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A construção da imagem no adeus a Brizola: apontamentos sobre a cobertura do funeral pela imprensa
La construcción de la imagen en la despedida de Brizola: notas sobre la cobertura del funeral por la prensa
The construction of theimage in the Brizola's farewell: notes about the funeral's coverage by the press
Argumentos - Revista do Departamento de Ciências Sociais da Unimontes, vol. 19, núm. 1, pp. 94-117, 2022
Universidade Estadual de Montes Claros

Dossiê

Argumentos - Revista do Departamento de Ciências Sociais da Unimontes
Universidade Estadual de Montes Claros, Brasil
ISSN: 2527-2551
ISSN-e: 1806-5627
Periodicidade: Semestral
vol. 19, núm. 1, 2022

Recepção: 17 Abril 2022

Aprovação: 19 Abril 2022

Resumo: O artigo pretende analisar como a imprensa escrita construiu a imagem de Leonel Brizola durante seu funeral, em junho de 2004. Embora o pedetista viesse enfrentado duras perdas eleitorais nos anos anteriores à sua morte, ele mantinha-se ativo na vida pública. A extensa cobertura de sua morte por diferentes veículos de comunicação das mais diversas perspectivas ideológicas, assim como a comoção popular - aliado ao esforço político de seus herdeiros - impulsionou a imagem de Brizola aos holofotes da política nacional. A crise política que levou ao golpe parlamentar contra Dilma Rousseff, em 2016, consolidou o retorno de sua imagem a partir do acesso a um Brizola de um passado mais longínquo: de sua luta pela democracia em 1961. Assim, a despeito de sua morte, a memória sobre o político segue pujante. Julguei mais adequado ao tema as interpretações já tradicionais de Maurice Halbwachs (1990). Além disso, a análise partiu de reflexões já apresentadas sobre a relação História e Imprensa, bem como as relações da imprensa e política. As fontes consultadas para esta reflexão foram os periódicos Zero Hora, Correio do Povo, O Globo . Jornal do Brasil.

Palavras-chave: Leonel Brizola, Memória, Imprensa, Democracia, Funeral.

Abstract: The article intends to analyze how the newspapers built Leonel Brizola's image during his funeral, in June 2004. Although the Democratic Labour Party had faced severe electoral losses in the years before Brizola's death, he remained active in public life. The extensive coverage of his death all over the media from the most diverse ideological perspectives, as well as the popular commotion - combined with the political effort of Brizola's heirs - boosted his image into the spotlight of national politics. The political crisis that led to the congress coup against Dilma Rousseff, in 2016, consolidated the return of Brizola's image through access to a Brizola from a more distant past: his fight for democracy in 1961. Thereby, despite his death, the memory of the politician remains strong. I found the already traditional interpretations of Maurice Halbwachs (1990) to be more appropriate to the theme. In addition, the analysis started from reflections already presented on the relationship between History and the Press, as well as the relationship between the press and politics. The sources consulted for this reflection were the periodicals Zero Hora, Correio do Povo, O Globo and Jornal do Brasil.

Keywords: Leonel Brizola, Memory, Press, Democracy, Funeral.

Resumen: El artículo se propone analizar cómo la prensa escrita construyó la imagen de Leonel Brizola durante su funeral, en junio de 2004. Aunque el político del Partido Democratico Trabalhista (PDT) hubia enfrentado severas derrotas electorales en los años previos a su muerte, se mantuvo activo en la vida pública. La amplia cobertura de su muerte por diferentes medios de comunicación desde las más diversas perspectivas ideológicas, así como la conmoción popular -aliado al esfuerzo político de sus herederos- impulsó la imagen de Brizola al centro de atención de la política nacional. La crisis política que derivó en el golpe parlamentar contra Dilma Rousseff, en 2016, consolidó el retorno de su imagen a través del acceso a un Brizola de un pasado más lejano: de su lucha por la democracia en 1961. Así, apesar de su muerte, la memoria de la política se mantiene fuerte. Las ya tradicionales interpretaciones de Maurice Halbwachs (1990) me parecieron más apropiadas al tema. Además, el análisis partió de reflexiones ya presentadas sobre la relación entre Historia y Prensa, así como la relación entre prensa y política. Las fuentes consultadas para esta reflexión fueron los periódicos Zero Hora, Correio do Povo, O Globo y Jornal do Brasil.

Palabras clave: Leonel Brizola, Memoria, Prensa, Democracia, Funeral..

Introdução

Em 21 de junho de 2004, Leonel Brizola morreu na cidade em que escolheu viver, o Rio de Janeiro. Embora tenha enfrentado duras perdas eleitorais nos últimos anos, se manteve ativo na vida pública até seus momentos finais. A despeito de sua morte, a memória sobre o pedetista segue pujante. Durante a campanha eleitoral de 2014, uma cena inusitada se reproduziu pelas ruas de Porto Alegre: ao longo das mais diversas esquinas da cidade, um boneco de papelão de Leonel Brizola, em um tamanho aproximado ao de uma pessoa real, era o principal material de divulgação da campanha de Juliana Brizola, sua neta. O uso de sua imagem em uma eleição, dez anos após sua morte, ficou latente em minha memória. Em 2016, durante a crise política que resultou no golpe parlamentar contra Dilma Rousseff, a imagem de Brizola retornou com força. Era comum nas redes sociais e mesmo na imprensa tradicional encontrar relatos de pessoas que se perguntavam como Brizola reagiria naquele contexto. Desse modo, o presente artigo[1] objetiva compreender como as imprensas dos estados do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro auxiliaram na construção da memória de Leonel Brizola durante seu funeral para compreender as permanências dessa memória na atualidade. Para tal analisei os periódicos Zero Hora, Correio do Povo, O Globo . Jornal do Brasil publicados durante o período de cobertura do funeral de Brizola[2].

Pautei a observação das fontes a partir de reflexões já realizadas sobre a relação História e Imprensa. Sônia Meneses chama a atenção para o destaque dos meios de comunicação social na atualidade, incorporando um novo aspecto que dialoga adequadamente com nosso tema:

A mídia atua na elaboração, tanto de acontecimentos emblemáticos, como de um tipo específico de conhecimento histórico a partir de narrativas que operam com categorias temporais na fundação de sentidos históricos destacando, especialmente, a relação entre três dimensões fundamentais: a mídia, a memória e a história (MENESES, 2012, p. 38).

Para a autora há a elaboração de uma escrita da história de forma sistematizada fora do próprio campo da ciência histórica que se constrói através dos meios de comunicação, o que ela chama de operação midiográfica, que, por sua vez, se organiza em dois momentos: a escritura de eventos na cena pública e a inscrição memorável de acontecimentos na duração (MENESES, 2012, p. 38).

Jean-Noël Jeanneney (1996, p. 224) também trabalha a relação da imprensa com a política e afirma que “o estudo das relações de poder, conflitantes ou convergentes, entre os meios de comunicação e o Estado, entre os meios de comunicação e a nação como um todo, não deve se furtar a considerar as instituições de comunicação em si mesmas”. O autor ainda retrata a influência do espectro político sobre a imprensa, o que nesta pesquisa torna-se pertinente:

Se alguém alegar que isso foge ao político stricto sensu, eu retrucaria, a partir da minha experiência, que sempre se esbarra no político, de uma maneira ou de outra, no interior desses estabelecimentos, porque na vida cotidiana de um jornal, de um rádio, de uma televisão, se reflete constantemente a vida política do país. Com todas as deformações que se queira, vê-se aí resumido, reunido, com relevos acentuados, o jogo que é jogado no mundo político (JEANNENEY, 1996, p. 225).

