1 INTRODUÇÃO

A cidade de Caicó no Rio Grande do Norte é referência em produção de produtos têxteis como vestuário, cama, mesa e banho, rendas, bordados, tanto artesanais, como confeccionados industrialmente, sendo, também, um importante polo comercial da região Seridó. Onde recebe diariamente consumidores em buscados mais diversos produtos e serviços, sobretudo no que diz respeito à área têxtil e confecção de peças de vestuário.

O bordado de Caicó ganhou no ano de 2018 o Selo de Indicação Geográfica, que foi concedido pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) (INPI, 2020; PEDUZZI, 2020). Este selo garante aos consumidores a autenticidade do bordado caicoense, tornando-o um elemento ímpar na cultura local. Nesse contexto, observou-se que o bordado que gerou esse selo é mais comumente aplicado em produtos para o lar, sendo pouco explorado na confecção de vestuário, principalmente em produtos carregados de informação de moda e/ou tendência. De tal forma, entende-se que a formalização desse selo para o bordado local contribui diretamente na criação de valor, e o aproveitamento desse fato por este projeto pode trazer à tona a utilização de uma técnica local consolidada e validada, fazendo com que essas pessoas envolvidas entrem em uma rede existente de renda e criação.

Pensando nisso, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN) – campus Caicó, oferta, anualmente, vagas nos cursos técnicos em vestuário e têxtil, bem como no curso de graduação em Design de Moda, de modo a ter indivíduos formados e preparados para atender as demandas locais. Em 2017, fundou-se o Núcleo de Extensão e Prática Profissional (NEPP), com projetos voltados para pesquisa de tendência e mercado, fomentando a economia criativa local. Nos anos seguintes, tomou lugar ações direcionadas para formação complementar de mulheres em situação de vulnerabilidade social (MENDES; MEIRELES, 2020).

Sendo assim, o NEPP é uma iniciativa do IFRN que busca promover ações que possam fazer com que os discentes do Curso Superior de Tecnologia (CST) em Design de Moda trabalhem em conjunto com as atividades propostas no projeto não fiquem na teoria. Além disso, o projeto aqui discutido trabalha também na perspectiva de inserção social, a partir do entendimento acerca da importância da extensão para a conexão efetiva entre sociedade e instituição de ensino.

Com esse conceito em mente, a extensão teve seu surgimento na Inglaterra durante o século XIX, com a intenção de direcionar novos caminhos para a sociedade e promover a educação continuada. Na atualidade, ela vem surgindo como instrumento a ser usado pelas Universidades para a efetivação de compromisso social. A Extensão Universitária possui um papel bastante importante no que se diz respeito às contribuições que podem trazer à sociedade (RODRIGUES et al., 2013).

Assim sendo, a extensão aparece como uma oportunidade de colocar em prática os conhecimentos aprendidos em sala de aula, tratando esse processo como uma rede de compartilhamento permeado por atores discentes, docentes e sociedade. Portanto, entende-se que é importante que a universidade apresente uma concepção do que a extensão tem em relação com à comunidade em geral dentro do processo de ensino, pois, aquele que está na condição de aprender, acaba ampliando seu conhecimento quando há esse contato (RODRIGUES et al., 2013).

Diante deste cenário, verificou-se a oportunidade de criar e capacitar um grupo de mulheres que possam bordar produtos de moda, uma vez que as artesãs que bordam produtos para o lar não costumam aceitar trabalhos orientados aos artigos do vestuário. Além disso, a necessidade dessa ação aparece na medida em que se vem ampliando a utilização de tipologias artesanais nos artefatos de moda e que, por isso, os designers, empresas, e pequenas marcas que desenvolvam peças com tais tipologias artesanais, voltadas às vocações regionais, irão necessitar cada vez mais de mão de obra qualificada (CORREIA; 2022; SANTOS; HELD, 2022).

