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Porto Velho: a cidade do sol e seu multiculturalismo
Maria Vitória Loureiro do Nascimento; Klivy Ferreira dos Reis
Maria Vitória Loureiro do Nascimento; Klivy Ferreira dos Reis
Porto Velho: a cidade do sol e seu multiculturalismo
Porto Velho: a city of the sun and its multiculturalism
Revista Presença Geográfica, vol. 06, núm. Esp.01, 2019
Fundação Universidade Federal de Rondônia
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Resumo: Uma das causas da migração libanesa era que seu território passara por uma fase política crítica de guerrilha.Para alguns migrar ou viajar era a melhor alternativa. A acolhida desse povo em alguns países não foi bem quista. O Brasil seria uma boa escolha, este não impunha barreiras por causa da necessidade de trabalhadores estrangeiros para o campo. Aqui chegaram e fizeram amizades sólidas, por isso que de uma maneira carinhosa chamam-nos de primos. Diferentes dos imigrantes europeus, os libaneses não procuravam trabalhar na terra, mas encontraram nas cidades condições para sua expansão comercial. Porto Velho era território do Guaporé (entre os anos 50 e 60), cidade nova em construção, um lugar que proporcionava novas oportunidades e conquistas, uma fusão apropriada: uma terra em crescimento e um povo em reconstrução. A atividade comercial trouxeuma grande relevância para o aprendizado da língua dos falantes árabes e os da “terra”, pois exigia um contato direto e diário com sujeitos de diferentes grupos sociais, levando à quebra de preconceitos linguísticos e culturais. O que era para ser temporário tornou-se permanente, os que pretendiam “voltar pra casa” providenciaram trazer sua família, fortalecendo mais ainda seus negócios. As mulheres teriam como função preparar suas iguarias saborosas. Alguns dos hábitos alimentares e temperos se solidificaram, sendo consumidos com prazer e ganhando espaço e prestígio na “cidade do sol”. É nesse universo que este objetiva analisar o Multiculturalismo e o Interculturalismo, como fatores que contribuíram para caracterização social de ambas as nacionalidades. O referido trabalho é de cunho bibliográfico, com subsídio teórico de autores como Vera Maria Candau (2008), Néstor Garcia Canclini (2008) e Peter McLaren (1997) que trazem um enfoque: aceitar as ideias multiculturais não é desconhecer as distinções existentes, mas é defender um espaço, uma estratégia, um tempo, uma história e sua identidade. Portanto, tais aspectos são propícios à sociedade inclusiva, democrática e facilitadora na promoção para transformação socioculturais e institucionais. Tais aspectos contribuíram para a permanência da comunidade libanesa no município de Porto Velho, bem como a troca de valores e intercâmbio de tradições e satisfação de necessidades individuais e coletivas.

Palavras-chave:Multiculturalismo, Interculturalismo, Porto Velho.

Abstract: One of the causes for the Lebanese migration was that their territory got past by a critical political phase. For some of them migrate or travel was the best alternative. This people reception in some countries was not very well. Brazil would be a good choice, it did not impose bars because of the need of foreigner labors to the country. They got here and they made strong friendships, for this reason that they kindle call us by cousins. Distinct from the European emigrants, Lebaneses did not look for laboring the land, but they found conditions in the cities to their commercial expansion. Porto Velho was territory of Guaporé (between the 50s and 60s), a new city in construction, a place that provided new opportunities and conquers, an appropriated fusion: a land in increase and a people in rebuilding. The commercial activity brought a big relevance for the Arabian language learning and, because it took a daily and direct contact with the subjects from different social groups, carrying to the cultural and linguistic prejudice breakage. What would be temporary became permanent, those who intended “come back home” provided bring their family, strengthening more their business. Women would have as function, prepare their tasty delicacies. Some of the eating habits and seasoning solidified, being consumed with pleasure and getting space in “the city of the Sun”. It is in this universe that this work aims to analysis the Multiculturalism and the Interculturalism, as factors that contributed to the social characterization of both societies. The present work is bibliographic, with theoretical support in authors as Vera Maria Candau (2008), Nestor Garcia Canclini(2008), Peter McLaren (1997) that bring a focus: accept the multicultural ideas is not unknown the existing distinctions, but it defends a space, an strategy, a time, a history and their identity. Therefore, such aspects are conducive to an inclusive society, democratic and facilitator in the promotion to the sociocultural and institutional transformation. Such aspects contributed to the permanence of the Libanese community in Porto Velho, as well as the exchange of values and traditions and the individual and satisfaction of individual and collective needs.

