1 INTRODUÇÃO

Tramando discussões iniciais em torno do design, na compreensão de Bürdek (2012) o designer pode ser formado para solucionar problemas mediante a realização de projetos. Nesse sentido, este profissional trabalha para solucionar problemáticas, tais quais: I) desenvolver produtos com sentido, promovendo comunicação e serviços; II) produzir artefatos de uso e manipulação acessíveis por via da observação e uso de novas tecnologias; e III) deixar em evidência o modo de produção, de consumo e de reutilização dos produtos. Para a solução de tais situações, o design se articula com outas áreas de saberes, concebendo subáreas como o design de produto; design gráfico; design de moda; design de interiores; e design de serviços.

Nessa busca por solução de problemas, o design, enquanto área acadêmico-científica se tornou uma área de pesquisa relevante na proposição de soluções para problemas contemporâneos, ao buscar por sanar problemáticas que envolvem o homem em sua relação com a natureza e com os objetos que o cerca. Segundo o Qualis Periódicos (Plataforma Sucupira⁴), no relatório de Classificação de Periódicos, no quadriênio 20132016, existem no total 1204 periódicos científicos que possuem avaliação na área de ‘Arquitetura, Urbanismo e Design’, sendo vários destes brasileiros. Ainda assim, é relevante apontar que, por se tratar de uma área estudada de maneira multidisciplinar, os estudos podem e são publicados em periódicos de outros campos de avaliação.

A esse aspecto relacionado ao estudo da e na área, Moura (2011) e Silva e Silva (2018) trazem contribuições no que concerne ao desenvolvimento de pesquisas em design no Brasil. Para estes autores, com a criação de programas de pós-graduação na modalidade stricto sensu (mestrados e doutorados) na área de design no país (o primeiro implementado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro no ano de 1994), conjuntamente com a efetivação de eventos científicos e com o desenvolvimento de periódicos científicos específicos na área, tem-se a abertura de vias que fortalecem e ampliam o diálogo e a execução de pesquisas em design e nos seus diálogos com outros campos e suas subáreas de conhecimento.

Lançando o olhar exclusivamente para a moda e design de vestuário, e as ramificações que circundam esse campo (entendendo que a moda pode ser estuda por variadas óticas, tais quais a cultura, economia, sociologia, sustentabilidade, ergonomia, entre outras), compreende-se que as pesquisas científicas cuja centralidade é o vestuário (assim como cursos universitários da área) no Brasil são relativamente recentes.

Em vista disso, é relevante situar o contexto brasileiro no que diz respeito ao campo da moda na pós-graduação brasileira. O primeiro curso desse segmento em Moda, Cultura e Arte no país foi implementado no ano de 2005 pelo Centro Universitário SENAC São Paulo (SENAC, 2005). Como observado por Aragão e Gomes (2017) na atualidade, existem no Brasil apenas dois cursos de mestrado que envolvem a área da moda: o Mestrado Acadêmico em Têxtil e Moda pela Universidade de São Paulo (USP), iniciado em 2011 e o Mestrado Profissional em Design de Vestuário e Moda pela Universidade do Estado de Santa Cataria (UDESC), originado no ano de 2016.

Segundo dados da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC – (2018), 80% das pesquisas do país são realizadas em programas de pós-graduação. Em um contexto em que, ao longo dos anos, existiram no Brasil apenas três cursos de mestrado específicos da área da moda, e que na atualidade, existem apenas dois (e nenhum doutoramento), entende-se que pesquisadores que estudam áreas da moda e design de vestuário podem desenvolver suas pesquisas em diferentes programas de diferentes áreas (podendo-se citar o design, a história, as artes, os interdisciplinares, entre outros), buscando por publicar seus resultados em diferentes revistas.

Na conjuntura do design, entende-se que se trata de uma área que articula estudos transversais com outros campos de conhecimento, caracterizando-a por sua multidisciplinaridade e interdisciplinaridade. Ainda que possua tal característica, da mesma forma que o profissional designer, as pesquisas desenvolvidas neste campo são direcionadas para a solução de problemas socioculturais, dentre outras. As pesquisas desenvolvidas no campo do design, passaram a contemplar de maneira constante os estudos que abrangem as áreas da moda e design de vestuário, assim como já pontuava Moura (2011; 2013), em especial contribuindo para o desenvolvimento projetual como constatam (SCOZ; SANTOS, 2022). Nesse sentido, tais territórios passam a ser explorados, e os resultados, podem ser publicados em periódicos que são avaliados e possuem como escopo as subáreas do design.

No contexto realçado, essa pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de identificar as temáticas relativas à moda⁵ e design de vestuário⁶ pela ótica do design, utilizando como objeto de pesquisa o periódico Educação Gráfica. Especificamente, objetivou-se por catalogar quantitativamente e analisar qualitativamente o conteúdo e as contribuições dos artigos publicados na área supramencionada no periódico selecionado. Cabe ressaltar de antemão que não se teve a pretensão de esmiuçar de maneira total o campo dos estudos em moda, design de vestuário e suas correlações, tampouco de efetuar uma revisão exaustiva acerca do histórico dessa categoria. O que se buscou foi analisar estudos oriundos do campo do design de vestuário e moda pesquisados pela perspectiva do design, podendo gerar contribuições na fomentação do estado da arte desta temática, e sendo está uma das principais justificativas para a efetivação do manuscrito.

