Comunicação, Gêneros e Sexualidades
Recepção: 17 Janeiro 2023
Aprovação: 13 Junho 2023
Citação: Eu não dei por esta mudança, Tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face? Meireles, Cecilia. Retrato. In: Viagem. 1 ed. São Paulo: Global, 2014.
Resumo: Este trabalho objetiva sistematizar e acompanhar as dinâmicas das relações de gênero no âmbito da produção de conhecimento no campo da Comunicação no Brasil, com dados de 2021. O mapeamento analisa a presença de mulheres no Programas de Pós-Graduação, a concessão de bolsas Produtividade em Pesquisa, a composição das diretorias de entidades e associações relevantes no campo e as autorias em revistas prestigiadas. A análise aponta a persistência das desigualdades identificadas no mapeamento anterior.
Palavras-chave: Desigualdade de gênero, Ciência da comunicação, Produtivismo.
Abstract: This work aims to systematize and monitor the dynamics of gender relations within the scope of scientific production in the field of Communication in Brazil, in the year of 2021. The mapping analyzes the presence of women in the Post-graduate Programs, concession of Productivity in Research (PQ) grants, the composition of the boards of relevant entities and associations in the field and the authorships in prestigious journals. The analysis points to the persistence of the inequalities identified in previous mapping.
Keywords: Gender inequality, Communication science, Productivism.
Resumen: Este trabajo tiene como objetivo sistematizar y monitorear la dinámica de las relaciones de género en el ámbito de la producción de conocimiento en el campo de la Comunicación en Brasil, con datos de 2021. El mapeo analiza la presencia de mujeres en los Programas de Pós-Graduación, el otorgamiento de becas de Productividad en Investigación (PQ), la composición de los directorios de entidades y asociaciones relevantes en el campo y las autorías en revistas de prestigio. El análisis señala la persistencia de las desigualdades identificadas en el mapeo anterior.
Palabras clave: Desigualdades de género, Ciencias de la comunicación, Productivismo.
Introdução
Situado na discussão de gênero e ciência, o texto aborda as desigualdades de gênero no subcampo científico da Comunicação no Brasil. Partimos do pressuposto a ideia de que a ciência é uma construção social (Velho & León, 1998) e, por isso, atravessada por tensões de ordens diversas, matizadas historicamente. Uma construção que não é universal, mas sim delineada a partir dos contextos sociais particulares em que a atividade científica de determinada área do conhecimento se desenvolve. Analisamos, assim, as modalidades de operação da atividade científica a partir da noção de campo (Bourdieu, 1983), ou seja, a configuração de um espaço particular, que confere legitimidade a seus agentes, cujo discurso passa a ser dotado de certo simbolismo e validade superiores. Esse campo possui suas especificidades e dialoga/se tensiona com outros campos do conhecimento, cuja associação precisa ser lida necessariamente em chave relacional.
Nos focamos no subcampo científico da Comunicação (Vassalo de Lopes, 2003), considerando que sua constituição é atravessada por embates em torno das posições de autoridade e legitimidade, tributários a uma construção histórica dominante sobre a ciência. O modelo epistêmico hegemônico poderia ser situado, conforme argumenta Juliana Góes (2019) como (neo)positivista, lastreado em uma concepção de método que se torna avalista da neutralidade e da objetividade que chancelariam a prática científica e foi, no decurso do século XX, questionado pelas epistemologias feministas. No escopo dessas discussões, um conjunto de trabalhos tem se dedicado a compreender de que modo esses embates, na configuração dos campos científicos, atravessam as práticas dos agentes que estão socialmente situados neles - os pesquisadores e as pesquisadoras.
Quando o foco recai sobre o subcampo científico da Comunicação, a escassez de discussões exige um olhar exploratório para compreender as especificidades das dinâmicas de gênero nesse contexto. Este texto é parte de projeto mais amplo voltado a esse objetivo, intitulado “Ser mulher e pesquisadora no campo da Comunicação”, desenvolvido em cooperação entre a Universidade Federal de Santa Maria e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no Brasil. Iniciado em 2019, o projeto inicialmente voltou-se a aproximar as discussões historicamente cerzidas sobre as relações de gênero na ciência e o subcampo científico da Comunicação. Em um primeiro momento, observamos a inexistência de iniciativas, no Brasil, dedicadas a esse cenário (Haag al, 2020).
