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ESTÁGIO SUPERVISIONADO II NO PERÍODO DE PANDEMIA DA COVID-19: UMA EXPERIÊNCIA NA UECE
SUPERVISED INTERNSHIP II IN PANDEMIC PERIOD OF COVID-19: AN EXPERIENCE AT UECE
ETAPA SUPERVISADA II DURANTE LA PANDEMIA DEL COVID-19: UNA EXPERIENCIA EN LA UECE
Hachetetepé. Revista científica de educación y comunicación, núm. 24, pp. 1-16, 2022
Universidad de Cádiz

Artículos

Hachetetepé. Revista científica de educación y comunicación
Universidad de Cádiz, España
ISSN: 2172-7910
ISSN-e: 2172-7929
Periodicidade: Semestral
núm. 24, 2022

Recepção: 02 Dezembro 2021

Revised: 20 Dezembro 2021

Aprovação: 08 Janeiro 2022

Publicado: 23 Fevereiro 2022

Resumo: : O objetivo dessa pesquisa foi analisar os desafios da realização do estágio curricular no ensino remoto e verificar se a disciplina atingiu sua finalidade de elaborar uma proposta de trabalho para uma ação docente comprometida com os interesses e necessidades da comunidade escolar e do processo de formação do professor. A abordagem foi qualitativa, em uma pesquisa do tipo descritiva. Os respondentes foram os alunos do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central matriculados na disciplina em 2020.2. Para coleta utilizamos um formulário do Google Forms. Os resultados explicitam os desafios enfrentados pelos estagiários em sua prática docente durante a Pandemia de Covid 19. Os respondentes destacaram diversos desafios como a falta de conexão com a internet, a carência de materiais tecnológicos e o conhecimento de como manejá-los, além da dificuldade de acompanhar a aprendizagem dos escolares, em decorrência do declínio na participação e frequência. Os achados indicam que, mesmo diante de tantos empecilhos, a disciplina atingiu seus objetivos, pois os estagiários validaram a experiência justificando que esse era o contexto real da escola e como futuros educadores precisam estar preparados para situações atípicas e emergenciais como a desencadeada pela pandemia.

Palavras-chave: Estágio Supervisionado, Formação Docente, Pandemia, Ensino Remoto.

Abstract: : The objective of this research was to analyze the challenges of accomplished the curricular internship in remote teaching and verify if the discipline reached its purpose of elaborating a proposal for a teaching action committed to the interests and needs of the school community and teachers’ training process. The approach was qualitative, in a descriptive type of research. The respondents were students of the Pedagogy course of the Faculty of Education, Sciences and Letters of Sertao Central enrolled in the discipline in 2020.2. For collection we use a Google Forms form. The results explain the challenges faced by interns in their teaching practice during the Covid 19 Pandemic. Respondents highlighted several challenges as lack of internet connection, lack of technological materials and knowledge of how to handle them, in addition to the difficulty to monitor the students' learning, as a result of the decline in participation and attendance. The findings indicate that, even in the face of so many obstacles, the discipline achieved its objectives, as the interns validated the experience, justifying this was the real context of the school and how future educators need to be prepared for atypical and emergency situations like the one triggered by the pandemic.

Keywords: Supervised Internship, Teaching Training, Pandemic, Remote Teaching.

Resumen: El objetivo de esta investigación fue analizar los desafíos de realizar las prácticas curriculares en el enseñanza a distancia y verificar si la asignatura logró su propósito de desarrollar una propuesta de trabajo para una acción docente comprometida con los intereses y necesidades de la comunidad escolar y el proceso de formación del professor. El enfoque fue cualitativo, en una investigación descriptiva. Los encuestados eran estudiantes del curso de Pedagogía de la Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central matriculados en la asignatura en 2020.2. Para la recopilación, usamos un formulario de Google Forms. Los resultados muestran los desafíos que enfrentaron los pasantes en su práctica docente durante la Pandemia Covid 19. Los encuestados destacaron varios desafíos como la falta de conexión a internet, la falta de materiales tecnológicos y conocimiento de cómo manejarlos, además de la dificultad de seguir el aprendizaje de los estudiantes debido a la disminución de la participación y asistencia. Los hallazgos indican que, a pesar de tantos obstáculos, los internos afirmaron que la asignatura logró sus objetivos porque los pasantes validaron la experiencia justificando que ese era el contexto real de la escuela y cómo los futuros educadores deben estar preparados para situaciones atípicas y de emergencia como la provocada por la pandemia.

Palabras clave: Pasantía supervisada, Formación de profesores, Pandemia, Enseñanza remota.

1. INTRODUÇÃO

No ano de 2020 foi decretada, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a Pandemia da COVID-19 (Sars-Cov-2) e como consequência inúmeras medidas foram adotadas para impedir ou retardar o contágio. Na área educacional inicialmente foi recomendada a suspensão das atividades escolares. Todavia, conforme as autoridades perceberam que não haveria uma solução rápida, os órgãos reguladores tiveram que definir regras e publicar decretos e resoluções que orientassem as instituições de ensino.

No Estado do Ceará (CE), o governador Camilo Sobreira de Santana anunciou por meio do decreto Nº33.510, de 16 de março de 2020, situação de emergência em saúde e definiu medidas para enfrentamento e contenção da infecção humana pelo novo coronavírus. Uma dessas medidas no âmbito educacional anunciou a suspensão obrigatória inicialmente por quinze (15) dias, de atividades educacionais presenciais em todas as escolas, universidades e faculdades, das redes de ensino público, a partir do dia 19 de março de 2021.

