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A ESCRITA COMO MODO DE VIDA: potências contemporâneas para a (pesquisa em) educação
WRITING AS A WAY OF LIFE: contemporary potentials for (research in) education
LA ESCRITURA COMO MODO DE VIDA: potencias contemporáneas para la (investigación en) educación
Revista Espaço do Currículo, vol. 16, núm. 3, pp. 1-11, 2023
Universidade Federal da Paraíba

Artigos

Revista Espaço do Currículo
Universidade Federal da Paraíba, Brasil
ISSN: 1983-1579
Periodicidade: Cuatrimestral
vol. 16, núm. 3, 2023

Recepção: 09 Outubro 2023

Aprovação: 24 Novembro 2023


Este trabalho está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional.

Resumo: De que maneiras a escrita pode ser potente contemporaneamente à educação e à pesquisa deste campo? É a partir desta inquietação que este texto tece reflexões acerca de possibilidades contemporâneas da escrita na tarefa de aprender, de ensinar e de pesquisar os acontecimentos que permeiam a vida e a educação. Para tal feitura, inicialmente, apresentam-se modos de escritas do autor e, em seguida, mobilizam-se cinco caminhos pós-críticos: a cartografia, o ensaio, a autoficção, a escrita-oficina e a fabulação especulativa. Cada dimensão destas é apresentada brevemente e rizomaticamente de modo a compor com uma escrita que acontece com o corpo todo. Defende-se uma escrita que aconteça artesanalmente e poeticamente, junto da coragem de uma autoria, de engajar-se com respons-habilidade e de viver com o que se escreve.

Palavras-chave: Escrita, Pesquisa em Educação, Vida, Poética, Experimentação.

Abstract: In what ways can writing be powerful in contemporary time for education and research in this field? It is from this concern that this text reflects on the contemporary possibilities of writing in the task of learning, teaching and researching the events that permeate life and education. To achieve this, initially, the author’s writing styles are presented and, then, five post-critical paths to writing are mobilized: cartography, essays, autofiction, workshop-writing and speculative fabulation. Each dimension of these is presented briefly and rhizomatically in order to compose a writing that happens with the entire body. We advocate writing that happens artisanally and poetically, along with the courage of authorship, of engaging respons-ability and of living with what is written.

Keywords: Writing, Research in Education, Life, Poetics, Experimentation.

Resumen: ¿De qué manera la escritura puede ser contemporáneamente poderosa a la educación y la investigación en este campo? Es desde esta inquietud que este texto reflexiona sobre las posibilidades contemporáneas de la escritura en la tarea de aprender, enseñar y investigar los acontecimientos que permean la vida y la educación. Para lograrlo, inicialmente se presentan los estilos de escritura del autor y, luego, se movilizan cinco caminos poscríticos hacia la escritura: cartografía, ensayo, autoficción, escritura-taller y fabulación especulativa. Cada dimensión de estos se presenta de forma breve y rizomática para componer una escritura que sucede con todo el cuerpo. Defendemos la escritura que ocurre de manera artesanal y poética, junto con la valentía de una autoría, de comprometerse con responsabilidad y de vivir con lo escrito.

Palabras clave: Escritos, Investigación en Educación, Vida, Poética, Experimentación.

1 VIDESCRITA



Escrever para viver
Atrever a ver
Tentar dizer
Querer, poder
O tempo ler
Ensaiar um modo
Um mundo a criar
Cartografar, aprender, fabular
Maneiras de educar
Em devir, experimentar
Nas letras e palavras
entre sonhos e desejos
Formas de nos encontrar

2 LINHAS ENTRE PESQUISA, VIDA E EDUCAÇÃO

Aconchego-me na frente do computador para começar a rascunhar este texto com o ensejo inicial de realizar uma fala que surgiu a partir de um convite especial[1]. O tema é a escrita na pesquisa em educação e esta conferência será feita para estudantes e pesquisadores/as de uma universidade pública, também aberta à participação externa de outras pessoas que desejam pensar mais nessas práticas e experimentações com as linhas, letras e palavras. Coloco-me a refletir o que pode ser potente de se movimentar ao percorrer algumas nuances da escrita na (pesquisa em) educação para este público, para mim e para tantos que se interessam pelos caminhos da escritavida[2].

Um primeiro pensamento que me atravessa nesta tarefa inicial de começar um texto é: como fazer isto? Como falar da potência da escrita? Rapidamente percebo o meu corpo responder: ‘escrevendo!’ E, logo em seguida, sou tomado por uma outra questão: de onde partir? Esta pode ser mais fácil, talvez, já que a resposta está dentro de mim: posso partir ‘daqui’. Desta existência – professor, pesquisador, biólogo, pedagogo, brasileiro, e… e… e…[3] – que vos escreve emergem muitas questões e algumas tentativas de forjar respostas. Dos afetos que me atravessam, do mundo que habito e que componho, da vida que me cerca e me percorre: tudo é matéria para construir caminhos. Daqui, um lugar que se amplia e chega a outros. Entendo que isto não é algo apenas do meu corpo, mas uma potência que reside nos corpos-vidas, nas existências em suas multiplicidades.

