Secciones
Referencias
Resumen
Servicios
Descargas
HTML
ePub
PDF
Buscar
Fuente


Métodos sistemáticos de revisão de literatura científica: apontamentos para o desenvolvimento e publicação de pesquisas educacionais
Systematic methods of scientific literature review: notes for the development and publication of educational research
Métodos sistemáticos de revisión de literatura científica: apuntes para el desarrollo y publicación de investigaciones educativas
Revista de Estudos e Pesquisas sobre Ensino Tecnológico, vol. 9, e216523, 2023
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas

Revista de Estudos e Pesquisas sobre Ensino Tecnológico
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas, Brasil
ISSN-e: 2446-774X
Periodicidade: Frecuencia continua
vol. 9, e216523, 2023

Recepção: 02 Janeiro 2023

Aprovação: 06 Janeiro 2023

Publicado: 06 Janeiro 2023


Este trabalho está sob uma Licença Internacional Creative Commons Atribuição 4.0.

Resumo: Neste estudo, são descritos dois tipos de pesquisa bibliográfica sistemática (revisão e mapeamento), com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento, evolução e publicação de pesquisas educacionais. Para tanto, destacam-se as principais diferenças entre esses dois métodos e questões de pesquisa que vem sendo abordadas em estudos sistemáticos relacionados a diferentes áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Revisão Sistemática Mapeamento Sistemático. Pesquisas educacionais. Periódicos Científicos..

Abstract: In this study, two types of systematic bibliographic research (review and mapping) are described, for the purpose of development, evolution and publication of educational research. To achieve this, the main differences between these two methods and research questions that have been presented in systematic studies related to different areas of knowledge are singled out.

Keywords: Systematic Review Systematic Mapping. Educational research. Scientific Journals..

Resumen: En este estudio se describen dos tipos de investigación bibliográfica sistemática (revisión y mapeo), con el objetivo de contribuir al desarrollo, evolución y publicación de investigaciones educativas. Para esto, se destacan las principales diferencias entre esos dos métodos y las preguntas de investigación que se han presentado en estudios sistemáticos relacionados con diferentes áreas del conocimiento.

Palabras clave: Revisión Sistemática Mapeo Sistemático. Investigaciones Educativas. Revistas Científicas..

Métodos sistemáticos de revisão de literatura científica: apontamentos para o desenvolvimento e publicação de pesquisas educacionais

Resumo

Neste estudo, são descritos dois tipos de pesquisa bibliográfica sistemática (revisão e mapeamento), com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento, evolução e publicação de pesquisas educacionais. Para tanto, destacam-se as principais diferenças entre esses dois métodos e questões de pesquisa que vem sendo abordadas em estudos sistemáticos relacionados a diferentes áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Revisão Sistemática. Mapeamento Sistemático. Pesquisas educacionais. Periódicos Científicos.

Abstract

In this study, two types of systematic bibliographic research (review and mapping) are described, for the purpose of development, evolution and publication of educational research. To achieve this, the main differences between these two methods and research questions that have been presented in systematic studies related to different areas of knowledge are singled out.

Keywords: Systematic Review. Systematic Mapping. Educational research. Scientific Journals.

Métodos sistemáticos de revisión de literatura científica: apuntes para el desarrollo y publicación de investigaciones educativas

Resumen

En este estudio se describen dos tipos de investigación bibliográfica sistemática (revisión y mapeo), con el objetivo de contribuir al desarrollo, evolución y publicación de investigaciones educativas. Para esto, se destacan las principales diferencias entre esos dos métodos y las preguntas de investigación que se han presentado en estudios sistemáticos relacionados con diferentes áreas del conocimiento.

Palabras clave: Revisión Sistemática. Mapeo Sistemático. Investigaciones Educativas. Revistas Científicas.

Considerações iniciais

A realização de um projeto de pesquisa empírico e posterior divulgação, especialmente, por meio das revistas científicas, exige alguns elementos considerados essenciais: uma pergunta de pesquisa clara, uma postura filosófica para entender os objetivos da pesquisa e selecionar uma metodologia apropriada, um método que permita elucidar os fenômenos que estão sendo estudados e auxiliar na identificação dos tipos de dados a serem coletados, assim como uma teoria que proporcione a explicação e interpretação dos dados, a fim de que se possa relacioná-los com a pergunta e com estudos anteriores na literatura (EASTERBROOK et al., 2008).

