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BIÔNICA APLICADA À MODELAGEM VOLTADA À SUSTENTABILIDADE: CONTRIBUIÇÕES DO MODELO MODTHINK
Revista de Ensino em Artes, Moda e Design, vol.. 4, núm. 2, 2020
Universidade do Estado de Santa Catarina

Revista de Ensino em Artes, Moda e Design
Universidade do Estado de Santa Catarina, Brasil
ISSN: 2594-4630
Periodicidade: Bimestral
vol. 4, núm. 2, 2020

Resumo: O presente estudo apresenta o resultado da aplicação das fases metodológicas do modelo MODThink de Emídio (2018), no contexto de um projeto acadêmico da pri-meira série do curso de Design de Moda da Universidade Estadual de Londrina. De-monstra como, por intermédio da aplicação da ferramenta de criatividade biônica, foi possível incluir o conceito do projeto na modelagem do produto, além de contribuir para aspectos de produção voltados à sustentabilidade. Contribui-se para estabele-cer uma linguagem comum entre a área de design e a de modelagem, a partir do uso de ferramentas de design e técnicas de criatividade, como recursos cognitivos para potencializar as estruturas mentais dos alunos na construção do conhecimento em modelagem.

Palavras-chave: Modelagem do vestuário, Biônica, Modelo MODThink.

Abstract: This study presents the result of the application of the methodological phases of the MODThink model by Emídio (2018), in the context of an academic project of the first series of the Fashion Design course at the State University of Londrina. It demons-trates how, through the application of the bionic creativity tool, it was possible to in-clude the concept of the project in product modeling, in addition to contributing to as-pects of production aimed at sustainability. It helps to establish a common language between the design and modeling area, using design tools and creativity techniques as cognitive resources to enhance students’ mental structures in the construction of modeling knowledge.

Keywords: Clothing modeling, Bionics, MODThink model.

Résumé: Cette étude présente le résultat de l’application des phases méthodologiques du modèle MODThink par Emídio (2018), dans le cadre d’un projet académique de la première série du cours de design de mode à l’Université d’État de Londrina. Il montre comment, grâce à l’application de l’outil de créativité bionique, il a été possible d’in-clure le concept du projet dans la modélisation des produits, en plus de contribuer aux aspects de la production visant la durabilité. Il aide à établir un langage commun entre le domaine de la conception et de la modélisation, en utilisant des outils de conception et des techniques de créativité comme ressources cognitives pour amé-liorer les structures mentales des élèves dans la construction des connaissances de modélisation.

Mots clés: Modélisation de vêtements, Bionique, MODThink modèle.

1. INTRODUÇÃO

O ensino-aprendizagem de modelagem do vestuário, se integrado a processos projetuais de design de moda, não deve se restringir ao uso de instruções de constru-ção de moldes. Implica, necessariamente, trabalhar com um processo de pesquisa que instigue a exploração de ideias e inovações na modelagem do vestuário.

Diante desse contexto Emídio (2018) desenvolveu um modelo voltado ao ensi-no-aprendizagem de modelagem sob a ótica do design, o qual intitulou MODThink. A autora mesclou três grandes áreas do saber: a da modelagem, da educação e do design.

Pela união destes três campos, o ensino e a aprendizagem da modelagem dei-xam de ser inertes e exclusivamente instrutivos passando a permitir que o aluno de-senvolva um novo modo de pensar a modelagem e não apenas de reproduzi-la. Para a autora, o ensino de modelagem enquanto atividade vinculada a processos proje-tuais de caráter criativo, deve equacionar sistematicamente o raciocínio do design como uma modalidade de pensamento que inclui a lógica, formação de conceitos e solução de problemas, amparado por métodos, técnicas e ferramentas de design e de criatividade.

Assim, o objetivo deste trabalho é apresentar uma síntese do processo de de-senvolvimento e o resultado de um estudo de caso em que o modelo MODThink foi utilizado em um projeto acadêmico universitário. Ao analisar e levantar os principais aspectos envolvidos na delimitação do problema de modelagem, cujo enfoque es-tava em aplicar o conceito do produto na mesma, identificou-se a possibilidade de utilizar uma ferramenta de criatividade – a biônica – visando criar relação análoga das propriedades do elemento natural com as funções do produto.