Percebo que a escrita pode ser potente à educação, aos estudos curriculares, à escola, à universidade, à formação de professores/as e à pesquisa nesses tantos campos por ser uma maneira de se aproximar dos acontecimentos, do que se viveaprende – tudo junto, sim! – cotidianamente, nos encontros entre corpos e vidas. Já que, como bem afirma Sílvio Gallo[4] (2010, p. 1): “A educação é, necessariamente, um empreendimento coletivo. Para educar – e para ser educado – é necessário que haja ao menos duas singularidades em contato. Educação é encontro de singularidades”. Reconheço, assim, que a escrita é, justamente, um espaço que materializa estes encontros, onde se tecem currículos, se criam mundos, se produzem sujeitos – e também maneiras de fissurar todas estas instâncias, de rachar as grades curriculares, de desfazer territórios, de incidir nos processos de subjetivação que atuam nas ensinagens e aprendizagens.

Na escrita podemos (re)pensar e (re)criar os nossos saberes e as nossas práticas nas escolas, nas universidades, nos demais espaços educativos que percorrem as nossas existências. Com ela é possível experimentar múltiplas possibilidades de fazer um currículo, de fazer uma aula, de formar-se, de constituir-se, de fazer uma escola, de fazer a educação. Quiçá, a escrita pode ser um caminho para experimentar uma educação que aconteça com a/ em meio a/pela vida (SALES; RIGUE; DALMASO, 2023) ao forjar desvios ao que se apresenta como pronto e acabado nas artesanias de aprender e de ensinar. E é a partir destas inquietações que este texto se movimenta.

2.1 Percorrendo um território

Para principiar este texto, percebo-me sentado em uma cadeira da universidade depois de um dia inteiro (e intenso) de trabalho. Iniciei a escrita às 18:33 de uma terça-feira. A semana ainda estava começando, mas já me encontrava exausto. Naquele dia, passei mais de doze horas trabalhando na correção de dezenas de trabalhos para concluir o semestre e fechar as notas das disciplinas. As artimanhas neoliberais de um sistema colonial capitalístico (ROLNIK, 2018) – e, dentre elas, as amarras acadêmicas – vão, muitas vezes, nos tolhendo da potência criativa ao nos tornar pessoas cansadas – cada dia mais. A vontade de dar conta de tudo – como se esse “tudo” existisse e fosse da ordem do possível de ser preenchido – é sufocante e até nos tira o ar. Teria como iniciar uma escrita desvinculando quem vos escreve e os acontecimentos que percorrem o seu corpo?

Depois de tanto tempo na frente das telas, de uma noite de insônia pensando no que tinha que fazer, percebo que, naquela hora em que sinto ser possível escrever, está um dos momentos mais alegres do meu dia: é quando posso parar e brincar com as palavras, ensaiar, cartografar, oficinar, fabular. Lá – ou aqui – eu me realizo. Na construção das linhas que emergem, materializam-se algumas notas do vivido que também possam transbordar os atravessamentos que me inquietam e – por que não? – buscar outras maneiras de vê-los e vivê-los. Posso elaborar, decompor, decantar, transpassar e poetizar.

Escrever pensando nos meus exercícios de escrita é recordar de uma trajetória-vida de tantos encontros. Sempre gostei de rascunhar nos cantos dos cadernos escolares e blocos de notas do celular, mas foi ao me aproximar da pesquisa em educação que vi florescer algo que, para mim, anunciou-se como bom encontro. Depois de anos na graduação em ciências biológicas, imerso em pesquisas das ditas ‘hard sciences’ – interessantes espaços que aprendi a construir alianças, mas que, ao modo que eram tecidos naqueles tempos (e acredito que muito disso permanece parecido), pouco ou nada tinham de possibilidades de colocar-me explicitamente naquele trabalho enquanto um ser desejante, com curiosidades, medos e anseios. Ao começar a pesquisar – e escrever – com as múltiplas possibilidades na educação – embebidas com teorias contemporâneas-pós(estruturalistas-e…) – me encontrei. Vi, naqueles territórios, possibilidades de ser eu. Em quase um devir com Clarice Lispector[5], me perguntei: ‘se eu fosse eu, o que eu poderia – na escrita, na pesquisa, na educação?’.

