Secciones
Referencias
Resumen
Servicios
Descargas
HTML
ePub
PDF
Buscar
Fuente


MEMÓRIAS ESCOLARES DE UMA JOVEM NA DÉCADA DE 1960
Revista de História da Educação Matemática, vol. 7, pp. 1-17, 2021
Sociedade Brasileira de História da Matemática

DOSSIÊ - MEMÓRIAS DE AULAS DE MATEMÁTICA

Revista de História da Educação Matemática
Sociedade Brasileira de História da Matemática, Brasil
ISSN-e: 2447-6447
Periodicidade: Frecuencia continua
vol. 7, 2021

Recepção: 24 Setembro 2021

Aprovação: 13 Outubro 2021


Este trabalho está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial-Não Derivada 4.0 Internacional.

Resumo: Neste artigo, convidamos o leitor a refletir sobre a história e as memórias escolares de uma mulher de 75 anos, que hoje é avó. Natural do Rio Grande do Sul, cursou o ensino ginasial nos anos 1960, em um colégio salvatoriano de Santa Catarina. Essa senhora compartilha suas lembranças do período escolar ao longo do ginásio, etapa escolar de difícil ingresso e de frequência para muitos estudantes, época em que poucas mulheres eram incentivadas a estudar e período no qual a ditadura militar se instalou no Brasil, dificultando a continuidade dos seus estudos. Com o objetivo de compreender como eram as aulas, a escola e como foi o percurso escolar, realizamos uma entrevista semiestruturada em abril de 2021. A partir dessa entrevista e de estudos já publicados sobre o ensino secundário nos anos 1960, pretendemos nos aproximar da Matemática escolar da época e também das disciplinas de Economia Doméstica e Trabalhos Manuais, que tiveram grande impacto na carreira profissional da nossa entrevistada.

Palavras-chave: Memórias, Ensino Ginasial, Década de 1960, Educação Matemática.

Keywords: Memories, Gymnasium School, 1960, Mathematics Education

INTRODUÇÃO

No primeiro semestre de 2021, cursamos a disciplina História da Educação Matemática do curso de Licenciatura em Matemática na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na qual estudamos a História Oral, uma metodologia que está centrada na escuta das memórias de pessoas. Nesse contexto, fomos convidadas pela professora ministrante a realizar uma entrevista com alguém que frequentou a escola antes de 1970, com o intuito de responder à seguinte questão: O que as memórias das pessoas podem nos dizer sobre a escola e sobre o ensino de Matemática em outros tempos? A fim de saber das práticas escolares e, principalmente, das aulas de Matemática, realizamos uma entrevista semiestruturada com uma ex-aluna da década de 1960. Essa entrevista foi realizada em abril de 2021 e, para respeitar os protocolos de segurança em relação à Covid-19, utilizamos uma plataforma on-line de vídeo chamada. Posteriormente, a entrevista foi degravada para revisão da entrevistada.

Para resguardar a identidade da nossa entrevistada, emprestamos a ela o nome fictício de Elsa. Nascida em 1946, na cidade de Marau, interior do Rio Grande do Sul, Elsa realizou parte do ensino primário em Porto Alegre e o restante de sua formação escolar em um colégio católico na cidade de Videira, leste catarinense. Atualmente reside em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. A escolha dessa entrevistada deu-se pelo atendimento aos critérios estipulados pela disciplina de graduação; por uma das entrevistadoras conhecê-la e ter um relacionamento amigável com ela, o que, de acordo com Fiorentini e Lorenzato (2012), pode proporcionar um clima de mútua confiança e empatia na entrevista e, por fim, pela disposição que Elsa apresentou ao receber o convite.

O trabalho aqui apresentado decorre dos estudos sobre os temas que emergiram da entrevista realizada com Elsa. O texto está organizado em seis seções: na primeira, apresentamos as vivências escolares de Elsa; a segunda explicita dois momentos marcantes na trajetória escolar da entrevistada; a terceira aborda a relação de Elsa com a Matemática; a quarta refere-se aos efeitos que o relacionamento entre professor e alunos podem ter na aprendizagem de Matemática; na quinta trazemos um apanhado histórico sobre as disciplinas Economia Doméstica e Trabalhos Manuais até a década de 1960 e, na sexta, falamos sobre os impactos que as experiências escolares de Elsa tiveram em sua vida profissional. Por fim, nas considerações finais, sintetizamos as reflexões e os questionamentos que construímos no decorrer da entrevista e no desenvolvimento deste artigo.

1. CONTEXTO ESCOLAR

Nossa entrevistada, Elsa, cursou o ensino primário em Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, no Colégio São Francisco de Assis, segundo ela conhecido pelos moradores locais como colégio dos Capuchinhos[3], no bairro Partenon. Elsa conta que estudou por poucos anos em Porto Alegre, não especificando esse intervalo de tempo e conclui que possui poucas lembranças dessa etapa escolar. Posteriormente, a vida de Elsa passou por algumas mudanças: os seus pais se separaram, ela mudou-se para Santa Catarina e passou a estudar no Colégio Salvatoriano Imaculada Conceição[4] (Figura 1), na cidade de Videira. Todas as respostas sobre sua trajetória escolar referem-se a essa instituição, na qual frequentou o curso ginasial.

Figura 1 – Fotografia do Colégio Salvatoriano Imaculada Conceição em 1939

Fonte – Página do Colégio Salvatoriano Imaculada Conceição

De acordo com Nunes (2000), algumas reformas marcaram e modelaram o ensino secundário até os anos 1960: a Reforma Rocha Vaz 1925, a Reforma Francisco Campos em 1931 e a mais recente Reforma Capanema em 1942, que remodelou o ensino secundário em dois ciclos: o ginásio, de quatro anos, e o colegial, de três anos, com os ramos clássico e científico.