O pensamento analógico revela-se apropriado para a conduta de ensino-apren-dizagem em modelagem, por contribuir para a transferência de princípios formais; funcionais; ergonômicos e produtivos e para formular hipóteses em diferentes do-mínios. Favorece a exploração do pensamento lateral do aluno, a comparação de diferentes formas de resolver problemas de modelagem e potencializa a ampliação do seu repertório de conhecimento desta área.

Segundo Baxter (2011) é uma forma de raciocínio em que as propriedades de um objeto são transferidas para um outro diferente, mas com certas propriedades em comum. Nesse contexto, foi possível um olhar para as contribuições do uso da ferramenta de criatividade biônica como técnica criativa com grande potencial de aplicação nos estudos de modelagem. Esta serviu como o eixo a partir do qual se desenvolveu todas as atividades conforme as fases do modelo MODThink: de análise, investigativa, exploratória de verificação e execução da modelagem, considerando o atendimento dos requisitos do projeto e a execução da modelagem que se deu de forma modular, incluindo a graduação e adequação para vestibilidade do produto.

Viu-se no contexto do projeto em questão, a oportunidade e os desafios de se trabalhar a biônica aplicada à modelagem voltada à sustentabilidade, tanto na di-mensão técnico-criativa das fases iniciais do referido projeto, quanto na dimensão técnico-criativa que se direciona aos aspectos produtivos do produto em questão.

Assim, a sustentabilidade foi abordada no contexto deste estudo a partir dos

conceitos apresentados por Birkeland (2002), para o qual os designers sao potenciais agentes de mudanca, uma vez que as suas decisoes podem impedir, alertar, orientar ou influenciar as decisoes futuras.

Os resultados mostram o potencial da biônica aplicada à modelagem voltada à sustentabilidade, e as contribuições metodológicas das fases do modelo MODThink para potencializar as estruturas mentais dos alunos na construção do conhecimento em modelagem. Apoia-se em ferramentas de design e técnicas de criatividade como recursos cognitivos para auxiliar nas atividades realizadas em cada fase.

Além disso, considerando que a maioria das ferramentas propostas no referido modelo já são utilizadas por alunos de design de moda para projetar, contribui-se para estabelecer uma linguagem comum entre a área de design e a de modelagem, um modo de pensar e resolver problema de forma análoga em ambas as áreas, fato este que possivelmente ainda não ocorre no ensino tradicional de modelagem dos cursos de design de moda.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. O modelo MODThink no contexto do projeto acadêmico em questão

O modelo MODThink é composto por 5 fases, sendo que em cada uma delas propõe-se reflexões e análises a serem desenvolvidas, bem como são apresentadas sugestões de ferramentas de design e técnicas de criatividade aplicáveis a cada etapa, como ferramentas cognitivas para o ensino-aprendizagem de modelagem. O mode-lo parte de uma situação-problema/ questão focal de modelagem e, posteriormente, envolve análise do problema, investigação, exploração, verificação e execução, con-forme infográfico da Figura 1.


Figura 1: O modelo MODThink
Figura 1: O modelo MODThink
Fonte: Emídio (2018)

Ao aplicar o referido modelo, o aprendiz o faz sem se afastar totalmente da técnica e de processos cognitivos conhecidos, mas vai além disso, pois concilia estes aspectos com a criatividade/design, isto é, toma por base o modus operandi de se aprender modelagem, mas o processa/desenvolve com o modo de pensar próprio e indispensável à sua futura profissão, a qual prevê flexibilidade, inovação, pensar “fora de padrões”, bem como encontrar respostas para os desafios sociais, culturais, eco-nômicos, socioambientais, entre outros. Para Emídio:

Trata-se de um novo modo de pensar o ensino da modelagem, propondo uma renovação na interpretação das disciplinas dessa área que passa a ser pensada integrada à contextos projetuais de design de moda. (EMIDIO, 2018, p. 146)

Ressalta-se que no modelo MODThink não se prevê o uso completo e rígido de todas as fases obrigatoriamente, mas, pelo contrário, e sobretudo para manter co-erência com o objetivo a que se propõe, permite-se que haja utilização parcial das fases, bem como o intercâmbio de ferramentas entre elas.