Na escrita percebi maneiras de ser, de me criar, de aprender, de ensinar. Sem negar certa dose de estresse e cansaço durante estes processos, posso afirmar que tive alegrias imensas escrevendo a dissertação de mestrado[6] e a tese de doutorado[7], além de outros rascunhos que foram e continuam sendo lançados por aí em revistas, livros, eventos, e… Reconheço que isto só foi possível pois estive em espaços que acolheram as minhas maneiras de pensar, de agir, de escrever, de aprender e de educar, dando-me forças para encontrar – e criar – os meus modos de pesquisar. Assim, pude percorrer os meus caminhos de vida-formação enquanto professor e pesquisador desejante e com vontade, orientado e acompanhado de pessoas que seguravam a minha mão, incentivavam-me e escreviam comigo, dando a segurança necessária para, quando me sentisse confiante, pudesse voar com as palavras e deixar que as mãos experimentassem uma vastidão de territórios de pesquisa-educação por vir.

Nestes caminhos de pesquisa-escrita-educação, vi que poderia escrever sobre uma imensidão de temas, desde que aqueles processos acontecessem com o que se escreve, com uma consciência ética, estética e política daquele trabalho, e com o que Donna Haraway (2023) tem nos ensinado acerca de trabalhar com respons-habilidade. Escrevi uma dissertação e uma tese juntamente de artigos, ensaios, poesias, contos, e... Misturei palavras com fotografias, percorri múltiplos campos. Atrevi-me – às vezes, até demais. Não tinha a pretensão de produzir verdades – ufa! Felizmente acredito que tenho conseguido deixar isto para trás. Escrevendo tenho conhecido boas pessoas, aprendido muito e também levado alguns tapas na cara por ter a coragem de ser audacioso. Mas, quando me recordo de todas as linhas produzidas e penso nas que virão, me vem uma alegria – não desprovida de certo medo e angústia –, como se, longe destes movimentos, a minha vida fosse mais triste.

Experimento a escrita na pesquisa em educação como possibilidade de “Criar formas de estar vivo, de locomover-se, de habitar o mundo, de aprender” e, assim, busco mobilizar “Formas outras de escrever, de ensaiar a vida, a escrita, a pesquisa, a educação” (SALES, 2022b, p. 7). Ao invés de tentar representar um ‘todo vivido’ – ficção que tanto se tenta chegar –, busco, ao escrever, pesquisar e educar, criar maneiras de percorrer o que acontece – comigo, em meu entorno, com os que estão próximos e com os que estão distantes, com o mundo. As letras vão se juntando para dar forma aos encontros que acontecem: entre corpos, entre vidas, entre possibilidades. Elas são sutis e buscam ser despretensiosas. Sinto que, neste ato de escrever, está algo muito caro à educação: justamente materializar – e aprender com – o que acontece nos encontros e nas trans-formações neles imbricadas.

É por isto que tento escrever: para transbordar e para crescer. Para me recolher, me recompor, me reconhecer. Para elaborar o que penso e o que me atravessa, o que tanto me inquieta no mundo. Para sentir o mundo e o outro, para ver o mundo e o outro, para perceber que também sou o mundo e sou o outro. Para poder criar mundos e ser outros, e outros, e outros. Para fraturar quem eu sou e entender uma coletividade[8] maior que faz mundos. Escrevo para desabafar, para gritar e bagunçar os meus silêncios, para criar. A própria escrita é, ao ser assim mobilizada, um modo de vida, de atravessar, de forjar caminhos: escrevo para viver as mudanças, para senti-las, para saborear as dores e delícias das travessias[9]. Posso escrever a partir dos meus sonhos, e também dos pesadelos; do que eu desejo, e do que me falta; do que eu trabalho, dos meus amores, dos dissabores, das minhas dores e delícias; do que sobra e do que nunca existirá – mas, talvez, já esteja lá ao escrever, instaurando maneiras sutis de chegarmos a territórios propícios para existências mínimas, como fala Lapoujade (2017).

3 MANEIRAS DE ESCRITA-PESQUISA-EDUCAÇÃO

Tenho me aliado nos últimos tempos em minhas derivas pela videscrita, sobretudo, a perspectivas teóricas de cunho pós-estruturalista e, assim, é a partir delas que parto para tecer estas reflexões. Algumas maneiras que tenho encontrado como potentes para experimentar a escrita na pesquisa em educação são: a cartografia, o ensaio, a escrita-oficina e, mais recentemente, a autoficção e a fabulação especulativa. São campos imensos e intensos com toda uma carga teórico-conceitual a qual não conseguirei – e nem me proponho – aqui adentrar sistematicamente e muito menos tentar esgotá-las – o que sequer acredito ser possível – neste limitado espaço de um artigo, mas passar em suas superfícies e em como estas podem ressoar em nossas práticas de pesquisa-escrita-educação.

