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PLANTAS MEDICINAIS CULTIVADAS PELA PASTORAL DA SAÚDE DE CACOAL - RO.

MEDICAL PLANTS CULTIVATED BY THE PASTORAL OF THE HEALTH CACOAL - RO.

Edslei Rodrigues de Almeida
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Rondônia, Brasil
Lilian de Sena Marino
Secretaria de Educação do Estado de Rondônia, Brasil
Celso Júnior Costa Santos
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Brasil
Germano Guarim Neto
Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil

REAMEC – Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática

Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil

ISSN-e: 2318-6674

Periodicidade: Frecuencia continua

vol. 3, núm. 1, 2015

revistareamec@gmail.com



DOI: https://doi.org/10.26571/2318-6674.a2015.v3.n1.p99-114.i5309

Os direitos autorais são mantidos pelos autores, os quais concedem à Revista REAMEC –Rede Amazônica de Educação em Ciências e Matemática -os direitos exclusivos de primeira publicação. Os autores não serão remunerados pela publicação de trabalhos neste periódico. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico. Os editores da Revista têm o direito de proceder a ajustes textuais e de adequação às normas da publicação.

Resumo: A utilização de plantas medicinais na cura e tratamento de doenças é milenar. Muitas vezes as plantas medicinais constituem como sendo o único recurso terapêutico de grupos étnicos e comunidades. Para que o potencial das plantas seja utilizado de maneira benéfica pela sociedade é necessário identificá-las corretamente. Este trabalho teve como objetivo identificar as plantas medicinais utilizadas pela Pastoral da Saúde de Cacoal, estado de Rondônia. O levantamento das espécies de plantas medicinais cultivadas pela Pastoral foi realizado através de chaves de identificação taxonômica, comparação com literaturas técnicas especializadas, bem como especialistas da área. Foram identificadas 41 espécies com utilização medicinal, pertencentes a 36 gêneros e 24 famílias. As famílias melhor representadas foram Lamiaceae (10 espécies) e Asteraceae (04 espécies). A maioria das espécies tem como origem o Brasil (30,23%) e a Europa (13,95%). O presente trabalho servirá de embasamento para estudos que porventura vier a ser realizados na região, auxiliando assim na disseminação conhecimento tradicional.

Palavras-chave: Plantas medicinais, Pastoral da Saúde, Cacoal, Etnobotânica.

Abstract: The use of medicinal plants in the cure and treatment of diseases is millenarian. A lot of times the medicinal plants constitute how being the only therapeutic resource of ethnic groups and communities For that the potential of the plants is used in a beneficial way by the society is necessary to identify them correctly. This work had as objective identifies the medicinal plants used by the Pastoral of the health of Cacoal, state of Rondônia The rising of the species of medicinal plants cultivated by the Pastoral was accomplished through keys of identification taxonomic, comparison with specialized technical literatures, as well as specialists of the area. They were identified 41 species with medicinal use, belonging to 36 geners and 24 families. The families better acted were Lamiaceae (10 species) and Asteraceae (04 species). Most of the species it‟s from Brazil (30,23%) and Europe (13,95%). The present work will serve as embossment for studies that by chance comes to be accomplished in the area, aiding like this in the spread traditional knowledge.

Keywords: Medicinal Plants, Pastoral da Saúde Cacoal, Etnobotânica.

1. INTRODUÇÃO

É milenar a utilização de plantas medicinais na cura e tratamentos de doenças. Tal prática persiste até os dias atuais, pois o conhecimento é repassado empiricamente de geração em geração. (SILVA et al. 2006, p. 816). Segundo Maciel et al. (2002, p. 429), muitas vezes as plantas medicinais constituem como sendo o único recurso terapêutico de grupos étnicos e comunidades.

Com o passar dos anos como observado por Lorenzi e Matos (2002, p. 13), o emprego das plantas medicinais evoluiu da forma mais simples à fabricação industrial sofisticada. E de acordo com Motomiya et al (2004, p. 02), os produtos naturais com atividade biológica lideram as estruturas que irão tornar-se as principais fontes de novos agentes com potencial farmacológico.