Na perspectiva do discente, a prática profissional exercida dentro de sua formação consiste em uma atividade na qual é vinculada o ensino, a pesquisa e a extensão. Eles são considerados indicadores de uma formação articulada e integral de sujeitos para atuar no mundo em constantes mudanças e desafios, regida pelos princípios de oportunidades de igualdade para todos, flexibilidade, aprendizado entre teoria e prática e o acompanhamento total de um supervisor ao estudante durante todo período de seu desenvolvimento da prática (IFRN, 2019).

Por entender o contínuo impacto destas práticas para o cenário local, em 2021/2022, a proposta do NEPP focou novamente nas mulheres em situação de vulnerabilidade social e econômica, de modo que pudessem ter uma capacitação profissionalizante, por meio de cursos relacionados à economia criativa ofertados pelo projeto. No entanto, desta vez optou-se por oferecer cursos de bordado regional, no qual o foco era o desenvolvimento de produtos de moda. Na execução desses cursos, teve-se colaboração de artesãs que trabalham há um bom tempo com bordados, bem como dos discentes de Design de Moda que compunham a equipe do projeto no respectivo ano.

Pensando nisso, este artigo tem por objetivo expor e discutir sobre as ações sociais e o impacto do Núcleo de Extensão e Prática Profissional do departamento de Moda do IFRN – Campus Caicó entre os anos de 2020 e 2021 no cenário sociocultural local. Com isso em mente, empregou-se os métodos de pesquisa-ação, com uma abordagem qualitativa dos dados, focando-se especialmente no relato de experiência das práticas profissionais.

2 O PAPEL DO DESIGNER DE MODA NA SOCIEDADE

Ao passar do século XXI é notória a influência da moda como força motriz de ascensão social e geração de empregos, em específico aos diferentes tipos de trabalho que essa indústria oferece. De acordo com Pereira (2004, p. 59) “a mobilidade e a ascensão social são processos que estão ligados a aspectos hierarquizantes característicos das sociedades modernas. Entre estes aspectos, o capital físico é um dos mais valorizados”. No entanto, embora se observe esse mais amplo acesso ao consumo e produção de moda, vale a pena enfatizar as dimensões por trás desse fomento ao emprego, à medida que se observa um processo de precarização que traz à tona uma problemática sobre a subvalorização da mão de obra trabalhista (STAMPA; 2018; LOURENÇO; LORE; STAMPA, 2019), em especial a artesanal, bem como ambientes inóspitos e trabalhos análogos à escravidão (BERLIM, 2021).

De tal maneira, a moda se torna de fato entendida como um fenômeno social, cultural e econômico para os indivíduos, independentes de raça, gênero, classe social, idade etc. É neste contexto que o desenvolvimento de habilidades na área de moda contribui na geração e oportunidades de pluralização social (LIPOVETSKY, 2001; PEREIRA, 2004). Pensando assim, produtos de moda podem divulgar conceitos, discursos ou até mesmo uma causa. Neste sentido, os produtos desenvolvidos ganham espaço não só nos gostos do público, mas também possuem o poder de contribuir no desenvolvimento de uma sociedade mais justa e igualitária, no entanto, por vezes, existe mais uma mobilização no discurso do que ações propriamente ditas, e o designer tem papel fundamental no caminho desta construção (POSNER, 2015).

O papel do designer de moda, neste contexto, é atuar em toda a cadeia social criativo-produtiva de moda, propondo produtos e serviços desenvolvidos e produzidos, principalmente, pelas indústrias têxtil e de confecção (vestuário, cama, mesa e banho, decoração), calçados e bolsas, joias e bijuterias e até mesmo pela indústria de cosméticos e beleza (maquiagens e esmaltes), disseminando e democratizando as informações de moda (GUSTAVSEN; YATES, 2013).

Gustavsen e Yates (2013) dividem a indústria da moda em três grandes áreas, onde o Designer pode atuar: criação, comercialização e comunicação. No que diz respeito a área de criação, o profissional deve propor novos produtos, agrupados em formato de coleção e idealizados de acordo um tema, para serem ofertados a um público específico.

