Resumo: O lugar é um produto das atividades humanas, apresenta múltiplas valorizações e caracterizações, diante dos atributos estruturais, funcionais e afetivos, onde cada ser em si percebe e reconhece o mesmo, de maneiras diferentes conforme, os seus anseios e desejos. Há lugares que são a tradução da vida, da morada e que, por isso, transmitem sentimentos, construiu-se uma identidade, contam uma história, retratam momentos, revelando uma ligação afetiva entre o ser humano e o lugar, como é o caso dos lugares da Região da Quarta Colônia de Imigração Italiana. Pensando nisso, este artigo objetivou-se discutir o lugar como elo de vivência e topofilia, no contexto da Quarta Colônia de Imigração Italiana. Esperando assim, contribuir com os estudos de Geografia, especialmente do lugar.
Palavras-chave: Lugar, identidade, Quarta Colônia de Imigração Italiana.
Abstract: The place is a product of human activities, presents multiple valuations and characterizations, in view of the structural, functional and affective attributes, where each being in himself perceives and recognizes the same, in different ways according to his desires and desires. There are places that are the translation of life, of the address and that, for this, they transmit feelings, an identity was constructed, they tell a story, they portray moments, revealing an affective connection between the human being and the place, as is the case of places of the Region of the Fourth Colony of Italian Immigration. Thinking about this, this article aimed to discuss the place as a link of experience and topofilia, in the context of the Fourth Colony of Italian Immigration. Hoping in this way, to contribute with the studies of Geography, especially of the place.
Keywords: Place, identity, Fourth Colony of Italian Immigration.
Resumen: El lugar es un producto de las actividades humanas, presenta múltiples apreciaciones y caracterizaciones, ante los atributos estructurales, funcionales y afectivos, donde cada ser en sí percibe y reconoce lo mismo, de maneras diferentes conforme, sus anhelos y deseos. Hay lugares que son la traducción de la vida, de la morada y que, por eso, transmiten sentimientos, se ha construido una identidad, cuentan una historia, retratan momentos, revelando un vínculo afectivo entre el ser humano y el lugar, como es el caso lugares de la Región de la Cuarta Colonia de Inmigración Italiana. Pensando en ello, este artículo se objetivó discutir el lugar como eslabón de vivencia y topofilia, en el contexto de la Cuarta Colonia de Inmigración Italiana. Esperando así, contribuir con los estudios de Geografía, especialmente del lugar.
Palabras clave: Lugar, identidad, Cuarta Colonia de Inmigración Italiana.
Artigos
O lugar na ótica do cotidiano, vivência e identidade: uma visão a partir da quarta colônia de imigração italiana, RS, Brasil
The place in the perspective of daily life, experience and identity: a view from the Fourth Colony of Italian Immigration, RS, Brazil
El lugar en la óptica de lo cotidiano, vivencia e identidad: una visión a partir de la Cuarta Colonia de Inmigración Italiana, RS, Brasil
Recepção: 27 Julho 2018
Aprovação: 31 Março 2019
A sociedade contemporânea tem vivido muitos desafios, frente aos avanços da globalização, sendo a instantaneidade dos acontecimentos e a perda da identidade local alguns destes efeitos. No entanto, em muitos espaços regionais culturais as pessoas estão, cada vez mais, buscando valorizar o cotidiano e o vivido, através da cultura, do conhecimento e do lugar, a fim de, manter suas identidades e raízes.
A preservação do lugar como espaço vivido permite que um grupo cultural mantenha a segurança, o apego ao mundo interno e externo de sua morada e aos sentimentos humanos criados entorno do lugar e da sociedade. Por isso, o lugar, que é uma categoria de estudos da Geografia, adquire novas perspectivas de contextualização na atualidade, despertando o interesse de pesquisadores de diversas áreas científicas.
