleza en sus rutinas a través de acciones que llenen de alegría sus espacios y tiempos en los patios. Utiliza la cartografía como metodología para acompañar los procesos de aprendizaje inventivos que ocurren con los bebés. Argumenta que el patio, como práctica de encuentro, posibilita un plano inmanente donde las interacciones entre los cuerpos de los bebés se intensifican a través de experimentaciones inventivas abiertas a infinitas posibilidades y transformaciones. Apuesta por la fuerza del encuentro colectivo en los patios, generando movimientos en los que la vida palpita con una potencia efusiva y conocimientos que surgen en estos encuentros, como posibilidades propagadas por contagio que amplían las experiencias que trascienden lo concreto que los rodea. Concluye afirmando que la vida se manifiesta en las experiencias en el CMEI a través de acciones que detonan multiplicidades junto a la naturaleza, como una forma de escapar y resistir a la rigidez cotidiana, generando invenciones curriculares.
Palabras clave: Aprendizajes inventivos, Cartografía, Contagio, Bebés, Educación Infantil.
Artigos
O QUE PODE UM QUINTAL?
WHAT CAN A BACKYARD DO?
¿QUÉ PUEDE HACER UN PATIO TRASERO?
Recepção: 06 Julho 2023
Aprovação: 25 Agosto 2023
Cante para mim que me emparelho contigo,
os tambores dobrarão o vento para embelezar o baile.
Seus moços entendedores dos dizeres dessa gente,
me façam um favor: me ouçam enquanto escrevem;
sopro no ar a fumaça da transformação.
(SIMAS; RUFINO, 2019, p. 10).
Movimentadas pelas problematizações de uma pesquisa com bebês em um CMEI (Centro Municipal de Educação Infantil) do município de Vitória/ES, ousamos cantar com o coletivo para dobrar os ventos e arquejar outros ares em que habitam processos inventivos de aprendizagem e assim apresentar nossos escritos neste artigo que tem por objetivo verdejar os espaçostempos de seus quintais em ações que promovam encontros com a natureza em seus cotidianos, fazendo brotar alegrias no corpo. Nosso argumento está imbricado na potência do quintal como prática do encontro, que possibilita um plano imanente no qual os agenciamentos dos/com os bebês se intensifiquem por meio das experimentações inventivas, abertas às infindáveis possibilidades e aos incessantes devires. Afirmamos que, pela força do encontro, se expandem modos outros de vivenciar as experiências dos/com os bebês que se estendem entre saberes coletivos surgentes nesses ajuntamentos. A pesquisa perpassa por ações de criação junto aos bebês para romper os endurecimentos dos espaços por meio de movimentos inventivos e intensivos.
Entre o atravessamento dos tambores de Simas e Rufino (2019), que ecoam para anunciar modos outros de expandir a vida, operamos com a cartografia como metodologia que se entremeia aos processos cotidianos junto aos saberesfazeres infantis que buscam escapar pelas frestas em que brota a vida, ainda que, em alguns momentos, rompidas por macropolíticas de endurecimento curricular, para promover experimentações crianceiras que fabulam pluralidades no CMEI. Nesse enredo, nos ajuntamos aos saberes que se ligam diretamente aos encontros ancestrais, utilizando movimentos junto aos elementos da natureza para aproximar ações que transvazem a molaridade das macropolíticas, ao nos conectar com as permeabilidades desses encontros. Por essas ações, somos convocadas em meio a micropolíticas ativas, ainda que as macro e micropolíticas atuem entrelaçadas, lançando-nos a escapes pelo miúdo das brechas com o cotidiano.
No diálogo entre Carvalho (2019) e Rolnik (2016), somos instigadas a reafirmar a não separação entre macro e micropolíticas. Enquanto a macropolítica se concentra nas manifestações visíveis do campo de forças, a micropolítica se volta para aquelas que são invisíveis. No entanto, considerando que esses campos estão intrinsecamente interconectados, reconhecer a potência das micropolíticas se torna crucial no contexto da Educação Infantil. Atentamos que, nesse âmbito, há uma tendência de focalizar exclusivamente as formas visíveis, negligenciando assim os espaçostempos junto às micropolíticas e reduzindo sua capacidade de transformação.
Evocamos a palavra lançada, que vaga ao acaso do inédito entre rachaduras com as micropolíticas que nos abrem aos encontros com movimentos de aprendizagem inventiva, invisibilizados nos cotidianos curriculares da Educação Infantil. As experimentações da pesquisa aqui apresentada não possuem a intenção de incorrer em certificações de aprendizagem, mas propor múltiplos afetos que venham a reverberar a cada encontro de quem entra em relação com elas.