Elsa estudou em uma instituição católica privada, em uma época em que, segundo Gouveia e Havighurst (1969), apenas 10% da população com 10 a 17 anos cursava o ensino secundário. Para ingressar na escola, Elsa conta que era obrigatório obter os itens de uma extensa lista de materiais que, além de livros e cadernos, solicitava materiais de costura e instrumentos musicais, como agulhas, linhas e violão, caso o aluno fosse se dedicar a algum desses estudos.

Na entrevista, Elsa refere-se ao Colégio Imaculada Conceição como “internato”, visto que morava na instituição durante a semana e apenas nos fins de semana saía para visitar seus tios que residiam nas proximidades do colégio:

No final de semana eu saía do colégio e ia para a casa dos meus tios que era perto. Nos fins de semana, eu passava fora do colégio. Eu não sentia muita diferença de convivência, porque só de internas eram 160 meninas. (Elsa, depoimento oral em abril de 2021).

Neste trecho da entrevista, Elsa menciona o número de meninas no colégio. Entretanto, mais adiante na entrevista, explica que a instituição era dividida em duas alas, separadas por uma rua, de acordo com o sexo dos estudantes, mas que as aulas e as missas reuniam meninos e meninas, rapazes e moças. Elsa detalha que cada aluno ia para a sua ala almoçar e fazer o recreio; meninos e meninas reuniam-se apenas durante as atividades escolares.

Quando questionada sobre as regras da escola, Elsa destaca o que descreve como rigidez do colégio. Em relação aos horários, ela explica que havia horário para tudo, inclusive para acordar, assistir às aulas, participar da recreação, fazer refeições e para dormir. Nesse momento da entrevista, também afirma que quem não seguia as normas era punido:

Era ruim para quem não obedecia, aí tinha corte disso, corte daquilo, mas para quem era “boazinha” que fazia tudo com os seus horários [neste trecho Elsa referia às alunas que realizavam as atividades nos horários estabelecidos pelo colégio], né?! Como tudo na vida né?! A gente tinha total liberdade, tinha muita festa, tinha muita... tinha aula de teatro, representava também. Quem gostava fazia, quem não gostava nem participava. (Elsa, depoimento oral em abril de 2021).

Por meio do que contou Elsa, percebemos que, embora a escola tivesse muitas regras, os alunos tinham poder de escolha em muitas atividades, como, por exemplo, a participação no teatro, nas aulas de música e em grupos de poesia. Além disso, de acordo com o relato, havia momentos de recreação no colégio: as referidas festas, que apontam para uma instituição escolar não tão rígida.

Uma outra regra da escola era o uso de uniformes, que acompanhava as alunas desde o primeiro dia na escola. Pelos relatos de Elsa, é possível perceber que ela gostava do uniforme e consegue descrevê-lo em detalhes:

Nosso uniforme era luxuoso, era uma saia plissada, cheia de pregas. Azul, um azul celeste, sabe? Sapato preto, meias brancas, gravata, gravata não, era um lenço assim, amarrado por cima, por baixo da golinha, camisa branca lindíssima. (Elsa, depoimento oral em abril de 2021).

No que se refere às disciplinas oferecidas pelo colégio, Elsa lembra que as turmas eram divididas de acordo com as idades e havia aulas de português, matemática, história, geografia, literatura, inglês, francês, latim, religião, economia doméstica, etiqueta, música, teatro, costura. Sobre a formação que a instituição prestava aos alunos, Elsa afirma:

Olha eu acho que lá saía meio pronto, entende? Se a pessoa tinha uma boa tendência, ela saía com uma boa bagagem, sabe? As meninas tinham noção de tudo, de tudo, sabe? (Elsa, depoimento oral em abril de 2021).

A formação de Elsa no ginásio foi interrompida em 1964, um ano marcado pela instauração da ditadura no Brasil:

Elsa: [...] eu não me formei na escola, eu não finalizei, porque foi um período, assim, nós estávamos entrando no regime militar, lembra que teve aquela... em 70 e poucos, que teve a ditadura, né? E aí, então, quando... como eu estava em Santa Catarina, o meu pai achou por bem da gente ir embora e os colégios estavam meio assim, não sabiam o que fazer. Entendeu? Com esse pessoal que não era do estado, então, eles optaram e eu vim embora para o sul e daí não estudei mais. E não voltei a estudar.

Entrevistador(a) 2: Em qual série ocorreu essa transição? Você lembra?

Elsa: Eu fiz da terceira para a quarta série do segundo grau [aludindo à quarta série do ginásio] que eles chamavam, né? E daí não concluí. (Depoimento oral em abril de 2021).

O regime militar se caracterizou pela “falta de democracia, desaparecimento de direitos constitucionais, censura, perseguição política e repressão aos que eram opositores ao regime” (Lima & Silva Júnior, 2016, p. 2). Pelo relato de Elsa, identificamos que a família sentia medo e insegurança em mantê-la fora do seu estado natal, entretanto a família não a matriculou em uma escola no Rio Grande do Sul.

