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Recepção: 27 Dezembro 2019
Aprovação: 12 Maio 2020
Resumo: A partir da leitura do livro O Bagageiro de Stalin, publicado em 1946 pela Editora Moderna, do Rio de Janeiro, de autoria do jornalista e político Benedito Mergulhão (1901-1966), pretendemos compreender as condições que possibilitaram as críticas do autor ao comunismo no contexto do Pós-Segunda Guerra, enfatizando as denúncias dedicadas ao político Luiz Carlos Prestes (1898-1990), na época elevado pela esquerda à categoria de mito político revolucionário brasileiro. Para isso, realizamos dois movimentos complementares, de crítica interna/externa, primeiramente analisando o lugar social do autor (CERTEAU, 2008) e em seguida o contexto brasileiro e internacional dos anos 1940; em um segundo momento investigamos o anticomunismo como uma estrutura de sentimento (WILLIAMS, 1979) presente na obra que compreendeu Luiz Carlos Prestes como um emblema do comunismo e do anticomunismo do período.
Palavras-chave: Benedito Mergulhão, Anticomunismo, Estrutura de sentimentos.
Abstract: From the reading of the book O Bagageiro de Stalin, published in 1946 by Editora Moderna, from Rio de Janeiro, writed by journalist and politician Benedito Mergulhão (1901-1966), we want to understand the characteristics of anticommunism in the author and the 1940's feelings about the anticommunism. In the post-war context, we analyzing the accusations dedicated to the politician Luiz Carlos Prestes (1898-1990), at the time elevated by the left to the category of Brazilian revolutionary political myth. For this, we have two complementary movements, an internal and external criticism for the book. First, we analyze Benedito Mergulhão in the Brazilian and international context of the 1940s, trying to understand the anticommunism as a structure of feeling (WILLIAMS, 1979) based on the book O Bagageiro de Stalin, whose author is Benedito Mergulhão. In complementar, we use the method of historiographical operation (CERTEAU, 2008) to analyze Luiz Carlos Prestes as an emblem of communism and anticommunism in the 1940s.
Keywords: Benedito Mergulhão, Anticommunism, Structure of feelings.
Introdução
O livro O Bagageiro de Stalin, de autoria do jornalista e político carioca Benedito Mergulhão (1901-1966), é uma das várias obras que foram condenadas ao esquecimento na produção editorial brasileira. Datada historicamente, ganhou duas edições no ano de 1946 pela Editora Moderna, do Rio de Janeiro, dentro do contexto do Pós-Segunda Guerra Mundial e dos antecedentes da Guerra Fria, quando o anticomunismo era consideravelmente perceptível (MOTTA, 2002). A obra expõe uma série de críticas ao comunismo no contexto do início da Guerra Fria, com ênfase em denúncias dedicadas ao político brasileiro Luiz Carlos Prestes (1898-1990), elevado pelo PCB e parte da imprensa da época à categoria de mito político revolucionário depois de quase uma década preso (1936-1945). Dividida em curtos e precisos capítulos, O Bagageiro de Stalin é um exemplo claro de que o processo de construção de mitos políticos também é acompanhado pelo processo de desconstrução.
Como forma de compreender como Benedito Mergulhão desenvolveu críticas ao comunismo no contexto do Pós-Segunda Guerra, enfatizando as denúncias dedicadas ao político Luiz Carlos Prestes (1898-1990), através do livro O Bagageiro de Stalin, realizaremos dois movimentos complementares, de crítica externa e interna, primeiramente situando o lugar social do autor Benedito Mergulhão (CERTEAU, 2008) no contexto brasileiro e internacional dos anos 1940. Depois, tentando compreender o anticomunismo como uma estrutura de sentimento (WILLIAMS, 1979) sobre o papel do Brasil mediante o comunismo à época, ou seja, interpretando a pessoa de Luiz Carlos Prestes como um emblema do comunismo e do anticomunismo do período.
Segundo o método de análise de Michel de Certeau (2008), é necessário buscarmos dar voz ao não-dito sempre que analisarmos uma obra de teor historiográfico. Entre os três princípios técnicos de análise. temos a compreensão do lugar social do autor, que visa entender a formação acadêmica, as determinações próprias, as imposições e privilégios, as vinculações institucionais e ideológicas. Isto é, aspecto que trataremos nos primeiros tópicos, quando observaremos como Benedito Mergulhão se inseriu no contexto político e intelectual do Brasil dos anos 1940,
observando suas vinculações partidárias, ideológicas e, de certa maneira, estéticas. Se na primeira parte realizaremos este movimento, chamado de crítica externa, pretendemos em um segundo momento realizar uma crítica interna, prendendo-se ao texto e na forma como o seu autor, Benedito Mergulhão, o construiu.
