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Reseña bibliográfica: Diálogos Ibero-Latino-Americanos sobre Geografias Feministas e das Sexualidades
Heder Leandro Rocha
Heder Leandro Rocha
Reseña bibliográfica: Diálogos Ibero-Latino-Americanos sobre Geografias Feministas e das Sexualidades
Estudios Socioterritoriales, núm. 24, 2018
Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires
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Reseña bibliográfica

Reseña bibliográfica: Diálogos Ibero-Latino-Americanos sobre Geografias Feministas e das Sexualidades

Heder Leandro Rocha
CIG-IGEHCS UNCPBA CONICET, Argentina
Estudios Socioterritoriales, núm. 24, 2018
Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires
Silva Joseli Maria, Ornat Marcio Jose, Chimin Junior Alides Baptista. Diálogos Ibero-Latino-Americanos sobre Geografias Feministas e das Sexualidades. 2017. Ponta Grossa. TODAPALAVRA. 1a edpp.

Recepción: 27 Septiembre 2018

Aprobación: 24 Octubre 2018

Diálogos Ibero-Latino-Americanos sobre Geografias Feministas e das Sexualidades é organizado pela pesquisadora Joseli Maria Silva e pelos pesquisadores Marcio Jose Ornat e Alides Baptista Chimin Junior, todos pertencentes ao Grupo de Estudos Territoriais (Gete) da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Compilado desde essa cidade brasileira o livro apresenta quatorze produções textuais que foram realizadas por vinte e seis pesquisadores e pesquisadoras oriundos de Argentina, Brasil, Espanha, México e Portugal. Tais pesquisadores compõem a Rede de Estudos de Geografia, Gênero e Sexualidade Ibero-Americana (REGGSILA) e como expõem o próprio texto, são pessoas que se autodeclaram feministas e ocupam as margens da produção do próprio conhecimento geográfico feminista.

O presente livro posiciona e fortalece o campo das Geografias Feministas, das Sexualidades e dos Gêneros na própria produção do conhecimento geográfico, expondo de um lado, as forças hierárquicas que atuam na produção do conhecimento e por outro, a complexidade de se produzir conhecimento científico descolonizado, a partir da ética feminista e desde o sul do mundo.

O primeiro capítulo é de autoria dos próprios organizadores e faz uma aproximação entre o Pensamento Decolonial e as Geografias Feministas a partir das produções científicas das pessoas que compõem a REGGSILA. Silva, Ornat e Chimin Junior vão além de uma apresentação do conteúdo da obra para propor uma aliança entre o Pensamento Decolonial e as Geografias Feministas no sentido de desafiar as fronteiras do pensamento geográfico. Nesse caminho nos convidam a produzir uma epistemologia feminista decolonial na Geografia, destacando, para isso o papel fundamental de uma postura científico-política que desafie o campo epistemológico e que tenha compromisso de pensar um conhecimento situado e engajado com a diferença colonial. Por fim, o texto “Geografias Feministas e Pensamento Decolonial: a potência de um diálogo” reconhece a dificuldade da tarefa de produzir uma geografia feminista decolonial a partir de lugares não centrais, pelas fissuras do poder da tradição epistemológica e da ordem global editorial, mas também destaca que justamente nesses lugares não centrais, é que reside a criatividade, os desafios, as transgressões e a possibilidade de abrir novos caminhos epistemológicos.

As portuguesas Maria João Silva e Eduarda Ferreira apresentam no segundo texto, a obra intitulada de “Abordagens Corporizadas: Gênero, Sexualidades e Tecnologias”, na qual exploram a ideia de que o espaço é um lugar corporizado. Para isso compartilham a experiência adquirida em diversos projetos de investigação que utilizaram abordagens corporizadas para a compreensão da realidade. O capítulo está dividido em três partes, sendo que na primeira, exploram a relação entre a psicofisiologia das emoções e sua mediação e articulação sócio espacial. Na segunda parte as autoras exploram projetos em que sensores eletrônicos foram utilizados como extensões dos sentidos para pensar as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) como mediadoras epistêmicas da aprendizagem corporizada no espaço escolar, uma vez que o corpo se torna um lugar de compreensão e agência. Por fim, a terceira parte problematiza a produção de identidades sexuais e performances de gênero no espaço escolar, sustentando que o exercício de reflexão sobre as abordagens corporizadas aos temas de sexo, sexualidade e gênero, no sentido de superar desigualdades, discriminações e agressões é, também, um exercício que implica queerizar, ou seja, pensar sobre a heteronormatividade e o binarismo de sexo/gênero, suas diferenças e transgressões.