“O Brasil é um país com uma rica flora” de acordo com Medeiros (2001, p.18), está incluído entre as doze nações que abrigam 70% da biodiversidade do planeta. BRASIL, (2002, apud, SILVA et al, 2006, p. 816) e quanto maior o número de espécies, maior o potencial de novos medicamentos (MOTOMIYA, et al, 2004, p. 01). A tendência é que com as intensas pesquisas para desenvolvimento de medicamentos com menores efeitos colaterais e contra-indicações, sejam descobertas ou mesmo estudadas minuciosamente os seus princípios ativos. Pois muitos cientistas reconhecem que as matas, especialmente na América Latina guardam o segredo da cura de muitas doenças. (MOTOMIYA, et al, 2004, p. 01).

Atualmente, a utilização de plantas medicinais é vasta entre a população brasileira e representa uma alternativa ao alto custo dos medicamentos industrializados. (PEREIRA, 2006, p.05). Cerca de 80% da população mundial consomem ervas e outras plantas medicinas WHO (2003 apud VIEIRA et al. 2007, p. 64). O uso das plantas medicinais como medicamentos fitoterápicos com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico, foi oficialmente reconhecido pela Organização Mundial de Saúde em 1978, que recomendou a difusão em nível mundial, dos conhecimentos necessários para o seu uso. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001, p.13). Com isso a ciência desenvolveu critérios e padres próprios rigorosos e objetivos, de modo que grande parte das assim chamadas “plantas medicinais” são inertes, pois foram reconhecidas por meio de observações ocasionais e critérios subjetivos. (RIZZINI e MORS, 1995, p. 85).

Apesar do interesse pelo uso de plantas medicinais ter aumentado consideravelmente nos últimos 20 anos WHO (2003 apud VIEIRA et al. 2007, p.64) no Brasil existem estatísticas que indicam que os laboratórios privados produzem cada vez mais produtos, com um aumento estimativo de 20% ao ano (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001, p.13).

O número de plantas como fonte potencial de uso médico que já foram estudadas no mundo é de cinco mil em contrapartida cerca de 20 mil plantas são utilizadas pela medicina tradicional LÉVÊGUE (1999, apud, SILVA et al. 2006, p. 816).

A identificação científica acaba tornando-se imprescindível visto que plantas ingeridas ou mesmo manipuladas erroneamente podem vir a causar danos à saúde (MEDEIROS, 2001, p.19). E em doses elevadas podem ser fatais MATOS (1999, apud MEDEIROS, 2001, p.22).

Este trabalho teve como objetivo identificar as plantas medicinais utilizadas pela Pastoral da saúde de Cacoal, estado de Rondônia. Para que o potencial das plantas seja utilizado de maneira benéfica pela sociedade é necessário identificá-las corretamente, embora a sua utilização ultrapasse milênios, muitas delas são confundidas devido seus nomes populares que divergem de região para região.

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1. Área de Estudo

O local da pesquisa foi a Pastoral da Saúde situado a Rua Floriano Peixoto nº 2404, no município de Cacoal, estado de Rondônia, localizado a 470 km da capital Porto Velho, tendo sua área geográfica 3.808,5 km2 .

Cacoal possui 76.155 habitantes. A densidade demográfica é de 19,3 habitantes por Km2 . (Fonte IBGE, 2007).

Localização geográfica do
Município de Cacoal, Rondônia.
Figura 1
Localização geográfica do Município de Cacoal, Rondônia.
Fonte: SEDAM (http://www.ronet.com.br/fima/fotoshtm/ro.html, acesso em 10 de outubro de 2015)

2.2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O levantamento das espécies de plantas medicinais cultivadas pela Pastoral da Saúde de Cacoal foi realizado através de chaves de identificação seguindo CRONQUIST (VIDAL e VIDAL, 2003, p.10), comparação com literaturas técnicas especializadas, bem como especialistas da área. Durante o levantamento as espécies foram fotografadas com câmera (Marca Fugi FinePix 55600, 5.1 mega pixels).

Foram realizadas visitas ao local da pesquisa, onde cada espécime fotografado foi minuciosamente observado, e na sequência todos os dados referentes à morfologia externa da planta foram anotados. Por ser uma horta e o cultivo estar ligado estritamente à produção de insumos que posteriormente terão seus princípios ativos, alguns espécimes tiveram sua coleta inviabilizada.