Caminhamos junto aos bebês em meio a currículos fabulatórios inéditos entre aprendizagens inventivas; afinal, fabular é desejar múltiplos possíveis, problematizando diversificados mundos à medida que experienciam movimentos de invenção em suas ações do cotidiano, produzindo alegrias no corpo (LAPOUJADE, 2015).
Em nossas pesquisas com a Educação Infantil, nos encontramos com Holzmeister, Silva e Delboni (2016), que nos apontam para
[...] problematizações que afirmam a vida no grau mais alto de potência e acolhem a possibilidade de o conhecimento se constituir a partir das experiências, daquilo que aumenta a potência de agir, que potencializa fluxos curriculares. Intensidades e possibilidades para a criação de vida que pulsa e que torna possível a invenção de processos nos quais o conhecimento seja o mais potente dos afetos. Aprender e ensinar implicando coengendramento da vida vivida, experenciada, sentida, criada, como produtos de afetos e afecções vividos nos encontros (HOLZMEISTER; SILVA; DELBONI, 2016, p. 422).
Esse encontro nos abre para questões em que os bebês cantam seus cantos para dobrar os ventos e escapar dos trajetos curriculares em espaçostempos que ousam tentar desfazer seu olhar de encantamento, escapulindo por germinações que brotam em ações verdejantes nos cotidianos do CMEI. Nesse intento, nos colocamos a percorrer fragmentos cartográficos de acontecimentos infantis vividos, em busca de algo que os fascina, possibilitando emergir encontros com o insólito entre mapas abertos e aprendizagens inventivas.
Compreendemos o objetivo da cartografia como aquele que se põe a “[...] desenhar a rede de forças à qual o objeto ou fenômeno em questão se encontra conectado, dando conta de suas modulações e de seu movimento permanente” (BARROS; KASTRUP, 2009, p.57), portanto não se trata de uma atitude a esmo, mas de uma atenção que se mobilize no trabalho de campo em que haja uma concentração sem focalização. É preciso que o cartógrafo esteja intencionado em buscar informações para que possa estar aberto ao encontro (BARROS; KASTRUP, 2009).
Desse modo, sopraremos o “ar da transformação”, operando em composições e decomposições cotidianas junto aos apontamentos que nos lançam a multiplicidades discursivas e questionam a vontade de verdade (FOUCAULT, 1999a), que age em meio a discursos molares. Diante disso, o discurso restaura seu caráter de acontecimento, irrompendo pelos veios de um chão que opera pela via da vida que pulsa, para promover encontros potentes com os bebês e emergir profusos modos de produzir aprendizagens inventivas por meio de suas experimentações.
Organizamos o texto em movimentos que permeiam o barro nos quintais do CMEI, com experimentações junto à materialidade ancestral da argila; em seguida, perpassa por experiências e currículos que frutificam encontros inventivos com a pitaia para encharcar o quintal com sua cor vibrante. Posteriormente mergulharemos nas águas para fluir movimentos inventivos; a seguir, permearemos a beleza instigante das flores, que potencializam a vida no quintal. Por fim, mergulharemos em algumas considerações finais que se multiplicam pelas potências dos bebês, para verdejar os quintais do CMEI em encontros efusivos e aprendizagens inventivas.
Nas experimentações junto aos bebês, adentramos alguns fios multiplicados com a natureza. Para Deleuze e Guattari (2011), a multiplicidade se apresenta como rizoma, não sendo personificada em um sujeito ou objeto, mas se faz por dimensões que se expandem à medida que aumenta suas conexões. Portanto, as experiências vivenciadas, não são atribuídas somente à personificação de docências ou dos bebês, mas nos agenciamentos que surgem do engendramento com os afetos vivificados por meio desse coletivo.
Em cada ajuntamento, a vida passou a se expandir pelo encontro com as invenções dos/com os bebês e as docências, que potencializavam modos outros de fazer brotar vivacidade nos territórios-quintais, fazendo explodir forças que escapam a normatizações curriculares estanques entre esses espaços, agora multiplicados em territórios. Esses últimos, se constituem para além de formatações geograficamente demarcadas. Eles acontecem junto aos agenciamentos que ocorrem nos encontros cotidianos, não sendo estáticos, mas sendo perpassados por constantes transformações (DELEUZE; GUATTARI, 2011).
Tive um chão (mas já faz tempo)
todo feito de certezas
tão duras como lajedos.
Agora (o tempo é que fez)
tenho um caminho de barro
umedecido de dúvidas.
Mas nele (devagar vou)
[...]
(MELLO, 2013, p. 12)
Iniciamos com a experimentação dos bebês junto à materialidade do barro, que causou estranheza a princípio em alguns, que se aproximaram lentamente daquele inusitado contexto aos seus olhos. No entanto, esse momento se torna muito importante e carregado de intensidades por considerarmos que "[...] a aprendizagem começa quando não reconhecemos, mas, ao contrário, estranhamos, problematizamos” (KASTRUP, 2001, p. 18).
