Editorial

Estimadas(os) leitoras(es),

O ano de 2019 ficou marcado por desastres de várias ordens. Um dos mais notáveis aconteceu em Minas Gerais, numa área tomada por rejeitos de mineração da Vale. Trata-se do rompimento da barragem de Brumadinho, em 25 de janeiro de tal ano, que trouxe, com efeito, impactos sociais, ambientais e humanitários sem precedentes. A lama que cobriu e varreu a cidade foi responsável por centenas de mortes. Até o presente momento, infelizmente, há corpos desaparecidos.

É neste momento delicado de pós-tragédia que a revista Argumentos anuncia a publicação de sua primeira edição de 2020. Para não se esquivar deste e de tantos outros dilemas recentes que vêm assolando o país ? como o avanço desenfreado de mineradoras e de danosas práticas extrativistas sem as devidas regulamentações, aliadas ainda à ojeriza de certas governanças em relação às políticas socioambientais ?, o volume 17 traz o dossiê ?Conflitos ambientais?, organizado pelo Prof. Dr. Rômulo Barbosa (Unimontes-MG) e pela Profa. Dra. Lorena Fleury (UFRGS). O dossiê é fruto de articulações que se deram a partir de um grupo de trabalho coordenado por ambos no âmbito do 19º Congresso Brasileiro de Sociologia, realizado em 2019 na Universidade Federal de Santa Catarina.

A temática ?Conflito ambientais? se expressa desde a capa da Argumentos, onde é possível constatar alguns dos infortúnios provocados pela Usina de Belo Monte, no norte do Brasil. O dossiê aglutina cinco artigos com problematizações acerca de conflitos ambientais em diferentes contextos. Luciano Félix Florit e Ana Lúcia Bittencourt analisam os conflitos em torno d?água em Santa Catarina através de uma reflexão sob a perspectiva ética socioambiental. Fernando Rios de Souza e Herbert Toledo Martins discutem as particularidades da governança dos comuns e conflitos na gestão da bacia do Rio Itanhém, no extremo sul da Bahia. Já Queite Marrone Soares da Silva e Rumi Regina Kubo detalham os posicionamentos que permearam o 7º Encontro da Articulação dos Vazanteiros em Movimento. Maria Suellen Timoteo Correa, por sua vez, coloca em tela as dinâmicas territoriais e saber local em torno de conflitos em um bairro atingido pelo desastre de 2011 em Nova Friburgo (RJ). Por fim, mas não menos importante, Ana Carina Sabadin fecha o dossiê com uma abordagem sobre a construção social do problema ambiental das queimadas nos canaviais paulistas.

A revista Argumentos, como de praxe, também acolhe artigos que dialogam com temáticas condizentes às Ciências Sociais. O primeiro deles, intitulado ?Estado e meio ambiente: como concretizar um Estado de Direito Ambiental??, é de autoria de Chaiane Ferrazza Gomes, Lisianne Sabedra Ceolin e Ronaldo Bernardino Colvero. O texto objetiva compreender o conceito de Estado de Direito Ambiental e, através de uma discussão teórica-conceitual, vislumbra apresentar alternativas para viabilizar a sua concretização. O artigo seguinte, qual seja, ?Política econômica no Pachamamismo do Buen Vivir: um estudo teórico?, de Isaías Albertin de Moraes e Leandro Pereira Morais, traz a seguinte questão: há uma proposta de política econômica própria do Pachamamismo(denominação dada a corrente Indigenista-Pachamamista presente nos preceitos teóricos do Buen Vivir)? Os autores, para enfrentá-la, reivindicam uma abordagem sistemática por meio da avaliação crítica dos dados bibliográficos e documentais sobre a temática.

O terceiro artigo publicado é de autoria de Alessandro Luís Lopes de Lima. Nomeado de ?Vestígios de um quilombo paulistano: uma análise da paisagem arqueológica do bairro do Bixiga?, a produção evidencia uma análise da cartografia-histórica da cidade de São Paulo, e, para tanto, procura resgatar as permanências materiais na baixada da Saracura e a relação dessa antiga comunidade com a paisagem ao redor. O quarto e último artigo desta edição, ?Organização e dinâmica da mobilização e participação política: os grêmios estudantis das escolas públicas e privadas de Santa Maria ? RS?, de José Galdino Barreto Soares e José Carlos Martines Belieiro Junior, almeja compreender a atuação dessas entidades, a saber, os grêmios estudantis, a fim de constatar se conseguem mobilizar os estudantes não membros das direções a participarem das tomadas de decisão.

Já na seção Resenhas, a qual fecha a presente edição, temos algumas problematizações pertinentes em torno da obra ?Mineiros e Baianeiros: a configuração do englobamento, da exclusão e do entre-lugar em Minas Gerais?, de autoria de João Batista Almeida Costa, publicada em 2017 pela Editora Unimontes-MG. Lays Matias Mazoti Corrêa, responsável pela resenha, traz reflexões sobre o(s) entre-lugar(es) de dor, potência e de produção de pensamento nômade.

Boa leitura!

Gustavo Dias,

Giancarlo Machado,

e Comissão Editorial