Além disso, possibilita-se a inclusão de outras ferramentas que sejam aplicá-veis a distintos contextos, tanto de ensino quanto de aprendizagem. Esta flexibilidade metodológica permitiu adotar a ferramenta biônica, não prevista no rol exemplifica-tivo de ferramentas das fases 1 e 2 do referido modelo, no contexto do projeto aca-dêmico em questão.

No curso de Design de Moda da Universidade Estadual de Londrina, é proposto aos alunos a realização de projetos que integram todas as disciplinas do ano letivo e que compõe o sistema de avaliação do discente. No segundo semestre do ano de 2018, a aluna autora do projeto apresentado no âmbito deste estudo de caso, por ser colaboradora do projeto de pesquisa onde inicialmente fora apresentado o modelo MODThink, viu a oportunidade de aplicação do referido modelo no contexto do seu projeto integrador.

Importante esclarecer que o projeto acadêmico impôs diversas restrições, pelo qual não foi possível abranger ao máximo o potencial do referido modelo, especial-mente na problematização geral do projeto e na primeira etapa de estabelecimento do conceito, pois a base para projetar deveria considerar a vida, família e inspirações do próprio estudante. Ainda, houve restrições quanto ao uso de materiais, sendo per-mitido apenas o uso de tecido plano de algodão (branco ou cru) e nenhum aviamento já existente, sendo permitido apenas criar aviamentos.

2.2. Situação-problema de modelagem: questão focal

Assim como no processo de design, no modelo MODThink parte-se da contex-tualização e síntese de uma situaço-problema. Busca-se trabalhar com

a investigação e exploração da modelagem a partir de uma interação entre flu-xos de informações tecnico-criativas e tecnico-produtivas.

A problematização em modelagem é entendida no contexto do referido modelo como potencialmente significativa para o ensino-aprendizagem de modelagem do

vestuário. Trata-se de uma perspectiva metodológica de resolução de problemas, amplamente utilizada no design, a qual é concebida como uma atividade construtora de saberes significativos. Para Pozo (1998), ensinar por meio de resolução de proble-mas é dotar os alunos da capacidade de aprender a aprender, no sentido de habituá--los a encontrar por si só, respostas às perguntas que os inquietam ou que precisam responder, ao invés de esperar uma resposta já elaborada por outros, por livros ou pelo próprio professor.

Ao utilizar do recurso “questão focal” para descrever uma situação-problema, poderá direcioná-la tanto para a dimensão técnico-criativa, quanto para a técnico--produtiva ou ainda abranger ambas as dimensões simultaneamente. Quanto mais elaborada for a questão focal, mais potencialmente eficaz serão os resultados obti-dos, uma vez que terá sido mais profundo o mapeamento de busca na fase de inves-tigação em modelagem, bem como a exploração dos conceitos estudados.

Emídio (2018) salienta que apesar dos estudos de modelagem envolverem pen-sar em fatores tecnológicos, ergonômicos, formais, funcionais, estéticos e produ-tivos, entre outros, os métodos tradicionais de ensino de modelagem apresentam uma sequencia metodológica centrada no saber-fazer, que não requer do aluno uma problematização que o leve a pensar sobre tais elementos. Contudo, ha um enten-dimento de que e exatamente no desenvolvimento da habilidade de problematizar situações, que reside uma contribuição para estimular as condutas investigativas, ex-ploratórias, verificadoras e executoras em modelagem, e por isso optou-se por este viés metodológico para a área de modelagem.

A cada nova questão focal/problema de modelagem há a possibilidade de causar no aluno possibilidades de realizar outras conexões que lhe trará novos aprendiza-dos. Ou seja, cada nova forma de abordar uma determinada questão de modelagem, podem mudar totalmente a maneira de se interpretar um determinado conteúdo, que poderá ser mesclado com muitas outras áreas do conhecimento diretamente relacionadas ao design de moda.

Daí a importância de abordar sobre as características próprias da forma de pen-sar no design, voltada à resolução de problemas projetuais, envolvendo, recursos heurísticos, análogos, estilos de pensamentos criativo e lateral e processos mentais diversos aplicados aos estudos de modelagem conforme abordado no contexto me-todológico do modelo MODThink.