Para tanto, somos impelidas a deixar de habitar um chão endurecido de certezas para sermos impregnadas de um olhar atento e umedecido pelos gestos de acolhimento e assim seguirmos com os bebês em movimentos que ocorrem entre afetos, estranhezas e bons encontros. Desse modo, alguns bebês passaram a observar os outros, que, já familiarizados com a argila espalhada pelo quintal, se banhavam numa lama inventiva e modelavam bolinhos que nos parecem estar deliciosos em vista dos seus olhares de encantamento. O chão, antes lajeado, passou a penetrar matérias moles entre os pequenos dedos dos bebês, assim que o pisavam. Esse movimento nos remete a uma sensação prazerosa em vista dos corpos que gargalham e espremem olhinhos a explodir afetos alegres.
As vivências se expandem por contágio pelo CMEI, onde processos aprendentes e encantamentos se difundem e se espalham por meio de diferentes tipos de conexões e redes (DELEUZE; GUATTARI, 2012c), movidos pela força da vida que brota no chão dos quintais. Em meio a isso, os bebês espalham experimentações rizomóficas que se enredam à materialidade ancestral do barro para sentir no corpo modos outros de vivenciar os espaçostempos. Nesse intento, são atravessados por rompimentos na medida em que os encontros acontecem, como um “[...] rizoma [que] não começa nem conclui, ele se encontra sempre no meio, entre as coisas, inter-ser [...]” (DELEUZE; GUATTARI, 2011, p. 48).
Passo a passo, colo a colo, o acolhimento faz brotar do estranhamento que umedece o chão uma vida que ri e até gargalha, como bolhas efervescentes que estouram alegrias, pois, nesse vai-e-vem dos encontros com o novo, alguns bebês estranham, se encantam e se misturam às experimentações. Para tanto, começam a vivenciar repetidas vezes esses encontros com o barro numa mesma ocasião, estendendo as mãos à nova textura, aproximando os pés ao contato refrescante com a argila, até que, em certo momento, passam também a se deliciar na experiência.
Deleuze (2021) nos afeta ante a repetição, uma vez que os bebês, a cada entrelaçamento com os signos que emergem, vão transmutando afetos em meio à materialidades ainda mais íntimas, com a permissão de sorrir alegrias no corpo. De acordo com Deleuze (2003), o signo é originado a partir de um encontro e não é um elemento pré-existente em um sistema simbólico, cujo significado é definido antecipadamente e representa apenas um conjunto limitado de possibilidades. O signo é criado no momento em que esse encontro ocorre em meio às experimentações infantis, forçando rompimentos aprendentes nos/dos/com os currículos encharcados pelo barro. Portanto, no encontro dos/com os bebês, os signos fazem brotar currículos aprendentes que se constituem por experiências coletivas que operam ante o surgimento dos signos, multiplicando-se nesses ajuntamentos e provocando aprendizagens inventivas que produzem novos mundos por força dos encantamentos crianceiros.
Agora o encontro com o barro se expande e rompe espaço e tempo, portando consigo uma proximidade em manusear a argila e fazer dela um chão umedecido, em que pequenos pés afundam e inventam currículos que transbordam as fronteiras estanques daquilo que ousam saber ser algo em um suposto fim. Permeados por dúvidas e buscas junto ao insólito, os bebês passam a rasgar espacialidades cerceadas nos tempos de um relógio para arquejar voos rumo a ajuntamentos extraordinários.
A tinta arenosa, constituída pelo material umedecido, explode no corpo causando pistas de uma cartografia que se dá no encontro dos/com os bebês, anunciando experiências curriculares que percorrem rostos, braços, corpos; que expandem alegrias na descoberta do novo em cada movimento de vivenciar os caminhos traçados, anunciando aprendizagens inventivas. Desse modo, as ações empenhadas nos cotidianos com as infâncias transbordam para além de currículos estanques por meio de entrelaçamentos de forças potentes nas experiências do grupo.
Diante disso, os bebês são afetados por meio de agenciamentos coletivos, entremeados em encontros que fazem crescer suas “[...] dimensões numa multiplicidade que muda necessariamente de natureza à medida que ela aumenta suas conexões” (DELEUZE; GUATTARI, 2011, p. 24). Então, pouco a pouco, por contágio, eles passam a se envolver na vivência coletiva, exalando um certo quê de admiração, desdobrados em platôs que se multiplicam. Afinal, o “[...] agenciamento é coletivo não apenas porque remete a um socius, para além do indivíduo, mas também porque remete a uma multiplicidade [...]” (KASTRUP, 2001, p.23). Portanto, opera em um ponto que não se decalca em um sujeito ou objeto, circulando em processos intensivos pelos quintais.