A partir disso, o primeiro movimento realizado foi o levantamento de dados secundários sobre a participação de mulheres pesquisadoras no subcampo científico da Comunicação brasileiro. Sem um levantamento e sistematização preliminar dos dados, quaisquer empreitadas de nossa pesquisa padeceriam de contexto. A escassez de informações sobre as dinâmicas das relações de gênero na Comunicação, mais do que um fato, tornou-se sintoma da pouca atenção que o tema adquiriu no meio século de existência formal dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação no país. Entrelaçamentos entre relações de gênero e Comunicação têm se expandido, especialmente no último decênio (Tomazzetti, 2020) mas se dedicam, sobretudo, à tematização de gênero como objeto de pesquisa, em suas múltiplas abordagens.
Enfrentando essa lacuna, os dados sobre as dinâmicas de gênero no subcampo científico da Comunicação brasileiro foram sistematizados, apresentados e discutidos entre os pares (Oliveira-Cruz; Wottrich, 2023), privilegiando quatro dimensões centrais: o número de pesquisadoras e de alunas vinculadas aos Programas de Pós-Graduação em Comunicação brasileiros, o número de pesquisadoras e pesquisadores agraciados com uma bolsa denominada Produtividade em Pesquisa (PQ), cuja realização é de responsabilidade do Conselho Nacional Científico e Tecnológico (CNPq) no país; a composição das diretorias de entidades e associações relevantes no campo comunicacional e as autorias em revistas prestigiadas. Esse primeiro mapeamento teve como base os anos de 2019 e 2020 e um enfoque eminentemente quantitativo e exploratório.
Considerando as limitações inerentes a esse tipo de enfoque, em 2021, nossos esforços foram dedicados a uma exploração qualitativa, a partir da realização de entrevistas com pesquisadoras de referência no campo da Comunicação, um percurso também sistematizado e compartilhado com os pares (Wottrich; Oliveira-Cruz, 2022). A dimensão das discussões incitadas pela realização das entrevistas ultrapassa as pretensões e limitações de caracteres deste texto e o/a leitor/a poderá oportunamente consultar a discussão se julgar conveniente. Consideramos importante mencionar esse movimento porque evidencia o esforço de articulação qualitativo e quantitativo a que temos nos lançado, na expectativa de, ao mesmo tempo em que compomos um quadro do tema a partir da sistematização dos dados secundários, os matizamos através das experiências situadas das pesquisadoras.
Feito esse breve resgate de nosso percurso até aqui, o que apresentamos nesse texto trata-se de uma atualização do mapeamento quantitativo realizado anteriormente, agora focado no ano de 2021. Buscamos compor um novo retrato para entender se, nele, percebemos a mesma face antes identificada ou se surgiram traços diferentes. Para nós, é um movimento significativo porque nos permite sistematizar e acompanhar as dinâmicas das relações de gênero no âmbito da produção de conhecimento no subcampo científico da Comunicação de forma diacrônica e situar o contexto de pesquisa brasileiro em suas especificidades.
Com a apresentação desse mapeamento, intencionamos avançar na compreensão sobre como as desigualdades de gênero se constituem no subcampo científico da Comunicação, considerando que a configuração - e a manutenção - de um sistema de informações sobre a questão é o primeiro – e imprescindível – passo para situar a discussão e realizá-la em chave propositiva.
Percurso metodológico
O levantamento que apresentamos a seguir compreende as seguintes dimensões: (1) Quantidade de pesquisadoras e pesquisadores agraciados com uma bolsa denominada Produtividade em Pesquisa (PQ); (2) A composição das diretorias de entidades e associações relevantes no campo comunicacional; e, por fim, (3) Publicações em periódicos com Qualis A2 e B1 (Conforme Qualis Periódicos 2013-2016), considerando a participação de homens e mulheres, bem como a consideração ou não da categoria gênero na produção.
A coleta de dados da distribuição das Bolsas de Produtividade se deu através dos resultados publicados no site do CNPq dos editais dos anos de 2020 e 2022 (as duas chamadas realizadas desde o início da pesquisa). Após filtrar as listas de aprovados/as da área "Artes, Ciência da Informação e Comunicação", os nomes foram subdivididos conforme os estratos (PQ1A, PQ1B, PQ1D, PQ2 e PQ Sênior) e, posteriormente, separados entre homens e mulheres. As análises consideram as variações de cada chamada, além dos números gerais e os parâmetros de cada estrato.
