Dossiê
A EDUCAÇÃO E A INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO[1] NO NORDESTE CATARINENSE: DO APRENDIZADO INFORMAL AO ENSINO PROFISSIONALIZANTE
Education and the clothing industry in the northeast of the State of Santa Catarina: From informal learning to vocational education
La educación y la industria de la confección en el noreste de Santa Catarina: Desde el aprendizaje informal a la formación profesional
Revista de Ensino em Artes, Moda e Design
Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil
ISSN: 2594-4630
Periodicidade: Bimestral
vol. 7, núm. 1, 2022
Recepção: 09 Novembro 2022
Aprovação: 18 Janeiro 2023
Publicado: 01 Fevereiro 2023
Resumo: A presente pesquisa objetiva delinear um panorama histórico da educação profissionalizante e da formação da mão de obra para a indústria do vestuário nas cidades de Blumenau, Brusque e Jaraguá do Sul. A pesquisa bibliográfica e documental apresenta um recorte temporal entre 1850, período que compreende o início da colonização do nordeste catarinense, e se estende até 2004, momento em que ocorre a consolidação do ensino superior na área de moda nas cidades citadas. O estudo abrange a capacitação informal de aprendizes, como alfaiates e costureiras domésticas, as políticas públicas voltadas para a formação profissional e, sobretudo, a constituição do ensino profissionalizante na área da indústria do vestuário organizado a partir da composição da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC) e do Sistema “S”, acompanhando demandas do desenvolvimento industrial do Estado. Diante da industrialização, o ofício de alfaiate perdeu sua função social, mas seus métodos de modelar, cortar e costurar as roupas multiplicaram-se em materiais didáticos e no processo ensino e aprendizagem que capacitam estudantes e professores. Entende-se que o sistema educacional profissionalizante deve abranger o desenvolvimento intelectual, qualificação profissional e formação cidadã. A educação não pode se limitar às soluções para as demandas do mundo do trabalho, mas sim, ser parte ativa da construção desse mundo primando pela humanização nos processos de ensino e aprendizagem, para que se perpetuam no contexto político, econômico, social e profissional.
Palavras-chave: Alfaiate, Ensino profissionalizante, Indústria do vestuário, Santa Catarina.
Abstract: This research aims to outline a historical overview of vocational education and labor training for the clothing industry in the cities such as Blumenau, Brusque and Jaraguá do Sul. The bibliographical and documentary research presents a timeline between 1850 and 2004, that covers the period between the beginning of Santa Catarina northeast colonization and the consolidation of fashion higher education in the mentioned cities. The study presents the informal training of apprentices such as tailors and domestic seamstresses, public policies aimed at professional training, and above all, the constitution of professional training in the clothing industry organized by the Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC) and the “S” System, following the demands of the industrial development in the State. In face of industrialization, the tailoring craft has lost its social function, but its methods of modeling, cutting, and sewing clothes have grown and multiplied in didactic courseware, and in the teaching and learning processes that enable students and teachers. It is understood that the professionalizing educational system must encompass intellectual development, professional qualification and citizenship education. Education cannot just be limited to finding solutions for labor demands, but rather be an active force of building this world, striving for humanization in the teaching and learning processes, so that it is helps in the political, economic, social and professional context.
Keywords: Tailor, Vocational education, Clothing industry, Santa Catarina.
Resumen: Esta investigación tiene como objetivo esbozar un panorama histórico de la educación y formación profesional del trabajo para la industria de la confección en las ciudades de Blumenau, Brusque y Jaraguá do Sul. La investigación bibliográfica y documental presentan un marco temporal entre 1850, período que comprende el inicio de la colonización del nordeste de Santa Catarina, y se extiende hasta 2004, cuando se produce la consolidación de la educación superior en el área de la moda en las ciudades mencionadas. El estudio abarca la capacitación informal de los aprendices, como sastres y costureras domésticas, las políticas públicas dirigidas a la formación profesional y, sobre todo, la constitución de la formación profesional en el área de la industria de la confección organizada desde la composición de la Federación de Industrias del Estado de Santa Catarina (FIESC) y el Sistema “S”, acompañando las exigencias del desarrollo industrial del Estado. Ante la industrialización, el oficio de la sastrería ha perdido su función social, pero sus métodos de modelado, corte y confección de prendas se han multiplicado en materiales didácticos y en el proceso de enseñanza y aprendizaje que capacitan a estudiantes y docentes. Se entiende que el sistema educativo de formación profesional debe abarcar el desarrollo intelectual, la calificación profesional y la formación ciudadana. La educación no puede limitarse a dar solución a las demandas del mundo del trabajo, sino ser parte activa de la construcción de ese mundo, buscando la humanización en los procesos de enseñanza y aprendizaje, para que se perpetúen en el contexto político, económico, social y profesional.
Palabras clave: Sastre, Educación vocacional, Industria del vestuario, Santa Catarina.
INTRODUÇÃO
Desde o século XIX, as Mesorregiões do Norte Catarinense e do Vale do Itajaí têm se destacado como núcleos pioneiros da industrialização do Estado de Santa Catarina. Escolhidas como sedes de projetos coloniais no Brasil Imperial, essas regiões receberam grandes contingentes de imigrantes europeus e se transformaram, ao longo dos anos, em centros representativos da economia do estado. Nessas regiões, estão localizados os municípios com maior atividade no setor têxtil e de confecção do vestuário, com destaque para Blumenau que lidera o ranking de empregos na área com 13,8% do total de postos de trabalho do estado, seguido por Brusque com 9,8% e Jaraguá do Sul com 7,8%. (OBSERVATÓRIO FIESC, 2020). Essas três cidades apresentam traços comuns, tanto na sua história, quanto em seu desenvolvimento econômico, político e social pela colonização europeia e no estabelecimento de um parque fabril têxtil ainda no século XIX.