No tocante ao trabalho em questão, o conceito foi estabelecido e trabalhado a partir da seguinte questão focal: como desenvolver um produto vestível que explore um conceito relacionado com a árvore (planta), as mudanças das estações e adap-tações necessárias durante seu ciclo de vida e que seja expresso na modelagem? Tratando-se, portanto, de um projeto intimamente relacionado com a natureza e o meio ambiente.

A questão focal deu suporte de direcionamento para as atividades realizadas nas etapas subsequentes, contribuiu para reunir as informações necessárias para direcio-nar as atividades na tentativa de criar respostas ao problema, conforme descrito em cada fase do modelo MODThink, a seguir.

2.3. Análise do problema e investigação em modelagem

Do ponto de vista cognitivo, considera-se que nessas duas fases do referido modelo os organizadores prévios devem ser acionados pelos alunos, tendo um ca-ráter de aquecimento para a sequência de atividade a ser desenvolvida, na qual, utili-zando de tais mecanismos, o aluno irá estabelecer relações entre proposições técni-cas, criativas e produtivas.

Nesta etapa, o principal objetivo foi encontrar uma forma de incluir o conceito na modelagem (questão focal). Assim, conforme objetivos das referidas fases, era imprescindível “levantar, interpretar, questionar e registrar os aspectos envolvidos na situação problema de modelagem proposta” (EMÍDIO, 2018, p. 156-166), bem como buscar embasamento teórico para justificar o resultado.

Considerando a flexibilidade do modelo MODThink e a participação da aluna, coautora deste artigo, no projeto de pesquisa que visava estudar as ferramentas po-tencializadoras do ensino-aprendizagem de modelagem, ela pôde estabelecer rela-ções entre as ferramentas propostas no MODThink e visualizar a potencialidade da ferramenta biônica para o contexto do seu projeto.

Segundo Pazmino (2015), a biônica é uma técnica criativa que estuda os siste-mas naturais dos aspectos relativos à forma, função e materiais, com o objetivo de desenvolver formas, funções e materiais análogos.

(...) A biônica consiste em analisar sistemas naturais, seus princípios e suas características funcionais com o objetivo de identificar princípios de solução, que devidamente adaptados, possam vir a contribuir para solucionar proble-mas de projeto. Essas adaptações permitem criar formas análogas ou funções análogas. (PAZMINO, 2015, p. 194).

Para Candido et al.(2006), a bionica é uma ciencia multidisciplinar que pesquisa nos sistemas naturais, principios e/ou propriedades (estruturas, processos, funçes, organizaçes e relaçes) e seus mecanismos com objetivo de aplica-los na criaço de novos produtos ou para solucionar problemas tecnicos existentes nos produtos ja concebidos.

Desta forma, a partir do conceito apresentado na contextualização da questão focal, buscou-se encontrar por meio da utilização da ferramenta biônica, um prin-cípio de funcionamento presente na árvore (espécie vegetal) para aplicar em uma vestimenta, oportunidade esta que conduziu ao conceito do fractal. A forma como uma árvore cresce, isto é, seu entroncamento e suas ramificações, obedecem a um padrão geométrico de bifurcação, também conhecido como fractal.

Segundo John Briggs e David Peat:

Os fractais, a geometria das formas irregulares e dos sistemas caóticos são uma maneira de se ver e refletir sobre o paradoxo de complexidade-simpli-cidade da natureza. Árvores, rios, nuvens e costas podem ser descritos pela geometria fractal. Os fractais matemáticos crescem através de um processo de reciclagem, com os resultados de um ciclo tornando-se os dados de en-trada do ciclo seguinte. Em um nível, a complexidade do fractal é uma curiosa ilusão, porque, embora os detalhes da figura possam ser infinitos, ela cresceu de modo simples. (BRIGGS; PEAT, 2000, p. 9)

A geometria da natureza ou o padrão fractal não é encontrado apenas no cres-cimento de árvores, mas em diversos outros organismos vivos, podendo apresentar formas fluídas ou estruturadas. Mas em qualquer situação sempre reproduz, em es-cala menor, a forma concebida anteriormente.