2. Da crítica externa: da autoria à contextualização
2.1. Quem foi Benedito Mergulhão?
Dentro do processo inicial de compreensão de crítica externa do livro O Bagageiro de Stalin, é necessário investigar quem foi Benedito Mergulhão. Para chegar a um nível de informação básica sobre o sujeito, foram necessários três caminhos complementares: o próprio livro, O Bagageiro de Stalin, no qual identificamos alguns poucos dados biográficos sobre o autor. O segundo caminho foi o site do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas (FVG), do Rio de Janeiro. Neste último, graças à atuação do autor no universo político carioca, foi possível conhecer sua trajetória através de um verbete construído a partir de algumas Atas da Câmara Municipal do estado. Por último, realizamos uma pesquisa em alguns periódicos cariocas citados no verbete do CPDOC, nos quais conseguimos identificar algumas poucas alusões ao escritor e político.
Benedito Mansos Mergulhão nasceu no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 21 de maio de 1901. Filho do comerciante Eduardo Augusto Mergulhão e de Adelina Costa Mergulhão, bacharelou-se em Ciências e Letras em 1929. Exerceu as funções de jornalista e tipógrafo, sendo um dos fundadores do jornal A Vanguarda e redator do diário A Noite,onde parte dos textos contidos em O Bagageiro de Stalin foi inicialmente publicado ao longo do ano de 1946. Enquanto comentarista político, Benedito Mergulhão ainda dirigiu o programa Astros e Ostras nas rádios cariocas Cruzeiro do Sul . Mayrink Veiga.
Assim, iniciou sua vida política elegendo-se em janeiro de 1947 no cargo de vereador na Câmara Municipal do Distrito Federal na legenda do Partido Republicano (PR); portanto, antes da publicação do livro O Bagageiro de Stalin. Contudo, no ano de 1948 renunciou ao seu mandato e assumiu a diretoria da Divisão de Rádio da Agência Nacional. No pleito de 1950, elegeu-se primeiro suplente de deputado federal pelo
Distrito Federal na legenda do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), tomando posse em março de 1951.
Em 1954, Benedito Mergulhão tornou-se funcionário do Instituto Brasileiro do Café (IBC), tendo chegado ao cargo de diretor. No pleito de outubro deste ano, tentou a reeleição pela legenda do PTB, não tendo obtido êxito. Ao final da legislatura, em janeiro de 1955, deixou a Câmara dos Deputados, não voltando a concorrer a cargos públicos eletivos. Foi também subdiretor da Renda Mercantil. Faleceu em 25 de setembro de 1966, na cidade do Rio de Janeiro e era casado com Ondina Verol Mergulhão, com quem teve três filhos. Atualmente uma rua no Rio de Janeiro, no bairro do Inhoaíba, traz o seu nome enquanto homenagem.
Publicou diversos livros no campo das letras, entre os anos de 1930 e 1960, com destaque para Filosofia de um caipora, Salamaleques e pontapés, Ramo de urtiga, Maridos transviados, As mulheres não querem amor, A hora H do café, A santa inquisição do café, O general café na revolução branca de 1937, O homem caiu do céu, Olho de Moscou, O Bagageiro de Stalin . O drama de Denise. Percebe-se uma produção contínua de textos, desde obras técnicas, literárias e políticas, com predominância de romances, crônicas e contos. Todavia, seu nome na atualidade é esquecido, o que explica que seus títulos não receberam nenhuma reedição nestes últimos 50 anos, o que faz o autor ser “vítima” do que chamamos de esquecimento prolongado., aspecto em que não prendemos nos aprofundar, visto que não é o nosso objetivo neste artigo.
2.2. O contexto pós-Segunda Guerra mundial: o anticomunismo no Brasil do início da Guerra Fria
Seguindo a rota da crítica externa para melhor compreensão do livro O Bagageiro de Stalin, é necessária também uma melhor contextualização do período em que o livro foi publicado, na década de 1940 e especificamente do ano de 1946, o que
passa necessariamente pelos eventos do fim da Segunda Guerra Mundial, ocorrida em 1945 e a divisão do mundo em dois blocos concentrados entre os Estados Unidos (representando o modelo capitalista) e a União Soviética (representando o modelo socialista), chamada já na época como Guerra Fria.