Entre esses elementos, destaca-se o método de pesquisa, em especial, neste estudo, os métodos sistemáticos de revisão de literatura científica que auxiliam os pesquisadores no levantamento do estado da arte, cujo encaminhamento exige identificação, coleta, seleção, avaliação dos resultados, análise e relatório de um conjunto de trabalhos sobre diferentes questões de pesquisa.

Dada a importância das revisões de literatura para a escrita de dissertações e teses, além dos manuscritos submetidos aos periódicos científicos, apresentam-se alguns apontamentos e reflexões sobre a necessidade de ampliar as orientações voltadas para a formação acadêmica, no sentido de contemplar pressupostos teórico-metodológicos referentes à utilização de revisão sistemática (RS) e de mapeamento sistemático (MS).

De maneira geral, nas áreas de Ensino e Educação, o levantamento teórico é realizado por meio de uma revisão narrativa, que não contempla procedimentos metodológicos definidos para seleção dos estudos, evidenciando um processo subjetivo, muitas vezes, suscetível ao viés do pesquisador. Além disso, esse tipo de revisão não permite a reprodutibilidade das pesquisas.

Vale ressaltar que muitos campos de pesquisa possuem metodologias específicas para a realização de estudos secundários e têm sido extensivamente usados, como por exemplo, na medicina baseada em evidências e na Engenharia de Software (KITCHENHAM; CHARTERS 2007; PETERSEN et al., 2008). Por outro lado, cada vez mais, pesquisadores têm utilizado métodos sistemáticos para identificar, comparar, analisar e sintetizar as evidências já identificadas em diferentes áreas do conhecimento no contexto educativo, o que justifica novos estudos que tenham por especificidade, o direcionamento metodológico para a utilização desses métodos na realização de pesquisas educacionais.

Considerando que a pesquisa educacional, de natureza interdisciplinar e multidisciplinar, pode assumir várias formas e abordagens, é relevante apresentar alguns apontamentos sobre os métodos sistemáticos de revisão da literatura, compreendendo a importância do uso de processos científicos rigorosos e bem definidos para a busca, coleta, análise e sumarização de evidências empíricas que podem ser utilizadas para apresentar uma visão geral da área estudada, expandir o corpo de conhecimento e melhorar as práticas de ensino, aprendizagem e de formação docente.

Com isso, espera-se que esta discussão possa contribuir com a qualidade de futuras publicações, levando em conta a relevância do uso do paradigma baseado em evidências para realização de estudos secundários no contexto educacional, “[...] como uma das possibilidades em prol da geração de pesquisas informadas, reprodutíveis e reutilizáveis” (COELHO, 2022, p. 21).

Dada o exposto, as questões de pesquisa deste estudo são: i) quais as principais diferenças entre o mapeamento sistemático e a revisão sistemática? e ii) quais questões de pesquisa estão sendo tratadas nos estudos de RS e MS, concernentes ao ensino e à formação docente, durante o período de 2018 a 2022?

Esta discussão tem por objetivo prover conhecimentos e reflexões, de forma didática, que podem ser úteis como referência para estudantes de pós-graduação e pesquisadores no desenvolvimento e publicação de pesquisas educacionais sistematizadas nos periódicos científicos.

Aporte teórico

A revisão da literatura permite ao pesquisador demonstrar sua capacidade analítica e sintética com relação aos trabalhos já publicados. Por meio deles, pode investigar como foram realizados, delimitar e analisar criticamente, identificar as linhas de pesquisa e temáticas a serem investigadas, justificar uma nova investigação, assim como integrar e generalizar descobertas, resultados e configurações.

Também inclui a capacidade de demonstrar seu conhecimento sobre um determinado campo de estudo subjacente a teorias, variáveis, fenômenos, métodos e história, assim como suas habilidades de pensamento crítico e resolução de ambiguidades no vocabulário e na literatura (RANDOLPH, 2009).

