A problemática da ciência aberta, da gestão de revistas científicas e, consequentemente, da avaliação da ciência, tem sido bastante discutida ao nível da comunidade científica internacional. Os resultados apresentados por Caballero-Rivero, Sánchez-Tarragó & Santos (2019), permitiram constatar um crescimento estável dos artigos em Acesso Aberto, os quais representam mais de um terço da produção brasileira na Web of Science. Outro resultado à destacar, é da Cátedra Libre Ciencia, Política y Sociedad. (2019), quem realizou uma crítica ao paradigma hegemónico de avaliação da ciência, baseado fundamentalmente em indicadores quantitativos de papers e patentes.

Em Angola, é visível o esforço que diferentes instituições têm estado a realizar no sentido de se melhorar a qualidade dos processos substantivos às revistas científicas e consequentemente melhorar a qualidade da informação científica validada nesta região.

Nesta direcção, destaca-se o trabalho realizado por Sousa; Lussinga; Delfino e Robalo (2020), por terem desenhado e validado, por critério de especialistas, um curso de pós-graduação profissional em redacção e publicação científica;

Não menos importante foi a investigação efectuada por Artigas e Gungula (2020) os quais apresentam a sua experiência de gestão de revistas científicas, através da plataforma Open Journal System (OJS). A este esforço adiciona-se o facto do Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação, em parceria com Universidade Óscar Ribas, a Universidade Autónoma do Estado do México e a Redalyc-Amelica, terem realizado um seminário de capacitação, dirigido aos directores e editores de revistas científicas, professores e investigadores das universidades angolanas, sobre a criação, gestão e indexação de revistas científicas.

Estas iniciativas concorrem para criação de um conjunto de condições que favoreça a implementação de um modelo de publicação aberto, sem fins lucrativos, e de avaliação da ciência de maior abrangência, tendo em conta os pressupostos destacados pelas Declarações de Budapest, 2002, Bethesda e Berlim, 2003 e a Declaração da Alhambra, 2010.

A estas acções, adicionam-se os grandes movimentos de acesso aberto existes no Mundo, com destaque à Declaração de São Francisco, sobre a avaliação da investigação (DORA) e a Declaração do México - Declaração Conjunta LATINDEX-REDALYC-CLACSO-IBICT que recomenda o uso da licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-Compartilha Igual (CC-BY-NC-SA), para garantir a protecção da produção académica e científica regional em Acesso Aberto.

Analisando os documentos normativos que regem a avaliação de desempenho dos docentes universitários em Angola, Decreto Presidencial 121/20, permitiu verificar que na subsecção II artigo 22º, aborda sobre os critérios de avaliação relativos ao parâmetro produção científica e tecnológica.

O ponto 1. Esclarece que “a avaliação de desempenho na dimensão investigação científica, parâmetro produção científica e tecnologia é estabelecida, tomando em conta a área disciplinar, com base em critérios, tais como actualidade, novidade, impacto, diversidade, originalidade, multidisciplinariedade, ética e integridade científica, contribuição para o avanço do estado do conhecimento, etc.” (Angola, 2020, p. 2722).

O ponto 2. Destaca “A componente qualitativa contempla o número total e a natureza das publicações científicas do docente durante o período em avaliação, bem como o tipo de produção tecnológica e/ou inovação, segundo a pontuação definida na tabela 8, constante no anexo” (Angola, 2020, p. 2722).

Verificada a tabela em referência, constata-se que, a maior pontuação (7 ptos), é dado ao autor de um livro baseado em resultados de investigação e desenvolvimento (I&D); seguido da publicação de artigo resultante de investigação científica em revista científica internacional indexada de tipo A (6 ptos).

Não obstante a esta classificação, em nenhuma parte do referido decreto, esclarece que conjunto de critérios uma revista deve reunir para ser considerada do tipo A ou B. Analisando contextos internacionais, verifica-se que Brasil, pela CAPES QUALIS, Espanha pela CIRC: Clasificación Integrada de Revistas Científicas, México pela CRMCyT: Sistema de Clasificación de Revistas Mexicanas de Investigación e Colombia pela Colciencias, atribuem classificações às revistas por elas indexadas, por letras, A, B, A1, A2, A3, Q1, Q2, Q3 (...)(Vasen & Lujano Vilchis, 2017). Não obstante, Cuba, pelo CITMA, utiliza o critério da qualidade das bases de dados e directórios que indexam a revista, para considera-la como sendo do Grupo 1, 2, 3 ou 4.

No contexto angolano estes elementos não foram suficientemente definidos, o que a nosso modo de ver, por um lado, limita a avaliação do docente, por outro, configura-se numa oportunidade de se criar um Sistema Nacional de Classificação de Revistas Científicas, instrumento este que teria a responsabilidade de classificar todas revistas científicas angolanas e ou internacionais, e valorizar as bases de dados em acesso aberto e não comerciais, tendo em conta os exíguos recursos que os países do sul, onde se encontra Angola, dispõem para financiar publicações em revistas comerciais. A este pressuposto, adiciona-se a necessidade da adopção de princípios de boas práticas, de ciência aberta e da necessidade da contextualização de uma melhor avaliação da ciência.