Em todas estas mobilizações de letras-palavras-frases-afecções, reconheço ser interessante encontrar meios de poetizar o que acontece. Percorro-as não como instâncias separadas e fragmentadas, mas como mobilizações que em muitos momentos têm os seus limites borrados. Assim, também desejo que possam ser potentes às nossas caixas de ferramentas, como já nos ensinou Gilles Deleuze em seu célebre diálogo com Michel Foucault (2019, p. 132): “Uma teoria é uma caixa de ferramentas. Nada tem a ver com o significante… É preciso que sirva, é preciso que funcione”. Assim, ensejo que cada maneira de se escrever-viver-pesquisar-educar aqui permeada seja disparadora para escritas-vidas-pesquisas-educações por vir que aconteçam pelos encontros, de maneiras inter-transdisciplinares.

Percebo e afirmo uma pesquisa em educação que, como nos ensinam Tomaz Tadeu da Silva, Sandra Corazza e Paola Zordan (2004), em seu livro Linhas de Escrita, se debruce nos acontecimentos. Assim, eis uma investigação-criação “cuja energia provém do processo de desmontagem de todos os modelos já incorporados” (SILVA; CORAZZA; ZORDAN, 2004, p. 138). Esse é um ato que objetiva acontecimentalizar a pesquisa em educação através de operações que possam modificar os corpos, as coisas, as linhas, as energias e tudo que compõem uma vida (SILVA; CORAZZA; ZORDAN, 2004).

3.1 Cartografar

Para começar este breve – e intenso – trajeto por algumas maneiras de pesquisar – e escrever – com a pesquisa e com a educação, partirei da cartografia – um caminho que já está em movimento. Ela, como nos ensinam Deleuze e Guattari (2019), é uma maneira de percorrer – e criar – territórios, de imbricar-se ativamente em movimentos de desterritorialização e reterritorialização. Há, na cartografia, também certa dose de fuga, já que, como diz Deleuze junto de Claire Parnet (1998, p. 49), “Fugir é traçar uma linha, linhas, toda uma cartografia”. Mobilizar a cartografia com a escrita é colocar-se no movimento de forjar estas linhas, de transbordar em letraspalavrasfrases a força das afecções e percepções.

Deleuze (DELEUZE; PARNET, 1995, p. 5), em seu Abecedário, afirma que “Escrever não é assunto privado de alguém. É se lançar, realmente, em uma história universal e seja o romance ou a filosofia” e, assim, “Escrever é, necessariamente, forçar a linguagem”. Eis a potência criativa da escrita: forçar, movimentar, ganhar velocidades, transbordar, desejar, supitar. Assim, nestes fluxos afectivos, a escrita pode ser também uma maneira de viver em sua potência.

Já no livro Crítica e Clínica, Deleuze (1997, p. 11) inquieta-nos ao dizer – ou melhor, escrever – que a escrita pode ser um modo de saúde a partir do contato com os devires, pois, como afirma o autor: “Escrever é um caso de devir, sempre inacabado, sempre em via de fazer-se, e que extravasa qualquer matéria vivível ou vivida. É um processo, ou seja, uma passagem de Vida que atravessa o vivível e o vivido”. Escrever, assim, é fabular e criar mundos, incidir em nossos corposvidas, experimentando maneiras de saúde.

A escrita pode ser um meio de cartografar os espaços que atravessamos e que compomos, pensando em como os encontros nos formam e transformam, atentos às modulações subjetivas e, como nos tem ensinado Suely Rolnik (2016, p. 23) “dando língua aos afetos que pedem passagem”. Fazer uma cartografia é justamente dar vazão a estes atravessamentos que nos formam e transformam: eles nos ensinam, aprendemos justamente com estas cartografias que vamos compondo em nossos trajetos.

Ainda sobre a cartografia, mas, dessa vez, como caminho de pesquisa em educação, Thiago Oliveira e Marlucy Paraíso (2012, p. 174) afirmam que:

A escrita é a forma de pensamento da cartografia. Uma escrita radicalmente vertiginosa: não é contadora de histórias; não ilustra nem narra o que se passou. Algo passa por ela: traços, linhas, setas, devires, personagens, movimentos, corpos. É a escrita o corpo no qual a cartografia é chamada a produzir-se.

Esta escrita pode se materializar tanto em prosa, versos, contos, artigos, ensaios, quanto através de produções imagéticas e audiovisuais. Quiçá, misturar todas estas possibilidades seja justamente a potência que a cartografia – e outros caminhos metodológicos de pesquisas pós-estruturalistas –, em seus flertes transdisciplinares, abriga: sujar o cânone, borrar as linhas, jogar-se em uma sagradaprofana ética da mistura (COCCIA, 2020).

3.2 Ensaiar

Escrever pode ser também uma forma de percorrer os afetos que emergem ao habitar os nossos territórios. Muitos de nossos espaços tem se anunciado, em tantos momentos, como caindo aos pedaços – o que a antropóloga Anna Tsing (2019) tem afirmado como sendo indícios de um mundo em ruínas. Haraway (2016) reflete que, nestes tempos, existem muitos refugiados para poucos refúgios. Talvez, na escrita, seja possível experimentar outras formas de vermos, agirmos, nos situarmos e constituirmos os nossos caminhos: “Encontrar na escrita um refúgio. Criar refúgios escrevendo. Sonhar escritas outras de linhas de vida e modos de existência. Ensaiar” (SALES, 2022b, p. 8).