O lugar, pois é o espaço vivido, experienciado, de conhecimento e materialização de sentimentos diversos que movimenta os sonhos e os desejos humanos. O lugar pode ser identificado por casas, bairros, cidades, sendo ele qualquer espaço, ponto que tenha uma expressão humana e um elo vivido ou imaginário.
Nesse sentido, este artigo tem como propósito discutir a respeito do lugar, abordado pela Geografia Humanística, lugar de afetividade e sentimentalismo, analisando a realidade dos
habitantes da Quarta Colônia de Imigração Italiana (Quarta Colônia), localizada na região central do Rio Grande do Sul, região marcada pela cultura italiana.
Para isto, foi realizada a leitura de várias bibliografias importantes sobre a concepção de lugar, como Yi-Fu Tuan, Milton Santos, Lívia de Oliveira, entre outros. Assim, o presente trabalho apresenta um caráter de pesquisa bibliográfica. Para Cervo e Bervian (1983, p. 55), a pesquisa bibliográfica "explica um problema a partir de referenciais teóricos publicados em documentos", ou seja, é uma leitura minuciosa de bases bibliográficas para contextualizar o problema em estudo. Além da pesquisa bibliográfica utilizou-se o enfoque empírico, onde através das análises locais são trabalhados o conceito de lugar, cotidiano e cultura.
Espera-se que com este trabalho possa-se contribuir com as pesquisas relacionadas ao lugar e o cotidiano, vistos pela Geografia como um assunto de ampla discussão e importante para se entender a dicotomia sociedade-natureza atual, vista pela essência da percepção e topofilia. Assim como, este conceito, lugar, é valioso para a construção do ensino aprendizagem.
Iniciando o tratamento de lugar, na ótica da evolução do pensamento geográfico, é importante afirmar que a Geografia Tradicional, tanto a corrente determinista quanto a possibilista sempre deixam de lado, o estudo e discussões a respeito do lugar, dando ênfase a outros conceitos, tais quais paisagem, região e espaço. Neste sentido, o lugar é visto como uma pura associação à localização de uma área, em escala geográfica, com pouca importância e significação, já que o enfoque dessa escola estava relacionado aos aspectos físicos, ao invés dos humanos. Como ressalta Motta (2003, p. 99), “os lugares e a vida dos seres humanos ficaram à margem, como questões menores”.
A Geografia Quantitativa também não tinha um interesse no caráter cultural e social, abordando as técnicas estatísticas e matemáticas de caracterização espacial ou de divisão regional. Neste momento, “o conceito de lugar é abandonado em detrimento do de espaço, considerado como um simples meio de análise” (FERREIRA, 2002, p. 44).
É, contudo, através da Geografia Humanista que o conceito de lugar apresenta grande expressão, e com nova conotação, local de afetividade, onde o ser humano percebe e sente esse espaço, conforme seus desejos, sentimentos e experiência. Na abordagem humanística, cujas bases metodológicas estão associadas à fenomenologia e ao existencialismo é estabelecido um diálogo entre o homem e seu meio, a partir da percepção, do pensamento, dos símbolos e da ação (BUTTIMER, 1982). Complementam Moreira e Hespanhol (2007, p.50), “essa corrente encontrou no lugar a possibilidade de explicar a construção do mundo, já que o lugar é visto como o mundo da vida, marcado pela experiência e percepção”.
Nesta linha, o lugar é entendido como o espaço de vida, de experiência de realizações, do cotidiano de uma pessoa ou grupo, logo lugar é um conceito próximo ao ser humano. Ele é onde estão as memórias, as histórias, as lembranças, local de conhecimento empírico e real. De acordo com Tuan (2013), o lugar expressa mais que o sentido geográfico de localização, sendo entendido como um centro de significados construídos pelas experiências humanas. Neste contexto, o lugar é segurança, sendo desde a casa, o bairro até a pátria; ele é concreção de valor e sentimento; o próprio microcósmico que dá existência ao sujeito; ele é o espaço vivido e experienciado (TUAN, 2013).
