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Recepção: 27 Julho 2020
Aprovação: 16 Setembro 2020
Resumo: Este artigo relata o movimento de educação comunitária gratuita promovido pela Universidade Federal de Alagoas no projeto denominado JPMB (Jornada Pedagógica para Músicos de Banda), através do Grupo de Pesquisa Cemupe (Centro de Musicologia de Penedo), no estado de Alagoas. Esta ação de extensão, além de percorrer alguns municípios interioranos, carateriza-se hoje como um processo de aprendizado coletivo e social por meio do ensino musical. Faz uma abordagem de como a academia pode se mobilizar para debater sobre música e políticas públicas sobre a educação musical no interior de Alagoas, no Nordeste, e as parcerias com governos municipais, estaduais e federal juntamente com a iniciativa privada e instituições de ensino de outros países.
Palavras-chave: Educação musical comunitária, musicologia social, políticas públicas.
Abstract: This article reports the free community education movement promoted by the Federal University of Alagoas in the project called JPMB - Pedagogical conferences for fanfare musicians, through the Research Group CEMUPE - Penedo Musicology Center in the State of Alagoas. This extension program also covers some municipalities in the interior of the state, and it characterizes itself today as a process of collective and social learning through musical teaching. It approaches how the academy can mobilize to debate music and public policies on music education in the interior of Alagoas, in the northeast and partnerships with municipal, state and federal governments together with the private sector and educational institutions with others countries.
Keywords: Community music education, social musicology, public policies.
INTRODUÇÃO
Desde 2008, inserido nas ações de extensão do curso de Música na Universidade Federal de Alagoas, com a criação do Grupo de Pesquisa Metodologia e Concepção Social do Ensino Coletivo Instrumental, iniciou-se um levantamento pedagógico e musicológico das bandas filarmônicas de Alagoas. Em 2018 sua nomenclatura foi alterada para Cemupe (Centro de Musicologia de Penedo), mantendo a mesma característica de suas linhas de pesquisa de 2009. Instituem-se vários eventos decorrentes, que se seguem:
• Colóquio de Música Popular, evento que discutia a atuação dos músicos na cidade de Maceió e debates sobre a profissionalização desse cotidiano;
• Revista eletrônica Musifal, aberta não só aos professores, mas aos alunos de Graduação em Música do país;
• Continuidade dos Seminários de Pesquisa, a princípio criados pela professora Regina Cajazeira, como efetiva da Ufal;
• MAPT (Musicalização Através do Piano e do Teclado). Inicialmente, uma compi lação autorizada do projeto implementado na UFBA na década de 1990, no qual fiz toda a minha formação acadêmica, denominado Oficinas de Piano em Grupo, do qual fui monitor durante seis anos na minha Graduação em Música.2
Em 2009 outro movimento denominado JPMB (Jornada Pedagógica para Músicos de Banda) fora criado, cuja ideia inicialmente era implantar uma relação entre a academia, os alunos de bandas de música ou não e os egressos e ingressantes no curso de Licenciatura em Música da Ufal, bem como o público externo em geral.
Houve a busca sobre a reflexão da então recém-promulgada Lei nº 11.769, a ponte entre o ensino universitário – com suas grades pedagógicas, muitas vezes engessadas sob o ponto de vista do que se aplicava na prática instrumental, fora das esferas da graduação – e a comunidade musical. Desde o ano de 2009, foi verificado que o curso de Graduação em Música da Ufal, pelo diminuto quadro docente e estrutura física, no limite do seu funcionamento, talvez necessitasse de projetos que pudessem mostrar ao meio acadêmico e à sociedade alagoana sua função relevante, educacional e artística, além do fomento cognitivo ao desenvolvimento profissional no ato da docência escolar. Entre 2010 e 2013, durante a realização do doutorado pelo então coordenador do projeto entre Brasil e Portugal, obteve-se a oportunidade de desenvolver parceria institucional entre a Ufal e o Instituto Piaget, na cidade de Viseu. Assim, com a instauração do grupo de pesquisa da Ufal, por questões estratégicas, a JPMB alterou a nomenclatura para Cemupe (Centro de Musicologia de Penedo),3 registrada na base de dados do
Desde então, a internacionalização deste projeto, com vários desdobramentos de intercâmbios luso-brasileiros e a ampliação da JPMB, deslocando-se do câmpus Maceió para as cidades interioranas de Alagoas, era um dos pilares para se criar um festival de porte internacional, com os mesmos moldes de outros festivais similares do país, a exemplo do Civebra, no Distrito Federal; Campos do Jordão, em São Paulo; Eleazar de Carvalho, em Fortaleza, entre outros. Entretanto, nossa proposta era oferecer à comunidade um evento totalmente gratuito, sem taxas ou pré-avaliações.
