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Apresentação – Dossiê Memória Política: 100 anos de Leonel Brizola
Argumentos - Revista do Departamento de Ciências Sociais da Unimontes, vol. 19, núm. 1, pp. 4-8, 2022
Universidade Estadual de Montes Claros

Dossiê

Argumentos - Revista do Departamento de Ciências Sociais da Unimontes
Universidade Estadual de Montes Claros, Brasil
ISSN: 2527-2551
ISSN-e: 1806-5627
Periodicidade: Semestral
vol. 19, núm. 1, 2022

Recepção: 22 Abril 2022

Aprovação: 05 Maio 2022

A memória, segundo Bartlett (1961), é um processo construtivo que ocorre pelo movimento de rememoração. Esse acontece pelas atualizações e pelas reconstruções ativas e dinâmicas do passado, criando esquemas de lembranças. A rememoração é um processo em movimento, não estático e que sucede em virtude de demandas do presente. As memórias, portanto, têm uma origem no passado, mas são ativadas e reformuladas sempre que há um incitamento no presente. Há múltiplas formas de expressão pública de memórias, mas pode-se afirmar que todas, sem medo de generalização, são suportes para compreender e interpretar melhor os acontecimentos do presente.

Este dossiê, Memória Política: 100 anos de Leonel Brizola, segue esta linha de pensamento. É um movimento de rememoração estimulado por um acontecimento do presente, o aniversário de nascimento de um dos maiores personagens políticos do Brasil. Embora Brizola tenha nascido há 100 anos e tenha falecido em 2004, ele ainda está vivo, atuando e interpretando o Brasil contemporâneo. Este dossiê temático não é um resgate do pensamento de Leonel Brizola, tampouco um trabalho biográfico. É um documento que apresentou esquemas de lembranças e buscou memórias.

Para construir esta expressão pública de memórias, preocupamos em mesclar artigos acadêmicos, ensaios, relatos e entrevistas. O dossiê não focou somente nos estudos e nas narrativas do campo da História, mas, também, da Sociologia, da Economia, da Política e do Ativismo Social. O dossiê está organizado em seis artigos originais e uma entrevista, além desta apresentação. Procurou-se manter uma pluralidade no movimento de rememoração de Leonel Brizola, mas sempre preservando o objetivo de criar uma Memória Política.

Na apresentação deste movimento, começamos com o relato de Beatriz Bissio, vice-diretora do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS-UFRJ), professora de Ciência Política do IFCS/UFRJ, professora do Programa de Pós-Graduação em História Comparada – PPGHC UFRJ e amiga de Leonel Brizola. No texto de lembranças “Brizola, um líder adiante de seu tempo”, Bissio apresenta aos leitores um líder político determinado pela luta de emancipação do Brasil e apaixonado por uma causa, porém sem nunca perder o encanto pelas alegrias lúdicas da vida.

O movimento de rememoração segue para o artigo “Brizola em dois momentos: da Legalidade à Redemocratização” redigido por Daniel Arruda Coronel, professor associado do Departamento de Economia e Relações Internacionais, com atuação como docente permanente nos Programas de Pós-Graduação (Stricto sensu) em Administração Pública, em Gestão de Organizações Públicas e de Economia e Desenvolvimento, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Utilizando de revisão bibliográfica da literatura política, econômica e social, Coronel demonstra, em dois momentos diferentes – Campanha da Legalidade e redemocratização pós-Golpe 1964 – como Brizola sempre teve preocupação com a defesa da ordem democrática, da legalidade, do desenvolvimento econômico e da educação.

O próximo artigo é de Moacir de Freitas Junior, professor do Instituto de Ciências Sociais – INCIS da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). O artigo com o título de “Brizola e as condições de vida: um ensaio sobre a luta pela emancipação do Brasil” apresenta que o fio condutor das ações e dos discursos de Brizola era a superação do subdesenvolvimentismo brasileiro. Brizola não era somente um líder político com interesses partidários, mas um Estadista em busca da emancipação econômica, política e social do Brasil.

Como Estadista e desenvolvimentista, Brizola compreendia que para o Brasil romper com o subdesenvolvimentismo era necessária uma ampla reforma agrária. Esse é o tema do artigo de Bernard José Pereira Alves, professor efetivo do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Roraima (IFRR) e professor permanente do Programa de Pós-graduação em Agroecologia, parceria interinstitucional entre Universidade Estadual de Roraima (UERR), Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Roraima (IFRR) e Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Com o artigo “Estourou a Reforma Agrária”: o movimento reivindicatório de Camaquã”, Bernard apresenta a organização do movimento sem-terra no Rio Grande do Sul durante o governo de Brizola (1959 – 1963) e como o governador apoiou e incentivou os sem-terra e suas demandas.