A escolha pelo periódico Educação Gráfica foi suscitada, primariamente por buscar compreender como a moda e design de vestuário são objetos de estudo pela ótica do design, uma área que conglomera pesquisas que se inter-relacionam com outros campos temáticos, em especial e no caso deste artigo, com as áreas oriundas da moda. De forma secundária, escolheu-se o periódico supramencionado como artefato de investigação pela relevância do mesmo no campo do design, sendo uma revista associada ao Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), e uma das primeiras revistas brasileiras criadas com o intuito de divulgar pesquisas relacionadas à expressão gráfica, nas suas variadas formas, particularmente pela lente do design, englobando a difusão de estudos sobre a moda. Ainda, a área do design se caracteriza por sua interdisciplinaridade, e isso se evidencia nos estudos desenvolvidos e publicados em tal periódico, tendo a moda relevância e representação na revista.

Relevante ressaltar que a primeira pesquisa cuja temática perpassa o campo da moda e do design de vestuário foi publicada nesta revista no ano de 2005. A esse aspecto é indispensável salientar que, três das relevantes revistas científicas especificamente de moda no Brasil, foram criadas posteriormente (a dObra[s] publicação da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Moda (ABEPEM) criada em 2007; a Iara – Revista de Moda, Cultura e Arte – associada ao Centro Universitário Senac SP em 2008; e a ModaPalavra, organizada a partir do Programa de Pós-Graduação em Moda da Universidade do Estado de Santa Catarina também a partir de 2008). Então, ao analisar artigos publicados na Educação Gráfica, poder-se-á estar analisando manuscritos pioneiros no estudo da moda e design de vestuário pelas lentes do design, no âmbito da pós-graduação brasileira.

Ademais, ao analisar artigos provenientes do design, mas que se relacionam com temas do campo da moda e design de vestuário buscou-se por mostrar “[...] como outras áreas enxergam o mesmo tema [...]” podendo “[...] colaborar profundamente para o desenvolvimento de um determinado tópico [...]”. (WOLF; CAPRA, 2018, p. 455). Desse modo, ainda para os autores, evita-se que artigos de periódicos específicos se retroalimentam, fortalecendo, por conseguinte a pesquisa e o corpus analisado.

Em referência à estrutura deste manuscrito, para além desta introdução, apresentam-se: um tópico destinado para exposição dos procedimentos metodológicos; em seguida, evidencia-se o referencial teórico que é composto pelas discussões suscitadas nas análises, partindo das investigações quantitativas para as qualitativas; por fim, tem-se a seção destinada para os apontamentos finais.

1.1 Procedimentos metodológicos

Essa pesquisa é classificada como de natureza básica, pois, busca-se por fomentar o campo teórico para o desenvolvimento dos conhecimentos nas áreas que permeiam a moda e design de vestuário. Sobre o seu desenho metodológico, configura-se como descritiva em que visa dissertar sobre uma área bastante pesquisada a partir de diferentes óticas. No que concerne a sua abordagem, trata-se de um estudo quantitativo-qualitativo, sendo duas abordagens distintas, porém complementares para este estudo (GIL, 2008; SANTOS, 2018).

Com o intuito de atingir o objetivo estipulado a pesquisa foi efetivada por meio da realização de uma revisão bibliográfica do tipo sistemática (WOLF; CAPRA, 2018) sobre os temas correlatos à pesquisa, utilizando como contexto específico o caso de artigos publicados no periódico Educação Gráfica. Nessa análise, levou-se em consideração o conteúdo dos estudos, sintetizando seus resultados, observando as perspectivas abordadas e as contribuições sucedidas pela relação design-moda-vestuário.

A revisão sistemática conforme Wolf e Capra (2018) é um método de pesquisa que se utiliza de dados bibliográficos específicos de uma determinada área científica. Esse artigo possui abordagem sistemática, pois, estudos deste tipo “[...] coletam, organizam e analisam pesquisas publicadas sobre um determinado tema, em uma determinada fonte, em um período de tempo [...]” (WOLF; CAPRA, 2018). Seguiu-se um processo de seleção, classificação e análise dos artigos selecionados, sendo estes: I) escolha da base de dados; 2) busca por marcadores; III) seleção do que seria analisado; IV) realização da análise dos conteúdos e criação das redes temáticas.

Por via deste tipo de desenho metodológico, teve-se a pretensão de sintetizar informações retiradas de um determinado número de trabalhos. Assim, foram integradas informações, fomentando o estado da arte do campo analisado.

A pesquisa que tem como foco os estudos atrelados à área da moda e design de vestuário buscou por produções que discutissem as interfaces atreladas a esse campo. Levou-se em consideração como recorte temporal, o período de criação da revista (1997) até a última edição publicada no ano de 2021. Salienta-se que durante os anos 1997 a 2004, a revista era publicada anualmente. De 2005 a 2009 passou a ser publicada semestralmente. A partir do ano de 2011 passou a ser publicada trimestralmente em edições do tipo variatas. Para a seleção dos manuscritos, utilizaram-se como marcadores os termos “design de moda”, “moda” e “vestuário”, senda a busca realizada no próprio site da revista. Destarte, foram encontrados 49 artigos publicados em 33 edições e em 15 anos diferentes (conforme dados da Figura 1), sendo a leitura dos títulos e palavras-chave destes a primeira etapa realizada, identificando a ocorrência dos termos elencados. Dessa forma, definiu-se como critério de inclusão que os manuscritos presariam possuir pelo menos um dos marcadores como palavra-chave. Assim, todos os artigos encontrados foram selecionados para uma análise posterior.

