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O letramento digital e o ensino remoto: a percepção dos estudantes sobre a aprendizagem
Práticas Educativas, Memórias e Oralidades, vol. 4, núm. 1, pp. 1-14, 2022
Universidade Estadual do Ceará

Artigo

Práticas Educativas, Memórias e Oralidades
Universidade Estadual do Ceará, Brasil
ISSN-e: 2675-519X
Periodicidade: Frecuencia continua
vol. 4, núm. 1, 2022

Resumo: Cada vez mais as instituições escolares fazem uso das tecnologias digitais. Nesse momento de pandemia, ocasionada pela disseminação da COVID-19, é imprescindível o uso da tecnologia a fim de dar continuidade ao ensino. Este artigo tem o objetivo de refletir acerca do letramento digital para o uso da plataforma Sigeduc durante o ensino remoto. Para embasar este trabalho, autores como Buzato (2006), Dudeney, Hockly e Pegrum (2016), Freitas (2010), Kleiman (1995), Soares (2002), Souza (2007) e Zacharias (2016) serão essenciais. Para isso, foi feita uma pesquisa pela plataforma Google Forms, com estudantes do Ensino Médio de uma escola pública estadual de Mossoró (RN). Esses estudantes têm acesso às atividades por meio do Sigeduc. O resultado da pesquisa mostra que muitos estudantes não adquiriram o letramento digital adequado para poderem participar das aulas remotas, pois não conseguem utilizar a plataforma de ensino.

Palavras-chave: Letramento digital, Ensino remoto, Tecnologia.

Abstract: More and more school institutions make use of digital technologies. At this time of pandemic, caused by the dissemination of COVID-19, it is essential to use technology to continue teaching. This article aims to reflect on digital literacy for the use of the Sigeduc platform during remote learning. To support this work, authors such as Buzato (2006), Dudeney, Hockly and Pegrum (2016), Freitas (2010), Kleiman (1995), Soares (2002), Souza (2007) and Zacharias (2016) will be essential. For this, a search was carried out using the Google Forms platform, with high school students from a state public school in Mossoró (RN). These students have access to activities through Sigeduc. The survey results show that many students have not acquired the proper digital literacy to be able to participate in remote classes, as they are unable to use the teaching platform.

Keywords: Digital Literacy, Remote Learning, Technologie.

1 Introdução

As tecnologias possibilitaram transformações muito importantes na sociedade. Entende-se por tecnologia qualquer aparato que altere a forma de produzir e de se relacionar na sociedade. As possibilidades de uso de um instrumento nos levam a perceber como estamos o tempo todo assimilando novos conhecimentos e construindo novos sentidos para “velhas” situações ou objetos com os quais já convivemos há tempos.

Desse modo, o objetivo deste artigo é refletir acerca do letramento digital para o uso da plataforma Sigeduc durante o ensino remoto instituído pelas escolas da rede estadual de ensino. Esse modelo de ensino tem sido utilizado com maior intensidade a partir do ano 2020 por conta da paralisação das aulas presenciais devido à pandemia que se disseminou no mundo todo causada pelo SARS-CoV2, ou Covid-19. Com isso, as instituições escolares e universitárias tiveram que adotar várias estratégias para que professores e estudantes continuassem com suas aulas, dando prosseguimento ao ano letivo. Entre as estratégias adotadas, o ensino remoto fez parte do dia a dia da maioria das escolas.

De um lado, o ensino remoto possibilitou que os estudantes, mesmo sem estarem na estrutura física das escolas, pudessem assistir às aulas, adquirindo os conhecimentos relativos às disciplinas escolares e também aprendessem outros novos, como acessar fóruns, chats, atividades assíncronas e síncronas, baixar e enviar atividades. Por outro lado, esse modelo de ensino também evidenciou a necessidade de uma aprendizagem viabilizada pelos meios tecnológicos, que possibilitassem o estudante conseguir alcançar seu objetivo, que era o de aprender os conteúdos escolares, como veremos no próximo tópico.