De modo geral, a educação formal catarinense ficava a cargo do poder público e restrita à capital, a exemplo da instalação das Escolas de Aprendizes Artífices (EAA), atual Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), instalada em Florianópolis/SC em 1909 com a oferta de cursos profissionalizantes, dentre eles a alfaiataria (FLORIANI, 2005; CINTRA, 2006). Contudo, já ocorriam exceções a esses modelos, a exemplo da criação de uma “escola informal” para os aprendizes do ofício de alfaiataria, instalada em Jaraguá do Sul entre os anos 1919 e 1950 (AUED; EISSLER; 2006). Registros históricos indicam que o processo ensino-aprendizagem, na área da confecção de roupas, ocorrido na região estudada, pelos menos até meados da década de 1950, deu-se de modo informal. No contexto masculino, essa instrução ocorria nas alfaiatarias: de modo intuitivo, os conhecimentos eram repassados na relação direta dos alfaiates ou mestres de ofício (imigrantes estrangeiros), com seus aprendizes. No âmbito feminino, estabeleceu-se uma rede de aprendizado doméstico para o corte e costura de roupas, onde prevalecia uma formação intergeracional (CINTRA, 2004; CUNHA, 2005; FLORIANI, 2005; DUCLÓS, 2015). Na República Brasileira, o Decreto nº 981, de 8 de novembro de 1890, conhecido como Reforma Benjamin Constant (1890), já previa a educação elementar feminina[2], nos moldes europeus, na qual constava o aprendizado de manualidades com agulhas, dentre eles a costura para o lar (NOVAES, 2017).
A partir da década de 1950, o ensino profissionalizante foi organizado a partir da composição da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI)[3], com o propósito de oferecer soluçõe para as demandas do parque industrial catarinense. A infraestrutura do governo era insuficiente para implantar o ensino profissional, então se formou um convênio com as indústrias (DUCLÓS, 2015).
A presente investigação faz parte do projeto de pesquisa interinstitucional, intitulado “Escolas de Artes e Ofícios no Brasil: história, propostas formativas e permanências na formação das artes e do design no contemporâneo”, gerido pela professora Mara Rúbia Sant’Anna, da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). O projeto é composto por representantes de instituições públicas e privadas brasileiras, a temática abrange a história e os processos de ensino e aprendizagem desenvolvidos nas Escolas de Artes e Ofícios do país, e suas relações com a formação dos cursos superiores de Moda. Este artigo objetiva apresentar uma síntese do panorama histórico da educação profissionalizante e da formação da mão de obra para atender a demanda da indústria do vestuário em Santa Catarina, com foco nas cidades de Blumenau, Brusque e Jaraguá do Sul.
A pesquisa bibliográfica e documental, de caráter teórico, dedicou-se à organização de dados levantados em leis, teses, dissertações, artigos, livros e outros documentos. Os dados foram compilados e organizados em ordem cronológica, no âmbito internacional e nacional, estadual, regional e local. Destaca-se a visita às bibliotecas locais das instituições (SENAI, SESI, IFSC, ACIJS) nas três cidades envolvidas na pesquisa, mas não foram identificadas referências institucionais que tratassem do tema, fator que enfatiza a relevância da pesquisa. O delineamento temporal de 1850 a 2004[4] abrange o período da formação colonial dessas cidades com seus processos de industrialização têxtil e educação informal, até a proliferação da indústria do vestuário e a consolidação do ensino superior na área de design de moda em Santa Catarina.
Sem ter a pretensão de cobrir a totalidade das variáveis possíveis nesse tipo de estudo, os dados apresentados no tópico 2, permitiram organizar informações globais afetaram a composição da escola informal e impulsionaram a capacitação profissional dos trabalhados do setor têxtil e de confecção de roupas no nordeste de Santa Catarina. Os subtópicos apresentam dados relacionados ao contexto das cidades de Blumenau (item 2.1), Brusque (item 2.2) e Jaraguá do Sul (item 2.3). Em resultados e discussões, é apresentada uma síntese descritiva e visual, em forma de infográfico, organizado por uma linha temporal e fatos relevantes ao tema da pesquisa (item 2.4); o tópico 3 apresenta as considerações finais.
2 EDUCAÇÃO BRASILEIRA E A INDUSTRIALIZAÇÃO: INFLUÊNCIAS NO CONTEXTO HISTÓRICO DE SANTA CATARINA
A implantação educacional no Brasil data de 1808, com a chegada da família real portuguesa, momento no qual a qualificação profissional para a elite foi reorganizada, bem como criadas as instituições de ensino superior relacionadas à cirurgia e anatomia, academia militar e administração do Estado. Já a educação de pessoas, que trabalhavam com ofícios manufatureiros, era acessada nas academias militares, entidades filantrópicas e nos liceus de artes e ofícios (CINTRA, 2004; FLORIANI, 2005).
O Brasil Império foi finalizado em 1889, com a proclamação da República do Brasil, período de intensas transformações sociais e políticas que favoreceram a industrialização brasileira. Segundo Cintra (2006), o setor têxtil obteve seu melhor crescimento entre 1890 e 1930. As duas guerras mundiais estimularam o aumento populacional nas cidades, a imigração de estrangeiros e o desenvolvimento da industrialização, foram fatores que desencadearam impactos socioeconômicos e a necessidade do ensino profissional para capacitar os trabalhadores para a indústria (CINTRA, 2004; FLORIANI, 2005).
Em 1909, Nilo Peçanha assinou o Decreto Federal nº 7.566[5] para a criação das Escolas de Aprendizes e Artífices (EAA), indicando sua instalação nas 19 capitais brasileiras (FLORIANI, 2005; CUNHA, 2005). Em Santa Catarina, foi instituída EAA/SC[6], no ano de 1910, sob a direção de Heitor Blum, com oferta da oficina de alfaiates. Para o aprendizado prático dos ofícios os mestres (homens que dominavam o ofício) selecionados nas alfaiatarias de Florianópolis, para a educação primária e o desenho; os professores (homens que tinham conhecimento geral) eram contratados após comprovar suas competências, e todos recebiam regulamentos e exigências de conduta a serem aplicados em suas aulas (CINTRA, 2004; FLORIANI 2005). Cintra (2004) destaca a importância social do profissional alfaiate na produção de roupas masculinas, visto que a cidade de Florianópolis não contava com oferta de roupas industrializadas. Em 1937, a EAA foi reconhecida como Liceu Industrial de Santa Catarina, apresentando nova organização de ensino profissional especializado.
O Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio foi responsável por indicar os conteúdos do currículo dos cursos, que tinham a duração de seis anos, e, em 1926, estabeleceu o primeiro currículo único para todas as EAA. Os aprendizes eram meninos que, nos dois primeiros anos, recebiam a educação elementar, a alfabetização, o curso de desenho e preparação para o desenvolvimento de habilidades manuais. O ensino dos ofícios manuais era distribuído em diferentes áreas: trabalhos em madeira, metal, artes decorativas, artes gráficas, artes têxteis, couro, fabricação de calçados, fabricação de vestuário e atividades comerciais. A oficina de alfaiates era organizada com dois anos de educação elementar, na sequência aprendiam a costura à mão, feitura e acabamentos, moldes e cortes e especialização (CINTRA, 2004).