Figura 1
Artigos publicados no periódico, conforme temática (design de moda, moda e vestuário) por ano e edição
Dados da pesquisa (2022)

Após selecionados, a segunda etapa foi efetuada pela leitura e análise dos resumos. Em continuação, os artigos foram organizados no software Microsoft Excel®, ordenados em uma tabela contendo a edição da qual fez parte e ano de publicação, título, resumo, o nome e o número de autores de cada um dos trabalhos.

Na sequência, foi construída a análise quantitativa dos dados, constituindo-se na observação do número de artigos publicados, realizando-se também uma comparação com o quantitativo total de pesquisas publicadas no periódico. A investigação qualitativa foi realizada mediante a uma análise de redes temáticas⁷, conforme conceituou Attride-Stirling (2001), em que os artigos foram agrupados em cinco categorias distintas, conforme aproximação dos subtemas elencados.

Nessa etapa, os artigos foram analisados por categoria, ou rede temática, com auxílio do software IRaMuTeQ®, manuseando-se especificamente a ferramenta nuvem de palavras. Conforme Salviati (2017), na nuvem de palavras, os vocábulos são agrupados e organizados mediante suas ocorrências e formam um gráfico com as palavras mais repetidas nos dados analisados, em que quanto maior a frequência da palavra, maior ela será representada na imagem.

2 DESENVOLVIMENTO: O PERIÓDICO EDUCAÇÃO GRÁFICA: HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO

De acordo com o site da revista foco desse estudo, ela é editada no e pelo Departamento de Artes e Representação Gráfica da Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação da UNESP, na cidade de Bauru, desde o ano de seu fundamento em 1997. O intuito da revista é o de divulgar estudos que possuem afinidade com as expressões e representações gráficas e suas aplicações no design e áreas afins.

Ainda tendo como base o site do periódico, entende-se que este é acessível para a participação de pesquisadores docentes e discentes e também profissionais que se empenham em estabelecer discussões nas proximidades da expressão gráfica (Design, Arquitetura, Engenharias, Artes Plásticas, Moda, entre outras), sendo ainda, um dos mais antigos periódicos a publicarem sobre moda e design de vestuário pela ótica do design no Brasil. No presente, a revista pública três edições anualmente (EDUCAÇÃO GRÁFICA, 2021). Na próxima seção, são analisados os artigos selecionados para a composição deste estudo.

2.1 A moda e o design de vestuário como campo de estudo no periódico Educação Gráfica

Ao longo dos 25 anos de existência, o periódico Educação Gráfica se tornou uma das referências para que pesquisadores da área do design publicassem suas pesquisas. Nesse contexto, a revista vem recebendo contribuições de autores de diversas áreas e que possuem o design como objeto de estudo na sua multidisciplinaridade. Por consequência, há pesquisas publicadas nas áreas temáticas referentes ao campo da moda e design de vestuário.

Efetivando uma análise quantitativa, contemplando tais temáticas, constatou-se que ao longo da existência do periódico foram publicados 820 artigos em 53 edições, e destes, 49 estudos se encaixaram nas temáticas abordadas, o que corresponde por 5,47% das produções da revista.

Esses artigos foram subdivididos e agrupados em cinco redes de temas, sendo estas: 1) pesquisa, ensino e metodologia; 2) ergonomia e antropometria; 3) comunicação e linguagem visual; 4) projeto, tecnologia e gestão; 5) arte, artesanato, design e moda contemporânea, como se pode averiguar nos dados da Figura 2. As categorias foram formadas por artigos cujas temáticas se aproximavam através de uma análise de coocorrência. Ressalta-se que nas análises, o número de aparições (frequência) das principais palavras nos resumos dos trabalhos que compõe cada um desses grupos está alocado entre parênteses juntamente dos vocábulos.

Figura 2
Subtemas de artigos publicados no periódico, relacionados com as interfaces do design de moda
Dados da pesquisa (2022)

Outrossim, faz-se relevante pontuar que esse panorama traçado para busca e análise dos dados foi um caminho possível, havendo outros. Dito isso, nas próximas seções, são estipuladas as investigações qualitativas dos artigos elencados por categoria de análise.

2.1.1 Pesquisa, ensino e metodologia

Tecendo as análises iniciais, a partir da Figura 3, consegue-se visualizar que os artigos organizados nessa seção, foram direcionados nas proximidades entre moda (100), como (83), design (75), ensino/estudo (46), processo (41), pesquisa (38), entre outros vocábulos que denotam um caráter pedagógico e metodológico das pesquisas. De forma geral, os trabalhos desse tópico foram direcionados para a formação de diretrizes e processos que facilitam a dualidade ensino-aprendizagem, especificamente, no campo do design de moda e cursos correlatos. Tal temática foi abordada por 11 manuscritos (SILVA; MENEZES, 2005; FERREIRA, 2012; PEREIRA; MENEZES, 2013; SPAINE; MENEZES, 2014; ALVES; GUEDES; GOMEZ, 2015; RIBEIRO; GOMEZ, 2015; SILVA; NASCIMENTO, 2015; AMORIM; DIAS, 2017; GOYA; NAKATA, 2017; ALVES; CARVALHO, 2020; HATADANI et al., 2012).