A interiorização era um caminho sem retorno no sentido da propagação do que o grupo de pesquisa estava realizando dentro dos programas de pesquisa e extensão da Ufal, e isto só foi possível de fato a partir de 2014,4 quando os setores logísticos da reitoria compartilharam a ideia. No caso da JPMB, o movimento no referido ano teve a oportunidade de expandir-se para os polos da Ufal,5 por serem próximos de dezenas de cidades de Alagoas com diversificados grupos musicais e principalmente bandas de música que no Nordeste também são denominadas filarmônicas. Muitos desses integrantes de bandas faziam anualmente os testes de aptidão para o curso de Licenciatura em Música da Ufal – dezenas eram aprovados. Era necessário, portanto, levar a música e seu idioma acadêmico, não como imposição, evidentemente, mas como algo que somasse e despertasse o interesse deste público fora do eixo capital-região metropolitana maceioense sobre o nível superior e a profissionalização. Tendo isso em vista, realizamos oficinas instrumentais que alcançassem um número maior de participantes, já que o perfil da JPMB se baseava na democratização do ensino gratuito na perspectiva de educação de extensão majoritariamente comunitária.
A responsabilidade que nos convocou para um projeto ou programa, dentro dessas diretrizes das linhas do grupo, nos fez acreditar numa musicologia social, engajada nos princípios de uma educação libertária “freireana”, que não estivesse apenas vinculada à música em seu papel específico e acadêmico, mas dialogando com seus pares, nas áreas das humanidades. Locke (2015), no texto “Musicology and/as social concern: imagining the relevant musicologist”, já abordava tal diálogo com outras áreas, considerando o papel do pesquisador em música e sua prática social.
Eu diria: sim. Músicos (incluindo pesquisadores musicais), como quaisquer outros indivíduos, precisam aprender a assumir um papel ativo no desenvolvimento de uma sociedade mais justa, ao invés de cuidar, sempre silenciosamente, do seu ou do nosso jardim. Pode ser encorajador, ao considerarmos este problema de enveredar para além da música, com a finalidade de efetuar mudanças no mundo como um todo, lembrar que não somos os primeiros da área de música a fazer isto. (LOCKE, 2015, p.44).
Autores como Kerman (1985), Kramer (1992) e Rosand (1995) defendem a linha humanística e plural na direção da musicologia social. Tal pensamento fez com que nos aproximássemos de alguns conceitos referentes à New Musicology no contexto das análises concomitantes aos pares nas ciências humanas deste enfoque comunitário e corroborando no estudo musicológico possível, inserido no diálogo da educação, história e sociologia, por exemplo. Dessa forma, possibilitou a afirmação no contexto comunidade e música nos dados realizados pelo Cemupe em alusão à JPMB. No Brasil, autores como Neto e Tramontina (2001, p.7) esclarecem:
A partir, sobretudo, da década de 1980, alguns musicólogos ingleses e norteamericanos, propondo um entendimento hermenêutico da música e da própria disciplina, começaram a atentar para as falácias e restrições decorrentes das premissas historiográficas e de seu papel canonizador, bem como do afunilamento do termo musicologia. A esta tendência crítica, deu-se o nome de New Musicology. Buscando um conceito multidisciplinar que considerasse a música como, primeiramente, agente de representação cultural capaz de tornar manifesto os mecanismos de crise e de mudança nos sistema culturais e ideológicos e, também, como produtora de significados que vão além do puramente musical, a New Musicology questionou a prática tradicional da disciplina e sua herança epistemológica iluminista e positivista.
Ratificando a recorrência para as áreas afins, como apoio referencial teórico nos textos produzidos e apresentados nos congressos e ações da JPMB, esta musicologia social se une à educação musical, por entender nestas ações a crescente participação de núcleos sociomusicais que já praticam um sistema educacional musical.