Keywords: Multiculturalism, Interculturalism, Porto Velho.

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Artigos

Porto Velho: a cidade do sol e seu multiculturalismo

Porto Velho: a city of the sun and its multiculturalism

Universidade Federal de Rondônia, Brasil
Universidade Federal de Rondônia, Brasil
Revista Presença Geográfica, vol. 06, núm. Esp.01, 2019
Fundação Universidade Federal de Rondônia

Recepção: 21 Maio 2019

Aprovação: 28 Agosto 2019

1. INTRODUÇÃO

Falar que a desigualdade é retórica, não é novidade, basta olharmos, as grandes nações para percebermos os contrastes de uma raça dividida, lugares totalmente vulneráveis a guerrilhas internas sob influências externas.

Por consequência de uma colonização perversa, nações, povos, tribos e línguas vivem sob as sequelas de um conhecimento construído, a partir das orientações do etnocentrismo e do neoliberalismo. Nessa perspectiva etnocêntrica, as práticas produzidas no meio social valorizado, no nosso caso, o das classes dominantes, são tidas como cultura, as demais são desvalorizadas e marginalizadas, fortalecendo posturas preconceituosas, estereotipando conceitos e segregando povos conforme seus hábitos e costumes.

Quando pensamos em questões relacionadas à justiça, ajuda humanitária, superação de desigualdades e outros discursos que se direcionem a diferentes grupos culturais, percebemos um campo cada vez mais estreito. A relação entre questões relativas a justiças sociais, redistribuição, superação das desigualdades e democratização de oportunidades e as referidas ao reconhecimento de diferentes grupos culturais se faz cada vez mais estreita. Com isso é perceptível que a importância dos direitos coletivos, geográficos e culturais é de suma importância, embora ainda às margens de grandes potências. A cegueira que a indiferença provoca na humanidade é perversa e devastadora, os processos migratórios não acontecem acidentalmente, possuem causas. É interessante como Zygmunt Bauman (2017, p.15) traz essa abordagem de forma simples e significativa

Perdemos o senso de responsabilidade para com nossos irmãos e irmãs. A cultura do conforto, que nos faz pensar apenas em nós mesmos, nos torna insensíveis aos gritos de outras pessoas, faz-nos viver em bolhas de sabão que, embora adoráveis, carecem de substância; oferecem uma ilusão efêmera e vazia que resulta na indiferença em relação aos outros; na verdade, leva até a globalização da indiferença. Neste mundo globalizado, caímos na indiferença globalizada. Nós nos acostumamos ao sofrimento dos outros. Ele não me afeta. Não me diz respeito. Não é da minha conta!

Contudo, ao nos depararmos com o "forasteiro" à nossa morada, percebemos que ele encontrou um lugar de refúgio. Ao abrirmos as portas, abre-se um caminho para trocas, relações, representações e construção de uma multiculturalidade que rompe e choca-se com paradigmas e leva a desconstruções de visões estereotipadas e significações anátemas.

2. UMA DISCUSSÃO SOBRE O MULTICULTURALISMO

Cada povo, cada tribo, cada grupo social medra algumas características semelhantes nas quais se identificam. Esse aparato de atributos pode ser caracterizado como a cultura historicamente constituída deste povo. Em circunstâncias mais comuns possíveis, podemos bater de frente o confronto entre as manifestações singulares de cada cultura, que estarão em convergência, precisando de tolerância, ajustes e outros referenciais que refinem o relacionamento, de acordo com cada cultural singular.Nossa sociedade é rodeada pelo encontro, o convívio das mais diversas culturas: o multiculturalismo e o interculturalismo elementos norteadores para tal fusão. Nesse sentido, a Multiculturalidade é a existência de muitas culturas num único lugar. Cada cultura tem seus valores, não é errado o que cada sociedade considera ser; sendo assim essas possuem práticas e normas culturais diferentes. Conviver com as diferenças culturais sem considerá-las inferior ou superior uma a outra livra a raça do Imperialismo Cultural, uma vez que esta visão tem como foco determinar identidades comportamentais como padrão a ser seguido. É necessário pensar que o multiculturalismo não nasceu nos eixos universitários, nos ambientes de formação: é o resultado de grupos “marginalizados”, na verdade, discriminados e até mesmo excluídos por uma imposição social “soberana”, distinguir as diferentes concepções inspiram para uma construção. Segundo Candau (2008, p.50):