O artesanato, categoria em que o bordado se encontra, é um legado que foi transmitido ao longo dos anos e através das gerações. No entanto, essa prática artesanal do bordado tradicional local brasileiro vem sendo desvalorizada, especialmente pelos mais jovens, em detrimento aos elementos artesanais de outras regiões do mundo. Michetti (2012, p. 345) fala que “O “bordado da bisavó” não pode ser apenas retomado enquanto folclore. Mais uma vez, o elemento popular que fundamenta o discurso da tradição, valorizada nesse mercado, deve sistematizado, apurado, acrescido de conteúdo de moda”. O artesanato é uma prática de grande valor artístico e cultural, e a sua valorização é uma medida contra a extinção dessa atividade que possui valores simbólicos e de identidade cultural. Nesse contexto, a moda pode ser inserida através de elementos de diferenciação gerando uma demanda crescente por produtos artesanais (SILVA, 2009).

Segundo Almeida (2017), o pensamento em caráter social é fundamental na aproximação do design com as comunidades artesanais. O design pode atuar como ferramenta para potencializar o trabalho dos artesãos. De acordo com França (2005), o artesanato voltou a ser valorizado no Brasil com o apoio de diversos projetos, ONGs e designers. Promovendo o resgate por meio do enaltecimento das nossas tradições culturais e abrindo caminhos para a recuperação da nossa capacidade de criação.

2.1 O PAPEL DO NÚCLEO DE EXTENSÃO E PRÁTICA PROFISSIONAL PARA A COMUNIDADE DE CAICÓ E REGIÃO

O Núcleo de Extensão e Prática Profissional (NEPP Nuance) do Curso Superior de Tecnologia em Design de Moda do IFRN campus Caicó tem como um dos seus objetivos propagar os conhecimentos adquiridos ao longo do curso com o intuito de desenvolver as habilidades profissionais dos alunos. Ele também busca proporcionar o retorno do conhecimento acadêmico ofertado pelo IFRN à sociedade, através do convívio do grupo de alunos e docentes com a comunidade externa, da oferta deformação complementar, da inclusão social e da valorização das vocações locais (MENDES; MEIRELES, 2020).

Em artigos anteriores, publicado por Mendes e Meireles (2020), expôs-se as ações voltadas para os anos de 2017, 2018 e 2019. No primeiro ano, pôde-se observar ações direcionadas a pesquisa de tendências e mercado, instruindo os varejistas locais sobre a utilização da informação de Moda para construção de produtos mercadologicamente mais efetivos. De acordo com Mendes e Meireles (2020, p. 173), “identificou-se 6 (seis) macrotendências globais de consumo e comportamento com traços de desdobramento na realidade local. O material desenvolvido foi apresentado e disponibilizado aos lojistas através de um seminário”. Embora tenha sido concluído com êxito, os coordenadores do projeto entenderam, por análise de alcance, o impacto social do projeto como ainda relativamente pequeno.

Nos anos seguintes, em 2018 e 2019, as ações do projeto foram modificadas, desta vez abrangendo as mulheres em situação de vulnerabilidade social que viviam, especialmente, no entorno da instituição de ensino. Pensando nisso, desenvolveu-se um projeto orientado para a oferta de cursos de formação complementar e continuada na área de costura, de modo a esses indivíduos aprenderem um novo ofício, perpassando sua situação socioeconômica (Figura 1).

Figura 1
Projeto NEPP 2019 – Oficinas de costura para mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica
Acervo NEPP (2019)

De acordo com Mendes e Meireles (2020, p. 175), a “experiência foi bastante exitosa, pois estimulou o convívio entre alunos de diversos níveis de conhecimento, a troca de experiência e saberes empíricos e populares e o trabalho em equipe, habilidade indispensável para profissionais da indústria criativa”. Aliado a isso, desenvolveu-se ainda uma coleção de moda, contando com os alunos do curso CST em Design de Moda para elaboração do processo criativo e produtivo. Pensando nessa continuidade de discussão, este artigo apresenta os relatos do NEPP nos anos posteriores, tendo em vista a modificação para um novo nicho.