A caracterização das espécies foi de acordo com nome popular, local de origem e atribuições etnobotânicas. Estas características foram conferidas a partir de consulta bibliográfica, especialistas na área de botânica e sites especializados.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das 40 espécies com utilização medicinal obtidas durante o levantamento, 39 foram identificadas em nível de espécie, 01 gênero e 04 espécimes não identificados sendo os mesmos pertencentes a 35 gêneros e 24 famílias. As famílias melhor representadas foram Lamiaceae (10 espécies) e Asteraceae (04 espécies) (Tabela 01). Além das espécies com utilização medicinal (Anexos 1 e 2), verificaram-se a presença de espécies ornamentais (07 espécies) pertencentes a 07 gêneros e 05 famílias (Tabela 02). Quatro espécies não foram identificadas e estão representadas como etnoespécies (Tabela 02). As plantas cultivadas pela Pastoral da saúde de Cacoal tiveram sua caracterização por nome popular, local de origem e indicações etnobotânicas.

Tabela 1
Caracterização das espécies de plantas medicinais cultivadas pela Pastoral da saúde de Cacoal, RO por nome popular, local de origem e indicações terapêuticas.
Família/Espécie Nome Popular Origem Indicações Terapêuticas
Acanthaceae
Justicia pectoralis Anador Região Amazônica Reumatismo, cefaléia, febre, cólicas abdominais, inflamações pulmonares, tosse, expectorante, sudorífica, afrodisíaca, analgésica, antileucêmica, espasmolítica, antiinflamatória, broncodilatadora.
Amaranthaceae
Alternanthera dentata (Moench) Stuchlik Terramicina Região Amazônica Béquicas, anti-tumoral, diurética, digestiva, depurativa, adstringente, anti-diarréica, prisão de ventre.
Apiaceae
Hydrocotyle bonariensis Erva-capitão Brasil Diurético, vomitivo, aperiente, anti-reumático.
Foeniculum vulgare Mill Erva-doce Europa Problemas digestivos, cólicas, carminativo, espasmolítico.
Apocynaceae
Catharanthus roseus Boa-noite Madagascar, ocorrência pantropical Sudorífica, diurética, hipoglicemiante, febrífuga, antileucêmica.
Asteraceae
Achillea millefolium L. Mil em rama Europa Diurética, antiinflamatória, antiespamodica, cicatrizante, infecção das vias respiratórias, astena, flatulência, diarréia, dispesia, febre, gota.
Artemisia absinthium L. Losna Europa, Ásia e norte da África. Carminativa, diurética, colagoga, emenagoga, abortiva, anti-helmíntica, distúrbio da digestão, fígado e vesícula biliar.
Baccharis trimera (Less.) Carqueja Sul e Sudeste do Brasil Problemas hepáticos, disfunções estomacais e intestinas, diarréias, garganta inflamada.
Solidago chilensis Meyen Arnica Parte Meridional da América do Sul Estomáquica, adstringente, cicatrizante, ferimentos, contusões traumatismos.
Caprifoliaceae
Sambucus nigra L. Sabugueiro Sul da América do Sul Problemas respiratórios, diurética, antipirética, antiséptica, cicatrizante, antiinflamatória, resfriado, sinusite, artrite, cálculos renais, analgésico, dermatoses, queimaduras leves, úlceras bucais.
Celastraceae
Maytenus ilicifolia Reissek Espinheira- santa Sul do Brasil Gastrite, úlceras, antitumoral, anti-leucêmica, câncer, dispepsia, indigestão.
Chenopodiaceae
Chenopodium ambrosioides L. Mastruz América central e América do Sul Estomáquica, anti-reumática, anti-helmíntica, bronquite, tuberculose, contusões e fraturas.
Costaceae
Costus spicatus (Jacq.)Sw. cana-de-macaco Região Amazônica, Brasil Depurativa, adstringente, diurética, tônico, emenagogo, gonorréia, sífilis, nefrite, picadas de insetos, diabetes, problemas de bexiga, irritações vaginais, leucorréia, cólicas, disenteria, laxante.
Equisetaceae
Equisetum hiemale L. Cavalinha América tropical Adstringentes, diuréticas, estípticas, gonorréia, diarréia, infecções dos rins e bexiga, hemorragias nasais, anemia, calcificação de fraturas.
Euphorbiaceae
Euphorbia tirucalli L. Aveloz Madagascar Cauterização de abcessos e verrugas, câncer de pele.
Jatropha gossypiifolia L. Pinhão-roxo Antilhas e América tropical Purgativo drástico, cicatrizante, hemostática, anti-reumática, anti-hipertensiva, diurética, antileucêmica, antineoplásica e antitumoral.
Lamiaceae
Mentha x villosa Huds Hortelã-rasteira Europa Espasmolitico, antivomitivo, carminativa, estomáquica, anti-helmíntica, anti-séptica, antiprurido.
