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LUGAR E RESILIENCIA: DUAS ACEPÇÕES NO MUNDO VIVIDO DO SERINGUEIRO

Sandra Teixeira de ASSUNÇÃO
Universidade Federal de Rondônia, Brasil
Josué da Costa SILVA
Universidade Federal de Rondônia - UNIR, Brasil

Revista Presença Geográfica

Fundação Universidade Federal de Rondônia, Brasil

ISSN-e: 2446-6646

Periodicidade: Frecuencia continua

vol. 01, núm. 01, 2014

rpgeo@unir.br

Recepção: 03 Junho 2014

Aprovação: 07 Outubro 2014



Resumo: Este artigo tem como objetivo compartilhar o mundo vivido dos seringueiros. Apreender o seu mundo vivido como um lugar de identidade e construto social para a sobrevivência, onde as experiências vividas no cotidiano deram base para o processo de resiliência. Era preciso ser aguerrido para lutar contra os obstáculos, a pobreza e o medo dentro da selva, e hoje, enfrentar os desafios de viver na cidade. No levantamento histórico sobre os seringueiros em Extrema/RO, lugar de desenvolvimento desta pesquisa, descobre-se, nos depoimentos, um verdadeiro sofrimento vivido pelos seringueiros. Foram abandonados à sorte diversos momentos e ciclos econômicos. Primeiro, quando houve o declínio na exportação da borracha da Amazônia, em virtude da produção no oriente médio e, depois, com os projetos de colonização, que visavam uma nova forma de pensar o espaço. De tal modo, a vida foi se estabelecendo nos seringais. Assim, utilizou-se o método fenomenológico como baluarte para compreender o modo de sentir, viver e agir do seringueiro no meio ambiente.

Palavras-chave: Seringueiros, Mundo vivido, Lugar, Resiliência, Amazônia.

Abstract: The aim of this article is to share the world of the rubber tree workers. To learn about his world as a place of identity and social construction for the survival, where the life experiences gave support for the resilience process. It was necessary to be strong to fight against the obstacles, the poverty and the fear into the jungle, and nowadays, to face the challenges in order to live in the city. In the historical survey about these workers in the city of Extrema – RO, place where this research had been developed, we found out that these people suffered a lot. They were deserted in several moments and economical cycles. The first one happened when the latex exportation from Amazonia decreased because of its production in Middle East, and after this moment, with the colonization projects which aimed a new way of thinking about the space. So, the life had been established where these trees were cultivated. In this way, the phenomenological method was used as base to understand the way of feeling, living and acting of this worker in his environment.

Keywords: Rubber Tree Workers, World, Place, Resilience, Amazonia.

Introdução

Buscar entender as ações que o ser humano desenvolve é compreender o dinamismo dos acontecimentos e transformações que vivem as pessoas, o lugar, a paisagem e o território, enquanto espaço vivido. Estudando os modos de vida vivenciados pelos seringueiros, penetra-se na memória dos antepassados que estão vivos no presente, ressignificando a vida fora do lugar de pertencimento. O modo de vida foi edificado por valores, hábitos, costumes e crenças na floresta que dá substância ao viver na cidade. Este conjunto de valores constituiu identidade ao seringueiro que, hoje, absorve novas culturas e repassa a sua em um feedback contínuo. O seringueiro na cidade não abandonou sua cultura consolidada em anos na floresta, ele a ressignifica por ser resiliente, ou seja, através da resiliência.

A resiliência do seringueiro foi preponderante na interligação destes nordestinos e/ou filhos de nordestinos com o meio ambiente entre a floresta, os rios e os perigos que vivenciaram com a falta de alimentos e doenças. As experiências vividas deram corporação ao lugar e a vida dos mesmos que lutaram por sobrevivência. Atualmente, continuam a viver adversidades na periferia do espaço urbano de Extrema ou na Bolívia, onde buscam por sobrevivência e ou perpetrar o seringueiro que está em sua essência. Procuram a ligação com a terra, pois no Brasil, perderam seu “espaço” para a propriedade privada que os limita ao acesso de pescar, caçar e coletar castanhas.

O Espaço Vivido

O espaço vivido, segundo Buttimer (1985), é reconhecido mediante as experiências que são construídas no dia a dia. Sendo o ser humano cognoscitivo, ele influencia o significado e a intencionalidade da sua consciência. O mundo vivido é dinâmico, experimentado, não pertence apenas a fatos isolados, comercialização, negócios, este mundo compreende os valores apreendidos e os bens instalados.