Em tal ação, os bebês manuseiam o barro sem que haja uma urgência inventada pelo olho adultizado que tende a apressar suas buscas. Eles se dedicam demoradamente às investigações junto à materialidade que anuncia um saberfazer potente ante os trajetos perpassados com a proposta oferecida na turma. Passam as mãos, estranham, desconfiam e se maravilham no encontro com o inédito composto por eles e suas relações coletivas. Assim, os tempos vão rompendo os espaços durante as experiências vivenciadas, pois rasgam trajetos errantes do barro, em que emergem as buscas inventivas e o vaguear dos bebês na procura do novo inaudito, aquele que não necessita das palavras pronunciadas oralmente para anunciar descobertas e aprendizagens inventivas que fabulam novos mundos. Nesse movimento, os bebês se lançam a comunicar com o corpo as intensidades de seus encontros que deslocam currículos permeados por invencionices crianceiras.
Diante das cartografias aqui compartilhadas, as experimentações escapam por meio de linhas entrelaçadas que se constituem uma trama rizomática para “[...] aumentar seu território por desterritorialização, estender a linha de fuga até o ponto em que ela cubra todo o plano de consistência em uma máquina abstrata” (DELEUZE; GUATTARI, 2011, p. 28-29), promovendo encontros entremeados em uma tessitura múltipla e inventiva num quintal-afeto, em que andarilham os bebês e suas aprendizagens criacionais. Compreendemos esses quintais-afetos como movimentos curriculares inventivos que transitam por diversos espaçostempos, escapando de um lugar estanque e geograficamente determinado. Portanto, os bebês nos apontam outros modos de vivenciar os espaçostempos a traçar seus caminhos com o barro, pois os quintais ocorrem para além das divisas de suas paredes e portões, agindo por afeto que forçam desterritorializações nos coletivos do CMEI.
Prosseguimos a cartografar as potências dos movimentos intensivos dos bebês que rompem os quintais pelas fendas de seus saberesfazeres, sendo elas tortuosas e permeadas por passagens que fogem a linearidades estanques para transmutar os quintais de concreto em quintais-afetos.
No espaço externo à sala da turma dos bebês, as professoras ofereceram propostas envolvendo os frutos da terra. Nessa ocasião, eles experimentaram a pitaia, também chamada de fruta-dragão, soprando certa chama colorido-intensa que acende e refaz os caminhos e as descobertas coletivas. Essa fruta representa uma espécie de lume que reluz outros possíveis em desbravar aquilo que se entranha nas lacunas do que se tornam novos mundos, porém os bebês perfazem seus caminhos a experimentar, intensa e incessantemente, o sumo da fruta, dando-se conta de seus rastros pelos corpos e pelo chão do quintal que arrasta ranhuras de um solo imperfeito.
Nesse contexto, expandem suas aprendizagens, anunciando encontros coloridos que afirmam a ocorrência desses conhecimentos entre movimentos inauditos, por ocasião de uma linguagem a comunicar pelo corpo, sem que haja necessidade de pronunciar palavras, operando por uma multiplicidade que se entremeia a explorar e se expandir por processos aprendentes. Somos então provocadas a reafirmar nosso argumento do quintal como prática do encontro e que possibilita um plano imanente em que os agenciamentos dos/com os corpos dos bebês se intensificam por meio das experimentações inventivas.
E lá estão elas, avermelhadas, fúcsias e reluzentes em um contexto que convida ao encontro dos/com os bebês, em que cada fagulha de novidade reluz produzindo vida. Eles manuseiam texturas, entram em relação com cheiros, sabores e rastros da fruta que instiga o quintal-afeto. Entre caminhos nômades, permeiam olhares e pequenas mãos e bocas que encontram o fruto e os signos que ali emergem. Aproximam-se do grande painel branco instalado no chão, acolhendo as pitaias junto ao corpo, em movimentos que estabelecem a relação com o inédito do encontro diante da cor avermelhada e das texturas da fruta.
Ocorrem então múltiplos traçados que se fazem junto aos deslocamentos das mãos dos bebês, deixando marcas que reverberam a imprevisibilidade cartográfica dos resultados, com uma indeterminação que revela a circularidade entre o presente variável e o movente (KASTRUP, 2001). Diante disso, afetamo-nos pelo imprevisível, por uma situação que se movimenta e se desloca pelos espaçostempos, por aquilo que a cartografia abraça sem represar, propiciando-nos encontrar com as invenções não premeditadas pela proposta inicialmente oferecida.
