Mulheres Ribeirinhas e Percepção: mapas mentais e narrativas das mulheres do distrito de Nazaré-RO

Riverside Women and Perception: mental maps and narratives of women in the district of Nazaré-RO

Mujeres Ribereñas y Percepción: mapas mentales y narrativas de mujeres en el distrito de Nazaré-RO

Tainá Trindade Pinheiro [1]
Universidade Federal de Rondônia-UNIR, Brasil
Kelyany de Castro Góes [2]
Universidade Federal de Rondônia-UNIR, Brasil
Maria das Graças Silva Nascimento Silva [3]
Universidade Federal de Rondônia-UNIR, Brasil

Revista Presença Geográfica

Fundação Universidade Federal de Rondônia, Brasil

ISSN-e: 2446-6646

Periodicidade: Frecuencia continua

vol. 08, núm. 01, 2021

rpgeo@unir.br

Recepção: 03 Agosto 2021

Aprovação: 17 Agosto 2021



DOI: https://doi.org/10.36026/rpgeo.v8i1.6519

Resumo: Este artigo traz como discussão principal as relações sociais de gênero e a construção do empoderamento, trajetória e espacialidades das mulheres ribeirinhas da área rural do distrito de Nazaré e regiões de médio e baixo madeira, a partir das suas percepções demonstradas em narrativas e mapas mentais elaborados. Nazaré localiza-se a, aproximadamente, 130 km da cidade de Porto Velho/RO. A pesquisa foi realizada no período da formação da pós-graduação, mestrado em geografia no período de 2015 a 2017. Onde analisamos as novas construções sociais das mulheres ribeirinhas, com enfoque de gênero e empoderamento. Com a metodologia fenomenológica e uso da técnica dos mapas mentais e narrativas, é possível compreender a vivência, a cultura e as espacialidades dessas mulheres. As mulheres ribeirinhas se apresentam em um cenário de características específicas influenciada pela vivência nas margens das águas, com um olhar diferenciado da natureza. É possível afirmar que elas constroem diariamente novas perspectivas e espacialidades. Os resultados foram obtidos em decorrências das etapas metodológicas, no que se refere a trabalho de campo, coleta de narrativas, entrevistas, elaboração dos mapas e análise. Os objetivos da pesquisa visam compreender a realidade das mulheres na área de estudo, com base no entendimento das relações de gênero e da condição feminina, partindo de uma problemática pautada na constante dinâmica das relações e suas novas construções. Assim, foi possível compreender as novas construções sociais que começam a ser vivenciadas pelas mulheres ao passo em que suas iniciativas políticas e organizativas se fortalecem.

Palavras-chave: Gênero,, Empoderamento,, mapas mentais,, narrativas.

Abstract: This article brings as its main discussion the social relations of gender and the construction of empowerment, trajectory and spatialities of riverine women in rural areas of the district of Nazaré and regions of medium and low wood, from their perceptions demonstrated in elaborate narratives and mental maps For them. Nazaré is located approximately 130 km from the city of Porto Velho/RO. The research was carried out during the period of postgraduate training, master's degree in geography. Where we analyze the new social constructions of riverside women, with a focus on gender and empowerment. The phenomenological methodology and the use of the technique of mental maps and narratives, it is possible to understand the experience, culture and spatialities of these women. The riverside women present themselves in a scenario of specific characteristics influenced by their experience on the banks of the water, a different look at nature. It is possible to affirm that they daily build new perspectives and spatialities. The results were obtained as a result of the methodological steps, with regard to fieldwork, collection of narratives, interviews, preparation of maps and analysis. The research aims to understand the reality of women in the study area, based on the understanding of gender relations and the female condition, starting from a problem based on the constant dynamics of relationships and their new constructions. Thus, it was possible to understand the new social constructions that are beginning to be experienced by women while their political and organizational initiatives are strengthened.

Keywords: Gender, empowerment,, mind maps,, narratives.

Resumen: Este artículo trae como discusión principal las relaciones sociales de género y la construcción de empoderamiento, trayectoria y espacialidades de las mujeres ribereñas en zonas rurales del distrito de Nazaré y regiones de madera media y baja, a partir de sus percepciones demostradas en elaboradas narrativas y mapas mentales de las mujeres ribereñas de Nazaret. Nazaré se encuentra aproximadamente a 130 km de la ciudad de Porto Velho / RO. La investigación se llevó a cabo durante el período de formación de posgrado, maestría en geografía de 2015 a 2017. Donde analizamos las nuevas construcciones sociales de las mujeres ribereñas, con enfoque de género y empoderamiento. Con la metodología fenomenológica y el uso de la técnica de mapas mentales y narrativas, es posible comprender la experiencia, cultura y espacialidades de estas mujeres. Las mujeres ribereñas se presentan en un escenario de características específicas influenciadas por su experiencia al borde del agua, con una mirada diferente a la naturaleza. Es posible afirmar que día a día, construyen nuevas perspectivas y espacialidades. Los resultados se obtuvieron como resultado de los pasos metodológicos, en cuanto al trabajo de campo, recolección de narrativas, entrevistas, elaboración de mapas y análisis. La investigación tiene como objetivo comprender la realidad de las mujeres en el área de estudio, a partir de la comprensión de las relaciones de género y la condición femenina, a partir de un problema basado en la dinámica constante de las relaciones y sus nuevas construcciones. Así, fue posible comprender las nuevas construcciones sociales que están comenzando a vivir las mujeres mientras se fortalecen sus iniciativas políticas y organizativas.