Gleick afirma:

Acima de tudo, fractal significa auto-semelhante. A auto-semelhança é a si-metria através das escalas. Significa recorrência, um padrão dentro do outro padrão”. Figuras auto-semelhantes são figuras que mesmo ampliando em grande escala não perdem sua forma de visualização. (GLEICK, 1989, p. 97).

Numa árvore o padrão fractal se observa pela bifurcação que ocorre no seu crescimento, repetidamente, desde o entroncamento, ramificação até a estrutura das folhas (Figura 2).


Figura 2: O fractal na árvore
Figura 2: O fractal na árvore
Fonte: Elaborado por Karoline Bertolino (2018)

A árvore consegue ocupar o mínimo de espaço possível e ao mesmo tempo ampliar ao máximo sua copa, para aumentar sua capacidade de absorção de CO2. Segundo Romanha (2009), a disposição fractal da copa das árvores potencializa e maximiza a exposição de uma quantidade enorme de folhas ao sol, permitindo maior eficiência na captação de luz. A disposição fractal das árvores adultas também per-mite que elas lancem novos ramos durante todo o ano sem que o aumento do pe-rímetro da copa seja perceptível. Então, uma estrutura fractal fornece o máximo de eficiência com o mínimo de ocupação de espaço.

O fractal é uma forma estrutural e padronizada da natureza, por meio da qual consegue organizar, maximizar, reciclar, potencializar e economizar. É simples, mas com grande potencial. No presente estudo, possibilitou-se demonstrar o conceito e, ainda, resolver questões relacionadas com a sustentabilidade.

Assim, a estrutura fractal foi escolhida como forma de aplicação do conceito da árvore na modelagem do produto, a partir de uma análise do funcionamento da geometria fractal e de como ela é utilizada para solucionar problemas de eficiência e economia da natureza, resultado este obtido com o uso da ferramenta biônica. Por fim, chegou-se à frase-conceito “a vivificante geometria de tudo”.

No desenvolvimento do projeto identificou-se a necessidade de optar por uma forma geométrica que expressasse o conceito fractal, desde sua concepção de forma até seu funcionamento (economia e eficiência), contemplando ao máximo possível a busca pela sustentabilidade. A forma geométrica, considerada com maior capacida-de de demonstrar o desejado, foi o triângulo, pois:

a) tem o menor número de lados (economizando processos e aumentando en-caixes por contorno);

b) a bifurcação da árvore se assemelha a forma triangular;

c) é possível trabalhar os volumes do corpo sem perder a forma triangular ori-ginal (permanece em evidência), além de modelar o produto sem excesso de folgas no tecido;

d) permite o encaixe e aproveitamento do tecido no risco e corte (se aproxi-mando do minimal waste).

Após a seleção da forma triangular para demonstrar o conceito, a próxima etapa exigiu a exploração em modelagem, isto é, a geração de ideias capazes de aplicar o conteúdo de pesquisa para solução do problema de modelagem proposto.

2.4. Exploração e verificação em modelagem

No contexto do modelo MODThink, esta prática relaciona-se à maturação dos elementos do problema de modelagem investigados. Por isto, as atividades realiza-das nesta fase visam exercitar o pensamento lateral na geração ou exploração de ideias conceituais, ou materializá-las de forma inovadora considerando os requisitos do projeto. Envolve trabalhar com uma série de processos mentais, podendo utilizar de meios exploratórios bidimensionais, tridimensionais ou computadorizados, sendo que a interpretação das informações investigadas será fundamental, especialmente para os novos conteúdos, com os que o aluno já tem conhecimento. (EMÍDIO, 2018)

Nesta fase, a principal atividade realizada no âmbito do projeto acadêmico foi a geração de alternativas, subsidiada pela ferramenta requisitos de projeto (Quadro 1), e pelos resultados dos paineis de conceito e de expressão do produto.