Novos letramentos para práticas cotidianas de interação

Uma parcela dos estudantes já chega à sala de aula com muitas informações, é usuária compulsiva da internet, possui e-mail, baixa músicas no celular ou computador, vê filmes, sabe editar vídeos, imagens etc. Consegue também interagir com várias pessoas ao mesmo tempo, em um aplicativo de conversa, como em um bate-papo com um grupinho de amigos de forma presencial. Podemos até dizer que esses estudantes possuem um letramento digital bem significativo por executarem algumas ações de forma fácil para eles. No entanto, essas ações são, de certa forma, limitadas, no sentido de que fazem aquilo que é comum para eles e que fazem parte do dia a dia deles. Entende-se letramento digital

como o conjunto de competências necessárias para que um indivíduo entenda e use a informação de maneira crítica e estratégica, em formatos múltiplos, vinda de variadas fontes e apresentada por meio do computador, de maneira crítica e estratégica, sendo capaz de atingir seus objetivos, muitas vezes compartilhados social e culturalmente (SOUZA, 2007, p. 60).

Se levarmos em conta que o indivíduo precisa entender e usar “a informação de maneira crítica e estratégica, em formatos múltiplos”, então o fato de ver filmes na internet, baixar e-mails ou mesmo interagir em um aplicativo de conversa não pode ser compreendido, especificamente, como letramento digital. Para Souza (2007), há dois tipos de letramento: o restrito, que se refere ao uso do computador de forma funcional, levando em conta a habilidade de forma mecânica, e o amplo, que envolve o contexto sociocultural, político e histórico, levando o usuário a ter uma postura crítica em relação ao uso da internet.

Quando tratamos de letramento digital, não estamos falando apenas de aprender comandos repetitivos para conseguir acessar alguma página ou site, ou mesmo saber navegar na internet. Ou mais básico ainda: ligar e manusear um computador. É mais do que isso. Podemos entender que, para navegar na internet ou usar os programas do computador, o usuário precisará de noções ou de algumas habilidades que, sem elas, ele não conseguirá concluir seu percurso. Para isso, ele precisará de conhecimento suficiente para analisar os caminhos que deve seguir a fim de encontrar a informação desejada.

Assim, ele deverá ter certas habilidades para associar, inferir, comparar, diferenciar, entre outras ações, tendo em vista os diversos formatos dos textos com os quais irá se deparar para produzir sentidos. Freitas (2010, p. 338) também compreende o letramento digital com relação à criticidade:

Ser letrado digital inclui, além do conhecimento funcional sobre o uso da tecnologia possibilitada pelo computador, um conhecimento crítico desse uso. Assim, tornar-se digitalmente letrado significa aprender um novo tipo de discurso e, por vezes, assemelha-se até a aprender outra língua.

A autora amplia o alcance do conceito, estendendo-o à aprendizagem de “um novo tipo de discurso”, pois o indivíduo muda sua postura e sua forma de se relacionar com o outro e até com o próprio conhecimento. Com isso, além de dominar os comandos da máquina, cuja aprendizagem é imprescindível para, pelo menos, compreender o que está fazendo, é também importante saber como usar esses comandos para cumprir os objetivos propostos ao se iniciar uma tarefa, como acessar páginas de um site, editar um documento no Microsoft Word, por exemplo.

[...] O letramento digital parte desse pluralismo, vai exigir tanto a apropriação das tecnologias – como usar o mouse, o teclado, a barra de rolagem, ligar e desligar os dispositivos – quanto o desenvolvimento de habilidades para produzir associações e compreensões nos espaços multimidiáticos (ZACHARIAS, 2016, p. 21).

Essas duas habilidades, conhecer o computador e seu uso e saber percorrer os caminhos navegáveis da internet, fazem parte do letramento digital. A primeira, de forma mais básica, se refere à alfabetização digital; a segunda, ao letramento propriamente dito. No entanto, levando-se em conta que não há apenas um letramento, mas vários, os indivíduos fazem uso de várias habilidades (DUDENEY; HOCKLY; PEGRUM, 2016). Na tela, os indivíduos adquirem novas formas de conhecimento.

Pode-se concluir que a tela como espaço de escrita e de leitura traz não apenas novas formas de acesso à informação, mas também novos processos cognitivos, novas formas de conhecimento, novas maneiras de ler e de escrever, enfim, um novo letramento, isto é, um novo estado ou condição para aqueles que exercem práticas de escrita e de leitura na tela (SOARES, 2002, p. 152).

