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Memória e cultura popular na fronteira Brasil-Bolívia: a Festa do Torito
Memoria y cultura popular en la frontera entre Brasil y Bolivia: la festa del Torito
Revista Presença Geográfica, vol.. 06, núm. Esp.01, 2019
Fundação Universidade Federal de Rondônia

Artigos



Recepção: 03/05/2019

Aprovação: 30 Agosto 2020

Resumo: Este trabalho apresenta um breve registro da história da Festa do Torito no município de Guajará-Mirim/RO, na fronteira Brasil-Bolívia. A pesquisa bibliográfica e de campo, de natureza qualitativa, foi realizada no período de agosto a dezembro de 2018. Os dados da pesquisa foram coletados e analisados a partir dos pressupostos teóricos e metodológicos da História Oral e dos Estudos Culturais, tendo destaque o estudo da memória e da cultura popular. Na coleta de dados foram utilizadas as seguintes técnicas: observação, conversas informais, entrevistas, do tipo semi-estruturadas e registros fotográficos. Os sujeitos da pesquisa foram uma brincante e o coordenador da referida festa nesta cidade. Os resultados da pesquisa possibilitaram a reconstituição de alguns elementos da história, da memória e da cultura popular boliviana, expressas na festa do Torito, evidenciando, também, marcas identitárias culturais e memoriais que contribuem, de forma significativa, para a constituição da cultura popular do município de Guajará-Mirim/RO, na fronteira Brasil-Bolívia.

Palavras-chave: Linguagem, Memória, Cultura popular.

Resumen: Este trabajo presenta un breve historial de lahistoria de la Fiesta delToritoenlaciudad deGuajará-Mirim/RO, enlafrontera Brasil-Bolivia. La investigación bibliográfica y de campo, de naturalezacualitativa, se realizóenel período de agosto a diciembre de 2018.Los datos de lainvestigaciónfueronrecolectados y analizados a partir de lospresupuestos teóricos y metodológicos de laHistoria Oral y de losEstudiosCulturales, y ponen de relieveelestudio de la memoria y la cultura popular. La recogida de datos se utilizaronlassiguientes técnicas: observación, conversacionesinformales, entrevistas, entrevistas semi-estructuradas y registros fotográficos. Los sujetos de lainvestigaciónfueronun brincante y elcoordinador de esta fiestaen esta ciudad.Los resultados de laencuestapermitiólareconstitución de algunos elementos de lahistoria, la memoria y la cultura popular boliviano, expresadaenlafiestadelTorito, evidenciando, además, las marcas de identidad cultural y de los monumentos que contribuyen significativamente a laformación de la cultura popular de laciudad de Guajará-Mirim/RO, el Brasil-Boliviafrontera.

Palabras clave: lenguaje, Cultura popular, memoria.

INTRODUÇÃO

Este artigo discute sobre as narrativas, as memórias e a cultura popular presentes na Festa do Torito, na cidade de Guajará-Mirim, na fronteira Brasil-Bolívia. O estudo foi norteado pelos seguintes questionamentos: qual a origem da festa do Torito? Quais as principais características da referida festa popular? De que forma a festa do Torito contribui para a constituição e a valorização das memórias e da cultura popular na fronteira Brasil-Bolívia? Qual a importância da festa do Torito para a constituição das identidades culturais dos povos que vivem na fronteira Brasil-Bolívia?

Este artigo discute sobre as narrativas, as memórias e a cultura popular presentes na Festa do Torito, na cidade de Guajará-Mirim, na fronteira Brasil-Bolívia. O estudo foi norteado pelos seguintes questionamentos: qual a origem da festa do Torito? Quais as principais características da referida festa popular? De que forma a festa do Torito contribui para a constituição e a valorização das memórias e da cultura popular na fronteira Brasil-Bolívia? Qual a importância da festa do Torito para a constituição das identidades culturais dos povos que vivem na fronteira Brasil-Bolívia?

Partiu-se das seguintes proposições: a festa do Torito realizada em Guajará-Mirim mantém características da tradição boliviana, porém, já agrega alguns elementos da cultura popular local; A festa do Torito contribui para a constituição e a valorização das memórias na fronteira Brasil-Bolívia; A festa do Torito expressa e valoriza a cultura popular amazônica, contribuindo, também, para a valorização da cultura popular na fronteira Brasil-Bolívia.

O objetivo geral da pesquisa foi identificar, registrar e analisar alguns elementos da história, da memória e da cultura popular presentes na festa do Torito, na cidade de Guajará-Mirim, na fronteira Brasil Bolívia.