A partir daí uma, luta simbólica se travou em busca de influências políticas, econômicas e culturais por todo o mundo, uma “maquinaria” de propaganda foi sendo constituída por estes dois países (EUA e URSS), com largas teias de manipulação, principalmente ligadas a equipamentos culturais e midiáticos. Os Estados Unidos incentivaram o combate ao comunismo com receitas pomposas, principalmente na América Latina, com medo da influência não apenas soviética, como também cubana, a partir da revolução ocorrida na ilha em 1959.
O historiador Antônio Pedro Tota (2000), em seu livro O Imperialismo Sedutor: a americanização do Brasil na época da Segunda Guerra Mundial, demonstrou que o Brasil se transformou em prioridade da política externa americana nos anos de 1940, no sentido de dar aos americanos soberania na América Latina. Dentro deste plano, além
dos meios de comunicação, como o rádio e o mercado fonográfico, foi possível observar
uma intensa campanha no mercado editorial de combate ao comunismo, como observou
Rodrigo Patto Sá Motta (2002). Nesta lógica, segundo o mesmo autor, “o anticomunismo começou a ganhar mais substância na mesma medida em que se dava o processo de expansão da influência do Partido Comunista” (MOTTA, 2002: 21).
O historiador Rodrigo Patto Sá Motta (2002), inclusive, em seu estudo Em Guarda contra o Perigo Vermelho: O Anticomunismo no Brasil (1917-1964), compreendeu que na história do Brasil tivemos três períodos de intenso movimento anticomunista no país: um nos anos 1930, no contexto da Era Vargas, principalmente entre os anos de 1934 e 1937, com acontecimentos como a Aliança Nacional Libertadora (ANL), a “Intentona” Comunista, o Estado Novo e o Plano Cohen; o segundo no contexto do pós-guerra mundial, nos anos 1940, cujo embate da Guerra Fria entre os Estados Unidos e a URSS se formou, principalmente entre os anos 1945 e 1947, momento de cassação do Partido Comunista do Brasil em 1947; e o terceiro momento que seria no período que antecede o golpe militar, indo de 1961 a 1964. Foi justamente no segundo momento enfatizado pelo historiador que se insere o livro O Bagageiro de Stalin, de Benedito Mergulhão.
Nestes diferentes contextos, é perceptível o papel que os intelectuais possuíram enquanto agentes sociais de combate ao comunismo, o que Rodrigo de Sá Pato Motta
(2002: 19) chama de intelectuais anticomunistas, que “seriam os indivíduos e grupos dedicados à luta contra o comunismo, pela palavra ou pela ação. A base de sua atuação estaria centrada, portanto, numa atitude de recusa militante ao projeto comunista. Ressalte-se, comunismo entendido como a síntese marxista-leninista originadora do bolchevismo e do modelo soviético”.
Benedito Mergulhão é um exemplo deste intelectual que se apresenta como anticomunista nos anos 1940. Contudo, ele deve ser compreendido como um exemplo, mas não como exceção. Visto que fazendo um breve levantamento das publicações neste mesmo período (1945-1947), é possível destacar outros livros e autores que trazem até pelos próprios títulos de suas obras esta ênfase anticomunista, a exemplo de A doutrina comunista (do coronel José Lessa Bastos); Os crimes do Partido Comunista (de Pedro Lafayette); Agonia do comunismo: greves, lágrimas, miséria e sangue (de Pedro Luís), publicados em 1946..
Ao observamos esse segundo momento do anticomunismo brasileiro enfatizado pelo historiador Rodrigo Patto Sá Motta (2002) é justamente o período dos primeiros anos do Governo Eurico Gaspar Dutra (1883-1974), militar de carreira, com um histórico de combate ao comunismo nos anos 1930, pois comandou a repressão à chamada “Intentona Comunista”, bem como apoiou o Estado Novo, golpe empreendido por Getúlio Vargas em 1937. (LEITE & NOVELLI JÚNIOR, 1983).
Eleito em 2 de dezembro de 1945, pelo Partido Social Democrático (PSD), em uma coligação com o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Eurico Gaspar Dutra assumiu em 31 de janeiro de 1946, governando até 31 de janeiro de 1951. Durante o seu governo, segundo Thomas Skidmore (2010) e Antônio Mendes de Almeida Júnior (2004), podemos destacar os trabalhos da Assembleia Nacional Constitucional, aprovada em 1946; e a intensa atividade política de organizações de classe, com diversas greves ocorridas principalmente entre os anos de 1946 e 1947., em grande parte devido à politica econômica liberal empreendida por Dutra, marcada pelo repressivo arrocho salarial contra as classes trabalhadoras, contribuindo assim para a perda de parte da renda do trabalhador brasileiro na época (FERREIRA, 2019).