Soares (2002, p. 152) ressalta que os indivíduos, ao se depararem com um novo contexto e uma nova forma de ler, adquirem uma nova postura, obtendo novos conhecimentos. Com diferentes tecnologias, os estudantes se apropriam também de novos letramentos. Reconfigurando a expressão popular “cada um é bom numa coisa”, podemos compreender que ninguém domina tudo. Nem mesmo aqueles que são exímios navegadores da internet sabem tudo sobre a tela. As habilidades de parte dos estudantes não são completas, como veremos no próximo tópico. Elas são restritas ao que é rotina na vida deles, como acessar vídeos, por exemplo.

Além de haver um letramento restrito e um que seja amplo, na perspectiva de Souza (2007), podemos também compreender que há letramentos usados em contextos específicos, como ressalta Kleiman (1995, p. 18-19): “Podemos definir hoje o letramento como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita, como sistema simbólico e como tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos”. A autora ainda aponta que os sujeitos desenvolvem alguns tipos de habilidades em razão de a escola se preocupar com apenas um tipo de letramento, enquanto no cotidiano, eles se deparam com vários outros. Com isso, reiteramos que existem letramentos, e não apenas um letramento.

Em conversas informais com professores, é comum se ouvir queixas de que uma parcela dos alunos não se dispõe a participar das atividades assíncronas escritas nesse período de ensino remoto. Acreditamos que seja justamente pela ausência de práticas específicas de lidar com as mídias para fins de aprendizagem escolar, ou seja, com a finalidade de editar atividades em programas específicos e enviar materiais produzidos para atingir a nota bimestral.

No próximo tópico, iremos mostrar, por meio de uma pesquisa, como a ausência de um letramento específico pode ser um obstáculo para que o aluno consiga participar de práticas escolares.

2 Metodologia

A partir do ano 2020, boa parte das escolas teve que se adaptar a uma nova forma de ensinar. Professores e estudantes passaram a utilizar o computador, celular, tablet e a internet para interagir, levando a escola para além da sala de aula tradicional, localizada em um ambiente escolar. Isso trouxe benefícios e também prejuízos para os estudantes, como mostram os dados analisados.

A pesquisa foi feita pela plataforma Google Forms, com estudantes do Ensino Médio de uma escola pública estadual da cidade de Mossoró (RN). Esses estudantes têm acesso às atividades por meio da plataforma do Sistema Integrado de Gestão da Educação (SIGEDUC), gerida pela Secretaria de Estado da Educação, da Cultura, do Esporte e do Lazer (SEEC) do Rio Grande do Norte.

O questionário foi feito no período de aplicação das aulas virtuais. 149 estudantes responderam ao questionário que tinha como objetivo avaliar a percepção deles a respeito do ensino remoto e continha seis perguntas sobre a forma de acesso à internet, o equipamento utilizado para acesso, se tinha dificuldades de acesso, opinião sobre o ensino remoto, entre outras. Destas, selecionamos quatro perguntas com as respostas para analisarmos. A escolha se deu pela proximidade com os conceitos de letramento digital e com o letramento em contextos específicos.

3 Resultados e Discussão

A partir da leitura das respostas do questionário online aplicado, foram feitas as análises a seguir. Com relação à primeira pergunta, “Que equipamento você utiliza para acessar a internet?”, é apresentada conforme o Gráfico 1:



Gráfico 1 - Que equipamento você utiliza para acessar a internet?
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).

Se levarmos em conta que uma parcela dos estudantes chega à sala de aula com celular e faz uso dele para atividades rotineiras, geralmente ligadas às redes sociais, como conversar com os amigos, por exemplo, a primeira pergunta corrobora com os depoimentos informais dos professores a respeito do uso do aparelho em sala de aula. O resultado apresentou que a maioria, 78,3% usa o smartphone para acesso à internet e, consequentemente, fazer suas atividades escolares; 14,7% usa o notebook e apenas 7%, o computador de mesa, e nenhum aluno usa tablet para acessar a internet.