Para atingir o objetivo proposto, foram definidos os seguintes objetivos específicos: investigar a origem da festa do Torito em Guajará-Mirim; Mostrar as principais características da festa popular “o Torito”; Verificar de que forma a festa do Torito contribui para a constituição das memóriasna fronteira Brasil-Bolívia; Verificar de que forma a festa do Torito contribui para a constituição e valorização da cultura popular na fronteira Brasil-Bolívia; Refletir sobre a importância da festa do Torito para a constituição das identidades culturais dos povos que vivem na fronteira Brasil-Bolívia.

No campo pessoal, o estudo do tema justifica-se porque, sendo de origem boliviana, temos conhecimento da importância desta festa popular que acontece anualmente no município de Guajará-Mirim para os imigrantes bolivianos, pois ela expressa elementos de cultura e de identidade.

Nos campos social e científico, o estudo justifica-se porque a Festa do Torito, de origem boliviana, é realizada anualmente por uma família de imigrantes bolivianos que vive no município de Guajará-Mirim/RO há mais de trinta (30)anos, e já faz parte da cultura popular guajaramirense.

Nesse sentido, o estudo do tema é relevante porque contribuirá para a reconstituição e registro das manifestações folclóricas e das identidades culturais dos povos que viveram/vivem na cidade de Guajará-Mirim, na fronteira Brasil-Bolívia.

As análises dos dados da pesquisa foram fundamentadas pelos estudos dos seguintes autores: Arantes (1990), que apresenta conceitos de cultura popular; que apresenta conceitos para a palavra folclore; Melo (2015), cuja obra discute sobre danças e tradições dos povos amazônicos; Halbwacks (2003), cuja obra discute sobre memória individual e memória coletiva; Laraia (2001), que apresenta um conceito antropológico de cultura; Hall (2016), cuja obra discute sobre os temas: representação, cultura, linguagem e sentido; Loureiro (2015), cuja obra discute sobre a constituição e as características da cultura amazônica e outros.

Os dados foram coletados a partir da audição de cantos rítmicos e da realização de conversas informais e entrevistas com os brincantes de Torito no município de Guajará-Mirim/RO. Também foram feitos registros fotográficos e catalogação dos vestuários e adereços utilizados na dança.

Pretende-se, com a realização dessa pesquisa, contribuir para os estudos das manifestações culturais populares, visando à reconstituição das memórias, das narrativas e das identidades culturais dos povos que viveram/vivem na cidade de Guajará-Mirim, na fronteira Brasil-Bolívia.

CULTURA E CULTURA POPULAR

Neste tópico, apresentamos, de forma objetiva, conceitos para os termos, cultura e cultura popular, memória e representação. A compreensão desses conceitos é importante porque eles servirão de base para a análise dos dados da pesquisa.

O que é cultura?

Para Santos (2006, p. 23), “A primeira concepção de cultura remete a todos os aspectos de uma realidade social; a segunda refere-se mais especificamente ao conhecimento, às ideias e crenças de um povo”. Ele também afirma que: “Cultura é uma dimensão do processo social, da vida de uma sociedade. Não diz respeito apenas a um conjunto de práticas e concepções. [...] Cultura é um produto coletivo da vida humana.” (SANTOS, 2006, p. 44 e 45). Dessa forma, a partir das concepções apresentadas pelo autor, podemos afirmar que tanto a realidade social, quanto os conhecimentos, crenças e modos de vida são elementos constituidores da cultura de um determinado povo ou sociedade.

De acordo com Laraia (2001), na obra “Cultura: um conceito antropológico”, cada indivíduo traz consigo uma “carga” cultural que é construída a partir das vivências e experiências familiares:

[...] o homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquirida pelas numerosas gerações que o antecederam. (LARAIA, 2001, p. 46).

Edgar & Sedgwick (2002), no “Dicionário de Teoria cultural de A a Z: conceitos-chave para entender o mundo contemporâneo”, apresentam um conceito para a palavra cultura:

A cultura não é facilmente definida, sobretudo porque pode ter diferentes significados em diferentes contextos. De qualquer forma, o conceito que está no centro dos estudos culturais, pode-se sugerir, é o conceito encontrado na Antropologia Cultural. [...]. Ele inclui o reconhecimento de que todos os seres humanos vivem num mundo criado por eles mesmos, e onde encontram significado. A cultura é o complexo mundo cotidiano que todos encontramos e pelo qual todos nos movimentamos.” (EDGAR & SEDGWICK, 2002, p. 75).

Assim, a partir das concepções apresentadas, podemos afirmar que a cultura é constituída por diversos elementos, tendo destaque a habilidade dos seres humanos para cultivar a natureza e a habilidade para utilizar todas as formas de linguagem. Além disso, cada indivíduo acumula uma herança cultural, constituída ao longo dos anos, a partir das experiências familiares e das vivências e interações nos contextos sociais onde o mesmo se mobiliza.