Apesar de Elsa não ter concluído o curso ginasial, a educação recebida no colégio e as vivências do tempo escolar refletiram-se na sua vida adulta. Quando perguntada sobre a estrutura da escola, ela conta:

Então, é uma zona muito rica, estruturada, e a cidade é bem linda, porque o colégio tem um patamar de morro, sabe? É muito lindo. E lá embaixo é a cidade, passa um rio muito lindo. E então, a gente, o colégio é perto da igreja e do convento dos Padres. Então, em cima é tudo isso e lá embaixo é a cidade, é muito lindo. Então, muito bonito mesmo. Então, eu era apaixonada pelo lugar. É maravilhoso! Eu tenho parentes lá ainda e eu voltei lá duas vezes, depois que eu vim embora para cá, eu voltei lá. Ainda tinha uma freirinha lá dos meus tempos do internato, bem velhinha, né?! Que ela já era minha professora. Mas era muito bom! Era maravilhoso! Eu amava! Era muito, assim, alegre, muito alegre. (Elsa, depoimento oral em abril de 2021).

Por meio do relato, fica evidente o carinho que Elsa sente pela escola, principalmente pela espontaneidade com que ela afirma que a amava e pela abundância de elogios à escola. Assim sendo, consideramos que Elsa guarda boas lembranças do colégio. Além disso, os relatos abordados nesta seção, fizeram-nos refletir sobre os motivos que levaram Elsa a considerar que a escola preparava bem os seus estudantes para a vida. Essa conclusão se deu pela grande quantidade de disciplinas ofertadas, pela qualidade do ensino do colégio, pelas suas experiências dentro da instituição ou pelo compilado de todas as características?

2. DOIS MOMENTOS MARCANTES DO GINÁSIO

Destinamos uma parte da entrevista para que Elsa destacasse um momento que marcou a sua trajetória escolar. Não delimitamos o assunto ou o motivo para a escolha, e ela contou dois episódios do ginásio. O primeiro refere-se à sua candidatura para a presidência do Grêmio Estudantil:

Eu tive dois momentos muito marcantes. Então, assim o primeiro foi que eu fui a presidente dos estudantes. Nossa Senhora! Nós fizemos campanha eleitoral, campanha, olha, bah! Tinha campanha, tinha chapa, sabe? Nossa Senhora! Foi o momento total no colégio. [...] Eu sei que foi assim: então, a gente se candidatava, ia no comitê (tinha comitê), fazia inscrição e daí era fotografado, né? Tinha fotografia, colocava no quadro, no mural (tinha moral) e aí "Vote em mim!" a campanha, né?. A minha plataforma, foi que eu disse para eles que eu ia liberar de tarde para todo mundo jogar vôlei [risos]. (Elsa, depoimento oral em abril de 2021).

Em seguida, quando questionada sobre o cumprimento da proposta mencionada no trecho acima, Elsa diz:

Não, eu tive que negociar com a madre, né? E ela disse: como é que tu vai liberar? Não pode, você vai ter que retroceder, vai ter que fazer uma emenda na tua proposta. É pois, é! Eu me entusiasmei tanto que achei que conseguia fazer de tudo e não, não era assim. Mas, no fim de tudo, ganhei com maioria [risos]. Foi muito bom! Foi uma coisa muito marcante, assim. (Elsa, depoimento oral em abril de 2021).

Os relatos apontam para uma autonomia do estudante na inscrição e no desenvolvimento das propostas, sendo a concretização dessa última, dependente do aval da direção da escola. Elsa não dissertou mais sobre a sua passagem por esse cargo, bem como as responsabilidades atribuídas a ela e sobre atividades das quais participou enquanto presidente do Grêmio Estudantil.

Após a entrevista, Elsa nos enviou registros de parte do processo das eleições para presidente do Grêmio Estudantil. A Figura 2 mostra os candidatos de cada turma reunidos em uma mesa em conjunto com a diretora e vice-diretora do colégio. Essa fotografia registra um evento que reunia moças e rapazes.

Figura 2 – Fotografia dos candidatos à presidência do Grêmio Estudantil

Fonte: Arquivo pessoal da entrevistada

A Figura 3 mostra o momento em que Elsa foi reconhecida como a presidente dos estudantes. Ela conta que foi recebida pela diretora e vice-diretora do colégio em uma sala de aula que foi preparada com enfeites no quadro e na mesa para sua recepção.

Figura 3 – Fotografia de quando Elsa foi eleita a presidente dos estudantes

Fonte: Arquivo pessoal da entrevistada

O segundo momento marcante que Elsa conta diz respeito a uma peça teatral apresentada no Dia das Mães:

Uma peça que a gente fez para o Dia das Mães. Nossa, que festona! Eu tinha uma colega que teve que fazer os textos. Então, ela escreveu uma história muito triste baseada na vida dela, tatá, pepé, que ela teve muito sofrimento e aquelas coisas, ela embolsou tudo aquilo no Dia das Mães para encontrar com a mãe. Menina, era gente chorando por tudo quanto é canto. Foi muito marcante! Foi muito lindo! Nossa! O palco, uma coisa de doido. Era muito lindo, tinha piano, tocava piano, aquela coisa, os hinos, saía um aqui, entrava outro ali. Foram coisas assim que marcaram muito muito muito, foram esses dois episódios. (Elsa, depoimento oral em abril de 2021).

Os relatos, trazidos por Elsa, dos momentos que mais a marcaram não se relacionam diretamente com as disciplinas e aulas ministradas, mas contemplam aspectos importantes para a formação do aluno: a educação política, a cidadania e a criatividade (D'Ambrosio, 2005). Embora esperássemos relatos em que a Matemática da época aparecesse, entendemos que os momentos marcantes da vida escolar de Elsa não tiveram relação com essa disciplina. Entretanto, no decorrer da entrevista, ela mencionou seu relacionamento com a Matemática em vários trechos e também abordamos esse assunto com perguntas específicas; abordaremos essa temática na seção seguinte.