Ainda sobre esta temática, Jeanneney, traz à tona o questionamento sobre a influência da mídia na opinião pública e quais são os meios de que dispõe o Estado, os governantes, os partidos políticos e os grupos de pressão para incidir sobre a imprensa escrita, falada ou televisiva; assim, afirma que a imprensa desempenha um papel na evolução dos comportamentos políticos – e, mais explicitamente, dos votos.

A crise política de 2016 trouxe à tona o debate sobre o estado democrático brasileiro e no bojo dessa discussão o nome de Leonel Brizola voltou a ser considerado e lembrado por ter apresentado uma postura intransigente na defesa da democracia em 1961, durante a chamada “Campanha da Legalidade”. Tal feito foi evidenciado no encontro ocorrido em torno da estátua do pedetista em Porto Alegre, reunindo lideranças políticas de diversos partidos e representações, na tentativa de se lançar uma “nova campanha da legalidade” contra o impeachment de Dilma Rousseff[3].

Ângela de Castro Gomes (2004, p. 12), ao analisar o impacto da morte de Brizola, também identificou esse padrão. O político sul-riograndense foi lembrado prioritariamente como defensor dos valores democráticos, embora referências ao seu perfil autoritário também tenham sido mencionadas. Do mesmo modo, Michelle Macedo apontou que a retomada de um Brizola democrático no momento de sua morte apresentava interesses do presente, pois “como todo mecanismo de (re)construção da memória é justificado pelos interesses do presente, os debates em torno da sua morte contribuíram para reforçar e exaltar os valores democráticos da sociedade brasileira” (MACEDO, 2016, p. 207).

Assim, um dos conceitos basilares do trabalho é o de memória, notadamente um conceito muito abordado nas últimas décadas, inserido dentre os usos públicos do passado. Julguei mais adequado ao tema as interpretações já tradicionais de Maurice Halbwachs, em sua obra A memória coletiva (1990), obra que o autor define a memória como um fenômeno social, uma reconstrução do passado a partir dos quadros sociais do presente, passível de uma construção conjunta. A então denominada memória coletiva é formulada por pontos em comum das nossas percepções, assim como as dos nossos pares. De outra forma:

La memoria, es la condición indispensable de la permanência de un sistema de comportamientos, valores o creencias em un mundo que cambia por definición. Ahora bien, la memoria colectiva también cambia. Sus processos, enunciados, funciones evolucionan como cualquier fenómeno social (ROUSSO, 2012, p. 4).

A memória referente à Brizola passou por alterações ainda enquanto ele estava vivo. O autor Enzo Traverso (2012, p. 18), ao refletir sobre a ancoragem profunda da memória coletiva no presente, com suas mutações e regressões paradoxais, afirma que memória:

[...] conjuga-se sempre no presente, que determina as suas modalidades: a sucessão de acontecimentos de que se devem guardar recordações (e de testemunhas a escutar), a sua interpretação, as suas ‘lições’, etc. Ela transforma-se em questão política e toma a forma de uma injunção ética – o ‘dever da memória’.

Além disso, a utilização do brizolismo pode ser inserida no enquadramento da memória proposto por Pollak (1989), através do uso da memória política. Identificamos duas frentes dessa utilização do passado. A primeira, a de Brizola como o “bom político”, sem manchas na sua trajetória, porém audacioso e de perfil combativo. A segunda, a de Brizola legalista, defensor da democracia[4].

O adeus à Brizola

Vivemos no Brasil, atualmente, um dos momentos mais difíceis da história recente: crise econômica, desemprego, instabilidade política, denúncias de corrupção, reformas que atacam os trabalhadores, ascensão da extrema direita ao poder e, finalmente, uma pandemia mundial. Ao ler as fontes do ano de 2004 os periódicos passam a sensação de um momento de instabilidade, com muitas críticas ao governo petista. Não obstante, ao final da década de 2010 e início dos anos 2020, o primeiro governo Lula é considerado como grande momento da história política brasileira contemporânea, principalmente se colocado em perspectiva com o presente.

Quando Brizola morreu, de certo modo, foi alçado como figura ímpar – lembrando que a morte quase sempre é generosa com o morto. Porém, cabe mensurar que o modo como Brizola foi retratado em 2004, principalmente na imprensa fluminense, é uma contrapartida ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que recebia duras críticas da mídia naquela conjuntura. Brizola e o presidente estavam rompidos. O Partido Democrático Trabalhista (PDT), embora tenha apoiado a candidatura petista, partiu para a oposição após o primeiro ano de governo. Afagar Brizola era, naquele cenário, criticar o então presidente Lula.

Desse modo, tais jogos do uso da memória nos instigam a olhar para a cobertura da morte de Leonel Brizola e analisar qual imagem se queria construir naquele momento. Aquele que entre os anos 1940-1960 e, depois, nos anos 1980 poderia ser considerado uma máquina eleitoral, desde 1994 acumulava derrotas consecutivas nas urnas, a ponto de uma geração nascida no final dos anos 1980 e na década de 1990 o conhecer sobre esse prisma. Apesar disso, como apontou Rodrigues (2008, p. 88):

A morte do líder pedetista em 2004, no entanto, pareceu reverter a “morte política” de Brizola e do brizolismo, recebendo da imprensa um destaque que não era visto desde quando deixara o governo do estado, 1994. A morte fez com que não só os grandes veículos de comunicação, mas grandes jornalistas, como Alberto Dines, Villas-Bôas Corrêa, Caco Barcellos, Clóvis Rossi ou Carlos Heitor Cony, lhe rendessem homenagem.

Momentos de despedida de grandes personalidades são marcados por rememorações da trajetória, por vezes cristalizando interpretações laudatórias. Há, de certo modo, uma construção da memória do morto, passível de alterações no futuro. Ana Lucia Enne (2004, p. 113), ao analisar a relação da memória na constituição de identidades, defende que a mídia é o lugar central desse processo, pois ela se apresenta como a principal formadora de opinião na sociedade contemporânea. A autora atribui essa capacidade formativa de opinião ao discurso jornalístico por requerer o papel de remissor da verdade e testemunho do fato. No entanto, o que acontece é uma apropriação do fato em si através de estratégias enunciativas, isto é: “os discursos são formulados não só a partir do sujeito que fala, mas também da interação com o sujeito que recebe ou que se supõe que receberá” (ENNE, 2004, p. 115).

Os periódicos analisados noticiaram o funeral de 22 a 26 de junho de 2004, exceto Zero Hora que estendeu a cobertura até 27 de junho. O Jornal do Brasil cobriu a morte de Brizola de 22 a 25 de junho de 2004. A edição com maior repercussão foi a do dia 23 de junho que contou com mais de sete páginas de cobertura, dentre reportagens, históricos sobre sua vida, 33 colunas e o editorial. Três edições trouxeram na capa chamadas para o ocorrido: 22, 23 e 24 de junho, demarcando a atenção do periódico ao ocorrido.

O jornal O Globo também fez extensa cobertura da morte de Brizola, aquele que era um dos principais críticos das Organizações Globo e travou embates de grande repercussão, tais como o impasse da cobertura do carnaval do Rio de Janeiro em 1984[5] e o direito de resposta lido ao vivo por Cid Moreira no Jornal Nacional, em 15 de março de 1994, durante seu segundo mandato como governador do Rio de Janeiro[6]. O funeral recebeu destaque de capa em 3 edições: nos dias 22, 23 e 24 de junho. No dia 23 foi publicado um caderno especial com 8 páginas sobre a trajetória de Brizola e a repercussão de sua morte.