O que é cultura popular?

Conforme Arantes(1990), “Cultura popular está longe de ser um conceito bem definido [...]. São muitos os seus significados e bastante heterogêneos e variáveis os eventos que essa expressão recobre.” (ARANTES, 1990, p. 8).

O prólogo da obra “Cultura popular na Idade Moderna”, Peter Burke (1989) apresenta uma definição para a palavra cultura. Segundo o autor:

“Cultura” é uma palavra imprecisa, com muitas definições concorrentes; a minha definição é a de “um sistema de significados, atitudes e valores partilhados e as formas simbólicas (apresentações, objetos artesanais) em que eles são expressos ou encarnados. [...]. (BURKE, 1989, p. 9).

Corroborando as ideias de Burke (1989), Storey (2015) enfatiza as dificuldades geradas na compreensão do termo e, para defini-lo, recorre aos estudos de Raymond Williams, o qual propõe três definições amplas:

Na primeira, cultura pode ser usada para se referir a um “processo geral de desenvolvimento intelectual, espiritual e estético.” [...]. Um segundo uso da palavra “cultura” pode ser adotado para sugerir “determinado estilo de vida, seja de uma pessoa, um período ou um grupo”. [...] terceira definição, é sinônimo do que estruturalistas e pós estruturalistas chamam de “práticas significantes. (STOREY, 2015, p. 14).

Assim, considerando as diferentes maneiras de definir cultura, Storey (2015) discorre sobre o termo cultura popular, apresentando, no primeiro momento uma discussão sobre o termo popular, para, posteriormente, apresentar o esboço de seis definições para o termo em discussão.

Neste trabalho, tomamos como referência o quarto conceito proposto por Storey (2015), o qual enfatiza que a cultura popular é aquela que se origina do “povo”, ou seja: “[...] o termo deveria ser usado apenas para indicar uma cultura “autêntica” do “povo”. Cultura popular como cultura folclórica é isto: uma cultura do povo para o povo. [...].” (STOREY, 2015, p. 29).

Ao refletir sobre a linguagem presente nas festas culturais tradicionais dos povos amazônicos, Melo (2015, p. 40) menciona a Festa do Torito, nosso objeto de estudo neste trabalho, afirmando que: “Os povos tradicionais nos ensinam que essas linguagens artísticas e humanas são tão importantes quanto sagradas[...].” a autora também enfatiza que:

Aqui alcançamos uma das questões-chave sobre a cultura e identidade amazônica numa região de fronteira com outro país, no caso a Bolívia. Guajará-Mirim e Guayaramérin estão irremediavelmente juntas e misturadas, até no nome, o que uma separaa outra reúne; é tão natural como a interdependência entre as relações sociais, econômicas, política, culturais, pessoais e até biológicas (MELO, 2015, p. 222).

Corroborando as ideias de Melo (2015), Loureiro (2015, p. 293) apresenta características da cultura amazônica, destacando que:

[...] algumas formas artísticas da cultura amazônica, mesmo originárias de fontes perdidas na memória coletiva, assumiram características de uma arte regional, de arte popular, capazes de manter suas significações mesmo transferidas para outros contextos socioculturais.

Assim, podemos considerar que os imigrantes bolivianos em Guajará-Mirim em permanentes mudanças, mediados pelo processo dialógico, o qual possibilita a constituição das identidades culturais. Estas transformações ocorrem a partir das vivências, presentes ou passadas, das interações que são estabelecidas entre brasileiros e bolivianos na fronteira que não é apenas geográfica, mas que é, também, histórica, política e social.

Memória e Representação

Neste tópico, dentre os principais autores que discutem sobre a temática memória e representação, destacamos Delgado (2006), que aborda os processos de constituição da memória; Halbwachs (2003), o qual apresenta conceitos sobre memória individual e memória coletiva e Hall (2016), que discute sobre a constituição das representações.

De acordo com as concepções de Delgado (2006), a partir da reconstituição da memória, podemos registrar experiências vividas e conhecimentos adquiridos, de acordo com a cultura de cada povo, estabelecendo uma ligação entre o passado e o presente.

A memória, principal fonte dos depoimentos orais, é um cabedal infinito, onde múltiplas variáveis – temporais, topográficas, individuais, coletivas – dialogam entre si, muitas vezes revelando lembranças, algumas vezes, de forma explícita, outras vezes de forma velada, chegando em alguns casos a ocultá-las pela camada protetora que o ser humano cria ao supor, inconscientemente, que assim está se protegendo das dores, dos traumas e das emoções que marcaram a sua vida.(DELGADO, 2006, p. 16).