Desta forma, Buttimer (ibidem, p.78) expressa que “cada pessoa está rodeada por “camadas” de espaço vivido, da sala para o lar, para a vizinhança, cidade, região e para a nação”. Assim, o habitar está em correlação com a natureza ambiental e social do sujeito no lugar. O mundo vivido reflete, basicamente, sobre o horizonte com seus significados, dentro de dimensões intencionais. As pessoas dentro dessa realidade interiorizam um comportamento de valorização de si e das coisas em um significado contínuo no tempo e no espaço.

Ao descrever o espaço vivido é importante reconhecer os modos de vida tanto subjetivo como objetivo, valorizando, portanto, o sujeito da ação vivida. Para Buttimer (ibidem, p.185), “O mundo vivido na perspectiva geográfica, poderia ser considerado como o substrato latente da experiência”.

Nas entranhas da floresta densa, em muitas casinhas de palafitas, cobertas com palhas de coqueiros babaçu, buriti, jarina, sapé e oricuri, viviam pessoas (seringueiros) que constituíam laços afetivos com seus vizinhos e com a terra, ou seja, com a floresta, os rios, as aves e os animais. Pois, era nessa floresta que encontravam maneiras de saciar os desejos físicos, fisiológicos, biológicos e da alma. Como sobreviver na floresta com tantas amarras no trabalho, com a solidão, falta de alimentos e bichos perigosos? Como lidar com uma floresta úmida vindo de uma região seca e de caatinga?

Quando a referência está no mundo vivido, pode-se buscar também, em Relph (1979, p.5 e 6), que apoiado na sustentação de Husserl, descreve o mundo vivido da interrelação homem e ambiente, representados neste quadro, a saber:

Quadro 01: Mundo Vivido,
elaborado por Sandra Teixeira de Assunção.
Quadro 01: Mundo Vivido, elaborado por Sandra Teixeira de Assunção.
Fonte: Relph (1979)

Neste contexto, é apresentado um mundo vivido, formado por pessoas e todas as atividades desenvolvidas por elas, sendo: a comunicação, a intersubjetividade, as intencionalidades mediante os interesses, os transportes, os fluxos de mercadorias, as relações que se estabelecem neste processo homem- ambiente-ação-reação.

O cotidiano NO e DO lugar transforma a experiência vivida em conhecimento para o presente e o futuro. A sabedoria é adquirida com a prática vivida. Assim, diante destas experiências, o aprendizado em um determinado tempo foi organizado para a sobrevivência e superação das dificuldades. Porém, a dinâmica populacional muda conforme as exigências capitalistas contemporâneas, mas, mesmo assim, o modo de vida dos seringueiros não parou no tempo, ele é dinâmico, dialoga com novas experiências, incorporando novos conhecimentos.

Para Christtofoletti (1985, p. 22), estudar a Geografia humanística é valorizar:

[...] a experiência do indivíduo ou do grupo, visando compreender o comportamento e a maneira de sentir das pessoas em relação aos seus lugares. Para cada indivíduo, para cada grupo humano, existe uma visão do mundo, que se expressa através das suas atitudes e valores para com o quadro ambiente. É o contexto pelo qual a pessoa valoriza e organiza seu espaço e o seu mundo, e nele se relaciona [...]

Dessa forma, as experiências vividas acoplam intencionalidades mediante as necessidades da vida, assim os arranjos vividos possuem um sentido dentro de essências que concebem significância ao indivíduo ou grupo. O sentido de percepção, localização, imaginação, intenção, significado e fenômeno, compõem sua fenomenologia de vida. O seringueiro busca conhecimentos e estratégias de sobrevivência, tanto na alimentação como contra os perigos e doenças.

O habitar, o construir, o cultivar a terra são experiências da realidade vivida que se transforma em lugar de base do ser, sem este lugar ele encontra-se desprovido da vida cotidiana. O lugar é o núcleo da ação e da intencionalidade do ser. No lugar, se fundamenta a identidade territorial dos indivíduos e/ou grupo devido à estabilidade, os sentimentos, os significados construídos.