No que diz respeito ao mapeamento que temos feito em nossa pesquisa sobre a composição das mesas diretivas das principais associações representativas do subcampo, temos considerado as informações disponíveis nos sites de seis instituições: a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (COMPÓS), a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), a Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), a
Associação Brasileira de Pesquisadores de Comunicação Organizacional e de Relações Públicas (ABRAPCORP), a Associação Brasileira de Pesquisadores em Publicidade e Propaganda (ABP2) e a Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine).
Os dados são primeiramente registrados a partir de uma perspectiva temporal, mapeando todas as gestões desde a respectiva fundação e, posteriormente, contabilizando o número de membros homens e mulheres e sinalizando a ocupação dos principais cargos, como presidência e diretoria executiva.
Considerando o enfoque na desigualdade de gênero no subcampo científico da Comunicação que orienta o projeto de pesquisa na qual esta investigação está contemplada, as dimensões de gênero são sempre ponderadas na elaboração dos procedimentos de coleta, assim como na análise dos dados. Tendo essa perspectiva em vista, na revisão bibliométrica empreendida a partir dos periódicos científicos da área, as categorias analíticas delimitadas são: i) composição das autorias: somente autoria feminina, masculina ou ambos; ii) autoria principal: feminina ou masculina; iii) número de autoras femininas e autores masculinos; iv) instituição das e dos autores; e v) temática de gênero presente ou ausente.
As revistas classificadas como A e B são as que obtiveram maior nota em sua área de conhecimento segundo os critérios do Qualis/CAPES e, portanto, são consideradas as de maior prestígio dentro do campo em que se inserem. Tendo em vista que há na subdivisão dos estratos A (A1 e A 2) e B (B1 até B5), a escolha pelos periódicos de estrato A2 e B1, considera o conjunto de revistas melhor avaliado da área "Comunicação e Informação". As revistas selecionadas foram filtradas considerando as classificações de periódicos do quadriênio 2013-2016 (o mais atual no período da coleta), sendo excluídas aquelas cujo escopo é específico da área de Ciências de Informação. As revistas categorizadas como A1 foram excluídas por não haver nenhuma com esta classificação editada em língua portuguesa.
Os nove periódicos científicos de Qualis A2 e B1 abrangidos na coleta foram a Comunicação, Mídia e consumo (ESPM-SP), Galáxia (PUC-SP), Revista FAMECOS (PUC-RS), Revista E-Compós (COMPÓS), Chasqui (UFF), Revista Intercom, Em Questão (UFRGS) e Matrizes (USP). As treze revistas de Qualis B1 analisadas foram ALCEU (PUC-Rio), Contemporânea (UFBA), Contracampo (UFF), Comunicação & Sociedade (Metodista), Logos (UERJ), ECO-Pós (UFRJ), Comunicação & Inovação (USCS), Estudos em Jornalismo e mídia (UFSC), Lumina (UFJF), Fronteiras (Unisinos), ANIMUS (UFSM), Intexto (UFRGS) e Comunicação Midiática (UNESP).
Definidos os periódicos para a análise, os dados foram sistematicamente organizados em planilhas, conforme as categorias analíticas previamente mencionadas. A dimensão de gênero foi inferida na análise a partir do nome próprio utilizado pelas autoras e autores e algumas vezes o currículo lattes foi consultado. Reconhecemos essa como uma fragilidade metodológica e que nos faz pensar sobre a dificuldade de sistematizar dados quantitativos a partir do gênero quando não temos dados disponíveis no sistema que partam de uma auto identificação das pessoas. A dificuldade se estende para a falta de campos no sistema do CNPq que possibilite a auto-declaração de origem ético-racial dos/as pesquisadores/as. Dessa maneira, as lentes sobre outros marcadores de desigualdades, tão profundos na história do nosso país, ficam inacessíveis para a nossa discussão.