Os bebês rompem o grande painel branco de papel, para andarilhar pelo quintal, a experimentar outras possibilidades junto ao fruto. Isso ecoa novos mundos em que nos desterritorializamos por contágio, enquanto acompanhamos seus processos aprendentes. Essa linguagem inaudita transpõe movimentos errantes que rasgam o lugar, transmutando-o num espaçotempo esfuziante, em que se quintalizam ações de aprendizagens inventivas, a perder-se ao acaso dos encontros e pelo movimentar do pensamento que os força à abertura de um problema, não à falta de uma solução (KASTRUP, 2001). Os bebês então passam a experimentar os traçados da pitaia pelas paredes e pelo chão do quintal, fazendo transpor o que antes era oferecido apenas em um suporte de papel branco afixado no chão. Nesse encontro, eles nos apresentam a multiplicidade de possibilidades que o quintal possui junto às materialidades propostas inicialmente pelas professoras.
Nesse movimento de expansão, um a um, os bebês passam a deslocar-se pelo quintal e experimentar outros modos de encontro com as pitaias. Parece que se contaminam pela ação uns dos outros em modos contagiantes, deslocando-se junto ao coletivo. De acordo com Deleuze e Guattari (2011), podemos compreender o contágio como um processo que nos remete a devires, os quais provocam desterritorializações e reterritorializações, promovendo a circulação dos eventos por meio de diferentes mundos.
Deleuze e Parnet (1998) descrevem o contágio como um fenômeno em que os acontecimentos se entrelaçam, formando uma multiplicidade de elementos heterogêneos e estabelecendo relações entre eles. Nesse processo em que percorrem os bebês, não se trata apenas de seguir uma sequência ordenada de encadeamentos, mas sim de acompanhar os encontros que surgem por meio de múltiplos contágios.
Sendo assim, no encontro com os frutos, sua tintura entranha o chão e deixa marcas no quintal-afeto. Os pigmentos penetram os corpos dos bebês em modos outros que os deslocam em experimentações a vaguear junto à pitaia que borra os trajetos, trazendo consigo novos possíveis que não se definem em caminhos ditados a serem seguidos.
Impelidas pela potência desse quintal-afeto, evocamos Thrift (2006), que nos convoca a problematizar espacialidades, embalançando-nos entre veios porosos, dinâmicos e disformes, em que os movimentos dos bebês vibram, macerando o material que escapa entre os dedos. Assim, o traçado de suas experimentações se lança em linhas de fuga por espaços lisos que se esgueiram por frestas endurecidas e estriadas que ousam tentar estancar currículos vibrantes, perfazendo um entrelaçar constante entre eles, quando “[...] os dois espaços só existem de fato graças à mistura entre si: o espaço liso não para de ser traduzido, transvertido num espaço estriado; o espaço estriado é constantemente revertido, devolvido a um espaço liso” (DELEUZE; GUATTARI, 2012b, p. 192), perfazendo o rasgar das fronteiras de uma delimitação geográfica para propagar seus encontros em multiplicidades.
Nesses encontros, os bebês escapam de uma pedagogia tarefeira, que tantas vezes compreende o currículo por uma listagem de itens a serem cumpridos e aprisionados em folhas de papel traçadas por contornos delimitantes, ousando deliberar espaços demarcados a serem preenchidos no interior de suas fronteiras. No entanto, as invenções crianceiras estremecem para além do que tenta represá-las, pois se ali fossem forçadas a territorializações, empalideceriam o colorido de suas potências incorrendo no erro que reside em uma pressa que objetiva atingir um conceito (CORAZZA, 2010) para atender a expectações adultizadas. Por outro lado, os bebês forçam desterritorializações efusivas por vias que se esquivam de encarceramentos. Desse modo e de tantos outros, resistem às foças de aprisionamento, afinal “[...] onde há poder há resistência” (FOUCAULT, 1999b, p. 90).
Adentramos esses escapes junto a Deleuze (2012a) por linhas de fuga em meio a movimentos de desterritorialização e desestratificação, a transpassar as frestas do chão rachado para fazer brotar uma vida que pulsa para além do que intenta endurecer as infâncias com espaços e tempos assépticos, pois eles não se separam de modo estratificante e nem é possível impermeabilizar seus encontros, mantendo-os distantes dos quintais-afeto. De outros modos, os bebês fazem vazar descobertas inventivas, permeadas por uma potência singular das infâncias a tornar os quintais cheios do chão renovado pelo frescor dos frutos inventivos produzidos em aprendizagens múltiplas.
Junto às experimentações dos/com os bebês, afirmamos que o quintal é múltiplo, é afeto, permeado por escapes e retomada de territórios. Nesse intento, rompemos os movimentos impermeáveis de um chão estático, pois o quintal junto às infâncias pulsa vida e voa entre ares de descobertas brincantes.