Quadro 1: Requisitos do projeto acadêmico da aluna

REQUISITOS: OBJETIVOS: CLASSIFICAÇÃO: Tecido 100% algodão Necessário Não usar aviamentos Necessário Exigências do pro- Tingimentos e beneficiamentos em geral jeto integrador serem produzidos/adaptados pelos alu- Necessário nos Forma geométrica triangular Necessário Incluir forma orgânica Necessário Peça com recorte aparente Necessário Módulo que permite alteração Desejável Estética agradável/ Demonstrar conceito na modelagem: visual atrativo Necessário árvore, fractal Características artesanais Necessário Textura/cor não vibrante Necessário Aparência casual Desejável Praticidade Peça única Desejável Funcionalidade/ Alguns módulos de encaixe que alterem Desejável ergonomia a funcionalidade Baixo custo Redução de custos na produção Desejável Importar tabla

Fonte: Elaborado por Karoline Bertolino (2018)

Os painéis de conceito e expressão do produto (Figuras 3 e 4), que foram de-senvolvidos na disciplina de Metodologia Visual, com assessoramento da docente da disciplina1, subsidiaram outros aspectos relacionados a geração de alternativas do produto, como a cor, a assimetria, a presença de recorte, a forma estruturada, a forma orgânica (desenho da bifurcação dos galhos), a textura (bordado e artesanato), a ausência de acabamento (naturalidade do tecido) e a costura manual (processo ar-tesanal – considerando o público alvo).

O Painel de Conceito (Figura 3) foi desenvolvido para representar o conceito de Fractal presente especificamente nas árvores. Inserido ao conceito optou-se por trabalhar aspectos que envolvam a geometria, a assimetria e o fluir orgânico presente nos fractais das árvores. A imagem demonstra, simultaneamente, um estado caótico mas, também, esquematizado e rígido.


Figura 3: Painel de conceito
Figura 3: Painel de conceito
Fonte: Página do site br.pinterest.com

Neste sentido, o Painel de Conceito busca expressar que o produto deve ser desenvolvido pensando no sincronismo entre formas geométricas e características orgânicas. A partir da imagem, o conceito deve ser traduzido como algo casual, na-tural, com textura, lúdico, com cores não vibrantes e que reflete as características do publico alvo.

Já Painel de Expressão do Produto (Figura 4) é voltado para expressar caracte-rísticas formais do produto. Esse buscou sintetizar a presença de formas triangulares, de recortes, de textura realizada com artesanato trazido pelo bordado, formas orgâ-nicas, presença de transparência, modularidade e assimetria.


Figura 4: Painel de expressão do produto
Figura 4: Painel de expressão do produto
Fonte: Compilação elaborada por Karoline Bertolino(2018)3

Foi desenvolvido também, o Painel de Público Alvo (Figura 5) para demonstrar características de comportamento e preferências do público alvo. O conjunto de

imagens foi compilado da internet com a intenção de representar maturidade de ideais, busca por vida no campo e/ou em contato com a natureza, perfeccionismo, estima por artesanato, personalidade eclética com adaptabilidade e ludicidade (in-cluindo aspectos fantasiosos e infantis).


Figura 5: Painel de público alvo
Figura 5: Painel de público alvo
Fonte: Compilação elaborada por Karoline Bertolino(2018)

As alternativas geradas totalizaram 48 e foram geradas a partir de três moldes (Figura 6), todos em forma de triângulos equiláteros classificados como grande, mé-dio e pequeno, com as medidas de 20 cm, 10 cm e 5 cm, respectivamente, conside-rando a escala reduzida de 1:2.


Figura 6: Módulos da modelagem
Figura 6: Módulos da modelagem
Fonte: Elaborado por Karoline Bertolino (2018)

Para a geração de alternativas adotou-se ainda o conceito sistêmico de susten-tabilidade apresentado por Amador (2007), um conceito relacionado com a continui-dade dos aspectos economicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana. Sendo assim, procurou-se por processos menos impactantes, com valorização da

mão de obra artesanal (sustentabilidade social), encaixes dos referidos moldes em busca do minimal waste e beneficiamentos que não prejudicassem o reaproveita-mento do tecido e linhas no upcycling.

Observa-se que a geração de alternativas realizada (Figura 7) sob tais perspec-tivas, demandou contemplar os conhecimentos de modelagem tanto da dimensão técnico-criativa como técnico-produtiva, com assessoramento das docentes da dis-ciplina de modelagem plana e tridimensional5. Os estudos exploratórios foram reali-zados em manequim tamanho 40 e em escala reduzida de 1:2.