Figura 3
Nuvem de palavras da categoria ‘pesquisa, ensino e metodologia’
Dados da pesquisa (2022)

No que se refere ao conteúdo desses artigos, o primeiro estudo publicado no periódico na área pesquisa foi categorizado dentro dessa seção. Silva e Menezes (2005) inauguraram o compartilhamento de conhecimentos acerca da temática da moda na revista estudada. Em suas pesquisas, os autores elencaram a falta de uma metodologia própria para a criação e produção de calçados infantis, buscando gerar subsídios para designers em projetos ligados a esse campo. Em tal direção, alguns dos artigos desta categoria possuíam o intuito de fomentar metodologias e diretrizes, tanto para o ensino como para o setor industrial.

Deste modo, Spaine e Menezes (2014) delinearam metodologias para o desenvolvimento do ensino da modelagem plana industrial, ao estabelecerem aproximações entre a forma de ensino e a prática profissional. De forma similar, Alves, Guedes e Gomez (2015) tramaram análises sobre a importância do ensino de tendências no campo do design de moda, em que realçaram a falta deste conteúdo em algumas instituições. Com este trabalho, os autores fomentam o ensino de tendências por meio de um workshop, local onde foram desenvolvidos moodboards relacionados com a temática. Em processo símile, Amorim e Dias (2017) elucidaram a criação de uma técnica efetivada por meio de experimentações e práticas de ensino elaboradas em uma disciplina na área da moda, especificamente, de design têxtil, visando gerar facilitações no processo de ensino-aprendizagem relativo ao conteúdo abordado.

Nessa continuidade, Hatadani et al., (2021) apresentaram o processo de desenvolvimento de um mecanismo visual pedagógico, efetivado para amparar alunos do curso de design de moda na criação e desenvolvimento de projetos de pesquisa na área da moda. De modo análogo, Alves e Carvalho (2020) expuseram resultados de um projeto realizado com curso de design de moda do Centro Universitário SENAC – São Paulo (SP), cujo objetivo fora desenvolver um processo de ensino que fortalecesse o decurso criativo dos alunos, despertando os conhecimentos experimentais e espaciais, em especial, a compreensão acerca de artefatos materiais e de estrutura essenciais do vestuário.

Partindo para o campo industrial, Ferreira (2012) esboçou uma contextualização a respeito dos calçados femininos enfatizando seus processos de design, exibindo o caso específico da cidade de Franca – SP. Os autores vislumbraram as necessidades de serem usadas novas referências e novos processos criativos, articulando os conceitos de design, design de moda e calçados, visando à produção de produtos autorais e inovadores. De modo convergente, mas atrelando o campo pedagógico, Pereira e Menezes (2013) investigaram como os elementos e princípios do design podem ser utilizados na confecção de roupas infantis, dando ênfase em como processos educacionais podem ser incrementados nas vestimentas, efetivando um diálogo possível entre os campos do design, da moda e da educação.

Dois artigos foram desenvolvidos com enfoque nas aproximações existentes entre os conceitos de design e design de moda. Nessa ocorrência, Goya e Nakata (2017) estudaram as inter-relações entre os campos do design, da arte e da moda, materializados por meio das metodologias do trabalho do estilista Ronaldo Fraga, que se utiliza de uma mescla de técnicas e de elementos tradicionais e novos em seu processo criativo. Semelhantemente, Silva e Nascimento (2015) salientaram as aproximações e distanciamento existentes entre os campos do design e da moda por meio do espaço compartilhado entre essas áreas. Finalmente, ao abordar o design de moda em uma perspectiva interdisciplinar, Ribeiro e Gomez (2015) demonstraram o uso da publicidade como mecanismo de legitimação e de gerenciamento da cultura de marcas de moda. A publicidade é para os autores, uma ferramenta que pode expressar a linguagem de uma marca para o consumidor.

2.1.2 Ergonomia e antropometria

Como se pode constatar na Figura 4, as pesquisas encontradas relacionadas com os conceitos de ergonomia e antropometria foram desenvolvidas especialmente ao redor das relações estabelecidas entre à moda (100), o vestuário (48) e o corpo (26) e entre o produto (45), o usuário (21) e a roupa (18). Ainda, tem-se o destaque para os termos utilizar (20), medida (10), humano (10), molde (7), entre outros, aspectos que serão discutidos nessa seção. Ao todo, oito artigos contemplam essa categoria (PRADO; SANTOS, 2006; VALENTE; PASCHOARELLI, 2008; MAFFEI; MENEZES, 2011; GARCIA et al., 2013; COSTA et al., 2015; COLLET; AYMONE, 2016; THEIS et al., 2020; VIEIRA; PRIM; IERVOLINO, 2020).