Outras potentes maneiras de escrever para movimentar o pensamento e – por quê não? – mobilizá-la na pesquisa em educação são através dos modos ensaísticos. A palavra ‘ensaio’ é polissêmica e, inclusive, apresenta diferentes e importantes sentidos às ciências da natureza e às suas transposições educativas, assim como aos estudos literários e campos filosóficos. Para estas reflexões, debruço-me brevemente, sobretudo, no modo ensaístico de escrita tangenciando por Jorge Larrosa (2004). Sobre tal tema, o autor nos convoca em um manifesto ao ensaio:

Que exista alguém dentro de nossa forma de escrever, de nossa forma de pensar, de nossa forma de viver. Seja a que for. Que mantenhamos, ao menos, a mínima dignidade de escrever sem mentir e sem mentir para nós, de pensar sem mentir e sem mentir para nós, de viver sem mentir e sem mentir para nós. Num presente cada vez mais difícil e nunca garantido. Numa primeira pessoa cada vez mais impossível, mas sempre perseguida. Numa distância crítica cada vez mais problemática e mais cética, mas cada vez mais livre. Ao mesmo tempo no singular e no plural. Escrevendo. Pensando. Vivendo. Sempre no devir. Ensaiando. De outro modo (LARROSA, 2004, p. 42).

Ensaiar é escrever com coragem, percebendo a vida que reside justamente nas letras e em suas composições em palavras, frases… nas linhas que ganham velocidades e surrupiam o tempo, que se jogam ao vento, que deliram, que voam. “Palavras, apenas, palavras, ao vento…” já cantava e nos encantava a música Palavras ao Vento, do saudoso Moraes Moreira e de Marisa Monte, eternizada na voz de Cássia Eller. Jogar palavras ao vento é um ato de acreditar que, assim como quem escreve cartas e as joga ao mar em garrafas – algo que, convenhamos, não é nada ‘ecológico’, mas que não perde a sua força poética – deseja deixar ao futuro algo.

Talvez, também possamos jogar cartas de nossas vivências, afecções e aprendizagens cotidianas no oceano sem proteções engarrafadas, deixando que as palavras lançadas ao vento, ao mar e ao tempo se dissolvam, compondo outras coisas por aí – algumas, quiçá, inimagináveis. Coisas por vir: matéria do mundo aberta ao devir. Eis a força de ensaiar: se jogar, muitas vezes sem rumo definito. Ligar a bússola de um corpo vibrátil (ROLNIK, 2016) e, em devir-juvenil, encorajar-se para enfrentar o desconhecido, experimentando a escrita, o pensamento e a própria vida.

3.3 Autoficcionar

Um ensaio, segundo o dramaturgo Sergio Blanco (BLANCO; CAMPANELA; CONCÍLIO, 2023, p. 4), é “um lugar de dúvidas, de questionamentos, de interrogações”. Assim o artista e escritor inicia algumas de suas reflexões acerca do que vem se chamando de autoficção – outra potente maneira possível de compor as nossas caixas de ferramentas (FOUCAULT; DELEUZE, 2019) a serem mobilizadas em nossas pesquisas-aprendizagens-vidas.

Para Blanco, a autoficção apresenta-se como possibilidades contemporâneas de ensaiar “Uma palavra alheia aos mercados, aos mísseis e às modas. Uma palavra que se procura e procura. Uma palavra que se abre para os espaços interiores de retrospecção e reflexão. Uma palavra que duvida. Que treme. Que pensa a si mesma” (BLANCO; CAMPANELA; CONCÍLIO, 2023, p. 10). Palavras em movimento, vivas, intensas, rebeldes, suaves, desejosas, amorosas, vorazes, enraivecidas, em constante risco de mutar, transformar, divagar, se perder e, quem sabe, se encontrar.

Ainda sobre a autoficção, o autor segue afirmando que: “É por meio dessa escrita do eu que descobri essa possibilidade de me dizer, isto é, a possibilidade de construir a meu relato e, portanto, achar aos outros.” (HARAWAY, 2022, p. 11). Eis, então, uma maneira de materializar na escrita os acontecimentos, o que atravessa e produz um eu que nunca está fechado: existe como outro, euoutro, em devir-com estes tantos outros (HARAWAY, 2022).