No que diz respeito à abordagem ou não de questões de gênero no decorrer da produção foi determinado conforme as palavras-chave e os resumos de cada artigo e, em caso de restarem dúvidas, por uma leitura dinâmica do texto completo. Após a coleta e uma breve observação global, cinco perguntas foram estabelecidas para orientar o cruzamento e análise dos dados: Qual a variação na produção científica de 2021 em relação aos anos anteriores? Qual a composição da autoria dos textos publicados nos periódicos em 2021 no que tange ao gênero? Qual a variação de textos que abordam gênero publicados em 2021, em relação aos anos anteriores? Qual a composição da autoria dos textos publicados que abordam gênero em 2021, em relação aos anos anteriores? Há uma diferença na quantidade de textos que abordam gênero, considerando publicações de Qualis A2 e B1? O cruzamento dos dados foi realizado em dois programas de código aberto e gratuitos, Libreoffice Calc e R Studio, um software de interface integrado à linguagem de programação e cálculos estatísticos R.
O retrato de 2021
Tendo sido mapeados os principais pontos de atenção que orientam o desenvolvimento da pesquisa, apresentamos a análise dos dados relativos ao ano de 2021. Nos debruçamos especificamente sobre os seguintes indicadores: o número de pesquisadoras e pesquisadores agraciados com bolsas Produtividade em Pesquisa; a composição de diretorias de entidades e associações de atuação destacada no campo da Comunicação; e, por fim, dados de publicações científicas de periódicos classificados no indicador Qualis-Capes como A2 e B1, no que diz respeito à quantidade de autores homens e mulheres, à composição da autoria de cada um dos artigos, e à abordagem da temática de gênero em articulação às comunicacionais discutidas nas produções mapeadas.
A Bolsa Produtividade em Pesquisa (PQ) é uma das modalidades de bolsa oferecidas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Instituída em 1976, são destinadas a pesquisadoras e pesquisadores com capital científico reconhecido entre seus pares, e a crescente valorização pela comunidade científica em relação a essa modalidade fomento articula-se à valorização gradual, especialmente a partir dos anos 1990, da importância atribuída a ela no contexto do investimento em ciência e tecnologia no Brasil (Guedes, Azevedo & Ferreira, 2015).
As bolsas são estratificadas em três categorias, sênior, pesquisador 1 (com níveis A, B, C e D) e pesquisador 2. A porta de entrada para obtenção da bolsa é a categoria pesquisador 2. No decurso do tempo, eventualmente os pesquisadores e pesquisadoras podem pleitear avançar para as categorias mais elevadas, a depender da avaliação em relação ao cumprimento dos critérios para obtenção do recurso estabelecidos pela agência de fomento. Os parâmetros e critérios de avaliação possuem matizes bastante específicos, os quais podem ser observados a seguir:
O CNPq reconhece a responsabilidade e a autonomia acadêmica do comitê assessor (CA) da área de conhecimento à qual é submetido o projeto de pesquisa. No entanto, a avaliação da proposta deve considerar o conjunto de critérios independentes, gerais e específicos, estabelecidos pelo CNPq, relacionados basicamente ao mérito científico do projeto e à performance do proponente quanto a relevância da produção científica, atuação contínua na formação de recursos humanos em nível de pós-graduação, inserção internacional e participação em atividades de gestão científica e acadêmica. A maior parte dos critérios específicos a cada categoria diz respeito ao pesquisador categoria 1, com base nos quais se diferenciam os níveis A, B, C, D configurando-se um sistema de progressão e promoção em que a posição mais elevada corresponde ao nível A. 10 Sobre ela recaem as maiores exigências dessa categoria, definida como um perfil de liderança significativa em sua área de pesquisa. Outro aspecto que se depreende da estratificação resultante desse conjunto de critérios definidos pela agência é a distinção conferida à categoria sênior, situada no topo da hierarquia, acessível apenas ao pesquisador que comprovar a posse anterior de PQ na categoria 1 níveis A ou B por, no mínimo, 15 anos, consecutivos ou não. (Guedes, Azevedo & Ferreira, 2015, p. 343-344).
Apesar da possibilidade de transição entre os estratos e níveis, evidencia-se uma pouca mobilidade de pesquisadores nos estratos mais elevados. Estudos trazidos por Guedes, Azevedo & Ferreira (2015) revelam que a mobilidade tende a ser menor quanto mais elevado for o estrato da bolsa. Ou seja, percebe-se uma maior variação nas bolsas do estrato PQ2, enquanto no estrato PQ1 (especialmente no nível mais elevado, 1A), essa variação é praticamente nula. Desse modo, constitui-se uma base alargada e um topo reduzido, que tende a se manter estável no decurso do tempo. Essa dinâmica de estratificação, ao longo dos anos, acaba por configurar “um sistema hierarquizado de posições, que tipifica um perfil de excelência que pode ser considerado uma elite científica - a de especialistas e profissionais de pesquisa” (Guedes, Azevedo & Ferreira, 2015, p. 376-377).