Dona Francisca, em entrevista, lembra o sofrimento e as técnicas das mulheres quando iam lavar as roupas:

“[...] Bucha pra esfregar roupa que não existia, sou do tempo da bucha de sabugo de milho, sabe, que a gente fazia aqueles sabugos de milho enrolado, assim, numa folha do milho, pra esfregar as roupas dos moleques... Sabão em pó não conhecia, só sabão em barra que era aquele do jacaré, nem quiboa nesse tempo não existia, a gente pra ferver uma roupa, pra limpar, pegava uma colher de cinza jogava dentro da bacia da rubia, assim no terreno, como quem vai botar água pra pelar um porco, quando acabava... Botava aquela roupa dentro daquela cinza com uns pedaços de sabão daquele que eu estou falando, deixava ferver, ferver, ferver, botava numa bacia e levava a vertente, lá tirava aquilo todinho, tinha um quaradorzão de palha, estendia a roupa nele... No outro dia que você ia enxaguar, a roupa estava limpinha... Não precisava de quiboa[...]”(D. Francisca, 79 anos, 2011)

Observar, entrevistar, ouvir, estar na realidade é uma forma de ir ao encontro das essências do mundo vivido pelo próprio “self” da história. É buscar detalhamento nas relações que o entrevistado tece com o meio social e natural em que vive. É a produção do cotidiano no ambiente que permeia a ligação homem/natureza e homem/homem.

Contextualizando os modos de vida ao lugar, Tuan (1980 e 1983), respectivamente, ressalta que o lugar é onde existe significado afetivo, é o foco de emoções e sentimentos. Enquanto, o espaço, envolve movimento e percepção para a estruturação de objetos em intervalos de tempo passado, presente e futuro. O lugar é onde se apreende e une o conhecimento das experiências vividas. Então, o sentimento afetivo pelo lugar é influenciado pela pausa reflexiva do conhecimento, necessidades e durabilidades de ações.

O espaço vivido impetrado por Frémont (1980, p. 195) diz que: “[...] através dos lugares, localizam-se os homens e as coisas. O lugar de habitat, a casa, é revestido de um valor excepcional pela sua universalidade, pela profundidade das suas significações, a riqueza das palavras exprime bem o fenômeno. [...]”.

Compreende-se, portanto, o lugar como o espaço vivido das pessoas, onde estas se desenvolvem, interrelacionando com objetos, animais, fluxos de pessoas que são externos ao lugar, a paisagem, o ambiente natural e ao trabalho. O lugar para o seringueiro está repleto de convivência com os rios, matas, com o trabalho, rituais religiosos e culturais, alegrias e tristezas, enfim, com o cotidiano. É o lugar vivido em partes, mas agrupadas em um todo.

Assim, o mundo é ativo, não fixo. As pessoas agem, exercitam tanto o corpo como a mente em trabalhos, sofrimentos e descanso. Fazem reflexões do dia a dia e se estabelecem tomando atitudes que favoreçam o seu cotidiano, igualmente, os laços com o meio se aperfeiçoam e, o pertencimento a determinado grupo se manifesta em uma identidade construída na relação social e natural vivida.

Destarte, o espaço e o lugar se fundem quando o espaço é preenchido de valor, significações e vivências. O espaço deixa de ser dimensional, mensurável, passando a ser humanizado com atributos experimentais.

Para a sobrevivência, os seringueiros precisaram conhecer bem a floresta, os rios e seus perigos, mas conhecer-se a si mesmo era fundamental, pois era através de sua profunda força física e psíquica que impulsionava sua resiliência. Necessitavam de estreitar o elo entre eles e o ambiente, permitindo relações afetivas, como medo, confiança, imaginação, crenças e valores para o sucesso da vida na floresta. Nesse sentido, há desenvolvimento de habilidades e conhecimentos pessoais, como visão, percepção, intenção, acuidade e alteridade.

Seringueiros e Resiliência

Nos Ciclos da Borracha não existia uma apropriação do espaço retangular, mas uma apropriação do produto da seringueira, ou seja, uma apropriação da matéria-prima (goma elástica) pelo capital internacional, como afirma Martinello (2004, p.30).

O expediente usado pelo capitalismo era o de investir capitais na indústria extrativa e bloquear qualquer indústria interna... É neste quadro de profundas transformações estruturais, seja no que tange aos meios de produção, seja no quadro da evolução e consolidação do capital monopolista, que se situa a formação e a expansão da economia extrativista da borracha na Amazônia.