Vivemos em sociedades multiculturais. Podemos afirmar que as configurações multiculturais dependem de cada contexto histórico, político e sociocultural. O multiculturalismo na sociedade brasileira é diferente daquele das sociedades europeias ou da sociedade Estadunidense.

Nesta abordagem é enfatizada a descrição e a compreensão da construção da formação multicultural de cada contexto. Permutar uma hegemonia cultural por outra não é o objetivo do multiculturalismo, mas a troca e o diálogo entre diversas culturas.

A perspectiva prescritiva do multiculturalismo não é simplesmente como um dado estatístico da realidade, mas como uma maneira de atuar, de intervir, de transformar a dinâmica social: é a riqueza de trabalhar relações culturais numa determinada sociedade e de conceber políticas públicas nessa direção, uma construção que acontece a partir do surgimento de determinados parâmetros. Quando evidencia-se a multiplicidade de culturas e a pluralidade de identidades nas relações de poder, geram a necessidade de se questionar e desafiar as práticas silenciadoras de identidades culturais: questões como racismos, machismos, preconceitos e discriminações, tão importantes para a sociedade que devem ser analisadas significativamente sob uma perspectiva que leve em conta o crescimento dos Estudos Culturais.

Em nossa Nação vem aumentando o interesse pela abordagem cultural e multicultural, na medida em que as orientações e reformulações por que passam a sociedade em todas as esferas: políticas, educacionais, econômicas, considerando o caráter pluriétnico e pluricultural destas.É interessante a ideia de Candau (2008, p.51) em que as culturas estão em contínuo processo de elaboração, não fixam os indivíduos em uma Uniformidade Cultural:

Concebe as culturas em contínuo processo elaboração, de construção e reconstrução. Certamente cada cultura tem suas raízes, mas essas raízes são históricas e dinâmicas. Não fixam as pessoas em determinado padrão cultural.

É de grande relevância pensar que na sociedade em que vivemos os processos híbridos culturais são profundos e causadores dos processos de identidades abertas, em movimentos cíclicos, ou seja, não há cultura pura! Ao longo da história todas as vezes que pretendia-se impelir essa pureza, os resultados foram catastróficos. Dizer que o Brasil é PLURI não é tão atual, começa pela formação de seu povo. Veja, falamos de um país mestiço e híbrido, com a mistura de culturas, raças e etnias que compõem seu cenário. São muitas diferenças e de várias esferas: regionais, culturais, sociais, raciais, religiosas de gênero e tantas outras. Canclini (2008, p. 29), fomenta que a hibridação é “processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas”.

A hibridação cultural é de grande valor para elevar o dinamismo dos diversos grupos socioculturais. O hibridismo tem uma abordagem heterogênea das identidades e retoma o regime de construção da linguagem como um dos marcos centrais da identidade. Nesta perspectiva, o alvo é a diferença. Embora expresso o movimento por valorização das diferenças e pelo renovo social, “os conceitos multiculturais são diversos, começando pela tendência liberal, comprometida com a preservação da ordem, até a perspectiva revolucionária ou crítica” (MCLAREN, 1999), que busca transformar as relações sociais desiguais e a organização de poder da sociedade vigorante. Autores afirmam que nenhuma ideologia racial pode tratar com indiferença os contextos sociais que cooperaram para formação de um determinado grupo.