A escrita é produtora de realidades na medida em que altera o mundo que se escreve, já que “Toda escrita é um ato de traição da realidade pela simples razão de que os mecanismos de poetização mudam, alteram, perturbam, transformam” (BLANCO; CAMPANELA; CONCÍLIO, 2023, p. 11). Ensaiar uma autoficção pode ser, assim, uma maneira promíscua e, quiçá, subversiva de trair qualquer tentativa de representar a realidade, de copiar, de fazer mais-do-mesmo. Está aí, então, a força de jogar-se ao novo, sem a pretensão de criar grandes marcos ou propor ‘novas rodas’, mas colocar-se atento às sutilezas possíveis, já que “Autoficcionar-se é como transicionar: embaralhar os traços do vivido” (BLANCO; CAMPANELA; CONCÍLIO, 2023, p. 11).

A potência da escrita autoficcional para a (pesquisa em) educação reside justamente na sua maneira transdisciplinar de brincar com o vivível, pegando carona nos acontecimentos que formam e transformam os sujeitos. Pode ser que, ao ser empregada nos processos educativos-(trans)formativos, “que o devir-educador/a possa agenciar instantes de sutileza, cuidado, misturas e travessias por intermédio da escrita ficcional, como elo que estabeleça a ativação da presença, da transgressão, da experimentação” (RIGUE; SALES, 2023, p. 307). É, quiçá, uma forma de retirar-nos de qualquer possibilidade de sujeição, ao tomarmos – mesmo que molecularmente – as rédeas de nossas vidas, de nossos trabalhos e de nossas trajetórias, ao escrevermos. E, neste relatar autoficcional, está justamente a força de materializar o aprendido pelo corpo, o que foi incorporado e manifesta-se na vida, da sua forma mais visceral de se autotransformar.

3.4 Escrever e oficinar

Ganhar velocidade com as palavras que saem de nossas mãos, bocas, pensamentos, corpos, vidas é imbricar-se nesse ato de criar, fabular e também oficinar. Neste caminho, outra maneira de mobilizar-se na pesquisa e na educação com a escrita é através do que Vivian Pontin e Ana Godoy (2017) vem chamando de escrita oficina. Para as autoras “Uma escrita nunca está só” e, dessa forma,

Pode-se dizer que uma aprendizagem acompanha a escrita em seus passos, abrindo espaços para que as palavras sejam colocadas uma a uma, tentativas e repetições, processos e durações, para esboçar uma escrita, trilhá-la, realizá-la. Os corpos também o fazem sendo formados pelas palavras, formados com as palavras, criados nas palavras, corpos que atravessam e são atravessados nesse percurso (PONTIN; GODOY, 2017, p. 1560-1561).

Oficinar. Maquinar as palavras. Fluir com os corpos. Jogar-se na deriva que é aprender e ensinar. Nas escolas, nas universidades, nas ruas, nas praças, nas casas, nos afetos, nos tempos. Mobilizar os pensamentos em possibilidades. Engajar-se com o que acontece. Fazer acontecer. Criar: condições, espaços, territórios, currículos, aulas, e… e… e… sonhar mundos outros. Pela escrita, criar estes mundos outros. Experimentar. Nas junções de letras, oficinar um ateliê artísticoeducativo, na artesania de compor palavras e frases que transbordam em afecções e percepções múltiplas do que se viveaprendensina.

Dessa forma, mobilizar uma escrita-oficina é criar corpos e vidas com as palavras, nas palavras, pelas palavras: ganhar velocidades com elas, em suas linhas possíveis e, quiçá, oficinar, agir, atuar: flertar com as impossibilidades. Assim, ainda seguindo as autoras, nesta modalidade de escrita demanda-se abrir aos encontros e às multiplicidades necessárias à criação, já que “Uma escrita-oficina, para além da experimentação, exige a feitura de alianças, exige uma trama de fios, exige que se criem laços, muitas vezes de conexões estranhas, esquizas, não esperadas, que a escrita encontra a ocasião de trazer à tona” (PONTIN; GODOY, 2017, p. 1563). Eis a necessidade de colocar-se em movimento com o corpo e as palavras.

3.5 Fabular e especular

Por fim, uma última maneira que trago neste breve voo panorâmico por algumas referências e possibilidades que têm me atravessado com a escrita são as fabulações especulativas. Inspirado, sobretudo, com os textos das autoras Donna Haraway e Vinciane Despret, esta tem sido, talvez, uma possibilidade que se aproxima diretamente às questões das ciências da natureza – meu campo inicial de estudos e também de trabalho, na (pesquisa em) educação em ciências junto à formação de professores/as de ciências e biologia –, por ser mobilizada também pelas duas pesquisadoras que debruçam-se intensamente nos campos da filosofia e antropologia das ciências.