3. RELAÇÃO COM A MATEMÁTICA

A entrevista realizada com Elsa tinha o intuito não só de nos aproximar das aulas de Matemática na década de 1960 mas também de abordar tópicos sobre a vida da entrevistada naquele tempo: sua família, cultura, convivência com colegas e trajetória escolar como um todo. Algumas falas de Elsa, no decorrer da entrevista, chamaram nossa atenção.

Neste trecho, estávamos falando sobre a família:

Elsa: [...] os meus pais se separaram e, naquela época, quem pagava o pato eram os filhos né? [risos] Então, nós fomos para um internato. Eu só tinha uma irmã legítima[5], né?! Só uma irmã. E depois a minha mãe casou de novo e eu tive mais sete irmãos.

Entrevistador(a) 2: Aí, a família aumentou.

Elsa: Aí, a família aumentou. Mas legítima eram só nós duas. Eu para falar (risos) eu não gostava da matemática. [grifo nosso] (Depoimento oral em abril de 2021).

Neste outro trecho, conversávamos sobre como eram os professores da escola:

Entrevistador(a) 1: E os professores como eles eram?

Elsa: Eram as próprias freiras do colégio, né? Mas [risos] a matemática eu não gostava… Eu gostava muito de francês, adorava francês. Ah francês eu gostava! E o mais era tudo igual, acredito, né?! Assim, as disciplinas, tudo, o horário. Trocavam os professores, entrava o de matemática, dava a sua aula, daí saía aquele, entrava o de português, e assim era. [grifo nosso] (Depoimento oral em abril de 2021).

Por fim, destacamos o trecho em que falávamos sobre as semelhanças dos conteúdos e problemas vistos na escola:

Entrevistador(a) 2: [...] Os problemas que tu vias na escola, eles eram semelhantes aos problemas do teu dia a dia? Por exemplo, nas aulas de matemática, ou nas aulas de ensino doméstico, essas aulas te ajudaram a resolver os problemas reais que você teve?

Elsa: Sim, ajudavam e muito. Por exemplo, eu como não gostava de matemática, álgebra então, saí correndo da frente. Mas eu gostava muito de geometria. Ah, geometria era comigo mesmo, eu gostava. Mas as outras não, então eu sempre dava um jeitinho, nas aulas eu era muito presencial, então tinha sempre nota melhor, mas por causa da geometria. Eu me destacava, tirava nota alta, e nas outras não, porque eu não gostava. E nas outras matérias eu não tinha dificuldade. Inglês, um pouco, mas o resto era tudo igual, tudo assim. E ajudavam muito, claro, toda vida. As aulas de ensino eram fundamentais. [grifo nosso] (Depoimento oral em abril de 2021).

Percebemos que, em vários momentos da entrevista, Elsa expressa sua relação com a Matemática, relatando não gostar de parte da disciplina, por mais que, naqueles instantes, a conversa não se referisse, especificamente, a isso.

Esses relatos voluntários nos trouxeram reflexões sobre o porquê dessas falas. Será que a aversão à Matemática foi algo tão marcante na trajetória de Elsa que ela sentia a necessidade de expressar isso constantemente em uma entrevista que buscava entender sua experiência na Educação Básica? O que levou Elsa a desenvolver esse sentimento pela disciplina? O fato de termos nos apresentado como estudantes de Licenciatura em Matemática pode ter causado esses comentários específicos em relação a matéria? Ou será que há um outro motivo para essa insistência?

Quando perguntamos especificamente sobre como eram as aulas de Matemática e sua estrutura, Elsa relata:

É, primeiro tinha um padre que dava aula, ai, brabo! Depois a gente teve, acho que de tanta promessa, mudou para uma freira do colégio, e o padre foi embora. Então deu, assim, parece que ela tinha mais maneira de ensinar. Às vezes tu não gostas também é por causa do professor. Eu cheguei a uma conclusão assim, que eu não gostava da matéria porque eu não gostava dele. Então eu evitava, não tinha muito interesse. Mas depois, com ela, essa aula, eu fui vendo que não era esse bicho todo; ela era mais pacienciosa. Ele dizia assim “não soube, não soube!”. Às vezes tu tinha uma dúvida, que queria tirar, mas ele tinha aquela “não soube, não soube!”, e ela não. Ela te escutava, ela dizia, “não, amor, é assim, assim, assim, e assim”. “Ah, bom, daí tá”. Quer dizer que tu passas a gostar mais da matéria, ou então até não fugir tanto como eu fugia. Era assim. (Elsa, depoimento oral em abril de 2021).

Percebemos que a resposta de Elsa sobre as aulas de Matemática aborda, principalmente, a figura do professor e a forma como os professores tratavam os alunos. Entendemos que a maneira como cada professor conduzia as suas aulas e tratava os alunos refletiram-se na percepção de Elsa sobre a Matemática.

Tassoni (2008) afirma que os alunos são afetados pela mediação feita pelo professor nas aulas, provocando diferentes sentimentos que influenciam o processo ensino-aprendizagem e que, muitas vezes, interferem na relação com os conteúdos. Na experiência de Elsa, essa interferência gerou sentimento de aversão à Matemática, já que ela afirma que não gostava do professor. Ela também pontua que a “promessa” para que o professor fosse substituído seria recorrente. A que promessas ela se refere?

