Artigo

Corporeidade e práticas corporais: (des)encontros na produção científica brasileira

Letícia Rodrigues Teixeira e Silva Silva
Universidade do Estado de Minas Gerais, Brasil
Nárgila Mara da Silva Bento Bento
Universidade de Brasília, Brasil
Natália Heringer Mendonça Mendonça
Universidade e Estrasburgo, Francia
Ester Geraldo Torres Torres
Universidade de Brasília, Brasil
Dulce Maria Filgueira de Almeida Almeida
Universidade de Brasília, Brasil

Práticas Educativas, Memórias e Oralidades

Universidade Estadual do Ceará, Brasil

ISSN-e: 2675-519X

Periodicidade: Frecuencia continua

vol. 5, núm. 1, 2023

rev.pemo@uece.br



Resumo: O trabalho investiga a suposta indefinição existente entre “práticas corporais” e “corporeidade” em textos acadêmicos nacionais. Indagamos se e como ambas estão relacionadas na produção disponibilizada pelo Portal de Periódicos Capes. Objetivamos averiguar os nexos entre esses termos em nossa produção científica. Realizamos uma busca de documentos revisados por pares com os descritores corporeidade AND “práticas corporais” OR “prática corporal”, resultando 28 artigos. O tratamento dado à expressão “práticas corporais” está em conformidade às definições de Lazzarotti Filho et al., (2010) e Gozalez e Fensterseifer (2014); já a corporeidade segue a definição de Csordas (2009). Tanto corporeidade quanto práticas corporais aparecem como vivências, experiências e práticas de um corpo culturalmente referenciado. Concluímos que ambos os termos ligam-se a aspectos socioculturais, fazendo-se necessário aprofundar a delimitação dessas noções.

Palavras-chave: Corpo, Teoria, Produção de conhecimento, Educação Física.

Abstract: We investigate the supposed lack of definition of embodiment and bodily practices that appears in Brazilian published studies. That indeterminacy opens to closer inspection whether both terms are intertwined through studies available on Capes Periódicos website laying out their peculiar features. Once these studies have been peer-reviewed and accepted, we manage a search of the keywords: “embodiment” AND “bodily practices” OR “body actions”, reaching 28 articles. The terms are viewed in the manner of Csordas (2008) and Lazzarotti et al., (2010)/González and Fensterseifer (2014). Both notions are in line with a clustering of lived-through meanings far beyond the mere and constrained biological view of the human body. Finally, the national research needs a deeper clarification about these notions, which seem to be subject to variations in different cultural contexts.

Keywords: Body, Theory, Knowledge production, Physical Education.

1 Introdução

Este trabalho surge em um grupo de pesquisa que se dedica ao estudo do corpo, que tem sido objeto de diversas discussões ao longo da história (RODRIGUES; COUTO, 2020). Investigamos, nas perspectivas da Educação Física e das Ciências Sociais, a suposta indefinição da relação entre a corporeidade e as práticas corporais na literatura acadêmica brasileira. Suas definições não são consensuais entre os autores por nós estudados. O termo corporeidade é largamente utilizado, apesar de não haver densidade sobre a sua definição, sendo confundido com o termo corporalidade (SOARES; KANEKO; GLEYSE, 2015). Por outro lado, a corporeidade constitui uma agenda de pesquisa construída por Csordas (2008) que, no capítulo 9 do livro Corpo/Significado/Cura, intitulado “modos somáticos de atenção”, tece a relação entre ela, o corpo e as técnicas corporais. Quanto às práticas corporais, só recentemente o termo foi dicionarizado na Educação Física brasileira por González e Fensterseifer (2014). Segundo Lazzarotti Filho et al., (2010), as práticas corporais são formadas pelo conjunto de técnicas – evidenciando que as técnicas estão presentes tanto na corporeidade quanto nas práticas corporais. Indagamos se (e como) a corporeidade e as práticas corporais estão relacionadas na produção científica disponibilizada pelo Portal de Periódicos Capes com o objetivo de averiguar possíveis nexos entre os termos no âmbito da produção científica brasileira e apontá-los. Para tanto, apresentaremos o texto com as seguintes divisões: a) descrição do caminho metodológico; b) artigos acessados; c) discutimos separadamente cada uma das temáticas; d) analisamos seus (des) encontros e e) apresentamos as conclusões.

2 Metodologia

Realizamos uma pesquisa qualitativa, do tipo bibliográfico no portal de Periódicos Capes, um dos maiores bancos que armazena e divulga informações científicas, em especial, na América Latina e integra a Web of Science desde 1999 (PAULA NETO, 2005). O acesso ao Portal foi disponibilizado por uma universidade estadual. Buscamos artigos revisados por pares contendo os descritores “corporeidade” AND “práticas corporais” OR “prática corporal”, resultando 115 artigos, dos quais foi possível fazer o download de 50 deles. Não houve recorte temporal, todos os artigos foram levados em consideração. Após baixados, realizamos uma leitura flutuante dos artigos, buscando identificar se trabalhavam, em sua centralidade, com ao menos uma das duas categorias em vista, de forma que a outra poderia ter sido trabalhada de maneira periférica. Foram constatados 6 artigos em duplicidade, então excluídos. Os 16 artigos que não continham nenhuma das duas categorias como temáticas centrais também foram excluídos. O caminho percorrido na busca das publicações encontra-se elucidado pelo seguinte fluxograma:

Processo de seleção de trabalhos para análise final.
Fluxograma 1
Processo de seleção de trabalhos para análise final.
Fonte: Autoria própria (2023).