Essa revisão pode contar com métodos sistemáticos, com os quais os pesquisadores podem realizar o levantamento do estado da arte e escrever seus manuscritos para os periódicos científicos. Esses métodos visam a sintetizar, de forma relevante e reprodutível, os achados da literatura existente, permitindo ao estudante/pesquisador

evidenciar e aprofundar-se em diferentes aspectos relacionados à problemática de sua pesquisa, verificar a forma como o tema já foi tratado em estudos prévios, identificar os progressos alcançados por outros pesquisadores, observar as tendências de pesquisa sob o prisma cronológico, reconhecer lacunas, com as quais é possível desenvolver novas pesquisas, identificar contribuições e limitações existentes, com o intuito de verificar o que já foi superado e atualizar os conhecimentos sobre o objeto de estudo (COELHO, 2022, p. 13).

Nesse cenário, vale destacar que a qualidade de uma revisão depende do levantamento do estado da arte, construído a partir das evidências oriundas dos estudos primários, que são usados como base para estudos secundários e terciários (CABREJOS; VIANA; SANTOS, 2018). A necessidade de um estudo secundário é originada pelo objetivo do pesquisador. “Se conduzidos de forma sistemática, esses estudos podem ser replicados, permitindo a inclusão de novas publicações” (CABREJOS; VIANA; SANTOS, 2018, p. 21).

Entre os estudos secundários, seleciona-se para esta discussão, a RS e o MS. De maneira geral, são desenvolvidos de forma similar. Os procedimentos envolvem a especificação de um protocolo padrão de condução da pesquisa, a elaboração da(s) questão(ões) de pesquisa (principal e secundárias), definição das estratégias de busca, identificação dos critérios de inclusão e exclusão, seleção dos estudos, extração dos dados, avaliação da qualidade metodológica, assim como a análise e síntese dos resultados, sendo finalizado pela escrita do relatório/artigo científico (KITCHENHAM; CHARTERS 2007; PETERSEN et al., 2008; KUHRMANN; FERNÁNDEZ; DANEVA, 2017; CABREJOS; VIANA; SANTOS, 2018).

Esses dois tipos de investigação permitem selecionar, reunir, avaliar e sintetizar os resultados de pesquisas relevantes, com criticidade e transparência, a fim de fornecer uma visão geral. Por meio desses resultados, possibilitam-se novas conclusões baseadas em evidências e estimula-se a prospecção de estudos futuros, que podem contemplar as lacunas existentes e atender diferentes demandas educativas.

No processo de execução das revisões, é fundamental verificar a existência de outros estudos secundários sobre a temática. Em caso afirmativo, “deve-se avaliar se os mesmos respondem às questões de pesquisa estipuladas, ou se é necessário estendê-los ou, ainda, realizar novos estudos secundários” (CABREJOS; VIANA; SANTOS, 2018, p. 27). Com isso, ao ser identificada a necessidade de realização de um novo estudo, deve-se definir adequadamente o tipo de revisão, processo apontado por Cabrejos, Viana e Santos (2018) como um dos desafios na execução de estudos secundários.

Com o propósito de definir o estudo sistemático mais adequado à pesquisa (RS ou MS), devem ser analisados alguns elementos, a fim de compreender as principais diferenças, tendo em vista a similaridade no processo de execução entre a RS e o MS já mencionada. Entre as particularidades que os diferenciam, destacam-se, principalmente, a amplitude e a profundidade (KITCHENHAM; CHARTERS 2007). Para tanto, faz-se necessário, após a definição da(s) questão(ões) de pesquisa, verificar se o escopo e objetivo da revisão da literatura envolvem uma extração e análise de dados com menor ou maior profundidade.

Diante do exposto, seguem alguns aspectos a serem elucidados. A RS utiliza-se de um protocolo para a condução do levantamento do estado da arte, buscando minimizar erros sistemáticos e aleatórios (KITCHENHAM; CHARTERS 2007). Por meio desse tipo de estudo, é possível analisar os relatórios primários existentes, revisá-los em profundidade, descrever sua metodologia e resultados, além de sintetizar a literatura existente, de forma objetiva, sistemática e reprodutível (PETERSEN et al. 2008; KUHRMANN; FERNÁNDEZ; DANEVA, 2017).