Entre 2020 e 2022, houve um aumento de 8,8% no total de bolsas PQ distribuídas pelo CNPq na área "Artes, Ciência da Informação e Comunicação". Em números absolutos, o crescimento foi de 147 para 160 pesquisadores e pesquisadoras bolsistas. Esse aumento ocorreu em um cenário bastante desfavorável em termos de investimentos na pesquisa no Brasil. Segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), de 2013 a 2020, o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação teve orçamento reduzido em 52% (De Negri, 2021), quadro que se agudizou até 2022 (Escobar, 2022). Apesar do tímido incremento, chama a atenção a inversão entre os sexos no novo cenário, como pode ser observado nos gráficos abaixo.
No levantamento realizado em nossa pesquisa no ano de 2020 (Oliveira-Cruz; Wottrich, 2023), apontamos que as mulheres representavam maioria entre os bolsistas PQ1, sendo 25 pesquisadoras de um total de 45 (55% do total deste estrato) e um índice equitativo com os homens no nível PQ2 (50,4% das 101 bolsas).
O resultado da chamada de 2022 fez com que a vantagem fosse invertida, tendo os pesquisadores homens 51,2% do número total de bolsas. Embora os índices não sejam tão distantes entre os dois gráficos, é importante observar que das 13 novas bolsas vigentes na última chamada, 11 foram distribuídas para candidatos homens. Se considerarmos apenas critérios objetivos, como possível número de inscrições e qualificação das propostas submetidas para as bolsas PQ, chama a atenção a desproporção na distribuição das novas bolsas.
Tendo em vista as análises que apontam para uma queda expressiva na produção acadêmica entre pesquisadoras mulheres no período da pandemia e um respectivo aumento na produção de artigos por cientistas homens em todo o mundo (Candido & Campos, 2020), subentende-se que esse reflexo tenha atingido também as pesquisadoras de maior produtividade no subcampo científico da Comunicação. Ou seja, sem levar em conta possíveis desvios na avaliação entre os pares provenientes da homossocialidade, a menor participação feminina no grupo de pesquisadores de referência no subcampo pressupõe uma queda produção de textos ou uma menor submissão de propostas ao edital da agência de fomento.
O que permaneceu inalterado, considerando as duas chamadas, foi a maior presença dos homens nos estratos mais elevados. Nas categorias PQ1A e PQ Sênior há uma prevalência masculina, que sugere, conforme abordamos anteriormente (Oliveira-Cruz; Wottrich, 2023, p. 11), a manutenção de um "teto de vidro" no subcampo científico da Comunicação. A noção de teto de vidro é uma metáfora que representa a dificuldade de encontrar mulheres em posições de poder na academia. Para Esther Martin-Palomino (2018) considera que uma das causas do teto de vidro é a homosocialidade. A ciência foi, em sua origem, restrita a um grupo exclusivo de pessoas: homens brancos pertencentes às camadas mais elitizadas da sociedade. As consequências dessa exclusão se estendem até hoje, porque o poder é controlado quase sempre pelos mesmos, que promovem seus pares. Isso é o que explica, em partes, a maioria dos grupos de poder serem formados por homens brancos, enquanto as mulheres ficam com os cargos menos valorizados, no "solo pegajoso".
É interessante pontuar, nesse contexto, que as dinâmicas masculinistas que permeiam a lógica acadêmica (em muito semelhantes àquelas que sustentam a ordem cis-hetoronormativa e patriarcal da sociedade ocidental) funcionam de maneira muito sofisticada, sustentando a ideia que as desigualdades, quando existem, são provenientes do mérito (ou da falta dele) na trajetória de cada pesquisador/a. No caso do subcampo científico da Comunicação, a relativa proximidade dos números entre os grupos de homens e mulheres que obtêm as bolsas PQ pode levar a esse entendimento. É nesse sentido que se torna importante observar para os engendramentos que sinalizam relações de poder, como é o caso dos cargos de liderança.