Isso fez com que as instituições educacionais adotassem o ensino remoto emergencial, alunos e professores tiveram que migrar para as salas de aulas virtuais, e com isso equipamentos como celulares e computadores passaram a ser utilizados mais frequentemente. O que serviu para demonstrar o quanto estamos longe de ter tecnologia a serviço da educação, haja vista, milhares de alunos terem ficado distante da escola por não ter conexão de internet, devido a falta de uma rede pública de acesso, deixando mais evidente a divisão social. No limiar de suas condições de acesso, nas escolas públicas optou-se pelo uso do WhatsApp, mesmo esse não sendo um aplicativo educacional e apresentando muitas limitações por não funcionar como um Ambiente Virtual de Aprendizagem-AVA. Essa opção foi condicionada pela dificuldade de acesso dos alunos à internet, pois muitos moram em localidades que não dispõem de serviços de internet.

Na Universidade Estadual do Ceará (UECE) não foi diferente, os professores foram orientados a utilizar o Google Meet para ministrar suas aulas e a oferta de disciplinas ficou bastante limitada uma vez que as disciplinas que ocorriam em laboratórios de ensino e as práticas pedagógicas, com destaque para os estágios foram proibidos, visto a obrigatoriedade de cumprir a quarentena e isolamento social, que constituía-se como uma das mais importantes e eficazes medidas de controle do avanço do vírus, conforme previsto no decreto Nº33.510, de 16 de março de 2020. Assim como em outras instituições, professores e alunos investiram recurso na educação. O Estado incapaz de socorrer a sociedade em suas demandas, jogou o pesado fardo nos sujeitos que estão envolvidos diretamente com a educação.

Na intenção de conter o avanço do novo coronavírus e por ser decretado situação de calamidade pública no país, vários decretos no âmbito estadual foram promulgados e prorrogados sempre que necessário. Em 1 de agosto de 2020, cinco meses após o primeiro decreto ainda estávamos cumprindo isolamento social. Na referida data foi promulgada a Lei n° 33.700, na qual ainda eram vedadam às aulas presenciais em universidades, escolas da rede de ensino público e privado do Estado do Ceará.

Diante desse quadro a necessidade dos alunos concluírem seus cursos foi pressionando as instituições a encontrarem uma alternativa com potencial para solucionar o problema. Essa necessidade se tornou mais premente, quando em 2021 vivenciamos uma nova “onda” da COVID-19 e o isolamento social foi novamente recomendado. Assim, no segundo semestre de 2020 foi adotado pela Universidade Estadual do Ceará o ensino remoto em caráter emergencial pelo tempo que perdurasse as condições desfavoráveis para o ensino presencial.

Em virtude disso, para Souza e Ferreira (2020), o ensino remoto é um modelo de tarefas didáticas que são realizadas de forma não presencial, ou seja, as aulas ocorrem por meio da internet, utilizando equipamentos como celulares, computadores ou tabletes, e o professor e o aluno estarão em suas devidas residências. Com a pandemia da COVID-19, as escolas e as universidades tiveram que, emergencialmente, se adaptarem para o ensino remoto emergencial, viabilizando a continuidade da educação.

A Pró-Reitoria de Graduação (PROGRAD) organizou um documento com orientações para auxiliar no planejamento de ensino e sugerir atividades que pudessem ser consideradas na composição da carga horária das disciplinas, além de sugerir metodologias e atividades para contabilizar nessa carga horária de Ensino Remoto Emergencial – ERE, que difere de aprendizagem online, conforme prevê Hodges et al (2020), e difere também de Educação à Distância conforme postulado por Marcon e Rebechi (2020) e que veremos de modo mais detalhado nas seções que seguem.

Como metodologias de ensino remoto o documento1 prevê aulas síncronas e assíncronas, pelos mais diversos meios de comunicação: whatsapp, email, vídeo-aula, Google Meet, Zoom, podcasts; com encontros semanais ou quinzenais.

No que concerne à disciplina de Estágio Supervisionado, foi promulgada a Resolução Nº 4597/2021, de 15 de fevereiro de 2021, que regulamenta, em caráter excepcional, a oferta especial de disciplinas e de outros componentes curriculares da graduação, por meio remoto, no semestre 2020.2, em função da suspensão das aulas e atividades acadêmicas presenciais, decorrente da pandemia da COVID-19, e dá outras providências. A resolução foi aprovada pelos membros do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão – CEPE, em sessão realizada no dia 15 de fevereiro de 2021, que prevê a realização de estágios supervisionados por meio de ensino remoto.

Diante do exposto, levantamos a seguinte problemática: Como se realizou a disciplina de Estágio Supervisionado II na modalidade de ensino remoto emergencial na FECLESC? Para isso, traçamos como objetivo geral investigar se a disciplina de Estágio Supervisionado II, cursada de forma remota cumpriu o objetivo proposto no programa da disciplina e explicatado no decorrer do texto.

O curso de Pedagogia em análise, oferta 5 disciplinas de Estágio Supervisionado: Estágio I: educação infantil, Estágio II: 1º e 2º ano do ensino fundamental I, estágio III: 3º ao 5º ano do ensino fundamental I, Estágio IV: gestão escolar e Estágio V: área de aprofundamento.

No semestre 2020.2, o curso de Pedagogia da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central (FECLESC) Unidade Acadêmica da UECE ofertou as disciplinas de estágio supervisionado, na turma do 7º semestre das cinco disciplinas 3 são estágios e no 8º semestre 2 disciplinas são de estágio supervisionado. A oferta destas ocorreram pela necessidade das turmas não ficarem estagnadas num semestre, haja vista estarem em um momento no curso em que a prática é a principal referência, ademais nesse período o Conselho Estadual de Educação (CEE) autorizou por meio da Resolução N° 481/2020 em regime especial as atividades escolares não presenciais (remotas) para cumprimento do calendário letivo do ano de 2020, como medida de prevenção e combate ao contágio da COVID-19.