2.2 O BORDADO E A SUA INFLUÊNCIA EM CAICÓ (RIO GRANDE DO NORTE)

Tendo em mente o papel do bordado para este trabalho, em específico ele como um veículo de ensino e profissionalização de mulheres em situação de vulnerabilidade social, observou-se a necessidade de conduzir um resgate histórico do seu desenvolvimento, até chegar na região Seridó do estado do Rio Grande do Norte.

Segundo SEBRAE (2013), o bordado é uma forma de criar desenhos ornamentais à mão ou à máquina em um tecido, utilizando-se de ferramentas, como agulhas e fios têxteis, de maneira que os fios utilizados formem o desenho desejado. O bordado, além de ter papel ornamental na peça, servia para distinguir os trajes com monogramas das iniciais dos nomes próprios ou palavras e símbolos referentes à atividade profissional, assim como desenhos ornamentais (BRAGA; PRADO, 2011). Dessa forma, identificando a família a qual o indivíduo pertencia. Tendo isso em mente, pode-se observar que o bordado agrega valor aos produtos de vestuário, trazendo elementos culturais, criando uma peça com significado que pode refletir a personalidade de quem usa.

A inserção do bordado na moda se dá pela necessidade de desenvolver produtos com valor agregado, podendo citar uma produção sustentável e a configuração de peças exclusivas. Segundo Almeida (2013), a moda brasileira articula no campo simbólico dos seus artefatos traços comuns e reconhecíveis no país e mobiliza esses elementos como portadores de uma identidade regional. Leitão (2007) observa que designers de moda que trabalham com o artesanato buscam “procurar raízes”, “valorizar a cultura popular”, “positivar nossa natureza” e fazer uso do que há de mais “autenticamente brasileiro”.

Pensando na evolução do núcleo para uma nova tipologia artesanal, chegou-se ao ensino de bordado. Historicamente, o bordado é uma tradição familiar, segundo Braga e Prado (2011), era essencial que toda mulher possuísse conhecimentos das técnicas de costura e bordado. Esses ensinamentos eram passados dentro do ambiente familiar como uma forma de recreação em grupos de costura, mães passavam os conhecimentos para as filhas, fazendo surgir a necessidade de se reproduzir produtos de utilidade doméstica e expressar a capacidade criativa e produtiva como forma de trabalho.

Segundo relatos, a prática do exercício do bordado teria chegado à região do Seridó, principalmente na cidade de Caicó, por meio das esposas dos colonizadores portugueses que foram ali se fixando no final do século XVIII e no início do século XIX (BATISTA, 1988). O bordado foi trazido, segundo as fontes históricas, da Ilha da Madeira, em Portugal. Daí em diante, o bordado foi sendo desenvolvido e transmitido para outras mulheres na cidade (ARAÚJO, 2013, p. 28).

A prática foi difundida, inicialmente, entre as mulheres das camadas sociais que possuíam um poder aquisitivo maior, visto que a matéria-prima era de difícil acesso, tanto com relação ao local de venda quanto ao seu preço, devido a ser considerada “cara” e nem todas as pessoas podiam comprar os tecidos e as linhas apropriadas. Inicialmente, as linhas eram trazidas da Ilhada Madeira, com certo tempo, esse material já podia ser adquirido na cidade de Recife, em Pernambuco. Posteriormente, com a procura por linha de qualidade para dar um bom efeito nos bordados, iniciou-se a comercialização da linha na cidade de Caicó (ARAÚJO, 2013, p. 28).

O que o bordado traz de herança para a região Seridoense são histórias carregadas de força, que foram acolhidas pela população, e que despertam o interesse daqueles que querem aprender as técnicas, sendo assim, o bordado ganhou força na região, sendo presente até hoje. Este atual projeto trouxe a proposta das oficinas de bordado visando valorizar ainda mais essa arte milenar e passá-la para mais pessoas, ensinando as técnicas de bordado ao público geral, sendo difundido e ministrado por bordadeiras caicoenses.