Outro fator interessante para observar as dinâmicas de gênero no subcampo científico da Comunicação é a presença dos pesquisadores em conselhos diretivos das entidades e associações. A participação em espaços institucionais, de liderança e visibilidade, normalmente se dá por indicação dos pares. Neste contexto, importa perceber a importância do capital social nas relações estabelecidas e o quanto a presença (ou a falta) de redes de apoio podem estimular (ou não) a participação das mulheres em espaços estratégicos ou decisórios.
Dentro do subcampo científico da Comunicação, a Compós é a associação que reúne todos os Programas de Pós-Graduação, e, portanto, pode ser considerada uma das principais instituições do contexto estudado. No mandato vigente no período de análise (2021-2022), o Conselho Diretivo da Compós era composto por três mulheres (entre as quais a presidenta e vice-presidenta) e dois homens.
Um quadro distinto do histórico da entidade: desde sua fundação, em 1991, foram 16 conselhos diretivos com predominância masculina em sua composição (31 homens e 20 mulheres) e apenas três mulheres foram eleitas presidentas da Associação.
A mais antiga entidade representativa do campo da Comunicação, fundada em 1977, é a Intercom. Dando sequência ao mapeamento realizado em nossa pesquisa anterior (Oliveira-Cruz; Wottrich, 2023), a tendência de concentração masculina nos cargos mais elevados não mudou. Desde a posse da primeira diretoria, em 1979, foram eleitos 12 presidentes e sete presidentas. E, ainda que ao longo da longa história sejam muitos os cargos diretivos (208 ao total), a prevalência dos homens se generaliza também entre as demais funções das comissões, ocupando 52% dos cargos de diretoria científica, editorial, administrativa, financeira, etc.
Quando observamos os conselhos das associações específicas das grandes áreas (jornalismo, publicidade, relações públicas e cinema), alguns dados interessantes se revelam. Ainda que a composição dos quadros, de modo geral, sugira um cenário mais equitativo de representatividade, os cargos de liderança são majoritariamente masculinos. Nos mandatos vigentes no período da coleta, inclusive, os presidentes das quatro associações (SBPJor, Socine, ABRAPCORP e ABP2) eram homens.
A predominância de homens nos espaços de maior prestígio nas principais associações científicas da área revela um cenário bastante semelhante a outras áreas do conhecimento, no Brasil e no mundo. Em pesquisas que articulam as questões de gênero e ciência, são recorrentes as reflexões que tratam sobre a importância das redes para a construção de um ambiente mais equitativo. "A falta de apoio é uma questão muito importante porque é uma dinâmica invisível, e que habitualmente mulheres e homens não são conscientes porque supostamente são tratados com equidade" (Martin-Palomino, 1998, p. 141).
No caso do subcampo científico da Comunicação, chama a atenção o fato de que as pesquisadoras são maioria entre os corpos docente e discente dos Programas de Pós-Graduação no país, dos 53 PPG em Comunicação nacionais, listados na plataforma Sucupira[1], as mulheres são 436 dos 869 docentes atuantes em 2019. No que se refere aos discentes, a soma de homens totalizou 1740 (42,6%) e das mulheres, 2341 (57,4%). (Oliveira-Cruz; Wottrich, 2023). Logo, o que faz com que as mulheres tenham menor acesso às bolsas de produtividade e ocupem menos os cargos de liderança? São vários os contextos possíveis que podem levar a este cenário. Por um lado, elas muitas vezes não se sentem estimuladas a enfrentar situações de disputa ou desgastes provocados pelo gerenciamento de relações de poder (quase sempre sustentadas por lógicas masculinistas). Por outro, na maior parte dos casos, as pesquisadoras convivem com a conciliação de demandas da vida pessoal que são constituídas pelo sistema patriarcal, como o cuidado (Räthzel, 2018). O resultado destas questões, muitas vezes invisíveis às dimensões práticas, terminam por se materializar nos parâmetros quantitativos de avaliação, como é o caso da produção de artigos científicos.
Em relação a essa dimensão, os resultados apresentados a seguir referem-se à produção científica do ano de 2021 em periódicos científicos de Qualis A2 e B1. Essa produção corresponde a 348 artigos publicados em revistas de Qualis A2 e 323 classificadas no sistema como B1.