Fabular especulativamente na escrita que acontece na educação é possibilidade de experimentar com o mundo, com a vida, com as naturezasculturas – termo que Haraway (2022) nos presenteia para pensar contemporaneamente na natureza e na cultura como processos que se fazem em íntimas relações. Mobilizar estas possibilidades de pensamento-escrita é entrar em devir-com (HARAWAY, 2022) – perceber que só é possível vir a ser junto do(s) outro(s) – múltiplos seres humanos, não humanos, mais que humanos, como as plantas, os demais animais, os céus, os ventos, as águas, os tempos, os hábitos, as subjetividades, os afetos, os perceptos, os modos de vida. Assim, Haraway (2023, p. 185) reflete que “precisamos fazer-com – devir-com, compor-com – os Terrestres”.

Fabular especulativamente é fazer um pensar mundano, com a Terra/terra, de pés no chão, entremeado com tudo que há, que acontece, que se movimenta, que fere, que sangra, que grita, e que também pode curar. É tecer linhas com o que vive e que morre. É estar atento, cultivar modos de se relacionar. É percorrer e criar territórios juntos, coletivamente, promiscuamente, corajosamente, respeitosamente, de maneira engajada com os tantos outros seres.

Com escritas fabulativas – que ganham um corpo concreto –, misturamos o vivível com o ficcional, desejos com sonhos, vontades com medos, experiências do passado com perspectivas de futuros, habitando, assim, espaços do entre: colocamo-nos em movimentos de criar narrações singulares que arregimentam distintos corpos e existências, estando estas a serviço da afirmação da vida e ativação do viver (SALES; RIGUE, 2023, p. 4).

Para as fabulações especulativas, como bem afirma Haraway (2023) ao pensar no trabalho de íntima relação com as ciências e com a escrita da pesquisadora Vinciane Despret, “é preciso cultivar a virtude selvagem da curiosidade”, já que “A curiosidade sempre leva quem a pratica a se afastar um pouco demais dos caminhos já trilhados, e é aí que se encontram as estórias” (p. 230). Criar estórias, ensaiar, especular o mundo, vasculhar o passado, vislumbrar futuros possíveis, em suas dores e delícias que se anunciam. Também situar e localizar as realidades, os seres e os saberes que se encontram e, nesta feitura, buscar os caminhos necessários, forjar desvios, agir.

Percebo que, junto da curiosidade, é necessário, para especular fabulações – na pesquisa, na educação, em nossas práticas, ensinagens, aprendizagens e… –, “cultivar a respons-habilidade (...) [e] falar a partir de mundos situados” (HARAWAY, 2023, p. 237). Assim, eis a urgência de assumirmos o caráter político da pesquisa, da escrita, da educação e do nosso estar no mundo, compondo-o.

CONSIDERAÇÕES FINAIS, CONEXÕES POSSÍVEIS

Escrever é movimentarmos ideias, pensamentos, afecções. É colocarmos o corpo todo na artesania das palavras, no intenso jogo das letras que se juntam e formam fonemas, sílabas, que dançam, que brincam, que saltam, forjando vidas ou, quiçá, possibilitando ver as que já existem ali. É experimentar, misturar, criar. É nos permitirmos aprender com este deslocamento e, quem sabe, também ensinar. Chego a pensar: poderia ser um texto uma aula?

Nas escritas podemos revisitar o vivido, o que nos atravessa, o que acontece. Podemos fazer acontecer também, produzir novos caminhos, criar outros fins que sejam também embriões de começos. Ressignificar os cansaços e exaustões ou abandonar de vez o desejo de significar tudo: jogarmo-nos aos movimentos intensivos de estar vivo, de aprender com a vida, de bailar com as palavras, com os sons, com as imagens, com os outros seres, com o tempo.

Escrever é materializar o aprendido e aprender com o caminho. Ao colocarmo-nos nestes movimentos de cartografar, ensaiar, autoficcionar, oficinar, fabular, especular – muitas vezes misturando e borrando estes e tantos outros modos de escrita-vida –, podemos tomar as rédeas das narrativas de nossas existências, de nossos mundos, do que acontece conosco, da nossa respons-habilidade com a Terra/terra. Podemos percorrer territórios desejosos e relacionarmo-nos ativamente na sua produção – mesmo que nas menores maneiras possíveis, sutis e moleculares. A escrita, a pesquisa e a educação podem anunciar-se, assim, como um modo de vida alegre, feliz, aberto aos encontros, à arte, aos movimentos do desejo que tenham a coragem de cultivar territórios prenhes de novos mundos possíveis.

Podemos escrever sobre as nossas escolas, sobre as nossas universidades, sobre as nossas aulas, sobre as nossas práticas, sobre as nossas ensinagens, sobre as nossas aprendizagens, sobre as nossas ânsias, sobre os conhecimentos, sobre os encontros, sobre as palavras, sobre as coisas, sobre os estudantes, sobre o que vivemos, sobre o que sentimos. Mas, para além desta dimensão, podemos escrever COM tudo isto: junto das aulas, dos estudantes, dos colegas, das escolas, das universidades, das políticas, dos currículos, das ruas, das praças, dos medos, dos desejos, dos humanos, dos outros animais, das plantas, das bactérias, dos fungos, dos vírus, da matéria, dos saberes, dos currículos, das (in)disciplinas, dos céus, dos sonhos, do sol, dos pesadelos, das estrelas, das dores, das delícias, das águas, dos ventos, dos tempos, das ciências, das artes, das filosofias, das naturezasculturas, do que permeia os nossos corpos, do que está perto, do que está distante, do que nos movimenta, também do que nos paralisa e esvai.