Segundo Kuhrmann, Fernández e Daneva (2017, p. 2), “[...] é um meio de identificar, analisar e interpretar evidências relatadas referentes a um conjunto de questões de pesquisa específicas de uma forma imparcial e (até certo ponto) repetível”. Sendo assim, “[...] se o objetivo é realizar uma análise dos resultados obtidos nos estudos primários, agregá-los e compará-los, uma RSL será mais adequada” (CABREJOS; VIANA; SANTOS, 2018, p. 29).

O MS, também conhecido como estudo/revisão de escopo, por outro lado, consiste em reunir e categorizar uma grande quantidade de estudos da literatura, visando à identificação de contribuições e lacunas que justifiquem novas pesquisas (KITCHENHAM; CHARTERS 2007). Os estudos de mapeamento geralmente cobrem uma gama mais ampla de publicações já que a análise se concentra nos principais termos e resumos (KUHRMANN; FERNÁNDEZ; DANEVA, 2017). Visam a “[...] caracterizar o estado da arte, independentemente dos resultados obtidos nos estudos primários analisados” (CABREJOS; VIANA; SANTOS, 2018, p. 29).

É aplicado com o objetivo de construir um esquema de classificação e estrutura do conhecimento de um determinado campo de interesse (PETERSEN et al., 2008; KUHRMANN; FERNÁNDEZ; DANEVA, 2017). Utiliza-se quando não é necessário responder com profundidade questões específicas, sendo projetado para fornecer uma ampla visão geral de uma determinada área de pesquisa. Além disso, um estudo de MS pode ser um exercício mais apropriado do que a RS, principalmente, para áreas com poucas evidências disponíveis na literatura científica, falta de estudos primários relevantes e de alta qualidade ou ainda, cujos tópicos sejam muito vastos (KITCHENHAM; CHARTERS, 2007).

De maneira geral, ao coletar sistematicamente o conhecimento relatado em uma determinada área de interesse, faz-se necessário utilizar-se de estudos de mapeamento, que podem ser feitos de forma ampla, quantificando determinados aspectos, ou aprofundados, geralmente no âmbito de RS, a fim de promover uma análise das publicações, considerando o nível de detalhe e o tipo de dados (quantitativo ou qualitativo) (KUHRMANN; FERNÁNDEZ; DANEVA, 2017).

Vale ainda ressaltar, nesta discussão, a importância da elaboração das perguntas. Considerando que os estudos primários são os sujeitos/fenômenos de investigação (unidades de análise) que podem ser observados, a partir de diferentes problemáticas, tanto na RS como no MS, a escolha do método vai depender das questões de pesquisa.

Nessa perspectiva, “um dos primeiros passos na escolha de um método de pesquisa apropriado é esclarecer a pergunta” (EASTERBROOK et al. , 2008, p. 2), tendo em vista que a questão leva a direções diferentes no desenvolvimento de estratégias de pesquisa, a fim de obter-se uma compreensão mais clara do fenômeno, a explicação de sua ocorrência e a possibilidade de que previsões sejam feitas.

Sendo assim, destaca-se no Quadro 1, algumas das principais perguntas que podem ser elaboradas para os estudos. Entre essas questões, as principais são do tipo exploratórias e causais. As questões exploratórias buscam tentar entender os fenômenos, cujos métodos de pesquisa “[...] tendem a ser aqueles que oferecem dados ricos e qualitativos, que nos ajudam a construir teorias provisórias” (EASTERBROOK et al., 2008, p. 3). Por outro lado, as causais, buscam identificar relações causais suportadas pelas evidências encontradas, descrever e classificar a literatura existente sobre determinado tema de pesquisa.