O autor também afirma que: “A memória é inseparável da vivência da temporalidade, do fluir do tempo e do entrecruzamento de tempos múltiplos [...]. A memória é base construtora de identidades e solidificadora de consciências individuais e coletivas.” (DELGADO, 2006, p. 38).

Para Halbwachs (2003, p. 25), “Nós podemos criar representações do passado baseadas na percepção de outras pessoas, naquilo que imaginamos que aconteceu ou internalizando representações de uma memória histórica.” Segundo o autor, as lembranças podem ser reconstruídas a partir das vivências ou das experiências dos grupos sociais.

Ao discutir sobre a constituição da memória social, Halbwachs (2003, p. 38) enfatiza que: “A memória social é algo que construímos com o passar do tempo.” O referido autor também destaca que:

Para que a nossa memória se aproveite da memória dos outros, não basta que estes nos apresentem seus testemunhos: também é preciso que ela não tenha deixado de concordar com as memórias deles e que existam muitos pontos de contato entre uma e outras para que a lembrança que nos fazem recordar venha a ser constituída sobre uma base comum. (HALBWACHS, 2003, p. 39).

Dessa forma, conforme as discussões apresentadas pelo autor, podemos afirmar que memória pode ser compreendida como reminiscências do passado, a qual se relaciona com os cenários dos acontecimentos vividos pelos sujeitos, registrando os saberes, as vivências, as experiências, os modos de vida e outros aspectos que se inter-relacionam com o tempo, com a história, com os elementos míticos, etc.

Ao discutir sobre a constituição das representações, Hall (2016, p.108) apresenta um conceito para o termo representação, destacando que: “Trata-se do processo pelo qual membros de uma cultura usam a linguagem (amplamente definida) como qualquer sistema que emprega signos, qualquer sistema significante) para produzir sentido.” O autor também enfatiza que:

[...] representação significa utilizar a linguagem para, inteligivelmente, expressar algo sobre o mundo ou representá-lo a outras pessoas. [...]. Representação é uma parte essencial do processo pelo qual os significados são produzidos e compartilhados entre os membros de uma cultura.[...]. Representar envolve o uso da linguagem, de signos e imagens que significam ou representam objetos. [...] Representar algo é descrevê-lo ou retratá-lo, trazê-lo à tona na mente por meio da descrição, modelo ou imaginação; produzir uma semelhança de algo na nossa mente ou em nossos sentidos. Representar também significa simbolizar alguma coisa, pôr-se no seu lugar ou dela ser uma amostra ou um substituto.” (HALL, 2016, p. 31-32).

Dessa forma, compreendemosque as memórias, as representações de sentidos manifestados pela linguagem em torno da cultura da festa do Torito no município de Guajará- Mirim, nos permitirão não só registrar a cultura amazônica, mas, também, a manifestação cultural popular que acontece na fronteira Brasil-Bolívia.

APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA

Neste tópico, apresentamos e analisamos os resultados da pesquisa de campo, destacando-se: a descrição dos procedimentos metodológicos, caracterização e elementos simbólicos da festa do Torito e apresentação e análise das respostas dos questionários aplicados.

A pesquisa, bibliográfica e de campo, de natureza qualitativa, foi realizada no período de agosto a dezembro de 2018, no município de Guajará-Mirim/RO, na fronteira Brasil-Bolívia. Os dados foram coletados e analisados a partir dos pressupostos teórico-metodológicos da História Oral propostos por Delgado (2006), que concebe a memória como principal fonte de depoimentos orais e Portelli (2010), cuja obra concebe a História Oral como dialogia, etnografia e usos da memória.

Na coleta de dados, foram utilizados os seguintes procedimentos técnicos: conversas informais, realização de entrevistas e registros fotográficos. As entrevistas foram feitas a partir da aplicação de um questionário, com questões semiestruturadas, objetivas e subjetivas, que foram elaboradas a partir das observações e do contato com o Mestre de Cultura, responsável pela organização da festa do Torito no município de Guajará-Mirim/RO, e com participantes da referida festa.

Conforme Venson (2012, p. 129), “[...] a entrevista é uma técnica de chamada para a produção e a significação da memória [...]” Assim, a técnica da entrevista se configurou como metodologia adequada para compreender os processos de constituição da memória como fonte histórica importante na reconstituição da história e da cultura popular boliviana no município de Guajará-Mirim/RO.

Vale destacar que a aplicação da entrevista também possibilitou a compreensão de experiências e vivências em outras temporalidades, principalmente, dos movimentos culturais e dos acontecimentos políticos na fronteira Brasil-Bolívia, os quais motivaram processos migratórios. Nesse sentido, as questões da entrevista contemplaram os seguintes temas: memória afetiva, história e caracterização da Festa do Torito. Também investigamos de que forma esse festejo contribui para a socialização dos povos fronteiriços e para a hibridização cultural do município de Guajará-Mirim/RO.