O terceiro texto é escrito por Maria Rodó-de-Zárate e Mireia Baylina Ferré e leva o título de “Heteronormatividad y Poder Adulto: Visibilizando restricciones de acesso a la ciudad desde uma perspectiva interseccional.” No texto as autoras expõem como a construção hétero normativa do espaço público afeta as experiências da juventude. O texto é fruto de uma investigação desenvolvida na cidade de Manresa, Espanha, durante os anos de 2010 a 2014, sobre as restrições de acesso ao espaço público que a juventude experimentada em tal cidade, onde que uma das questões centrais foi analisar se existiam diferenças a partir da categoria gênero, em relação ao acesso. Os resultados da investigação evidenciavam que em geral a juventude não sofria impedimentos em relação a acessar o espaço público por conta de sua idade, contudo alguns grupos como gays e lésbicas apontavam para importantes constrangimentos, para uma vivencia do espaço público complexa e muitas vezes dolorosa. Assim, a partir de um estudo de caso, o texto de Rodó-de-Zárate e Ferré compara as experiências de jovens lésbicas e gays com as de jovens heterossexuais para destacar a diferença de acesso ao espaço público a partir da sexualidade, mas realiza tal analise a partir uma perspectiva interseccional, que relaciona sexualidade com outras categorias como género, etnia, classe e idade.

O capítulo seguinte é de Ana Carolina Santos Barbosa e é fruto de sua trajetória de pesquisa na graduação e mestrado, onde conviveu com travestis e pode perceber como a escola surgia em suas falas como uma experiência negativa. Assim, o texto “As trans-formações dos corpos travestis e o espaço escolar: uma leitura que não cabe no masculino e feminino” entende o corpo travesti como desafio ao espaço escolar disciplinador, uma vez que a presença das travestis no espaço escolar demonstra por si um tensionamento entre a heteronormatividade e corpos que não se encaixam nessa ordem estabelecida. Para compreender essa problemática Barbosa entrevistou nove pessoas que estudam em escolas públicas do Rio de Janeiro e que se identificaram como travestis.

Benhur Pinós da Costa é quem escreve o quinto capítulo cujo título é “A produção de representações para o regramento das (homo) sexualidades inerentes ao reconhecimento dos processos de marginalização social”. A reflexão proposta por Costa constrói um cenário de ações históricas hegemônicas e contra hegemônicas que atuam sobre os discursos identificando assim, formas de sexualidade. Com este exercício o autor evidencia que todas as construções de representações sobre as sexualidades são formas simbólicas (cortadas de maneira ideológica) que controlam a livre expressão de corpos e desejos. “A ‘puta que pariu’: A desconstrução da dualidade entre sexualidades transgressoras e maternagens na instituição dos espaços de prostituição feminina” é o título do capítulo seguinte escrito por Juliana Przybysz e Joseli Maria Silva. No texto as autoras analisam a problemática da instituição de espacialidades femininas a partir da relação interseccional entre a prostituição e a maternagem, com a cidade de Ponta Grossa, no Brasil, como recorte espacial e a partir da realização de doze entrevistas com mulheres que se identificaram como exercendo trabalho sexual, mães, de baixa renda e pequena escolaridade.

No sétimo capítulo, Anna Ortiz Guitard e Maria Rodó-de-Zárate apresentam o texto intitulado de “Etapa vital, clase social y estratégias de mujeres jóvenes universitarIas frente a la crisis em Cataluña”. Nele, as autoras analisam quais os efeitos das condições econômicas (entendidas de uma maneira mais ampla) no processo de transição de mulheres estudantes de graduação na Universitat Autònoma de Barcelona, Espanha, a partir de dados qualitativos e dando ênfase na vertente afetiva e emocional. Guitard e Rodó-de-Zárate analisam assim as experiências e praticas cotidianas dessas jovens mulheres em várias espacialidades.