Os artigos datam de 2003 a 2020. Após a consulta, realizamos o preenchimento de uma ficha de leitura que continha os seguintes tópicos: a) temática central do artigo esclarecendo o objetivo e a metodologia utilizada, b) como o autor trabalha a temática das práticas corporais e com quais autores ele dialoga; c) como o autor trabalha a temática da corporeidade e com quais autores ele dialoga.

Quadro 1
Detalhes e principais resultados dos artigos selecionados para análise
NTítulo
1Subjetividade, corpo e intercorporeidade a partir da fenomenologia de Merleau-Ponty (FRANCO; SANTOS; CAMINHA, 2020)
2Corporeidad, motricidad y propuestas pedagógico-prácticas en aulas de educación infantil (GAMBOA-JIMÉNEZ et al., 2020)
3“Imagina ela nua!”: Experiências de mulheres que se autodeclaram gordas (MENEZES; FERREIRA; MÉLO, 2020)
4Performance and disability: ways to health reinvention (SANTOS; MOREIRA; GOMES, 2020)
5O que pode o corpo? Corpografias de resistência (ÁVILA; FERLA, 2017)
6Revigoramento, rejuvenescimento e aperfeiçoamento do corpo: culturas somáticas na sociedade portuguesa contemporânea (FERREIRA, 2017)
7Discurso e poder: A prescrição do controle corporal em blogs plus size (TAVARES; de CASTRO, 2017)
8A emersiologia do corpo vivo na dança contemporânea (ANDRIEU; NÓBREGA, 2016)
9Corpo, dança e cinema: a extensão universitária como locus da formação de professores (COSTA; DANTAS, 2016)
10O sofrimento e a dor como constituintes da beleza esportiva: reflexões para a educação (CAVALCANTI; PORPINO, 2015)
11Práticas assistenciais em saúde mental na atenção primária à saúde: análise a partir de experiências desenvolvidas em Florianópolis, Brasil (FROSI; TESSER, 2015)
12Um corpo de cartógrafo (LIBERMAN, LIMA, 2015)
13Sem começo e sem fim… com as práticas corporais e a Clínica Ampliada (MENDES; CARVALHO, 2015)
14Do corpo produtivo ao corpo rascunho: aproximações conceituais a partir de relações entre corpo e tecnologia (ALMEIDA; WIGGERS; JUBÉ, 2014)
15A emersão do corpo vivo através da consciência: uma ecologização do corpo (ANDRIEU, 2014)
16Corpo, Cinema e Educação: cartografias do ver (LIMA NETO; NÓBREGA, 2015)
17Esporte como experiência estética e educativa: uma abordagem fenomenológica (SILVA; PORPINO, 2014)
18Marcas no corpo, cansaço e experiência: nuances do envelhecer como professor de Educação Física (LÜDORF; ORTEGA, 2013)
19No rastro do que transtorna o corpo e desregra o comer: sentidos do descontrole de si e das compulsões alimentares (NUNES; BITTENCOURT, 2013)
20Topologias dos corpos de homens gays: deslocamentos na produção de sensibilidades biopolíticas (SANTOS; ZAGO, 2013)
21Dismorfia muscular: A busca pelo corpo hiper musculoso (AZEVEDO et al., 2012)
22Educação e corporeidade: um novo olhar sobre o corpo (FREIRE; DANTAS, 2012)
23Uma discreta dança da resistência: corpo, arte e subjetivação na oficina de criatividade de um hospital psiquiátrico (TESTA, 2012)
24O caminho do retorno: envelhecer à maneira taoísta (BIZERRIL, 2010)
25História e esporte: leituras do corpo no filme “Dogtown and z-boys” (BRANDÃO, 2009)
26Corpo e formação de professores de Educação Física (LÜDORF, 2009)
27Interfaces entre saúde, lazer e educação: reflexões sobre práticas corporais (MENDES; MEDEIROS, 2008)
28Educação Física na escola: uma proposta de renovação (BRAID, 2003)
Fonte: Autoria própria (2023).

Esta pesquisa utilizou a análise por categorização de Bardin (2011), cujos passos incluem codificar, interpretar e avaliar dados. Detectamos, na fase de revisão, outros trabalhos sobre corporeidade e práticas corporais que não apareceram nesta pesquisa. Entendemos o ocorrido como uma limitação metodológica, pois o acesso disponibilizado pela universidade estadual, como o de cada instituição, não veicula toda a produção acadêmica existente, tratando-se de a bases de dados extensas, porém, não exaustivas.

3 Resultados e Discussão: entre práticas corporais e corporeidades

Apresentaremos, de modo analítico, o debate contido nos textos obtidos. Iniciaremos com a temática das práticas corporais de maneira isolada. Em seguida, passaremos à corporeidade. Por fim, apontaremos se existe uma relação entre ambas e como ela acontece, visando a evidenciar os pontos de aproximação e distanciamento entre elas.