Palabras clave: Género,, empoderamiento,, mapas mentales,, narrativas.

INTRODUÇÃO

As mulheres ribeirinhas, dentro de um cenário amazônico possuem especificidades socioculturais de característica única que muito se agrega e influencia seu olhar, sua ligação com a natureza, assim como características adquiridas a partir da sua vivência a margens das Águas, como é o caso das atividades econômicas, como a pesca, habilidades com recursos naturais, na agricultura, atividades pluriativas.

Alguns fatores podemos citar, por exemplo, que a saúde e a educação acabam se distanciando da realidade dessas mulheres, principalmente quanto mais distante da cidade fica a comunidade. Outras especificidades dessas mulheres estão ligadas às características socioculturais, seu cotidiano apresenta um cenário de construções simbólicas como os festejos, as lendas. Assim a mulher Ribeirinha ocupa coletivamente um papel social de replicação cultural de sua identidade cultural.

A construção cultural assim como as relações sociais são dinâmicas e mutáveis, permitindo assim a todo tempo o dinamismo e construção de novas especialidades. A partir desta apreensão do cenário ribeirinho e das mulheres, buscamos compreender a realidade das mulheres no distrito de Nazaré. A pesquisa parte da intenção de entendê-las em suas subjetividades, representações e trajetórias, para compreendermos as suas espacialidades e as novas formas organizativas e de construção do empoderamento. Para isso, sob um olhar fenomenológico, requer abrirmos mão de predefinições e conceitos a respeito de sua realidade para, então, nos aproximarmos da realidade vivenciada por elas.

METODOLOGIA E TÉCNICA

Dentro desse cenário de especificidades, buscamos trazer as representações sociais do cotidiano das mulheres rurais do Distrito de Nazaré, a comunidade está localizada às margens do Rio Madeira, a 100 quilômetros da cidade de Porto Velho. A pesquisa se pautou principalmente a partir do entendimento e análise dos conceitos de gênero, representações sociais e mapas mentais, conceitos estes que dentre outros, norteiam as pesquisas realizadas pelo grupo de Estudos e Pesquisas em Geografia, Mulheres e Relações Sociais de Gênero GEPGÊNERO, o qual as investigadoras fazem parte, onde se expandem as análises dos estudos dentro da geografia e estudos de gênero. O conceito de gênero nos permite compreender os sujeitos além de suas diferenças biológicas, ou seja, não pelas diferenças de sexo, nos permitindo ampliar o conhecimento em relação a construção social dos mesmos. Silva (2009) nos esclarece acerca da hierarquização que passa a ser entendida não mais pelos corpos, mas sim pelo simbolismo construído pela sociedade.

A fenomenologia da percepção (Merleau-Ponty, 1999) nos propiciou um contato direto com os sujeitos, para compreender as sutilezas do seu modo de vida, representações sociais e culturais. Permitiu, ainda, ouvir as mulheres, e a partir das percepções, compreendê-las por uma visão fenomenológica, assim como compreender a mulher e sua condição, na dinamização da temporalidade, suas vivências, representações e as novas formas.

Como representações sociais em acordo com Moscovici (1978), é compreendida por entidades quase tangíveis. Elas circulam, cruzam-se e cristalizam-se incessantemente, por intermédio de uma fala, um gesto, um encontro em nosso universo cotidiano, constituindo, assim, uma modalidade de conhecimento particular que tem por função a elaboração de comportamentos e a comunicação entre os indivíduos. A Representação Social é produzida na construção do cotidiano de cada indivíduo, e de acordo com a teoria das Representações Sociais, é tentar entender as lutas, batalhas, espaços, formas de comunicação desses indivíduos e o que eles produzem de saberes no e pelo cotidiano organizativo das relações sociais. (MOSCOVICI 1978).

Como forma de compreender o olhar das mulheres ribeirinhas a partir das imagens, fizemos uso da metodologia proposta por Kozel. Os mapas mentais, conforme Kozel (2007), são uma forma de linguagem que representa o espaço vivido, podendo ser construídos por intermédio de imagens, sons, formas, odores, sabores, porém, seu caráter significativo prescinde de uma forma de linguagem para ser comunicado. Sendo assim, os mapas mentais possibilitam as representações das mulheres em relação a sua vivência. Essa metodologia propõe análise dos signos visto como construção social e cultural propondo análise dos conteúdos expressos nos mapas de acordo com os seguintes pontos:

1. Interpretação quanto à forma de representação dos elementos da imagem;

2. Interpretação quanto à distribuição dos elementos na imagem;

3. Interpretação quanto à especificidade dos ícones:

• Representação dos elementos da paisagem natural;

• Representação dos elementos da paisagem construída;

• Representação dos elementos móveis;

• Representação dos elementos humanos.