Além disso, como vamos evidenciar mais à frente, a política de repressão política ao comunismo, que começou em maio de 1946 com o expurgo de todos os funcionários do governo que pertenciam ao Partido Comunista, chegando à suspensão oficial e depois cassação do registro do mesmo partido em 1947, coincidiu, justamente, com o começo da Guerra Fria (SKIDMORE, 2010). Isso porque para boa parte dos historiadores a Guerra Fria começou com a implantação da Doutrina Thuman., em 1947, e foi até a dissolução da União Soviética, no ano de 1991. Desta forma, os anos de 1945 a 1947 são compreendidos como antecedentes de uma maior tensão geopolítica entre a URSS e os Estados Unidos, quando cada potência vai formando suas áreas de influência política e econômica (HOBSBAWM, 1995; ARRIGUI, 1996).
3. Da crítica interna: o bagageiro de Stalincomo tentativa de materialização do sentimento anticomunista no Brasil dos anos 1940
Desta maneira, respondendo por um sentimento ainda não cristalino, veiculado por diversos intelectuais sob a demanda de maior institucionalização por parte dos meios competentes para tal, isto é, a imprensa e, logo, a burocracia de afirmação da intelectualidade à época, Benedito Mergulhão lançou-se numa aventura de tentar solidificar um sentimento tal como se apresentou pensado por escritores e jornalistas do seu tempo.
Ao remeter à dimensão de uma época sobre a produção da cultura, entendemos que a questão aqui levantada, limitando-se à crítica das ideias produzidas e circuladas à época, leva em conta o sentimento de grupos, de instituições e, portanto, de escritores envolvidos em experiências que traduzem a receptividade e a ressonância de ideias relacionadas ao modo como o anticomunismo está dimensionado na questão nacional ou, sobretudo, materializado enquanto estrutura de sentimentos sobre a produção material dos meios de vida e, logo, da própria cultura (WILLIAMS, 1979).
Quando dialogamos sobre hegemonia, relacionando-a ao modo como o Brasil foi pensado na metade do século XX, temos em mente que destacamos um momento em que havia um propósito político de circulação das ideias anticomunistas e que esse propósito permeia instituições, grupos e consciências, sendo tanto uma materialização
da produção do senso comum, como ainda um processo de “saturação” da consciência que, por fim, levaria a uma consciência subordinada sobre o anticomunismo em algum momento. Assim, “a hegemonia constitui, então, um sentido de realidade para a maioria das pessoas em uma sociedade, um sentido absoluto por se tratar de uma realidade vivida além da qual se torna muito difícil para a maioria dos membros da sociedade mover-se, e que abrange muitas áreas de suas vidas” (WILLIAMS, 2011: 53).
Compreendida deste modo, entendemos que a chamada “cultura residual” convive com uma cultura dominante ou hegemônica, no sentido trazido por Raymond Williams (2011) de maneira que, pela noção de hegemonia, compreendemos a incorporação de valores culturais, relações e experiências vivenciadas pelos sujeitos. Não adentraremos o processo segundo o qual a hegemonia da cultura dominante coopta relações residuais nas culturas emergentes por se tornarem emergentes de acordo com processos estruturais, porque este não é o fim do texto. O movimento ascendente nos leva a pensar em “tradições seletivas” e no modo como a consciência prática adquire significados com sentimentos espraiados e as experiências como sentido processual e naturalmente residual da consciência prática em movimento.
Se a experiência de Benedito Mergulhão e a de muitos outros intelectuais se coloca como uma “sábia palavra” para seus autores, o sentimento de formação do anticomunismo conviveu na metade do século XX como forma potencialmente residual em relação às ideias e sentimentos institucionalmente dominantes e já manifestos. Para Williams (1979), as estruturas de sentimento são experiências emergentes, sentimentos sobre ideias que nascem em grupos não-dominantes e não-institucionalizados que tomam o imaginário e inspiram os corações à busca (ou não) de uma institucionalização discursiva. De acordo com Soares (2011: 97), há uma “tentativa de apreender processos de emergência de experiências típicas que constituem um certo quadro geracional”. São ideias tal como sentidas, e sentimentos tal como processados e vividos na mente de seus postulantes, dando uma dimensão geracional, ou seja, de época, mas ao mesmo tempo de anteposição por forças vigentes e já institucionalizadas.