Quadro 1. Perguntas de pesquisa e exemplos

Quadro 1. Perguntas de pesquisa e exemplos


Adaptado de Easterbrook et al. (2008)

Fonte: Adaptado de Easterbrook et al. (2008)

Independente dos objetivos e objeto de pesquisa, Kuhrmann, Fernández e Daneva (2017) também apontam a relevância de algumas questões gerais de pesquisa que podem ser respondidas em todos os estudos de literatura, pois auxiliam na apresentação de uma visão geral do espaço de publicação. Os autores resumem algumas dessas questões genéricas de pesquisa que são apresentadas na Figura 1.

Figura 1. Questões gerais de pesquisa



Figura 1. Questões gerais de pesquisa
Adaptado de Kuhrmann, Fernández e Daneva (2017, p.5)

Fonte: Adaptado de Kuhrmann, Fernández e Daneva (2017, p.5)

Essas questões abordam aspectos descritivos gerais. Visam a traçar uma visão geral e demográfica do estudo (número de publicações ao longo do tempo, sobre quais tópicos, qual período), cujos resultados permitem delinear o estado atual de um campo de conhecimento, fornecer informações sobre quantidade e frequência de publicação sobre determinado tópico, além de contribuir para melhor compreensão dos estudos disponíveis no campo sob investigação, retratar tendências de publicação de um determinado domínio emergente ou em amadurecimento (KUHRMANN, FERNÁNDEZ; DANEVA, 2017).

Em resumo, essas perguntas de pesquisa também ajudam a definir o escopo do estudo, adequar as questões de pesquisa e ajustá-las, se necessário, bem como preparar os procedimentos de coleta e seleção de acordo com os objetivos do estudo (KUHRMANN, FERNÁNDEZ; DANEVA, 2017).

Dado o exposto, após a seção dos encaminhamentos metodológicos apresentam-se os resultados referentes às principais diferenças entre RS e MS, com base em posicionamentos teóricos que podem elucidar tais aspectos, assim como as principais questões oriundas do corpus deste estudo.

Metodologia

Este estudo se classifica como uma pesquisa exploratória, de cunho qualitativo. Entre os procedimentos metodológicos adotados, destaca-se o uso de uma metodologia protocolizada, parcialmente sistemática, que envolveu cinco fases: 1) identificação do problema; 2) seleção e emprego de estratégias de pesquisa; 3) compilação de um corpus; 4) exploração e análise dos dados; e 5) identificação dos resultados (COELHO, 2022).

Para isso, foi adotado um percurso metodológico que busca associar a coleta, armazenamento e análise de dados “[...] atrelado à melhora da visualização e maior processamento permitido pelo uso de softwares e técnicas que possibilitam a análise de uma grande quantidade de dados” (COELHO, 2022, p. 12).

A busca foi realizada no Google Acadêmico. O processo de recuperação dos trabalhos foi realizado tendo em conta os descritores que compõem o escopo deste estudo (revisão sistemática, mapeamento sistemático, ensino e formação de professores). Após a realização de um conjunto de testes para avaliar a adequação da string de busca, considerou-se duas expressões apropriadas: i) (“revisão sistemática” OR “mapeamento sistemático”) AND "Ensino", ii) (“revisão sistemática” OR “mapeamento sistemático”) AND "formação de professores".

Foram identificados, primeiramente, cento e noventa e sete (197) estudos secundários, de diferentes áreas do conhecimento, disponibilizados em veículos de publicação brasileiros (artigos e trabalhos publicados em anais), dos quais foram selecionados quarenta e dois (42) para compor o corpus de análise.

Os estudos foram selecionados, a partir de três critérios de inclusão: a) contemplam RS e MS; b) fazem referência ao ensino e à formação de professores (linhas temáticas da Revista Educitec); c) foram publicados durante o período de 2018 a 2022. Vale ressaltar que a seleção final do corpus para análise priorizou o conteúdo (diversidade de categorias e amplitude das questões).

A coleta de dados foi efetivada com a organização de informações extraídas dos estudos secundários recuperados, dos quais foram selecionadas as questões de pesquisa. A operacionalidade da análise envolveu a pré-exploração do material, leitura, seleção dos documentos, constituição do corpus, recuperação e filtro da literatura, com revisão dos títulos, resumos e organização de uma matriz de conteúdo para posterior análise. Esse processo foi auxiliado pelo uso do software Sphinx iQ2, sendo passível de reprodução e reuso em futuras investigações.