No quesito que abrange a apresentação de outros aspectos ou particularidades, a metodologia desenvolvida por Kozel propõe o levantamento e a análise de mensagens veiculadas pelos mapas mentais como textos a serem desvendados. Assim sendo, o indivíduo que analisará os mapas mentais determina aspectos que considerar relevantes e atribui significados a eles (KOZEL, 2007).

O conteúdo dos mapas mentais fora analisado sob os quesitos das representações dos elementos naturais (paisagem); análise do tempo e espaço (lugar, presente, passado e futuro); elementos estruturais (casa, instituições, associações); elementos de representação das espacialidades (espaços públicos e privado); elementos de relações sociais (políticas públicas), entre outros, como intenções e afetividade.

A partir dos elementos da análise dos mapas mentais, foram consolidados temas que surgiram a partir do contexto das discussões dessa pesquisa, tais temas são apresentados no início das discussões de cada mapa mental.

● Sonhos MP1

● Conquistas MP1

● Novas Estruturas Familiares MP2

● Mulheres Chefes de Família MP2

● Mulheres Agricultoras MP3

● Divisão De Trabalho MP3

● Atividades Pluriativas MP4

● Velhice MP4

● Empoderamento MP5

● Articulação Política MP5

● Autonomia MP6

● Religião MP6

● Direitos MP7

● Igualdade MP7

Mapa
mental
01
Mapa mental
Moradora A da Comunidade de Calama, Janeiro- 2017.

Temas Analisados no Mapa Mental 01

● Sonhos

● Conquistas

Neste mapa, a mulher ribeirinha, em seu cotidiano, é representada pela convivência em família e comunidade. Ela busca pela oportunidade de melhor qualidade de vida e pela conquista de sonhos por meio da educação. A autora participante da pesquisa se despede de sua comunidade com amor e saudade, trilhando uma nova etapa que é a de ingressar na Universidade Federal de Rondônia, sendo assim, ela retrata o sonho de tantas outras mulheres de alcançar a educação superior e poder agregar valor para a sua comunidade e contribuir para uma sociedade mais igualitária. Muitas jovens na área rural sonham com esse dia, dar continuidade aos estudos, mas infelizmente essa conquista não é alcançada por todas. Muitos são os fatores que ainda impossibilitam o acesso à educação, sendo um deles a falta de oportunidade local, ou seja, a ausência de escolas e professores, o que é muito comum nas áreas rurais, onde na grande maioria existe apenas o ensino fundamental, não oportunizando, pois, a continuidade dos estudos.

Outro fator é o trabalho, a maioria das crianças, ao crescerem e alcançarem uma certa idade, são consideradas pelas famílias capazes de trabalhar, dá início a jornada de trabalho junto com a mãe, nos afazeres da casa e na roça, onde muitas vezes o roçado é distante da casa e da escola. Outro fator bem comum é a gravidez na adolescência. Muitas mulheres se casam muito novas e, em sua maioria, engravidam e dividem o trabalho com a criação dos filhos, ficando o sonho de estudar muito distante.

Mapa mental
02
Mapa mental
Moradora B do Distrito de Nazaré, Janeiro- 2017.

Temas analisados no Mapa Mental 02

● Novas Estruturas Familiares

● Mulheres Chefes de Família

O conjunto de mudanças e transformações no cotidiano das vidas das mulheres rurais se reflete no mapa acima de forma a apresentar uma nova estrutura de relações sociais no que diz respeito ao fator econômico e familiar. O aprimoramento nas relações sociais contribuiu para o surgimento de novas estruturas familiares, exemplo disso é que cada vez mais a visão que se desperta nas mulheres é de serem donas do seu próprio negócio, chefes de família, articuladas economicamente, fora do domínio masculino. A autora retrata em seu mapa mental seu cotidiano, que é tomar conta de uma pousada a qual é gerenciada por ela na comunidade. Dados do último censo do IBGE (2010), revelam que, no campo, o índice chega a 42,4%, das mulheres que contribuem para a renda das famílias do País.

Na comunidade de Nazaré, vemos mulheres se dedicando cada vez mais em várias áreas, como artesanato, buscando aprimoramento de suas habilidades para a independência econômica, seja total ou parcial, muitas recorrem a essas atividades por serem chefes de família e precisarem complementar a renda para sustento de si, bem como dos filhos, e em alguns casos, de seus companheiros, que, por motivos de doença, invalidez, não trabalham. O quadro de mulheres donas de lotes, chefes de família e mães solteiras é cada vez mais comum nas áreas rurais, chamando a atenção das novas políticas públicas.

Mapa
mental
03
Mapa mental
Moradora C da Comunidade de Papagaios, Janeiro- 2017.

Temas analisados no mapa mental 03

● Mulheres Agricultoras

● Divisão De Trabalho

As mulheres trabalham na agricultura, que é a atividade econômica principal na maioria das comunidades do médio e baixo rio madeira há muito tempo, sendo que as principais atividades agrícolas na comunidade de Nazaré são: o cultivo de tubérculos, da melancia e a produção de farinha.