As estruturas de sentimento, uma vez que não tem de possuir uma forma político-partidária explícita, nem uma subordinação a redes burocráticas, circulam difusas como cristalizações possíveis do senso comum e da mobilização e experiências de grupos, e por isso mesmo, talvez, mais volúveis que a constelação da hegemonia. Desta maneira, Williams (1979) nos auxilia a entender como mudanças se processam de geração a geração, a partir destas ideias de época, sob o fito de compreender o que seria
um “ambiente de mudança” ou de permanência, em que o mundo se inspira e se solidifica como ideia.
Ao antepor o anticomunismo como ideia de época, Benedito Mergulhão destacou a materialidade consequencial do risco simbolizado por Luiz Carlos Prestes, dentre muitos outros, deixando-se influenciar pelo contexto internacionalmente marcado pela Guerra Fria. O discurso, não por outro motivo, foi de exaltação de virtudes patrióticas hegemônicas que levariam, em 1964, a uma clara e maior solidificação de suas ideias e práticas com a eclosão da ditadura civil-militar. A questão aqui ressaltada, entretanto, é a de que O Bagageiro de Stálin e Benedito Mergulhão surgem como prováveis forças residuais de um patriotismo à busca possível de novos sentidos para existir e coexistir com ideias comunistas do período. Requalificar o anticomunismo como tema vigente, potencialmente patriótico, significa mais do que lançar-se numa aventura vivenciada e sentida por grupos e intelectuais anticomunistas; significa tornar suas o anticomunismo possível, seja por cooptação da cultura dominante em relação a uma força ainda residual, mas emergente, seja por oposição sistemática a um
comunismo que, à revelia dos intelectuais e burocratas anticomunistas, buscava se
consolidar como patriótico, nacional e válido no sentido de existir ou de coexistir no
nível dos sentimentos nacionais e políticos, principalmente ao nível das instituições.
O Bagageiro de Stalin é uma reunião de artigos e palestras radiofônicas contra o comunismo, publicado em 1946 pela editora carioca Moderna. O livro foi prefaciado por Oscar Fontenelle, médico e escritor, membro da Academia Fluminense de Letras, conhecido por suas posturas anticomunistas desde os anos 1930. Como alguns paratextos que acreditamos serem importantes têm-se: o livro ainda é dedicado ao ministro da Justiça Carlos Luz. e ao general Álcio Souto., general do Exército e chefe do gabinete militar da Presidência, ambos subordinados à época ao Presidente da República, o militar Eurico Gaspar Dutra.
A obra é dividida em 18 curtos capítulos, que trazem citações de autores, principalmente teólogos e filósofos, que em algum momento traçaram alguma crítica ao comunismo. Escrita de maneira clara e direta, bem ao estilo jornalístico, traz ao longo
dos capítulos algumas notas de rodapé que esclarecem ou indicam algumas referências, em sua maioria citações de periódicos ou discursos políticos de parlamentares, sua principal fonte de pesquisa na elaboração textual.
O livro é praticamente um libelo contra Luiz Carlos Prestes, algo que fica evidenciado na capa e na ironia contida no próprio título da obra. Prestes é visto como mero divulgador das ideias de Joseph Stalin, um “carregador ou serviçal” que transporta as bagagens de Stalin, este responsável pelo governo soviético desde os anos 1920 até 1953 e um dos grandes vitoriosos da Segunda Guerra Mundial.
Vejamos a imagem da capa:
Na imagem, Luiz Carlos Prestes carrega, curvado, uma série de livros, malas e bombas, enquanto Stalin apenas observa. Prestes demonstra estar cansado e assustado com a situação. Há um caráter claramente caricatural, tanto em Prestes, como em Stalin. A imagem em si procura reforçar o próprio título da obra.
Josef Stalin (1878-1953) foi um revolucionário comunista e político soviético que governou a União Soviética da década de 1920 até sua morte em 1953, servindo como Secretário Geral do Partido Comunista da URSS de 1922 a 1952,
e como primeiro-ministro de seu país de 1941 a 1953. Mesmo presidindo um estado unipartidário, segundo Isaac Deutscher (1970), governava pelo sistema de pluralidade; centralizou o poder de maneira que o seu nome se tornou exemplo de um modelo autoritário baseado nas ideias do marxismo-leninismo, chamado assim de stalinismo. Em 1946, data da publicação do livro de Benedito Mergulhão, Stalin era visto por muitos como um dos heróis da Segunda Guerra Mundial, ao lado de outras lideranças que conseguiram acabar com as chances de novas configurações de nazi-fascismo no mundo. (DEUTSCHER, 1970). Já Luiz Carlos Prestes, recém-eleito senador, era visto nesse período como uma espécie de seguidor de Stalin, como uma das maiores lideranças comunistas no mundo (FERREIRA, 2002).