Com esses dados, podemos compreender que, por ser de uso mais comum, e por ser um equipamento utilizado na rotina do estudante, tanto para comunicação com amigos e parentes quanto para atividades escolares e também lazer, o smartphone é “indissociável” da vida do estudante. Por isso que a maioria acessa a internet pelo celular. Fora isso, pode-se depreender, também, que é mais fácil adquirir um smartphone do que um notebook ou computador.

A segunda pergunta para análise é “Você sente dificuldade nas aulas remotas?”. O resultado apresentado foi o seguinte, conforme o Gráfico 2 a seguir:



Gráfico 2 – Você sente dificuldade nas aulas remotas?
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).

O objetivo da pergunta era saber a opinião do aluno a respeito de sua dificuldade ou não para assistir às aulas remotas. 17,8% afirmaram que não sentem dificuldade; 76% afirmaram que sentem dificuldade com relação ao uso da plataforma Sigeduc, e 6,2%, sentem dificuldade por não terem como acessar. A parcela maior de estudantes que afirma ter dificuldade no uso da plataforma, provavelmente, não tem a prática de utilizar as abas que o Sigeduc apresenta, nas quais eles devem postar atividades em que é preciso anexar algum arquivo.

Se há essa dificuldade, mesmo esses estudantes tendo habilidade com relação ao acesso à internet e ao uso de tecnologias digitais, como o celular, por exemplo, podemos depreender que é necessário um letramento específico para que eles possam utilizar a plataforma de estudos. Como afirma Buzato (2006, s.p),

O letramento, ou mais precisamente, os letramentos são práticas sociais e culturais que têm sentidos específicos e finalidades específicas dentro de um grupo social, ajudam a manter a coesão e a identidade do grupo, são aprendidas em eventos coletivos de uso da leitura e da escrita, e por isso são diferentes em diferentes contextos socioculturais.

Nesse caso, como afirma o autor, as práticas de letramento são diferentes, dependendo do contexto em que os indivíduos se encontram. Se os estudantes têm essa dificuldade com relação ao uso da plataforma de estudos, pode indicar que não atingiram ainda o letramento específico para fazer uso do Sigeduc.

Compreendo o letramento digital como o conjunto de competências necessárias para que um indivíduo entenda e use a informação de maneira crítica e estratégica, em formatos múltiplos, vinda de variadas fontes e apresentada por meio do computador-internet, sendo capaz de atingir seus objetivos, muitas vezes compartilhados social e culturalmente (FREITAS, 2010, p. 339-340).

A autora supracitada reafirma a compreensão de letramento digital, corroborando com a ideia de que não existe apenas um letramento, mas vários (SOARES, 2002). Como os estudantes lidam com tecnologias diferentes, precisam ter habilidades diferentes para atingir seus objetivos.

Uma terceira pergunta relacionada ao ensino remoto, buscava saber o que o estudante achava do ensino remoto, conforme apresenta o Gráfico 3:



GRÁFICO 3 – O que você acha do ensino remoto?
Fonte: Elaborado pelos autores (2020).

Como o estudante já estava participando de aulas síncronas e assíncronas, o objetivo da pergunta era saber a opinião, de forma objetiva, de quem estava participando dessa nova modalidade de estudo, diferente da que ele estava acostumado, que era a presencial. 22,6% afirmaram que é uma boa solução para a aprendizagem diante da pandemia; 28,1% marcaram que não é uma solução viável para o momento que estamos vivenciando; 49,3%, a maioria, afirmaram que é uma boa solução, mas precisa de muito acompanhamento.

O resultado está de acordo com as respostas da pergunta anterior, que mostrava a dificuldade do uso da plataforma. Quando a maioria afirma que “é uma boa solução, mas precisa de muito acompanhamento”, ressalta a dificuldade de utilização do equipamento como consequência da falta de prática para o uso. Isso mostra a importância do letramento digital no ensino remoto. Quando eles dizem que “precisa de muito acompanhamento”, podemos depreender que suas percepções com a tecnologia relacionadas aos processos de ensino e aprendizagem são restritas e para contextos específicos, como os que eles vivenciam diariamente nas suas relações sociais, e não para uso nas suas atividades escolares. Ter um acompanhamento para realizar as atividades no ambiente virtual de aprendizagem pressupõe a falta de conhecimento do uso de determinadas ferramentas, como as utilizadas para fazer as tarefas, assistir aos vídeos, editar materiais, inserir atividades nos campos específicos etc.