A moradora C nos retrata no seu desenho a melancia como destaque, pois ela e sua família são produtores deste fruto há anos. Ela se autodefine agricultora e não mais como ajudante do marido, assim também como artesã e doceira. Em conjunto com a filha, ela faz produtos derivados da melancia para comercialização.

Nas relações de trabalho, as desigualdades se tornam mais evidentes com a diferenciação do trabalho masculino e feminino nas práticas de produção. A busca da mulher pelo reconhecimento no trabalho ainda é existente, visto que muitas trabalhadoras rurais ainda não são devidamente reconhecidas pelo motivo das atividades desempenhadas por elas serem ainda compreendidas dentre as “atividades não remuneradas”.

Conforme explica Herédia (1978), como essas atividades não têm reflexo na acumulação financeira da família, ou seja, quando não são contabilizadas na renda da família, elas não são consideradas trabalho. Porém esse é um julgamento antigo de herança colonial, que de fato não é a realidade, pois, as atividades desenvolvidas pelas mulheres são trabalho, e muitas vezes agregam no sustento, principalmente nos casos de a mulher ser chefe de família.

Contudo, as mulheres vêm ganhando força na agricultura, nas atividades pluriativas, com a busca de construções de políticas públicas igualitárias, que reconhecem a mulher trabalhadora rural.

Mapa
mental
04
Mapa mental
Moradora D da Comunidade de Nazaré, Janeiro-2017.

Temas analisados no mapa mental 04

● Atividades Pluriativas

● Velhice

As mulheres trabalhadoras rurais, quando chegam na velhice, muitas vezes viúvas, como é o caso da moradora D, já não podem fisicamente trabalhar na roça e em atividades que requerem força demasiada. Muitas recebem benefícios do governo, como auxílio doença, aposentadoria, e aposentadoria por invalidez, há, ainda, mesmo que em minoria, as que recebem aposentadoria por tempo de trabalho, visto que este último requer comprovação, que nem sempre é pouco burocrático.

Muitas idosas continuam a desenvolver atividades pluriativas como: doces, pães, costuras, artesanatos, entre outros. Essas atividades contribuem para uma vida ativa, segundo a autora do mapa mental, já que na velhice suas atribuições são tiradas, por exemplo, a própria organização e domínio da casa, que é passado aos filhos. Assim, outras atividades se tornam principais em seu cotidiano.

Segundo Jahn (2013), um dos impactos para o indivíduo é a perda de seus papéis sociais, aliada ao vazio experimentado por não encontrar novas funções na sociedade, em que, muitas vezes, passam de produtores a apenas consumidores. Para tanto, muitas mulheres da comunidade optam por desenvolver atividades outras no ambiente da casa.

Mapa
mental
05
Mapa mental
Moradora E da Comunidade de Nazaré, Janeiro-2017.

Temas analisados no mapa mental 05

● Empoderamento

● Articulação Política

O mapa acima retrata a força de vontade da mulher ribeirinha nos enfrentamentos e desafios de uma trajetória para o empoderamento. A autora nos mostrou, em forma comparada, a realidade atual: fora do ambiente privado, unidas, articuladas, buscando seus direitos e lutando pela igualdade de gênero. E, no lado direito, o que ela chama de futuro, são mulheres bem empoderadas e reorganizadas, em uma cooperativa, onde se pode entender que essa mulher tem em seus objetivos de vida, esse alcance político.

A autora é participante do movimento de mulheres e acredita em um futuro cada vez mais igualitário e digno para as mulheres rurais. O movimento de mulheres no médio e baixo rio madeira tem crescido e se fortalecido com a busca dos direitos por meio de protesto e reivindicações, esse tem sido o caminho pelo qual as mulheres têm conquistado visibilidade e reconhecimento social, enquanto cidadãs brasileiras.

A autora demonstra, ainda, por meio do mapa, sua insatisfação na atualidade, onde as mulheres encontram vários enfrentamentos políticos para que associações e cooperativas sejam estabelecidas nas comunidades ribeirinhas. Fato que, segundo ela, facilitaria em muito a caminhada das mulheres, se não houvesse tanta burocracia e limitações, as mulheres já teriam ultrapassado muitos obstáculos e se posicionando diante da sociedade muito mais empoderadas. Contudo, sua força de vontade e atitudes vêm lhes possibilitando isso, ainda que seja difícil essa caminhada.

Mapa
mental
06
Mapa mental
Moradora F da Comunidade de Nazaré, Janeiro -2017.

Temas analisados no mapa mental 06

● Autonomia

● Religião

A moradora mostra no seu mapa, os dois ambientes que, segundo ela, são permitidos frequentar: a “casa” e a “igreja”. Espaços revestidos de parâmetros e regras, o que, muitas vezes, agrega valores negativos a respeito do empoderamento das mulheres. Segundo ela, a religião conduz a mulher por um caminho de recato e submissão, limitando em muito os espaços de convivências, de expressões políticas.

Assim, percebe-se que essas organizações que limitam e silenciam as mulheres, contribuem para os enfrentamentos na busca da autonomia. Logo, em muitos casos, as mulheres buscam de forma silenciosa caminhos, principalmente onde a pressão psicológica é constante, no caso de algumas mulheres religiosas ou com dominação extrema por parte do companheiro, sendo necessário caminhar na contramão, no sentido de conquistar sua autonomia.