3 METODOLOGIA DO PROJETO DE EXTENSÃO

De acordo com a sua natureza, o projeto tem a classificação do tipo aplicado, e a abordagem qualitativa (GIL, 2008). Pode-se classificar este trabalho de extensão como uma dimensão da pesquisa-ação, pois existe uma interação social entre o investigador, o objeto de estudo e o participante do objeto que está sendo estudado, ou trabalhado, contribuindo para essa realização do exercício.

Para alcançar os objetivos do projeto NEPP 2021/2022 foi idealizada uma sequência de etapas como uma forma de comunicar aos participantes a respeito das atividades que foram sugeridas. Inicialmente, foram escolhidos os participantes para fazer parte da equipe da execução dos cursos, compostos pelos alunos do curso Superior de Tecnologia em Design de Moda do IFRN, campus Caicó e das bordadeiras seridoenses. Em seguida, mulheres em situação de vulnerabilidade social foram convidadas para participar como alunas nas oficinas de bordados.

Após isso, foram coletados dados materiais e imateriais no dia a dia local, por meio de pesquisa de campo, avaliações das vocações locais e o incentivo nas dinâmicas que serviram para inspirar o desenvolvimento do material didático e das práticas do curso. Foi a partir das pesquisas que selecionaram e discutiram qual seria os temas pertinentes no qual seriam ministrados.

Para desenvolvimento dos cursos, partiu-se de um princípio de elaboração das ementas e das apostilas. Sendo assim, para o planejamento das aulas, idealizou-se atividades práticas de bordado. A execução das oficinas que compõem o curso durante os 4 dias e a confecção de produtos de moda (organizados em uma coleção pelos discentes do CST em Design de Moda), que correspondam a valores estéticos globais contemporâneos e que ao mesmo tempo atendam ao interesse do público local.

4 OFERTA DE CURSO NA ÁREA DE BORDADO PARA FORMAÇÃO COMPLEMENTAR E INCLUSÃO SOCIAL

Para o NEPP de 2021/2022 optou-se por propor uma nova gama de ações para a comunidade. Com o desenrolar da ênfase em costura no curso ofertado, notou-se a queda pelo núcleo na repetição de conteúdo, não havendo mais interesse da sociedade por esse curso. Por isso, decidiu-se por, ao invés de ofertar cursos de costura, voltar-se para uma tipologia artesanal significativa para a região, o bordado. No entanto, não havendo expertise nem na coordenação do projeto, nem entre os discentes, recorreu-se as bordadeiras da região. Tal necessidade se mostrou como uma possível estratégia para chegar até essa comunidade por vezes distante da realidade institucional e, de tal maneira, mostrar o trabalho feito pelo Núcleo de Extensão e Prática Profissional para Caicó e Região, ressaltando sua importância. Duas bordadeiras da cidade apresentaram interesse, tornando-se ministrantes das oficinas, acompanhadas pelos discentes voluntários no projeto.

Para seguir uma didática que fosse de fácil compreensão e por se ter um tempo limitado a 4 oficinas de 4 horas cada (Quadro 1), resolveu-se que o primeiro dia seria para fazer uma introdução geral ao tema e ensinar os primeiros pontos do bordado aos alunos inscritos (Figura 2 – A), que foram eles: ponto corrente, ponto atrás, ponto cheio e ainda foi iniciado a técnica do ponto rococó, com demonstração por parte das ministrantes convidadas.

No primeiro encontro entre a turma de alunos das oficinas e as professoras convidadas, houve um breve momento de apresentação conduzido pelos voluntários do projeto NEPP. Logo após as apresentações e boas-vindas, as ministrantes começaram a introduzir o conteúdo do curso (Figura 2 – B).

Figura 2
Primeiro dia de oficina de bordado – NEPP 2021/2022
Acervo NEPP (2022)

As ministrantes, junto com os alunos tutores voluntários do NEPP, optaram por iniciar a aula de “Introdução ao bordado” pela apresentação de alguns resultados, ou seja, mostrando diversos bordados já feitos, criados anteriormente pelas próprias ministrantes, de modo que despertasse o olhar dos alunos à dimensão estética de tal tipologia artesanal, à beleza do bordado já pronto. Essa estratégia foi empregada como forma de auxiliá-los a entender que, para chegar aquele resultado, seria necessário passar por algumas etapas, que são elas: o risco e os pontos.