Recuperando a análise dos anos anteriores, evidencia-se um aumento de 58 artigos no ano de 2021 em revistas de Qualis A se comparado à média dos três anos anteriores, isto é, uma variação positiva de 20% nas publicações. Quanto aos periódicos de Qualis B2, percebeu-se um valor 16,1% menor em relação à média dos três anos anteriores, foram 62 artigos publicados a menos. Em relação à composição da autoria dessas produções, a variação identificada consta no Gráfico 3:
No Gráfico 3, as legendas “Só Homens” e “Só Mulheres” aludem às produções em que só há homens ou só há mulheres entre os autores, respectivamente. Cabe ressaltar que, nessa categoria, são considerados tanto os artigos de autoria individual quanto aqueles produzidos coletivamente por grupos de autores compostos exclusivamente por homens, no caso de “Só Homens”, ou mulheres, para “Só Mulheres”. No que tange a essas autorias exclusivamente femininas ou exclusivamente masculinas, o cenário observado é de curvas descendentes para ambos os sexos a partir do ano de 2020. Uma inferência possível nesse sentido é o impacto que a pandemia de COVID-19 exerceu sobre os índices de produção científica no subcampo científico da Comunicação.
Apesar da relativa similaridade dessas curvas, registra-se que as variações negativas se dão em diferentes patamares de publicações. Isto é, ainda que os números sugiram que os homens também publicaram menos no último ano, eles mantêm os índices mais elevados de autoria entre os artigos publicados nos periódicos de qualis A2 e B1. Mesmo em um contexto de crise, que afeta as condições de produção científica de forma geral, a vantagem estrutural histórica dos homens assegura que a queda nos seus números não seja tão expressiva e, portanto, que mantenha a desigualdade existente entre os números de cada um dos sexos. Essa disparidade pode ser entendida como um efeito do que Betina Lima (2008) alude ao lançar mão do termo “labirinto de cristal” e indicar que o desafio maior das mulheres no campo científico não seria somente ascender na carreira, como pressupõe a metáfora do “teto de vidro” mencionada anteriormente, mas sustentar sua permanência em um cenário marcado por mecanismos historicamente desiguais que tornam seus caminhos muito mais sinuosos.
Se deslocamos o olhar para os artigos publicados em 2021 que abordam a temática de gênero, especificamente, se destacam os seguintes números: entre as 348 publicações mapeadas nas revistas A2, 42 (12,07%) envolvem a articulação de questões comunicacionais e gênero. Em 2020, correspondiam a 9,14% da relação de artigos nesses periódicos. No caso das publicações do campo da Comunicação pertencentes ao estrato B1, entre os 323 artigos que compõem o corpus, 37 (11,46%) faziam referência ao tema gênero. No ano anterior, a porcentagem era de 11,08%. É visível, portanto, um crescimento, mesmo que pequeno. Isso corrobora com o levantamento realizado por Tomazetti (2020), que reporta, na última década, um interesse crescente na temática de gênero nas problematizações desenvolvidas no âmbito da produção científica em Comunicação.
Esse aumento reiterado se traduz nos dados compilados a partir da análise dos periódicos da área, sobretudo entre os anos de 2020 e 2021. Em relação à variação do número de publicações em periódicos A2, observamos um crescimento de 26,1%, de 31 para 42, considerando os dados de 2021 em relação à média de publicações entre 2018 a 2020. Os artigos escritos somente por autoras mulheres evidenciam a maior elevação, de 15 para 22 artigos. Os textos publicados em periódicos em revistas de Qualis B1, entretanto, apresentaram um diagnóstico diferente. Ainda que os textos publicados somente por autores homens tenham aumentado de 6 para 11, os textos que abordam gênero publicados somente por mulheres apresentaram decréscimo de 40%.