Em relação às bandas, a JPMB, ainda que encontrasse resistência no diálogo das metodologias propostas e oferecidas devido ao rígido e incrédulo pensamento de muitas direções administrativas e pedagógicas destes grupos, em termos quantitativos atingia praticamente boa parte desta busca pelos participantes do intercâmbio cognitivo musical e os debates da pesquisa propostos pela JPMB.
A estrutura filosófica das ações na JPMB, em relação à oportunização coletiva e citando Gadotti (2012) sobre a educação comunitária, nos alerta sobre o viés da educação popular, que tem por filosofia não esconder a relação política em seu caráter social.
É o que acontece com a educação popular, a educação social e a educação comunitária. Elas se situam no mesmo campo de significação pedagógica, o campo democrático e popular. Contudo, apesar desta afinidade ideológica, como são educações históricas, elas também podem ter conotações diferentes. E isso não se constituiu em deficiência, mas em riqueza. Um mosaico de experiências, teorias e práticas compõem esse campo. (GADOTTI, 2012, p.5).
Assim, a universidade pública e a parceria dos agentes, com apoio também da iniciativa privada (com os representantes do mercado da música do setor industrial de instrumentos musicais), foram as metas da articulação da JPMB em sua partícula do ideal de uma educação musical ampla deste conceito, cumprindo seu papel socioeducacional e o exercício da cidadania na prática.
Pensamos, assim, tratar o movimento na relação da realidade interiorana, muitas vezes, no caso das filarmônicas e partícipes de movimentos musicais diversos nestes municípios, sem o acesso à ampliação pedagógica e formação profissional in loco, oportunizando, sem descartar toda a experiência dos mestres locais, a possibilidade do diálogo. Não queremos afirmar, portanto, que se tratava de uma invasão ao meio estabelecido nestas sociedades musicais, mas do acréscimo de um universo real profissional que estes alunos músicos pudessem alcançar: o respeito à tradição e, principalmente, à “identidade do indivíduo”, como afirmava Paulo Freire sobre a questão da liberdade como agente da educação.
[…] as sociedades a que se nega o diálogo-comunicação e, em seu lugar, se lhes oferecem “comunicados”, resultantes de compulsão ou “doação”, se fazem preponderante “mudas”. O mutismo não é propriamente inexistência de resposta. É resposta a que falta teor marcadamente crítico. Não há realmente, como se possa pensar em dialogação com a estrutura do grande domínio, com o tipo de economia que o caracterizava, marcadamente autárquico. A dialogação implica uma mentalidade que não floresce em áreas fechadas, autarquizadas. Estas, pelo contrário, constituem-se num clima ideal para o antidiálogo. Para a verticalização das imposições. (FREIRE, 1980, p.69).
A universidade no Brasil, provedora da educação pública, sendo a extensão e importante esfera da formação das pessoas, nos contextos constitucionais das políticas públicas para educação, se atrela na sua extensão ao acesso a camadas ainda não concludentes dos níveis de ensino anterior (educação básica fundamental e ensino médio). Vimos este projeto como uma abertura ou “cartão de visita” do que o ensino superior poderá contribuir na especificidade da área nos tempos posteriores destes agentes. Assim como o público da comunidade, pensamos que:
As classes populares reivindicam escola pública, mas não querem apenas a extensão da escola burocrática e elitista do Estado. Querem que essa escola acolha também os seus saberes e sonhos e seja radicalmente democrática. Querem discutir a função social dessa escola, colocando em questão os seus conteúdos e sua gestão. Esse novo movimento não nega o papel do Estado como o principal articulador das políticas sociais. (GADOTTI, 2012, p.5).