Todas as disciplinas de estágio ofertadas ocorreram remotamente, nossa análise incidiu sobre a disciplina de Estágio II, uma das autoras foi a professora orientadora dessa disciplina. O objetivo do estágio II é elaborar uma proposta de trabalho para uma ação docente comprometida com os interesses e necessidades da comunidade escolar e do processo de formação do professor, a partir da análise diagnóstica, da investigação do campo de estágio e da fundamentação teórica pertinente à Área. Dentre os diversos conteúdos programáticos destacamos: abordagem da Educação Escolar e a Prática de Ensino, construção da identidade do profesor, a pesquisa como elemento básico para a construção do diagnóstico escolar, a unidade teoria e prática, dentre otros aspectos ligados a prátia docente.

A referida resolução foi estendida no Estado do Ceará até 31 de dezembro de 2021, por meio da Resolução Nº 487/2020, que altera o artigo 2º da Resolução CEE nº 481, de 20 de março de 2020, que dispõe sobre o regime especial de atividades escolares não presenciais (remotas) no Sistema de Ensino do Estado do Ceará, para fins de reorganização e cumprimento do calendário letivo dos anos de 2020 e de 20212.

O Art. 2° da resolução supramencionada evidencia que o regime especial de atividades escolares não presenciais (remotas) poderá ser estabelecido, a critério das instituições ou redes de ensino públicas e privadas da educação básica e de educação superior, pertencentes ao Sistema de Ensino do Estado do Ceará, até 31 de dezembro de 2021. Desse modo, no semestre 2020.2, que vigorou entre os meses de abril a agosto de 2021, a FECLESC ofertou aos seus alunos as disciplinas de estágio supervisionado de modo não presencial (remoto), conforme exposto na Resolução Nº 4597/2021, de 15 de fevereiro de 2021.

Nossa pesquisa está dividida em quatro seções. A primeira apresenta o percurso metodológico. Na sequência trazemos uma discussão sobre estágio supervisionado na qual destacamos a importância desse componente curricular para a formação do discente. Os autores que nos subsidiaram foram: Pimenta e Lima (2004) e Scalabrin e Molinari (2013).

Seguindo temos uma seção intitulada: Ensino remoto emergencial durante a pandemia de COVID-19. Nessa seção nos fundamentamos em Marcon e Rebechi (2020).

Por fim, temos uma seção com a análise dos dados que coletamos por meio de um questionário respondido pelos discentes do curso de Pedagogia da FECLESC que cursaram a disciplina de Estágio Supervisionado II no semestre de 2020.2. Nessa seção analisamos as respostas as perguntas feitas aos alunos sobre o aproveitamento da disciplina bem como sobre os principais desafios enfrentados. Cremos que a descrição da forma de condução da disciplina na FECLESC possa contribuir com o planejamento em outras instituições que optaram por não ofertar estágio durante o período de Pandemia. Essa decisão embora fundamentada em dados como de acesso dos alunos as ferramentas tecnológicas têm impacto na vida de estudantes que tiveram sua conclusão de curso adiada, suas atividades acadêmicas suspensas e foram impedidos de conhecer as atividades escolares no contexto do ensino remoto.

2. METODOLOGIA

O lócus do trabalho foi a FECLESC/UECE, que fica localizada na cidade de Quixadá no estado do Ceará, Brasil. A cidade está localizada no território cearense, inserido nas terras semiáridas do sertão nordestino. É a maior cidade do Sertão Central com população estimada em 87.728 habitantes. Quixadá é um dos centros comerciais mais expressivos do Ceará, para onde afluem as comunidades das cidades vizinhas. Possui como principal fonte de empregabilidade a administração pública, com aproximadamente 2 mil funcionários, sendo as principais fontes econômicas a prestação de serviços e o comércio, seguido da avicultura (criação de aves para produção de alimentos, em especial carne e ovos) e a ovinocaprinocultura (criação de ovinos e caprinos para a produção de carne, leite, couro e lã). No âmbito educacional, o município conta com 206 escolas entre públicas e privadas. A nível de país o Brasil ocupa o 53º lugar em educação, entre 65 países avaliados pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA). Sobre aspectos educativos e culturais sugerimos a tese “Quixadá: Centro Regional de Convergência e Irradiação da Educação Superior (1983-2013)” que desvela o vasto campo acadêmico no qual Quixadá se tornou e o capítulo do livro “Uma cidade universitária no sertão central cearense: cultura e cotidiano acadêmico” (Haiashida, 2014 e 2018). A cidade possui sete grandes universidades, dentre essas, públicas e privadas, possuem um rol de cursos que se debruçam das licenciaturas ao bacharelado em várias áreas.

Por fim, Quixadá possui um “zoológico de monólitos”, a região é conhecida por seus imensos monólitos em formato de animais, onde o mais famoso é o da Galinha choca e o maior deles o monólito da baleia. É uma área de esportes radicais, vôo livre, paraquedismo, motocross, onde sedia encontros nacionais e internacionais no vôo livre. Por estar situada na microrregião do Sertão Central do Ceará, Quixadá recebe alunos e alunas de várias cidades, o que lhe configura também como um polo irradiador de pesquisas na área de educação.

Os dados de nossa pesquisa foram coletados com os discentes do curso de Pedagogia (no qual duas das pesquisadoras estão matriculadas e duas são docentes), na disciplina de Estágio Supervisionado II, uma das autoras foi a professora orientadora e a outra monitora da disciplina, no semestre 2020.2.

A abordagem de nossa pesquisa é qualitativa, uma vez que, conforme elucida Neves (1996), esse tipo de pesquisa não busca enumerar ou medir eventos e, geralmente, não emprega instrumental estatístico para análise dos dados; dela faz parte a obtenção de dados descritivos mediante contato direto e interativo do pesquisador com a situação de objeto em estudo. A análise descritiva analítica aponta os resultados de forma a preservar o registro dos eventos, mapeando a experiência passada, buscando localizar no tempo e no espaço a experiência, aqui descrita sobre o período da pandemia de COVID-19.