3.1 Práticas Corporais: por uma equação de sentido

É possível observar pontos de encontro e desencontro entre as definições atreladas ao termo práticas corporais. O campo científico aponta uma necessidade de precisão maior que a utilizada pelo senso comum (SILVA, 2014). Percebe-se que o termo é usado de forma intuitiva nos primeiros anos do século XXI e, mais consolidado, após sua primeira década. Na Educação Física brasileira, o início da consolidação referente às práticas corporais deu-se no estudo de doutorado da pesquisadora Ana Márcia Silva em 1996 que, posteriormente, traçou parcerias, desenvolvendo paulatinamente a construção da terminologia que foi dicionarizada por González e Fensterseifer (2014). Uma das definições formuladas por Ana Márcia Silva realiza uma teorização do conjunto de práticas que se refere ao corpo como um objeto cultural. Ela entende que as práticas corporais configuram um símbolo linguístico que, como tal, reúnem distintas manifestações sociais em uma terminologia conceitual, isto é, atributos de realidades sociais vividas ou experienciadas são transmutadas em linguagem teórica (SILVA, 2014). Segue uma tentativa de conjunção entre as definições levada à dicionarização:

Explicitam-se principalmente no corpo e pelo movimento corporal; Foram/são constituídas por um conjunto de técnicas disponíveis em determinado tempo histórico e organizadas a partir de um saber, uma lógica específica; Foram/são construídas a partir de interações sociais determinadas que lhes conferem um significado coletivo; São desenvolvidas com determinadas finalidades e significados subjetivos, os quais dialogam com a tradição que as organiza; Pressupõem determinados objetos para sua realização, sejam eles materiais, equipamentos e/ou espaços; São sistematizadas principalmente para o tempo livre ou do não trabalho, ainda que possam ter origem no trabalho e possam ser desenvolvidas como trabalho; Apresentam um componente lúdico; Em geral, implicam um grau de dinamicidade, elevando a movimentação corporal com atributos como agilidade e energia (GONZALEZ; FENSTERSEIFER, 2014, p. 525-526).

A proposição é formular uma equação de sentido com três partes distintas: o significante ou referente com suas características e adicionar um atributo predicável. No caso, o termo prática corporal deveria ser usado com atributo adicional, como alternativas esportivas, religiosas, indígenas, entre outras (o que resolveria parte das discordâncias). O termo prática corporal nos textos encontrados, assim como identificado por Silva (2014), raramente é definido. Apenas dois artigos preocupam-se em definir as práticas corporais. A maioria atém-se a uma definição rasa e/ou à exemplificação. Outros apenas o mencionam sem se ater a qualquer tipo de referência. Em três deles (1, 3 e 26), é mencionado apenas nos referenciais teóricos utilizados para discutir outro assunto. Os trabalhos que se preocupam com a definição são relativamente recentes, quais sejam: 13 e 27. O primeiro usa a terminologia como um conceito-chave, compreendido como

“práticas de saúde e cuidado [que] podem contribuir para que o profissional e o grupo ressignifiquem as relações de poder internas e externas do grupo” (MENDES; CARVALHO, 2015, p. 608)

associada a diferentes ideias como: dispositivo de saúde; práticas contextualizadas nas ciências humanas e sociais e produção de subjetividades; passíveis de aproximação com outros saberes e práticas, como a cinesiologia, a fisiologia do exercício, a atenção básica e a produção do cuidado; mediadoras da relação entre conteúdos relativos aos cuidados com o corpo (serviços e necessidades dos usuários dos serviços de saúde); campo de problematização da perspectiva que associa as práticas corporais ao mero condicionamento físico e ao gasto de calorias, ampliando seu escopo para considerar o potencial das práticas corporais para fazer emergir afetos, emoções e memórias; e com a capacidade de contribuir para ampliar a visão sobre o trabalho com o corpo, tendo como norte a produção de autonomia e cuidado. No artigo 27, a discussão desenvolve-se em torno das práticas corporais. Recorre-se a Mendes (2007) para afirmar que trazem benefícios ao corpo; a Silva e Damiani (2005a), contra a visão instrumentalizada do corpo bem como para afirmar que são interessantes para desenvolver uma atuação rumo ao lazer, à qualidade de vida e à saúde e apropriam-se de Nóbrega (2005) para reiterar os aspectos anteriormente destacados. Também se referem às práticas corporais alternativas para exemplificar o conceito (tai chi chuan, eutonia, antiginástica, danças circulares, capoeira etc). Percebe-se que os artigos não se enquadrariam facilmente em uma única categoria, sempre se relacionado a questões complexas, especialmente porque visam a abrandar a concepção biologicista que a modernidade possui a respeito do corpo. As práticas corporais podem-se materializar em elementos bem definidos pela cultura. Um exercício interpretativo sobre a construção textual pode levar a compreensões sinônimas ou relacionais. Lazzarotti Filho et al. (2010) dividiram-nas conforme a tipologia abaixo que usamos para agrupar os textos obtidos, acrescida das duas últimas categorias do quadro.

Quadro 2
Terminologia relativa às práticas corporais
TipologiaObras
Diferente de esporte2 e 10
Esporte17 e 25
Atividade Física11 e 13
Categorias alternativas5,14 e 24
Cultura corporal8,9, 22 e 28
Cotidiano4, 6, 7, 15, 19 e 21
Saúde18, 23 e 27
Não relacionado a qualquer tópico anterior12 e 16
Fonte: Autoria própria (2023).