O lugar é fundamentado enquanto base da existência humana, experiência pessoal, mediatizada por símbolos e significados próprios (LOPES, 2012). É uma mistura que envolve sons, cheiros, imagens, uma apropriação afetiva, sendo, portanto, constituído com o tempo, com a familiarização (TUAN, 2013). Indo além a esta discussão Milton Santos (1996, p. 258) comenta:
O lugar é o quadro de uma referência pragmática de mundo, do qual lhe vêm solicitações e ordens precisas de ações condicionadas, mas é também o teatro insubstituível das paixões humanas, responsáveis, através da ação comunicativa, pelas mais diversas manifestações da espontaneidade e da criatividade.
Além desta visão humanista, a Geografia Marxista também conferiu uma análise teórica ao lugar, enquadrando-o à noção de dicotomia com o global. Desse contexto, o lugar apresenta qualidade de construção social que se dá ao longo da história, estando este conceito relacionado também a escala local e global (LOPES, 2012). Ainda, Santos (1996) ressalta que o lugar é o suporte e a condição para as relações globais, ele é definido como a funcionalização do mundo. Portanto, Cavalcante (2011, p. 92) menciona que o lugar é “entendido como um cotidiano compartido entre as mais diversas pessoas, firmas e instituições – cooperação e conflito são à base da vida em comum”.
Atualmente, as discussões a respeito do lugar buscam compreendê-lo articulando a compreensão da vida humana e sua relação com o ambiente, que se encontra cada vez mais globalizado, sendo uma forma de compreender a subjetividade e a objetividade do espaço (FERREIRA, 2000).
Lugar, porém não é espaço. Segundo Tuan (2013), o espaço e o lugar são categorias que apresentam uma expressiva ligação em si, mas que são diferentes. Em Tuan (2013, p. 89), ““Espaço” é mais abstrato do que “lugar”. O que começa como espaço indiferenciado transforma- se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor”. Espaço é movimento, liberdade, enquanto lugar é pausa, segurança (TUAN, 2013).
Retomando a discussão do lugar, este pode ser percebido como real ou imaginário. O lugar real é aquele vivido, sentido e de trocas de experiências positivas e negativas. Já o imaginário é aquele lugar em que não se vivenciou concretamente, ou seja, que se criou na mente humana ou que se visualizou através de meios de comunicações, mas que se tornou familiar. Um exemplo de lugar imaginário é o criado pelos descendentes de imigrantes italianos quanto à Itália. Muito embora, a maioria dos descendentes não conheça este país, eles mantêm uma afetividade com o lugar, devido à construção mental que os seus antepassados criaram com as histórias, os sentimentos de patriotismo e a cultura.
Dessa forma, o lugar apresenta uma unicidade e subjetividade, pois marca as questões individuais, mas também apresenta uma característica de localização e interligação com as questões culturais, econômicas e sociais. Com isto, a leitura do lugar é uma experiência que requer um cuidadoso olhar. Para Callai (2005, p. 236),
Compreender o lugar em que se vive encaminha-nos a conhecer a história do lugar e, assim, a procurar entender o que ali acontece. Nenhum lugar é neutro, pelo contrário, os lugares são repletos de história e situam-se concretamente em um tempo e em um espaço fisicamente delimitado. As pessoas que vivem em um lugar estão historicamente situadas e contextualizadas no mundo. [...]. Ao mesmo tempo em que ele é o palco onde se sucedem os fenômenos, ele é também ator/autor, uma vez que oferece condições, põe limites, cria possibilidades.
Neste ponto, Moreira e Hespanhol (2007, p.55), “Quando se propõe contextualizar sobre o lugar, vem à tona abordar a memória do indivíduo em relação ao lugar. Isso porque a memória traz a possibilidade de resgatar o lugar”. Assim, o lugar encontra-se relacionado com a memória e o cotidiano das pessoas. “O lugar permite a co-presença, a convivência, a contiguidade, a vizinhança, a interação, o estar juntos” (MOREIRA; HESPANHOL, 2007, p. 56).