Figura 7: Processo de geração de alternativas da aluna
Figura 7: Processo de geração de alternativas da aluna
Fonte: Elaborado por Karoline Bertolino (2018)

O encaixe, que protagonizou, em vias de produção, a busca pela sustentabilida-de, foi realizado considerando o padrão abaixo (Figura 8):


Figura 8: Encaixe
Figura 8: Encaixe
Fonte: Elaborado por Karoline Bertolino (2018)

Após a etapa de exploração em modelagem, conforme o modelo MODThink foi necessário estabelecer critérios para selecionar as melhores ideias e para finalizar o processo de criação do produto por meio da modelagem. Trata-se da fase denomi-nada verificação em modelagem.

Considerando que no processo de projeto a fase de seleção de ideias é um pro-cesso mais sistemático e rigoroso que a geração destas, Emídio (2018) transpõe o mesmo princípio metodológico para o contexto do referido modelo por meio desta fase, a qual relaciona-se com a análise crítica das soluções propostas, a partir dos estudos investigativos-exploratórios previamente realizados.

(...) Contudo, a viabilidade técnica-produtiva deve ser avaliada de forma sis-têmica, atendendo também aos requisitos estéticos-formais, ergonômicos e funcionais delimitados no contexto de cada estudo. Assim, os estudos já re-alizados nas fases anteriores e meios oferecidos ao aluno para avaliar, julgar e tomar decisões quanto a viabilidade construtiva e produtiva dos produtos, servirão ainda de suporte ao aprendizado significativo de modelagem. (EMÍ-DIO, 2018, p. 172).

Sendo assim, para cada alternativa gerada foi aplicada a ferramenta critérios de seleção considerando os requisitos de projeto para que, por fim, pudesse selecionar as 5 alternativas mais pontuadas e, dentre as finalistas, escolher uma com base na ferramenta matriz de decisão. Os critérios de seleção constam no Quadro 2.

Quadro 2: Critérios de seleção ASPECTOS CRITÉRIOS Boa continuidade Estética Semelhança dos elementos Pregnância do conceito Casual Assimetria Configuração Modularidade Harmonia de encaixe Linhas com continuidade Ergonomia Interação homem–produto Estrutura geométrica e orgânica Fabricação Aproveitamento do tecido Poucos processos

A análise realizada a partir da ferramenta matriz de decisão, permitiu selecio-nar a alternativa a ser confeccionada (Figura 9), com base nos seguintes resultados: maior pregnância do conceito, possibilidade de alteração das partes do produto, ser assimétrico e casual, cumprir com todas as regras estipuladas para o projeto integra-dor acadêmico, e possuir maior inovação.


Figura 9: Alternativa selecionada para produto
Figura 9: Alternativa selecionada para produto
Fonte: Elaborado por Karoline Bertolino (2018)

2.5. Execução em modelagem

O processo de construção da modelagem com base nas fases do modelo MO-DThink prevê o fazer embasado em estudos prévios e ancorado por atividades de análise, investigação, exploração e verificação realizadas nas fases anteriores deste modelo. Segue a lógica construtivista de uma atividade mental auto estruturante, a qual possibilita ao aluno estabelecer relações, ser autônomo no pensar, decidir e agir, constituindo-se como sujeito ativo de seu aprendizado.

Assim, o primeiro passo realizado nesta etapa foi a graduação dos moldes, in-serção de margens de costuras e de folga para vestibilidade. Uma vez que os moldes foram previamente executados no tamanho 40 e em escala 1:2, estes deveriam ser produzidos no manequim tamanho 50 e em escala natural, para que o produto pu-desse ser utilizado pela aluna na ocasião da apresentação e defesa do seu projeto acadêmico integrador.

Considerando que a modelagem era composta por três moldes em formato de triângulo de tamanhos diferentes, a graduação ocorreu da seguinte forma:

a) primeiramente verificou-se que o maior triângulo tinha exatamente a medida de ombro a ombro do manequim tamanho 40 em meia escala;

b) realizou-se o cálculo para tamanho real (2 vezes o tamanho das laterais do triângulo);

c) verificou-se a diferença de 3 cm na medida de ombro a ombro entre o mane-quim tamanho 40 e o tamanho 50;

d) calculou-se em porcentagem, o quanto de aumento deveria ser aplicado ao triângulo, utilizando da técnica de questionamento: se 40 cm corresponde a 100%, qual percentual equivale à 43 cm?

e) a resposta foi 107%, porcentagem esta aplicada aos 2 triângulos menores, para conseguir graduar todos na mesma proporção para o tamanho 50;

f) assim os triângulos grande, médio e pequeno, com as medidas em escala re-duzida, tamanho 40 que mediam 20 cm, 10 cm e 5 cm, respectivamente, passaram a medir 43 cm, 21,4 cm e 10,7 cm, quando graduados para manequim tamanho 50.