Assim, o capitalismo monopolista internacional articulou a formação da economia voltada para a produção gumífera, financiando a migração nordestina para dar sustentação a essa produção. Ocorreu, portanto, uma centralização do capital e da produção e a borracha assumiu o papel de matéria-prima de crescente procura no mercado mundial, resultando nas relações de produção com sistema de aviamento1 e o trabalho compulsório do seringueiro.

Muitos anos e sofrimento afligiram multidões de nordestinos que aceitaram viajar para a Amazônia e se tornarem soldados da borracha e não soldados da guerra. Quando chegaram aos seringais se deparavam com uma realidade muito complexa; o difícil acesso e o trabalho penoso lhes tomava todo o tempo, não lhes dava oportunidades de uma vida digna. Tornaram-se aprisionados do seringalista. Pode-se notar esta difícil realidade nas palavras de Euclides da Cunha 2, onde este autor escreve de forma crítica a realidade vivida pelo seringueiro:

É a imagem monstruosa e expressiva da sociedade torturada que moureja naquelas paragens. O Cearense aventuroso ali chega numa desaponderada ansiedade de fortuna; e depois de uma breve aprendizagem em que passa de brabo a manso, consoante a gíria dos seringais (o que significa o passar das miragens que o estonteavam para a apatia de um vencido ante a realidade inexorável)-ergue a cabana de paxiúna à ourela mal destocada de um igarapé pinturesco, ou mais para o centro numa clareira que a mata ameaçadora constringe, e longe do barracão senhoril, onde o seringueiro opulento estadeia o parasitismo farto, pressente que nunca mais se livrará da estrada que o enlaça, e que ele vai pisar durante a vida inteira, indo e vindo, a girar estonteadamente no monstruoso circulo vicioso da sua faina fatigante e estéril.

Essa relação já antecedia um contínuo endividamento do seringueiro que, segundo Martinello (2004, p.52) era:

(...) Praticamente impossível libertar-se do patrão, tornando-se num prisioneiro do trabalho. Sua condição social, portanto era ambígua e paradoxal: socialmente livre, porém sua condição real era a de um escravo.

Escravizado pela dívida, pelo isolamento, e solidão, pela rotina do trabalho e de vida na floresta... A estrutura concentracionária do seringal o levava a se tornar um escravo econômico e moral do patrão.

O seringueiro estava submetido a mais desumana forma de trabalho “dito livre”. Uma forma de exploração que a filosofia desenvolvida por Euclides da Cunha 3 em “A margem da História”, assegura “É o homem que trabalha para escravizar-se”. Para ele acontecia uma anormalidade na realização dos trabalhos no seringal.

Dentro desta forma de trabalho iníquo, a Amazônia conheceu o desenvolvimento vertiginoso demandado pela indústria e capital internacionais. Aos seringueiros restavam o trabalho e a capacidade de superar tais obstáculos, criando condições internas e com o meio ambiente, perante as disparidades sofridas com a aceleração da expansão e acumulação do capital.

Porém, tanto no I como no II ciclo da borracha, após o declínio da produção na Amazônia, com a grande produção do látex em colônias asiáticas, o seringueiro sofreu outro tipo de abandono, o de alimento dentro da floresta. Assim, as condições de sobrevivência foram se tornando cada vez mais abstrusas e precárias. Foi necessário criar condições de sobrevivência. Alguns conseguiram retornar a sua terra natal, porém grande maioria ficou dentro da floresta, ainda extraindo látex para empresas nacionais, entretanto faltavam-lhes alimentos, onde foram desenvolvendo a roça de subsistência, criando animais, caçando, pescando e vivendo num ritmo desacelerado e não ambicioso.

Moreira (1989) e Amaral (1999) discorrem que nos anos de 1960 – 1970, novo modelo econômico começou a ser desenhado pelo governo militar, que iniciou uma política com o intuito de proteção internacional e a integração da Amazônia ao restante do país, substanciando a hegemonização financeira de todo espaço nacional.

O seringueiro, que até então tinha procurado forças para adaptar-se a uma realidade diferente diante das dificuldades no trabalho da extração do látex, do abandono sofrido pelos seringalistas e pelo governo (Martinello, 2004), se vê novamente, a buscar forças internas e no meio ambiente, para enfrentar os novos embates. Desta vez, estava proibido de caçar e extrair alimentos da floresta, pois a propriedade privada impõe limites, assim, começaram a migrar para as cidades ou para terras bolivianas.