Mapa mental
07
Mapa mental
Moradora G da Comunidade de Nazaré, Janeiro - 2017

Temas analisados no mapa mental 07

● Direitos

● Igualdade

A autora do desenho nos faz compreender, em primeiro momento, as várias atividades realizadas por ela e pelas mulheres ribeirinhas, atividades como: a pesca, o trabalho na agricultura, na produção da farinha, nas atividades pluriativas, ou seja, a autora aponta para a mulher em todos os espaços de trabalho e lazer.

Contudo, relata, também, a luta pela visibilidade do trabalho da mulher que, ainda muitas vezes, é desvalorizado. Além disso, ela demonstra, ainda, o olhar de sustentabilidade com a natureza, a variedade e beleza dos recursos naturais no espaço ribeirinho e o seu uso sustentável.

Ela se projeta fora do ambiente da casa, em vários lugares, livre em momentos de trabalho, lazer e autonomia. Como já vimos, esse olhar se reflete no coletivo quando consideramos as mulheres em busca de autonomia, oportunidades de trabalho e políticas públicas igualitárias.

Conforme a autora do mapa, esse cenário é como toda mulher deveria ser, livre e feliz. Quando mostra a atividade pesqueira, ela nos revela a necessidade das mulheres em se reconhecerem e serem reconhecidas como pescadoras e agricultoras pelas políticas públicas, o que veio ser possível nos últimos anos com a documentação da trabalhadora rural e carteira de pescadora. O reconhecimento e a valorização como trabalhadoras são para elas uma conquista de sua vida toda, por isso, as mulheres estão cada vez mais se unindo e lutando pelos seus direitos.

As discussões, até agora apresentadas, demonstram as representações das mulheres em contextos diversos, no que tange a novas formas organizativas dentro do espaço rural ribeirinho. Essas mudanças ocorrem de forma processual, uma vez que se faz necessário compreender essas construções. Para tanto, traremos narrativas que compõem o cenário da realidade de vida dessas mulheres no que tange às suas individualidades e trajetória de vida, assim também como as novas organizações sociais construídas por elas.

Mulheres ribeirinhas em narrativas

As mulheres demonstram sua realidade vivenciada no decorrer da sua vida, as especificidades demonstradas por elas, suas falas por vezes, se cruzam em comum na vida de todas, como, por exemplo, a dificuldade de acesso às políticas públicas, desigualdade social e de gênero. O que se reflete em expectativas de vida, tanto pessoal quanto para comunidade em geral.

Alfazema / Comunidade de Nazaré (28 anos, casada e com filhos)

A minha vida sempre foi difícil, pois meu marido parece dos tempos das cavernas, ele me prendeu por 14 anos, sem me deixar estudar nem trabalhar, ele dizia que mulher é só para cuidar de casa e dos filhos... eu chorava muito vendo as outras estudando terminando os estudos, e eu não podia... só que dentro de mim eu sempre sonhei, eu não desanimo, sabe... porque sabia que eu ia conseguir mudar a cabeça, mas não foi fácil. Teve um tempo que a gente precisou ir para a cidade, aí sabe?... Né eu fui e arrumei um trabalho para ajudar na despesa, e mesmo eu ajudando, ele falou que se eu ainda fosse para o trabalho ele ia me largar, e ele foi embora para casa da mãe dele em Nazaré e eu fiquei trabalhando e com as crianças.

Na trajetória de vida das mulheres ribeirinhas muitos são os desafios encontrados, seguindo, essas trajetórias, o fluxo histórico de dominação. Essa dominação ainda se destaca principalmente em comunidades em que a mulher não encontra parceria ou apoio político e social para uma possível equidade de gênero, podemos citar, por exemplo, a questão da violência doméstica, em que mulheres vítimas de tal violência não se sentem seguras, tampouco têm apoio quando decidem denunciar ou enfrentar tal situação, pois, em comunidades como estas, dificilmente existe um posto de atendimento a essas mulheres ou simplesmente um posto policial próximo. Então, ainda que fosse possível uma denúncia, dificilmente seriam postos em prática os seus direitos.

Andiroba/ Comunidade de Nazaré (32 anos, casada e com filhos)

Na minha vida tudo que eu consegui é porque eu sou teimosa mesmo, meu marido nunca aceitou eu sair, estudar, trabalhar, e ser de associação... então, Deus me livre, ele nem quer ouvir essa palavra da minha boca, eu não tenho medo de morrer, eu sou danada mesmo... mas foi difícil, eu comecei estudar várias vezes e desisti porque ele não aceitava... um dia ele falou pra mim não ir pra escola, acho que ele pensava que eu nem ia estudar ia era passear... sei lá... aí eu fui... no outro dia ele cortou a minha farda da escola, eu fiquei triste demais, ele reclamava, me ignorava, me maltratava com palavras, sabe... eu me sentia muito mal, aí fui desanimando e desisti... Mas todo ano me matriculava com esperança de ele aceitar né, aí não aceitava.