Evidenciando resultados

No Quadro 2, apresentam-se as principais diferenças entre MS e RS, tomando como base os pressupostos teórico-metodológicos de Kitchenham e Charters (2007), Petersen et al. (2008), Kuhrmann, Fernández e Daneva (2017), Klock (2018) e Cabrejos, Viana e Santos (2018).

Quadro 2. Principais diferenças entre MS e RS

Principais diferenças entre MS e RS


Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

De maneira geral, a RS e o MS são diferentes em termos de objetivo, amplitude, profundidade, escopo e análise dos resultados, aspectos que geram diferentes implicações e devem ser observados na escolha do método sistemático e na elaboração das questões de pesquisa. Para direcionar os estudos de MS ou RS, outros elementos devem ser considerados, tais como as perguntas sobre a contribuição do conjunto de resultados, tendo em vista o critério da amplitude e profundidade, para que possa ser avaliada a maturidade científica do campo de investigação.

Para Kuhrmann, Fernández e Daneva (2017), esse nível de maturidade não deve fazer referência apenas às soluções propostas, mas também aos trabalhos de pesquisa de validação e avaliação, cujos dados evidenciam os diferentes tipos de contribuição e ressaltam modelos, teorias, ou estruturas ou lições aprendidas.

A fase de planejamento da pesquisa, portanto, envolve a configuração do desenho do estudo que inclui, entre outras etapas, a definição das questões de pesquisa apropriadas (primária/principal ou secundárias). A primária “[...] define o tópico de pesquisa que está sendo investigado. Já as questões secundárias podem ser uma ou mais questões que definem características específicas do tópico investigado” (CABREJOS; VIANA; SANTOS, 2018, p. 30).

Muitas dessas questões geram resultados que podem contribuir para “[...] auxiliar pesquisadores a propor novas tecnologias e a comparar com as existentes”, assim como, “identificar oportunidades de melhoria no processo de pesquisa nacional” (SILVA et al., 2021, p. 158). Os resultados também podem “[...] ajudar responsáveis por programas de formação continuada a selecionar, desenvolver ou melhorar programas, bem como orientar desenvolvedores de currículos” (ALMEIDA; ALMEIDA; ARAUJO, 2021, p. 2).

Considerando a importância dessas questões, no Quadro 3, destacam-se diferentes perguntas de pesquisa, oriundas dos estudos utilizados (MS e RS)[1].

Quadro 3: Questões de pesquisa dos estudos sistemáticos selecionados




Elaboração própria.

Fonte: Elaboração própria.

As questões fazem referência a diferentes focos temáticos: ensino, aprendizagem e avaliação de conteúdos, contextos metodológicos, ferramentas para aprendizagem, métodos, atividades, abordagens, impactos, técnicas, limitações, contribuições, tipos de estudos, público-alvo, percepções, teorias, práticas recomendadas e típicas, classificação, categorias, desenvolvimento de software educacional, cultura maker na educação, desenvolvimento de habilidades socioemocionais, Google Classroom como ferramenta para o ensino, produtos educacionais, uso da realidade aumentada como ferramenta pedagógica, jogos, estratégias pedagógicas utilizadas como mediadoras para o ensino, ambientes virtuais de aprendizagem, componentes curriculares, nível e modalidade de implementação das propostas educativas, vinculação institucional, regiões que mais publicam sobre o tema, inserção de tecnologias nas aulas e dificuldades apontadas pelos pesquisadores, além de estudos sobre formação docente, contemplando a integração das tecnologias digitais, conteúdos relacionados à educação ambiental, o uso de jogos eletrônicos etc. Somam-se a esses, tecnologias educacionais acessíveis para apoiar o ensino de diferentes conteúdos a estudantes com transtorno do espectro autista, deficiência intelectual e deficiência auditiva.

Com a análise, é possível perceber um aumento significativo no quantitativo de estudos sistemáticos nos últimos anos no Brasil, sendo utilizados em diversas áreas do conhecimento, especialmente, voltados para a área de Ciência da Computação e Engenharia de Software. As temáticas envolvem, principalmente, ensino de programação e desenvolvimento do pensamento computacional atrelados a diferentes disciplinas, do ensino básico à pós-graduação.