No Correio do Povo há notícias sobre o funeral de Leonel Brizola do dia 22 a 26 de junho, um editorial destinado ao assunto e reportagens especiais. A notícia foi chamada de capa nas edições de 22, 23, 24 e 25 de junho e o maior volume de reportagens ocorreu na edição do dia 24, com nove páginas.

Por fim, o jornal Zero Hora, tradicional no Rio Grande do Sul, e que tem o hábito de destacar personalidades sul-riograndenses ou fatos que envolvam o estado, era esperado que fizesse uma vasta cobertura sobre a morte de uma de suas principais lideranças políticas, mesmo ele tendo escolhido viver no Rio de Janeiro após sua volta do exílio. Foram várias edições e páginas destinadas ao assunto, destaque de capa em 5 edições, um editorial, reportagens especiais e cobertura do velório no Rio de Janeiro, Porto Alegre e em São Borja.

O modo de fazer política

Um dos eixos mais proeminentes na cobertura da morte de Leonel Brizola foi a forma como ele fazia política: “um dos últimos remanescentes de uma era política [...] polêmico, de uma rara coerência ideológica”[7]; e como utilizou essa forma política internamente no PDT: “com sua morte, o PDT, partido que fundou e presidia, tem o futuro ameaçado. Centralizador, Brizola não fez sucessores na legenda”[8]. Estas declarações apontam para uma hipótese segundo a qual essa postura o alijou de alcançar seu maior desejo: o de se tornar presidente da República. De fato, a análise das fontes mostrou que o tema foi constante, descrevendo a presidência da República como um sonho não realizado e uma das suas grandes frustrações, como ficou evidente no Jornal do Brasil de 22 de junho, com a seguinte chamada: “Brizola por duas vezes governou o Rio de Janeiro e morreu sem realizar o seu maior sonho: ocupar o Palácio do Planalto”.

Leonel Brizola, segundo O Globo, era centralizador e personalista, aquele que ninguém conseguia ficar indiferente, seja para amar ou para odiar, assim como um dia foi Getúlio Vargas, não por acaso sua fonte de inspiração na política[9]. Essas características, personalista e centralizadora, que o colocou em diversas polêmicas, nasceu junto com o PDT, herança da sua tradição trabalhista petebista:

No início dos anos oitenta, do PTB nascia o PDT. Transitando entre antigas e novas tradições, as “virtudes” eram incorporadas ao projeto renovador. Quanto aos “vícios“, poucas reflexões sobre as suas origens e razões, mas muitas promessas de não mais repeti-los. Eles haviam ficado para trás com o “velho PTB”. O que importava era o Novo Trabalhismo (COSTA, 2009, p. 266).

O partido era Brizola e quando tal prática era questionada, a resposta era a saída da agremiação. Talvez esse tenha sido o traço mais resistente do antigo trabalhismo, principalmente relacionado a seu presidente: “o PDT continuava reproduzindo o tipo de liderança carismática tão marcante na história do PTB” (COSTA, 2009, p. 280). A estratégia de contar essencialmente com o carisma de Brizola o levou a perdas, para Costa (2004, p. 4), o novo trabalhismo [referindo-se ao PDT] perdeu o projeto nacional de socialismo em 1989 não apenas para Lula (um problema maior que o PT), mas devido também a sua falta organizacional partidária. Contaram apenas com o carisma de Brizola e isso não foi suficiente. No entanto, segundo a colunista Helena Chagas d’O Globo, a política perdia um pouco da graça sem a presença carismática e a oratória de Brizola nos palanques que remetia a uma forma de política muito dependente desse formato, o qual o pedetista dominava muito bem: “a política perde um pouco da graça – e até da ingenuidade - dos tempos em que uma boa tirada, uma troca de farpas, um bate-bocas ainda faziam diferença. Hoje, com a pasteurização do debate político isso anda cada vez mais raro”[10].

As polêmicas que giravam em torno do nome de Leonel Brizola estiveram muito ligadas as suas premissas centralizadoras dentro do PDT, que levaram à muitas rupturas no partido e que, com sua morte, levantou uma questão muito debatida pelas fontes: quem seria o herdeiro político de Leonel Brizola? Qual rumo o PDT tomaria após a perda da sua principal liderança? O Globo[11] e Zero Hora problematizaram essa questão ao reconhecer que as rupturas foram levadas a cabo em função de disputas por espaço dentro do partido: “O reconhecimento dos adversários: líder carismático e contraditório, Brizola rompeu com políticos que tentaram ganhar luz própria dentro do PDT”[12]. Com o intuito de fundamentar a reportagem, foram listados os diversos episódios de rompimentos, alguns mais distantes no tempo, outros mais recentes, e que trouxeram consequências diretas para o cenário político do Rio de Janeiro, haja vista que ocupantes de cargos no Executivo, estadual ou municipal, tiveram ligação com o PDT, como: o casal Garotinho – Anthony Garotinho e Rosinha Matheus, César Maia, Dante de Oliveira, Marcello Alencar, Moreira Franco, Miro Teixeira e Saturnino Braga. Miguel Arraes e Sereno Chaise, rompimentos históricos da trajetória do pedetista, também foram citados[13].

Ao relembrar o rompimento entre Brizola e Chaise, o Correio do Povo afirmou que o ex-governador sempre colocou a política acima da vida pessoal e por isso não foram poucos os desafetos ao longo de sua vida. No caso de Chaise a situação era agravada por serem amigos de longa data e mesmo assim nunca se reconciliaram[14]. As rupturas políticas ocorreram até mesmo em sua família. O filho mais velho e único a seguir carreira política, José Vicente, rompeu com Brizola em 2000 quando deixou o PDT para ingressar no governo de Olívio Dutra (PT) no Rio Grande do Sul. Entretanto, ao despedir-se do pai afirmou estar arrependido do rompimento e demonstrou interesse em retornar ao partido fundado por Brizola. Durante o funeral declarou: “Ele [Brizola] podia ser autoritário, forte, mas era lúcido”[15]. César Maia[16], prefeito do Rio de Janeiro em 2004 e ex-pedetista, assim como Anthony Garotinho e Rosinha Matheus, que estiveram presentes no velório no Palácio das Laranjeiras, estavam ensaiando uma reconciliação com o ex-governador, segundo O Globo[17]. A recorrência dessas tentativas de reaproximações à imagem de Brizola supõe que essas lideranças buscavam se associar ao espólio político do pedetista mesmo sem a certeza de um futuro rentável em termos eleitorais, preferiram arriscar. Tais situações demonstram que o capital político relacionado ao pedetista ainda se apresentava como vantajoso.

Diante de tantos exemplos apresentados anteriormente, é inegável o padrão de comportamento de Brizola no interior do PDT, mesmo o próprio tentando negar. Em manchete, Zero Hora sintetizou: “Não havia espaço para dois líderes nacionais no PDT”[18]; e seguiu no editorial: “Construiu um PDT à sua imagem e semelhança”[19]. Em função dessas rupturas, o futuro do PDT foi assunto presente em todos os periódicos analisados, como já mencionado. N’O Globo surgiram os prognósticos mais pessimistas. Para o cientista político Cesar Jacob, com Brizola enterrava-se o brizolismo e também entrava em agonia o PDT, pois as constantes dissidências levaram partes do partido e não havia alguém capaz de substituir o líder[20]. Nesse sentido, o jornal defendeu que o PDT estava em busca de um herdeiro porque “Brizola não deixou herdeiro”[21], e que a solução poderia vir com o retorno de antigos nomes, como Anthony Garotinho, ou a chegada de lideranças externas, como Ciro Gomes.