Portanto um dos fatores desta interiorização se baseou no diagnóstico e no perfil do público-alvo, além de questões didáticas da inclusão da extensão nos municípios, debatidas nos foruns anteriores e o diálogo entre os grupos filarmônicos; se a distância física das mesmas comprometia o acesso ao ensino qualificado; como este diálogo ocorria; o acesso a aulas e palestras por docentes de renome nacional e internacional dialogando de fato com a academia, e se tais motivos citados era possível tal aç
O MODELO, A METODOLOGIA E OS RESULTADOS
Para uma melhor compreensão do público-alvo, o então grupo de pesquisa Metodologia e Concepção Social do Ensino Coletivo Instrumental se baseou em questões do movimento do ensino musical nas cidades interioranas; no acesso dos alunos de música às plataformas digitais, ainda sobre performance instrumental; no contato dos mesmos com oficinas instrumentais didáticas ou com docentes da área de performance em encontros e congressos oferecidos pela Ufal ou outras instituições; na análise estrutural das sedes das sociedades musicais e o acesso gratuito com ajuda estatal ou com parceria público-privado.
Tais questões foram baseadas no modelo de análise acima de Moscarola (1990, p.105), abordadas na minha tese de 2013 sobre a formulação de questionários e entrevistas para esta formulação de perguntas, de hipóteses em grupos, que estão atreladas a outras questões externas do ambiente. Ou seja, realizamos um diagnóstico para obter justificativas mais exatas da implantação desta extensão no interior de Alagoas.
Assim, o grupo de pesquisa poderia, de alguma forma, criar as hipóteses já relatadas anteriormente para que a ação comunitária obtivesse um diagnóstico de referência, para depois montar a logística da ação do projeto e estabelecer o número crescente destes alunos fora do ambiente – filarmônico ou não –, preservando sempre a “identidade do indivíduo”, como cita Paulo Freire, e a identidade cultural local nas oficinas propostas pelos nossos professores convidados. Freitas destaca estas ações:
Moscarola desenvolve interessante abordagem a respeito do questionário e de sua elaboração, definindo primeiro como todo o grande macroambiente que cerca e define o contexto: cultura e modo de vida, economia, técnicas, sociedade, organizações, locais, geografia; depois se aproxima mais com aspectos de marketing, como comunicação e publicidade... Faz uma triangulação dos métodos de observação ao conteúdo, associando o tema ao significado de observação (identidade, comportamentos e valores), à natureza do objeto (fatos, comportamentos, opiniões) e aos meios (ou métodos de observação, ou seja, observação direta, entrevista fechada, entrevista semiaberta ou entrevista aberta). Sua ênfase é, ainda, a de que há diversas maneiras de abordar o tema. (FREITAS, 2000, p.4).
Toda ação comunitária também provém das parcerias entre essas políticas públicas que promovem estas possibilidades através de ONGs ou outros formatos gerados pelas próprias sociedades musicais e que assim podem gerir as metas da JPMB neste contexto.6
O perfil dos atendidos
Foram detectados basicamente quatro perfis de estudantes de música nas enquetes resultantes das edições do projeto JPMB, incluindo as edições interioranas:
1- estudantes de graduação ou de cursos técnicos vizinhos a Alagoas, sendo as universidades federais e os institutos federais, em sua maioria;
2- estudantes de outras áreas, mas que têm na música um segundo objeto de estudo em seus contextos cotidianos;
3- alunos de escolas públicas de diversos estados que participam de projetos de música ou que são de grupos musicais compostos nestas unidades de ensino, geralmente atrelados às atividades de disciplinas artísticas nas esferas municipais e estaduais;
4- grupo com perfil mais próximo da identidade do projeto, que é o contexto filarmônico.
Geralmente os inscritos são alunos que percorrem as aulas no formato da tradição bandística. O período de formação dos integrantes de sociedades musicais nestas bandas de música dura em média um ano, abordando primeiramente teoria musical e, logo após, o aprendizado instrumental. Ou seja, temos um público com níveis diferentes, sendo necessário equilibrar o nível das turmas instrumentais oferecidas. Como exemplo, destacamos o processo de registro coordenado e realizado em parceria com a JPMB, pelo professor José Luann Veiga em sua plataforma Ecim (Espaço de Compreensão e Invenção Musical),7 desde a edição de 2015, que é sempre atualizado a cada evento. O gráfico a seguir, baseado na enquete on-line disponível na página de inscrição,8 demonstra os dados anuais dos perfis dos inscritos e sua relação com o conhecimento musical.
Para estes alunos interessados, a JPMB é a oportunidade de obter caminhos pedagógicos para outras metodologias de celeridade na habilidade performática, já que o corpo docente deste também é oriundo de filarmônicas e projetos sociomusicais, em sua grande maioria.