Figura 4
Nuvem de palavras da categoria ‘ergonomia e antropometria’
Dados da pesquisa (2022)

Compreende-se que os conceitos de ergonomia e antropometria estão intimamente ligados com a qualidade de vida do ser humano na sua relação com o ambiente, com máquinas e objetos (IIDA, 2012). Nesse direcionamento, por meio de um estudo de caso, Prado e Santos (2006), os primeiros a publicarem no periódico estudado sobre essa categoria, analisaram o trabalho de costureiras, que passavam por longas horas em uma posição estática. Como resultados, verificaram a qualidade de vida destas no trabalho em indústrias de confecção de vestuário, apoiando-se em estudos ergonômicos e antropométricos ligados ao campo do design. Os autores apuraram que o trabalho das costureiras não era ergonomicamente adequado, ocasionando em doenças como a lombalgia.

Nesse caminho atrelado a qualidade de vida, encontraram-se outros dois trabalhos. O primeiro, escrito por Valente e Paschoarelli (2008), que avaliou, por meio de um estudo de caso, a percepção de mulheres a respeito do conforto e desconforto no que concerne ao uso de calçados com salto alto, respaldando-se no conceito de design ergonômico. O segundo estudo, com autoria de Collet e Aymone (2016), foi desenvolvido por uma análise de como a realidade virtual (VRML) pode auxiliar na informação, comercialização, e facilitação da compra de artefatos de moda por pessoas estomizadas. Ainda relacionado a sensações fisiológicas, Garcia et al. (2013) analisaram a eficácia de etiquetas de peças do vestuário pela ótica dos utilizadores. Os autores evidenciaram que as etiquetas possuem importância para a compra, servindo como indicadoras de tamanho, preço e das etapas de cuidado, contudo, estes objetos causavam desconforto nos usuários, sendo retirados das roupas por este motivo. A esse aspecto, atualmente, pode-se salientar a criação de etiquetas impressas nas próprias roupas, sendo um projeto gráfico que extingue essa problemática.

Partindo para questões que relacionam os conceitos desta categoria com a representação gráfica e com desenvolvimento da etapa da modelagem, foram encontradas 4 pesquisas. Maffei e Menezes (2011) abordaram como o designer de moda precisa compreender a antropometria humana, atendendo as necessidades do homem na representação gráfica de objetos de moda, tendo em mente que o corpo é tridimensional no processo de produção bidimensional do vestuário. Costa et al. (2015) avaliaram a possibilidade de configurar moldes básicos personalizados sem haver necessidade de confeccionar modelos únicos para usuários, utilizando a digitalização tridimensional na busca de medidas antropométricas do corpo humano, parametrizando estas medidas.

Em direcionamento próximo, Vieira, Prim e Iervolino (2020) verificaram as informações proporcionadas pelo software MoCap®, para que peças do vestuário fossem ergonômicas no que tange a cava de roupas. Sendo o último trabalho desta seção, Theis et al. (2020) elucidaram a importância do conhecimento do corpo humano tridimensional pelo método da moulage cartesiana⁸ tendo como base conceitos da matemática, tecnologia e da ergonomia. Para os autores, este método deixa o processo da modelagem acessível, facilitando a ilustração dos moldes do corpo humano e das roupas.

2.1.3 Comunicação e linguagem visual

No que diz respeito a essa seção, os artigos produzidos partem da vinculação existente entre a moda (100), o design (75), o vestuário (48), a linguagem visual (26), e os elementos (25) (conforme Figura 5). Em suma, as pesquisas dessa categoria são direcionadas para a moda design de vestuário em termos de elementos e princípios do design, suas representações visuais e o entendimento destes aspectos pelos designers e usuários em geral, sendo, portanto, uma categoria bastante complexa e com estudos variados. O arcabouço deste tópico foi constituído por 10 pesquisas (DIAS; BARBOSA, 2009; MERLO, 2012; CASTRO; HARRIS; LANDIM, 2014; SCHMIEGELOW; CAMPOS; GOMEZ, 2014; MARTINS; MENEZES, 2016; SILVA; MENEZES, 2018; DANTAS; SILVEIRA, 2020; DANTAS et al., 2020; PEREIRA; ANDRADE; MENEZES, 2020; VARNIER et al., 2020).

Figura 5
Nuvem de palavras da categoria ‘comunicação e linguagem visual’
Dados da pesquisa (2022)

Em termos de linguagem visual, no geral, os desfiles de moda podem ser meios comunicacionais, tanto pelas roupas, mas também no que concerne a ornamentação do ambiente. Nesse sentido, Dias e Barbosa (2009), analisaram questões relacionadas a cenografia de desfiles de moda, evidenciando a interdisciplinaridade do fazer cenográfico, que articula elementos do design, das artes, da arquitetura e do teatro. Para os autores, a cenografia integra a composição visual das coleções desfiladas, ao passo em que transmite conceitos expressos nessas. Em direcionamento semelhante, tem-se o destaque para a arquitetura no campo do design de moda. Por essa lente, Castro, Harris e Landim (2014), analisaram a comunicação expressa em fachadas de grandes marcas de moda, desenvolvendo um sistema para auxiliar a projeção de fachadas para transmitirem efetivamente a identidade da marca.