Já, no período comandado por Getúlio Vargas (1930-1945), conhecido como Estado Novo, foi enfatizada a responsabilidade do Estado sobre a formação educacional, que deveria ser gratuita e obrigatória. Em 1934, a Nova Constituição Brasileira foi promulgada e trouxe exigências para o ensino primário obrigatório, o voto feminino e leis trabalhistas. No mesmo ano Gustavo Capanema foi nomeado para o Ministério da Educação e Saúde Pública, iniciando os estudos para formar a Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro, instituída em 1937 (CINTRA, 2004). Para o fortalecimento das bases da indústria, fez-se necessária a ênfase na capacitação dos trabalhadores e, para tanto, o governo fomentou o ensino profissionalizante, como a criação da Universidade Técnica Federal (1934). Em 1939, todas as indústrias com mais de 500 operários deveriam oferecer a qualificação profissional. Movimentos que levaram à formalização desta modalidade de ensino são configurados pela Lei Orgânica do Ensino Industrial, Decreto-Lei nº 4.073, em 30 de janeiro de 1942, bem como, pela Lei Orgânica do Ensino Comercial, Decreto-Lei Nº 6.141, em 28 de dezembro de 1943. As bases, para a organização da rede federal de ensino industrial, deram-se pelo Decreto-Lei nº. 4.127 de 25 de fevereiro de 1942, gerida pelo Ministério da Educação (CINTRA, 2004; DUCLÓS, 2015).
A infraestrutura do governo não era suficiente para implantar o ensino profissional, desta maneira, constituiu-se um convênio com as indústrias a partir da CNI. Um projeto inspirado em práticas internacionais, e recomendado pelo Bureau Internacional do Trabalho, é que viabilizou a criação de um Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), em 16 de julho de 1942, pelo Decreto nº 10.009, assinado pelo presidente Getúlio Vargas. Foram implantados escritórios nas cidades catarinenses com maior desenvolvimento industrial, como Florianópolis, Blumenau, Joinville, Brusque, Tubarão e Criciúma (DUCLÓS, 2015). Já, para as demandas sociais dos trabalhadores, em 1946, o presidente Gaspar Dutra instituiu o Serviço Social da Indústria (SESI), subordinado à Confederação Nacional da Indústria (CNI), entidade que chegou em Santa Catarina somente na década seguinte, em 1951 (DUCLÓS, 2015).
Como efeito da implantação do SENAI, estabeleceu-se o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), por meio dos Decretos-Leis 8.621/46 e 8.622/46, tendo sua sede inicial na cidade de São Paulo. Tais legislações regulamentavam o ensino comercial no país, na época destinado aos menores aprendizes, jovens entre 14 e 18 anos, empregados no comércio, e contavam com períodos de estudo, sem prejuízo salarial. Em Santa Catarina, as atividades do SENAC tiveram início em Florianópolis, em 24 de julho de 1947, época do governo de Aderbal Ramos da Silva, momento no qual o estado acompanhava a nacionalização[7] e a socialização do ensino, com a abertura de escolas e faculdades públicas (GONÇALVES, 2014).
O progresso industrial no estado, fruto da diversidade dos empreendimentos, estava cercado de desafios, desde causas trabalhistas até a escassez de acesso à energia e as condições das estradas para o escoamento dos produtos. O governo de Celso Ramos utilizou-se da estratégia do associativismo para o desenvolvimento de Santa Catarina, articulou proposições junto aos empresários e líderes sindicais e criou a FIESC, em 1950. A entidade foi reconhecida pelo Ministério do Trabalho, que estimulou sua filiação à CNI, para fomentar o empreendedorismo, o crescimento industrial e acompanhar as políticas públicas (DUCLÓS, 2015).
Em 1º de Janeiro de 1954, foi implantada a sede oficial do SENAI em Santa Catarina, registrada como a primeira conquista da FIESC, sob direção de Celso Ramos. Na época, o censo mostrava a presença de 100 ofícios diferentes no estado, com cerca de 18 mil trabalhadores sem conhecimentos técnicos em suas funções. A partir desses dados e da diversidade industrial, foi iniciado o projeto de estruturação dos cursos a serem ofertados nas unidades do SESI e SENAI. O êxito das empresas influenciou a estruturação educacional da época, que se apoiou na experiência dos mestres de ofício europeus os quais repassaram seus saberes aos aprendizes, e compreendiam que “inovar é também ensinar e aprender” (DUCLÓS, 2015, p. 8). As décadas de 1950 e 1960 foram de verticalização do setor têxtil, que atingiu autonomia em sua produção: da matéria prima ao produto final. Na década de 1970, as empresas expandiram para outros estados. Em 1980 ocorreu a diversificação e ampliação para o mercado externo, já em 1990, uma nova transformação foi anunciada com a globalização, a abertura de mercados para importação de têxteis e vestuário. Essa década foi identificada com a Era da Informação, com investimentos em tecnologia e inovação, novas estratégias de gestão e redução de custos com a terceirização para micro e pequenas empresas (DUCLÓS, 2015).
O sistema educacional passou por revisões para adaptar-se ao contexto socioeconômico de cada época, orientado por decretos e Leis que delimitavam os caminhos para o ensino normal e profissionalizante. A Lei de Diretrizes e Bases (LDB) define e regulariza o sistema educacional, orientada pela Constituição. A primeira versão, a LDB 4.024/61, permitiu mais autonomia para os órgãos estaduais e a descentralização do governo federal, com orientações para os recursos. Dividiu os cursos de nível médio em dois ciclos, ginasial e colegial, implantando também os cursos normal, secundário e técnico. No regime militar (1964-1985), as escolas de ensino profissional e técnico tiveram que se adaptar às mudanças curriculares estipuladas pela LDB, nº 5692/71, que reformou o ensino de primeiro e segundo graus. O sistema único escolar tinha, no ensino médio, a educação propedêutica agregada à educação profissional.