Tal categorização levanta várias inquietações, a começar, pelos artigos 12 e 16, que abordam a cultura. O texto 16 refere-se especificamente à cultura urbana de movimento, enquanto o 12 traz uma definição por negação que aparece em Lazzarotti Filho et al. (2010) em relação ao esporte, estendendo-se a outros elementos. Observamos ainda a relação com a saúde sem a referência da atividade física e em espaços diferenciados. Por último, a relação com a especificidade do cotidiano expressa em cada um dos artigos fazem-nos repensar um dos aspectos levantados na definição dicionarizada. O referido grau de dinamicidade que eleva a movimentação corporal com atributos como agilidade e energia (GONZALEZ; FENSTERSEIFER, 2014) não consegue ser uma característica para os termos que são empregados nos artigos 7, 15 e 19. As práticas diversificadas que incluem o deixar de fazer (7, 15, 19) como o não se alimentar (7 e 19) ou não se intoxicar (15). Faz-se, portanto, necessária uma análise minuciosa para que compreendamos que o termo também se opõe à agitação ou ao movimento. É notório que os dois trabalhos abordam as práticas corporais com mais profundidade e apenas um deles realiza o diálogo com a literatura: o 27. A discussão de Mendes (2007) fixa-se sobre o entendimento do corpo na sua relação com a saúde, sendo o termo práticas corporais utilizado em contextos em que existem críticas à visão fragmentada sobre a existência corporal humana, vista sob a ótica empírico-analítica. Reitera-se, na discussão que é estabelecida com a produção 27, o debate com diferentes áreas do conhecimento visando a vivências que expressem uma condição humana ampla através do diálogo com conhecimentos socioculturais que fundamentam a compreensão de corpo e que geram práticas autônomas e significativas nos âmbitos de saúde e lazer. Por fim, não pudemos conferir a fundamentação realizada por Nóbrega (2005), pois não foi possível acessar a obra original. Salienta-se o argumento segundo o qual as vivências que acontecem com e no corpo não podem ser acessadas por vias únicas, mesmo que predominantes, que fundamentam as práticas de saúde e lazer na modernidade. No diálogo com a literatura, entre os artigos que carecem de uma abordagem interpretativa, temos os numerados por 7, 10, 16, 20, 21, 24 e 26 que se valem de alguma autoria para desenvolver suas análises ou relações a respeito das práticas corporais. Nas produções número 10, 16 e 20, o termo parece atrelado aos autores com os quais os diálogos são feitos. O artigo 10 reproduz tal qual Fraga (1999), enquadrando-o como inerente à vida cotidiana. Ao consultar Fraga (1999), percebe-se um discurso sobre os saberes que informam o corpo, sendo que a discussão a respeito de uma identidade juvenil que marca o corpo toma o centro, dando a entender que as práticas corporais aparecem por causa do movimento linguístico de referenciar o corpo em um contexto de atuação identitária. Nóbrega (2011) é a referência da obra 16 que é empregada em um exercício de relacionar as práticas corporais aos usos do corpo numa configuração cultural. Mas não foi possível acessar o texto de Nóbrega (2011) para traçar interpretações a respeito do diálogo realizado. No artigo 20, o termo aparece como categoria dada e copiada literalmente de Sibilia (2009), cujo texto permite delinear reflexões. Ambos discorrem sobre a existência de uma moralização de práticas corporais que podem ser entendidas também como conjunto de ações e condutas construídas socialmente que impactam diretamente no corpo, sendo que para Sibilia (2009) tais engajamentos são perceptíveis em nível material ou imagético. O uso da palavra ocorre numa tentativa de tornar o que pode ser percebido rapidamente como elementos materiais ou energéticos como elementos reflexivos ou de passividade existentes em uma compreensão social. Nesse mesmo sentido, a produção 21 faz uma leitura de Pereira, Doimo e Kowalski (2009) ao referenciar o termo, não ficando claro se foi originalmente empregado pelo texto de referência. Ao fazer a transição para o original, vemos que seu uso foi influenciado pelo diálogo com a literatura, pois o discurso estético a respeito do corpo realizado por aqueles o evoca a todo o momento. Foi apontado que a forma como o termo é utilizado pode conter a característica energética contemplada no verbete disponibilizado pelo Dicionário Crítico da Educação Física, mas que ainda dentro das publicações que realizam o diálogo com a área identificam-se elementos que não apontam para essa compreensão como anorexia (PEREIRA; DOIMO; KOWALSKI, 2009) e bronzeamento (SIBILIA, 2009). Em nota de rodapé da produção 24, as práticas corporais são vinculadas à transmissão da tradição através da leitura de outro artigo de Bizerril (2005). Nesse texto com o qual a produção 24 dialoga, intitulado mestres do tao: tradição, experiência e etnografia, argumenta-se que a experiência corporificada é o principal canal de transmissão da tradição taoísta no Brasil, sendo as práticas corporais entendidas como um elemento que não faz distinção entre teoria e prática. Ambos os textos são de autoria do mesmo pesquisador e enfatizam a relação do termo com a cultura taoísta. O artigo 7, ao se referir ao conjunto de práticas corporais incentivadas por blogs e a prática alimentar, usa Foucault (2004) para argumentar a favor dos elementos morais e sociais vinculados ao corpo permitindo dar um sentido que extrapola o entendimento material a fim de relacionar o corpo socialmente informado às práticas corporais. O texto caminha na construção desse entendimento de prática corporal sob o questionamento de Foucault (2004) dos saberes que são referenciados ao corpo, visto que o autor francês não discorre especificamente sobre as práticas fundamentadas no corpo. O artigo 26 ampara-se em Vaz (2002) para aproximar as práticas corporais e a cultura corporal. Vaz (2002) encontra-se preocupado com as formas pelas quais o corpo não só se apresenta, mas também se expressa no ambiente escolar. São realizadas exposições que colocam o entendimento de educação do corpo e das técnicas corporais em diálogo com o que pode ser chamado de práticas corporais escolares. Segundo os autores com os quais os artigos dialogam, as práticas corporais apresentam uma necessidade de ir ao encontro de conhecimentos socioculturais que embasam não somente as práticas, mas também o corpo, bem como anunciam uma aproximação de vivências, experiências e práticas a um corpo culturalmente referenciado, sendo que o movimento que se faz rumo à interdisciplinaridade passa necessariamente pelo entendimento de corpo (FRAGA, 1999; VAZ, 2002; FOUCAULT, 2004; BIZERRIL, 2005; PEREIRA; DOIMO; KOWALSKI, 2009).