A promessa consiste em um pedido feito por alguém a um ser superior mediante um juramento de uma recompensa a este ser pelo êxito, conforme a solicitação. Ou seja, é um “acordo” que resulta numa negociação entre os dois planos envolvidos: o superior e o terreno. Em termos reais nada mais é que uma relação de troca (Pereira Filho, 2008, p. 3).

Consideramos a concepção de promessa apresentada por Pereira Filho (2008) apropriada para o contexto escolar religioso de Elsa. Tendo em vista o que contou sobre a dificuldade relativa ao relacionamento com o padre, inferimos que constantemente realizava esforços ou sacrifícios para que, como recompensa, o sacerdote deixasse de ser seu professor de Matemática. Ela pontua que “de tanta promessa, mudou para uma freira, e o padre foi embora”, sugerindo que as promessas tenham sido atendidas.

As narrativas de Elsa fizeram-nos refletir e trouxeram-nos questionamentos: Será que relatos semelhantes ao de Elsa eram comuns, no que se refere à forma como o padre lecionava as suas aulas e ao tratamento dado aos alunos? Será que eles tiveram relação com a troca do professor? Outros documentos da época como, por exemplo, atas, memorandos e cartas podem ajudar a responder essas questões como também trazer outros motivos para tal mudança.

Após discutirmos sobre os professores de Matemática, perguntamos sobre a dinâmica dessas aulas. Elsa explica:

Explicação no quadro e depois tinha “página vinte”, “página vinte e um”, ali. Os exercícios na parte da tarde, eram os exercícios do livro. A gente usava o livro em tudo. [...] Após o almoço, tinha um intervalinho de 10 minutinhos [...] e voltava tudo para aula de novo, para sala de aula e era outra sala, para fazer os temas. Cada um na sua matéria, na sua coisa. (Elsa, depoimento oral em abril de 2021).

De acordo Vanz e Grando (2013), “fazer os temas” pode ser entendido como a realização das tarefas (pesquisas, resolução de problemas, atividades práticas, entre outras) que os professores solicitam aos alunos para fazerem fora do horário de aula. Elsa conta que as alunas do colégio faziam essas atividades juntas, de acordo com a matéria, em uma sala. Eram liberadas apenas quando terminavam e recebiam o “visto”, um comprovativo de que a tarefa estava concluída. Percebemos que o livro era presente tanto nas aulas quanto nas atividades de modo geral. Desses relatos, notamos que a organização dos horários do colégio e das tarefas destinadas às alunas fica evidenciada mais uma vez.

Interessadas em entender melhor como se deram as práticas docentes do padre e da freira, voltamos a questionar sobre a diferença entre as aulas e a relação entre professores e aluna. Sobre a prática de cada um dos professores, Elsa afirma:

[...] ele era muito áspero, assim “Entendeu, entendeu. Não entendeu…” como quem diz “perdeu o trem”. E ela não, ela ouvia mais “ai, madre, eu não sei isso aqui”, “tu já olhou direitinho? Já leu direitinho” sabe, se interessava pela coisa. Então, era outra maneira. (Elsa, depoimento oral em abril de 2021).

O contraste entre as práticas dos professores de Matemática e como elas são lembradas por Elsa foram pontuados várias vezes na entrevista. A postura da professora de Matemática é marcante para Elsa, que ressalta, várias vezes ao longo do diálogo, que ela tinha “mais maneira de ensinar”, era “pacienciosa”, “ela te escutava” e “se interessava pela coisa”. Essa maneira de trabalhar foi essencial para mudar, ao menos um pouco, a aversão que Elsa desenvolveu em relação à Matemática, já que afirma passar a ficar mais nas aulas e a gostar mais da disciplina.

Do relato de Elsa, é possível inferir que havia pelo menos dois modelos de prática presentes na instituição. Segundo Fiorentini (1995), o modo como cada professor vê e entende a Matemática tem fortes implicações no modo como entende e pratica o ensino da Matemática e vice-versa. Sendo assim, entendemos que as diferentes práticas docentes no colégio onde Elsa estudou eram provenientes de diferentes visões (mesmo que não sistematizadas) da Matemática. Ressaltamos que não estamos afirmando que uma prática é melhor do que outra, mas estamos expondo as marcas que elas tiveram em relação à nossa entrevistada.

Tatto e Scapin (2004) abordam alguns motivos que podem causar rejeição à Matemática e, entre eles, está a dissociação entre os conteúdos e sua aplicação na vida dos alunos. Na experiência de Elsa, quando questionada sobre a aplicabilidade dos estudos matemáticos no seu cotidiano, ela afirma:

O uso direto da matemática normal, uma continha na cabeça rapidinha, mas não muita, não tem que fazer uso de muita coisa. Eu gosto imensamente de ler, leio tudo, até jornal velho. Gosto muito muito muito de ler. (Elsa, depoimento oral em abril de 2021).

A pesquisa de Thomaz (1999) acerca da rejeição à Matemática conclui que outros alunos têm pensamentos semelhantes ao de Elsa no que diz respeito à pouca aplicabilidade dos conteúdos matemáticos na vida.

A Matemática na escola para muitos alunos é complicada, incompreensível, distante, fria, sem vida. Um amontoado de exercícios que eles fazem por fazer, não sabem por que nem para quê.

Pensam que tem conteúdos “nada a ver”, que “não servem para nada” porque são isolados da realidade vivida, não têm utilidade na vida.

Para eles são necessários apenas os conteúdos básicos, das séries iniciais, os outros só servem para quem vai ser Engenheiro ou fazer Faculdade de Matemática. (Thomaz, 1999, p. 193)

Pelas constatações de Elsa, percebemos que não havia, no ensino dos conteúdos matemáticos, preocupação em explorar a relação com a vida cotidiana.