Temos que pensar a desterritorialização como uma potência perfeitamente positiva, que possui seus graus e seus limiares (epistratos) e que é sempre relativa, tendo um reverso, uma complementaridade na reterritorialização. Um organismo desterritorializado em relação ao exterior se reterritorializa necessariamente nos meios interiores (DELEUZE; GUATTARI, 2011, p. 89).
Portanto, passamos a habitar esse quintal-afeto, que se multiplica pelo CMEI junto às experimentações inventadas nos cotidianos, integrando novos modos de experienciar os espaçostempos de uma vida que vibra por movimentos nômades, perpassados por deslocamentos intrínsecos que não se separam. Ainda que o chão ouse impermeabilizar por sua materialidade, os encontros com os bebês ocorrem promovendo ondulações por suas inventividades crianceiras que se esgueiram de possíveis estancamentos.
Tenho um livro sobre águas e meninos
Gostei mais do menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água
na peneira
era o mesmo que roubar um
vento e
sair correndo com ele para
mostrar aos irmãos.
(BARROS, 2010, p. 469)
Estamos a carregar a água na peneira para regar os quintais e correr pelos pátios olhando para o céu em busca de lufadas de vento. É nesse fluxo que os bebês estão a tecer relações com a natureza dentro do CMEI. Suas enunciações apontam caminhos múltiplos, transformam nossos territórios em convites dados aos encontros com elementos da natureza a entrar em relação com o coletivo. “Denominamos coletivo o plano que permite superar a dicotomia indivíduo-sociedade, tomando coletivo, não como totalização, mas como agenciamento [...] como multiplicidade, para além do indivíduo [...]” (CARVALHO, 2019).
Iniciamos nossas experimentações com a água, que perpassa seu fluxo entre os pequenos dedos dos bebês. Esses movimentos fizeram rasgar intensidades que rompiam os espaçostempos imersos em sua materialidade, na qual cada bebê se propôs a experimentar o líquido em seu corpo.
A água da mangueira se transmutou em uma chuva fina, molhando o quintal que, aos poucos, se transformava em um novo chão escorregadio, sendo preciso inventar outros modos de se movimentar. Esse acontecimento causou estranhamento e inquietação nos bebês, pelo deslocamento do que era conhecido e agora se apresentava diferente, forçando desterritorializações e reterritorializações no encontro com o novo em movimentos de aprendizagens inventivas cotidianas.
As desterritorializações e reterritorializações não determinam as modificações, mas determinam estreitamente sua seleção. Por outro lado, toda modificação tem seu meio associado que, por sua vez, provoca tal desterritorialização em relação ao meio de exterioridade, tal reterritorialização em meios interiores ou intermediários (DELEUZE; GUATTARI, 2011).
Nesse acontecimento, os bebês passaram a experimentar um novo território que os forçou a saborear outras invenções de habitar, arriscando-se por linhas de fuga para escapar por veios em que surgissem outras reterritorializações a serem constituídas por eles e seus encontros brincantes para experienciar a vida.
Portanto, o quintal passou a forçar novos modos de entrar em relação com ele, por meio de movimentos que não se referem à ideia de representação, sendo necessário que os bebês inventassem para si movimentos de deslocamento pé-ante-pé ou sentados para irem em busca das bonecas e outros brinquedos para banhar, mergulhar e flutuar nas bacias com água, fazendo pulsar intensidades diversas das que experimentaram inicialmente, ocasionando produção de invenções nessas experimentações. Kastrup (2001) atenta para a invenção como algo que se difere do que é raro e excepcional, sendo a inventividade um movimento que perpassa o cotidiano e que permeia o funcionamento cognitivo do homem comum.
Essa experimentação que se deu no corpo trouxe também a delicadeza dos movimentos quando se dedicavam em busca de despetalar os cachos de acácia dispostos na vivência, fazendo fluir encantamentos ao ver suas pétalas flutuarem assim que caíam na água da bacia. As pedras de mármore por sua vez afundaram e faziam a água transbordar, ocasionando um espetáculo à parte, em meio a gargalhadas e espantos. Sempre era preciso um pouco mais de água para encher bacias e potes que encharcavam as roupas. Essa troca de água entre os potes e bacias proporcionou múltiplas possibilidades, em que era possível encher e deixar transbordar ou encher e derramar, logo encher de novo para, em seguida, esvaziar. Não era uma prioridade represar a água, mas deixá-la fluir entre os dedos, carregar o quanto desse pelo tempo que fosse possível em peneiras. Nesse movimento, a vida transbordava em enxurradas brincantes entre movimentos em que a repetição propaga a diferença (DELEUZE, 2021).