A busca por sobrevivência e adaptações à nova realidade fez com que o seringueiro desenvolvesse o processo de resiliência. Resistir e ser capaz de ampliar aprendizagens com seus costumes, hábitos e valores existentes e adquiridos.

Os seringueiros construíram no lugar sua cultura nas diferentes escalas de tempo e espaço percorridos. Contudo, é importante salientar que, a cultura é construída e transmitida, socialmente, por gerações. Desta feita, o amparo vem das palavras de (PAUL CLAVAL apud SILVA E MARTINS, 2010: 2):

A cultura é a soma dos comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos conhecimentos e dos valores acumulados pelos indivíduos durante suas vidas e, em outra escala, pelo conjunto dos grupos de que fazem parte. A cultura é herança transmitida de uma geração a outra. (...) Os membros de uma civilização compartilham códigos de comunicação. Seus hábitos cotidianos são similares. Eles têm em comum um estoque de técnicas de produção e de procedimentos de regulação social que asseguram a sobrevivência e a reprodução do grupo. Eles aderem aos mesmos valores, justificados por uma filosofia, uma ideologia ou uma religião compartilhada. (2001: 63).

Neste sentido, cada indivíduo, em sua experiência vivida, torna-se sujeito na organização e adaptação dos meios em que vive. Logo, a interpretação do ser, sentir, agir de um grupo de seringueiros em seu passado e presente é um processo de construção do saber local. Desenvolveram ações para situações de adaptação na realidade, buscando uma forma de sobreviver às tempestades encontradas.

É neste contexto que Soria et al (2007) afirma que a resiliência é a capacidade física, biológica, política, social e psicológica que o indivíduo possui para enfrentar e vencer as dificuldades, transformando e/ou fortalecendo-as em experiências novas. Ressaltam que este conceito não é novo e vem atuando em diversas disciplinas, como: física, matemática, medicina, engenharias, psicologia, biologia, entre outras.

Segundo Barlach (2005, p. 28), a resiliência nas Ciências Humanas é “A capacidade de um indivíduo ou grupo de indivíduos, mesmo em um ambiente desfavorável, construir-se ou reconstruir-se positivamente frente às adversidades”.

Portanto, entende-se que a resiliência tem suas raízes no processo de desenvolvimento humano, sendo o ambiente de vivência o grande influenciador. A luta, os sonhos, a esperança, o amor e a autoestima favorecem o exercício da resiliência em uma pessoa. Como afirma Donice (2008, p. 2):

Nós seres humanos, somos corpo, emoção, mente e espírito. Por outro lado nossa existência individual ocorre nos campos, familiar e sociocultural (político, econômico, histórico) e ambiental (ou cósmico) com os quais iremos mantendo relações de interdependência vital.

A resiliência pode contribuir com a compreensão dos modos de vida do ser humano, que é repleto de adversidades ou não ao longo de sua existência. Neste caminho, dar-se-á ênfase à Resiliência do seringueiro na trajetória de sua vida para resistir às dificuldades no trabalho e às intempéries da floresta, abrindo caminho, dentro da Geografia, na experiência vivida do ser humano entrelaçada com o lugar.

Os seringueiros, tendo um antepassado de mudanças complexas e sofridas desenvolveram conhecimentos e habilidades para superar os medos, as angústias, como também já estava em suas vidas à luta e a perseverança. Persistiram por uma vida melhor, por sobrevivência. Eles vinham de lugares de intensa pobreza, fome e seca. Precisavam adaptar- se ao novo e estavam correndo perigos com doenças, mosquitos, indígenas, cobras, onças, isolamento, a falta de alimentos, dívidas, solidão. Verifica-se, então, que o seringueiro estava amarrado às tramas do sistema de aviamento. Não tinham como fugir das enlaças do patrão, assim, foram vivendo e se organizando, construindo um novo saber, com elasticidade que provesse forças e equilíbrio para a superação. Vale salientar que este mesmo ambiente hostil também é o ambiente que lhe dá a vida por sua confiança e perseverança para a vida. Assim, pode-se afirmar que a resiliência do seringueiro passa pela percepção, sentimentos, dinâmica interacionista e compreensão da realidade vivida, entre eles e o seu ambiente.