Os tópicos evidenciados, tanto para o contexto de sala de aula como para o processo de formação docente, possibilitam contribuir para a análise das publicações prévias, comparação, identificação de tendências, recorrências, lacunas, contraste e sumarização das evidências existentes sobre um determinado tópico. Somam-se a esses, outros benefícios, tais como a articulação dos saberes existentes sobre a temática e possibilidades para ações e pesquisas futuras, em busca de evidências confiáveis sobre potenciais contribuições e limitações da aplicação de estratégias, metodologias, ferramentas e tecnologias digitais (inclusivas).

Tais evidências podem fomentar um suporte empírico para análise dos fenômenos educacionais, elucidar as questões mais importantes relacionadas à tomada de decisões referentes à aprendizagem e à formação docente, assim como gerar implicações para o progresso da pesquisa e divulgação científica.

Com o objetivo de fomentar esse progresso, destaca-se também a relevância da etapa referente à tessitura da composição do relatório, comumente, escrito em formato de artigo científico, para submissão e possível publicação. De maneira geral, alguns aspectos podem ser observados na escrita de uma RS ou MS: i) motivação e justificativa para a execução do estudo; ii) apresentação da(s) questão(ões) de pesquisa; iii) apresentação suscinta de trabalhos correlatos (momento em que se enfatiza a necessidade de executar uma investigação sobre a temática, tendo sido considerada a pesquisa de revisões existentes); iv) referência ao protocolo de pesquisa utilizado e demais etapas relacionadas ao método sistemático; e v) visão geral dos estudos e resultados, por meio da análise e síntese.

Considerando a Revista Educitec e seu escopo na área do Ensino, vale ressaltar a importância em elucidar as principais contribuições, limitações e/ou lacunas de pesquisa encontradas, que podem ser úteis para o avanço da ciência e para a melhoria das práticas de ensino-aprendizagem, em diferentes áreas do conhecimento.

Sendo assim, no intuito de auxiliar os possíveis autores, destacam-se algumas questões que podem contribuir para a avaliação da qualidade dos estudos sistemáticos (Figura 2).

Figura 2. Questões para avaliação da qualidade de estudos sistemáticos



Questões para avaliação da qualidade de estudos sistemáticos
Adaptado de Costa et al. (2014, p. 2448-9)

Fonte: Adaptado de Costa et al. (2014, p. 2448-9)

Esse conjunto de itens pode ser tomado como um cheklist que pode auxiliar pesquisador/autor na (auto)avaliação de seu manuscrito, antes do envio para um periódico cientifico. Os aspectos evidenciados buscam garantir uma boa qualidade metodológica para posterior publicação, podendo colaborar “[...] tanto com editores quanto com autores, a fim de se desenvolver trabalhos mais completos e robustos” (COSTA et al., 2014, p. 2451).

Antes de finalizar essa seção, vale destacar que não se pretendeu avaliar a nomenclatura dos trabalhos que fazem parte do corpus ou se as questões de pesquisa foram devidamente construídas, levando em conta a classificação e os pressupostos teórico-metodológicos aqui adotados. Tais aspectos podem ser tomados em futuras pesquisas terciárias.

Por outro lado, buscou-se fornecer ao leitor uma noção geral que contempla as principais diferenças entre os dois métodos (MS/RS) e as questões que podem ser utilizadas, visando a auxiliar estudantes e pesquisadores na condução das pesquisas, especialmente, para a construção e submissão do relatório/artigo em periódicos científicos.

Considerações finais

Neste estudo, problematizou-se o uso de métodos sistemáticos de revisão de literatura científica, no âmbito educacional, contemplando as principais diferenças entre mapeamento e revisão, bem como as questões de pesquisa subjacentes ao processo de ensino e formação docente, no período de 2018 a 2022.