3.2. Corporeidade: uma questão paradigmática

Compreende-se a corporeidade como um fenômeno social e cultural. Autores como Csordas (2008) e Le Breton (2007) tratam da corporeidade como um fenômeno cultural que se relaciona ao corpo e demarca suas singularidades. Por outras palavras, o corpo é um local de trocas que, por meio dos sentidos, vai constituindo uma subjetividade. Para Le Breton (2007), o corpo é um vetor semântico, um local de transições, combinando-se aos símbolos e representações por meio de experiências. Promove ligações, incluindo as que se estabelecem entre sujeitos vividos como, por exemplo, um “emissor” e “receptor” de sentidos. Assim, o corpo e a corporeidade entrelaçam-se, sendo concebidos como um emaranhado de sensações, representações e signos de determinado grupo no espaço social. O autor defende uma agenda de pesquisa que perpassa por contextos distintos, levando à compreensão de que o corpo não pode ser entendido como objeto isolado, mas imerso em dinâmicas que não cessam de atuar sobre ele. Csordas (2008) também compreende que estudar a corporeidade exige esforço metodológico e investigativo devido a sua complexidade. Para tal, o capítulo “a corporeidade como um paradigma para a antropologia” relaciona as teorias de Bourdieu e de Merleau-Ponty. Para o autor, o experienciamento é vital para entender a corporeidade, pois o corpo é a base da existência humana. Ele permite a experiência no sentido literal: vive-se através do corpo. A experiência corpórea concede a prática humana, sendo por ela e por meio dela que nos tornamos humanos. É o acumulado da cultura vivida por cada sujeito que se revela pelo corpo e assim se projeta no mundo. O corpo é visto de modo fenomenológico, com linguagens distintas e manifestações corporais polissêmicas. A corporeidade traduz-se então pela cultura atrelada ao corpo, trazendo consigo significados e sensações de determinada cultura em um dado momento. Assim, a corporeidade é concebida pelo autor como um paradigma hermenêutico, que colapsa as metodologias explicativa e compreensiva, reunindo tanto os aspectos gerais quanto particulares da existência. Partindo da ideia de que “o corpo não é um objeto a ser estudado em relação à cultura, mas é o sujeito da cultura” (CSORDAS, 2008, p.102), o paradigma da corporeidade propõe que o modelo de compreensão de fenômenos corporais caracteriza-se pelo colapso de dualidades como a de sujeito-objeto, corpo-mente, em que o corpo figura metodologicamente como elemento, não havendo uma identidade complementar entre corpo e mente, ambos operando integrados na percepção e configuração das experiências. Nessa ótica, temos uma subjetividade e um corpo sujeito, que produz e é produzido culturalmente a partir das vivências na relação com outros. Portanto, a corporeidade constitui-se como uma abordagem metodológica, tanto para Le Breton (2007) quanto para Csordas (2008). Ela é assumida como uma condição da percepção do mundo e da produção de cultura. O corpo expressa-se por meio de um repertório de práticas e técnicas corporais criadas e reproduzidas intersubjetivamente na esfera da sociabilidade, anunciando a natureza cultural da existência corporal. À vista disso, partimos para o exame dos textos coletados. Algumas das produções obtidas não mencionam o termo corporeidade ou citam-no sem explicitar o conceito ou autor referencial. Dentre os 28 artigos, 10 deles não trazem nenhuma definição, a saber, os produtos de número 3, 13, 18, 20, 21, 23, 25, 26, 27 e 28. Os de número 13, 21, 20 e 27 sequer utilizam o termo no corpo do texto, aparecendo somente nas referências. Os de número 3, 18, 25, 26 e 28 apresentam como categoria dada, sem definição ou explicações, inferindo-se no contexto que ela se liga aos determinantes sociais e culturais atrelados ao corpo. Apenas 18 trabalhos permeiam a corporeidade, organizadas por nós nas categorias analíticas: “Corpo vivo ou vivido”, “Corporeidade e o Corpo Multiforme”, “Corporeidade e o Desporto”, “Corporeidade na Formação Docente e Discente” e “Corporeidade e Saúde”. Nos textos da categoria de “Corpo vivo ou vivido”, a corporeidade aparece como experiência a ser vivida, ou seja, sensações conscientes e inconscientes que perpassam as práticas, compreendendo os artigos 1, 5, 8, 9, 12, 15 e 16. No produto de número 1, o termo é citado sem que se faça referência ao autor que direciona seu entendimento, mas observamos que parte da proposta de Merleau-Ponty (1999) para uma análise bibliográfica das definições de subjetividade, corpo e intercorporeidade. O texto traz a importância de se considerar a coexistência na formulação de definições, bem como a esfera sensível da corporeidade almejando superar a divisa sujeito-objeto, dando a entender que corporeidade e corpo, quando compreendidos na sua experiência e singularidade, podem ser sinônimos. O texto 5 também não referencia o termo e o anuncia após enfatizar a relação entre dança e experiência. É mencionado ao defender que a dança não pode ser entendida somente como uma apresentação e que o improviso coloca o dançarino em situações inéditas anunciando o desconhecido referente ao corpo que se move. Depreende-se que a corporeidade emana da experiência desconhecida de práticas corporais ainda não codificadas como as improvisações dançantes (SILVA; VILLEGAS, 2022). A obra 8 corrobora a de número 5 e apresenta a emersiologia como forma de examinar a experiência dos processos criativos dançantes. A corporeidade é apresentada na sua relação com a dança e a expressividade. O termo – anunciado na relação com atividades conscientes e inconscientes – é expresso na sua relação com o corpo vivo-vivido no anseio de unir descontinuidades compreensivas e construir novas percepções e experiências. Infere-se que a experiência da corporeidade dá-se pela realização de práticas corporais diversas, submetidas ao crivo da consciência ou não. Os autores não esclarecem de onde parte sua compreensão sobre