Toledo e Gonzaga (2011) apontam que na pesquisa descritiva, o princípio é a descrição minuciosa de um fenômeno que se apresenta, não tendo necessariamente que o descobrir. Gil (2008), corroborando, destaca que pesquisas deste tipo têm como principal objetivo a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis. As pesquisas descritivas, juntamente com as exploratórias, são habitualmente realizadas por pesquisadores sociais preocupados com a atuação prática.

Como instrumento de coleta de dados utilizamos o questionário, com 5 (cinco) perguntas subjetivas, a saber —Quadro 1—:

Quadro 1- Questionário aplicado aos alunos

Perguntas


Quadro 1

Questionário aplicado aos alunos

Perguntas elaboras pelas autoras

O questionário foi aplicado pelo Google Forms, no mês de outubro de 2021. Este explicava que a pesquisa buscava investigar como foi a experiência dos discentes na disciplina supracitada, ofertada em contexto pandêmico. Em seguida enviamos o link para os contatos dos alunos no qual continha a apresentação da pesquisa, especificando seus objetivos, bem como nossa responsabilidade de manter a confidencialidade dos respondentes. Ao final do questionário os alunos declaravam estar cientes de que não recebriam nenhuma gratificação pela participação e que as respostas fornecidas seriam utilizadas para estudo do nosso objeto de pesquisa.

Assim, tivemos o quantitativo de 6 (seis) alunos respondentes de um total de 8 (oito) cursantes. Ao longo da análise nominamos esses respondentes como: respondente 1, respondente 2, respondente 3, respondente 4, respondente 5 e respondente 6. Na sequência procedemos à análise a fim de descobrir como foi o processo da disciplina em comento.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1. Estágio supervisionado

O estágio supervisionado é um dos momentos mais esperados pelos discentes das diversas licenciaturas, unindo teoria a prática, conforme elucida Piconez (2013) o estágio supervisionado nos cursos de licenciatura ocorrem, normalmente, nos semestres finais do curso, onde os discentes são direcionados pelos professores-supervisores a visitas semanais a escola.

O estágio é um momento de grande enriquecimento acadêmico, é uma preparação, uma fase de aprendizagem, onde, por meio de observação, análise, planejamento e regência, se propicia ao aluno a complementação do ensino, treinamento e aperfeiçoamento técnico, cultural, científico e relacionamento humano. O estágio supervisionado é um componente curricular sancionado pela Lei nº 11.788 de 25 de setembro de 2008, a qual o define como:

[...] ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior, de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de jovens e adultos. (Brasil, 2008, p. 01).

Pimenta e Lima (2004) entendem o estágio como um campo de conhecimento, logo, isso significa atribuir-lhe um estatuto epistemológico que supera sua tradicional redução à atividade prática instrumental. “Enquanto campo de conhecimento, o estágio se produz na interação dos cursos de formação com o campo social no qual se desenvolvem as práticas educativas” (p. 6).

Elas apontam que “a profissão docente é uma prática social, ou seja, como tantas outras, é uma forma de se intervir na realidade social, no caso, por meio da educação que ocorre, não só, mas essencialmente nas instituições de ensino”. (Pimenta e Lima, p. 11).

Scalabrin e Molinari (2013) destacam que o estágio curricular supervisionado é indispensável na formação de docentes dos cursos de licenciatura pois é um processo de aprendizagem necessário a um profissional que deseja estar preparado para enfrentar os desafios de uma carreira. Para as autoras,

O estágio é uma prática de aprendizado por meio do exercício de funções referentes à profissão que será exercida no futuro e que adiciona conhecimentos práticos aos teóricos aprendidos nos cursos. [...] O estágio curricular obrigatório que é uma atividade assegurada na matriz curricular do curso, cuja prática varia de acordo com o curso e pode ser realizada em organizações públicas, privadas, organizações não governamentais ou através de programas permanentes de extensão da universidade. (Scalabrin e Molinari, 2013, p. 2).

Vemos que as autoras descrevem o estágio como uma prática de aprendizado referente à profissão que será exercida e descrevem as várias modalidades de estágio delineando cada um deles: obrigatório, não obrigatório e monitoria.

Conforme vemos em Pimenta e Lima (2004), há uma discussão concernente a teoria e prática nos estágios, destacando que este se resumiria à prática, pois era a mais importante e os alunos faziam queixas de que havia muita teoria, muito conceito e pouca prática e que não utilizariam tais conceitos em suas vivências práticas. Vimos, entretanto, que tanto teoria quanto prática são essencialmente importantes. Teoria e prática são indissociáveis.

Desde março de 2020 é sabido por todos que estamos enfrentando uma crise sanitária devido a pandemia provocada pelo Coronavírus (COVID-19). Essa crise fez com que diversos estabelecimentos públicos e privados viessem a fechar suas portas, incluindo escolas e universidades.

A FECLESC/UECE, especificamente, ficou por um pouco mais de sete meses sem atividades, não adotando, a priori, o ensino remoto por diversas razões, por exemplo: muitos alunos moram na zona rural, onde o acesso à internet é inexistente ou problemático; muitos não possuem aparelhos tecnológicos compatíveis para suportar os principais aplicativos que passaram a ser utilizados: Meet, Zoom dentre outros. Além disso foi necessário aguardar os decretos dos órgãos competentes para que a faculdade não atuasse de forma irregular, bem como formular resoluções que permitissem a prática remota das aulas. Resoluções essas construídas pelos órgãos competentes da instituição e aprovadas em seus conselhos. Essas foram as principais razões para que o ensino remoto não fosse implementado de forma imediata.