Os apontamentos aqui elucidados, referentes à escolha do método sistemático e à construção das questões, podem ser úteis ao desenvolvimento de pesquisas realizadas por estudantes da pós-graduação, especialmente, de doutorado, tendo em vista os benefícios significativos para produção de uma tese de alta qualidade e, ao mesmo tempo, para a produção “[...] de um artigo pronto para submissão a uma revista antes que o resto da tese seja concluída” (OKOLI, 2019, p.33-4).

Também ganharam especial atenção algumas reflexões a respeito da importância do levantamento sistemático no contexto educativo, tendo em vista a necessidade de ampliar a identificação e coleta de evidências científicas nesse campo de atuação, que podem ser utilizadas na concepção e implementação de processos e produtos educacionais.

A partir desse panorama, torna-se necessário refletir também sobre a exigência de mudança de paradigma em como as pesquisas na área educacional podem ser realizadas, buscando contemplar a adoção de uma abordagem baseada em evidências para realização do levantamento do estado da arte, que pode ser conduzido com o auxílio de métodos sistemáticos, do tipo RS e MS.

Soma-se a isso, a emergência em ampliar as condições de formação, especialmente, nos cursos de pós-graduação, com orientações teórico-práticas para o uso de métodos sistemáticos e publicação dos resultados de pesquisa. Esse processo formativo pode contribuir para o reconhecimento, compreensão e tomada de decisão sobre possíveis práticas pedagógicas a serem implementadas, tendo em vista a eficácia dos resultados na aprendizagem, considerando tecnologias, teorias, ferramentas, métodos, estratégias, produtos e metodologias educacionais.

Referências

CABREJOS, L. J. E. R.; VIANA, D.; SANTOS, R. P. Planejamento e execução de estudos secundários em informática na educação: Um guia prático baseado em experiências. In: VII JORNADA DE ATUALIZAÇÃO EM INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO. Anais [...]. Fortaleza, 2018. Disponível em: http://ojs.sector3.com.br/index.php/pie/article/view/7858/6029. Acesso em: 20 nov. 2022.

COELHO, I. M. W. S. Desenvolvimento de pesquisas educacionais: implicações teórico-metodológicas, propostas e desafios da gestão de dados científicos. Revista Exitus, v. 12, n. 1, p. e022069, 2022. Disponível em: http://www.ufopa.edu.br/portaldeperiodicos/index.php/revistaexitus/article/view/1762. Acesso em: 6 nov. 2022.

COSTA, A. B. et al. Construção de uma escala para avaliar a qualidade metodológica de revisões sistemáticas. Revisão Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, vol. 21, n. 4, 2014, p. 2448- 2449. Disponível em : https://www.scielo.br/j/csc/a/8vrT3tkQjY48FzYrNbJHWMF/?lang=pt. Acesso em: 6 nov. 2022.

EASTERBROOK, S. et al.Selecting empirical methods for software engineering research. Guide to advanced empirical software engineering, 2008, p. 285-311.

KITCHENHAM, B. A.; CHARTERS, S. Guidelines for performing systematic literature reviews in software engineering. Technical Report EBSE01, Keele University, 2007.

KLOCK, A. C. T. Mapeamentos e Revisões sistemáticas da Literatura: um Guia Teórico e Prático. Cadernos de Informática, v. 10, n. 1, 2018, p. 1-19. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/cadernosdeinformatica/article/view/v10n1201801-09. Acesso em: 23 nov. 2022.

KUHRMANN, M., FERNÁNDEZ, D. M., DANEVA, M. On the pragmatic design of literature studies in software engineering: an experience-based guideline. Empirical Software Engineering, v.6, n. 22, 2017, p. 2852-2891.

PETERSEN, K. et al. Systematic mapping studies in software engineering. In: Proceedings of the 12th International Conference on Evaluation and Assessment in Software Engineering, Swindon, UK. 2008, p. 68–77.

RANDOLPH, J. J. A Guide to Writing the Dissertation Literature Review. Practical Assessment, Research, and Evaluation. v. 14, n.13, 2009.



Buscar:
Ir a la Página
IR
Modelo de publicação sem fins lucrativos para preservar a natureza acadêmica e aberta da comunicação científica
Visor de artigos científicos gerado a partir de XML JATS4R