Também abordando a eficiência da linguagem visual, Schmiegelow, Campos e Gomez (2014) verificaram a efetividade da comunicação de tendências de moda por meio de painéis imagéticos. Analisando um painel especifico, os autores concluíram que a comunicação pode ser efetivada pela estética em detrimento ao conceito apresentado. Nesse mesmo direcionamento, Dantas e Silveira (2020) evidenciaram, pelo método de um estudo de caso sobre uma coleção de moda específica, de que forma ocorre a etapa de coleta de elementos visuais de painéis imagéticos, ao focalizarem em como tais elementos podem ser utilizados na produção de peças do vestuário. Os autores identificaram que existe uma evidente correspondência entre as imagens referenciais e os artefatos produzidos, especialmente pelas cores e materiais utilizados.

Nesse ponto relativo ao entendimento e transmissão de mensagens, Varnier et al. (2020) avaliaram se designers de moda, com formação e atuação na área, por uma comparação com o público em geral, possuíam conhecimentos específicos e se reconheciam de forma subjetiva os elementos do design de moda (linhas, cores, texturas, materiais e silhuetas) presentes em uma coleção selecionada. Enquanto resultados evidenciaram que os profissionais da área poderiam possuir conhecimentos distintivos acerca de elementos do campo do design.

Em outro direcionamento, a fotografia, que é um elemento comunicacional, foi estudada por Merlo (2012) pela ótima da memória e das lembranças. A autora evidenciou que álbuns de família tem potencial na geração de memórias, contribuindo para a compreensão de relações pessoais e com artefatos, com enfoque para as roupas, que podem possuir marcas individuais.

De forma aproximada e possuindo imagens como objeto de investigação, mas por uma ótica distinta, um trabalho analisou a participação e representação de pessoas negras em capas de revista de moda. Os pesquisadores evidenciaram que existem quatro tipos principais de representação, sendo estes: “subversão racial, valorização da beleza afro-americana, sexualização e diversidade” (DANTAS et al., 2021, p. 234). Tem-se a percepção que, ao longo da história, a maneira que as capas dessas revistas são visualmente configuradas passa por modificações, assim como as estratégias visuais também são transformadas.

A partir de outro enfoque, Silva e Menezes (2018) estabeleceram um diálogo entre o design de superfície e o design de moda, ao notabilizarem que se tratam de duas áreas importantes na e para a produção do vestuário. As autoras analisaram as relações existentes entre a padronagem têxtil e o vestuário, destacando a comunicação visual que era expressa. Em tal direção, Martins e Menezes (2016) analisaram amostras de panos africanos Adire, originários Yoruba, identificando elementos da estrutura do design (elementos da linguagem visual) e a organização visual das estampas destes objetos.

Finalmente, Pereira, Andrade e Menezes (2020), também exploraram aspectos ligados aos fundamentos metodológicos do design gráfico, do design de superfície e do design de informação, trazendo contribuições no que concerne aos conhecimentos que julgavam essenciais para a produção de projetos visuais em produtos do vestuário.

2.1.4 Projeto, tecnologia e gestão

Conforme as palavras em destaque na Figura 6, constatou-se que as pesquisas desenvolvidas nos artigos agrupados nessa categoria, foram direcionados para as relações existentes entre moda (100), design (75), desenvolvimento (29), indústria (33), sustentabilidade (15) entre outros termos que reforçam a concepção de projetos relacionados ao emprego de tecnologias e a gestão. 10 artigos fazem parte dessa análise (EMÍDIO; MENEZES, 2006; FERREIRA; ALENCAR, 2008; ALMEIDA; MOURA, 2013; LASCHUK; RÜTHSCHILLING, 2014; LASCHUK; RÜTHSCHILLING, 2016; ANICET; BESSA; BROEGA, 2017; PADARATZ et al., 2017; SILVA; SILVA; RUTHSCHILLING, 2019; PIRES; MENEZES, 2020; BERTON; MENEZES, 2021).

Figura 6
Nuvem de palavras da categoria ‘projeto, tecnologia e gestão’
Dados da pesquisa (2022)

Sendo o segundo artigo publicado no periódico com a temática nos entornos do design de moda, e o primeiro desta seção, Emídio e Menezes (2006) avaliaram as contribuições conceituais da gestão do design, pautadas como mecanismos para alavancar a competitividade de micro e pequenas empresas de vestuário na esfera industrial. Partindo também do imaginário da gestão, Padaratz et al. (2017) constituíram uma proposta traçando diretrizes para projetar a interface de museus virtuais de moda, tendo como intuito, gerar melhorias na experiência dos usuários.

Efetivando aproximações entre o emprego de tecnologias e sustentabilidade, Silva, Silva e Ruthschilling (2019) dissertaram acerca da implementação de tecnologias de fabricação para o campo da moda, em específico sobre o laboratório de fabricação digital Fab Textiles, resultando no desenvolvimento dos Textile Labs (laboratórios têxteis), concluindo que essas tecnologias podem ocasionar uma produção de artigos de moda de forma menos degradante em termos ambientais e éticos. Em tal direcionamento, Anicet, Bessa e Broega (2017) elucidaram o design como mecanismo diferenciador e sustentável por meio do design de superfície pela técnica de colagens têxteis, fazendo uso de resíduos, nos campos da moda e da decoração, utilizando-se do sistema Sustainability Design Orienting Toolkit (SDO) para entender até que ponto um artefato é sustentável. Ainda, Almeida e Moura (2013) trataram da sustentabilidade ao usarem como base a metodologia do ciclo de vida do produto, aplicando-o em um protejo de fabricação de produtos de moda jeanswear, estabelecendo uma reflexão crítica sobre tal segmento no cenário contemporâneo.