No seguinte capítulo, Lorena Francisco de Souza e Alex Ratts apresentam o texto “Escritos e inscrições de Geógrafas Negras” que faz uma reflexão sobre a trajetória e escrita de mulheres negras e geógrafas, que emergiram nos estudos de gênero, nos campos étnico-raciais e da sexualidade. Souza e Ratts exploram a partir da questão racial, a complexidade do saber-se negro em uma academia heteronormativa, branca e eurocentrada, o inerente movimento de resiliência e também o entendimento sobre a negritude como uma experiência no mundo.

O nono capítulo é escrito por Margarida Queirós, Júlia Guerreiro e João Paiva e apresenta uma análise sobre a atuação do Estado português na alteração de paradigmas sociais de desigualdade e de combate aos estereótipos de gênero, enfocando na “Territorialização das políticas públicas de igualdade de gênero em Portugal”.

Diana Lan escreve o capítulo seguinte onde expõe uma investigação sobre “Violencia de Género, Circuitos espaciales y Micromachismos” na Argentina. Seu texto faz um jogo de escalas e espacialidades relacionando diferentes manifestações da violência de gênero sofridas por mulheres argentinas como agressões verbais e intimidações até violência física, sexual e estupros. Problematizando assim, as desigualdades geradas pela própria violência de gênero no âmbito de uma sociedade patriarcal e machista.

María Verónica Ibarra García apresenta o texto “Violencia Política: Una exploración desde la geografía feminista” onde problematiza a violência política sofrida pelas mulheres explorando espaços e escalas em que esta se manifesta no México. Para isso a autora analisa a violência política sofrida por mulheres em diferentes posições: primeiramente as que têm por objetivo ingressar nas esferas de poder formar, em seguida as que estão nessas esferas e posteriormente aquelas que ocupam espaços informais de participação política.

Susana Maria Veleda da Silva e Ana Cristina Fabres são as autoras do décimo segundo capítulo que está intitulado como “O trabalho feminino na indústria naval em Rio Grande (RS): A reprodução do machismo”. As autoras apresentam uma reflexão sobre a complexidade do discurso machista incorporado por trabalhadoras da indústria naval na cidade de Rio Grande, Brasil. Veleda da Silva e Fabres demonstram, a partir da análise discursiva de dez entrevistas, que a mentalidade patriarcal independe do gênero e pode fazer com que mulheres reproduzam o discurso machista.

“Ancestralidade feminina e poder: experiências de mulheres da Amazônia” é o penúltimo texto da obra resenhada e foi escrito por Maria das Graças Silva Nascimento Silva, Ádria Fabíola Pinheiro de Souza, Elenice Duran Silva, Suzanna Dourado da Silva e Tainá Trindade Pinheiro. A partir da experiência de uma expedição científica na Amazônia as autoras expõem a problemática da condição feminina na região: mulheres marcadas pela cor de pele não branca, pelo trabalho infantil, casamentos precoces, maternidades não planejadas, trabalho não remunerado, falta de documentação civil e baixa escolaridade. Por outro lado o texto também aborda as resistências, mais especificamente, as trajetórias de empoderamento de lideranças femininas na região que articulam o saber ancestral com a realidade.

Por fim, o último capítulo é intitulado de “Jornada através da Geografia Crítica: da Geografia Agrária à Geografia de Gênero” e uma conferência de María Dolors García-Ramón em ocasião do recebimento do Premio Internacional Geocrítica, em 2011. No texto de García-Ramon se apresenta a trajetória acadêmica de uma das maiores pesquisadoras de gênero do mundo, cujo entendimento é crucial para compreender a própria história das Geografias Feministas, de Gênero e Sexualidades.

A obra “Diálogos Ibero-Latino-Americanos sobre Geografias Feministas e das Sexualidades” compilada por Joseli Maria Silva, Marcio Jose Ornat e Alides Baptista Chimin Junior se configura como uma leitura obrigatória para todas aquelas pessoas que querem fazer Geografia com enfoque de gênero ou sexualidades, sob a ética feminista, na América Latina. Se descolonizar o pensamento é também descolonizar a língua, para assim, poder descolonizar a nossa própria forma de ser, o presente livro é uma grande contribuição nesse sentido.

Material suplementario
Referencias
Silva, Joseli Maria; Ornat, Marcio Jose; Chimin Junior, Alides Baptista. (Organizadores) (2017). Diálogos Ibero-Latino-Americanos sobre Geografias Feministas e das Sexualidades (1ª ed.). Ponta Grossa: TODAPALAVRA.
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