Além disso, o sociólogo Gilson Caroni Filho defendeu que a agremiação não acompanhou as mudanças do novo jogo político e ficou muito dependente do carisma brizolista, por isso também, perdeu bandeiras do trabalhismo, especialmente para o Partido dos Trabalhadores[22]. As disputas em torno da herança política de Brizola, do mesmo modo, receberam espaço em Zero Hora[23]. Ainda no velório no Palácio Guanabara, o correspondente David Coimbra, mencionou a necessidade de diversos políticos, tais como: Chico Alencar (PT), Paulo Ferreira da Silva (presidente da Força Sindical), Carlos Lupi (vice-presidente nacional do PDT na época) e o deputado gaúcho Pompeo de Mattos (PDT), apressarem-se em vincular sua imagem à de Brizola e de ressaltar suas relações pessoais com o morto. Mattos foi além na sua fala, queria destacar a possibilidade de crescimento do partido: “O trabalhismo cresceu depois que Getúlio morreu, porque com o homem morrem seus defeitos e ficam suas virtudes e seu trabalho. O mesmo vai acontecer com o Brizola”[24].

Todavia, para a jornalista Dione Kuhn, em sua coluna “Um partido sem norte”, o futuro do partido era incerto, porque havia sido “moldado para abrigar um único líder”[25]. Ao retomar a trajetória do PDT justificou que nas eleições de 1994, a qual elegeu Fernando Henrique Cardoso, e quando Brizola ficou apenas em 4° lugar (atrás inclusive de Enéas Carneiro), teria sido o “início da derrocada”.

O Globo, em editorial foi assertivo: Brizola sai da vida, entra na História, e não deixa herdeiros. [...] Brizola não deixa herdeiros à altura. Sempre haverá quem tente ocupar seu espaço. Mas não terá vindo de tão longe quanto ele, de um Brasil que não existe mais[26]. Segundo o editorial, havia morrido um político polêmico e junto com ele encerrava-se um ciclo do “trabalhismo populista” inaugurado na década de 1930. Brizola teria cumprido um papel duplo de algoz e vítima no momento de radicalização do pré-golpe que “empurraram o país para a via única da implosão do estado de direito”[27]. Para o jornal, o político “das reformas na lei ou na marra” foi atenuado durante o exílio defendendo ações impensáveis para o Brizola de antes de 1964, como a prorrogação do mandato do último ditador, João Figueiredo, e a oposição à CPI que investigava o ex-presidente Fernando Collor, em 1992.

Já para Zero Hora o fim do brizolismo não era fato consumado, pois apostavam em possíveis herdeiros: “Quem será o herdeiro político de Brizola?”[28] Ele [Carlos Daut Brizola] e a irmã, Juliana Brizola, 28 anos, estão dispostos a assumir parte da herança eleitoral do avô. Juliana, que é filiada ao PDT de Porto Alegre e não esconde o desejo de concorrer – mas não em 2004 - também torpedeou o retorno. Aconselhou o casal [Garotinho] a não ir com muita sede ao pote. – Os netos não vão deixar que qualquer um se apodere da herança de Brizola – prometeu Juliana[29].

Outro possível herdeiro seria Carlos Lupi, vice-presidente do PDT à época e braço direito de Brizola, porém sua situação era instável: “Um herdeiro com os dias contados”, como apontado por Zero Hora[30]. Após sete dias da morte, estava programada a convocação de uma reunião da executiva nacional para escolha do novo presidente. Segundo a publicação, o atual vice-presidente provavelmente não seria o escolhido, pois só era conhecido no Rio e por partidários. Pompeo de Mattos asseverou que Lupi “em termos políticos, não tem luz própria”[31].Em suma, segundo essas interpretações, ele não seria o herdeiro político de Brizola.

Entretanto, contrariando as previsões, Lupi está até hoje na presidência do PDT.

Na contramão desses balanços, Lúcia Hippólito defendeu que o partido era uma força política independentemente do estilo do seu criador mesmo não tendo deixado um sucessor à altura, o que poderia ser perigoso para um partido tão personalista[32]. O tempo mostrou que a segunda análise está mais próxima da realidade, visto que mesmo não sendo um partido com muita força, o PDT ainda está no cenário nacional, embora, por vezes, tenha abandonado bandeiras caras ao ex-líder e associando-se a ideologias diversas[33]. Porém, a falta de uma liderança do porte de Brizola foi sentida pela agremiação considerando, essencialmente, suas características e da política brasileira tão afeita à personalismos.

Juliana representa uma força local, os outros netos de Brizola saíram do partido e Lupi tem um perfil mais burocrata. Nos últimos anos têm-se presenciado um esforço para Ciro Gomes ocupar o espaço deixado por Brizola, a julgar o texto publicado, em maio de 2020, no site do partido para celebrar os 40 anos de sua fundação: “PDT 40 anos: de Brizola a Ciro”. Brizola apoiou Ciro nas eleições de 2002 - na época no Partido Popular Socialista (PPS) – ou seja, ambos mantiveram um acordo, mesmo que por breve período, mas foi somente em 2015 que Ciro filiou-se ao pedetismo. No texto divulgado no site do partido, mantêm-se o hábito personalista, pois o fio condutor da trajetória partidária se deu através dos líderes e não da militância, por exemplo, como descrito no último parágrafo:

E desde a filiação de Ciro Gomes ao partido, em 2015, e sua disputa à presidência da República em 2018, o PDT vem se revigorando progressivamente, crescendo na preferência do eleitorado por conta [da] mensagem política firme, através de propostas concretas para o Brasil, de Ciro Gomes, especialmente junto ao público jovem, em defesa de um projeto nacional de desenvolvimento – revigorando a mensagem e as lutas de Vargas, Jango e Brizola em defesa do Brasil[34].

Se Ciro Gomes irá ocupar esse lugar, não é possível afirmar. O que de fato temos, até o presente, são declarações diretas e por vezes polêmicas de Gomes, algo semelhante ao perfil brizolista de fazer política, além da sua firme oposição ao Partido dos Trabalhadores, do mesmo modo que Brizola fez pouco antes de morrer. Por outro lado, a era do carisma dentro do PDT talvez possa ter morrido com Brizola ou ainda, como afirmou Maria Celina D’Araújo para O Globo, o que ficou para trás foi a era de políticos carismáticos de uma geração que atuava de acordo com sua ideologia[35].

A repercussão na despedida

O funeral de Leonel Brizola mobilizou muitas pessoas, admiradores, brizolistas e políticos de diversas ideologias, bem como a intensa repercussão na imprensa, como temos acompanhado até aqui. Três pontos se distinguiram sobre este aspecto: a hostilidade ao presidente Lula; as opiniões sobre Brizola - de populares ou políticos que estiveram na seara das qualidades, com poucas vozes destoantes e a visibilidade de sua morte na imprensa internacional; e por último, sua complicada relação com a imprensa, uma marca de Brizola, que também foi destaque na cobertura de seu funeral.