a terminologia. O estudo 9 referencia a corporeidade, amparando-se em Nóbrega (2015) para anunciar que esta pode ser reinventada pelo movimento emanado pela singularidade do corpo ao se expressar. Ainda que Nóbrega (2015) não se preocupe em realizar maiores explicações, é possível notar a compreensão atrelada ao corpo que vive e apresenta-se através da dança com suas múltiplas singularidades como o sobrepeso. A publicação 12 relaciona a corporeidade como um campo de saberes que pode ser acessado através dos processos de subjetivação. As sensibilidades presentes nos modos de vida, de percepção e de interação são essenciais para delinear a teia de sentidos atrelada à corporeidade. Os autores utilizam diretamente Gomes (2010) que, por sua vez, não se refere diretamente à corporeidade, mas ao corpo. O texto 15 traz a corporeidade motriz ao debater a descontinuidade entre percepção do corpo vivo e a do corpo vivido, isto é, o atraso em que uma sensação é produzida no corpo vivo e, após microssegundos, torna-se conhecida pelo corpo vivido. A corporeidade resultaria da resposta do corpo vivo à ativação motriz e sua percepção pelo corpo vivido. O artigo 16 utiliza imagens cinematográficas para contribuir com o entendimento da relação entre corpo, cultura de movimento e a compreensão da corporeidade. Ampara-se em um relatório de pesquisa já realizado por Nóbrega (2011), o qual não conseguimos acessar para conferência. Depreende-se que a corporeidade possui vínculos com o corpo e a cultura do movimento, especialmente ao proporcionar uma linguagem sensibilizadora e afetiva capaz de acessar a humanidade através de símbolos e significações culturais. Os materiais inclusos na categoria “corpo vivo ou vivido” anunciam, assim como Csordas (2008), facetas da corporeidade. O corpo mostra-se um solo profícuo para pesquisas, pois através de sua vivacidade é capaz de experienciar a corporeidade, o que também nos remete à experiência, que produz suas singularidades ao traçar relações entre o corpo que a encerra e a cultura de referência. Por isso, a subjetividade aparece como um elemento recorrente nos textos. Tomando a experiência como ponto de partida, Csordas (2008) reitera que nossa percepção termina nos objetos, em vez de começar neles. Os objetos são um produto secundário da percepção e do pensamento reflexivo que instauram a consciência e a produção dos sentidos do ser-no-mundo. Logo, é essa experiência que os textos 5 e 8 anunciam com relação ao improviso artístico, ainda que sem fundamentação teórica no tratamento do termo. Já o texto 9, além de abrir portas para essa realidade corporificada indeterminada, dá a entender que a corporeidade também pode ser objetificada ou submetida ao crivo da consciência. Ao relatar a intersubjetividade, tanto Csordas (2008) quanto os textos 1 e 8, reconhecem e destacam o reconhecimento de Merleau-Ponty sobre a natureza cultural da existência corporal e, portanto, dos processos perceptivos que levam à produção de sentidos em situações de copresença. Ao avançarmos no delineamento de análise, a categoria sobre Corporeidade e o “Corpo Multiforme” representa as variadas dimensões objetificadas do corpo, desde as formas corporais, as subjetividades presentes no corpo e, principalmente, os modos como a sociedade pode induzir a formação corporal, elencando os artigos: 6, 7, 14, 19 e 24. No artigo 6, a corporeidade é investigada em uma linha do tempo geracional que perpassa o Estado Novo português (1933 a 1974) e finda na contemporaneidade. A temática em questão não foi referenciada, mas é possível evocar Le Breton (2007) para o diálogo sobre as aparências e na conformação de uma agenda de pesquisa que debate o corpo, almejando tecer nuances a respeito da corporeidade. O texto 7 discorre sobre a corporeidade feminina normatizada e intermediada pelo poder da mídia de socializar os entendimentos sobre beleza e induzir processos subjetivos nas mulheres. Já nas considerações finais, Le Breton (2007) é evocado para traçar relações entre aparência e modalidades simbólicas socioculturais. A análise delineada sugere que a apresentação física corresponde socialmente à apresentação moral do sujeito, podendo levar à marginalização de corpos e negações à própria corporeidade. A corporeidade é trazida no escrito 14 dentro da discussão sobre o “corpo produtivo”, cuja corporeidade é destituída de alma e integra o processo produtivo e o “corpo rascunho”, em que as corporeidades situam-se na fluidez e flexibilidade de atribuições de sentidos características da sociedade contemporânea. Esse contexto de atualização constante de sentidos que se dá ao corpo e ao ser remete a uma profundidade analítica a respeito da terminologia com referência em Le Breton (2007) e outros autores para trazer a especificidade desse vocábulo às diversas corporeidades debatidas. No artigo 19, as autoras discorrem sobre a corporeidade a partir do entendimento de Csordas (2008), explicando que esta perpassa a perspectiva de Merleau-Ponty (1999) sobre a percepção, assim como a noção de prática, de Bourdieu (2008). O termo foi utilizado no estudo para a análise dos dados obtidos nas entrevistas relativas às vivências corporais de transtornos alimentares, apontando que a constituição da percepção de corpo engendra as estruturas simbólicas e as práticas que culminam no transtorno alimentar. No artigo 24, a corporeidade é associada à aparência, a um produto, ao consumo de cosméticos e da biotecnologia de modo geral, usando Ortega (2008) como referência direta na discussão. A reflexão está voltada para a interpretação da corporeidade integrada às biotecnologias, sendo possível, analisar o fluxo das mudanças corporais, assim como o status das pessoas que alteram e pagam pela própria corporeidade. Em suma, vemos nessa categoria que os modos complexos que o corpo toma forma evocam estilos de vida entrelaçados, apontando para a relação entre corporeidade e habitus. Segundo Csordas (2008), o conjunto de disposições socialmente construído e incorporado pelos indivíduos que configura o habitus é fundamental para compreender objetivamente as práticas e representações que emanam do corpo e permite compreender o corpo como aspecto socialmente informado que dá formas diferenciadas à corporeidade. Na categoria “Corporeidade e o Desporto”, a corporeidade é situada em debates sobre experiências vividas no esporte e sensações experimentadas durante as práticas esportivas, como a dor e a experiência estética, reunindo os artigos: 4, 10 e 17. No texto 4, a corporeidade aparece em uma revisão de estudos sobre o corpo em sua relação com a performance esportiva de pessoas com deficiência, enfatizando que o paradigma da corporeidade de Csordas visa a romper o discurso dominante para assumir o corpo como aquilo que é vivido na presença e através da experiência, como um agente da intencionalidade e da intersubjetividade. No trabalho 10, ao tratar do sofrimento, dor e beleza no contexto da ginástica rítmica, a corporeidade é estudada com base em Merleau-Ponty, entendida enquanto condição existencial que participa na construção dos sentidos que se nutre das experiências de dor, prazer, angústia, enfim, dos paradoxos da vida comum que instigam o ato de perceber, de conhecer-se enquanto corpo, de produzir saberes corporais e sobre o mundo. O estudo 17 adota a perspectiva merleau-pontiana e utiliza o termo intercorporeidade para apreender o esporte coletivo na dimensão do vivido, em que o contato com o outro estimula as sensações e formulações de sentidos construídas pelos sujeitos em interação e todo “eu” contém igualmente vários outros. Nos três trabalhos abordados na categoria, a experiência corpórea vivida através do esporte é fator transformador daqueles que o praticam. O corpo entra em contato com os outros e com as próprias sensações ali desencadeadas, de maneira que a corporeidade participa, na sua constituição enquanto sujeitos. A categoria “Corporeidade na Formação Docente e Discente” tem como objeto o estudo de processos de ensino-aprendizagem que se dão pela experiência corporal. Perpassa os níveis da Educação Básica para Educação Superior, cujo objetivo é perceber a corporeidade na formação dos sujeitos, quer seja, os professores ou os estudantes. Também, foi considerado um entrelaçamento entre alguns conceitos como corporeidade, práticas corporais e os sentidos, compreendendo os artigos: 2 e 22. A produção 2 discute propostas pedagógicas práticas em torno da corporeidade e sua expressão motora nas salas de aula da educação infantil, revelando tensões entre discursos que valorizam a corporalidade e sua expressão motora nas primeiras idades e o que está acontecendo na sala de aula das crianças: práticas corporais baseadas em uma visão tradicional, tecnocrática e funcional da Educação Física. A corporalidade é assumida como condição que se dá através do movimento, atrelada à expressão da integração do ser que se encontra em desenvolvimento. Já o estudo 22 trata da relação entre educação e corporeidade a partir do estímulo à reflexão sobre a concepção de corpo difundida pela mídia. Faz-se um contraponto com a noção de corpo máquina e o corpo para o consumo a partir de referências de Le Breton (2003). A corporeidade configurou-se como uma linguagem sensível (instituída pelo corpo e a experiência de movimento), marcada por sentimentos, gestos, sensações e pensamentos, aparecendo como nova possibilidade de compreender o corpo e o conhecimento, apontada preferencialmente nos estudos de Terezinha Petrúcia da Nóbrega. Os textos acima destacam que a corporeidade necessita ser desvendada ao reconhecer a importância do corpo nos processos educativos, valorizando os discursos e propostas da corporeidade como meio de transformação, assim como os seus significados (KUHN et al., 2021). Ambos apontam para a necessidade da fabricação de novas corporeidades, sendo que o processo educativo é um meio de formar e transformar a corporeidade ao se empreender em um projeto humanizado que visa a emancipação humana de forma integral. O corpo é apreendido como elemento biopsicossocial (MAUSS, 2015), sem referenciá-lo diretamente. Por fim, temos a categoria da “Corporeidade e Saúde”, abarcando o artigo 11. Ao tratar sobre as práticas assistenciais em saúde mental na atenção primária à saúde, o texto refere-se à corporeidade uma vez, em sentido genérico, inferindo seu significado enquanto condição corporal. Ações estruturadas a partir do contexto sociocomunitário e do corpo também estiveram presentes e mostraram potencial para operar em uma perspectiva de valorização da autonomia e singularidade, estando, muitas vezes, subutilizadas pela falta de incorporação da abordagem psicossocial. Após a análise das 5 categorias, é possível identificar que a discussão aprofunda-se no trato com o corpo e não com a corporeidade, o que nos permite reiterar a contribuição do texto 1, isto é, compreendê-los como sinônimos quando se mergulha na experiência e na singularidade de ambos. A corporeidade, quando abordada de modo referenciado, baseia-se direta ou indiretamente em autores como Merleau-Ponty, Csordas, Le Breton e Nóbrega. Ademais, a Educação Física é uma das áreas que mais debate corpo e corporeidade, tendo Terezinha Petrúcia de Nóbrega como referência na área. Entende-se, segundo Csordas (2008), que apesar de a corporeidade estar corporificada, pode ser compreendida como algo alheio ao controle do indivíduo, resultando em um corpo objetificado e imerso em um campo específico, isto porque para ele, a corporeidade é um paradigma, ou seja, é uma estrutura-estruturante e, simultaneamente, estruturada pelas práticas dos agentes (sujeitos) em suas ações. Podemos, com ele, afirmar que a corporeidade pode ser apropriada para o estudo da cultura e do entendimento das práticas corporais/sociais dos agentes (sujeitos) oferecendo fundamentos metodológicos para a pesquisa empírica.