Com o estudo na capacidade do indivíduo, Grotberg (2005, p.17) destaca que a resiliência requer uma intensa dinâmica entre os fatores que conduzem uma pessoa a ser resiliente. As categorias se dividem em: “escala social, habilidades e forças internas”. A resiliência não é uma simples resposta à adversidade, mas é um processo que incorpora o compromisso com o comportamento resiliente – “eu tenho” (pessoas ao meu lado-família, amigos), “eu sou”, “eu estou” (habilidades) e “eu posso” (competência interna) são fatores para enfrentar a adversidade e estão ligados diretamente ao crescimento e ao

desenvolvimento humano. Desde bebê a criança recebe estímulos resilientes que vão se desenvolvendo durante as necessidades surgidas no decorrer da vida.

A resiliência é entendida como processo, por este apresentar uma interação dinâmica entre os fatores cognitivos, familiares, afetivos, emocionais, culturais, socioeconômicos e ambientais.

O seringueiro desenvolveu grande conhecimento sobre a vida na floresta e nos rios. Com o passar do tempo e da história repassada de pais para filhos, foram cada vez mais desenvolvendo habilidades de superação e conhecimento. Construíram utensílios e formas de pescar sem anzol, o plantio de leguminosas, os tipos de plantas para remédio e a roça para a sobrevivência. Hoje, vivendo fora do seu “natural habitat”, são sapientes dentro de seu modo de vida particular. Os seringueiros e seringueiras guerreiros de uma longa história e trajetória de vida têm conseguido morar na cidade, fazendo arranjos estruturadores e carregam consigo o fogão a lenha o fogareiro de lata e barro e as casas são construídas tipo palafitas.

Desse modo, o que caracteriza um indivíduo ou grupo em ser resiliente ou não é o que assinala Barbosa (2010, p.1): “É o conjunto de suas crenças que possibilitam uma postura de transcender os empecilhos na vida, de ler o ambiente e outras pessoas com acuidade e de imaginar um futuro com superação. As pessoas resilientes são reconhecidas na literatura como os “sobreviventes”, uma vez que resiliência é por excelência – sobrevivência”.

O senhor Francisco4, antigo seringueiro, que vive ainda em seu lote, que era parte de um seringal, desenha um mapa e apresenta sua agudeza neste conhecimento. Discorre sobre os caminhos percorridos na sua colocação para a extração do látex (leite da seringueira). Ele ressalta que ali é sua fortaleza, que é um lugar onde se sente seguro, pois foi ali que ajudou seus pais a criar os irmãos e onde criou seus filhos. Em um dado momento desta conversa, Sr. Francisco, falando das dificuldades no seringal, disse que “não tem outra profissão mais sofrida que esta, a não ser estar preso, pois apanha”.

As lembranças são constantes e em detalhes. O modo de viver encontrou significados e laços para e com o lugar. Verifica-se, então, a resiliência presente na vida do seringueiro. Seu desenho é uma verdadeira obra de arte e mostra a forma circular da vida em uma colocação, onde ele vivenciou e pertenceu este mundo cotidiano de trabalho e exaustão.

O mapa de localização desenhado, espaço vivido e percorrido, é um desenho aguçado, onde ele apresenta a casa, as três estradas de seringa: uma de “centro” e duas de “boca”, o lugar do roçado, o pique da castanha e uma estrada de outra colocação, podendo esta, segundo Sr. Francisco, até perpassar uma de suas estradas, não tendo restrições no deslocamento, ou sobre a propriedade. Tinha limite nas estradas a que colocação pertencia, mas o direito de ir e vir, dentro da mata, era livre.

A cada linha desenhada ia explicando a organização para iniciar o corte da seringueira e como procediam aos trabalhos. Acrescentou que o roçado tinha que ser pequeno pra não prejudicar as árvores da seringueira.