A adesão ao Ensino Remoto Emergencial aconteceu em outubro de 2020, visto que a crise não aparentava resolução a curto ou médio prazo. Conforme expusemos, muitas disciplinas, principalmente as que se relacionavam a prática docente não foram, prontamente, ofertadas, pois não parecia possível conceber estágio de forma remota. Tal concepção mudou no semestre posterior, 2020.2, devido à necessidade de um retorno mais tangível, com a oferta das disciplinas necessárias à colação de grau de diversas turmas.

Diante do exposto, foram analisadas pela Pró-Reitoria de Graduação da UECE estratégias para oferta do Estágio no Ensino Remoto Emergencial, exigindo de todos, docentes e discentes uma reinvenção de estratégias metodológicas capazes de viabilizar, com os recursos disponíveis, formas diferenciadas de aprendizagens.

Na seção que segue analisamos os resultados da nossa coleta de dados onde vemos os desafios que os discentes enfrentaram na realização de estágio nessa modalidade de ensino.

3.2. Ensino remoto emergencial durante a pandemia de COVID-19

A importância de iniciar um ensino diferente dos moldes ao que estávamos acostumados, sair da sala de aula convencional e direcioná-la aos lares dos docentes e discentes, esse foi o resultado da pandemia do coronavírus na educação, nos remetendo diversas questões: como as instituições de ensino iriam enfrentar esse novo desafio? Afinal, o que é ensino remoto?

Quando passamos a utilizar a nomenclatura de ensino remoto houve uma confusão ao associá-la à Educação à Distância (EAD). Queremos então ressalvar as diferenças entre as duas.

A EAD é uma modalidade de ensino prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, n° 9.394/96 a qual regulamenta o sistema educacional brasileiro nas esferas pública e privada. Esta lei reafirma o direito do indivíduo à educação desde o nível básico até o ensino superior. No artigo 80 da referida Lei é assegurado que o Poder Público incentivará o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino a distância, em todos os níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada. Na EAD professores e alunos são conectados por meio das tecnologias, tendo pouco ou nenhum contato presencial. O aluno pode planejar seu horário de estudo, suas pesquisas, de modo mais livre, podendo conciliar estudo e trabalho uma vez que todo processo educacional é mediado pelas tecnologias e realizada em ambientes virtuais.

O ensino remoto emergencial (ERE), por sua vez, surge como uma estratégia educacional temporária para mitigar os danos provocados pela pandemia de COVID-19, com a suspensão das aulas presenciais em cumprimento aos decretos de isolamento social proposto pelo Ministério da Saúde, por meio da portaria n°356, de 11 de março de 20203.

Diferentemente de atividades planejadas com antecedência e projetadas para ocorrerem a distância, o ERE é uma mudança temporária na forma de ensinar, utilizando uma modalidade alternativa de transmissão de conhecimento devido a circunstâncias críticas. Envolve a utilização de soluções educacionais para um ensino totalmente remoto que seria, em outra situação, transmitido em formato presencial ou híbrido, e que retornará àquele formato assim que a crise for controlada. (Marcon e Rebechi, 2020, p. 96)

Conforme expusemos, EAD não é ERE, uma vez que a primeira se configura como uma modalidade de ensino assegurada por lei, enquanto a segunda configura-se como uma possibilidade temporária de organização do ensino, e não uma proposta permanente de implementação desse formato uma vez que assim que houver condições favoráveis ao retorno da presencialidade o ERE será interrompido.

Em se tratando do ensino remoto desenvolvido em outros países durante a pandemia, vários artigos apontam necessidades e diagnósticos semelhantes aos encontrados em pesquisas no Brasil. Um exemplo, é a pesquisa publicada na revista Sustainabitily, no artigo E-Learning vs. Face-To-Face Learning: Analyzing Students’ Preferences and Behaviors. O resultado dessa pesquisa mostrou que o desejo do presencial aumentou após o ensino remoto, pelo envolvimento dos alunos e alunas na graduação. Que a preferência é pelo ensino “cara a cara”. Essa preferencia pelo presencial se mostra maior inclusive por aqueles que se beneficiaram do ensino remoto. O artigo aponta esse grupo como sendo aqueles que acabaram de iniciar o curso, onde a quantidade de disciplinas práticas é menor, os semestres dos cursos tiveram continuidade quase imediata mesmo com a pandemia.

Apesar dos pontos positivos, os estudantes foram considerados parcialmente pragmáticos em relação ao estudo remoto considerando o time-saving como principal vantagem, seguido pelo conforto de estar em casa e a acessibilidade promovida pelo ambiente on line.

A pesquisa aponta ainda que os alunos do início do curso se beneficiam com as aulas remotas, enquanto aqueles do final do curso se dão bem com os dois modelos de aula, ficando a cargo de suas habilidades com as ferramentas digitais o sucesso no ensino remoto.

Os fatores negativos desse estudo relatados nessa pesquisa são a falta de interação tanto com professores quanto com os demais alunos. Essa perspectiva não pode ser excluída, mas complementada no remoto, dada importância para socialização, incidindo sobre a perspectiva psicológica e o desenvolvimento de trabalho em grupo.

Os problemas técnicos apresentados na conexão de internet é um dos fatores negativos apontados, bem como também a falta de aplicações práticas, sendo o ensino remoto, desta forma, desconsiderado na formação de alguns profissionais. (Gherhes et al., 2021).

Consideramos que as pesquisas em ensino remoto, numa ampla perspectiva, independente do país no qual se desenvolveu, pelo próprio dispositivo da surpresa que todos fomos submetidos devido a pandemia, apontam resultados semelhantes, com desdobramentos diferenciados pelo nível tecnológico no qual a população, as escolas, as universidades tinham acesso.