Também pela lente da tecnologia, Laschuk e Rüthschilling (2014) abordaram a evolução de processos produtivos de impressão têxtil para o campo de vestuário e moda, a partir da ótica projetual e técnica comedidas em conceitos e metodologias do design de superfície, identificando as dificuldades e os desenvolvimentos dos processos estudados. Os mesmos autores em estudo realizado em 2016 contribuíram também para o campo do vestuário e da moda por meio do design de superfície, especificamente da estamparia digital, ao verificarem de que forma o layout engineered print vem sendo projetado, ao apurarem os aspectos técnicos utilizados na impressão. Ainda em ternos de tecnologia, Pires e Menezes (2020) discutiram acerca do desenvolvimento de protótipos no campo do vestuário, verificando as aproximações existentes entre os modelos criados de forma tradicional e os produzidos por softwares virtuais 3D, elucidando que as características visuais de ambos podem ser similares.

Ademais, dois artigos foram construídos com centralidade na questão do processo criativo. Por esse ângulo, Berton e Menezes (2021) analisaram os elementos que fazem parte do processo criativo e produtivo de acessórios de cabeça (chapéus, boinas, bonés e outros), fomentando diretrizes projetuais para a produção industrial, estabelecidas por intermédio dos conceitos de design e de moda. Ao final, Ferreira e Alencar (2008) diagnosticaram a função do designer de moda no processo produtivo de artefatos da indústria, tendo por método o estudo de caso realizado em confecções de Cianorte – Paraná (PR). Para os autores, os empresários entendiam o papel desse profissional, concedendo-lhe liberdade total para a execução de seu processo criativo.

2.1.5 Arte, artesanato, design e moda contemporânea

De modo geral, as pesquisas concentradas nessa categoria, como se pode constatar na Figura 7, foram desenvolvidas no entorno do design e da moda, convergindo-se especialmente com as temáticas da arte (43), o meio (26) e a aproximação com processos projetuais (46), sendo algo característico do campo do Design. O escopo dessa seção foi composto por 10 artigos (LUGLI, 2014; ROCHA; MESQUITA, 2014; SASAOKA; MENEZES, 2014; CARVALHO, 2015; FERREIRA; CARVALHO, 2015; CORREIA; CARVALHO, 2016; SILVA, 2018; CINTRA; MESQUITA, 2019; MACHADO et al., 2019; SASAOKA; MOURA, 2020).

Figura 7
Nuvem de palavras da categoria ‘arte, artesanato design e moda contemporânea’
Dados da pesquisa (2022)

Partindo para as análises qualitativas, enfatiza-se que o primeiro artigo publicado que contempla essa seção desenhou uma análise no entorno da valorização da ilustração enquanto um recurso que expressa e fortifica identidades no campo da moda, sobretudo quando usada em editoriais e publicidades. A autora elucida que “[...] a ilustração é explorada não como um registro minuciosamente realista, mas como um recurso de representação apoiado na liberdade criativa, que gera imagens com grande carga simbólica” (LUGLI, 2014, p. 23).

Sequencialmente, em termos cronológicos de publicação, tem-se o trabalho de Rocha e Mesquita (2014), que se aproxima do estudo anterior, ao terem analisado a coleção Infinitely Kusama, desenvolvida pela marca Louis Vuitton, produzida pelo designer de moda Marc Jacobs inspirada no trabalho e com colaboração de Yayoi Kusama. Foram analisadas as inter-relações entre a arte e o design de moda contemporâneo. Para os autores, essa relação:

conduz as articulações que são atravessadas por questões relativas à reprodutibilidade e fetichização de objetos e marcas, e alguns dos paradoxos que perpassam o universo da moda, tais como padronização e diferenciação” (ROCHA; MESQUITA, 2014, p. 245).

Em proximidade, ao explorarem aspectos relacionados a simbologias, mas da perspectiva da cultura local, Sasaoka e Menezes (2014) estudaram o projeto Botuafrica tendo como fonte visual os grafismos criados pela estamparia em estêncil. As autoras evidenciaram aspectos ligados à valorização visual afro-brasileira, por meio da produção de símbolos desenvolvidos por integrantes do projeto, tendo a moda como objeto de articulação e efetivação de inserção social. Em aproximação com esta temática, Silva (2018) analisou a vinculação existente entre a arte e o design têxtil a partir da Tauromaquia, serigrafia de Pablo Picasso. Dessa maneira, tem-se destacado a inserção precedente de Picasso no design têxtil, em que os desenhos e pinturas do artista, passaram a serem utilizados na criação de estampas.