Figura
01 – Mapa de uma colocação em um seringal desenhado 

pelo ex-seringueiro
Francisco Tavares/abril 2011
Figura 01 – Mapa de uma colocação em um seringal desenhado pelo ex-seringueiro Francisco Tavares/abril 2011
Fonte: Francisco Tavares/abril 2011

Ele relatou que a partir da colonização, quando cada um ganhou sua “propriedade”, começaram os limites de não poder adentrar o que pertencia ao outro. Neste momento, ele apresenta o medo com que passou com achegada dos colonos:

...Chegou o tempo do loteamento de terra, nós nos encontramos aqui... O INCRA chegou e, iniciou-se uma tristeza em mim... A mudança, o progresso chegando... As pessoas de fora, isso me incomodou muito, eu pensei assim... Agora chegou o tempo de não termos mais sossego, esse povo aí, desconhecido, não sabe se é valente ou manso, e daí por diante... (Francisco Tavares, 2011)

Para Gonçalves (2010, p. 16), “Não há uma Amazônia, mas, várias”. Ele adverte que, a Amazônia precisa ser enxergada pelos povos que nela habitam há anos, séculos. Colonizadores e colonizados apresentam uma visão diferenciada sobre seu contexto de vida e cultura. Assim, cada um possui a sua verdade que precisa ser entendida.

No bojo dessas verdades, levanta-se uma questão frente à “invisibilidade” das políticas de desenvolvimento com relação aos ribeirinhos, povos indígenas, e etc. Neste caso, dos seringueiros que foram obrigados a deixar o seu lugar devido à pressão de uma cultura que pensa a produção do espaço em áreas particulares e com limites ao acesso. Assim, excluídos dessa vertente econômica, vivem às margens das cidades ou em terras bolivianas.

Na cidade continuam expressando o ser seringueiro pelo modo de vida, hábitos e costumes adquiridos ao longo do tempo. A saudade do lugar perpassa a alma e o olhar. Eles mudaram de lugar, mas não de valores e hábitos. Entretanto, Assunção (2011) compreende que os seringueiros, com seus laços econômicos (materiais) e subjetivos, foram sendo desapropriados. Que estes, de uma atividade econômica buscaram a identidade, mas a falta de “visibilidade” tem colocado este grupo fragilizado, podendo desaparecer desta região amazônica. Eles perderam não só o território, mas a relação natural com o ambiente onde significavam a vida.

Fotos 01,02 e 03 respectivamente - D. Francisca e o seu ressignificar a vida na cidade,
o fogão a lenha. O fogareiro a carvão e o canteiro de palafitas. Extrema/RO, julho de 2011.
Fotos 01,02 e 03 respectivamente - D. Francisca e o seu ressignificar a vida na cidade, o fogão a lenha. O fogareiro a carvão e o canteiro de palafitas. Extrema/RO, julho de 2011.
Fonte: Autora, 2014

Hoje, o ressignificar da vida do seringueiro na cidade não é tarefa fácil. Os tempos mudaram e muitas foram às transformações; alguns acompanham outros ainda almejam a tranquilidade da “mata”, como se referem à floresta, a fartura de pescar e caçar, pois são hábitos que não se rompem facilmente. Porém, hoje estão incorporando novos hábitos que incluem e facilitam a vida, como a energia, a máquina de lavar, o telefone, a televisão e etc. Mas, o modo de vida construído em meio à floresta os acompanha, sendo significativo. O jeito de falar com uma linguagem própria, a alimentação com base na farinha, peixe e a carne de caça que por algumas vezes estão presente na mesa.

A criação de galinha no quintal, os canteiros que tanto encantam com as hortaliças que fazem parte dos temperos da cozinha, o fogão e o fogareiro a lenha também estão presentes. As famílias usufruem a infraestrutura comercial, consumo de energia, água, telefone, escolas e igrejas. O padrão das casas segue o assoalho de madeira um pouco alto do chão, as casas, em sua maioria, são de madeira.

Sendo assim, as raízes do modo de vida do seringueiro permanecem no seu ser e a forma simples de viver com os costumes e hábitos vivenciados por gerações permeia o presente. Dessa forma, observa-se que a cultura não é uma estrutura dura, inflexível, ela muda, transforma e (re)ssignifica. Não permanece eternizada, mas absorve novas concepções, novos valores, é aquela que não para no tempo, segue em frente, pois a identidade da pessoa é o que ela é com suas mudanças, não precisa ter uma receita identitária. Como bem ilustra Paes Loureiro (2008, p. 126), “a identidade é uma espécie de “romance do eu” que se procura nas espirais do tempo. Uma busca em que o narrador se confunde com o narratário, no caleidoscópio de contextos de vida”. Romper, portanto, com os modos de vida da beira do rio foi um momento muito complexo, porém com resiliência estão superando as adversidades. Nesse novo contexto de vida, o grupo vivencia outras formas de cultura de outros grupos ou sociedade. Sua identidade é híbrida. Costumes e hábitos se mesclam havendo uma troca de saberes.