A pesquisa também quis saber a opinião do estudante sobre as aulas remotas, o que ele identificava como facilidade ou dificuldade. Foi feita a seguinte pergunta: “Qual sua opinião sobre as aulas remotas. Dentre os comentários, destacamos três respostas que evidenciam a falta de habilidade com relação ao uso da plataforma e, mais especificamente, ao letramento digital. Identificaremos os estudantes como E1, E2 e E3.

Como já afirmamos no Gráfico 2, os estudantes têm dificuldade com o uso da plataforma Sigeduc, como podemos perceber na opinião de E1:

Sinceramente precisa de mais organização demorou muito pra eu saber que estava tendo aulas e mesmo quando soube não entendi muito bem como usar o sigeduc, não sabia entrega as atividades, não sei onde assitir as aulas (nem as gravadas). Na minha opinião seria mais fácil cria um grupo no whatsapp e manda atividade/links para aula nesse grupo (para cada sala) e esquecer que o sigeduc existe.

Conforme a opinião de E1, que afirmou não entender “muito bem como usar o sigeduc”, há dificuldade com relação ao uso da plataforma de estudos usada pelo sistema de ensino. Além disso, ele acha “mais fácil criar um grupo de whatsapp” para enviar as atividades. A criação desse grupo no aplicativo Whatsapp se justifica pelo fato de ele estar familiarizado com essa forma de interagir. Assim, criando o grupo, é mais fácil realizar as atividades propostas pelo professor. Isso evidencia, mais uma vez, que o letramento digital ocorre em contextos específicos.

Outra opinião que vai ao encontro do já discutido neste artigo, é a de E2. Sua opinião é semelhante à de E1, mudando apenas o lugar onde as atividades devem ser postadas:

É evidente,portanto, que existe dificuldades por meio de alguns alunos a íntegra-se na plataforma de ensino oline. No entanto, o professor poderia criar um canal no YouTube e lá postar aulas e atividades onde o aluno poderia acessar o link que seria colocando pelo professoretor no propio gigeduc ou no grupo da sala no whatsapp, agindo em sincronia. Dessa forma espera-se promover uma mudança no ensino à distância.

A opinião de E2 traz como local de postagem das atividades o canal do Youtube. Para ele, “o professor poderia criar um canal no Youtube” e depois divulgar o link para que todos pudessem acessar. Por conter muitos vídeos e conteúdos e por ter uma alta quantidade de acessos, E2 acredita que lá é o melhor lugar para fazer as atividades. Também cita o Whatsapp, onde o professor divulgaria o link para o acesso. Compreendemos, pela fala de E2, que esse aplicativo serviria para postagem do link onde estaria, de fato, a atividade, e também serviria como forma de interação entre professor e aluno.

A terceira opinião, a de E3, mostra a dificuldade não exatamente com relação ao letramento digital, mas à forma como as atividades são enviadas para os alunos:

Eu acho que não ajuda muito. Nos grupos de sala só vejo reclamações. Ninguém tá entendendo exatamente nada! Nós estudantes não aprendemos tudo que devemos com aulas presenciais, com aula online é mais difícil ainda. Acho complicado a forma de envio das atividades para os professores, o sigeduc é muito chato. Creio que vocês professores poderiam deixar as atividades no sistema e a gente copiaria no nosso caderno, quando as aulas voltasse vocês corrigiam tudo. É mais prático e nós alunos estamos acostumados dessa forma.

A opinião de E3 traz um elemento novo: “o sigeduc é muito chato”. Podemos compreender que o estudante já tem prática com o uso da plataforma de estudos. Ele não fala em dificuldade, embora opine que com “com aula online é mais difícil”. Os professores se alternam nas atividades, de modo que todo dia algum deles insere uma atividade no sistema. E3 ainda propõe que os professores deixem as atividades no sistema para que os estudantes a copiem no caderno, e finaliza dizendo que os alunos estão acostumados dessa forma.