Após a graduação de cada triângulo, optou-se pelo acréscimo de 1 cm de folga de vestibilidade nas laterais de cada um, além do acréscimo de 1 cm para costura. Considerando estas margens, o produto foi confeccionado para o manequim tama-nho 50.

No processo de confecção, optou-se novamente pela busca da sustentabilida-de, sendo que cada triângulo da peça teve suas laterais costuradas à mão (Figura 10) com linha de bordado e poderia, portanto, ser destacado do restante da peça, uma vez que, cada corte/pedaço de linha costurou apenas uma lateral de um triângulo, repetindo-se o procedimento para todos os módulos triangulares. Na Figura 10 ob-serva-se a realização da costura manual unindo cada lateral dos triângulos de forma individualizada.


Figura 10: Costura manual dos módulos triangulares
Figura 10: Costura manual dos módulos triangulares
Fonte: Elaborado por Karoline Bertolino (2018)

Dessa forma, é possível trocar, alterar um módulo triangular sem prejudicar o restante da peça, seja porque o módulo substituído estragou ou para renovação do aspecto estético da peça. Tal procedimento oportuniza o prolongamento do ciclo de vida do produto e garante o descarte apenas de módulos necessários, diminuindo a geração de resíduos.

Além disso, para o beneficiamento do produto utilizou-se apenas da técnica de bordado livre, manual, favorecendo a mão de obra artesanal e permitindo inclusão social.

Ao mesmo passo, a técnica do bordado permite o desmanche do mesmo, com reaproveitamento das linhas para outros setores de artesanato ou reciclagem de ma-téria prima e, por fim, permite que o tecido suporte do bordado seja reciclado, visto que não teve seu fio tingindo ou alterado por qualquer outro tipo de beneficiamento, conforme se observa na Figura 11.


Figura 11: Registro do produto final no corpo da aluna
Figura 11: Registro do produto final no corpo da aluna
Fonte: Elaborado por Karoline Bertolino (2018)

3. CONCLUSÃO

O modelo MODThink oportunizou à discente um olhar totalmente novo para explorar a modelagem. Permitiu que a aluna reconhecesse não apenas o caráter téc-nico e produtivo da modelagem, enquanto um fazer instrucional, mas também seu aspecto criativo, inovador e abstrato, a partir do emprego das ferramentas de design e técnicas de criatividade.

O uso da biônica, como cerne do trabalho e base para o desenvolvimento do pensamento produtivo voltado à sustentabilidade, alcançou o objetivo de retratar o conceito de “árvore” no vestuário, abrangendo desde sua forma até seus aspectos subjetivos/psicológicos, pois aproximou o produto do público-alvo desde a aplica-ção do conceito no produto (modelagem e forma estética) até a sua forma de con-fecção.

Assim, verifica-se que o modelo apresentado por Emídio (2018), contribui me-todologicamente na formação de designers de moda que buscam por soluções ino-vadoras visando atender a necessidades humanas (físicas, psicológicas, socioam-bientais, socioculturais, entre outras), uma vez que procura utilizar os recursos de

modelagem disponíveis de forma inovadora.

Não há aqui, a pretensão de descartar o uso de novas tecnologias e saberes, mas, demonstrar que há a necessidade de mesclá-los com os já conhecidos e, princi-palmente, de potencializar o uso de conhecimentos e de técnicas que já fazem parte do dia-a-dia do designer de moda, mas que ainda não foram totalmente explorados, como por exemplo, o uso da biônica e demais ferramentas de design e técnicas cria-tivas, aplicadas à soluções de problema de modelagem.

Desta forma, espera-se contribuir para que trabalhos futuros desta área possam relacionar os elementos abordados no contexto deste artigo, na projetação de pro-dutos do vestuário6.

Referências

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