É bastante salutar que as oficinas oferecidas pelos docentes convidados tenham caráter pedagógico livre em sua estrutura individual em cada atividade; apenas sugerimos que estivesse de acordo com o perfil do alunado participante. A alternância de docentes também oferece uma gama de possibilidades dos caminhos da prática. Nestes anos, foram oferecidas as seguintes atividades:
• Oficinas de instrumentos: clarinete, saxofone, trompete, tuba, bombardino, trompa, fagote, oboé, trombone, violão, violino, cravo, piano;
• Oficinas especiais: Prática de Regência Banda, Práticas de Grupo de Câmara, Oficinas de Arranjo e Orquestração, Vivências de Educação Musical, Introdução à Musicologia;
• Fóruns de musicologia, Fóruns de Maestro de Bandas, Fóruns de Educação e Música, Fóruns de Cultura e o subprojeto JPMB nas Escolas.9
• Concertos nos espaços públicos, prédios coloniais e turísticos locais e praças;
• Apresentações de comunicações e artigos propostos na revista Musifal.
A JPMP conta com um corpo organizacional que envolve alunos da Graduação em Música da Ufal, voluntários e bolsistas; professores e técnicos do curso de Graduação em Música, Turismo e História; além do apoio das esferas administrativas da universidade, como a Propep (Pró-Reitoria de Pesquisa), a Proex (Pró-reitoria de Extensão Universitária), a Proinst (Pró-Reitoria Estudantil), a Ascom (Assessoria de Comunicação) e a CAC (Coordenação de Assuntos Culturais).
No quadro a seguir serão expostos os anos e as ações para o melhor entendimento do processo histórico e estrutural da JPMB entre 2009 e 2019. Em negrito o ano e as cidades do interior de Alagoas beneficiadas com o projeto.
Descrição das edições
A JPMB teve algumas transformações ao longo desses anos de existência. Abaixo uma sinopse dessas ações:
1ª JPMB: Ainda em caráter experimental, surge em forma de palestra-curso sobre o ensino coletivo, em 2009;
2ª JPMB: A jornada de 2009 lança a revista eletrônica Musifal, que propõe a divulgação de artigos científicos sobre professores e compositores alagoanos (1ª edição de capa: Hekel Tavares). Divulgação pelo convidado da edição e método Da Capo;
3ª JPMB: Realizada em 2010, incluindo lançamento do DVD sobre teoria musical do renomado professor Bohumil Med. Institui-se o modelo festival com a possibilidade de oficinas de instrumento (naipes) e de debate da inserção de projetos nas escolas públicas. Maior participação das redes municipal e estadual de ensino. Tem como objetivo unir projetos de ensino musical luso-brasileiros, ganhando caráter internacional com a assinatura do convênio entre o Instituto Piaget (Portugal) e a Ufal. Palestras das parcerias de ensino entre os dois países; parceria para edição de livros entre a Sociedade Musical Curica de Pernambuco e o grupo de pesquisa na Ufal. Participação da Sociedade Musical Curica;
4ª JPMB: Realizada em 2013, em Maceió. A junção com o II Encontro de Claronistas possibilitou a definitiva internacionalização da Jornada. Foram lançados três livros em parceria com a Filarmônica Curica e e houve a participação de quatro professores internacionais”;
5ª JPMB: Realizada em 2014, em Arapiraca. Faz uma junção com os concertos de música antiga. Correalização com o Ecim e o Sesc, além da criação do Fórum de Maestros com a Febamfal, a federação de bandas do estado.
6ª JPMB: Realizada em 2015, em Arapiraca, com a presença dos renomados Siqueira Lima e Kleber Dessoles representando instituições alagoanas, além da presença de Alexandre Andrade e Gilvando Pereira.
7º JPMB: Realizada em 2016. Ampliação da participação portuguesa, com oficinas internacionais de flauta e regência, ministradas por Alexandre Andrade e Arnaldo Antonio Costa, respectivamente, uma palestra de Rui Paiva. Pela primeira vez, a JPMB ocupa espaços em prédios históricos restaurados pelo Iphan para suas atividades.