4. ECONOMIA DOMÉSTICA E TRABALHOS MANUAIS

Na entrevista, por diversas vezes, Elsa destacou as disciplinas de Economia Doméstica e Trabalhos Manuais devido aos efeitos positivos que tiveram em sua vida. Ela menciona que, devido aos estudos realizados nestas disciplinas, aprendeu a costurar, gerir e organizar o seu lar. Tendo em vista esse fato, consideramos relevante abordar os aspectos históricos da implementação dessas disciplinas no currículo da época.

De acordo com Louro (2015), a disciplina de Economia Doméstica fazia parte do currículo escolar feminino no início do século XX. Oliveira (2006) explica que esse curso envolvia os cuidados com a família, preparo para a vida doméstica e preparo da mulher para solucionar seus problemas de forma racional.

Segundo Severo (2017), apesar de já haver vestígios das disciplinas de Economia Doméstica no século XIX, foi apenas em 1942, em decorrência do decreto-lei n. 4.244/42 da Reforma Capanema, que tal disciplina se tornou obrigatória. A disciplina de Trabalhos Manuais não foi expressa nessa reforma em caráter obrigatório, mas também há registros que indicam a presença dela nesse mesmo período. Relativamente aos conteúdos estudados nessas disciplinas no colégio, Elsa explica:

Era, não, era, assim, ó, por exemplo, a aula de economia doméstica, que era muito divulgada naquela época, era obrigatório, tinha horário, né?! Então, nós fazíamos parte do currículo, né?! Tinha as aulas normais e depois tu tinhas que ou que ir na economia doméstica, que era para aprender a ter noção de cozinha, de compras. Era muito bom! Ou tu optavas ir para aula de crochê, tricô, bordado, trabalhos manuais, eles chamavam. Então, estava sempre ocupada. Tinha que estar. (Elsa, depoimento oral em abril de 2021).

Os relatos de Elsa nos revelam que as aulas eram mistas:

Entrevistador(a) 2: Todas as aulas eram mistas ou tinha alguma aula que era só para menina?

Elsa: Não, tudo misto, tudo junto. Duas entidades, né?! Só que era misto. (Depoimento oral em abril de 2021).

A partir daí, concluímos que algumas experiências de Elsa foram distintas das trazidas pelas autoras mencionadas nesta seção. Como a disciplina de Economia Doméstica era obrigatória, entendemos que os meninos também participavam dessa aula. Sendo assim, acreditamos que, nessa instituição escolar, essa disciplina não era voltada apenas para a mulher, mas para a gestão e organização do lar, de modo geral.

No colégio, a disciplina de Trabalhos Manuais não era obrigatória. Além disso, em nenhum momento da entrevista, Elsa mencionou que tal disciplina era específica para meninas. Sendo assim, inferimos que qualquer aluno poderia optar por cursar a disciplina. Entretanto, os estudos de Frizzarini (2018) evidenciam que as atividades abordadas diferenciavam-se entre meninos e meninas: por exemplo, marcenaria para o sexo masculino e costura para o sexo feminino. A autora também aponta que essa disciplina tinha o objetivo de desenvolver o apreço pelo trabalho a ser exercido futuramente pelos estudantes, o que evidencia uma diferenciação social entre a formação e a função que homens e mulheres podem exercer.

5. REFLEXOS DA TRAJETÓRIA ESCOLAR NA VIDA PROFISSIONAL

A disciplina que mais impactou a vida profissional de Elsa, segundo ela própria, foi a de Trabalhos Manuais, que a preparou para seguir a carreira de costureira. Tendo isso em vista, esta seção dedica-se a entender a percepção de Elsa sobre sua profissão e a relação entre essa disciplina escolar, a Matemática e sua carreira.

Quando questionada sobre a influência das atividades escolares em sua carreira profissional, primeiramente Elsa expõe:

Eu não tinha uma profissão definitiva. Antigamente era magistério e contadoria, né?! Fazia, os ensinos eram assim, ou você estudava para o magistério ou você fazia contadoria. Eu, então, eu não tinha uma profissão e não pendia para lugar nenhum. Eu não fui ser professora e nem nada. O que eu vim... Quando eu vim para cá, tinha que trabalhar, então eu tinha que fazer alguma coisa, como eu tinha cursado costura, eu fui ser costureira. Me aposentei sendo costureira profissional [grifo nosso].(Elsa, depoimento oral em abril de 2021).

Neste trecho, ficamos em dúvida se Elsa considerava o trabalho de costureira como uma profissão ou se o percebia como uma profissão menos importante. Diante de sua fala, entendemos que, para Elsa, o significado de “profissão” poderia estar associado a uma especialização que a certificasse para tal e, como a nossa visão sobre esse tema é distinta, decidimos esclarecer nosso ponto de vista com o intuito de deixar a entrevistada mais confortável. Explicamos:

[...] quando a gente fala profissão não é necessariamente algo em que você se especializou, mas sempre aquilo em que você trabalhou, tá?! Independente de ter um curso, independente de ter uma formação mais específica. (Entrevistador(a) 2, depoimento oral em abril de 2021).

Para corroborar nossa percepção de “profissão”, destacamos a concepção de Franzoi (2006, p.50) sobre essa temática:

Da forma como é aqui entendida, profissão envolve: a) correspondência entre a posição ocupada no mercado de trabalho e os conhecimentos adquiridos na esfera da formação (que pode se realizar no próprio trabalho) b) reconhecimento da validade desses dois elementos – conhecimento e valor social dos serviços – por parte da sociedade, através da inserção desse indivíduo, no mercado de trabalho.