Considerações
O mapeamento apresentado busca atualizar dados discutidos em momento anterior (Oliveira-Cruz; Wottrich, 2023) mas, sobretudo, sinalizar um movimento de atenção e acompanhamento de como as desigualdades de gênero têm se evidenciado no subcampo científico da Comunicação. Nesse sentido, reconhecemos se tratar de um retrato situado, mobilizado a partir de nossos interesses investigativos e que não abrange a totalidade das dinâmicas do subcampo científico da Comunicação brasileiro. Considerando que a existência desse subcampo se dá a ver a partir do estabelecimento dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação, na atualidade temos 57 cursos em vigência, em todas as regiões do país, com tradições epistêmicas e linhas de pesquisa diversas, os quais evidenciam a pluralidade de saberes e práticas inscritos na área comunicacional. O que queremos dizer é que a própria delimitação de um campo científico como entidade homogênea precisa ser vista com cautela, pois sabemos que os campos, ainda mais os científicos, são espaços marcados eminentemente por disputas e relações de força, o que, no caso do conhecimento comunicacional, se reforça pela jovialidade dos debates em solo nacional (se comparado a áreas mais tradicionais) e pela diversidade de abordagens e constructos teóricos. Outras entradas analíticas seriam possíveis, por exemplo, a análise realizada a partir de determinadas áreas ou perspectivas teóricas dentro do campo, através dos Grupos de Trabalho, ou também considerando as publicações e apresentações em anais de eventos.
Dito isso, o acompanhamento das dinâmicas de gênero no subcampo científico da Comunicação evidencia a permanência de desigualdades, algumas de forma mais branda e outras de modo mais latente. Em relação às Bolsas Produtividade, observamos que as mulheres diminuíram sua participação em relação aos anos anteriores no estrato PQ2. É interessante pensar que essa é a porta de entrada dos pesquisadores e pesquisadoras a esse recurso e, por isso, é uma camada na qual a mobilidade costuma ser mais identificada. Ocorreram mudanças, mas que significaram uma diminuição da participação feminina. No estrato mais elevado (PQ1) a relação da distribuição das bolsas entre pesquisadoras e pesquisadores não sofreu alteração significativa, mantendo as bases da coleta anterior, o que referenda a perspectiva de que esse estrato e seus níveis são mais propensos a ter pouca variação.
Quando o foco recai sobre as entidades, há de forma geral a manutenção das dinâmicas observadas na coleta de dados anterior, com algumas alterações pontuais. Cumpre destacar que, nos mandatos vigentes no período de análise das das entidades vinculadas a áreas específicas no subcampo científico, (SBPJor, Socine, ABRAPCORP e ABP2), os cargos de presidência eram todos ocupados por homens. O mesmo ocorreu na Intercom. A exceção no mapeamento foi a Compós, cuja presidência atualmente era ocupada por uma mulher.
A análise das publicações em periódicos evidencia que tanto homens quanto mulheres publicaram menos nos periódicos de referência, considerando as autorias individuais e mistas compostas por pesquisadores e pesquisadoras, no ano de 2021. Embora o decréscimo seja perceptível de forma geral, os homens ainda sustentam um padrão mais alto de publicação. A queda na quantidade de artigos produzidos pode ser relacionada ao contexto de trabalho no escopo da pandemia de Covid-19 e suas implicações em termos da gestão da esfera profissional e da vida privada. Análises mais detalhadas podem, futuramente, ser realizadas para oferecer mais indícios à compreensão desse cenário.
A atualização dos dados não revela, lamentavelmente, nada de novo, considerando a manutenção das desigualdades de gênero no escopo do subcampo científico da Comunicação no Brasil. Um novo retrato no qual enxergamos a mesma face. No entanto, evidencia algumas alterações que podem iluminar aspectos importantes para aprofundamento, como a mobilidade de Pesquisadores e Pesquisadoras nos estratos das Bolsas Produtividade em Pesquisa (PQ) e as implicações das vivências na produção de artigos científicos em revistas de prestígio, cuja publicação, no cálculo parametrizado da produção do conhecimento científico, suas métricas e lógicas avaliativas, também incidem sobre as chances e oportunidades de homens e mulheres no contexto científico. Por fim, reforçamos que dados como esses, embora preciosos para compor um cenário de como as dinâmicas de gênero se configuram em um subcampo científico ainda marcado pela escassez de investimentos analíticos dessa ordem, precisam ser lidos em chave relacional. Tanto em relação aos dados e dinâmicas evidenciados em outras áreas de conhecimento e contextos geográficos, mas principalmente em relação às experiências situadas das pesquisadoras. A esse esforço, dedicaremos nossas próximas incursões empíricas.
Referências
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Notas
Informação adicional
Citação: Eu não dei por esta mudança, Tão simples, tão certa, tão
fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face? Meireles, Cecilia. Retrato.
In: Viagem. 1 ed. São Paulo: Global, 2014.