Nesse sentido, os estudiosos críticos como forçam uma análise complexa da identidade cultural. Eclodir com uma estrutura exigida pelo capitalismo deve ser a precedência para aquele que deseja reverter a exclusão e combater o bom combate pela construção de uma sociedade justa. McLaren (1999) apontou para uma mudança de ordem social vigorante como âmago ao multiculturalismo crítico. Todavia, não banaliza a importância de questionar as relações desiguais de raça, classe social, gênero e etnia, dentre outras, determinadas na sociedade excludente; consequentemente, intrinca as desigualdades e discrepâncias. O conceito multicultural que não se enreda com este propósito se afasta do sentido crítico.

[...] avançar em uma concepção de multiculturalismo crítico diferenciando-o do multiculturalismo conservador ou empresarial, do multiculturalismo humanista liberal e do multiculturalismo liberal de esquerda. Esses são, com certeza, rótulos tipicamente idealizados com o objetivo de servirem apenas como um recurso “heurístico” (MCLAREN, 1999, p. 110).

Esta ideologia fragiliza os pressupostos dominantes e os delega à responsabilidade pela desigualdade e exclusão. Os indivíduos enredados com esta convicção, defendida por McLaren, não podem estar inertes, pelo contrário, devem assumir um posicionamento crítico diante da realidade cruel, indagando as injustiças presentes na sociedade. Destarte, que o multiculturalismo crítico é como instrumento de luta em prol da conversão social, já que culpabiliza a sociedade capitalista e suas formas de domínio: seu alvo é transformar, minimizar as desigualdades tangentes do capitalismo. O alvo dos multiculturalistas “críticos” é um compromisso: reedificar a sociedade. Os movimentos transformadores demandam uma sociedade onde os direitos sejam merecidos por todos e as identidades valorizadas. É necessário que a igualdade de oportunidade seja prioridade, as diferenças não podem definir a posição dos cidadãos. Inclusão! Esta é a palavra decretada nesse movimento.

O termo multiculturalismo remete à multiplicidade, de variedade. Por certo, este verbete diz respeito à pluralidade cultural que compõe a sociedade e evidencia as diferentes características dos cidadãos híbridos. Na verdade, isso se contrapõe a ideologia universalista de cultura, incitando as concepções estereotipadas e anela recognição da identidade. A miscigenação é um elemento de grande valor para o “nascer” de nossa cultura e sociedade, e principalmente para fomentar nossa identidade. Ao mesmo tempo que para muitos revolucionar a ordem social corrente é uma léria, para milhões de indivíduos é uma possibilidade de dias melhores, é o caminho para viver de modo honroso, ligada às condições imparciais de sobrevivência, em que prevaleçam a solidariedade, a coletividade e a pluralidade, sendo as diferenças aceitas, como diferenças e não marcas de subalternidades.

A igualdade de todos os seres humanos, independentemente das origens raciais, da nacionalidade, das opções sexuais, enfim, a igualdade é uma chave para entender toda a luta da modernidade pelos direitos humanos. (CANDAU, 2008, p.46)

A história do povo brasileiro foi tecida desde sua colonização, caracterizou-se pela pluralidade cultural e, também pela ruína de valores, hábitos e costumes não advindos do colonizador. Mesmo que vivessem negros, brancos e índios no mesmo recinto, só uma cultura foi reconhecida de fato e propagada: a do colonizador europeu. A busca por reconhecimento de identidades é obsoleta. Práticas sociais e correntes teóricas que objetivam reconstruir a sociedade, a partir das diferenças, preconizando a transformação da ordem social vigente ganham espaço no território brasileiro. Candau (2008, p. 51) sublinha:

[...] situo-me na terceira perspectiva, que propõe um multiculturalismo aberto e interativo, que acentua a interculturalidade, por considerá-la a mais adequada para a construção de sociedades, democráticas e inclusivas, que articulem políticas de igualdade com políticas de identidade.

O multiculturalismo é envolvido por uma pluralidade de sentidos e significados. Uma das principais características do Brasil é sua diversidade cultural, o processo imigratório teve sua relevância para tal fusão.