Na sequência, ainda sobre a relação entre a escola e a profissão seguida por Elsa, questionamos se as atividades que realizava como costureira tinham sido aprendidas na escola. Ela confirma:

Elsa: Lá na escola! Era uma das aulas paralelas que tinham. Então, eu sei bordar, sei fazer tricô, sei fazer crochê, sei fazer tudo e foi aonde eu aprendi a costura. E foi de muita valia porque, quando eu casei, me separei, eu tinha uma profissão, né? Mas eu sabia costurar, então, eu fui atrás do que eu sabia né? E daí cheguei numa loja muito potente que tinha, muito famosa que tinha. Posso dizer o nome?

Entrevistador(a) 2: Pode!

Elsa: Era Malice Decorações. Aí, eu fui direto lá. Cheguei de manhã, às nove horas e de meio-dia já estava trabalhando com a carteira assinada. (risos) Aí eu fiquei lá! Trabalhando naquilo que eu gostava, e ahh eu gostava, gostava muito! [...] No final, então, eu fiz a minha especialização, entendeu? [grifo nosso] (Depoimento oral em abril de 2021).

Esse relato evidencia que, por mais que Elsa inicialmente tivesse afirmado que não tinha, em suas palavras, uma “profissão definitiva”, quando conta sua história como costureira, ela volta atrás e afirma ter uma profissão. Elsa ainda vai além, afirmando que o trabalho realizado a fez especialista em costura.

Conhecendo o contexto escolar e as vivências profissionais de Elsa, perguntamos se a Matemática também teve influência em algum momento de sua carreira profissional, ela pontua:

É, eu tive facilidade, por exemplo, quando eu fui trabalhar, em, por exemplo, quando eu cheguei na loja, eu fiz meio que uma revolução no sistema. Porque a gente tinha essa disciplina no colégio, então eu fui arrumando tudo. Fui chegando e fui arrumando. Aí eu sugeri, eles tinham ainda no tempo, embora fosse uma loja muito chique que trabalhasse com classe média alta e tal, mas eles eram meio demoradinhos lá nos livrinhos deles. Tudo tomadinho nota, quando perdia uma folha não sabia. Aí eu disse “Por que vocês não compram um computador? Bota no computador!” e então eu fazia assim, porque eu cheguei como costureira, mas depois já passei para a administração, porque eu comecei a fazer isso aí. Eu dizia pra ela “pra nós ganhar tempo”, e não estar tirando uma peça, uma peça, por exemplo, tinha 50 metros, aí tu tirava uma cortina, mas daí não sabia quanto que sobrou lá naquela peça, e então até tu medir tudo aquilo, tu perdia um dia. Então eu disse “porque quando tu tira 10 metros, vamos supor, tu toma nota lá na etiqueta do lado, bota ‘foi tirado 10 metros dia tal do tal, restam tanto’, quer dizer tu já sabe direto se tem ou não”. Eles amaram! Foi uma organização já pela matemática, eu acho. [grifo nosso] (Elsa, depoimento oral em abril de 2021).

Nesse relato, percebemos que Elsa utilizou raciocínio lógico para otimizar o processo de contagem de metros de tecidos, além de identificar que o computador poderia ser uma solução eficaz de armazenamento de informações importantes, visto que a perda de folhas de registro acontecia constantemente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A instituição descrita pela entrevistada chamou-nos atenção pelo fato de possuir um grande número de disciplinas e atividades teóricas e práticas. Além das matérias como matemática, geografia, história, literatura, inglês, francês, latim, o colégio também oferecia atividades de música, teatro, costura e economia doméstica, por exemplo. Segundo Elsa, a escola era bastante rígida em relação às regras; havia horários para todas as atividades (aulas, higiene pessoal, refeições, lazer), o uso do uniforme completo era obrigatório, assim como a realização de tarefas extraclasse.

Os momentos mais marcantes que Elsa cita sobre sua trajetória escolar não estão relacionados diretamente às aulas. Esses momentos extraclasse são lembrados com muitos detalhes, e os registros fotográficos dessas atividades são guardados como recordação. Embora Elsa não mencione as aulas de trabalhos manuais como marcantes, entendemos que os aprendizados dessas aulas tiveram grande impacto na sua vida e na sua carreira profissional, pois foi nesse contexto que ela desenvolveu habilidades necessárias para se tornar uma costureira.

Ao longo da entrevista, Elsa comentou, por diversas vezes, que não gostava de Matemática. A entrevistada acredita que um dos motivos que contribuem para tal sentimento refere-se ao fato de que um de seus professores, um padre, era, em suas palavras, “brabo”, “áspero” e “seco”. Esse docente deixou de dar aulas de Matemática e quem assumiu o seu lugar foi uma freira que, de acordo com a entrevistada, possuía “mais maneira de ensinar”. Ela explica que a professora ouvia mais e se interessava em resolver as dúvidas dos alunos. Entretanto, apesar de conseguir compreender melhor a disciplina nesse período, Elsa não conseguiu reverter o sentimento que adquiriu quando teve aulas com o padre e concluiu que “[...] não gostava da matéria porque eu não gostava dele”. Apesar da aversão de Elsa pela Matemática, ela reconhece que essa ciência está presente na sua prática profissional, que facilita muitos processos e que, além disso, foi um dos fatores responsáveis pelo seu destaque na loja em que trabalhou.