Para esta reflexão optei por apresentar as reações ao então presidente Lula durante a despedida ao pedetista porque Brizola havia rompido com o governo petista logo após as eleições de 2002. Desde a abertura política e a fundação de novos partidos, PT e o PDT disputaram espaço no campo político da esquerda. Uma relação de “idas e vindas”, coligações e oposições. Muitas pautas assemelhavam-se, mas algumas diferenças foram essenciais, como a herança trabalhista do PDT que se forjou a partir do Estado com anuência dos sindicatos. Enquanto o PT renegava essa caraterística e orgulhava-se de sua formação de “baixo para cima”, da luta dos próprios trabalhadores sem a intermediação do Estado.

Por outro lado, na conjuntura de fundação dos partidos, o nacionalismo afastava o PDT do PT. Para Costa (2009, p. 265), o petismo não compreendia que a maior contradição do país era a necessidade de luta contra o imperialismo, maior do que a luta de classes tão propagada pelo partido de origem marxista. O Brasil era um país capitalista dependente, por isso a luta dos trabalhadores deveria passar pelo nacionalismo. A grande maioria dos militantes que aderiram a luta armada durante a ditadura filiaram-se ao PT, a chamada geração de 1968. Essa escolha deu-se por sua concepção negativa do trabalhismo pré-1964 muito associado ao populismo, assim não aderiram ao Novo Trabalhismo do PDT (COSTA, 2009, p. 268).

Em suma, essa disputa por espaço político tornava a rivalidade recíproca. Enquanto o PT julgava o trabalhismo associando-o a práticas ruins da política brasileira, o PDT acusava o petismo de ser a esquerda da qual a direita gostava, parafraseando Darcy Ribeiro (COSTA, 2009, p. 289). Tereza Cruvinel, em sua coluna para O Globo, destacou as aproximações e rompimentos de Brizola com o PT. Segundo a colunista, quando em 1998 Brizola assumiu a vice candidatura na chapa petista, passou simbolicamente a bandeira do trabalhismo moderno a Lula, do mesmo modo que Getúlio fez a Jango[36]. A colunista creditou as perdas eleitorais brizolistas à modernização da sociedade e o surgimento de novas lideranças, como Lula.

Portanto, quando o PT chegou ao poder pela primeira vez, e junto com ele a esquerda, via-se a oportunidade de colocar em prática mudanças estruturais que, de certo modo, foram barradas desde o golpe de 1964. No entanto, o PT que chegará ao Palácio do Planalto estava mais ao centro-esquerda e, numa estratégia eleitoral, assumirá uma postura de conciliação de classes, algo bastante distante de sua origem. Machado (2020, p. 361-362) afirmou:

A publicação da Carta ao Povo Brasileiro, que o historiador Fabio Luis Barbosa dos Santos denomina “Carta ao Capital’, em junho de 2002, era um aviso a empresários e ao mercado internacional de que um governo petista não modificaria as estruturas econômicas sedimentadas pelos governos FHC. As mudanças de marketing e imagem do sindicalista Lula, transformado em “Lulinha Paz e Amor”, sinalizavam que uma gestão lulista não traria mudanças estruturais.

Na prática, as mudanças estruturais não vieram, embora tivessem ocorrido avanços em pautas sociais, de distribuição de renda e de reparação histórica, como as cotas raciais nas universidades, por exemplo. Todavia, essas mudanças não foram levadas desde o início. O que se viu foram sucessivas alianças e acordos pragmáticos visando a governabilidade, o que gerou insatisfação nos setores mais à esquerda, como Brizola. Ainda de acordo com Machado (2020, p. 363), que retoma Ricardo Antunes, após assumir a presidência, o PT passou por um transformismo associado à expansão do neoliberalismo e ao derrotismo pós “colapso do socialismo real”, do início da década de 1990.

Desta maneira, a forma como o governo petista vinha administrando o país destoava da proposta pedetista, além do partido ter perdido cargos prometidos durante a campanha. Essa situação levou ao rompimento do PDT com o governo e os colocaram em campos opostos. Essas rusgas, ou traição na perspectiva brizolista, foram sentidas no funeral de Leonel Brizola e o episódio foi abordado pela imprensa não de forma homogênea, mas com uma tendência a exaltar as críticas a figura do presidente Lula, em contraposição à “intolerância”[37] dos pedetistas, assim classificada pelo O Globo, que também foi ressaltada. A hostilidade a Lula no velório do maior representante do Novo Trabalhismo não causou surpresa, afinal, o petista foi uma pedra no caminho de Brizola para chegar à presidência na eleição que mais teve chances: Lula havia sido o elemento imprevisto que impediria a passagem de Leonel Brizola para o segundo turno. Com um gosto amargo de fel muitos trabalhistas imputavam a culpa da derrota em 1989 ao PT. Todavia o fracasso desnudava problemas mais profundos na organização partidária (COSTA, 1999, p. 289).

Lula foi vaiado e ao som de “você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão” – entoado por pedetistas - ficou em torno de cinco minutos no velório no Rio de Janeiro[38]. A situação descrita foi capa da edição d’O Globo e do Caderno Especial, de 23 de junho. Na foto que ilustrou a capa, o ex-presidente estava à beira do caixão ladeado pelos filhos e netos de Brizola logo após ter recebido as vaias de alguns brizolistas mais exaltados. A família não apoiou as manifestações de protesto[39]. Antes de se retirar do local, Lula destacou a importância do pedetista na política brasileira: “perdemos uma referência da política”[40]. O episódio também repercutiu no Correio do Povo que divulgou uma foto de 2002 na qual Brizola estava com um adesivo da campanha presidencial de Lula[41], visando ressaltar o recente apoio. Em sua coluna, intitulada O último tribuno, Juremir Machado foi bastante crítico ao governo Lula e creditava a decepção do pedetista com o ex-aliado: “Livrou-se, quem sabe, de ver a Era Vargas enterrada por Lula”[42].

“Leonel Brizola, o último líder trabalhista”

A cobertura do funeral de Leonel Brizola retomou a ideologia trabalhista e, segundo as fontes, Brizola seria o último representante do trabalhismo, desse modo, com sua morte, morreria também a doutrina fundada por Getúlio Vargas no Brasil ou, em análises menos deterministas, haveria a perda de espaço. A questão do trabalhismo foi mais proeminente em Zero Hora e o Correio do Povo, embora os jornais fluminenses não negassem essa premissa. Exemplo da retomada do trabalhismo foi a alusão de que em São Borja, onde foi realizado o enterro, também estão sepultados “os maiores nomes do trabalhismo, os presidentes Getúlio Vargas, fundador do movimento político, e João Goulart”[43].

A edição de capa de 22 de junho de 2004 do Correio do Povo estampava a seguinte manchete: “Política brasileira perde Leonel Brizola”. Em destaque a foto do retorno de Brizola pós-exílio, com chapéu e a bandeira do PTB, na legenda: “volta do líder trabalhista do exílio, após anistia, foi um dos principais marcos da história política recente”. A breve biografia apresentada relatou sobre seu ingresso na política, seus cargos eletivos, a Campanha da Legalidade, sua escolha pelo Rio de Janeiro e a frustração por não ter conseguido chegar à presidência da República: “morreu sem realizar seu maior sonho”[44]. Sua vida no exílio foi apresentada com sua participação na tentativa de organização da luta armada logo após o golpe, seus longos anos na fazenda no Uruguai e a consequente reorganização política na Europa a partir da Carta de Lisboa, em 1978. Em suma, a cobertura da morte de Brizola pelo Correio do Povo retratou o político especialmente pela ótica do trabalhismo e não pelo brizolismo, haja vista a manchete que anunciou a morte: “Infarto pára coração do trabalhismo”[45] e a capa de 25 de junho estampou: “Seguidores prometem manter trabalhismo no adeus ao líder Brizola”. O que se difere dos periódicos fluminenses: Jornal do Brasil e O Globo praticamente referem-se ao trabalhismo apenas quando mencionam a origem da carreira política de Leonel Brizola inspirado em Getúlio Vargas.