3. UMA DISCUSSÃO SOBRE O INTERCULTURALISMO

O interculturalismo crítico rompe com o capitalismo, explicitando as relações sociais desiguais de poder e seus antagonismos. A relação, as inserções, o diálogo, todos esses fatores recíprocos são enriquecedores entre as culturas. A interculturalidade manifesta a vontade de uma convivência harmônica, mesmo utópica, entre a humanidade. Todavia, trata-se de uma vereda com obstáculos: ultrapassagem dos preconceitos, impasses linguísticos e a supremacia histórica de alguns sobre outros. Não deixa de ser um desafio para incluir, exercendo o dever, devendo ser abordado em todos aparelhos ideológicos da sociedade.

A perspectiva intercultural é afirmada por Candau (2008):

Como eixo fundamental promover experiências de interação sistemática com os “outros”: para sermos capazes de relativizar nossa própria maneira de situar-nos diante do mundo e atribuir- lhe sentido, é necessário que experimentemos uma intensa interação com diferentes modos de viver e expressar-se. Não se trata de momentos pontuais, mas da capacidade de desenvolver projetos que suponham uma dinâmica sistemática de diálogo e construção conjunta entre diferentes pessoas e/ou grupos de diversas procedências sociais, étnicas, religiosas, culturais etc.”

Daí a importância de se trabalhar para contrastar os preconceitos, as diferenças, e este é um campo em que oportuniza através do Interculturalismo exercitar essas temáticas e se sobrepor a tais problemáticas. A vivência das diversidades culturais é um grande desafio para a humanidade, desde sua formação. Percebemos a presença forte no comércio, através das trocas, não apenas nesse âmbito, mas em mensagens e até mesmo imigrações mundiais, possibilitando fluxos migratórios, diminuindo os limites fronteiriços.As tecnologias também foram fontes de possibilidades entres as culturas internas e externas, resultados de uma avassaladora globalização. Mas há um perigo em afirmarmos que essa "avassaladora " manifestação seria o único instrumento responsável para homogeneizar o mundo, pelo contrário, no encontro de culturas as diferenças ficam evidentes. Dentro dessa “nova" realidade grupos étnicos são obrigados a conviver com o "outro", o qual vivia em seu território, agora passa a morar no "meu", trazendo sua "vida".

Em solo brasileiro tem sua diversidade cultural reconhecida, mas é importante a apropriação dessa realidade, mesmo que seja problematizando, contudo, buscando superar vivências dominantes, as quais formulam comportamentos de modelos etnocêntricos, nos campos de atuações sociais com comportamentos sutis. Às vezes essas ações são jogadas para debaixo do tapete, devido a políticas públicas serem voltadas para as elites. Entretanto, discursar sobre interculturalismo demonstra ser ummeio intencional para organizar o desenvolvimento das habilidades e competências humanas, mesmo nas diferenças, valorizando as peculiaridades e diversidades, de acordo com cada representação, resultando uma cultura mista, não apenas para um grupo étnico, mas para toda a sociedade.

4. PORTO VELHO: A CIDADE DO SOL E SEU MULTICULTURALISMO

Fugindo das dificuldades econômicas em suas regiões de origem, os sírios e libaneses começaram a migrar para vários países, partindo do povo essa atitude, uma vez que não houve em nenhum momento posicionamento oficial; não foi o governo que os hospedou em casas de imigração e nenhum gerenciador os trouxe para o país de destino. Cada um escolhia onde fazer seu “check in”, pagava suas passagens e começava a trabalhar, tudo por conta própria, seguindo a mascateação.

No Brasil, a entrada foi bem mais fácil em comparação a países como Estados Unidos, já que muitos não haviam conseguido visto, mas em terras brasileiras a entrada aconteceria sem problemas. Em suas bagagens uma boa dose de esperança e perspectiva para dias melhores. Na verdade, a entrada dos “primos” fora classificada como “Turcos”, somente a partir de 1926 entraram com passaporte libanês. O choque cultural foi inevitável, um país com idioma, costumes e geograficamente diferente. Embora existissem essas diferenças, houve abertura para adaptação das famílias para que estas conseguissem conservar suas tradições por gerações. Boa parte dos árabes que chegavam ao Brasil se estabeleceram em São Paulo, onde deram início a uma próspera comunidade de comerciantes, eles foram os precursores da Avenida 25 de março, já que o forte dos primos era o comércio; mas uma pequena parte deles fixou-se no norte do país, nos estados do Pará, Amazonas e o então chamado de Território do Acre, este tinha um baixo fluxo imigratório.