A festa do Torito em Guajará-Mirim: caracterização e elementos simbólicos

A Festa do Torito, tradição popular na fronteira Brasil-Bolívia, é constituída por um conjunto de elementos com significados simbólicos que, de certa forma, evidencia as representações do homem fronteiriço, cujo imaginário é constituído a partir de suas vivências e experiências com as florestas e os rios.

De acordo com Melo (2015, p. 223), a festa do Torito é uma tradição que acontece na área urbana e, ao descrever a fronteira Brasil-Bolívia, local onde a festa acontece, a autora descreve o espaço fronteiriço como: “[...] um lugar para se fazer travessias, reais e simbólicas, entre fronteiras mentais criadas diante do diferente, do estrangeiro, das margens, que julgamos oposta às nossas.” (MELO, 2015, p. 147-148). Segundo a autora, a referidafesta “[...] acontece há mais de 300 anos na Bolívia, em homenagem ao São Joaquim e à Sant’Ana, reconhecidos como os avós de Jesus, segundo a tradição Cristã.”


Figura 1
Máscara representativa da cabeça do Torito
Fonte: Acervo coletado pela pesquisadora em Visita Técnica

Dentre as manifestações culturais populares que acontecem na fronteira Brasil-Bolívia, a festa do Torito destaca-se pela importância das interações dos povos fronteiriços, cujas culturas têm como características principais a multidiversidade. Essas interações contribuem para a constituição da cultura e para a expressão das simbologias e cosmogonias. Segundo Melo (2015), a festa do Torito tem origem na Bolívia e é marcada por elementos religiosos e audição de sons rítmicos, batuques e danças, cuja peculiaridade se enraíza no Brasil com a família do Mestre Sinforoso.


Figura 2
Representação das imagens de Sant’Ana e São Joaquim
Fonte: Acervo coletado pela pesquisadora em Visita Técnica

“A Festa de São Joaquim e Sant’Ana tem na Dança do Touro ou El Torito - (touro pequeno) um dos momentos mais marcantes do ritual [...]”. (MELO, 2015, p.148). A gestualidade da dança, é descrita por Melo (2015) como:

[...] um dos momentos mais esperado do ritual, talvez porque a tão significativa gestualidade da dança, no balançar dos braços à frente e à trás, seja o símbolo que precisamos para descobrir a alegria de dançar e poder atravessar o limiar entre lá e cá, à frente e a trás, um lado e outro... Aceitando os contrastes e corrigindo nossas posições para permanecermos em constante comunicação com as margens e correntes da vida. (MELO, 2015, p. 148).

A dança, como manifestação da linguagem, está presente na vida humana desde os primórdios da humanidade. Essa forma de expressão comunicativa manifesta, de forma peculiar, na cultura de cada povo e são repassadas de geração em geração. A dança recebeu sentidos diversos em diferentes tempos históricos. De acordo com Melo, (2015 p. 45):

Praticar danças e outras linguagens das tradições dos povos ou mesmo linguagens artísticas contemporâneas ae até tecnológicas, deixa de ser dançar-para e passa ser dançar-com, cantar- com, acessar-com- atitude de comunhão, de consciênciado que se está fazendo e para quê.

Ao fazer abordagem sobre a dança do Torito a autora descreve: “[...] e a dança parece ensinar com simplicidade e alegria o jeito de alcançar essa integração entre as culturas e consequentemente entre as pessoas, principalmente no movimento das mulheres” (MELO, 2015, p. 223).

A partir desta citação, podemos afirmar que a festa do Torito utiliza-se do aspecto popular da dança para expressar e promover a integração das culturas boliviana e brasileira, visto que envolve brincantes bolivianos e brasileiros do contexto da fronteira. Ela se assemelha à dança de quadrilhas que acontecem nas festas juninas. Além disso, a festa promove a interação social entre as famílias bolivianas que residem no Brasil e expressam um sentimento de “pertença” e afirmação da identidade boliviana.

De mãos dadas, em círculo ou em linha, elas balançam os braços para frente e para trás, como se fossem barquinhos de balanço – brinquedo muito presente nos arraiais das pequenas cidades ribeirinhas na Região Norte. Enquanto isso, os homens soltos no meio delas, fazem gracejos e movimentos, como pequenos touros fazendo investida em direção a elas com a cabeça e o corpo solto acompanhando os movimentos da cabeça; o que para a racionalidade masculina, diga-se de passagem, em um ótimo e indicado exercício de integração entre a mente e o coração – sua inteireza. (MELO, 2015, p. 224).