Benedito Mergulhão (1946) acusa Prestes de traidor, antipatriota, de representante de Stalin no Parlamento Brasileiro: “acusou-o de traição e de perjúrio. De haver confessado, com incrível desfaçatez, que pegaria em armas contra sua pátria se entrássemos em guerra com a União Soviética” (MERGULHÃO, 1946: 11). Em outro trecho, o mesmo Mergulhão (1946) afirma: “o bagageiro do camarada Stalin trai a sua
pátria, menospreza a sua bandeira, insulta a dignidade de um povo e ainda lustra e
esquenta, cinicamente, uma cadeira no parlamento, protegido pelas leis democráticas
que tornaram legitima a vida escusa do Partido Comunista” (MERGULHÃO, 1946: 12). Ao todo são dezenas de expressões pejorativas, direcionadas ao chamado Cavaleiro da Esperança: comediante, mau elemento, agente perturbador, servo e
soldado de Stalin, aventureiro, degenerado, ex-cavaleiro da esperança.
Vamos esclarecer alguns pontos históricos ocorridos entre os anos de 1945 e 1946, para que o leitor compreenda melhor as acusações de Benedito Mergulhão a Luiz Carlos Prestes. O PCB concorreu à eleição de 1945, com deputados, senadores, governadores e Presidente da República, depois de uma luta para conseguir o registro legal junto à Justiça Eleitoral Brasileira. Desde sua fundação, em 1922, o partido passou por raros períodos de legalidade.. Para conseguir seu registro em 1945, o partido fez uma série de concessões. Nas palavras de Daniel Aarão Reis (2014: 234):
“prudentemente, eliminam-se as referências ao marxismo-leninismo e ao comunismo. Nos estatutos apresentados à Justiça Eleitoral, ao Partido dizia-se fiel à unidade, à democracia e ao progresso da pátria”.
Luiz Carlos Prestes, depois de nove anos de prisão e de uma série de campanhas para sua libertação, inclusive em nível internacional, foi eleito senador pelo Distrito Federal (Rio de Janeiro) com 157.397 votos, na época a maior votação da história política brasileira, além de ter sido eleito deputado federal por três estados diferentes: Distrito Federal, Pernambuco e Rio Grande do Sul. Tal anomalia era prevista pelas regras eleitorais brasileiras do período. Prestes optou pela vaga de senador da República.
No contexto político brasileiro, para o Governo Eurico Gaspar Dutra a ascensão do PCB no Brasil tornou-se um problema. Nas palavras de Thomas Skidmore (2010: 99) os comunistas fizeram uma “oposição implacável”, foram os principais críticos de várias cláusulas incluídas na Constituição de 1946. Além disso, o partido encontrava terreno fértil nas cúpulas de muitos sindicatos operários, criando uma onda de greves que marcaram principalmente nos dois primeiros anos do Governo Dutra.
Por isso, com Prestes eleito, a bancada comunista sofreu com as pressões da imprensa da época, com as acusações contínuas por parte da imprensa e dos adversários políticos de outros partidos como a UDN (União Democrática Nacional). Durante o ano de 1946 foi debatida a Constituinte, da qual os comunistas estiveram quase sempre isolados em suas propostas.
Em um dos debates sobre uma possível guerra entre EUA e URSS, os comunistas foram indagados sobre o que fariam. Prestes respondeu que, nesse caso, os comunistas agiriam à semelhança da Europa durante a Segunda Guerra Mundial: lutariam contra seus governos e contra a guerra de caráter imperialista, a favor dos interesses do povo e dos trabalhadores. Foi quando o deputado da UDN da Bahia, Juracy Magalhães, indagou: o que faria Prestes se o governo brasileiro declarasse guerra à Rússia? Ficaria do lado do Brasil ou da Rússia?
Ao responder, Prestes afirmou que neste caso também era uma guerra imperialista e ele e os comunistas lutariam com o povo e contra o governo brasileiro. A partir daí, os meios de comunicação passaram a acusar Prestes de antipatriota. Nas palavras de Daniel Aarão Reis:
Naquela arquitetura simplificada, própria das armadilhas parlamentares, surgiu um eixo propagandístico que se estendeu pelos tempos, municiando as forças conservadoras e dificultando o trabalho político dos comunistas. A polêmica evidenciava um proposito: caracterizar os comunistas como estrangeiros, planta exótica que precisava ser arrancada. Pela raiz. (REIS, 2014: 237-238)
Compreendemos, assim, que Benedito Mergulhão faria parte deste plano, pregando não apenas a desconstrução da imagem pública de Luiz Carlos Prestes, como também a extinção do Partido Comunista do Brasil, visto que seus interesses não seriam os do Brasil.