Para as mulheres, o enfrentamento à desigualdade de gênero é um desafio diário. Elas se munem de força de vontade para dar início à luta, numa jornada árdua que é a de uma nova perspectiva de vida. As mulheres visam e lutam por autonomia econômica, pessoal e política. Para que isso seja alcançado, essas mulheres se dedicam a se capacitar politicamente, a fim de alcançar melhores condições de vida. O machismo, por exemplo, é algo que elas enfrentam quase que diariamente e pode ser visto em atitudes como o impedimento aos estudos, ou seja, ainda é presente o impedimento dessa mulher em ocupar os espaços públicos, causando um enfrentamento enorme na sua relação conjugal, familiar e social, como podemos perceber nas narrativas.

Alecrim/ Comunidade de Nazaré (25 anos, solteira e com filhos)

Eu estou lutando, né? e as minhas amigas são as que me dão a força, elas falam: “não desiste, não desiste de jeito nenhum” ... agora estou no sétimo ano e pretendo terminar sim, uma dá força pra outra né, porque todas nós passamos por lutas parecidas.

Quando as mulheres decidem trilhar uma nova história, ela modifica não só a sua vida, mas começam, então, a reestruturar as relações estabelecidas no seu grupo social, e isso é visto pelo homem, muitas vezes, como afronta e ameaça, sendo que esse processo, por vezes, pode se tornar violento pela não aceitação das novas construções. A violência, por sua vez, pode ser verbal, física ou psicológica, enquanto a não aceitação, o desprezo e a desvalorização podem ser exemplos de violência subliminar, como veremos na fala abaixo.

Arnica/ Comunidade de Nazaré (31 anos, casada e com filhos)

Eu to ainda lutando, mas eu fiquei até doente com essa situação, porque ele já estava me maltratando demais com desprezo, até quando eu me arrumava, ele dizia que não gostava, aí na escola as pessoas diziam que estava bonita, e eu ficava com depressão né porque eu queria ser amada, mas tudo que eu recebia era desprezo, acordava de madrugada pra fazer comida pra ele porque estudava de manhã, e ele dizia que não estava bom... eu fazia de tudo mas nada estava bom... e eu fui ficando doente, fui até procurar médico, mas disseram que era problema emocional e psicológico, aí me aconselharam ocupar a mente, aí eu fui e decidi fazer logo o que eu queria mesmo, que eu não queria morrer disso não. Aí eu fui levando ele na conversa sabe, fazendo as mobilizações por traz e não desistia. Mas nada é fácil para a mulher, só acontece mesmo quando ela desafia tudo e todos.

Essa realidade é a extensão da trajetória histórica que a mulher vivenciou durante gerações. Como sabemos, as lutas das mulheres feministas representaram as mulheres em geral, uma vez que as mulheres ribeirinhas são parte desse processo e trazem em suas histórias marcas desse contexto.

Dessa forma, também é histórico o enfrentamento em relação aos homens e à sociedade na construção de uma nova trajetória de empoderamento e conquistas das mulheres. Em relação aos homens, esse enfrentamento se dá principalmente devido à partilha do “poder”, ou seja, a perda do domínio. Um exemplo claro dessa perda de domínio sobre a mulher é no que diz respeito à vida econômica. Quando a mulher se dedica a outras atividades econômicas que não estão ligadas ao domínio do marido, este se mostra, na maioria dos casos, insatisfeito, pois o contato da mulher com a comercialização, com o dinheiro e com as decisões também pode ser visto pelo homem como a perda do controle sobre a prole. A fala abaixo exemplifica um pouco desse enfrentamento.

Camomila/Comunidade de Nazaré (27 anos, casada e com filhos)

Ah, ele pensava assim que eu ganhando dinheiro ia sair da dependência dele e ia querer desrespeitar ele e tal, a sei lá eles têm medo parece de a gente ser livre, aqui na comunidade, o problema desse caso é bem comum, principalmente as mulheres que nem sabe ler nem escrever, elas não têm força nem para sair de casa, aí o homem pisa mesmo mana, mais ai no meu caso né? Ele foi vendo que eu não ia desistir, e aos poucos ele foi melhorando, as crianças foram crescendo também, porque isso ajuda muito a mulher também, com as crianças pequenas é mais difícil.

As mulheres seguem em uma trajetória de enfrentamentos que resulta em determinação para lutarem por desconstruir tais desigualdades. Essa desconstrução ocorre, em parte, por meio da criação dos filhos e filhas, que começam desde mais novos a traçarem um perfil mais justo e igualitário em relação aos gêneros. Cada passo em direção a melhores condições de vida é uma vitória na posse de direitos que são delas. Para elas, não se trata de uma questão de disputa, e sim de direito, de igualdade e de oportunidade, tanto que há um entendimento coletivo dentre elas que quanto mais os homens, junto à sociedade, compreendem os direitos e igualdades, menos árdua poderia ser essa luta.

Babosa/Comunidade de Nazaré (36 anos, casada e com filhos)

Eu penso que deveria ter uma palestra para ajudar esses homens muito machistas, para abrir a mente dele. Eu sonho ainda em terminar meu estudo, já estou perto, e aí fazer uma faculdade, e poder ajudar as mulheres daqui né, eu tenho muitos planos, trazer capacitação para as mulheres, cursos, palestra, conversar com as famílias, eu penso mesmo em uma cooperativa de mulheres, todas trabalhando juntas e sendo que uma apoiaria a outra né, para ninguém desistir.