Leonotis nepetaefolia Cordão-de-frade África tropical Tônico, estimulante, diurética, febrífuga, sudorífica, carminativa e antiespasmódica, bronquite crônica, tosse, asma brônquica, gota, ácido úrico, dispepsia, astenia, inflamação urinária, hemorragia uterina antidisentérico, reumatismo, nevralgias, úlceras.
Leonurus sibiricus L. Macaé China, Sibéria e Japão Diurética, gastralgia, dispepsia, malária, bronquite, tosse, menstruação excessiva e dolorida, antitrombótica.
Ocimum basilicum L. Manjericão Ásia tropical Febre, problemas digestivos, infecções bacterianas, antiespamódico gástrico, galactógeno, béquico, anti-reumático dor de garganta.
Ocimum gratissimum L. Alfavacão Oriente Banhos antigripais, nervosismo, paralisia, carminativos, sudoríficos, diuréticos.
Ocimum selloi Benth Alfavaca Sul do Brasil Distúrbios digestivo-estomacais, hepático- biliares, gastrite, vômitos, tosse, bronquite, gripe, febre, resfriado.
Plectranthus amboinicus Hortelã grande Nova Guiné Tosse, dor de garganta, bronquite, problemas ovarianos e uterinos, cervicite, antiepiléptica, antiinflamatória, anti-séptico bucal.
Plectranthus barbatus Andrews Boldo Índia Fígado, e problemas no aparelho digestivo, gastrite, dispepsia, azia, mal-estar gástrico, ressaca, estimulante da digestão.
Plectranthus neochilus Schlechter Boldo - -
Rosmarinus officinalis L. Alecrim Mediterrâneo Má digestão, gases no aparelho digestivo, dor de cabeça, dismenorréia, fraqueza e memória fraca, hipertensão, perda de apetite, reumatismo, espamolítico, antitumoral.
Liliaceae
Aloe vera (L.) Burm . F. Babosa África Cicatrizante, antimicrobiano, hemorróidas, contusões, dores reumáticas.
Papaveraceae
Argemone mexicana L. Cardo santo México Inflamação na bexiga, úlceras, inflamações oculares, anestésico, dor de dente, abcessos nas gengivas, calmante, narcótico, purgativa, vomitiva.
Phytolacaceae
Petiveria alliacea L. Guiné Região Amazônica Antiespasmódica, diurética, sudorífica, emenagoga, hidropsia, artrite, reumatismo malária,analgésica, anestésica, afecções bucais, infecções na garganta, contusões, traumatismos, dores lombares, reumáticas e cabeça.
Piperaceae
Pothomorphe peltata L. Miq. Pariparoba Região Amazônica, Brasil Diurética, antiepiléptica, antipirética, erisipela, filariose, hepáticas, pancreáticas, estomacais, antimalárica.
Plantaginaceae
Plantago major L. Transagem Europa Diurética, anti-diarréica, expectorante, hemostática, cicatrizante, bronquite crônica, úlceras pépticas, conjuntivite, amigdalite, faringite, gengivite, estomatite, traqueíte, hipertensão, inflamações.
Poaceae
Cymbopogon citratus (D.C.) Stapf. Capim-cidreira Países tropicais, inclusive Brasil. Calmante, espasmolítica, analgésico, cólicas uterinas e intestinais.
Polygonaceae
Polygonum hydropiperoides Michx Erva de bicho Ásia Analgésica, sedativa, narcótica leve, expectorante, anafrodisíaca, diurética, emoliente, depurativa, gastralgia, espasmos da bexiga, dores nas articulações, vermífugo, psoríase, eczema, úlceras, cólicas, nevralgias, afecções das vias urinárias, furúnculos.
Portulacaceae
Portulaca oleracea L. Onze-horas Norte da África Sudorífica, emoliente, antiinflamatória, diurética, vermífuga, antipirética, antibacteriana, cistite, hemóptise, cólicas renais, queimaduras, úlceras, emenagoga, anti- helmíntica, hipertensiva.
Rubiaceae
Morinda citrifolia L. Fruta do Noni Polinésia Antioxidante, anti-tumoral, anti-angiogênica
Rutaceae
Ruta graveolens L. Arruda Europa Meridional Desordens menstruais, inflamações na pele, dor de ouvido, dor de dente, febre, câimbras, doenças do fígado, verminose.
Solanaceae
Solanum americanum Mill. Maria preta Continente Americano, incluindo Brasil Analgésica, sedativa, narcótica leve, expectorante, anafrodisíaca, diurética, emoliente, depurativa, gastralgia, vermífugo, psoríase, eczema, excitação nervosa, cólicas, nevralgias, afecções das vias urinárias, feridas, úlceras, queimaduras, abscessos, furúnculos.
Verbenaceae
Lippia alba (Mill)N.E. Br. Erva cidreira Brasil Calmante, espasmolítica suave, sedativa, ansiolítica, mucolítica, cólicas uterinas e intestinais.
Stachytarpheta jamaicensis(L.)Vahl Gervão-azul Brasil Tônico estomacal, estimulante das funções gastrintestinais, febre, resfriado, gripe, dispepsia, diurético, hepatite, anti-helmíntico, disenteria, inflamações reumáticas, prisão de ventre, bronquite.