Em relação aos vestuários e acessórios, “As mulheres, usam vestidos e chapéus de camponesas, enfeitados de formas diversas com fitas coloridas; os homens usam a máscara do torito e um chocalho nas pernas[...].” (MELO, 2015, p. 223).


Figura 3
As participantes feminina
Fonte: Acervo coletado pela pesquisadora em Visita Técnica

Apresentação e análise das respostas da entrevista

Neste tópico, apresentamos e analisamos o resultado da pesquisa de campo, o qual foi coletado a partir da observação, conversas informais e realização de entrevista com utilização de questionário, composto por questões abertas e subjetivas. O questionário foi aplicado ao Mestre de Cultura e Coordenador da festa e foi elaborado em duas partes, conforme descrição a seguir.

Caracterização do entrevistado

O Coordenador da Festa do Torito no município de Guajará-Mirim/RO, Senhor SinforosoArsa, é um boliviano de 70 anos de idade. É mestre de cultura e benzedor. Reside em Guajará-Mirim desde 1960, época em que veio fugido juntamente com seus pais em uma embarcação, devido a conflitos políticos no país boliviano. Desde o ano de 1984, época do falecimento de seus pais, ele é o responsável pela realização da festa do Torito no município de Guajará-Mirim/RO.


Figura 4
Coordenador da Festa do Torito, Sr. Sinforoso Arsa Gualasua
Fonte: Acervo coletado pela pesquisadora em visita técnica

Apresentação e análise dos resultados das entrevistas

As entrevistas, com questões semi-estruturadas foram aplicadas ao Coordenador da Festa do Torito, e englobaram questões relativas à desta como uma tradição familiar e cultural. Abaixo, apresentamos e analisamos as respostas do entrevistado:

Questão 1:Como sua família se reúne com as outras famílias bolivianas que residem em Guajará-Mirim/RO?

Resposta: Reúnem-se através da preparação da comilança e durante a “Festa do Torito.”

Questão 2:Com que frequência o senhor vai à Bolívia?

Resposta: Não costumo ir na Bolívia com muita frequência.

Questão 3:O Senhor participa de festas religiosas/culturais em Guajará-Mirim/RO?

Resposta: Sim, da Diocese e da Catedral São Francisco e Santa Clara, fazendo Artes culturais e artísticas.

Questão 4: Qual a origem da festa do Torito?

Resposta:A origem dos toritos é uma homenagem à imagem “Santa Ana e São Joaquim”. Essa festa é realizada no dia dos avós. Segundo seu Sinforoso essa cultura foi trazida a Guajará-Mirim pelos seus pais Simon Arza Correia e Paula Gualasua de Arza, no ano de 1984. Aqui ela é festejada dia 24 e 25 de julho e dia 20 de agosto, ou seja, comemora-se duas vezes ao ano por causa ao dia dos avos e ao aniversario de São Joaquim. Antigamente, aqui em Guajará-Mirim, a festa era realizada no bairro Tamandaré, mas agora se festeja novamente na casa de seus pais, no bairro serraria onde foi inaugurada pela primeira vez a festa do Torito.

A partir das respostas das questões 1, 2, 3 e 4, destacamos as menções do entrevistado a dois elementos identitários: a culinária boliviana e a religiosidade. Essa ligação com a Bolívia, para o entrevistado, também se faz presente pela Festa do Torito. Muito embora ele tenha a convicção de que a festa só acontece pelo grande esforço familiar, essa tradição popular é motivo de “muito orgulho”, comentou o entrevistado. Há também um sentimento de que a manutenção da festa é de certa forma, a preservação de uma tradição familiar e esse sentimento ocorre, principalmente,após o falecimento de seus pais, ou seja, o entrevistado expressa o sentimento construído pela memória coletiva. Para Halbwachs (2004, p.25) “[...] as lembranças podem ser reconstruídas ou simuladas, partindo-se da vivência em grupo”.

A partir das respostas do entrevistado, podemos afirmar que a culinária boliviana e a religiosidade são elementos importantes na constituição das identidades da população boliviana que vive no município de Guajará-Mirim. Estes elementos também são importantes na construção da Festa do Torito, pois na ocasião da festividade são servidas comidas bolivianas tradicionais, tais como: biscoitos (doces e salgados), mingaus, saltenhas, empanadas, tortilhas, chicha, sucos, leite de tigre (bebida misturada com álcool), somô e outras.

Conforme Delgado (2006, p. 62): “Identidades, representações e memórias encontram-se inter-relacionadas. Por meio da memória, as comunidades e os indivíduos podem, [...] construir representações sobre sua inserção social e sobre sua cultura.” Nesse sentido, destacamos que o entrevistado preserva a partir da realização anual da Festa do Torito, a identidade, as representações e a cultura boliviana no município de Guajará-Mirim/RO.