As parcerias estabelecidas com essas mulheres são muito importantes, pois elas veem, através do apoio, uma forma de fortalecer seus ideais, assim como melhores expectativas de avanço e oportunidades de viabilizarem suas necessidades e especificidades enquanto mulheres ribeirinhas. Nesse contexto, as mulheres ribeirinhas de Nazaré, primeiramente, se uniram a fim de desenvolverem estratégias de avançar em suas trajetórias de luta, vendo outras mulheres que se organizaram politicamente garantir seus direitos e oportunidades. A esse respeito, surge o interesse das mulheres de Nazaré em se articularem junto a mulheres de comunidades vizinhas e se empenharem na criação do movimento de mulheres ribeirinhas do médio e baixo madeira. Dessa forma, as mulheres têm cada vez mais se empenhado, pois, para elas, o movimento representa novas expectativas para as mulheres de suas comunidades, como demonstra a fala abaixo.

Cidreira/ Comunidade de Nazaré (65 anos, casada, aposentada)

Eu gosto muito de saber que as mulheres da minha comunidade, podem ter uma vida melhor né? Com seus direitos que vão aprendendo nas reuniões do movimento de mulheres, eu me interesso apesar da minha idade, eu sou costureira e gosto de me aperfeiçoar, com os cursos, gosto de aprender, acho que é importante para a mulher não ficar só em casa né.

Através de planos e estratégias que elas vêm buscando no decorrer da trajetória do movimento, novas oportunidades de avanços. Vemos que mesmo as mulheres mais idosas se posicionam a favor da valorização do movimento no que se refere à visibilidade para as mulheres. Porém, a inserção da mulher nas novas formas organizativas, como foi visto historicamente, requer luta e, dentro desse processo, surgem as divergências e conflitos. A informação é um alvo a ser alcançado em primeira mão, pois abre portas para a intensificação da luta pelos direitos.

Capim-Santo/Comunidade de Papagaios (47 anos, separada)

Ah, meu maior interesse de estar no movimento é aprender os meus direitos, para poder melhorar minha vida, eu sei fazer muitas coisas, e no nosso movimento essas coisas são valorizadas e a gente pode até ganhar um dinheirinho com as vendas.

O movimento de mulheres em sua historicidade trouxe grandes conquistas, como vimos. Sendo assim, a perpetuação deste na concepção das mulheres ribeirinhas lhes possibilita avanços, o que proporciona, junto com parcerias, melhoria na vida dessas mulheres.

Jatobá/Comunidade de Nazaré (45 anos, casada e com filhos)

Tenho interesse em participar, porque as mulheres precisam de informação, a gente aqui estava esquecida, precisa de saber das coisas, precisa de ter uma renda, precisa de sair da dependência do marido.

Para elas, também, essa movimentação causada pela busca de espacialidades propicia uma autovalorização, a partir do maior nível de informação adquirido em reuniões e encontros. As habilidades das falas, das articulações adquirem cada vez mais autonomia e agregam valor social, pois começam a ser integradas a um nível de informação diferenciado do cotidiano. Informações sobre o direito da mulher, políticas públicas, dignidade, entre outros conhecimentos que dão a ela suporte para pautas de luta.

Erva-doce/Comunidade de Nazaré (41 anos, casada e com filhos)

Eu queria participar mais das reuniões né? Mas eu nem sempre tenho permissão para ir... No encontro que teve eu não pude ir... eu tenho vontade de aprender mais coisa né? Eu não sei ler nem escrever, e toda reunião saio de lá com uma nova notícia, informação e isso para mim é muito importante até para poder falar alguma coisa de novo para minhas filhas... a gente é tudo crente aqui, e meu marido e bem rígido, mas as vezes ele não implica de eu ir não... acho também que pensa assim que eu nem vou entender. Mais desde o dia que eu comecei a ir, eu me sinto melhor porque penso na melhoria que pode acontecer para as mulheres daqui.

Os conflitos familiares ao se fazerem parte do movimento, são contínuos. Para muitas, esse desafio pode ser mais intenso quando não contam com o apoio da família ou companheiro. Muitas são as estratégias pensadas por elas para que não desistam do movimento, até porque, os desafios fazem parte de suas vidas, mas a luta agora é para que as conquistas façam também. Esse pensar é constante e, dessa forma, dão seguimento às demandas necessárias. Na fala abaixo, podemos visualizar exemplos de conflitos familiares.

Carqueja/ Comunidade de Nazaré (32 anos, casada e com filhos)

Quando eu fui inventar de entrar no movimento de mulheres aí é que piorou mesmo, meu deus... ele não aceitou, só que eu já tinha decidido e não desisti... aí fui me envolvendo, mas tudo que eu fazia na associação e movimento de mulheres, eu fazia escondido dele, até quando alguém ia conversar comigo a respeito disso eu falava pra não ir lá em casa, porque tudo que ele falava era que não ia dar certo, que ele ia expulsar as mulher de lá de casa, que era tudo perda de tempo que eu não ia conseguir, não ia conseguir nada do que pensava.