Na década de 1990, a Reforma da Educação Profissional (REP/1990) buscou o alinhamento à proposta internacional, aprimorando a qualidade e equidade da educação com vistas a atender as demandas econômicas. A evolução constante das indústrias têxtil e de confecção impulsionou a ampliação de vagas nos cursos profissionalizantes. O Sistema S, em parceria com o governo do estado, criou a Fundação Catarinense de Educação e, em 1995, promoveu a instalação do ensino médio, seguindo-se no ano de 1997 a instalação do ensino superior no SENAI/SC (DUCLÓS, 2015; FLORIANI, 2005).
A LDBEN nº 9.394/1996, implementada pelos governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006/2007-2010), propôs outra reforma educacional que ampliou a dicotomia entre educação intelectual e formação profissional. Os cursos de ensino médio foram separados da educação profissional, sendo a educação propedêutica entendida como para o desenvolvimento intelectual. Em 2001, os cursos técnicos passaram a ser pós-médio, com foco na qualificação para o trabalho (FLORIANI, 2005, GONÇALVES, 2014).
Nos anos 2000, o SENAI e o SENAC passaram a ofertar cursos regulares de ensino médio em Santa Catarina, além de cursos técnicos e tecnólogos na área de moda, tendo como base a metodologia de Ensino por Competências (de origem americana), com foco na formação do profissional de acordo com as exigências do mundo do trabalho. Na virada do século XX para o XXI, surgiram, no estado, os primeiros cursos de graduação na área de moda, com denominações voltadas para o estilismo. No ano de 2004, o Ministério da Educação (MEC) apresentou as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação em Design de Moda (bacharelado e tecnólogos), pela Resolução CNE/CES nº 05 de 8 de março, enquadrando os cursos da área no eixo tecnológico de Produção Cultural e Design.
2.1 Blumenau: a indústria têxtil e do vestuário e as premissas do SENAI/SC
A colônia alemã em terras brasileiras, fundada em meados de 1850, pelo farmacêutico alemão Hermann Bruno Otto Blumenau, o Dr. Blumenau, começou como um empreendimento de características agrícolas (CABRAL, 1970). As terras foram colocadas à disposição do Dr. Blumenau pelo Império Brasileiro para serem arrendadas por camponeses. O crescimento da cidade de Blumenau fez surgir, na década de 1880, uma aceleração do processo de industrialização e o início da produção das tecelagens. O ramo têxtil se firmou como principal atividade econômica em Blumenau (KRZIZANOWSKI, 1992).
A Gebrüder Hering, fundada em 1880, pelos irmãos alemães Hermann e Bruno Hering, trazia características de inovação e comprometimento com a responsabilidade sociocultural de seus trabalhadores. Novas indústrias surgiram nesse contexto, como a Karsten (em 1882); a Johann Heinrich Grevsmuhl & Cia (em 1868); a Buettner (em 1875) e a Renaux (em 1892). A partir da chegada dos imigrantes estrangeiros, a natureza empreendedora e diversidade de ofícios, Duclós (2015) registrou acontecimentos que favoreceram o desenvolvimento do setor têxtil em cidades catarinenses, como Blumenau:
A expansão da renda promovida pelo setor cafeeiro e a diversificação industrial dos anos 1920 abriram novos mercados para a indústria têxtil catarinense. O que diferenciava o setor têxtil era o alto grau de difusão técnica, o que permitia a cópia com facilidade, não exigindo muitos investimentos. A expansão do setor pode ser entendida não só pela queda das importações durante a Primeira e a Segunda Guerra, mas também pelo crescimento urbano e a política cambial dos anos 1920, entre outros fatores. As fábricas nasceram para o mercado regional, mas conquistaram o mercado nacional e depois o mercado externo (DUCLÓS, 2015, p. 15).
A companhia Hering foi a primeira malharia implantada no país, fundada pelos experientes e tradicionais empreendedores da Saxônia, os irmãos Hering, constituiu-se como uma empresa de estrutura familiar. Produzia meias e camisas de meias (ou camisetas de baixo), o foco era atender as necessidades de vestir dos imigrantes europeus. Após um século, a Hering tornou-se a maior malharia da América Latina e fomentou a implantação de um polo têxtil em Santa Catarina. A camiseta, considerada o produto mais popular no país, rompeu barreiras culturais, sociais e de gênero. Acompanhou a evolução da necessidade de consumo de roupas por pudor ou proteção, e tornou-se símbolo da revolução da geração de 1960, até mesmo, um produto de desejo na indústria da moda, junto ao surgimento dos estilistas brasileiros na década de 1970 (JOFFILY, 1998).
O crescimento industrial gerou mudanças estruturais e operacionais, como a padronização do produto em série, a qualidade na entrega das peças de vestuário aos seus consumidores e a qualificação de mão de obra. Ainda, na década de 1940, o Brasil vivia a implantação de ações populistas como a instituição do salário mínimo e a regulamentação das relações entre capital e trabalho, através da Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Os funcionários menores de idade tornaram-se aprendizes dentro das fábricas, já, em 1942, essa carência foi suprida com o SENAI Brasil, organismo mantido e administrado pelo empregador da indústria. A sua função tem sido ministrar a aprendizagem aos empregados e, ao mesmo tempo, cumprir a obrigatoriedade da Lei Orgânica do Ensino Industrial[8] (PETRY, 2000).
Os empreendedores de Blumenau, conduzidos pelo perfil de liderança e potencial para a industrialização, buscaram a qualificação dos trabalhadores. Em 1955, a escola SENAI/SC foi implantada em Blumenau, com atendimento para estudantes da região (cidades, como Brusque, Itajaí, Indaial e Timbó). No ano seguinte, iniciou a oferta de atividades para menores aprendizes no local de trabalho, dentre elas, constavam a alfaiataria e o corte e costura (DUCLÓS, 2015).
Inicialmente, os ofícios de alfaiataria e corte e costura eram ensinados de forma distinta, as atividades eram direcionadas, separadamente, para homens e para mulheres. A formação de alfaiate era oferecida pelo SENAI/SC para capacitar jovens em busca de melhorar as condições de vida em suas comunidades, já o curso de corte e costura era voltado para a prática dentro das indústrias locais.
A indústria têxtil de Blumenau, no século XX, seguiu trilhando uma constituição de sucesso e prosperidade na área fabril brasileira. Na década de 1990, a qualificação dos trabalhadores passou a ser ainda mais valorizada para adquirir melhores condições de trabalho na indústria têxtil e de confecção, que emergiu de condições que extrapolavam as peculiaridades regionais e nacionais. “Assim, considera-se reestruturação produtiva como a introdução de novas formas, sistemas e padrões de organizar e gerir a produção e os trabalhadores” (HERWEG, 2000, p.371). Esses processos de reestruturação envolveram a inclusão de novas tecnologias para otimizar a gestão dos recursos (equipamentos e humanos), para ampliar a produção, assim, alteraram os acessos aos empregos nas indústrias têxteis da região e fez o índice de desemprego aumentar, bem como, instigou a terceirização e o trabalho informal.