3.3. Análise dos resultados da pesquisa

Seguiremos agora para a análise do questionário onde, conforme mencionamos, tivemos como respondentes os alunos do curso de Pedagogia da Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central (FECLESC), unidade acadêmica da Universidade Estadual do Ceará (UECE). Afim de manter o anonimato na pesquisa, nominamos os respondentes como: respondente 1, respondente 2, respondente 3, respondente 4, respondente 5 e respondente 6.

Para primeira pergunta (Qual o maior desafio encontrado na disciplina de estágio supervisionado II) tivemos 6 respostas, porém 4 (quatro) foram uníssonas, os respondentes afirmaram que o maior desafio foi o modelo que estavam tendo que utilizar, que era o remoto, devido a pandemia de COVID-19, não sendo possível estarem com os alunos presencialmente; respondente 5 afirmou que, a sua maior dificuldade foi em avaliar a aprendizagem dos alunos, devido as turmas serem dos anos iniciais do ensino fundamental, tinham que confiar no retorno dado pelos pais ou responsáveis no que se refere ao desenvolvimento e aprendizagem das crianças. O respondente 6 destacou que ficou um pouco tímido em ter que se comunicar através de uma tela de celular, isso pode estar relacionado ao fato de muitos pais acompanharem as aulas, “foi a primeira vez que estivemos em diversas “salas de aula” a presença de pais ou responsáveis pelas crianças”, destacou.

O segundo questionamento que fizemos aos nossos entrevistados foi a respeito dos pontos positivos e negativos do estágio supervisionado no sistema remoto. Eles afirmaram que a tecnologia foi uma ferramenta importantíssima, motivando-os a novos aprendizados. Dentre as respostas destacamos pontos positivos desse tipo de ensino destacados pelos respondentes 1 e 2, onde o respondente 1 disse: “Eu creio que os pontos positivos são a comodidade de estar em casa”. Já o respondente 2 pontuou: “possibilidade de estimular a aprendizagem através de games, desafios e dinâmicas no ensino remoto, e os alunos gostavam bastante”.

Os aspectos negativos foram a falta de acesso das crianças à internet e aos equipamentos, como celulares e computadores, nesse caso, tornando-se visível a desigualdade social em meio a pandemia da COVID-19, que segundo Santos (2020, p. 12) “Esse reino tem hoje duas paisagens principais onde é mais visível e cruel: a escandalosa concentração de riqueza/extrema desigualdade social”. O autor discute os problemas que a educação estava enfrentando no início do isolamento social e, futuramente, no pós-pandemia, como estava o processo das aulas remotas para essas crianças em suas, tornando possível essas experiências vivenciadas pelo discentes de pedagogia que estavam matriculados na disciplina de estágio.

Outro fator apontado negativamente é a falta de contato físico e de interação entre as crianças e os professores, assim como aponta Rego (1995, p. 76) sobre a relação entre o desenvolvimento e a aprendizagem:

Desde muito pequenas, através da interação com o meio físico e social, as crianças realizam uma série de aprendizados. No seu cotidiano, observando, experimentando, imitando e recebendo instruções das pessoas mais experientes de sua cultura, aprende a fazer perguntas e também a obter respostas para uma série de questões.

Dessa forma, a autora reforça o quanto as vivências físicas são importantes para o processo de ensino e aprendizagem das crianças, em que essa falta de interação gerou consequências negativas para os estagiários, que sentiram a dificuldade que os professores estavam passando nas aulas remotas

Um dos respondentes (respondente 5) relata da quantidade ínfima de alunos participando das atividades propostas, realidade que, segundo dados do Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para Infância (Unicef), o Ceará, em 2020, registrou 135.069 alunos, de 6 e 17 anos, fora da escola, enquanto em 2019 o número de alunos que não estavam matriculados na escola era de 49.900, perfazendo um aumento de 170%. Podemos perceber um aumento alarmante de quase três vezes, no período de apenas um ano, da população de alunos em idade escolar fora da escola. Como aspecto positivo destacamos maior envolvimento das famílias com as atividades escolares, o que derivou em diversas declarações indicando o reconhecimento do trabalho docente. Reconhecemos também que para os alunos que efetivamente participavam das atividades demonstravam menor ansiedade.

A terceira questão foi para identificar se a disciplina de estágio supervisionado II atingiu de fato seu objetivo4 e por unanimidade os estagiários asseguraram que sim.

O objetivo geral da disciplina de Estágio Supervisionado II, segundo consta em seu Programa é “Elaborar uma proposta de trabalho para uma ação docente comprometida com os interesses e necessidades da comunidade escolar e do processo de formação do professor, a partir da análise diagnóstica, da investigação do campo de estágio e da fundamentação teórica pertinente à área”. Ao direcionarmos a proposta de trabalho dos alunos para as necesidades apresentadas pelo contexto pandêmico, evidenciando todas as fragilidades contidas nesse percurso – fosse ele porque a pandemia nos colocou situações diversas dentro do estágio, ou mesmo pelas enormes dificuldades encontradas pelas escolas na gestão desse período - atingimos o objetivo proposto pela disciplina, que é, estar atento aos interesses e necesidades da comunidade escolar a qual se vinculou o estágio. Para tanto, no desenvolvimento dos trabalhos com os alunos foram abordadas as temáticas pertinentes às necessidades do estágio. Os alunos tiveram aulas nas quais foram abordadas temáticas como currículo, com ênfase na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e Documento Curricular Referencial do Ceará (DCRC), relação teoria e prática, aprendizagem e ensino da linguagem, metodologias ativas, ferramentas digitais, materiais do Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC) avaliação, dentre outros. A finalidade desse primeiro momento era propiciar uma fundamentação teórica para o exercício da docência nos anos iniciais do ensino fundamental, com atenção especial para o ciclo da alfabetização

Na sequência os alunos foram orientados a realizar uma entrevista com a professora da escola na qual pretendiam estagiar para conhecer aspectos institucionais, dinámica das aulas, perfil dos alunos, ferramentas tecnológicas utilizadas. Foram também estimulados a analizar o Projeto Político Pedagógico (PPP) da instituição, para com esses dados fazer um diagnóstico do campo de estágio. A especificidade foi a entrevista ter sido realizada via Meet e não ser possível uma observação in loco, por essa razão o cuidado com a análise do PPP e os questionamentos feitos à professora. Durante a entrevista foram devidamente enumerados os processos do trabalho remoto desenvolvido pela escola para adequação e/ou aperfeiçoamento.