Sua origem pobre e de ascensão social foi tratada, a exemplo do que já foi mencionado por João Trajano Sento-Sé, do menino que “venceu na vida” através dos estudos. O editorial do Correio do Povo, intitulado “O país em comoção”, trouxe a recuperação da trajetória de Brizola e, sem críticas, afirmaram que ele mantinha acesa a chama do trabalhismo. Deram ênfase ao Rio Grande do Sul ao mencionar apenas trabalhistas surgidos no estado, como Fernando Ferrari e Alberto Pasqualini. Por fim, definiram como corajosa sua luta pelo o que acreditava, principalmente a pauta do nacionalismo. Para o Correio, Brizola deixaria um exemplo de vida e conduta ética aos políticos da atual geração e àqueles que virão mais tarde[46].

Durante o cortejo fúnebre até o Palácio Piratini, em Porto Alegre, a presença de cavalarianos do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) foi outro ponto em comum na cobertura da imprensa sul-riograndense. Qualquer indício que remetesse à cultura “gaúcha” foi destacado. Fato curioso, pois Brizola escolheu seguir sua vida política no Rio de Janeiro o que poderia ser encarado como um abandono ao seu estado natal. No entanto, mesmo no centro do país, o pedetista mantinha o sotaque carregado e insistia no uso do tradicional lenço vermelho, que remetia à história sul-riograndense. O Correio do Povo salientou várias vezes o caráter bairrista da despedida.

A morte de Brizola foi abordada como o fim de uma era de políticos sul-riograndenses de projeção nacional, de certo modo, era a despedida de um saudoso Rio Grande do Sul. No editorial de Zero Hora, “O século gaúcho e os novos desafios”, a publicação definiu de “século gaúcho”[47]. Juliane Tastsch (2014, p. 243) apontou a construção dessa identidade do gaúcho, forjada desde o seu surgimento por seus traços fronteiriços e de disputas territoriais: Dentro do discurso histórico e/ou historiográfico rio-grandense, o gaúcho é glorificado como fruto de um passado enaltecido por guerras e lutas fronteiriças com os castelhanos, tendo como cenário as planícies do Pampa, transformado em verdadeiro campo de batalha. Com isso, a construção da identidade regional do gaúcho teve como traços característicos o componente militar-fronteiriço e a importância da pecuária na economia da região, o que impulsionou o surgimento da Estância e do Estado. Além disso, para a configuração da identidade do gaúcho se faz necessário a expressão de vários elementos como a indumentária e os hábitos de falar (TATSCH, 2014, p. 244). Embora a construção identitária do gaúcho seja social, ela também acaba sendo apropriada pelo campo político.

Assim, tanto no Correio do Povo quanto em Zero Hora, várias fotos foram reproduzidas de Brizola com o chimarrão, o poncho e o lenço vermelho, todos elementos ligados à cultura e a história do estado, ademais, o destaque à sua forma carregada de falar com traços do sotaque regional. Em Zero Hora, a chegada do corpo no estado natal também recebeu a tônica de valoração do imaginário gaúcho, na capa estamparam a chamada: “Brizola volta para casa: com honras fúnebres, o caixão com o corpo de Leonel Brizola ingressa no Palácio Piratini, de onde o ex-governador gaúcho comandou a Legalidade em 1961”[48].

No editorial de Zero Hora[49], presenciamos novamente a exaltação da imagem de Brizola como gaúcho, pois há a publicação de uma foto de Brizola com um poncho, muito usado no Sul durante o inverno. As fotos publicizadas pelo periódico são geralmente mais antigas que remetem sua trajetória no Rio Grande do Sul e não as do Brizola “carioca”. Quanto ao conteúdo do editorial apresentou-se um texto cordial, pontuando brevemente algumas críticas, mas com destaque para suas virtudes. Caracterizado de nacionalista e de ter assumido um compromisso com a democracia:

Leonel Brizola jamais deixou de ser coerente com a utopia de um Brasil independente, soberano, decente e generoso com os trabalhadores e os humildes. Essa foi a luta de sua vida. Esse é o seu maior legado[50].

O colunista Paulo Santana deu mais indícios desse esforço de ZH em associar o ex-governador à imagem do gaúcho tradicionalista ao afirmar que a morte reacendeu o amor por ser gaúcho e que isso ficou explícito diante da emoção ao cantar “Querência Amada” na chegada do caixão ao Piratini: “É que Brizola antes de tudo sintetiza um tipo gaúcho: intrépido, falante, resistente, bonachão”[51].

Considerações finais

Trabalhar com História do Tempo Presente, especialmente sobre a construção da memória em períodos mais recentes tornou-se um desafio ainda maior, pois a cada momento, novas informações surgem. Mesmo que o recorte cronológico tenha sido previamente estabelecido, tais informações acabam por influenciar nossas reflexões. Portanto, em paralelo ao trabalho analítico, novas informações a respeito dos usos e da constante construção sobre a memória de Leonel Brizola suscitaram modificações sobre meu objeto de estudo. Assim é a escrita da história, ela está viva, é construída a partir de fatos e novas reflexões, amparadas em teorias e métodos, passíveis de novas contribuições. Ao pensar sobre essas questões me indaguei: e a memória de Brizola após 2014? Ela influenciou minhas conclusões sobre a construção da memória de Leonel Brizola durante a primeira década após sua morte?

Essas inquietações surgiram a partir de notícias mais recentes. Em outubro de 2019, a Petrobras decidiu retirar o nome “Governador Leonel Brizola” da termelétrica de Duque de Caxias, no Rio de Janeiro[52]. A companhia informou que a mudança visava facilitar o registro do nome no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI). O vereador Leonel Brizola Neto (PSOL-RJ), neto do ex-governador, apresentou Moção de Repúdio[53], que foi aprovada pela Câmara Municipal exigindo o retorno do nome, em novembro de 2020, alegando que a ação do governo federal era “um atentado à memória” do avô[54]. A segunda notícia refere-se à homenagem recebida pelo presidente Jair Bolsonaro da Câmara Municipal de Queimados, no Rio do Janeiro, da medalha Leonel Brizola. Fato no mínimo inusitado, afinal, Bolsonaro representa tudo aquilo que o político sul-rio-grandense sempre lutou contra[55].

Em 2004, quando Brizola morreu, o Brasil vivia os primeiros anos do governo petista, algo novo, pois a chegada de um partido de centro-esquerda ao poder na época representava a esperança de uma nova política. Diante desse contexto, a cobertura pela imprensa do funeral salientou que com a morte do “último líder trabalhista” morria uma era política, alheia ao marketing político e que fora marcada por lideranças carismáticas, como o próprio Brizola. A imprensa sul-rio-grandense afirmou que com esse fim também encerraria um período de ascensão política do Rio Grande do Sul no cenário nacional, que tinha sido marcado pela participação de gaúchos na política brasileira no último século. O futuro do PDT, partido fundado e presidido por Brizola até os últimos momentos, foi muito debatido. Análises mais pessimistas acreditavam no fim da agremiação, marcada pelo personalismo e centralismo de seu líder. Embora não seja o principal partido no contexto atual, fato é que o PDT se manteve vivo.