Outro ponto que estava sempre presente nos governos de Brizola e em seus discursos, era a importância de realizar massivos investimentos em educação. O zelo por uma política educacional justa e democrática foi, com certeza, um norte para Brizola e faz parte da memória coletiva em torno de sua figura. Este é o tema abordado por Fernando Antonio da Costa Vieira, professor do programa de pós-graduação em Sociologia Política do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro da Universidade Candido Mendes (IUPERJ-UCAM) e Coordenador do Laboratório de Movimentos Sociais e Mídia: Embates e Aproximações. No artigo, “Um legado na Educação pública: Brizola e o Programa Especial de Educação no Rio de Janeiro”, Vieira destaca a criação dos Centros Integrados de Educação Pública, os CIEP’s, durante o governo de Leonel Brizola no Rio de Janeiro (1983 – 1987 / 1991 – 1994), explanando como que o programa foi combatido por alguns setores da sociedade.

O último texto desta rememoração é “A construção da imagem no adeus a Brizola: apontamentos sobre a cobertura do funeral pela imprensa” de Graziane Ortiz Righi, doutora em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) e professora da Educação Básica da Rede Municipal de Canoas. A pesquisa de Righi analisa como que a imprensa escrita construiu a imagem de Leonel Brizola, com seu legado, durante seu funeral em junho de 2004. A autora demonstra o que citamos no começo desta apresentação, ou seja, a despeito da morte de Brizola em 2004, a memória sobre o político segue pujante e atuante.

Para fechar o movimento de rememoração e todo o esquema de lembranças construído por este dossiê, contamos com a entrevista especial de um dos maiores ativistas sociais do Sul Global, João Pedro Stédile do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Na entrevista, conduzida por Isaías Albertin de Moraes, pesquisador do Núcleo de Extensão e Pesquisa em Economia Solidária, Criativa e Cidadania da Unesp (NEPESC-Unesp) e por Gustavo Henrique Cepolini Ferreira, professor do Departamento de Geociências e do Programa de Pós-Graduação em Geografia – PPGEO na Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), João Pedro Stédile relembra, entre outras memórias, parte da biografia de Brizola e de seu governo no Rio Grande do Sul (1959 – 1963) e o impacto que isso teve na sua vida e na formação do MST. Além disso, Stédile enfatiza que Brizola foi o “melhor governador de esquerda do Brasil”, um homem de entrega, de comprometimento e de ação a uma causa, um Estadista raro.

Acreditamos que este dossiê conseguiu auxiliar expressivamente para o processo construtivo que ocorre pelo movimento de rememoração, isto é, a memória, neste caso, política de Leonel Brizola. Esta expressão pública de memória em torno de Brizola e sua atuação política, com certeza, sem falsa modéstia, entra para lista de outros grandes esquemas de lembranças que o Estadista foi objeto de estudo como os trabalhos de Bandeira (1979); Brigagão e Ribeiro (2015); Dioni (2004); Kuhn (2004), Leite (2008); Maneshcy (2011); Sento-Sé (1999); entre outros. Com este espírito de exaltação e de orgulho desejamos a todos uma ótima leitura!

Referências

BANDEIRA, Moniz. Brizola e o trabalhismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.

BARTLETT, Fredericn C. Remembering: a Study in Experimental Social Psychology. Cambridge, Cambridge University Press, 1961.

BRIGAGÃO, Clóvis. RIBEIRO, Trajano. Brizola. São Paulo: Paz e Terra, 2015.

DIONI, Cleber. O menino que se tornou Brizola. Porto Alegre: Já Editores, 2004.

KUHN, D. Brizola da legalidade ao exílio. Porto Alegre: RBS Publicações, 2004.

LEITE FILHO, Francisco. C. El caudillo: Leonel Brizola um perfil biográfico. São Paulo: Aquariana, 2008.

MANESCHY, Osvaldo. (Org.) Leonel Brizola: a legalidade e outros pensamentos conclusivos. Niterói: Nitpress, 2011.

SENTO-SÉ, João T. Brizolismo: estetização da política e carisma. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1999.

Autor notes

i Pesquisador do Núcleo de Extensão e Pesquisa em Economia Solidária, Criativa e Cidadania da Unesp (NEPESC-Unesp), Brasil. E-mail: isaias.a.moraes@unesp.br. Orcid: 0000-0003-1839-803X

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