É visto que a mulher ribeirinha tem em sua trajetória, lutas e desafios, principalmente na tentativa de romper barreiras políticas e sociais. Nessa nova construção, elas conciliam o trabalho, os estudos e a família com as atividades do movimento. Para elas, o envolvimento e a dedicação são importantes para alcançar os objetivos pautados.

Hortelã/Comunidade de Nazaré (23 anos, casada e com filhos)

Participo sempre que posso como meu filho Vinícius é pequeno ainda às vezes não dá para eu ir, mas é muito importante para nós mulher poder aprender e reivindicar nossos direitos né, e a gente aqui na comunidade tem tanta riqueza, só faltava mesmo parceria e união, tenho fé que no futuro tudo vai melhorar para nós. Graças a Deus eu dou conta, casa, roça, marido, é difícil mesmo essa jornada, mas vale a pena.

O movimento é de uma articulação contínua e de esforços incessantes para que vá adiante. Para os órgãos governamentais, os movimentos sociais são reconhecidos e ganham força diante de parceiros e projetos bem elaborados, que tendem a garantir conquistas de direitos dos grupos organizados. Na sequência de falas abaixo, podemos ver a força que carregam em busca de combater as fragilidades encontradas no meio rural.

É hora da mulher ribeirinha se despertar, a água não levou nossa força não gente, nem nossa dignidade (Dona Andréia, representante da comunidade de Cujubim).

Eu aprendi a falar melhor, entendo meus direitos, já fiz cursos e sei que não estou sozinha (Dona Maria do Rosário, moradora do Distrito de demarcação).

O movimento nos fortalece, pois quando eu vou à cidade reivindicar algo, já falo que sou do movimento e da associação que já tem um respeito maior (Dona Maria, moradora de Cujubim).

O meu marido implica bastante, mas a gente é firme nas palavras e aí ele acaba aceitando (Moradora de cujubim).

Fui maltratada por cinco anos, para mim hoje é uma honra participar desse movimento e ser uma mulher mais feliz e independente (moradora do Distrito de São Carlos).

Muitas mulheres fazem os cursos, porém não conseguem vender, não tem como ir para a cidade, pois não temos um local próprio lá para vender os produtos (Shirlene, coordenadora do movimento).

Se uma mulher precisar de socorro, denunciar uma violência ela morre porque não tem onde denunciar (Rosa, presidente da associação de mulheres no distrito de Demarcação).

As pautas são definidas em grupo e é nesse grupo que elas se apoiam e reivindicam a continuação das lutas de tantas outras mulheres se estendem a essas, uma vez que estas se munem de conhecimento de direitos e possibilidades que travam as suas lutas para construir novas espacialidades.

Analisar as narrativas dessas mulheres nos levou a compreender, em parte, suas expectativas e vivências no que diz respeito a suas histórias de vida. Nas falas, vemos também que as mulheres vêm traçando caminhos permeados pelas lutas em movimentos sociais, onde elas se posicionam frente aos enfrentamentos de forma política e articuladas coletivamente. Vendo isso, buscamos averiguar com mais profundidade os mecanismos desse movimento, assim como as conquistas e avanços que contribuem para a construção do empoderamento.

Considerações finais

As narrativas e mapas mentais, demonstram que os avanços, referente a construção de novas espacialidades na vida das mulheres ribeirinhas surgem primeiramente a partir da compreensão delas em se permitirem outra trajetória diferente da que já fora traçada historicamente.

Como vimos nas narrativas, é evidente que as mulheres perseveram em suas buscas, frente a desafios impostos pelas circunstâncias tanto local quanto social. Diante de tudo, elas vêm desenvolvendo suas habilidades, conquistando força e espaço nas esferas políticas, sociais e econômicas, estabelecendo com o tempo novas possibilidades de vida e o fortalecimento do empoderamento pessoal, bem como coletivos. Tanto os enfrentamentos, quanto a própria construção do empoderamento trazem consigo formas de lutas diferenciadas, sendo assim, é visto que as mulheres percorrem um caminho de persistência e luta. Para tanto, elas se munem de força e ânimo, com o escopo de darem continuidade às suas conquistas e se apoderarem de todas as formas que lhe são de direito.

Percebe-se que elas têm conquistado visibilidade no movimento social, despertando cada vez mais a força que têm, mostram que é o momento de se empoderar, de se unirem para fortalecerem esse novo olhar que elas vivenciam. As mulheres movimentam toda uma estrutura que se redefine progressivamente dentro de suas localidades. A construção do empoderamento contribui para redefinição social, econômica e política dessas mulheres

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Autor notes

[1] Mestre pelo Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Rondônia-UNIR. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Geografia, Mulher e Relações Sociais de Gênero-GEPGÊNERO Endereço eletrônico.
[2] Mestre pelo Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Rondônia-UNIR. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Geografia, Mulher e Relações Sociais de Gênero-GEPGÊNERO.
[3] Profa. Dra. Do Departamento de Geografia e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Rondônia-UNIR. Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Geografia, Mulher e Relações Sociais de Gênero-GEPGÊNERO.
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