As reformas do sistema educacional de 1990, no Brasil e em outros países, contribuíram para a adaptação à globalização econômica, exigindo revisão nas estruturas dos cursos e das instituições profissionalizantes. Desde 1997, o SENAI/SC de Blumenau passou a ofertar os cursos de graduação na modalidade de tecnólogo; em 1998 passou a ofertar o curso Técnico de Estilismo em Confecção Industrial, com parceria internacional do Instituto Europeu de Design (detalhes no tópico 2.3); em 1999, foi inaugurado o Centro de Tecnologia do Vestuário (CTV), em Blumenau (DUCLÓS, 2015). A unidade mantém os cursos: Técnico em Produção de Moda (com duração de três semestres), e, desde 2012, o SENAI Blumenau e Jaraguá do Sul ofertam o Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda (com duração de quatro semestres).
2.2 Brusque: do aprendizado informal ao ensino profissionalizante
A colonização de origem europeia, na região onde se encontra atualmente o município de Brusque, teve início com o estabelecimento da Colônia Itajahy, em 1860. Ali aportaram 59 imigrantes[9] oriundos do Grão-ducado de Baden (hoje sul da Alemanha)[10], acompanhados do austríaco Barão von Schnéeburg (CABRAL, 1958).
Com uma economia dominada, até as primeiras décadas do século XX, pelo sistema “colônia-venda”, o processo de industrialização da região se iniciou no final do século XIX e início do século XX, com a implantação das primeiras indústrias têxteis[11], antes mesmo da formação de considerável núcleo urbano. Até a década de 1970, essas indústrias dominavam a cena local, momento em que a economia se diversificou com a consolidação do setor metalúrgico. Foi nessa época também que surgiram as primeiras confecções na Rua Azambuja, local que se constituiria, a partir dos anos 1980, num grande polo produtor e distribuidor de artigos de vestuário.
Contudo, até a metade da década de 1970, o setor da confecção do vestuário era um setor economicamente inexpressivo para o município[12], pois os produtos fabricados atendiam apenas o comércio local e não possuíam uma marca forte (CORRÊA, 2006). Nesse cenário, a exceção foi a empresa “Irmãos Krieger” que, no ano de 1978, chegou a empregar 200 colaboradores. Fundada em 1946 pelos irmãos Axel e Nilo Krieger, a empresa teve origem na Alfaiataria Elegante, aberta por Gustavo Krieger em 1898.
A trajetória da Krieger, traz algumas pistas de como se dava o aprendizado do ofício vinculado à confecção do vestuário masculino na região, durante o século XIX e início do século XX. Para os que tinham melhores condições financeiras, como o caso de Gustavo Krieger, a formação ocorria em escolas especializadas, geralmente localizadas nas capitais ou em grandes centros urbanos. Para os demais, o aprendizado acontecia nas alfaiatarias já estabelecidas, como aprendizes.
A figura do aprendiz remonta às tradições das corporações de ofícios medievais e, transposta para a colônia brusquense com a chegada de imigrantes alfaiates[13], consistia no recrutamento de jovens para trabalho e aprendizado nas alfaiatarias. No entanto, a partir de meados da década de 1940, essa formação começou a sofrer adaptações impostas pelas demandas da fabricação de roupas em série. Já não bastava somente aprender o ofício com o mestre ou o pai, uma vez que o mercado começava a exigir um profissional atualizado e eficiente, portador de conhecimentos racionais aprendidos em escolas especializadas (RIFFEL; SANT´ANNA, 2008).
Dividindo espaço com as alfaiatarias, a costura feminina supria as demandas familiares, sendo utilizada por muitas mulheres como forma de contribuir com o sustento da família (RENAUX, 1995). Contudo, diferentemente do aprendizado da alfaiataria, o processo de instrução no corte e costura feminina na região, era intergeracional, exclusivamente no espaço doméstico. Os cursos de corte e costura por correspondência, representavam uma opção para o aprendizado (FRASQUETE; SIMILI, 2017). Publicações, como o Jornal das Moças e a Revista Manequim[14], traziam, em suas páginas, encartes com modelos para serem reproduzidos e/ou copiados, contribuindo para a difusão da confecção doméstica.
A formação profissional na área do vestuário em Brusque iniciou com a oferta de cursos pelo SENAI. Instalado no município no ano de 1957[15], a instituição funcionou, inicialmente, como formadora da mão de obra para a indústria têxtil, passando mais tarde a atender a indústria da confecção (HENSCHEL, 2005). Desse modo, quando as confecções começaram a se tornar expressivas no município a partir da década de 1980, em certa medida, já havia mão de obra disponível para suprir as demandas do setor.
As confecções que ali surgiram eram micro ou pequenos empreendimentos e possuíam uma administração familiar, onde prevalecia a produção de peças básicas de vestuário (CORRÊA, 2006). Com esses produtos de baixa complexidade, a necessidade de uma mão de obra pouco qualificada, era atendida naquele momento por um contingente de costureiras, modelistas e estilistas, sem uma formação especializada.
Com o boom das confecções e tendo a Rua Azambuja[16] transformada num grande polo de pronta entrega, o município de Brusque viu sua economia ser reconfigurada a partir da década de 1990, quando passou a receber incremento no setor comercial (CORRÊA, 2006). As atividades do SENAC foram iniciadas no município em 1989, passando a ofertar, a partir da década de 1990, uma série de cursos com apoio do Clube de Dirigentes Lojistas (CDL) e das entidades de classe ligadas ao comércio da cidade (GONÇALVES, 2014).
Importa ressaltar que, diferentemente das unidades existentes em Blumenau e Jaraguá do Sul, a sede brusquense do SENAC estabeleceu uma série de convênios e parcerias que buscavam suprir as demandas industriais e comerciais das confecções locais. Articulou a montagem de salas de moda, cursos gratuitos de costureira e a implantação de um escritório de assessoria na área de moda, para atender empresas nos processos de desenvolvimento dos produtos. Em 2001, por meio de um convênio com a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), o SENAC ofereceu, em Brusque, o Curso de Pós-graduação em Moda: Criação e Produção (GONÇALVES, 2014).