A tese de Benedito Mergulhão (1946) era de que o acontecimento desmascarava definitivamente Luiz Carlos Prestes:
Moscou é o tabú. Stalin, o Deus de Prestes, o seu chefe supremo, a sua bandeira, o seu ideal de luta. Enquanto foi possível, no cenário internacional, relações compreensivas entre o Kremlin e o governo brasileiro, o ex-
„Cavaleiro da Esperança‟ conservará os seus ares inocentes de bom moço; mas, desde que o Brasil se atreva a contrariar Stalin, Prestes mostrará os dentes, rosnará, assanhando a matilha de molossos que nos morderá os calcanhares (MERGULHÃO, 1946: 22).
Em outro momento da narrativa, Benedito Mergulhão afirma: “Prestes, era a mística, a lenda, a exaltação sentimental das massas. O homem que povoava de ideias e sonhos moderados a imaginação dos que anteviam como um salvador”. Continua: “livre, desmascarou-se”, e conclui: “era um gigante e se transformou-se num pigmeu” (MERGULHÃO, 1946: 26).
É neste mesmo momento que Mergulhão acusou Luiz Carlos Prestes de megalomaníaco e em outro trecho, de louco e psicótico. A principal tese de Benedito Mergulhão (1946), portanto, é a de que Prestes não passaria de um agente infiltrado dos russos, não tendo uma opinião própria: “e Prestes não esconde que seu amo é Stalin. É o seu Deus. A sua bandeira. O seu senhor. Fala, em nome dele, o que mandam falar. Toca-discos de carne e osso” (MERGULHÃO, 1946: 69).
Rodrigo Patto Sá Motta (2004), em um dos poucos estudos em que cita o livro O Bagageiro de Stalin, vemos a confusão comum que a obra traz entre o Partido Comunista Brasileiro e o próprio Luiz Carlos Prestes: “devido à condição de líder maior
do comunismo brasileiro, durante várias décadas Prestes teve sua imagem confundida com o próprio partido, e, por isso mesmo, sua figura foi bastante utilizada nas representações anticomunistas” (MOTTA, 2004: 104).
É interessante observamos que na época da publicação do livro O Bagageiro de Stalin, de Benedito Mergulhão, foram lançadas duas obras que marcaram a tentativa de construção do mito de Luiz Carlos Prestes, o romance biográfico O Cavaleiro da Esperança, lançado no Brasil em 1945, da autoria de Jorge Amado10 e o ensaio sociológico Prestes e a Revolução Social, de Abguar Bastos, publicado em 1946, ambos os autores intelectuais comunistas e membros do PCB.
De acordo com Jorge Ferreira (2002), a prisão de Prestes trouxe para boa parte dos brasileiros uma comoção social causada pelos seus suplícios na cadeia durante o período de 1936 e 1945, alimentando ainda mais a ideia de um mito político11. A partir de sua libertação, ocorrida no contexto de término da Segunda Guerra Mundial (1939- 1945) e do fim da ditadura do Estado Novo (1937-1945), Luiz Carlos Prestes ganhou, segundo o mesmo Jorge Ferreira (2002), uma mudança significativa na sua imagem política, sofrendo uma modelagem através de “uma campanha sistemática e coordenada de enaltecimento e de culto à personalidade por parte dos militantes, dirigentes e meios de comunicação comunistas” (FERREIRA, 2002: 249).
No romance O Cavaleiro da Esperança, encontramos, por exemplo, um cântico de luta a favor da anistia e Luiz Carlos Prestes é apresentado com sua dimensão lendária. Jorge Amado (2011) arremata a narrativa, por exemplo, conclamando o povo brasileiro a lutar pela liberdade do seu herói:
Quando amanhã ele partir novamente no seio do povo, amiga, as noites serão doces noites de amor, nas areias do cais os ais serão suspiros de amantes. Na noite de hoje, de tristeza e de dor, gritemos pela sua liberdade. Levanta a tua
voz, clama comigo, com toda a gente do cais, com todos os povos livres do mundo, clama até que teu grito seja ouvido:
- LIBERDADE PARA LUIZ CARLOS PRESTES! (AMADO, 2011: 350).