O Globo foi a publicação, dentre as analisadas, que mais apontou as contradições de Brizola, no entanto, não impediu de reconhecer sua importância na história nacional e, principalmente, no Rio de Janeiro. “Morreu na cancha, como um cavalo inglês”, frase proferida por ele em 1998 quando houve rumores de sua aposentadoria[56]. De modo geral, caracterizaram o pedetista como um dos “últimos líderes carismáticos”, centralizador, polêmico e de alianças pragmáticas[57]. Enquanto para o Jornal do Brasil, Brizola foi retratado essencialmente por seu modo de fazer política - ancorado em polêmicas - por seu nacionalismo e por sua luta pela democracia, essa em menor escala. Era essencialmente o último líder trabalhista[58].

Zero Hora, por sua vez, apresentou a cobertura mais elogiosa, fez questão de impregnar a ideia de que apesar da morte física não morreria enquanto ideologia já que “Brizola desenvolveu o dom de morrer e ressuscitar simbolicamente incontáveis vezes”[59]. Agora transformara-se em mito, como anunciou uma de suas manchetes. O Correio do Povo também foi bastante laudatório, com destaque para a perda do líder trabalhista e a associação ao tradicionalismo gaúcho. Representou uma despedida para além da personalidade, mas de um passado heroico do Rio Grande do Sul do qual Brizola era o último representante.

Coerente, honesto, fiel a seus ideais e polêmico foram termos comuns mencionados nos depoimentos colhidos pela imprensa. Líder trabalhista e nacionalista aparecem logo em seguida. Já a classificação de democrático (e/ou legalista) foi mencionado mais por políticos do alto escalão ou com maior instrução. Em suma, surgiram várias definições, afinal um personagem com mais de 50 anos de vida pública, que se envolveu em diversas polêmicas e esteve presente em momentos decisivos da nossa história, era natural que fosse complexa e diversa. Todavia, identifiquei que sua luta pela democracia em 1961 foi a que esteve mais presente em seu funeral e que voltou à memória dos brasileiros anos depois. De certo modo, o Brizola legalista saiu vitorioso. Porém, ao retomar as inquietações sobre sua memória após 2014, especialmente diante do avanço da extrema direita ao poder, concluo que Leonel de Moura Brizola vive na memória de um passado político que desperta saudades para alguns e dissabores para outros, mas para ambos, não cabe mais no presente.