Por volta dos anos 50 a extração de cassiterita estava em alta na Região Norte, Porto Velho, na época ainda território do Guaporé, encantava migrantes e imigrantes com ofertas de empregos. Os ciclos do Diamante e da Cassiterita e a pavimentação da BR-364, entre as décadas de 50 e 70, coloca fim ao relativo isolamento do Estado, em relação às demais regiões do País. O garimpo atingiu uma proporção surpreendente em sua exploração. Finalizando a década de 70, o Estado de Rondônia produzia muito, respondendo por boa parte da produção nacional. Além dessa ascendência de garimpeiros para o Estado, também ocorreu uma procura de migrantes agricultores, levando o governo a criar colônias agrícolas em Porto Velho. Contudo essas não obtiverem sucesso, pelo fato da infertilidade do solo ou mesmo pelo garimpo, no caso uma concorrência “desleal”, uma vez que esse estava em ascensão.

Porém, na década de 60, a antiga BR-29 (hoje BR 364) se solidificou, permitindo então nos anos 70 que se iniciasse o fluxo agrícola do Território Federal de Rondônia (na época ainda era Território da União), hoje não mais Território. Todos esses fatores contribuíram para uma ligação econômica do Norte com as demais regiões do país. Possibilitou ao Território Federal de Rondônia um crescimento econômico, tornando-o a Estado e Porto Velho, capital. O que antes dava o monopólio econômico por via fluvial Porto Velho/Manaus/Belém, com todo esse progresso, o Estado passa a caminhar ao crescimento econômico através de sua Rodovia. Não podemos deixar de destacar que a Agricultura, na época foi considerada uma atividade econômica que deixou o Estado em liderança na região.

As microrregiões formadas por algumas cidades do Estado foram felizes tendo a esta atividade como “mola impulsora” para o crescimento econômico destas, as quais receberam migrantes de várias partes do país. Já Porto Velho e Guajará-Mirim além de alguns migrantes receberam também imigrantes estrangeiros como: barbadianos, turcos, sírios, libaneses, cubanos, panamenhos, porto-riquenhos, chineses, transformando essas cidades num universo cultural. Como já supracitado entre os imigrantes vindo de outras nações, queremos ressaltar a importância da entrada libanesa como contribuição econômica para Porto Velho, esta conhecida como “Cidade do Sol”, por seu pôr do sol belíssimo, e tão iluminada como a estrela, tão Pluri, tão ela. A maioria da diáspora libanesa foi cristã, com minoria mulçumana e alguns poucos judeus libaneses.

É importante mostrar a facilidade desse povo em territorializar-se em ambientes como se já fossem deles. Nesse contexto de fluxo imigratório na capital, lembrando que a agricultura não era o forte desse povo, a escolha seria a área urbana. A busca por melhorias ficava mais próxima à sua concretização. Em alguns casos morava mais de uma família na mesma casa, o que não era um problema, já que a família para os “primos” tinha suma importância. Com pouca grana e conhecimento básico da Língua Portuguesa a maneira mais fácil de aumentar o capital era então “invadir” a área comercial. Começava então o envolvimento sociocultural.

A participação dos libaneses em nossa capital começou a tomar forma, considerando que a Cidade do Sol estava em crescimento. Diferente de outras capitais que já possuíam uma migração mais efetiva de várias nacionalidades, o que tornava a concorrência maior para conquistarem e povoarem a terra, ou seja, chegaram no tempo certo e no lugar certo, para aquilo que eles desejavam. Esse aparecimento de identidade híbrida podemos dizer que é fruto de encontros interculturais, que busca reinventar num território estranho, a ideia de pátria-mãe, já que o indivíduo reinventa suas tradições para não perder sua essência.