Podemos depreender que o problema aqui não é a falta de habilidade para o uso do ambiente virtual ou inserção de atividades, mas, sim, de estar acostumado a interagir com o conhecimento de forma convencional, a exemplo da cópia no caderno. Para E3, as tecnologias digitais não ajudam, não facilitam a aprendizagem de fato. O tradicional, o caderno, é muito mais prático. Podemos também compreender que essa rejeição ao uso das tecnologias digitais se deve à ausência de práticas determinadas para fins escolares, o que leva o estudante a não querer usá-las.

Diante dos resultados obtidos na pesquisa, constatamos opiniões diversas sobre as aulas remotas. Cada uma tem uma perspectiva diferente, ressaltando a falta de práticas de letramento na utilização da plataforma usada para estudos pela rede estadual de ensino e evidenciando a interação com aplicativos com os quais os estudantes estão mais familiarizados.

4 Considerações finais

O uso das tecnologias digitais nesse momento de pandemia tem sido imprescindível para que os estudantes não fiquem desassistidos com relação à aprendizagem. Desde o início do ano de 2020 instituições escolares têm se dedicado a melhorar a comunicação com os estudantes e a aprimorar suas plataformas de ensino a fim de facilitar a distribuição dos conteúdos curriculares de cada disciplina.

A rede estadual de ensino no Rio Grande do Norte, por exemplo, vem aprimorando a plataforma Sigeduc para que os professores possam ministrar as aulas remotas. No entanto, isso tem gerado insatisfação pelo fato de nem todos terem acesso à internet ou terem um equipamento para acesso. Some-se a isso a ausência de letramento digital de muitos estudantes, que sentem dificuldades de inserir atividades, editar um texto ou fazer as tarefas de forma online propostas pelos professores das disciplinas, conforme depoimentos escritos.

As respostas também evidenciam que o letramento digital se realiza em contextos específicos, já que eles têm prática com relação ao acesso à internet, com os equipamentos digitais, com aplicativos, mas ainda apresentam certa resistência na utilização de uma plataforma com a qual não estão familiarizados.

Portanto, é necessário que a instituição escolar promova atividades, como por exemplo uma ambientação da plataforma de aprendizagem, a fim de orientar os estudantes com relação ao uso do Sigeduc e às abas de inserção de atividades que estão no ambiente virtual. Essa ação poderia facilitar e ajudar aqueles estudantes que ainda não estão familiarizados com o letramento digital adequado para participar das aulas remotas.

Referências

BUZATO, Marcelo E. K. Letramentos digitais e formação de professores. III Congresso Ibero-Americano EducaRede: Educação, Internet e Oportunidades. Memorial da América Latina, São Paulo, BRASIL, 29 a 30 de maio de 2006. Disponível em: https://www.academia.edu/1540437/Letramentos_Digitais_e_Forma%C3%A7%C3%A3o_de_Professores. Acesso em: 7 out. 2020.

DUDENEY, Gavin; HOCKLY, Nicky; PEGRUM, Mark. Letramentos digitais. Trad. Marcos Marcionilo. 1. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2016.

FREITAS, M. T. A. Letramento digital e formação de professores. Educação em Revista. Belo Horizonte, v.26, n. 3, p. 335-352, dez. 2010.

KLEIMAN, Angela B. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola. In: KLEIMAN, Angela B. (Org.) Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, SP: Mercado de Letras, 1995.

SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educ. Soc., Campinas, vol. 23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002. Disponível em: https://www.cedes.unicamp.br/publicacoes/edicao/377. Acesso em: 5 out. 2020.

SOUZA, V. V. Soares. Letramento digital e formação de professores. Revista Língua Escrita, n. 2, p. 55-69, dez. 2007. Disponível em: http://www.ceale.fae.ufmg.br/pages/view/lingua-escrita-n-2.html. Acesso em: 7 out. 2020.

ZACHARIAS, Valéria Ribeiro de Castro. Letramento digital: desafios e possibilidades para o ensino. In: COSCARELLI, Carla Viana (org.) Tecnologias para aprender. 1. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2016.

OLIVEIRA, Marcos Antonio de; PONTES, Verônica Maria de Araújo. O letramento digital e o ensino remoto: a percepção dos estudantes sobre a aprendizagem. Rev. Pemo, Fortaleza, v. 4, e47212, 2022. Disponível em: https://doi.org/10.47149/pemo.v4.7212



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