Ao final do primeiro dia, alguns alunos já tinham conseguido desenvolver alguns pontos de bordados e todos se mostraram animados, afirmando interesse em participar do grupo on-line do WhatsApp, que foi criado com o propósito de comunicação, troca de experiências, compartilhamento de vídeos aula e o processo de criação de cada um deles. Ressalta-se que a ferramenta de comunicação supramencionada se mostrou como um importante diferencial para acompanhar o processo de desenvolvimento da prática de bordado dos alunos das oficinas, de modo que, mesmo quando não estavam em sala de aula, elas costumavam compartilhar fotografias de quando estavam estudando alguns pontos (Figura 3 – A).

Na segunda oficina abordou-se a técnica da folha. Nela foi utilizado o ponto rococó, um ponto considerado “complicado” por algumas bordadeiras, em especial as que foram convidadas para serem ministrantes, o que despertou uma série de dúvidas por parte das alunas participantes da oficina. Para elucidar a técnica, a professora decidiu fazer a demonstração do ponto por grupos pequenos, para que assim eles pudessem ver a técnica bem de perto. Em seguida cada aluno tentou reproduzir, o que facilitou o entendimento dos estudantes. Neste dia, foi desenvolvido um desenho padrão para os membros das oficinas treinarem a técnica de rococó (Figura 3 – B).

A terceira oficina foi ministrada apenas por uma das bordadeiras convidadas, onde a tutora levou um desenho base maior, para que os alunos pudessem treinar em um risco mais detalhado. O objetivo dessa prática foi que os alunos utilizassem, em um mesmo desenho, todos os pontos apresentados desde a primeira aula. Por requerer um tempo maior de prática, neste dia não se conseguiu concluir o exercício, ficando acertado dos alunos treinarem em casa e concluir o desenho na aula subsequente (Figura 3 – C).

Na quarta oficina, desenvolveu-se a continuidade com o risco que as alunas tinham iniciado no encontro anterior. Para completar o desenho proposto, elas passaram as 4 horas de oficina bordando, e mesmo assim não foi possível finalizar a atividade dentro do horário limite previsto anteriormente. Por esse motivo, as alunas levaram os materiais para casa para poderem concluir toda a arte. Entendemos que esse processo de ganhar intimidade com a técnica e ir fazendo “ao seu tempo” é muito importante e é o que irá garantir que as aulas adquiram confiança e não desistam de aprender e desenvolver essa habilidade (Figura 3 – D).

Figura 3
Oficinas de Bordado para inclusão social – NEPP 2021/2022
Acervo NEPP (2022)

Para a conclusão das aulas das oficinas, a equipe do projeto, de voluntários a coordenadores, convidou as bordadeiras que participaram do projeto para contribuírem no desenvolvimento de uma coleção de moda, aplicando o que foi aprendido nas oficinas ao bordar as peças da coleção “Trama Seridoense: Caicó de Encantos Mil” que foi desenvolvida pelos discentes do CST em Design de Moda, também vinculados ao projeto do NEPP.

5 PROPOSTA DE COLEÇÃO DE MODA PARA VALORIZAÇÃO DOS SABERES LOCAIS E DIVULGAÇÃO DO TRABALHO DAS OFICINAS

Em paralelo com as oficinas de bordado, o NEPP conduzia um segundo projeto, voltado para o desenvolvimento da prática profissional dos discentes do CST em Design de Moda, orientado ao planejamento, desenvolvimento e execução de uma coleção de vestuário (Figura 4). De tal maneira, tinha-se como princípio a aplicação da tipologia artesanal do bordado na configuração estética da coleção, de modo a servir como uma forma de divulgação para a sociedade do trabalho dos dois públicos do projeto: discentes do próprio CST e mulheres em situação de vulnerabilidade econômica, que participaram das oficinas de bordado. Após a conclusão das oficinas, os alunos interessados em apresentar seus trabalhos de bordado à sociedade, dedicaram-se a bordar as peças criadas pelos alunos do CST.