Os nossos estudos sobre a História Oral inspiraram a produção de todas as etapas deste trabalho, que inclui a elaboração e realização de uma entrevista, o convite feito à entrevistada, a degravação, a revisão e a análise. A realização da entrevista possibilitou-nos obter informações por meio da memória de nossa entrevistada. Nesse sentido, entendemos que ela falava no presente, influenciada por suas relações sociais e pela própria interpretação sobre o passado. Além disso, as narrativas da entrevistada proporcionaram a compreensão de algumas experiências escolares da década de 1960 e seus efeitos na vida de Elsa. A entrevista provocou-nos curiosidades, inferências e reflexões que foram ponto de partida dos estudos teóricos abordados, principalmente sobre a História da Educação Matemática.

REFERÊNCIAS

Colégio Salvatoriano Imaculada Conceição (s.d.). Acesso em 27 de ago de 2021, Recuperado de Colégio Salvatoriano Imaculada Conceição: https://www.redesalvatoriana.org.br/imaculada/institucional/historia/#lg=98&slide=5

D'Ambrosio, U. (2005). Armadilha da Mesmice em Educação Matemática. Bolema, 18(24), 95-109. Recuperado de https://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/bolema/article/view/10500

Franzoi, N. L. (2006). Entre a formação e o trabalho: trajetórias e identidades profissionais. Porto Alegre: UFRGS Editora.

Fiorentini, D. (1995). Alguns modos de ver e conceber o ensino da Matemática no Brasil. Zetetike, 3(4), 1-38. Recuperado de https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/zetetike/article/view/8646877

Fiorentini, D. & Lorenzato, S. (2012) Investigação em Educação Matemática: percursos teóricos e metodológicos. Campinas, SP: Autores Associados. - (Coleção Formação de Professores).

Frizzarini, C. R. B. (2018). Saberes Matemáticos Na Matéria Trabalhos Manuais: processos de escolarização do fazer, São Paulo e Rio de Janeiro (1890-1960). (Tese em Educação e Saúde na Infância e na Adolescência). Universidade Federal de São Paulo. Guarulhos. Recuperado de https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/190602/Tese_Claudia%20Frizzarini_vers%c3%a3o%20final.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Gouveia, A. J. & Havighurst, R. J. (1969). Ensino Médio e Desenvolvimento. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.

Lima, A. J. A. & Silva Júnior, R. (2016). Panorama da educação brasileira na década de 1960. Anais III CONEDU. Campina Grande: Realize Editora. Recuperado de https://www.editorarealize.com.br/index.php/artigo/visualizar/21874

Louro, G. L. (2015). Mulheres na Sala de Aula. In.: Priore, Mary Del (org.). História das mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 10.ed., 2015. p. 443-481

Nunes, C. (2000). O “velho” e “bom” ensino secundário: momentos decisivos. Revista Brasileira de Educação. Recuperado de https://www.scielo.br/j/rbedu/a/pY5CvzLSCLPRNy7XpZ7x6WR/?lang=pt&format=pdf

Oliveira, A. C. M. (2006). Economia doméstica: origem, desenvolvimento e campo de atuação profissional. Vértices. 8(1), 77-88. Recuperado de https://repositorio.ifs.edu.br/biblioteca/bitstream/123456789/393/1/Economia%20dom%C3%A9stica_origem_desenvolvimento%20e%20campo%20de%20atua%C3%A7%C3%A3o.pdf

Pereira Filho, S. F. (2008). Promessas: contrato individual e social com seres superiores. VI Congresso Português de Sociologia, 1-7. Universidade Nova de Lisboa. Recuperado de: https://pdfslide.tips/documents/promessas-contrato-individual-e-social-com-seres-as-formas-elementares-da-vida.html

Severo, C. A. (2017) Preparo ao Lar: a disciplina de Economia Doméstica no Ginásio do Colégio Farroupilha (1942- 1961). In: IV EPHIS (Encontro de Pesquisas Histórias da PUCRS), 2017. Anais do IV EPHIS. Porto Alegre: ediPUCRS, 2017. Recuperado de https://editora.pucrs.br/edipucrs/acessolivre/anais/ephis/assets/edicoes/2017/arquivos/63.pdf

Tassoni, E. C. M. (2008). A dinâmica interativa na sala de Aula: as manifestações afetivas no processo de escolarização. (tese de doutorado em Educação). Faculdade de Educação. Universidade Estadual de Campinas. São Paulo. Recuperado de http://repositorio.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/251875/1/Tassoni_ElviraCristinaMartins_D.pdf

Tatto F. & Scapin I. J. (2004). Matemática: por que o nível elevado de rejeição? Revista de Ciências Humanas, 1-14. Recuperado de http://revistas.fw.uri.br/index.php/revistadech/article/view/245

Thomaz, T. C. (1999). Não gostar de matemática: que fenômeno é este? In: Cadernos de Educação (p. 219). Pelotas: UFPEL. Recuperado de https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/download/6589/4560#page=187

Vanz, J. & Grando, N. I. (2013). O tema de casa no processo de aprendizagem da matemática. Sociedade Brasileira de Educação Matemática, 1-15. Curitiba: XI ENEM. Recuperado de http://sbem.iuri0094.hospedagemdesites.ws/anais/XIENEM/pdf/1213_308_ID.pdf



Buscar:
Ir a la Página
IR
Modelo de publicação sem fins lucrativos para preservar a natureza acadêmica e aberta da comunicação científica
Visor de artigos científicos gerado a partir de XML JATS4R