SANTOS, et al. (2008, p. 245), num estudo realizado em Ariquemes-RO, constataram uma maior diversidade de plantas com propriedades medicinais para as famílias Lamiaceae e Asteraceae. Resultados similares foram obtidos por SANTOS e LIMA (s.d., p. 62), no município de Cujubim – RO, onde as plantas mais citadas pertenciam respectivamente às famílias mencionadas acima.

A família Lamiaceae inclui cerca de 220 gêneros HEDGE (1992 apud ALMEIDA e ALBUQUERQUE, 2002, p. 343). e de 3.500 a 4.000 espécies (HARLEY 1988; HEDGE, 1992, apud ALMEIDA e ALBUQUERQUE, 2002, p. 343). Com ampla distribuição, que tem representantes cosmopolitas (Salvia e Scutellaria), e é especialmente abundante na região do Mediterrâneo. Ela cresce em vários habitats e altitudes: desde as regiões do Ártico para o Himalaia, sudeste da Ásia para o Havaí, Austrália, África e o Novo Mundo de norte a sul HEYWOOD (1978 apud ALMEIDA e ALBUQUERQUE, 2002, p.343).

Os mesmos autores ainda ressaltam a falta de dados florísticos e taxonômicos em relação à família Lamiaceae. Estudos como este tende a contribuir quanto à ocorrência desta família na nossa região, sua utilização e distribuição espacial.

As plantas relacionadas abaixo (Tabela 02) são cultivadas pela Pastoral da Saúde, sendo descritas na literatura como ornamentais. Sugere-se aqui estudos mais minuciosos quanto a utilização destas plantas, pois sabemos que muitos medicamentos comercializados hoje tiveram seus princípios ativos conhecidos, através de estudos etnobotânicos.

Tabela 2
Caracterização das espécies de plantas ornamentais e etnoespécies cultivadas pela Pastoral da saúde de Cacoal, RO por nome família e nome popular. Cacoal, RO.
Família/Espécie Nome Popular Etnobotânica
Apocynaceae
Ervatamia coronaria (Jacq.) Stapf Jasmim-café Ornamental
Asteraceae
Tagetes erecta L. Cravo-de-defunto Ornamental
Euphorbiaceae
Jatropha podagorica Hook. batata-do-inferno Ornamental
Pedilanthus tithymaloides (L.) Poit. Sapatinho-do-inferno Ornamental
Liliaceae
Asparagus setaceus (Kunth) Jessop Aspargo-samambaia Ornamental
Sansevieria trifasciata var. lauretii (De Wild.) N.E. Br. Espada-de-são-jorge Ornamental
Rosaceae
Rosa wichuraiana Crép. Roseira-trepadeira Ornamental
Etnoespécies
- Alfazema -
- Cajirú -
- Crajaraú -
- Ginseng -
Fonte: http://florabrasiliensis.cria.org.br/index, acesso em 10 de outubro de 2015 / http://www.plantamed.com.br, acesso em 10 de outubro de 2015