A criação do tema, desenhos e modelagens da coleção de moda, tiveram como inspiração um monólogo de Francisco Maguila, um artista da região Seridó do estado do Rio Grande do Norte – localização geográfica do município de Caicó. A obra escolhida chama-se “Filho de Joana e Pedro”, que foi composta com base na vivência de Francisco com seus pais. Assim como as peças, os bordados que complementam a imagem de moda da coleção também foram inspirados em obras literárias de personalidades seridoenses. Para tanto foram escolhidos os artistas seguintes: Djalma Mota, Dodora Medeiros, Patrícia Gurgel e Edcarlos Medeiros. A finalidade era de valorizar a cultura local e reconhecer o trabalho grandioso que esse poetas fazem e representam para a região (Figura 5)

Figura 4
Reunião de planejamento da coleção de vestuário, modelagem e costura das peças pelos discentes do CST em Design de Moda – NEPP 2021/2022
Acervo NEPP (2022)

Figura 5
Coleção final e bordada – NEPP 2021/2022
Acervo NEPP (2022)

O presente projeto desenvolveu um evento para apresentação da coleção, que ganhou o título de “Trama Seridoense: Caicó de Eventos Mil”. Ele contou com a participação das alunas e professoras das oficinas dos bordados, que protagonizaram os bordados das peças. A abertura da exposição aconteceu às 17h do dia 19 de maio de 2022 (Figura 6), na casa do artesão, estrutura cultural local, e permaneceu disponível para visitação nos dias 20 e 21 de maio do mesmo ano.

Figura 6
Exposição da coleção na Casa do Artesão – NEPP 2021/2022
Acervo NEPP (2022)

De tal maneira, esse evento foi empregado como uma forma de vitrine para os designers e bordadeiras das oficinas, onde se preparou etiquetas para as roupas, com todas as informações de que as criou e bordou, incluindo contatos para possíveis trabalhos. Sendo assim, esta foi a estratégia pensada para que a informação sobre os atores envolvidos na criação chegasse as demais pessoas da sociedade.

Assim sendo, o objetivo maior da exposição, além de receber os artistas homenageados na coleção, era que a sociedade caicoense pudesse vir prestigiar esse momento tão importante para a interligação entre sociedade, instituição de ensino, cultura, artesanato e moda.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ambiente institucional serve como uma porta de entrada para o fomento de ações que interligam o fazer acadêmico, em especial da prática profissional dos alunos de graduação, com atividades que contribuem diretamente para a solução de problemáticas sociais. Nesse sentido, este artigo teve como objetivo expor e discutir sobre as ações conduzidas pelo NEPP durantes os anos de 2021 e 2022, focando no caso de mulheres em situação de vulnerabilidade social.

De tal forma, conduziu-se o projeto dentro de duas dimensões: a proposição de oficinas de bordado como estratégia para um novo saber-fazer e o desenvolvimento de uma coleção de moda para divulgação do trabalho local. Por relatos ouvidos durante o desenvolvimento, observou-se que o projeto proporcionou momentos construtivos, aulas produtivas, cercadas por uma constante troca de conhecimentos, um espaço colaborativo, tanto por parte das professoras convidadas, como dos alunos participantes inscritos nas oficinas. Assim como os pontos de um bordado, o projeto entrelaçou histórias de bordadeiras, mulheres em situação de vulnerabilidade social e estudantes de moda.

Assim sendo, o conhecimento adquirido em todo o processo criativo da coleção nos últimos meses, aliado a pesquisa realizada aqui abordada, demonstraram que as tendências podem surgir de diversas fontes, dentre elas, a cultura popular. Pois, entende-se que ela é o grande palco onde a moda atua, apoderando-se dos saberes e fazeres locais, os ressignificando e recriando¹.

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Notas

Autor notes

Informação adicional

Financiamento: Projeto financiado pela Pró-Reitoria de Extensão do IFRN – Campus Caicó.