Questão 5: Quais as principais características da referida festa popular?

Resposta: Os homens usam roupas com chocalhos, máscara de madeira com chifre, panos e fitas de cores variadas. As mulheres dançam com vestido e chapéu com fitas coloridas, quase iguais à festa de quadrilha. O significado das vestes é a tradição de cada cidade ou lugar onde é festejada. No momento da festa qualquer pessoa pode participar da dança, tanto adulto como criança.

Nesse sentido, segundo Hall (2016, p. 18), “Na linguagem, fazemos uso de signos e símbolos sejam eles sonoros, escritos, imagens eletrônicas, notas musicais e até objetos para significar ou representar para outros indivíduos nossos conceitos, ideias e sentimentos.” O autor também destaca que o processo de representação “[...] envolve o uso da linguagem, de signos e imagens que significam ou representam objetos. [...].(HALL, 2016, p. 18). Dessa forma, podemos afirmar que as vestimentas utilizadas pelos brincantes da Festa do Torito representam elementos da cultura popular amazônica, dentre eles, a festa do boi, a quadrilha e a festa de santos católicos, que são festas populares e tradicionais nas comunidades da fronteira Brasil-Bolívia.

Representar algo é descrevê-lo ou retratá-lo, trazê-lo à tona na mente por meio da descrição, modelo ou imaginação; produzir uma semelhança de algo na nossa mente ou em nossos sentidos. “Representar também significa simbolizar alguma coisa, pôr-se no seu lugar ou dela ser uma amostra ou um substituto.” (HALL, 2016, p. 31-32).

Também podemos afirmar que a referida festa simboliza, para os imigrantes bolivianos que vivem na cidade de Guajará-Mirim, um mecanismo de preservação identitária, pois na organização da festa, os imigrantes bolivianos preservam elementos da cultura boliviana, tais como: linguagem, religiosidade, músicas, comidas típicas, a dança e outros.

Segundo Hall (2016, 18), “[...] A linguagem é um dos meios através do qual pensamentos, ideias e sentimentos são representados numa cultura. A representação pela linguagem é, portanto, essencial aos processos pelos quais os significados são produzidos.

Nesse sentido, conforme Melo (2015, p. 30):

Pelas danças tradicionais dos povos, revisitamos o passado, a memória cultural de nossas comunidades e toda a sabedoria intuitiva. Experimentamos no corpo, “movimentos que falam” do ambiente natural onde nasceram essas danças; da importância da Céu, da Terra, da Água, do Fogo e do Vento para a sobrevivência humana nos níveis material e espiritual; dos ciclos naturais de plantio, crescimento e colheita, também associados ao nascimento e á morte, ou seja, da infância à juventude, passando pela maturidade e chegando à velhice; dançando interpretamos em nosso corpo todas essa narrativas, além de ser também um meio de reconhecer e fortalecer essas culturas e os valores humanos nelas contidos, agonizantes na humanidade deste século.

Vale ressaltar que apesar de viverem há muitos anos na cidade brasileira, os imigrantes bolivianos organizadores e participantes da Festa do Torito ainda preservam a língua materna, ou seja, o castelhano.

Questão 6: Na sua opinião, qual é a importância da festa do Torito para formação das identidades culturais dos povos que vivem na fronteira Brasil-Bolívia?

Resposta: A importância é manter essa tradição viva, valorizar a cultura boliviana entre as famílias que residem na fronteira Brasil-Bolívia e dar prosseguimento na expansão dessa cultura.

As respostas do entrevistado às questões 4, 5 e 6, demonstram que memória e lembrança estão fortemente inter-relacionadas à construção da identidade. Esse fenômeno ocorre porque: “A lembrança é uma imagem que ininterruptamente está junto com outras imagens e é, em larga medida, uma reconstrução do passado que é feita com a ajuda de dados emprestados do presente.” (HALBWACHS, 2003, p.25). Nesse sentido, as memórias individuais ou coletivas, são construídas a partir da convivência dos sujeitos nos diversos domínios sociais.

Questão 7: Fatos que gostaria de registrar:

Resposta: Aconteceu que no ano de 2002 no sexto dia da novena dona Paula Arza faleceu, antes de ela partir teve oportunidade de assitir à novena, ao término da novena,todas as pessoas foram embora e nessa mesma noite as preparações da comida estavam sendo finalizada quando de repente dona Paula chama a esposa de seu Sinforoso dizendo: Filha tua chicha ja está esfriando? Pois eu quero povar um pouquinho e também quero experimentar teus biscoitos se realmente estão bons para festa? Aí ela experimentou e disse que estava tudo gostoso. Amanhecendo o dia, por volta das 07h00min ela morreu de um ataque no coração e não foi possível concluir a festa do torito. Todas as comilanças foram reaproveitadas no velório, sendo assim esse dia ficou marcado para todos.