Houve um agravante na identificação de alguns espécimes, devido seus nomes populares não coincidir com nenhuma das literaturas consultadas, os nomes populares foram transcritos tal qual estavam na placa de identificação (Tabela 02). Estudos posteriores poderão verificar se todas as espécies da horta estão sendo utilizadas e se os responsáveis pela manipulação detêm as informações necessárias sobre todas as plantas ali cultivadas, o estudo pode abranger as partes utilizadas para tratamento.

As espécies têm como origem Europa, Madagascar, Ásia, África, América Latina, África, Mediterrâneo, Sibéria, Japão, China, Oriente, Nova Guiné, Índia, México e Polinésia. A maioria das espécies tem ocorrência para o Brasil (30,23%) e para a Europa (13,95%) (Figura 02).

 Plantas
medicinais distribuídas por local de origem
Figura 02
Plantas medicinais distribuídas por local de origem

Nas espécies que ocorrem no Brasil a incidência de espécies da região Amazônica e da região Sulina foi maior se comparadas a outras regiões, porém as espécies que ocorrem em todo ou quase todo país foram as que receberam maior destaque (Figura 03).

Distribuição de plantas medicinais com ocorrência em regiões brasileiras.
Figura 03
Distribuição de plantas medicinais com ocorrência em regiões brasileiras.

A quantidade, assim como a maior diversidade para a região Norte está relacionada à presença da Floresta Amazônica que abriga uma enorme riqueza florística. Cerca de 31,25% das espécies identificadas ocorrem na região Norte, 18,75% na região Sul, 6,25% na região Sudeste não houve registros para a região Nordeste porém predominaram plantas com ampla distribuição.

Os dados referentes às atribuições botânicas mostram que o maior número de espécies possui indicação para o tratamento de doenças relacionadas ao aparelho digestivo e urinário (Figura 03). Cada espécie identificada possui mais de uma indicação terapêutica.

Espécies
relacionadas conforme suas indicações terapêuticas ou formas de ação.
Figura 04
Espécies relacionadas conforme suas indicações terapêuticas ou formas de ação.

Em relação às famílias com maior destaque e às indicações terapêuticas os resultados obtidos foram semelhantes aos levantamentos e estudos realizados no Brasil (GALLOTE e RIBEIRO, 2005 p. 24; VISBISKI et al., 2003 p.18; AMOROZO, 2002, p.193) e de acordo com Gallote e Ribeiro (2005, p. 24) as plantas que apresentam indicações de uso no conhecimento tradicional podem ser as mais adequadas para a produção e comercialização por possuírem grande aceitabilidade em meio à população em geral.

4. CONSIDERAÇÕES

Estudos relacionados às plantas medicinais são extremamente necessários não só para evitar possíveis enganos, mas também para a conservação do conhecimento tradicional. É bom ressaltar que existe uma defasagem em estudos para identificação dos princípios ativos de plantas medicinais, o presente trabalho servirá de embasamento para estudos que porventura vierem a ser realizados na região, auxiliando assim na disseminação do conhecimento tradicional.

Trabalhos posteriores podem vir a abranger entrevistas com as pessoas atendidas pela Pastoral, doenças mais frequentes e plantas mais utilizadas em forma de medicamentos fitoterápicos.

REFERÊNCIAS

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AMOROZO, Maria Christina de Mello. Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antonio do Leverger, MT, Brasil. Acta Botânica Brasileira. v.16, n.2, p. 189-203. 2002.

FLORA BRASILIENSIS. Disponível em : http://florabrasiliensis.cria.org.br/index - acesso em: 01 de outubro de 2008.

GALOTTE, Danielle C; RIBEIRO, Luci F. Levantamento etnobotânico das plantas medicinais do horto da Escola Superior São Francisco de Assis – ESFA, Santa Teresa, ES. Disponível em : http://www.naturezaonline.com.br/natureza/conteudo/pdf/horto.pdf - acesso em: 01 de outubro de 2008.