4 Considerações finais

O presente estudo tratou de uma quantidade extensa de artigos que mencionam corporeidade e práticas corporais, mas não exaustiva. O corpo é ponto de encontro entre a corporeidade e as práticas corporais. Elas também exprimem uma aproximação de vivências, experiências e práticas a um corpo culturalmente referenciado, sendo que o movimento que se faz rumo à interdisciplinaridade passa necessariamente pelo entendimento de corpo. Da mesma maneira, a corporeidade evoca a compreensão de um corpo para além do biológico, moldado pela sociedade e pela cultura e, por que não dizer, pelos aspectos biopsicossociais (MAUSS, 2015). Destacamos ainda, que os termos tratados estão além do campo de conhecimento e intervenção da Educação Física. As práticas corporais e a corporeidade não devem ser entendidas como elementos exclusivamente atrelados ao movimento, passando também por entendimentos que cabem às ciências sociais. No conjunto dos textos, não há de fato uma clara preocupação com a definição acerca dos dois termos. Dos 23 artigos que se debruçam acerca das práticas corporais, somente 7 preocupam-se em referenciar o seu entendimento, já os 18 que mencionam a corporeidade, 14 preocupam-se em reportar a algum autor. No tocante à especificidade das práticas corporais, ao utilizar a categorização de Lazzarotti Filho et al. (2010), não foram encontrados trabalhos que adjetivaram as práticas corporais, sendo que as categorias nomeadas originalmente foram mantidas, acrescidas da categoria saúde, que não se refere à atividade física. Adicionalmente, dois artigos não se enquadraram em nenhuma das opções anteriores por sua maneira particular de se referir à cultura. A respeito da corporeidade, Merleau-Ponty, Csordas, Le Breton e Nóbrega são os autores mais usados em sua definição, apesar das discussões frequentemente se desviarem para o corpo. Quando trabalhada com profundidade, a corporeidade é caracterizada por sua natureza experiencial, seja ela pré-objetiva ou objetiva. Sua objetificação permite uma análise socialmente partilhada e culturalmente referenciada. Independentemente da compreensão que é feita da experiência corpórea, é imprescindível que se realize um mergulho em seu objeto de estudo que possibilite a vivência de experiências em busca do que há de mais essencial, sem perder de vista a generalidade. Conclui-se que ambos os termos passam por um entendimento de corpo ligado a questões socioculturais e que a distinção entre ambos pauta-se na capacidade de objetivação do termo práticas corporais, enquanto o termo corporeidade é demasiadamente subjetivo, assim, sua definição depende mais do contexto e das vivências realizadas no e pelo corpo. Compreende-se também que ambas possuem seu embasamento no corpo culturalmente referenciado, sendo que é possível experienciar a corporeidade através de práticas corporais. Quanto às definições, sugerimos uma delimitação mais clara entre corpo/corporeidade/práticas corporais quando utilizadas.

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