A partir de 2003, o SENAC de Brusque passou a incrementar a oferta de cursos na área de moda, tanto no âmbito da capacitação profissional[17] como em cursos técnicos[18] e, em 2017 lançou o Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda, formando apenas uma turma nessa modalidade. Ainda, no âmbito do ensino superior, foram implantados em Brusque dois bacharelados na área de moda, respectivamente nos anos de 2003 (Unifebe) e 2004 (Assevim, atual Uniasselvi).
Entende-se que a expansão da oferta de formação na área de moda em Brusque pode ter sido impactada pela indiscriminada abertura do mercado interno e pelo incremento de uma dinâmica globalizada. Fatores que forçaram as indústrias de confecção a reestruturarem suas linhas produtivas, aumentando a terceirização da produção e concentrando seus esforços nas atividades de marketing e design como fatores competitivos (CALEFFI, 2008).
O sistema produtivo de vestuário brusquense sentiu os impactos dessa nova conjuntura global, assistindo à falência de inúmeras empresas de confecção a partir de meados de 1994, tendo como agravante os modelos ineficientes empregados na gestão desses negócios. Esse processo instaurou a decadência do comércio na Rua Azambuja, fazendo emergir os centros comerciais localizados às margens da Rodovia Antônio Heil, que ofereciam uma estrutura similar a shopping centers e, portanto, mais condizentes com as novas exigências do mercado, consolidando-se como o novo endereço da pronta entrega da moda brusquense (CORRÊA, 2006).
A busca por diminuição dos custos produtivos, com a contratação de serviços terceirizados e o investimento nas atividades de criação de moda e estilo, tornou-se imprescindível para reagir às crises do setor. O investimento, na diferenciação do produto por meio do design, representava uma tentativa de fuga do produto commoditie e a possibilidade de explorar segmentos de mercado com maior poder aquisitivo (HENSCHEL, 2002). Com a emergência do mercado global que promoveu a reestruturação da cadeia produtiva de moda, houve a valorização do design, visto como componente estratégico para a diferenciação do produto e o sucesso econômico da empresa (CALEFFI, 2008).
2.3 Dos mestres de ofício à educação profissionalizante em Jaraguá do Sul
A Colônia Jaraguá foi fundada, em 1876, pelo coronel do exército Emílio Carlos Jourdan, um empreendedor arrojado que arrendou as terras para iniciar um empreendimento agroindustrial. Jourdan chegou à região acompanhado por escravos negros e trabalhadores para demarcar as terras da Princesa Izabel e seu esposo Conde D’Eu. A região margeada pelos rios Itapocu e Jaraguá era de difícil acesso, e Jourdan vislumbrava, desde o início, a construção de uma ferrovia para viabilizar o desenvolvimento econômico. Porém, após a Proclamação da República dos Estados Unidos do Brasil (1889), as promessas e compromissos do Império Brasileiro se perderam. Foi com o trabalho comunitário de colonos brasileiros e estrangeiros, que se abriram caminhos para o progresso junto ao setor primário. No início do século XX, empresas e indústrias se constituíram na cidade, em 1905 a estrada de ferro é iniciada em São Francisco do Sul, contemplando uma estação em Jaraguá, ligação que facilitou a exportação de produtos da Colônia (AUED; EISSLER, 2006; CURTIPASSI, 2012).
Em 1934, Jaraguá tornou-se um município próspero, com escolas, igrejas, empreendedores, diversidade étnica e industrial. Em 1938 fundou-se a Associação Industrial de Jaraguá, em 1943 o município passou a ser Jaraguá do Sul[19] (CURTIPASSI, 2012). Diversas profissões foram identificadas no Livro de Registros de Impostos sobre Indústrias e Profissões[20] (19191950), como ferreiros, celeiros, alfaiates, marceneiros, barbeiros, dentistas, pombeiros, entre outros. Os autores Aued e Eissler (2006) descreveram a existência da “escola informal” para os aprendizes do ofício de alfaiataria, no mesmo espaço de trabalho do mestre alfaiate. Na década de 1950, foi registrada a existência de um alfaiate[21] em cada bairro do município de Jaraguá do Sul. As relações de trabalho na Alfaiataria estabeleciam-se como subordinação ou parceria entre os trabalhadores e alfaiates. A Alfaiataria tornou-se um espaço de trabalho e de socialização (ainda na década de 1990), um lugar para a veiculação de informações orais, conhecimentos de seus processos produtivos com seus aprendizes, onde compartilhavam notícias das regiões circunvizinhas e, contribuíram na superação de desafios (como das línguas estrangeiras) e formavam laços de amizade (AUED; EISSLER, 2006).
Com a competência na produção do vestuário masculino, o alfaiate era um empreendedor de seu tempo, visava a atender as necessidades e desejos do usuário masculino em “vestir um bom terno”. Já, seus aprendizes, eram meninos com idade entre 13 e 15 anos, que se aplicavam ao aprendizado de três anos (em média), sendo um ano e meio para aprender a fazer calça, e outro período para aprender o paletó. Nesse ambiente restrito para homens, poucas mulheres (somente filhas e esposas) tinham permissão para ajudar ou aprender algo sobre a profissão de alfaiate. Com o tempo, as mulheres puderam ser costureiras e modistas, para atender as necessidades de vestir das usuárias femininas (AUED; EISSLER, 2006).
A modernização chegou à sociedade brasileira na década de 1960, a fábrica de roupas e seus processos industriais criaram um novo contexto, com operações padronizadas e de produção em série, assim, impôs novas habilidades para o setor de confecção do vestuário. As peças de roupas prontas tinham variedade de tamanhos, ampliou a oferta de lojas, os preços eram mais acessíveis, muito diferente dos produtos desenvolvidos pelos alfaiates. Alguns dos alfaiates tornaram-se sócios de empresas em Jaraguá do Sul[22] (AUED; EISSLER, 2006). Nessa época, a cidade utilizou-se da localização geográfica, próxima às cidades de Blumenau e Joinville e, da ferrovia EFSPRG (Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande) que favorecia o escoamento dos produtos locais, inclusive para exportação. A Revolução Industrial acelerou o ritmo de vida e da produção de produtos têxteis e do vestuário, trouxe consequências para as relações de aprender e empreender, fatores que transformaram valores e a cultura da época.