A RAC: revista angolana de ciências, comprometida com o processo de divulgação da ciência, e optando por critérios, políticas e filosofias de acesso aberto, realizou as seguintes acções:

· Aderiu às directrizes de boas práticas para publicações do COPE (Comité de Ética em Publicações);

· Aderiu à licença Creative Commons, CC-BY-NC-SA, Atribuição Não Comercial Compartilha Igual;

· Aderiu à Declaração do México - Declaração Conjunta LATINDEX-REDALYC-CLACSO-IBICT;

· Foi indexada pelo maior Directório de Revistas em Acesso Aberto (DOAJ), com revisão por pares e sem APC;

· Foi indexada pela Infra-estrutura de Comunicação para a Publicação Académica de Ciência Aberta (AmeliCA);

· Solicitou adesão à Declaração de São Francisco (DORA).

Estes pressupostos, configuram-se em pequenas iniciativas para que se alcance uma verdadeira plataforma de acesso aberto aos resultados de investigação científica, e um repensar a maneira como se avalia a ciência, na perspectiva do docente universitário e investigador angolano.

Assim sendo, para este número foram aprovados, investigações de países como Angola, Brasil, Cuba e Venezuela. Apresenta-se, de seguida os títulos, os autores e o objectivo de cada trabalho.

Os primeiros quatro trabalhos deste volume 2 (3), estão relacionados com a Educação, sendo: “Las universidades y su pertinencia en el escenario productivo” da autoria de Mario Clemente Zaldívar Salazar e Armando Díaz Concepción. Neste artigo são apresentadas algumas reflexões sobre o papel dinâmico da universidade em aliança com os sectores produtivos, desempenhando um papel fundamental não só na formação de novos profissionais, mas também na intenção de aplicar novos conhecimentos aos sectores produtivos.

“Aplicação do European Portfolio for Student Teachers of Languages (EPOSTL) no contexto angolano de formação inicial de professores” da autoria de Anil Miguel Vila. Este artigo apresenta os resultados da experimentação do European Portfolio for Student Teachersof Languages (EPOSTL) no contexto do ensino superior angolano, reflectindo sobre a sua eficácia na prática pedagógica de formação inicial de professores de língua inglesa.

Segue-se o trabalho intitulado “Caracterização dos instrumentos de avaliação das aprendizagens dos estudantes do Instituto Superior de Ciências de Educação do Huambo”, da autoria de Augusto Joaquim Vicente. Este trabalho teve como objectivo, caracterizar os instrumentos de avaliação das aprendizagens dos estudantes do ISCED-Huambo, identificando modelos instrumentais de avaliação, para o melhoramento desse processo na instituição em referência.

O terceiro trabalho intitula-se “Re-ligaje del docente universitario venezolano en el proyecto transmoderno” dos autores Milagros Elena Rodríguez e José Gregorio Lemus Maestre. Estes autores analisaram e enfatizaram a releitura do professor universitário venezuelano na transmodernidade, mostra uma crise baseada na desvalorização dos centros universitários como espaços de transcendência humana e onde a disciplina de ensino tem sido profundamente prejudicial. Concluem que as universidade venezuelana deve procurar transepistemes com transmetodologias abertas, complexas e transdisciplinares para reconstruir a universidade venezuelana

No campo de saúde, apresenta-se: “Caracterización y factores de riesgo de la enfermedad diarreica aguda en niños menores de cinco años, en el Hospital de Cambiote de Huambo”. Este trabalho é da autoria de, Yanicela Zapata Gonzalez, Dalia Collazo Nunéz e Lissette Messama Fulgueira. Com esta investigação, os autores objectivaram caracterizar os factores de risco da enfermidade Diarreica Aguda (EDA) em pacientes ingressados no Hospital de Cambiote no município do Huambo.

Segue-se, “Los métodos problémicos en la disciplina Enfermería en Salud mental” de Marleni Pedroso Monterrey, Maylin Rodríguez Delgado e Lázaro Urbano Olivera Manzano. Estes autores realizaram uma aula metodológica instrutiva sobre os métodos problémicos no processo de ensino-aprendizagem da disciplina Enfermaria em Saúde Mental da Conferência a estudantes de Quarto ano do curso de Enfermagem

Outra investigação no campo da saúde é a “Dimensión cultural de la Informática Médica”; da autoria de Eduardo Gutiérrez Santisteban, Yordanis Figueredo Remon e Natacha Margarita Álvarez Enamorado. Este trabalho analisou a dimensão cultural da informática médica, a partir da unidade dialéctica que existe com a sistematização da informatização em Saúde já que os profissionais da saúde vão apropriando-se de um conjunto de conhecimentos, habilidades, valores e valorações através das ferramentas informáticas o que os permite ir aprofundando no emprego de cada ferramenta informática para logo generalizar sua utilização.