Pesquisando o contemporâneo, Carvalho (2015) tencionou discussões nas articulações entre o corpo e o vestir. Para a autora, o ato de vestir o corpo procede-se em conjunto com estimulações, desvelando aspectos que demonstram sua presença no espaço. Nesse processo, tem-se a articulação com o design, construindo signos que interagem e representam contextos. Ainda, continuando na temática que relaciona o design e a sociedade contemporânea, Carvalho em coautoria com Ferreira (2015), tramou reflexões nas adjacências e nas convergências entre a arte e o design de moda tendo como referências artistas futuristas do início do século XX, realçando aspectos ligados a materiais utilizados e sua adaptação em produtos de moda.

Continuamente, Correia e Carvalho (2016) contribuíram para essa categoria ao terem investigado as relações entre o design de moda e a arte a partir da veiculação e representação da imagem do corpo feminino adornado por elementos de moda e da arte, analisando o trabalho dos fotógrafos Man Ray e Ivonne Thein.

A partir de questões que colocam em destaque o artesanato, Sasaoka e Moura (2020) contribuíram com essa discussão ao terem efetivado um estudo de caso sobre dois núcleos têxteis presentes no interior paulistano, urdindo reflexões na conexão entre o design, à moda contemporânea e a produção artesanal, possuindo como foco o processo de criação e produção dos artefatos. Dessa forma, foi apresentado como essa relação pode ser benéfica socioeconomicamente e esteticamente para o artesanato e para a moda, sendo uma junção intermediada pelo design. Nesse direcionamento, Machado et al. (2019) costuram análises nas cercanias do artesanato regional e o possível diálogo com a moda e o design, possuindo como objeto de estudos o caso de uma marca de moda que produz peças de vestuário a partir de matéria prima artesanal. Para os autores, a ressignificação de modos de produzir e dos próprios artefatos artesanais é um aspecto de discurso engendrado na produção de valor de uma marca.

Por fim, elucidando as aproximações entre o design de moda e a resistência política, Cintra e Mesquita (2019), estudaram o conceito de traje de oposição de Elizabeth Wilson, afirmando como objeto de pesquisa a coleção International Dateline Collection IV (1971) da estilista Zuzu Angel. Com esse entendimento, as autoras concluíram que a moda é uma forma de expressão, ao demonstrarem que a coleção estudada possuía aproximação com a resistência política frente à ditadura militar vigente na época.

3 CONCLUSÃO

A partir das discussões ora fomentadas, conseguiu-se compreender que, as pesquisas em design são efetivadas muitas vezes com a finalidade de sanar as demandas da sociedade, que se mantém no entorno de constantes transformações que originam novos hábitos e novas situações problemáticas.

Os estudos no campo do design, nesse sentido, salientam a procura pela qualidade no exercício do profissional que aplica na criação de produtos, elementos que garantam sua utilidade por excelência. Nessa lógica, os artefatos que circulam a vida cotidiana das pessoas, são desenvolvidos e analisados por meio de suas atribuições, significados, processos e sua associação com a cultura de quem os utilizam. Esses estudos reconhecem o papel do designer na criação e produção de objetos, além de desenvolver diretrizes para auxiliar o seu aprendizado e trabalho. Nesse contexto, o periódico Educação Gráfica, ao longo de seus 25 anos de existência, se tornou uma das referências para publicação e divulgação científica de artigos construídos no campo do design e nos diálogos sucedidos por essa perspectiva. Assim, este estudo contemplou os artigos publicados em tal periódico que tivessem interligação com a moda e com o design de vestuário, e que foram produzidos pela perspectiva do design destacando a efetivação projetual no campo moda, sendo essa a principal contribuição deste trabalho.

Pelas análises, pode-se salientar que alguns destes manuscritos foram produzidos com a finalidade de formar diretrizes e processos para facilitar tanto o ensino como a aprendizagem de conceitos relacionados com a área do design de moda. Nessa direção, outros estudos foram tencionados para a construção de metodologias para o campo industrial. Se tratando da indústria, diferentes trabalhos dialogaram também acerca da conectividade entre design e moda pela ótica das tecnologias pautadas na gestão do design, em especial, visando que pequenas empresas conseguissem competir no mercado.

Outra perspectiva adotada por certos estudos foi o design relacionado com os conceitos de antropometria e ergonomia, sobretudo em pesquisas que relatam a qualidade de vida humana, nas suas múltiplas relações com o vestuário, ambiente e com as máquinas. Tem-se especialmente a produção de artigos que ligam o processo da modelagem aos conceitos supramencionados.

Ainda, direcionados para uma questão subjetiva, alguns estudos relacionaram os elementos e princípios do design e suas representações visuais no campo do design de moda, especialmente no que tange ao entendimento desses elementos por profissionais e também pelo público em geral. Também, determinados estudos analisaram a trama existente entre design, moda (especialmente a moda contemporânea) e artesanato, notabilizando os pontos de aproximação e distanciamento entre essas categorias, principalmente a partir de processos projetuais.

Por fim, estudos como esse, que se utilizam de um objeto específico, podem suscitar em termos de pesquisas futuras, a realização de manuscritos com o mesmo desenho metodológico, analisando e comparando outros periódicos que contemplem a área do design de moda e suas interlocuções, auxiliando na fomentação de discussões, e contribuindo na construção e análise do estado da arte desta temática⁹.

Agradecimentos

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Brasil (CAPES) Código de Financiamento 001.

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Notas

Autor notes