Após essas etapas a turma foi dividida em duplas para elaboração de um Projeto de Intervenção, o qual deveria contemplar: título do projeto, autoria, introdução/justificativa, tema e área de conhecimento, instituição beneficiada, público-alvo, objetivo geral, competencias a serem desenvolvidas pelos estudantes, estratégias metodológicas de ensino, avaliação, materiais didáticos, referencias bibliográficas e os anexos. Nessa proposta os anexos eram dez planos de aula articulados a proposta apresentada.

O passo seguinte foi a regência, que consistiu o maior desafio, pois pela primeira vez foi realizado de forma remota, tendo um tempo de execução menor que o presencial, pois a duração das aulas eram menores. Outra diferença foi os estágiários terem na sala de aula virtual a presença de pais de alunos. Esse se tornou um dos pontos positivos do estágio, o feedback dos pais, pois as aulas vinham ocorrendo nos grupos de whatsapp, que não proporcionavam uma interação do professor com os alunos, e nas turmas que a professora e os alunos aceitaram os estagiários abriram salas no Meet, proporcionando não apenas uma experiencia diferente para os alunos e professores da escola, mas também para os país. Em uma das escolas os familiares questionaram de forma incisiva porque essa opção do Meet não havia sido implementada antes, pois consideraram muito mais interessante e produtiva que o whatsapp. Algumas duplas não tiveram a opção do Meet e mantiveram as atividades via whatsapp, ressaltamos, para melhor esclarecer, que ao perceber as limitações dos trabalhos no whatsapp, os estagiários propuseram mudanças, mas ao menor sinal de recusa dos envolvidos, houve a adequação dos estagiários a realidade da turma. Nesses casos houve o cuidado com a elaboração de materiais: cards explicativos com toda dinâmica da aula, produção de vídeos curtos ou gravação de audios, partilha de links com materiais complementares.

Um aspecto positivo da regência remota foi tornar viável o acompanhamento pelo professor supervisor. A FECLESC recebe alunos das microrregiões do Sertão Central e Maciço do Baturité, atendendo vinte e uma cidades ao todo. É comum que os alunos solicitem fazer o estágio nas escolas da cidade onde moram, isso tem sido um grande obstáculo para o acompanhamento, pois a UECE não disponibiliza os meios para esse acompanhamento, como: transporte, diárias para estadia para que os profesores possam fazer a observação da prática. Os profesores foram orientados a não usar seus carros particulares porque a Universidade não dispõe de seguro de vida para os profesores, apenas para os alunos, desta forma não há uma responsabilização institucional, o que dificulta o trabalho do professor de estágio. Esse desafio inexistiu no formato remoto, pois de onde estivesse o profesor poderia acessar a sala do Meet, sendo este um aspecto positivo desse momento da pandemia.

Por fim, houve um momento de partilha e entrega dos Projetos de Intervenção acréscidos da análise das aulas ministradas no período de regência.

Os aspectos listados somados ao depoimento dos alunos nos permitem afirmar que os objetivos foram alcançados, dentro do contexto real que as escolas estavam vivenciando.

A quarta pergunta que fizemos, conforme exposto anteriormente, foi com relação as diferenças mais significativas do estágio no ensino presencial e no ensino remoto. Os respondentes destacaram principalmente a falta de interação presencial com os alunos, o contato físico com a realidade escolar que o ensino remoto impossibilitou. A esse respeito, o respondente 2 destacou:

As grandes diferenças no ensino presencial é não estar no chão da sala de aula, mantendo um contato direto com as crianças; não podendo vivenciar as experiências de um estágio presencial. E também não possibilitando esse contato real entre os alunos, a convivência e interação que é tão importante entre eles. Pois, no ensino remoto isso não acontece. Porém, a diferença significativa no ensino presencial foi conhecer e experienciar muitas possibilidades de fazer o ensino virtual ser prazeroso através das metodologias dos jogos e brincadeiras.

Conforme destacado, uma das grandes diferenças do estágio feito de modo remoto é justamente a falta de contato presencial com o aluno. Essa comunicação feita apenas pelos meios tecnológicos torna o aprendizado e as experiências educacionais muito abstratas, entretanto, possibilitou ao educador reinventar a educação, descobrir e criar estratégias para tornar esse ensino remoto mais agradável por meio da ludicidade de jogos e brincadeiras como o kahoot, roleta virtual, wordwall.

Ao serem perguntados sobre como eles avaliavam a aprendizagem das crianças no ensino remoto, tivemos uma pluralidade de respostas. O respondente 1 considerou a aprendizagem satisfatória; o segundo disse que essa avaliação foi feita apenas por meio da participação nas atividades propostas e devolutiva das mesmas. O terceiro disse que o ensino remoto foi uma forma de não distanciar as crianças totalmente da escola. O respondente 4 destacou que a avaliação nessa modalidade de ensino foi desafiadora, pela impossibilidade de saber se realmente era a criança quem estava realizando as atividades ou seu responsável.