Que a escrita possa ser, então, um modo poético de vida que, em seus movimentos intensivos, transborde a sua expressão em articulação de palavras e engaje-se ativamente com respons-habilidades com quem se escreve, já que, como afirma Haraway (2023, p. 225): “[...] estamos aqui para viver e morrer com, não só para pensar com e escrever com. Mas, para isso, também estamos aqui para semear mundos com”. Tudo isto é matéria para a criação, fecundação e semeadura de novos mundos, de mundos outros. Eis algumas pistas de possíveis a serem mobilizados na escrita. Nos resta a coragem de poder, enfim, experimentar.

REFERÊNCIAS

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Notas

[1] Este texto surgiu a partir do convite feito pelo professor Franklin Kaic Dutra Pereira para realizar uma fala nos projetos “Entre prosas: conversas francas sobre a educação em ciências” e “Projeto teias: fabulações e escritas em educação”, na Universidade Federal da Paraíba, em setembro de 2023. Posteriormente a este evento, estas escritas foram ampliadas e adaptadas para aqui estar.
[2] Ao longo do artigo mobilizo palavras escritas conjuntamente de modo a criar junto delas noções que percebo serem inseparáveis.
[3] Utilizo o ‘e… e… e…’ inspirado no conceito de rizoma, proposto pelos filósofos Gilles Deleuze e Félix Guattari (2019). Assim, busco experimentar uma escrita que, na conjunção dos “es” e das reticências, acontece rizomaticamente.
[4] Inspirado em práticas que têm investido em uma escrita que busque evidenciar dimensões múltiplas de quem escreve – inclusive demarcando questões de gênero – e do corpo-vida que se imbrica entre palavras-afetos materializados em linhas de escrita, enquanto vive e se (trans)forma, tenho empregado em meus textos o movimento de, em citações, na primeira vez em que me refiro a determinada autoria, demarco o seu nome juntamente do sobrenome.
[5] Inspirado em Clarice Lispector (2019), no livro Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, e nas indagações tecidas pela personagem Lóri acerca de “Se eu fosse eu (...)?”.
[6] Em minha dissertação de mestrado, realizada no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia, intitulada de Outras biologias: cartografias da comida(SALES, 2020), orientada pela professora Daniela Franco Carvalho, experimentei sabores, escritas e imagens para pensar no que um corpo pode aprender ao se alimentar. Acredito que esta foi uma de minhas primeiras imersões na escrita acadêmica que também se abre aos encontros, às poéticas e ao que pede passagem.
[7] Já na tese de doutorado, também realizada no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Uberlândia, intitulada de Educações menores em HIV/aids: o que pode a educação em ciências e biologia em cartografias audiovisuais?(SALES, 2022a), orientada pela professora Lúcia de Fátima Dinelli Estevinho, joguei-me por inteiro em uma pesquisa-escrita em educação que acontece transdisciplinarmente, afirmando as conexões possíveis entre ciência-arte-filosofia. Ainda com a cartografia como caminho-de-pesquisa, continuei com o meu desejo de adentrar nas interfaces, conexões e atritos entre corpo e educação, aproximando-me naquele momento das discussões de sexualidade para pensar na pandemia de HIV/aids enquanto acontecia a pandemia de covid-19. Para resistir entre essas duas pandemias me foi necessária muita coragem, materializada em linhas de escrita-vida que ecoaram em tantas outras produções de travessias.
[8] Escrever é um ato coletivo, já que “nunca escrevemos sozinhos, mas somos banhados, inspirados, avizinhados pela relação não harmônica com outros seres, humanos ou não humanos” (SALES; RIGUE; DALMASO, 2023, p. 4).
[9] Escrever é atravessar: ao me abrir a tudo que pode transbordar com a escrita, também reconheço “a potência que habita nas travessias” (SALES, 2022b, p. 6). Dois textos que se debruçam nesta força de travessia que acompanha a escrita poética são: Travessias em poéticas virais (SALES, 2022c), no qual percorro poesias-virais escritas durante períodos da pandemia de covid-19, e Quando o cartógrafo vai a campo: travessias e poéticas de um jovem professor(SALES, 2022d), em que me jogo nos afetos que transbordavam e pediam passagem ao retornar ao espaço escolar depois de um tempo distante no doutoramento, percebendo-me, afirmando e experimentando professor de outros modos.


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