A produção da diferença na repetição refere-se à ideia de que a repetição não é simplesmente uma cópia do mesmo, mas um movimento que gera novas possibilidades inventivas e suas variações. Deleuze (2021) argumenta que a repetição é um processo produtivo e de criação, no qual cada repetição é sempre diferente da anterior, abrindo veios para emergir o novo.
Nesse intento, outro espanto se entranhou pelo quintal, ao depararem com a água em seu estado sólido, que deixava transparecer os brinquedos e elementos da natureza encapsulados em sua materialidade. Nesse novo encontro, a água, antes fluida, agora era dura, mas não menos interessante. Alguns bebês se aproximavam por encantamento e se propunham a experimentar a água congelada.
Enquanto isso, outros observavam a brincadeira que se intensificava. O gelo era retirado da bacia, transportado pelo pátio, esfregado no chão e novas maneiras de retirar os brinquedos e elementos da natureza eram inventadas e assim os bebês que se mantinham até então mais distantes eram contagiados pelo movimento inventivo que se expandia, juntando-se ao coletivo, caracterizado por Deleuze e Guattari (2011) por uma constante transformação e produção, sendo sempre aberto a novas conexões e modificações. Portanto, o coletivo não se restringe a um espaço físico específico, mas pode abranger diferentes dimensões, também pode ser entendido como um campo de forças, em que diferentes elementos se relacionam e afetam uns aos outros.
Desse modo, os bebês, em suas relações brincantes, faziam emergir uma força que funcionava como um atrator. De acordo com Kastrup (2001), o atrator é definido por seu poder de atrair e arrastar com ele para uma viagem a um mundo desconhecido, fazendo acontecer o contato, sendo possível a intimidade e o acompanhamento que abre outras possibilidades em agenciamentos que dão continuidade à propagação.
Impelidos por essa força, passaram a se agrupar em inúmeras tentativas de desprender os brinquedos do gelo. Aos poucos, as tentativas iam surtindo efeito, deixando-os à mostra e um pouco mais soltos. Nesse movimento coletivo, a água foi se tornando líquida e os elementos, antes presos, agora flutuavam no líquido gelado e se moviam à medida que movimentos ondulatórios eram intencionalmente produzidos pelos bebês.
Nessa experiência, folhas, gravetos e sementes que as árvores do entorno depositaram em nosso quintal foram convidados a entrar na brincadeira em que cada elemento novo trazia múltiplas potencialidades. A experimentação passou a ter cores, texturas e indagações. Será que vai boiar ou afundar? Cada novo contato com a água passava a ser singular e diverso ante os movimentos de repetição que produziam diferença em si (DELEUZE, 2021).
Assim ocorreu o encontro entre a água, o quintal e os bebês: em experimentações que produziram aprendizagens inventivas na medida em que eles entraram em relação com o quintal e suas potencialidades, levando-nos a reiterar que essas experimentações abrem possíveis a um plano imanente no qual os agenciamentos dos/com os bebês sejam intensificados, abrindo-se a diversas possibilidades e devires.
Intencionadas em acompanhar os processos inventivos dos bebês e abertas aos encontros aprendentes, continuamos a cartografar os movimentos potencializadores que emergiram do ajuntamento com o quintal-afeto, pois apostamos que todo conhecimento é um modo de modificar a realidade, transformando-a (PASSOS; KATRUP; ESCÓSSIA, 2009). Desse modo, as flores foram uma experiência singular, devido à delicadeza dos movimentos em despetalá-las, que funcionava como um chamado aos encontros alegres com outras flores de cores, texturas, cheiros e tamanhos variados. Assim foram se dando as propostas envolvendo as flores de outono.
Para compor com as flores, foram dispostas esteiras de palha, gamelas e tigelas de madeira. Esses elementos foram os disparadores utilizados para transportar os bebês a um território quintaleiro, cheio de vida junto à natureza que pulsava no encontro com os materiais. Ao depararem com esse cenário, os bebês perceberam que o chão onde pisavam estalava embaixo dos pés, era sonoro e agradável ao toque, ao mesmo tempo que produzia uma sensação de aconchego e acolhimento.
A sala-quintal coberta de esteiras potencializou a expansão de movimentos dos bebês em experiências sensoriais intensivas dadas no corpo. O chão coberto pela palha produzia um estalido sonoro singular que reverberaram nas expressões de surpresa e alegria, convidando a experimentar outros modos de se movimentar. Não demorou para que eles se pusessem a tirar os calçados, sentar-se, deitar-se e rolar nas esteiras para reproduzir no corpo todo a sensação experimentada antes na sola dos pés, produzindo assim sons por onde passavam. Nesse cenário, os bebês esfuziavam inventividades que escapavam da lógica dos movimentos estereotipados, ocorrendo aprendizagens “[...] pelas aberturas do sensível”, em uma potência que “[...] só apreende o que pode ser sentido (DELEUZE, 2000, p. 237).