Neste sentido, Dutra (1998, p. 145) diz que,
O lugar pode ser visto também como palco da cotidianidade, quando encarado como dimensão central do nosso cotidiano, onde por mais fortes que sejam as verticalidades, nossas horizontalidades se expressam de forma muito peculiar e, mesmo que não consigam se impor sobre as primeiras, nunca ficam apagadas.
Logo, “o cotidiano se apresenta como o lugar dos gestos repetitivos e da uniformidade e homogeneidade de hábitos, formas de uso, comportamento, valores, etc” (CARLOS, 2007, p.54- 55). Cotidiano são os acontecimentos diários, efeitos da vida e da constante intensidade das relações, ações e vivências.
Assim, relacionar o cotidiano e o lugar é envolver as diversas e constantes relações de uma sociedade, analisando a totalidade da vida (DAMIAMI, 1994). Lugar e cotidiano formam uma equação, que permite a compreensão das ações e das dificuldades de sua própria vida, havendo uma necessidade de interligar tempo e espaço, do lugar de vida com outros lugares e de identificar
as especificidades de cada lugar e as identidades de seus moradores (LASTÓRIA; MELLO, 2008). Esta dimensão é extremamente forte quando se trabalha o ensino para o aluno e também ao abordar as regiões culturais, que são fonte de cotidiano, vivência e sentimentos.
O lugar valorizado pelos sentimentos e emoções das pessoas está intimamente associado à percepção e à imagem do eu, do indivíduo ao espaço de vida, de cultura e de lutas diárias. No lugar se desenvolve afetividades, conhecimento, experiência vivida, atividades e histórias, assim como se criam laços de identidade. Conforme afirma Graeml (2007, p. 41),
Uma das características fundamentais do lugar é a identidade que as pessoas possuem com ele, a sensação de pertencionismo. Esta sensação demonstra como o ser humano sente-se pertencendo a um lugar especial, ao mesmo tempo em que cria uma identidade como este, como se fizesse parte dele.
O lugar expressa a intencionalidade do indivíduo (LEITE, 2012). A partir disso geram-se sentimentos de identidade e pertencimento. “Assim, o lugar serve para conferir noção de pertencimento ao indivíduo” (LEITE, 2012, p.2).
Desse modo, o processo afetivo é um elemento importante na construção de significados em relação ao lugar (CORRALIZA; BERENGUER, 2010, apud MELO; LOPES; SAMPAIO, 2017).
Pois, existem aspectos que somente podem ser vistos por aqueles que frequentam os mesmos lugares e também partilham as mesmas aspirações e subjetividades locais. Portanto, “os afetos tornam-se mediadores da construção de sujeitos que sentem, pensam e agem partindo de uma racionalidade ético-afetiva” (MELO; LOPES; SAMPAIO, 2017, p.112).
O lugar é, então, onde reside desejo da estabilidade, identidades, emoções territorialidade vividas e constituídas frente a uma cultura que alimenta o social e o territorial com suas forças materiais e imateriais. Conforme Tuan (1982 apud Holzer, 1999), o lugar consiste-se num espaço que se torna familiar às pessoas, no espaço vivido, intensamente humano e que reúne a qualidade de ligação emocional dos objetos às funções dos símbolos na criação de identidade do lugar. O Lugar traduz a bibliografia de um indivíduo e sua identidade com o espaço vivido (TUAN, 1975).
A identificação com o lugar é vista, por exemplo, em tempos de campeonatos mundiais, onde as pessoas vestem camisetas, erguem bandeiras para demostrar sua afetividade e orgulho a nação, que é o lugar de morada.
Geralmente, os lugares que vivemos e nascemos, ou que um dia habitamos nos transmitem uma identidade, contam uma história, retratam momentos, sendo eles bons ou frustrantes, mas traduzem uma parte de nossas vidas. Estes lugares são uma identidade bibliográfica da nossa existência (TUAN, 1975). Como o lugar é vida humana ele também apresenta particularidade de uma cultura, seus códigos culturais. Estas marcas podem servir de atração turística e de constituição de patrimônios culturais. Como é o caso da Quarta Colônia de Imigração Italiana e de outras regiões culturais, onde no lugar se reproduz a dança, a alimentação, a vida, a história e a cultura como um todo.