Considerações Finais

Falar No e Do seringueiro é preciso penetrar no seu mundo. Dar vez e voz a um passado e uma cultura que está se calando. (Re) memorar a história vivenciada por este grupo é compreendê-lo na sua dimensão mais oculta e intersubjetiva. É percorrer um passado de miséria e sofrimento que ainda assola o seringueiro com outros arranjos; esses arranjos continuam sendo articulados pela política e economia de interesses nacionais e internacionais. É percorrer experiências vividas, edificações de vida, aprendizagens e conhecimento.

Hoje, o seringueiro, expropriado e excluído do seu lugar de pertencimento, busca, através da resiliência, ressignificar a vida em outros espaços que, em sua maioria ocorre no contexto urbano. Analfabetos e sem qualificação profissional, estão à margem do sistema e buscam se afirmar diante as necessidades elementares de sobrevivência. Dificilmente conseguem acompanhar as atividades profissionais urbanas. São resilientes e persistem. Deste modo, possuem uma identidade elementar caracterizada não somente pelo sistema produtivo, tempo histórico e espaço geográfico, mas também pelo modo diferente de ver, viver e se reconstruir, significando a sua vida tanto na floresta como na cidade. Assim, o olhar do seringueiro, buscando o futuro se mescla entre o passado e o presente. Percebe-se que o modo de vida vivido funde-se com novos valores, novas culturas, mas jamais deixarão e esquecerão os seus costumes, hábitos, crenças e as suas atitudes vivenciadas no eu com o outro, com a floresta e com os rios, isto está vivo na memória de todos.

Na Amazônia, a batalha do seringueiro pela vida continua. Indígenas, ribeirinhos, pequenos produtores, entre outros grupos, também lutam por sobrevivência e por seus territórios que são invadidos por madeireiros, fazendeiros ou por políticas e programas governamentais. Perante as adversidades vividas, a Resiliência do individuo e/ou grupo social dá o sustentáculo para emergir da exploração e resistir às tramas impostas pela lógica da produção que molda o espaço, conforme cada período em que o mercado requer. Esse processo desestabiliza identidades e metamorfoseia os modos de vida das pessoas em seus territórios vividos, deslocando-os para outros espaços.

Os seringueiros de Extrema são os sobreviventes, por serem resilientes, pois desenvolveram uma capacidade ímpar de superação. Foram além do que viviam e imaginavam para si, deram sentido a suas vidas em meio ao desgosto, tristezas, poucas alegrias e angústias. Foram capazes de transcender o momento sofrido e elevar-se frente às encruzilhadas. Ainda hoje, eles têm capacidade, coragem de enfrentar as alterações no dia a dia de suas vidas e, resolver com inteligência esses percalços. Não se dizem tristes, gostam da vida, mas esperam ser reconhecidos.

Portanto, na perspectiva resiliente, o seringueiro possui uma interface entre o ser resiliente e sua criatividade. Ele é capaz de criar condições para enfrentar as adversidades, e essa conduta resiliente o impulsiona à ação, à tomada de decisão e a uma inovação. Por fim, adentrar o modo de vida do seringueiro é reviver uma forma de vida com valores e crenças, tradições, hábitos e costumes marcados por aprendizagens, intencionalidades e essências.

Referências Bibliográficas

AMARAL, José Januário de Oliveira. Os Latifúndios do INCRA: a concentração de terra nos projetos de assentamento em Rondônia. 1999. 128 p. Tese de Doutorado, São Paulo, 1999.

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Notas

1 Na base encontrava-se o seringueiro-estrator, o único produtor de matéria- prima vegetal; em seguida vinha o seringalista-proprietário e patrão do seringal, acima vinham às casas aviadoras que abasteciam os seringais e por último as casas exportadoras... Verdadeiras financiadoras de todo o sistema produtivo (Martinello, 2004, p.51)
2 Citado por ANTONIO FILHO, F.D.
3 Citado por Martinello p.53.
4 Conversa informal com o senhor Francisco Tavares no dia 22 de abril de 2011, em seu lote - área rural.
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