Em 1954, o SENAI/SC, com unidades nas cidades de Florianópolis, Joinville, Siderópolis e Blumenau, ofertava 14 cursos, dentre eles, dois relacionados à indústria da confecção: a alfaiataria e de corte e costura (DUCLÓS, 2015). Os primeiros cursos de corte e costura, eram voltados para as mulheres, tinham foco nas demandas domésticas, sem necessariamente profissionalizar esse público feminino. Evidências foram obtidas na biblioteca digital do jornal local, Correio do Povo, da década de 1970, no anúncio do Serviço Social da Indústria (SESI) em Jaraguá do Sul com o convite para a segunda edição dos cursos de corte e costura (SCHMÖCKEL, 1975b). Com o crescimento econômico de Santa Catarina, reconhecido nacionalmente, os departamentos do SENAI e SESI foram instalados em Florianópolis, com possibilidade de acesso e influência para a política empresarial (DUCLÒS, 2015). Assim, justificou-se a oferta de cursos profissionalizantes para mulheres, como o de costureira industrial (Figura 1) na cidade de Jaraguá do Sul. Demandas que surgiram com o crescimento das empresas da indústria do vestuário, como Malwee e a Marisol, Menegotti, Nanette e Zanutti.
A sede institucional do SENAI/JS identificou e compartilhou os processos de aprovação de três cursos técnicos, pós-médio, contendo seus objetivos e perfil profissional visando a atender as demandas das empresas de vestuário, relativas à década de 1990. O Quadro 1 apresenta a nomenclatura do curso, ano de aprovação, duração de semestres, se havia estágio supervisionado e a carga horária total do curso (dados fornecidos pela própria instituição).
Nome do curso | Ano | Duração/ semestres | Estágio | Carga horária |
Curso Técnico Especial em Confecção do Vestuário[23] | 1993 | 04 | sim | 2.488 horas |
Curso Técnico em Vestuário[24] | 1998 | 03 | sim | 2.360 horas |
Curso Técnico em Estilismo da Confecção Industrial[25] | 1998 | 03 | sim | 1.875 horas |
O Curso Técnico de Estilismo em Confecção Industrial foi oferecido no SENAI de Jaraguá do Sul e no SENAI de Blumenau, ambas as unidades contempladas com uma parceria junto ao Instituto Europeu de Design, Itália (IED-IT). A parceria oportunizou aulas presenciais com professores italianos no Brasil, e contemplou alguns estudantes com bolsas de estudos para cursos de qualificação (de curta duração) no IED de Milão e Turim.
Com a crescente demanda de qualificar mão de obra, em 1994, foi implantada uma unidade do ETFSC (atual IFSC), no centro de Jaraguá do Sul, com os Cursos Técnicos de Eletromecânica e Têxtil Integrados ao ensino médio (FLORIANI, 2005). Esta foi a terceira unidade implantada no estado, e a primeira fora de Florianópolis. No segundo semestre de 1994, foi dado início às atividades letivas, com oferta da 1ª fase do ensino médio (o núcleo comum), integradas às disciplinas técnicas. No Histórico escolar, consta a nomenclatura: Curso de Ensino Médio com Afinidade Têxtil. Porém, para atender às determinações da REP/1990, o Decreto nº 2208/1997, apresentava a estrutura educativa do Brasil que formalizou a dicotomia entre formação geral e formação profissional, implicando a reestruturação dos cursos (FLORIANI, 2005). O Quadro 2, apresenta a nomenclatura do curso, ano de aprovação, duração de semestres, se havia estágio supervisionado e a carga horária total do curso.
Nome do curso | Ano | Duração/ semestres | Estágio | Carga horária |
Ensino Médio com Afinidade Têxtil | 1994 | 08 | sim | 3.800 horas |
Curso Técnico Têxtil | 2001 | 04 | sim | 1.200 horas |
Curso Técnico em Moda e Estilismo | 2004 | 03 | sim | 1.180 horas |
Em 2001, houve alterações na estrutura dos cursos integrados[26], uma vez que estes foram modularizados e tornaram-se pós-médio, como o Curso Técnico Têxtil, somente em 2004 foi criado o Curso Técnico em Moda e Estilismo. Dentre as diversas alterações legais relacionadas à educação profissional, o IFSC tem acompanhado as demandas locais e ofertado diferentes cursos na área de Têxtil, Vestuário e Moda. Os mais recentes em vigor, são: Curso Técnico Subsequente em Vestuário (2017, com duração de quatro semestres); o Técnico em Modelagem Industrial Integrado ao ensino médio (2019, com duração de sete semestres); e o Curso Superior em Tecnologia de Design de Moda (2019, com duração de sete semestres). Percebe-se que, as propostas de cursos técnicos apresentados e os tecnólogos recentes, têm a carga horária similar, por uma pressão do governo para diminuir o tempo de formação dos estudantes, porém com perfil de excelência. A questão é como alcançar essas metas, sem os incentivos financeiros necessários?
2.4 Resultados e discussões
A colonização das terras catarinenses (séc. XIX), se deu por meio da entrada de imigrantes, na maioria europeus, portadores de competências e habilidades para atividades primárias e têxteis, que contribuíram com o processo de industrialização (replicando o modelo europeu) de regiões ao norte e nordeste do estado catarinense. Com o crescimento da indústria de fiação e de tecelagem, essas regiões demandaram mão de obra de costureiras e de alfaiates, para produzir peças de roupas, mesmo na implantação da educação profissionalizante formal, esses métodos e conhecimentos inspiraram os materiais didáticos e processos de ensino e aprendizagem. Em um ciclo evolutivo, as demandas do mundo do trabalho também impactam as disciplinas e itinerário formativo e a geração de empregos, assim, a educação e a indústria têm evoluído e perpetuado sua parceria, consolidando o sistema industrial e suas marcas de roupas através dos tempos.
Entende-se que o sistema educacional profissionalizante deve abranger o desenvolvimento intelectual, qualificação profissional e formação cidadã. A educação não pode se limitar às soluções para as demandas do mundo do trabalho, mas, sim, ser parte ativa da construção desse mundo, primando pela humanização nos processos de ensino e aprendizagem, para que se perpetuem no contexto político, econômico, social e profissional.