Diante disso, o lugar é único, pois depende da afetividade e da percepção de cada indivíduo sobre ele e como cada pessoa sente e vivência os mesmos aspectos diferentemente, referenciando também uma cultura e sua identificação com esta. Cada lugar é belo pela riqueza de detalhes, de cultura, de ensinamento e de sentimentos, que nele estão presentes, pelo espaço vivido e pelos anseios e frustrações inseridas no ambiente. O lugar essencial para identificar o indivíduo.
A Quarta Colônia de Imigração Italiana, fundada em 1878, na região central do Rio Grande do Sul, é formada pelos os municípios de Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Ivorá, Nova Palma,
Pinhal Grande, Silveira Martins, São João do Polêsine (figura 1) todos na encosta do planalto (SPONCHIADO, 1996).

O surgimento da região está atrelado ao processo de colonização italiana no Rio Grande do Sul, onde o quarto núcleo de povoamento destes imigrantes consistiu-se na região central, afastando-se da Serra Gaúcha. Neste quarto núcleo os imigrantes que chegaram procuraram construir suas vidas, no trabalho, na religiosidade e na preservação da cultura italiana. Conforme Saquet (2002, p.35),
Neste lugar como em noutros os colonizadores desenvolveram práticas sociais que foram simultaneamente espaciais buscando condições para produzirem e garantirem seu(s) território(s) sua reprodução biológica e social, diariamente. Efetivaram atividades econômicas, políticas, e culturais, reproduzindo o ideário trazido da Itália e assim, geraram um modo de vida especifico daquele lugar (com traços comuns a outros lugares de colonização italiana).
Os habitantes desta região reproduzem a Itália e a vivência dos antepassados no local. Assim, com o passar dos tempos, os ensinamentos, a cultura e a memória dos imigrantes foram sendo repassados de geração em geração, conferindo um forte pertencimento dos indivíduos com o lugar. Segundo Manfio e Benaduce (2017, p. 260), “Na Quarta Colônia, sobretudo, os elementos culturais são eternizados e vinculados ao cotidiano, seja pela sua materialidade e imaterialidade cultural, articulados pelo sentimento de pertencimento e identidade cultural”.
A população da Quarta Colônia de Imigração Italiana apresenta um forte patriotismo e afetividade com o lugar, apresentam orgulho em ressaltar suas origens advindas na região de colonização italiana, buscando o reconhecimento e valorização do lugar, que expressa toda uma cultura. Para aqueles moradores que ali viviam e se deslocaram para outros lugares, seus vínculos afetivos permanecem vivos nas expressões e lembranças. Comenta Brum Neto e Bezzi (2008, p. 145),
Essa forma de expressividade cultural denota uma devoção, considerada como “idolatria” [...], consiste em uma forma de cultuar as tradições e expressar o sentimento de identificação pela sua terra e pela cultura, ou seja, desenvolve-se um sentimento topofílico.
Quanto aos indivíduos locais, estes cultivam o jeito de falar típico do descendente italiano e passam aos seus filhos gêneros do dialeto italiano. Além do dialeto italiano, outros elementos são preservados no lugar para demostrar esta identidade e ligação afetiva, tais quais: a gastronomia, a religiosidade, as memórias, as festividades e o modo de vida.
Na gastronomia italiana é visível na mesa diária e nas festividades locais, a polenta, massa, sopa de agnoline, risoto, da fortaia (tipo de omelete de ovos), vinho, salame e queijo, são hábitos alimentares típicos da cultura italiana e que estão vinculadas ao lugar e a cultura. Ainda, existem festivais que retratam este pertencer dos indivíduos com o lugar, entre eles a Semana Cultural Italiana de Vale Vêneto, São João do Polêsine.