Referências

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Notas

[1] Este artigo é um recorte da minha tese de doutorado intitulada “Brizola Vive? A construção da memória de Leonel Brizola (2004-2014) ”, defendida em março de 2021 pela PUCRS.
[2] Com exceção do jornal Zero Hora, que está localizado no Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, em Porto Alegre; todas as fontes foram acessadas on-line. Correio do Povo: https://correiodopovo.com.br/jornal/EdicoesAnteriores2.asp.
[3] Na ocasião estavam presentes representantes do PDT, PT, PSOL, PCdoB e REDE. E ainda da CUT, UJS, CTB, MNLN, Levante Popular da Juventude. Cito alguns nomes: José Fortunati (na época pelo PDT e prefeito de Porto Alegre), Carlos Lupi (presidente nacional do PDT), Tarso Genro (PT/ex-governador do RS), Henrique Fontana (PT/deputado federal RS), Olívio Dutra (PT/ex-governador do RS), Manuela D’Ávila (PCdoB, na época deputada estadual/RS), Luciana Genro (PSOL), Sereno Chaise (trabalhista histórico, ex-prefeito de Porto Alegre). Fonte: “Junto ao busto de Brizola, autoridades lançam ‘nova campanha da legalidade”, Portal Sul21, em 11/12/2015. Link: http://www.sul21.com.br/jornal/junto-ao-busto-de-brizola-autoridades-lancam-nova-campanha-da-legalidade/. Acesso em 21/08/2016.
[4] Acentuando-se com a crise política do governo Rousseff, especialmente a partir de dezembro de 2015, quando ocorreu o encontro de lideranças partidárias no entorno da estátua de Brizola em Porto Alegre (já mencionado), foi possível identificar um padrão – ainda que superficial - de menções ao trabalhista referenciando-o como um defensor do Estado Democrático de Direito, de perfil combativo e audacioso, características essenciais para enfrentar a crise política.
[5] Nesse ano foi inaugurado o Sambódromo, Brizola e a Globo não mantinham boa relação desde as eleições em decorrência do caso Proconsult (suspeita de fraude eleitoral em 1982 que quase impediu sua posse no governo do estado). Conforme ocorriam as negociações de direitos de transmissão, houve atritos entre a Globo, pois a emissora discordava da proposta de cálculo de pontos para definir a escola campeã entre outros motivos internos. Pela quantia de 210 milhões de cruzeiros, a Manchete teve para si os desfiles de 1984 com exclusividade. Fonte: Site Observatório da Televisão. Link: https://observatoriodatv.bol.uol.com.br/noticias/2019/03/1984-35-anos-do-carnaval-no-qual-a-manchetedesbancou-a-globo Acesso em 08/01/2020.
[7] “Leonel Brizola, o último líder trabalhista “, Jornal do Brasil, 22 de junho de 2004, p. A10.
[8] “Leonel Brizola, o último líder trabalhista “, Jornal do Brasil, 22 de junho de 2004, p. A10.
[9] “Herdeiro de Getúlio e parceiro de Jango”, O Globo, 22 de junho de 2004, p. 8A.
[10] “Lá vai Brizola, o último líder”, O Globo, 23 de junho de 2004, p. 2. Caderno Especial.
[11] “Ele foi um personagem importante da história’: Lula e Rosinha decretaram luto oficial de três dias e presidente da câmara a votação do salário mínimo”, O Globo, 22 de junho de 2004, p. 9.
[12] “O reconhecimento dos adversários: líder carismático e contraditório, Brizola rompeu com políticos que tentaram ganhar luz própria dentro do PDT”, Zero Hora, 23 de junho de 2004, p. 15.
[13] "Não havia espaço para dois líderes nacionais no PDT “, Zero Hora, 23 de junho de 2004, p. 15.
[14] “Amigos de 55 anos não se acertam: Brizola rompeu com Sereno Chaise por causa da aliança com PT gaúcho. Nunca mais se falaram”, Correio do Povo, 23 de junho de 2004, p. 6.
[15] “José Vicente lamenta por não ter se reconciliado com o pai. Filho mais velho estava rompido com Brizola há quatro anos por divergências políticas”, O Globo, 23 de junho de 2004, p. 4.
[16] “PDT enfrenta desafio de viver sem chefe”, Correio do Povo, 23 de junho de 2004, p. 4.
[17] “Ele foi um personagem importante da história’: Lula e Rosinha decretaram luto oficial de três dias e presidente da câmara a votação do salário mínimo”, O Globo, 22 de junho de 2004, p. 9.
[18] “Não havia espaço para dois líderes nacionais no PDT”, Zero Hora, 23 de junho de 2004, p. 15.
[19] “O legado de um líder”, Zero Hora, 23 de junho de 2004, p. 18.
[20] “Fica para trás a era de políticos carismáticos. Cientista políticos afirmam que o desaparecimento do fundador do PDT representa o fim de uma geração que marcou a cena política no século XX”, O Globo, 23 de junho de 2004, p. 2.
[21] “PDT em busca de um herdeiro. Diante de um vácuo deixado pela morte de Brizola, seu líder e fundador, partido terá pela frente o desafio de não se tornar nanico e de continuar à frente da bandeira do trabalhismo no Brasil”, O Globo, 23 de junho de 2004, p. 6. Caderno Especial.
[22] “Fica para trás a era de políticos carismáticos. Cientista políticos afirmam que o desaparecimento do fundador do PDT representa o fim de uma geração que marcou a cena política no século XX”, O Globo, 23 de junho de 2004, p. 2.
[23] “Herança política de líder é disputada em velório”, Zero Hora, 23 de junho de 2004, p. 6.
[24] “Herança política de líder é disputada em velório”, Zero Hora, 23 de junho de 2004, p. 6.
[25] “Um partido sem norte”, Zero Hora, 23 de junho de 2004, p. 10.
[26] “Fecha-se um ciclo”, O Globo, 23 de junho de 2004, p. 6.
[27] “Fecha-se um ciclo”, O Globo, 23 de junho de 2004, p. 6.
[28] “A propósito”, Zero Hora, 24 de junho de 2004, p. 3.
[29] "Faltou sacramentar aliança com o PMDB”, Zero Hora, 24 de junho de 2004, p. 10.
[30] “Um herdeiro com os dias contados”, Zero Hora, 25 de junho de 2004, p. 12.
[31] “Um herdeiro com os dias contados”, Zero Hora, 25 de junho de 2004, p. 12.
[32] “PDT em busca de um herdeiro. Diante de um vácuo deixado pela morte de Brizola, seu líder e fundador, partido terá pela frente o desafio de não se tornar nanico e de continuar à frente da bandeira do trabalhismo no Brasil”, O Globo, 23 de junho de 2004. Rio de Janeiro, edição especial, p. 6.
[33] Internamente o partido, especialmente nos diretórios regionais, apresenta posições ambíguas, como por exemplo, a presença de filiados apoiadores da política bolsonarista, enquanto o diretório nacional declara-se abertamente na oposição ao governo federal. A reportagem a seguir é um exemplo desta situação: “PDT: um partido dividido entre a extrema direita e a quinta coluna”, Revista Fórum, 11 de julho de 2019. Link: https://revistaforum.com.br/blogs/ocolunista/pdt-um-partido-dividido-entre-a-extrema-direita-e-a-quinta-coluna/# Acesso em 11/02/2021.
[34] “PDT 40 anos: de Brizola a Ciro”, texto de Osvaldo Maneschy. Site PDT, 26 de maio de 2020. Link: https://www.pdt.org.br/index.php/pdt-40-anos-de-brizola-a-ciro/ Acesso em: 11/02/2021.
[35] “Fica para trás a era de políticos carismáticos. Cientista políticos afirmam que o desaparecimento do fundador do PDT representa o fim de uma geração que marcou a cena política no século XX”, O Globo, 23 de junho de 2004. Rio de Janeiro, edição especial, p. 2.
[36] “O homem da metralhadora”, O Globo, 23 de junho de 2004, p. 2. Argumento também levando por João Sento-Sé (1999).
[37] “Intolerantes até o último minuto. Partidários de Brizola hostilizaram duramente Lula durante o velório, chamando-o de traidor e atrapalhando a homenagem do presidente ao pedetista; Moreira e Garotinho também foram vaiados”, O Globo, 23 de junho de 2004, p. 3. Caderno Especial.
[38] “Presidente Lula é vaiado por pedetistas no velório”, Correio do Povo, 23 de junho de 2004, capa.
[39] “Intolerantes até o último minuto. Partidário de Brizola hostilizaram duramente Lula durante o velório, chamando-o de traidor e atrapalhando a homenagem do presidente ao pedetista; Moreira e Garotinho também foram vaiados”, O Globo, 23 de junho de 2004, p. 3. Caderno Especial.
[40] Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 22 de junho de 2004, p. A10.
[41] Correio do Povo, 22 de junho de 2004, p. 12.
[42] Correio do Povo, 23 de junho de 2004, p. 4.
[43] “Política brasileira perde Leonel Brizola: líder trabalhista morreu ontem no Rio de Janeiro, aos 82 anos, de um infarto decorrente de insuficiência respiratória”, Correio do Povo, 22 de junho de 2004, capa.
[44] “Imagem se fortalece no longo período do exílio”, Correio do Povo, 22 de junho de 2004, p. 12.
[45] “Seguidores prometem manter trabalhismo no adeus ao líder Brizola”, Correio do Povo, 25 de junho de 2004, capa.
[46] “O país em comoção”, Correio do Povo, 23 de junho de 2004, p. 4.
[47] “O século gaúcho e os novos desafios”, Zero Hora, 27 de junho de 2004, p. 12
[48] “O legado de um líder”, Zero Hora, 23 de junho de 2004, p. 18.
[49] “O legado de um líder”, Zero Hora, 23 de junho de 2004, p. 18.
[50] “O legado de um líder”, Zero Hora, 23 de junho de 2004, p. 18.
[51] “SEC lembra legado à educação”, Correio do Povo, 23 de junho de 2004, p. 6.
[52] “Petrobras apaga nome de Leonel Brizola de termelétrica”, Panorama, 09 de novembro de 2020. Link: https://www.panoramaoffshore.com.br/petrobras-apaga-nome-de-leonel-brizola-de-termeletrica/#:~:text=A%20Petrobras%20decidiu%20recentemente%20retirar,grande%20perplexidade%20no%20meio%20pol%C3%ADtico. Acesso em 15/02/2021 e “Petrobras joga fora a Usina Leonel Brizola! Governo Bolsonaro rebatiza termoelétricas”, Conversa Afiada, 09 de outubro de 2019. Link: https://www.conversaafiada.com.br/economia/petrobras-joga-fora-a-usina-leonel-brizola Acesso em 15/02/2021.
[53] “Vereador neto de Brizola pede que Petrobras volte a chamar usina com nome do avô”, Folha de São Paulo, 28 de outubro de 2020. Link: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2020/10/vereador-neto-de-brizola-pede-que-petrobras-volte-a-chamar-usina-com-o-nome-do-avo.shtml Acesso em 23/02/2021.
[54] “Um atentado à memória de Leonel Brizola”, EsHoje, 04 de novembro de 2020. Link: https://eshoje.com.br/um-atentado-a-memoria-de-leonel-brizola/. Acesso em 23/02/2021.
[55] “Bolsonaro recebe medalha Leonel Brizola em homenagem de vereadores do RJ”, Folha de São Paulo, 06 de dezembro de 2020.

Link: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2020/12/bolsonaro-recebe-medalha-leonel-brizola-em-homenagem-de-vereadores-do-rj.shtml . Acesso em 06/01/2021.

[56] “O adeus a Brizola”, O Globo, 23 de junho de 2004, capa. Caderno Especial.
[57] “O adeus a Brizola”, O Globo, 23 de junho de 2004, capa. Caderno Especial.
[58] “Um político sem medo: a solução democrática”, Jornal do Brasil, 22 de junho de 2004, p. A10.
[59] “Sem aspas, desta vez”, Zero Hora, 24 de junho de 2004, p. 3

Autor notes

i Graduada e Mestra em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); Doutora em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). Professora da Educação Básica da Rede Municipal de Canoas, RS, Brasil. E-mail: grazi.ortiz@gmail.com Registro: https://orcid.org/0000-0002-8338-2491

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