Resumidamente, os dados que se apresentam entre o início da colonização das cidades pesquisadas e meados da década de 1930 demonstram uma sequência relacional vinculada ao início do processo de industrialização e aprendizado informal na arte da alfaiataria e da costura das roupas, uma vez que a educação formal se restringia à capital catarinense até a década de 1950. Num momento seguinte, com o implemento de políticas públicas que objetivavam o desenvolvimento industrial brasileiro, nota-se o incremento de instituições que pretendiam a qualificação da mão de obra fabril, com oferta de cursos técnicos oferecidos pelo Sistema S.
A síntese visual, na figura 02, apresenta acontecimentos relevantes do período pesquisado: na coluna da esquerda o âmbito internacional e nacional, na coluna da direita o âmbito estadual, regional e local. Os fatos estão organizados em ordem cronológica, com um panorama detalhado desse processo de industrialização, acompanhado dos principais marcos históricos relativos à colonização e ao transcurso dos regimes políticos e educacionais brasileiros.
A composição do contexto industrial no nordeste catarinense e sua vocação empreendedora desenharam cada um dos municípios e suas necessidades, estimulando o crescimento populacional e demandas por um sistema educacional profissionalizante. Assim sendo, na década de 1940, a demanda por mão de obra qualificada levou o governo às iniciativas de fomento ao ensino profissionalizante por meio de decretos que formalizaram o ensino industrial e comercial, bem como a organização de uma rede federal de ensino.
De acordo com as evidências, na década de 1970, o SENAI abriu oportunidades de capacitação para o público feminino na costura industrial visando a atender as demandas de mão de obra no setor de confecção e vestuário. O SESI ofereceu cursos de corte e costura para as mulheres com perfil da educação doméstica, atendendo as demandas do lar. Assim como na Europa, as tradições e conhecimentos da alfaiataria eram de domínio masculino, percebe-se sua influência na composição de conhecimentos de modelagem de roupas corte e costura tanto nos Liceus de Arte e Ofício, bem como nos métodos ensinados às alfaiatarias locais. Esses métodos perduram na composição de materiais didáticos contemporâneos.
Nas décadas de 1990 a 2000, houve abertura do mercado interno e incremento da globalização que impôs nova estruturação para as linhas de produção na indústria do vestuário. Outros fatores, como o aumento da terceirização, o incentivo à pesquisa e inovação, levou ao aumento das atividades de marketing e design como fatores competitivos. A região viu proliferar os cursos na área de confecção com incremento na formação superior em Design de Moda. Esse período coincide com uma conjuntura econômica que fomentou investimentos na tecnologia, pesquisas e inovação que culminaram na necessidade da reorganização educacional e da indústria do vestuário frente à emergência dos mercados globais que elegeram, entre outros fatores, o design como um elemento distintivo para a competitividade. Notadamente, o sistema S também inicia, nesse momento, a implantação da formação superior na área de moda, mas restringe-se à oferta de cursos com titulação de tecnólogo, visando a uma formação de caráter técnico-operacional.
Diante dessas informações e da composição estrutural da rede de ensino para os profissionais da indústria da confecção no Nordeste Catarinense, a partir da década de 1990, abarcam duas possibilidades: (I) uma instrução voltada para o campo técnico-operacional que circunscreve, em certa medida, as atividades profissionais à mera operação de maquinários e, por conseguinte, limita as chances de maiores ganhos salariais; (II) uma formação na área de concepção dos produtos, como a graduação em design, que adquire outro status na medida em que se despendem investimentos financeiros e de tempo, elementos dos quais nem todos dispõem. Desse modo, essa estrutura colabora com a manutenção das diferenças sociais que também subsistem nessa região, quando não aprofundam essas desigualdades.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com a Proclamação da República, o período de 1890 e 1930 registrou o maior crescimento da indústria têxtil e do vestuário, fator que criou uma demanda de mão de obra especializada para o sistema industrial. Destaca-se que, nesse período, nas cidades da região de Blumenau, Brusque e Jaraguá do Sul, o ensino na área têxtil e do vestuário era feito por mestres alfaiates em uma relação direta com seus aprendizes. Apenas o Liceu de Artes e Ofícios na capital catarinense ofertava o curso de alfaiataria, no qual os professores com conhecimentos técnicos eram alfaiates (homens) e atendiam aprendizes meninos da classe trabalhadora. As raízes do Liceu de Artes e Ofícios de Florianópolis perpetuaram seu legado na disseminação da educação pública, gratuita, de qualidade e acessível para todos. O IFSC expandiu para 22 campi, está presente em 20 cidades catarinenses, em três deles oferece, além dos cursos técnicos e ensino médio em modelagem, a graduação em Design de moda.
A evolução das cidades e suas indústrias geraram uma demanda de mão de obra qualificada que levou à formalização de uma parceria entre governo e a indústria, gerenciada pela FIESC, para composição do ensino profissionalizante pelo SENAI. Com a Revolução Industrial, o ofício da alfaiataria perdeu sua função social, mas seus métodos de modelar, cortar e costurar as roupas multiplicaram-se em materiais didáticos e em processo de ensino e aprendizagem que capacitam estudantes e professores. Esses profissionais aplicam esses saberes em micro e pequenos empreendimentos e na indústria, contribuindo com o desenvolvimento socioeconômico e cultural do estado.
O registro das origens e desdobramentos do processo de educação na área de moda, evidencia a dicotomia entre a educação intelectual e profissionalizante, a teoria e a prática e a necessidade de atender as demandas da indústria e da economia. Faz refletir a pressão para diminuição da carga horária dos cursos (hoje os tecnólogos têm carga horária similar aos cursos técnicos iniciais), entregando um profissional que atenda o perfil requerido pelo sistema. Este momento é uma oportunidade de reflexão, compartilhamento e possivelmente, um ponto de inflexão para os processos educacionais em design de moda e vestuário. Entende-se que essa estrutura colabora com a manutenção das diferenças sociais, quando não as aprofunda, numa sociedade já saturada de desigualdades de toda sorte.
Considera-se que esta pesquisa não está concluída em sua totalidade, mas um recorte dos dados e informações reunidos até o momento. Contatos importantes e significativos foram realizados neste ínterim, tanto nas unidades do Sistema S, no que se refere às cidades foco deste estudo (Jaraguá do Sul, Brusque e Blumenau), quanto junto à sede da Direção Regional em Florianópolis. Avançamos até aqui certos de que muitos detalhes importantes ainda serão revelados sobre a composição estrutural da rede de ensino para os profissionais da indústria da confecção, dando suporte para uma continuidade destes temas ou de pesquisas com temas adjacentes.[27]
REFERÊNCIAS
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Notas
Autor notes