A História marcou presença com o trabalho: “Entra na roda e ginga: imaginário literário brasileiro sobre a Rainha Ginga”, da autoria de Helder Thiago Maia. Após uma discussão sobre as diferentes grafias dos nomes da Rainha Ginga e uma breve apresentação da sua presença em outras artes brasileiras, analisou-se a representação da Ngola Nzinga Mbandi na literatura brasileira a partir de quatro textos de autores brasileiros. São eles: a novela policial O trono da Rainha Jinga (1999[2017]), de Alberto Mussa, o conto A Ginga da Rainha (2005), de Iris Amâncio, o texto dramático A comida de Nzinga (2005), de Aninha Franco e Marcos Dias, e a história em quadrinhos A Rainha Ginga (2008), de Roberto Benjamin.

Segue-se Ngola Mbandi e a possibilidade de um quadro depressivo em Angola Antiga, dos autores Sílvio Geraldo Ferreira da Silva e Ana Clara Prado Ferreira. Estes autores buscaram, através de uma perspectiva comparada entre literatura e história, analisar a possibilidade de Ngola Mbandi ter sido acometido por uma doença que ainda não era conhecida nos século XVII; a depressão.

O ambiente marcou presença com o trabalho intitulado: Impacto da qualidade da água na saúde humana: um estudo de caso no Bairro Calomanda, da autoria de Delfina Dunn João. O objetivo deste trabalho foi de descrever a influência do nível académico na ocorrência de doenças de veiculação hídrica no bairro da Calomanda, fez-se recurso ao método não paramétrico utilizando o testes de Spearmen e os resultados demostram haver correlação entre o nível académico, tratamento de água e ocorrência de doenças de veiculação hídrica.

Segue-se o trabalho “La educación ambiental y energética en las tesis doctorales de Angola defendidas en las Ciencias Pedagógicas en Cuba” da autoria de Amparo Osorio Abad e Rafael Bosque Suárez. Estes autores realizam uma sistematização dos resultados das teses doutorais em Ciências Pedagógicas, defendidas em Cuba sobre educação ambiental, no período correspondente entre 2014 a 2020.

Finalmente um trabalho no campo da economia intitulado: As relações entre líder e liderados e seu impacto na manutenção e incremento da motivação organizacional. Um diagnóstico na Faculdade de Economia da Universidade José Eduardo dos Santos – Angola. Os autores deste trabalho foram: Luís Malheiro Matateu e Matias Mukumba Kamanga. Com esta pesquisa, pretenderam avaliar o impacto das relações entre líderes e liderados na manutenção e incremento da motivação organizacional.

Agradecemos aos autores angolanos, brasileiros, cubanos e venezuelanos por terem submetido os resultados das suas investigações, para que, depois de um processo de avaliação e correcção, pudessem ser aprovados e publicados.

Agradecimentos extensivos à Equipa Editorial desta revista, que incansavelmente (apesar das controvérsias da pandemia), mantiveram o seu compromisso nas avaliações e correcções de estilo dos manuscritos nos prazos estabelecidos. Graças aos esforços incansáveis desta grande equipa, este ano a RAC foi indexada por prestigiosos directórios e bases de dados internacionais como: DOAJ, AmeliCA, CORE, REDIB, CAPES, OpenAire, entre outras.

Finalmente, aproveitamos para, mais uma vez, convidar à todos docentes e ou investigadores angolanos e estrangeiros para submeterem os seus trabalhos para avaliação e possível publicação.

Referencias Bibliográficas

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Caballero-Rivero, A.; Sanchez-Tarrago, N. & Santos, R. N. M. dos. (2019). Práticas de Ciência Aberta da comunidade acadêmica brasileira: estudo a partir da produção científica. Transinformação, 31, e190029. https://doi.org/10.1590/2318-0889201931e190029

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Sousa, J. B. M.; Lussinga, A.; Delfino, B. Ch.; Robalo, A. A. P. (2020) A publicação científica. Um desafio para as universidades angolanas. Em Gungula, E. W.; Suarez, W. y Artigas, W. (eds). Investigar para Educar: Visões sem fronteiras. Universidade Óscar Ribas/High Rate Consulting. Angola. DOI: https://doi.org/10.38202/Inv.educ.7

Vasen, F., & Lujano Vilchis, I. (2017). Sistemas nacionales de clasificación de revistas científicas en América Latina: tendencias recientes e implicaciones para la evaluación académica en ciencias sociales. Revista mexicana de ciencias políticas y sociales, 62(231), 199-228. http://dx.doi.org/10.1016/S0185-1918(17)30043-0

Notas

Ligação alternative

http://publicacoes.scientia.co.ao/ojs2/index.php/rac/article/view/119/217 (html)