Ainda sobre a avaliação da aprendizagem, o respondente 3 relatou sobre a angústia de os alunos não darem retorno das atividades propostas e considerou não ser possível avaliar o aluno em 100% e destacou:

Acredito que essa aprendizagem não tenha sido tão ampla como no ensino presencial e que diante dos desafios e dificuldades nem todas as crianças puderam vivenciar esse modelo de ensino. Mas, tenho certeza de que foi possível sim que aqueles que participaram do ensino remoto tiveram aprendizagens significativas, não tanto quanto na sala de aula física, mas tiveram [...] (Respondente 3, 2021)

Conforme analisado, apesar de termos coletado nessa pergunta uma variedade maior de respostas, há uma dialogicidade entre elas, destacando a satisfação de ter vivenciado essa experiência e o reconhecimento dos desafios, mas também as possibilidades desse ensino, visto todas as complexidades de um estágio supervisionado em contexto de ensino remoto.

4. CONCLUSÕES

Este estudo teve como objetivo investigar se a disciplina supracitada, cursada de forma remota cumpriu com seu objetivo formativo. Inicialmente discutimos teoricamente sobre estágio supervisionado destacando-o como importante etapa no processo de desenvolvimento da aprendizagem, uma vez que este oportuniza vivências práticas dos conteúdos acadêmicos. Vimos que o estágio supervisionado não se classifica como um emprego, é uma complementação do ensino e que tem duração limitada e só pode ser realizado por estudante regularmente matriculado.

Salientamos ainda que o estágio curricular supervisionado é indispensável na formação de docentes dos cursos de licenciatura, pois é um processo de aprendizagem necessário para todo e qualquer profissional que deseja estar preparado para enfrentar os desafios de uma carreira.

Durante a análise dos dados pudemos perceber os inúmeros desafios relatados pelos respondentes, como por exemplo: a falta do contato presencial com os alunos, a falta de conexão à internet (por parte dos alunos), falta de material tecnológico além da impossibilidade de realmente acompanhar a aprendizagem dos escolares.

Entre os pontos positivos de realizar um estágio de modo remoto os respondentes apontaram a comodidade de estar em casa, a utilização de novas tecnologias, que motivou novos aprendizados, mas houve também os pontos negativos, como a falta de estrutura física para a criança realmente se concentrar nas aulas, barulhos externos, ambientes inadequados, nem todas as crianças tinham acesso ao aparelho celular, impossibilitando sua entrada nas aulas, mas o principal ponto negativo citado por quase todos os respondentes foi a falta de contato no chão da escola, o estar presente fisicamente.

Todavia, mesmo diante de um cenário educacional que não era favorável a aprendizagem por todos os fatores que já elencamos, nossa pesquisa indica que é possível sim realizar Estágio Supervisionado na modalidade de ensino remoto emergencial de modo satisfatório, uma vez que dos 6 respondentes de nossa pesquisa todos foram unânimes quanto a isso, destacando que mesmo que tenham enfrentado muitos obstáculos, o estágio supervisionado remoto foi eficaz, atingiu seu objetivo. Vale destacar que a disciplina possuía um número reduzido de alunos, o que pode ter favorecido o acompanhamento e a supervisão.

Enquanto docentes em formação precisamos estar sempre nos reinventando, nos atualizando, uma vez que há sempre o que aprender, principalmente no âmbito educacional. A pandemia ocasionada pela COVID-19 deixou isso muito claro. Tivemos que nos reinventar de forma abrupta. Muitos professores não tinham afinidade nenhuma ou quase nenhuma com as tecnologias e tiveram que aprender a manuseá-las e utilizá-las rapidamente.

Isso aconteceu com os alunos do curso de Pedagogia da FECLESC durante a realização da disciplina de estágio supervisionado. Tiveram também que ser criativos para descobrir de que modo conduzir as aulas para proporcionar as crianças uma aprendizagem satisfatória.

Nossa pesquisa nos permitiu perceber a importância do estágio supervisionado para a formação acadêmica, além de comprovar que mesmo sendo de modo remoto é possível cursar uma disciplina de estágio. Até porque o estágio precisa possibilitar o contato do acadêmico com a escola real e no contexto pandêmico essa escola fez uso dos espaços virtuais.

Estamos nos reinventando. A cada dia aprendemos algo novo. Diariamente enquanto alunos ou professores somos desafiados pelos mais diversos percalços da educação: infraestrutura precária, falta de equipamentos e materiais didáticos necessários a execução de determinadas atividades, falta de valorização profissional, salas de aula lotadas, dentre outros. O que almejamos é garantir que nosso direito à educação seja efetivado, sendo em caráter remoto ou presencial.

Finalizamos destacando que acreditamos ser fundamentalmente importante, urgente e necessário formações iniciais e continuadas no tocante a utilização das mídias e recursos tecnológicos, uma vez que seu uso potencializa e dinamiza o conhecimento além de proporcionar muita eficiência às práticas pedagógicas, sobretudo em tempos de pandemia.

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Notas

1 Disponível em: https://bit.ly/3JMceXh
2 Disponível em: https://bit.ly/3v8iEfp
3 Disponível em: https://bit.ly/3p853Ru
4 Objetivo geral da disciplina: Elaborar uma proposta de trabalho para uma ação docente comprometida com os interesses e necessidades da comunidade escolar e do processo de formação do professor, a partir da análise diagnóstica, da investigação do campo de estágio e da fundamentação teórica pertinente à área.

Informação adicional

CONTRIBUIÇÃO DOS AUTORES:: Josiane do Nascimento da Silva (Coleta, análise, interpretação dos dados e redação inicial), Caroline Martins Chaves (Coleta, análise, interpretação dos dados e redação inicial), Keila Andrade Haiashida (Idealizadora do projeto, revisão crítica e complementação do artigo) e Maria Lenúcia Moura (Idealizadora do projeto, revisão crítica e complementação do artigo.

FINANCIAMENTO:: Esta pesquisa não recebeu nenhum financiamento externo.



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