Halbwachs (2003, p. 38) afirma que: “A memória social é algo que construímos com o passar do tempo.” O autor também destaca que as experiências, os saberes, as sensações, as emoções e os sentimentos que os indivíduos vivenciam ao longo da vida são registrados pelamemória: “Ela pode ser dinâmica, mutável e seletiva”. [...] é seletiva porque nem tudo que é importante para o grupo fica gravado na memória, fica registrado para as gerações futuras. (HALBWARCHS, 2003, p. 38).

A memória social construída pelos brincantes da Festa do Toritono município de Guajará-Mirim simboliza saberes, sentimentos da/sobre a cultura boliviana registrados e preservados na memória desses sujeitos ao longo da vida.As narrativas mostraram-nos a importância da manutenção da tradição da cultura boliviana entre as famílias que residem na fronteira Brasil-Bolívia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo discute sobre as narrativas, as memórias e a cultura popular presentes na Festa do Torito, na cidade de Guajará-Mirim, na fronteira Brasil-Bolívia.

Identificamos, a partir dos resultados da pesquisa de campo, que a festa do Torito realizada em Guajará-Mirim mantém características da tradição boliviana. Porém, elaagrega alguns elementos da cultura popular local, tais como: a quadrilha e as tradicionais festas dedicadas aos Santos.

Verificamos que apesar da festa do Torito contribuir para a constituição e para a valorização das memórias na fronteira Brasil-Bolívia, o poder público não dá o apoio necessário para que a festa seja realizada. Nesse sentido, enfatizamos que a festa acontece anualmente porque é custeada pelos brincantes e simpatizantes da cultura popular.

Por fim, constatamos que a festa do Toritopromove interações culturais na fronteira, expressa e valoriza a cultura popular amazônica, contribuindo, também, para a valorização da cultura popular na fronteira Brasil-Bolívia.

REFERÊNCIAS

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DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. História oral e narrativa: tempo, memória e identidades. In- - VI Encontro Nacional de História Oral (ABHO) – Conferência de Abertura. Dossiê- História Oral, 6, 2003, p. 9-25.

EDGAR, Andrew; SEDGWICK, Peter. Teoria Cultural de A a Z: conceitos chave para entender o mundo contemporâneo. São Paulo: Editora Contexto, 2003.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2003.

HALL, STUART. Cultura e representação. Trad. Daniel Miranda e Willian Oliveira. Rio de Janeiro: Ed. PUC- Rio: Apicuri, 2016.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 9 eds. Rio de janeiro: Zahar, 2001.

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MELO, Santos Déa. Comunic-Ação criativa: narrativa, vivência e imagem com danças circulares e tradições dos povos da Amazônia em diálogos. Belém: Editora da autora, 2015.

PORTELLI, Alessandro. História oral como arte da escuta. São Paulo: Letra e Voz, 2016.

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Notas

[1] Acadêmica do 1º período do Curso de Pedagogia,do Departamento Acadêmico de Ciências da Educação, da Fundação Universidade Federal de Rondônia, Campus de Guajará-Mirim. Graduada em Letras – Língua Portuguesa e suas respectivas literaturas, pela Fundação Universidade Federal de Rondônia, Campus de Guajará-Mirim. Membro do Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas-GEIFA.

Autor notes

[1] Acadêmica do 1º período do Curso de Pedagogia,do Departamento Acadêmico de Ciências da Educação, da Fundação Universidade Federal de Rondônia, Campus de Guajará-Mirim. Graduada em Letras – Língua Portuguesa e suas respectivas literaturas, pela Fundação Universidade Federal de Rondônia, Campus de Guajará-Mirim. Membro do Grupo de Estudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas-GEIFA.
[2] Doutora em Letras- Literaturas de Língua Portuguesa, pelo IBILCE/UNESP/SJRP. Mestre em Linguística, pela UNIR/Câmpus de Guajará-Mirim. Especialista em Educação Superior, pela UNIR/Câmpus de Guajará-Mirim, Graduada em Letras, pela UNIR/Câmpus de Guajará-Mirim. Professora Adjunta do Departamento Acadêmico de Ciências da Linguagem do Câmpus de Guajará-Mirim, da Universidade Federal de Rondônia/UNIR. Vice-líder do Grupo deEstudos Interdisciplinares das Fronteiras Amazônicas – GEIFA.

esterojopi@hotmail.com



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