8ª JPMB: Realizada em 2017, em Marechal Deodoro. Inclusão de ações de musicologia, atividade acadêmica nacional com o II Congresso da ABMUS (Associação Brasileira de Musicologia), com a presença de toda a diretoria. Houve Eventos paralelos, como os concertos solenes e o lançamento do terceiro volume da revista Musifal, com a publicação de artigos e atas do I Fórum de Maestros.
A 9ª e a 10ª edições em Penedo e a educação comunitária efetivada
Em 2018, a convite da Secretaria de Cultura de Penedo e do comércio local em reuniões com a Secretaria de Turismo e Desenvolvimento, mudamos o projeto para a cidade. A parceria do estado (município e governo do estado) e o apoio financeiro possibilitaram um maior número de oficinas e melhor logística dos grupos filarmônicos de outros municípios.
Naquele momento, o estado estava representado pela Universidade, pelas secretarias de Cultura do estado e do município, pela Secretaria Municipal de Educação e pela Prefeitura Municipal de Penedo.
O orçamento do Projeto JPMB foi dobrado e a sua nomenclatura foi alterada para JPMB: Festival Internacional de Música de Penedo. Definitivamente, o corpo docente e as oficinas foram ampliadas.
Nos dois anos de ações na cidade ribeirinha do São Francisco, entre 2018 e 2019, quase dois mil participantes se cadastraram na plataforma. Todo o processo do Ecim foi on-line, e o certificado foi emitido imediatamente após a atividade. Nenhuma certificação foi impressa, contribuindo também com a preservação ambiental.
Mais de 1.500 pessoas assistiram aos concertos e às apresentações na praça, e o número de artistas e filarmônicas teve crescimento constante. Como nas outras edições, nesses anos também contamos com artistas de renome internacional, inclusive em maior número. Foram 50 convidados, 10 filarmônicas, 15 grupos de câmara e solistas, 26 oficinas ofertadas e 300 alunos das redes municipal e estadual de ensino atendidos com aulas de formação de plateia no JPMB nas escolas (tema de outros textos por vir) e representantes dos municípios e estados brasileiros registrados nas certificações,15 a exemplo de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Goiás, Rio Grande do Norte, Sergipe, Alagoas e Ceará.
Conclusões
A JPMB tem sido nesses anos o maior festival de música para estudantes da área e pesquisadores afins. Transpor e transformar além dos câmpus ratifica e fortalece o posicionamento do papel da JPMB e da Universidade. A junção do poder público com a iniciativa privada e a consolidação de apoios de fomento à pesquisa mostram que nada se demonstra nos caminhos educacionais desconectados. É um sistema que deve ser aprimorado, mas que é possível. Nesses 10 anos, vimos o árduo dissabor das dificuldades burocráticas e como estes entraves muitas vezes tornam-se desmotivadores.
Em contrapartida, os resultados satisfatórios oferecidos, nesta oportunidade de extensão e pesquisa, superam todos estes obstáculos. De acordo com os próprios professores, mesmo aqueles renomados e com reconhecida experiência no meio acadêmico, a prática docente transforma suas visões de mundo. O contato com a cultura nordestina; o diálogo com alunos de diversos caminhos; a conscientização da democratização do acesso gratuito do ensino musical neste escopo e, por último, a vivência da performance por todos os envolvidos, seja na ação ou como meros espectadores, engrandecem a nossa perspectiva de continuidade da JPMB.
Neste ano de 2020, devido às medidas de isolamento social, em concordância com a Organização Mundial da Saúde no combate à Covid-19, as ações da JPMB continuam por meio dos seus canais das redes sociais sem perder a característica formativa através da programação on-line.
O festival proposto nesta extensão afirma portanto que o diálogo diacrônico e plural entre a universidade e a comunidade faz o meio acadêmico ratificar em sua conjuntura o papel educacional e a interdisciplinaridade com as áreas afins, além do campo científico musical inserido no seu contexto artístico - pedagógico. Assim, a musicologia social e a educação musical como precursora dos estudos da música neste modelo apresentado em Alagoas, em sua prática não só performática propriamente dita, mas de um movimento em prol da diversidade e da autonomia do indivíduo, cumprindo o seu papel do movimento profissional da música na sua realidade regional.
Referências
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Notas