Abguar Bastos (1986), quase na mesma lógica, enfatiza a mitificação de Prestes em um capítulo intitulado O Herói e o Mito, no qual a Coluna Prestes é ressaltada: “ele encarna o herói guerreiro libertador, sem símile, pelo fantástico das aventuras e arrojo dos planos. Não se vira coisa igual em audácia, vastidão e glória” (BASTOS, 1986, p.146).
Cito estes dois exemplos para compararmos rapidamente os discursos de Jorge Amado e Abguar Bastos, com o de Benedito Mergulhão, compreendendo que no mesmo período houve estes dois movimentos justapostos, de afirmação e negação do mito político revolucionário de Luiz Carlos Prestes. Enquanto nos dois autores Prestes é visto como exemplo de moral e virtude, além de um defensor responsável do Brasil, na perspectiva de Mergulhão é visto como um homem cheio de vícios e o mais importante: um traidor da pátria.
Considerações finais
Desta maneira, a partir da crítica externa/interna realizada da obra O Bagageiro de Stalin, partindo da perspectiva da operação historiográfica de Michel de Certeau (2008), foi possível perceber a proposta do autor, o jornalista e escritor carioca Benedito Mergulhão, em construir um projeto intelectual e político de desconstruir as ideias comunistas, em especial a figura pública de Luiz Carlos Prestes como emblema desta estrutura de sentimentos anticomunistas, presente na época.
As dedicatórias, como expressões para-textuais, sugerem uma vinculação ideológica com círculos intelectuais e políticos anticomunistas atuantes no âmbito do governo federal em 1946, o que explica, por exemplo, as dedicatórias aos ministros do governo Eurico Gaspar Dutra: Carlos Luz e Álcio Souto. O Bagageiro de Stalin, mesmo com seu caráter circunstancial enquanto obra, apresenta-se como uma estratégia de maior vinculação de combate não apenas ao PCB, na época bastante atuante, como à sua principal liderança, Luiz Carlos Prestes.
Ao imprimir suas ideias em formato de livro, Benedito Mergulhão visou colaborar com os propósitos que desencadearam pouco tempo depois na cassação do registro do PCB junto ao Tribunal Superior Eleitoral em 07 de maio de 1947, através da resolução 1.841. Um sentimento que foi reivindicado por parte da sociedade, que via no comunismo algo a ser temido, combatido, erradicado. Na visão de Benedito Mergulhão (1946: 32), “ser combatido por hostilizar o comunismo é um título de glória para qualquer brasileiro que se preze”.
Desta maneira, ao compreendermos as condições que possibilitaram as críticas do autor ao comunismo no contexto do Pós-Segunda Guerra, enfatizando as denúncias dedicadas ao político Luiz Carlos Prestes (1898-1990), percebemos suas representações de escrita e de ordens cronológicas, bem como a lógica do sentimento anticomunista na época a dominar autores e instituições. O Bagageiro de Stálin e Benedito Mergulhão, portanto, surgem como prováveis forças residuais de um patriotismo na busca possível de novos sentidos para existir, coexistir ou resistir a ideias comunistas do período.
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Fontes
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Notas
da promulgação da nova Constituição (18 de setembro de 1946), baixou um decreto proibindo o direito de greve.
no Uruguai. Em 1945 tornou-se chefe do Gabinete Militar durante a Presidência de Eurico Gaspar Dutra.
legalidade durou poucos meses. Em cinco de julho, com o levante do Forte de Copacabana e a subsequente decretação do estado de sítio, o Partido foi fechado, embora não estivesse comprometido com o levante militar. Depois desta data, até 1945, o PCB conheceria apenas mais um breve período de existência legal. Entre janeiro e agosto de 1927. (RODRIGUES, 2004)
Estudando a realidade francesa dos séculos XIX e XX, o historiador desenvolveu uma teoria elaborando quatro tipologias de arquétipos míticos ou modelos de heróis: o gravitas, o celeritas, o legislador e o Moisés ou o arquétipo do profeta. O modelo gravitas seria o herói que apresenta a firmeza na provocação, a experiência, a prudência, a moderação. Já o herói celeritas é aquele no qual seu poder não vem do passado e sim se inscreve na ação imediata, num convite à aventura. No que se refere ao herói legislador, que é o fundador de uma nova ordem social, sendo um homem providencial. Por último, temos o herói Moisés ou o arquétipo do profeta, que anuncia o novo tempo, sempre numa espécie de impulso sagrado, guiando o seu povo para o futuro. Prestes é enfatizado com estas características em vários textos.