Ao encontrarem as gamelas repletas de minúsculas flores de carambola que exalavam um perfume frutado, o encanto tomou conta da experiência, junto à ação de amassá-las e tocá-las. Nesse encontro, buscaram modos de perceber cada detalhe das pequenas flores e seu perfume expressivo, aproximando-as dos olhos que pulsavam alegrias curiosas. Então convidamos os bebês a olharem pelo microscópio digital, o que tornou ainda mais intenso aquele momento de encantamento. O microscópio ampliou as flores de carambola e revelou suas pequenas pétalas não visíveis a olho nu. A estranheza de olhar na tela para ver as flores grandes levou os bebês a investigarem o microscópio também. Ao expandirem a experiência, descobriram que poderiam ampliar partes do seu corpo e do corpo dos colegas em volta, assim como dos brinquedos e das palhas da esteira.
Com o avançar do outono, folhas muito miúdas e amarelas começavam a se desprender das árvores e, a cada rajada de vento, formavam uma chuva de folhas muito delicada que se depositava cobrindo o pátio, sendo um convite muito instigante a novas experimentações. Sempre que o vento se movimentava de modo mais intenso, a revoada de pétalas nos remetia a amarelos voos de bando, procurando lugar para pousar.
Quando o vento resolvia dar uma trégua, os bebês se movimentavam no sentido de produzir outra revoada e assim fazer as folhas dançarem em movimentos coletivos com eles. As folhas, que antes passavam despercebidas, agora produziam encontros alegres no pátio-quintal, fazendo movimentar currículos permeados pela inventividade dos bebês em romper espaçostempos que se diferenciavam a cada encontro, fazendo o quintal exalar o perfume da inventividade.
As minúsculas folhas viravam comidinhas inventadas, confetes e adorno para os cabelos, fazendo entrelaces com os corpos dos bebês que dançavam e vibravam, permitindo-se banhar pelas folhas. Entre encontros potentes, passamos a habitar os quintais-afeto no CMEI, em que aprender não se faz somente pelo hábito, mas habitando territórios.
Habitar um território é um processo que envolve o “perder tempo", que implica errância e também assiduidade, resultando numa experiência direta e íntima com a matéria. Não basta o decorrer do tempo cronológico, embora a repetição da experiência ao longo do tempo seja uma condição necessária (KASTRUP, 2001, p. 22).
Nesses movimentos, as experiências junto aos encontros com a natureza despertaram alegrias no corpo em habitar quintais-afeto. Passamos a experienciar um quintal brincante no qual seja possível afirmar experiências crianceiras sensíveis aos saberes inventivos, imersos em um território em que pulsam as infâncias que produzem currículos aprendentes.
Nas experiências dos/com os bebês, permeadas por docências inventivas, potencializamos esforços em perseverar na existência de um currículo que se expanda por territórios crianceiros pela Educação Infantil. Afetamo-nos por um espaço que não se constitui em aprisionamentos, não sendo “[...] aprioristicamente dado, pois, uma vez criado, vem a ser a materialização das relações de forças produzidas em um instante. Sua duração é de um instante, porque no próximo a composição das forças já será outra” (CARVALHO, 2019, p. 52). Trata-se de movimentar o pensamento por um quintal que se modifica a cada encontro e acontecimento, sendo que “[...] cada área é um espaço folheado de infinitas camadas possíveis que irão se atualizar a cada instante conforme a disputa das forças” (CARVALHO, 2019, p 53), que ocorrem na medida em que os encontros se dão. Portanto, é possível potencializar a vida entre movimentos de um currículo que seja embalançado por encontros alegres, para fazer a vida explodir em invencionices crianceiras entre docências e bebês.
Afirmamos um devir-quintal-afeto para resistir aos estancamentos, produzindo outros mundos em territórios de vida pulsante. Nessa força, argumentamos um quintal como prática do encontro que possibilite um plano imanente em que os agenciamentos dos/com os corpos dos bebês se intensifiquem por meio das experimentações inventivas abertas às infindáveis possibilidades e devires.
Nossa força está imbricada em vivenciar o cotidiano no quintal-afeto como acontecimento vivido nele mesmo, mas que nem por isso deixa de ser múltiplo e diverso. O território-quintal muda à medida que nos relacionamos com ele, pensamos sobre ele, potencializamos ações junto ao coletivo de nosso território inventivo, sem que haja necessidade de superá-lo em seus entraves, apenas fazê-lo modos de vida com os que nele habitam.