A religiosidade também é presença de cultura e identidade materializadas no lugar. Assim, são vários capitéis e igrejas (figura 2), que compõem a beleza da região e fazem parte das atrações turísticas e da imagem formada do lugar vivido. Como salienta Piccin e Bezzi (2009), na Quarta Colônia de Imigração Italiana a relação da imigração italiana com a religiosidade é expressa através da construção e conservação dos símbolos religiosos, como: igrejas e capitéis. Estes espaços religiosos são lugares de cultura e do sagrado, onde acontecem a reunião e o convívio dos habitantes (figura 2).

Para além destes elementos, a preservação de elementos antigos está arquivada em museus da região e também no Centro de Pesquisas Genealógica de Nova Palma (CPG), lugares de história e memória que guardam os arquivos, dados e imagens da história italiana.
Outros elementos também são retratos da cultura italiana e da topofilia dos descendentes de italianos ao lugar, como a preservação de casas antigas, a cultura da uva, os modos de vidas, a imagem do nono e nona (vó e vô) que são elos de identidade. Estes elementos juntamente com o espaço compõem lugares de cultura e vida, dos quais a cotidianidade acontece (figura 3). As casas antigas, da época da colonização e da formação urbana das pequenas cidades da Quarta Colônia, são espaços de moradia e também de cultura, onde os indivíduos mantêm vivos os laços com seus antepassados, com a história e onde também acontece a cotidianidade, marcada por ritmos intensos de trabalho, lazer e morada (figura 4).


A Quarta Colônia desenvolve-se hoje atividades turísticas vinculadas à imagem dos lugares, mostrando o processo imigratório dos europeus no Rio Grande do Sul que é marca da formação do estado gaúcho. Sua cultura estabelece um atrativo e incentiva a comercialização e o consumo cultural, utilizando a valorização estética da paisagem natural aliada à arquitetônica e patrimônio cultural/histórico.
Por fim, o lugar vivido representa as afetividades e emoções sobre a cultura e a vivência da tradição italiana na Quarta Colônia de Imigração Italiana. O cotidiano e a cultura são elementos que produzem o lugar e juntamente com as relações de vida, que acontecem e se entrelaçam com as histórias e memórias, criam as condições para a verdadeira idolatria ao lugar no contexto da Quarta Colônia.
Neste trabalho buscou-se discutir sobre o lugar vivido, lugar de sentimentos e experiências, ponto de estudo da Geografia Humanística. Para isto, foi necessário contextualizar o conceito de
lugar na evolução do pensamento geográfico, relacionando com outros conceitos como cultura, identidade e cotidiano.
Assim, entender o porquê o lugar que é tão contemplado e exerce segurança aos indivíduos é uma tarefa importante para os geógrafos, e também para os educadores, pois o lugar é referência do homem e também do aluno.
A respeito do lugar, este é uma parte do espaço geográfico, onde os indivíduos vivem e interagem. Ele é percebido e concebido pelo homem através dos sentidos, e das emoções e sentimentos, podendo este ser um lugar real ou um ponto imaginário. Ainda, o lugar dá sentido à vida das pessoas, sendo entendido também pelas afetividades, relações e cotidianos.
Nesta discussão, na Quarta Colônia de Imigração Italiana, o lugar é visto por esta imagem, espaço vivido e experienciado. Para os moradores dos lugares desta região, o lugar é referência de vida e da bibliografia de um povo, apegado as suas tradições, onde se exerce uma topofilia do indivíduo com os objetos e com o próprio ambiente local.
Nestes lugares, a cultura italiana é uma bagagem presente no lugar e na idealização do vivido. O lugar se faz presente em todas as manifestações diárias e na percepção do grupo de descendentes de italianos. Portanto, ao viver o cotidiano, perceber sua ligação com o espaço, através da identidade, da memória e da afetividade tem-se a construção do lugar.