O comércio é o ponto de referência que marca a presença dos primos, sendo que o mascate torna-se a figura mais representativa por meio do comércio ambulante, que facilitou granjearem amizades, contribuindo para a permanência aqui, de forma definitiva, garantiu um recomeço promissor e a vida de familiares e pessoas conhecidas que usufruíram de uma base previamente obtida pelos pioneiros, o que garantia um recomeço promissor. Essa forma autônoma e lucrativa de trabalho fez com que eles logo montassem seus negócios formais e pudessem também ajudar outros conterrâneos e familiares que chegavam, formando a comunidade libanesa. Percebe-se que a contribuição deixada pela imigração libanesa, em diversas áreas do desenvolvimento nacional, alcançando limitando-se a área socioeconômica, todavia, a produção linguística, expandida por eles.

A culinária dos primos trouxe mais sabor a nossa, apresentando seus quitutes como: kibe, tabule, esfirra, cafta, etc. Na dança e em comemorações tradicionais despertou no portovelhense a curiosidade em conhecer mais. Para que a mudança fuja da demagogia e dos discursos carregados de hipocrisia, é necessário valorizar os direitos de todos, não de alguns, credibilizar as identidades e as culturas dos povos. Quando a missão é transformar, não é fácil, é árduo e requer uma proposta de ação harmoniosa, com os recursos adotados, é de suma importância ser coerente.

Enfatizar uma transformação social é uma tarefa multicultural crítica, considerando os argumentos fundamentados em estruturas inclusivas, modificam os paradigmas vigentes. Observamos, também, que o respeito à autonomia e às diferenças e o aporte multicultural crítico, como ferramentas facilitadoras das mudanças. Porto Velho, a Cidade do Sol, terra acolhedora, alento de outras regiões, cidade município, orgulho da Amazônia Ocidental, inclusiva e exclusiva, com seus raios estradas perenes, lugar de territorialização dos primos.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta era, um dos maiores dilemas da humanidade é conhecer, reconhecer e garantir o respeito às diversidades culturais, uma vez que interesses tolhem paz e segurança entre as culturas.

Reconhecer que não há meritocracia de uma cultura para com a outra, mas a diversidade das culturas; significa uma nova atmosfera nas relações, uma construção da raça, em todos os pontos de vista: social, político, econômico e ambiental. Desta forma, este artigo dialogou com as questões sobremulticulturalismo e interculturalismo, na perspectiva de um território, pequeno geograficamente, mas grande em diversidade e acolhida, dinâmico, visto que está sempre em mudanças e pioneiro.

Abordar esse estudo é realizar contribuições que traga embasamento teórico para que haja reconhecimento da cultura, garantia augusta dos direitos humanos. Sendo assim, é a necessidade de garantir à humanidade, sua existência, sua essência, sua relação com o “outro” a possibilidade de coexistirem.

Material suplementar
REFERÊNCIAS
AMARAL, Nair. Processos migratórios em Rondônia e sua influência na língua e na cultura. Linha d’Água, n. 25 (1), 2012.
BAUMAN, Zygmunt. Estranhos à Nossa Porta. Rio de Janeiro, Zahar, 2017.
CANCLINI, Néstor Garcia. Culturas Híbridas – estratégias para entrar e sair da modernidade. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2008.
CANCLINI, Néstor Garcia. Culturas híbridas. Tradução Ana R. Lessa e Heloísa P. Cintrão. São Paulo, SP: Edusp, 4ª. Edição, 2013 (2003).­­­­­
CANDAU, Vera Maria. Direitos humanos, educação e interculturalidade: as tensões entre igualdade e diferença. Revista Brasileira de Educação, 2008.
HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1999.
MATIAS, Francisco. Pioneiros – ocupação humana e trajetória política de Rondônia. Porto Velho: Maia, 1997.
MCLAREN, Peter. Multiculturalismo crítico. 2ª. Ed. São Paulo: Cortez, 1999.
Néstor García Canclini. Vida y obra (1/2). Entrevista. 2011. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Zy6cb3Q9xO4 Acesso em: 22. Out. 2013.
CANCLINI, Néstor Garcia. Diferentes, desiguais e desconectados – mapas da interculturalidade. Tradução Luiz S. Henriques. 3ª. Edição. Rio de Janeiro, Editora UFRJ, 2009 (2004).
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