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LORENZI, Harri; MATOS, Francisco José de Abreu. Plantas Medicinais no Brasil : nativas e exóticas cultivadas. Nova Odessa, SP : Instituto Plantarum.2002.

MACIEL, Maria Aparecida M. et al. Plantas Medicinais : A necessidade de estudos multidisciplinares. Química Nova, v.25, n.3, 2002. p. 429-438.

MEDEIROS, L.C.M.; CABRAL, I.E. O cuidar com plantas medicinais : uma modalidade de atenção à criança pelas mães e enfermeira-educadora. Revista Latino Americana de enfermagem. Ribeirão Preto. v.9, n.1, p. 18-26. jan. 2001.

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MOTOMIYA, Anamari Viegas de Araújo et al. Levantamento e cultivo das espécies de plantas medicinais utilizadas em Cassilândia, MS. Anais do 2º Congresso Brasileiro de extensão Universitária. Belo Horizonte, 2004.

PEREIRA, Cleiber Augusto. Farmacoquímica de Plantas Medicinais nativas de Matozinhos: Breve estudo sobre as quinas, 2006. 22p. Monografia (Graduação em Química).

PLANTAMED. Disponível em: http://www.plantamed.com.br – acesso em : 01 de outubro de 2008.

RIZZINI, Carlos Toledo; MORS, Valter B. Botânica Econômica Brasileira. 2.ed. Rio de Janeiro: Âmbito Cultural 1995. 248p.

SANTOS, Maurício Reginaldo Alves dos; LIMA, Maria Railda de. s.d. Levantamento dos recursos vegetais utilizados como fitoterápicos no município de Cujubim, Rondônia, Brasil. Disponível em: http://www.saolucas.edu.br:8080/rcientifica/setup/artigos/ANEXO/Artigo-MaurcioSantos.pdf - acesso em : 14 de novembro de 2008.

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SILVA, Juliana Oliveia; SOUZA, Paulo Sérgio. Levantamento etnobotânico das plantas medicinais utilizadas pela população da Vila Canaã região Sudoeste – Goiânia, Goiás.

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VIEIRA, Ionara Fernanda Rezende et al. Identificação de Plantas Medicinais irradiadas através da ressonância paramagnética eletrônica. Brazilian Journal of Food Technology. Campinas, 63-69, jan/mar. 2007.

VIDAL, Waldomiro Nunes; VIDAL, Maria Rosária Rodrigues. Taxonomia Vegetal. 1.ed. Viçosa: Editora UFV. 2003. 89p.

VISBISKI, Vivieny Nogueira; WEIRICH NETO, Pedro Henrique; SANTOS, Adriano Lima dos. Uso popular das plantas medicinais no assentamento Guanabara, Imbaú-PR. Publ. UEPG Ci. Exatas Terra, Ci. Agr. Eng. Ponta Grossa. v.9, n.1, p.13-20. abr. 2003.

Anexos

Anexo 1


1

Prancha 1 - Espécies: 1-Justicia pectoralis; 2-Alternanthera dentata; 3-Hydrocotyle bonariensis; 4-Foeniculum vulgare; 5-Catharanthus roseus; 6-Artemisia absinthium; 7- Baccharis trimera; 8- Solidago chilensis; 9- Sambucus nigra; 10- Maytenus ilicifolia; 11- Chenopodium ambrosioides; 12- Costus spicatus; 13- Equisetum hiemale; 14- Euphorbia tirucalli; 15- Jatropha gossypiifolia; 16- Mentha x villosa; 17- Leonotis nepetaefolia; 18- Ocimum gratissimum; 19- Ocimum selloi; 20- Plectranthus amboinicus.


2

Prancha 2 - Espécies: 21- Plectranthus barbatus; 22- Plectranthus neochilus; 23- Rosmarinus officinalis; 24- Aloe vera; 25- Aloe sp.; 26- Argemone mexicana; 27- Petiveria alliacea; 28- Pothomorphe peltata; 29- Cymbopogon citratus; 30- Portulaca oleracea; 31- Morinda citrifolia; 32- Ruta graveolens; 33- Solanum americanum; 34- Lippia alba; 35- Stachytarpheta jamaicensis; 36- Etnoespécie Cajirú; 37- Etnoespécie Crajaraú; 38- Etnoespécie Ginseng

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